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Ecologia de Ecossistemas 1 🌱 Ecologia de Ecossistemas Restauração de Ecossistemas Lóticos Princípios da restauração de ambientes aquáticos continentais (Alexandre Leandro Pereira) De acordo com a National Research Council (1992) restauração de ecossistemas aquáticos é definida como “o retorno de um ecossistema as condições próximas antes de um distúrbio”. Outros autores a definem como “O restabelecimento das funções aquáticas após um distúrbio e relacionam características físicas, químicas e biológicas”(Cairns, 1988; Lewis, 1989). Em suma, a restauração ecológica é um processo holístico não alcançável através da manipulação isolada de elementos individuais, na prática a restauração raramente significa o retorno do ecossistema a sua condição original (Clark e Frid, 1999). A restauração de ecossistemas aquáticos tem como objetivo recriar ou simular um sistema natural e auto-regulado ecologicamente integrado com a paisagem. Na maioria das vezes, para atingir esse objetivo é preciso seguir um ou mais passos, tais como a reconstrução das condições físicas; ajuste químico do solo e da água; e manipulação biológica, incluindo a reintrodução de espécies da flora e fauna nativas (Usepa, 2000). Ecologia de Ecossistemas 2 Para Palmer et al. (2005) a restauração ou pode ser passiva quando se permite que as forças hidráulicas naturais atuem vagarosamente e restaure a heterogeneidade natural, ou mais específica e ativa quando modificamos a forma e estrutura do leito ou reintroduza elementos que possibilitem a variações no fluxo da água. Como fazer? Todo ecossistema tem uma habilidade inata de se recuperar, contanto que: os fatores de distúrbio sejam eliminados; o ambiente físico atenda as necessidades dos organismos; e haja uma sustentabilidade para os colonizadores (Clark e Frid, 1999). A re-introdução de espécies-chave, ou um elemento biológico importante para a estrutura, como a vegetação ou animais importantes, pode resultar em um sucesso passageiro, se os indivíduos re-introduzidos que morrem não forem substituídos. Somando-se a isso, nosso conhecimento incompleto do funcionamento ecológico de muitas comunidades significa que componentes biológicos importantes podem ser negligenciados (Clark e Frid, 1999). Preservação e proteção os recursos aquáticos: A existência de ecossistemas relativamente intactos é a chave para a conservação da biodiversidade, eles ajudam na recuperação de ecossistemas degradados. Assim, a restauração passa a ser uma atividade complementar que quando combinada com a proteção e a restauração poderá ajudar a alcançar resultados mais abrangentes em toda a bacia. Até mesmo para corpos d’água onde a restauração é implantada, o primeiro objetivo deve ser a prevenção de futura degradação. Restauração da integridade ecológica: A restauração deve restabelecer a integridade ecológica dos ecossistemas aquáticos tanto quanto for possível, sendo que a integridade ecológica refere-se às condições de um ecossistema, particularmente a estrutura, composição e processos naturais das comunidades bióticas e ambiente físico. Um ecossistema íntegro é resiliente e auto-sustentável capaz de resistir às perturbações. Alguns processos a serem restaurados nos ambientes aquáticos são a ciclagem de nutrientes, sucessão, nível da água, padrões de fluxos, dinâmica da erosão e deposição. Restauração da estrutura física natural: Muitos ecossistemas que precisam de restauração têm problemas que se originaram com a alteração do canal ou outras características físicas, que por sua vez levaram a problemas como degradação do habitat, alterações nos fluxos e assoreamento. Canalização, drenagem de áreas Ecologia de Ecossistemas 3 alagáveis, desconexão dos ecossistemas adjacentes e modificações de zonas litorâneas são exemplos de alterações estruturais que precisam ser enfocadas na restauração. Em muitos casos, restaurar a morfologia do local e atributos físicos é essencial para o sucesso dos outros aspectos da restauração, como a qualidade da água e a volta das espécies nativas. Restauração da função: Restabelecer a estrutura apropriada pode trazer novamente as funções do ecossistema. Por exemplo, restaurando a elevação do solo em um pântano pode ser fundamental para restabelecer o regime hidrológico, ciclo dos distúrbios naturais e o fluxo de nutrientes. Apontar continuamente causas de degradação: Os esforços de restauração provavelmente irão falhar se as causas de degradação persistirem. Portanto, é essencial identificar as causas da degradação e eliminá-las ou remediá-las o mais rápido possível. Uso de um local de referência: Locais de referência são áreas que são comparáveis com a estrutura e função com a área a ser restaurada antes de ser degradada. Uso de espécies nativas e cuidado com as exóticas. Ecologia de Ecossistemas 4 🌱 Muitas vezes a tentativa de recuperação desses ecossistemas acaba falhando ou tendo baixa eficiência, isso dá principalmente porque muitos destes lagos possuem uma reserva interna de fósforo no sedimento ou apresentam uma grande biomassa de peixes zooplanctívoros e/ou invertívoros impedindo a possibilidade to controle top-down do zooplâncton sobre o fitoplâncton (Meijer et al., 1999). Desta forma, a restauração de lagos em países como Holanda e Dinamarca tem sido feita principalmente aplicando-se a biomanipulação, essa técnica consiste na remoção dos peixes zooplanctívoros, levando a um acréscimo na comunidade zooplanctônica e diminuição da biomassa de fitoplâncton, e a um decréscimo nos níveis de fósforo e nitrogênio total, essa técnica visa principalmente à melhoria na qualidade da água (Sondergaard et al., 2007). 🌱 Outras técnicas na recuperação de lagos também têm sido empregadas na recuperação e restauração destes ecossistemas, além da remoção de peixes zooplanctívoros, tem-se empregado ainda a estocagem de piscívoros, a oxigenação do hipolímnio, tratamento do alume (sulfatos metálicos) e dragagem do sedimento Ações locais para Lóticos a) Melhoria na velocidade da correnteza com a instalação de pequenos tipos de represa: São rápidas e fáceis de construir e podem ser feitas com diversos tipos de materiais, Ecologia de Ecossistemas 5 como restos de pedras e pedregulhos, madeira ou concreto e dispostas em numerosas formas e desenhos, como em diferentes ângulos nas margens do rio ou abaixo do canal do rio, ou até mesmo dispostas em V na direção da correnteza ou contrário a ela. Esse tipo de construção é usado para criar ou melhorar micro-habitats para peixes e invertebrados b) Proteção artificial das margens: As margens podem ser protegidas da erosão com auxílio de estruturas construídas a partir de restos e pedaços de troncas e raízes, recobrindo totalmente ou parcialmente o canal do rio. Posteriormente o desenvolvimento completo da vegetação dará proteção permanente aos bancos marginais. Essa técnica aumenta a quantidade de matéria orgânica autóctone e a produção de invertebrados c) Instalação de cobertura e estruturas de refúgios artificiais: A instalação de estruturas de cobertura e refúgios artificiais aumentam as chances dos peixes jovens se estabelecerem no rio. d) Criação de baías artificiais: Baías são abrigos no canal principal do rio, baías rasas proporcionam aumento na diversidade de habitat. Em rios naturais, as baías surgem quando o nível da água diminui, nessas baías, o fluxo da água é menor e a vegetação pode desenvolver-se mais facilmente, além disso, a temperatura da água é mais elevada nestes locais, proporcionando o crescimento de algas, plâncton e invertebrados, beneficiando assim os peixes jovens, especialmente em períodos de cheia Ecologia de Ecossistemas 6 ABNT: Pereira, Alexandre Leandro. "Princípios da restauração de ambientes aquáticos continentais." Boletim da Associação Brasileira de Limnologia 39.2 (2001): 1-21. MONITORAMENTO BIOLÓGICO DE ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS CONTINENTAIS Biomonitoramento fornece informaçõessobre os efeitos de estressores no sistema biológico, podendo-se eventualmente inferir sobre a qualidade e quantidade do distúrbio. A falta de conhecimento básico sobre as bacias hidrográficas e sobre a biologia e ecologia das espécies aquáticas dificulta a implementação desses programas em âmbito nacional ou mesmo regional, ficando sua aplicação restrita a pequenas áreas onde grupos multidisciplinares despenderam mais esforços. As respostas biológicas são as mais adequadas para detecção e avaliação de impactos à vida aquática(Barbour et al. 1999). O nível de organização biológica mais indicado para a detecção desses impactos dependerá de uma série de fatores, mas sobretudo dos objetivos da pesquisa (Figura 2). Uma vez que estes efeitos sejam detectados, dados ecológicos adicionais, como os físico-químicos e ecotoxicológicos são importantes para identificar as causas, as fontes e para implementar ações de mitigação adequadas. A integração dessas informações a dados hidrológicos e sobre usos de solos pode fornecer um amplo diagnóstico de avaliação de impactos. Um dos objetivos do monitoramento é identificar os agentes estressores causadores de impacto. Dada a gama de poluentes potenciais (e suas possíveis combinações), é provável que esta tarefa seja difícil e custosa. Em casos em que os efeitos das substâncias químicas nos ecossistemas são pouco compreendidos ou muito variados, os testes ecotoxicológicos, em níveis biomoleculares ou fisiológicos podem ser usados para conduzir investigações químicas. As análises químicas – em conjunto com testes ecotoxicológicos, avaliações de efeitos fisiológicos e/ou biomoleculares – são úteis para confirmar as fontes pontuais de impacto e para desenvolver limites de descarga de efluentes. ABNT: Ecologia de Ecossistemas 7 BUSS, Daniel F.; OLIVEIRA, Renata B.; BAPTISTA, Darcilio F. MONITORAMENTO BIOLÓGICO DE ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS CONTINENTAIS. Oecologia Brasiliensis. 2008. Potencialidades da implementação da comunidade do biofilme na reabilitação de ambientes aquáticos Uma das metodologias de biorremediação que pode ser utilizada é o aumento do habitat do perifiton (biofilme), utilizando substratos artificiais submersos, com objetivo de promover o crescimento e o aumento da biomassa desta comunidade, incrementando, assim, a capacidade de auto-depuração dos ecossistemas aquáticos (Pérez, 2015, Marinho, 2018). Biofilme é constituído por vários tipos de organismos (microalgas, fungos, bactérias, protozoários e também por pequenos animais); ou seja, como é uma comunidade completa ocorrem processos de produção, consumo e decomposição, tornando o tratamento mais eficaz; tem um papel importante no processo de reciclagem e transferência de nutrientes; (d) está fixo a um dado substrato, e (f) é facilmente incorporado em bioreactores. Biofilme é alimento de muitas espécies de peixes, que ao predarem-no, liberam novos espaços para nova colonização, mantendo o crescimento sempre em fase exponencial, com maior eficiência na remoção de nutrientes e evitando a sua decomposição com a consequente liberação de nutrientes na água novamente. O tempo requerido para se verificarem melhorias no ambiente é curto, o que é um fator positivo dentro desta metodologia com o tratamento proposto. Ecologia de Ecossistemas 8 🌱 (metodos e materiais) Na Europa, em alguns trabalhos de investigação pioneiros, realizados na Alemanha e Polônia (ver Jöbgen et al, 2004; Szlauer-Łukaszewska, 2007), foram colocadas em lagos bandas de polietileno (plástico) e polipropileno como o objetivo de aumentar o habitat disponível para o perifiton. Estes revelaram resultados promissores na melhoria da qualidade da água destes ecossistemas. Em Portugal, são desconhecidos, pelos autores, estudos similares aos mencionados. No Brasil, a equipe de pesquisa do Laboratório de Ecologia Aquática da Universidade Federal da Paraíba, vem realizando pesquisa nesse sentido, desde 2004. Assim, o objetivo do presente trabalho, é testar a eficácia desta metodologia, baseada em diversas pesquisas de mestrado e doutorado, a maioria vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Ambiente e a iniciar-se no presente momento, num trecho eutrofizado de um rio urbano influenciado pelo clima mediterrânico (Bragança, Portugal). Dessa forma, fica confirmado o potencial de uso do biofilme na restauração de ecossistemas aquáticos, diminuindo os nutrientes, aumentando a oxigenação e a transparência. O incremento do habitat para o perifiton, através da colocação de substratos artificiais, é uma técnica barata e potencialmente amiga do ambiente. ABNT: Geraldes, Ana Maria, and Maria Cristina Crispim. "Potencialidades da implementação da comunidade do biofilme na reabilitação de ambientes aquáticos." Meio ambiente e desenvolvimento–os desafios da sustentabilidade ambiental (2019): 99-112. Manejo de rios degradados: uma revisão conceitual A qualidade da água de mananciais que compõem uma bacia hidrográfica está relacionada com o uso do solo na bacia e com o grau de controle sobre as fontes poluidoras, e com as alterações que ocorrem na bacia hidrográfica, como, por exemplo, na vegetação e nos solos (Benetti e Bidone, 2001). Ecologia de Ecossistemas 9 Conforme Rutherfurd et al. (2000), cinco elemento sinterativos definem as condições de degradação fluvial. São eles: a) o aspecto físico do rio (a forma e tamanho do canal, sedimentos, etc.); b) a quantidade de água; c)a qualidade da água; d) as condições das áreas contíguas ao rio (a zona ribeirinha); e) a diversidade e a população de criaturas vivendo no rio. Treze categorias distintas de manejo de rios 1. estética/recreacional/educacional - atividades que engrandecem os valores comunitários tais quais o uso, aparência, acesso, segurança e conhecimento; 2. estabilização de margem - práticas destinadas a reduzir/eliminar erosão ou deslizamento do material da margem para dentro do canal fluvial; 3. reconfiguração de canal - alteração da forma em planta do canal ou perfil longitudinal e/ou “daylighting” (convertendo galerias pluviais e tubulações em canais abertos) - inclui restauração de meandros fluviais e estruturas internas do canal que alterem o seu talvegue; 4. remoção de barragem/reajuste - remoção de barragens e diques ou modificação/reajustes de uma barragem existente para reduzir impactos ecológicos negativos, exclui modificação de barragem destinada para melhorar a passagem de peixe; 5. passagem para peixe - remoção de barreiras para a migração de peixes a montante/jusante, inclui a remoção física de barreiras e também a construção de caminhos alternativos, bem como a criação de barreiras de migração posicionadas em locais estratégicos ao longo dos rios para prevenir o acesso de espécies indesejáveis a áreas a montante; 6. reconexão de planície de inundação - práticas que facultam o alcance das cheias nas áreas da planície de inundação e/ou promovem o fluxo de organismos e materiais entre a margem e as áreas da planície de inundação; 7. modificação de fluxo - prática que altera a sincronia e aporte da água aos canais, associada com a liberação de represamento e construção de reguladores de fluxo, não inclui o gerenciamento de água pluvial tipicamente (mas não necessariamente); Ecologia de Ecossistemas 10 8. melhoria de habitat no interior do canal - alterandose a complexidade estrutural para aumentar a disponibilidade e diversidade de habitat para organismos alvos e a provisão de habitat de alimentação e refúgio ou situações de distúrbio e predação; 9. gerenciamento de espécies no interior do canal - práticas que diretamente alteram a distribuição e abundância de espécies aquáticas nativas, através da adição (abastecimento) ou translocação de espécies de plantas e/ou animal ou a remoção de espécies exóticas; exclui manipulações físicas de habitat/território de alimentação; 10. aquisição de terra - práticas que obtêm arrendamento/título/servidãopara as terras nas margens de canais com propósito explícito de remoção ou preservação de agentes de impactos e/ou facilitar futuros projetos de restauração; 11. gerenciamento ribeirinho - revegetação da zona ribeirinha e/ou remoção de espécies exóticas 12. gerenciamento de água pluvial - caso especial de modificação de fluxo que inclui a construção e gerenciamento de estruturas (pequenos lagos, brejos e reguladores de fluxos) em áreas urbanas para modificar a liberação do escoamento para os cursos de água a partir de bacias com elevada impermeabilidade, essas práticas/estruturas geralmente têm o objetivo de reduzir pico de fluxo e sua duração. 13. gerenciamento da qualidade da água - práticas que protegem a qualidade existente da água ou de modificação na composição química e/ou carga de partículas em suspensão, remediação de resíduos oriundos de minas, como também separação da concentração de sedimentos orgânicos (CSO) estão incluídos nessa categoria. ABNT: DA SILVA, Luiz Carlos. Manejo de rios degradados: uma revisão conceitual. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 3, n. 1, p. 23-32, 2010. REVITALIZAÇÃO DE RIOS: PERSPECTIVAS SOBRE RESTAURAÇÃOECOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO URBANO O National Research Council (NRC, 1992) define a restauração como o retorno de um ecossistema a uma condição aproximada da condição anterior à perturbação. Segundo a análise de Cairns e Heckman (1996) Ecologia de Ecossistemas 11 Segundo Kampelmann et al. (2016), a regeneração urbana (urban regeneration) – também referida como reabilitação urbana (urban renovation), revitalização urbana (urban revitalization), renovação urbana (urban renewal), entre outros – é uma forma de resposta das cidades aos macrodesafios envolvendo mudanças demográficas, estruturas urbanas obsoletas, ambientes degradados, entre outros. Contudo, Cho (2010) argumenta que a restauração ecológica urbana requer a reconfiguração das relações sociais. Segundo McCormick et al. (2015), a educação ambiental seria a forma de alinhar as percepções da sociedade e seus valores estéticos, com os objetivos ecológicos. A revitalização de rios pode ser compreendida como um processo, mesmo que ela venha sendo realizada através de projetos. ABNT: RIGOTTI, Jucimara Andreza et al. REVITALIZAÇÃO DE RIOS: PERSPECTIVAS SOBRE RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO URBANO. 2018.
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