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FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO Isabel Cristina Piccinelli Dissenha Sérgio Rogério Azevedo Junqueira FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO FU ND AM EN TO S D O EN SI NO R EL IG IO SO 41 81 5 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-5020-8 9 7 8 8 5 3 8 7 5 0 2 0 8 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO Isabel Cristina Piccinelli Dissenha Sérgio Rogério Azevedo Junqueira IESDE BRASIL S/A Curitiba 2015 © 2015 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________________ P489f Fundamentos do Ensino Religioso / Isabel Cristina Piccinelli Dissenha ; Sérgio Rogério Azevedo Junqueira. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE BRASIL S/A, 2015. 130 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-387-5020-8 1. Bíblia - Estudo. 2. Ensino religioso. I. Dissenha, Isabel Cristina Piccinelli. II. Junqueira, Sérgio Rogério Azevedo. 15-24077 CDD: 220.6 CDU: 27-276 ________________________________________________________________________ 25/06/2015 26/06/2015 Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Shutterstock Apresentação Este Guia de Estudo traz a disciplina Fundamentos do Ensino Religioso, orga- nizada para explicitar a construção histórica e legislativa do Ensino Religioso a partir de 1931. Assim, os interessados nesta temática poderão identificar o es- tabelecimento dos parâmetros jurídicos, políticos, epistemológicos e didáticos deste componente curricular. Inicialmente, o Ensino Religioso foi introduzido nas escolas públicas brasilei- ras como instrumento ideológico de uma instituição religiosa para, na segunda metade do século XX, dialogar sobre a formação da identidade cultural do povo brasileiro, valorizando a diversidade religiosa. Sob diferentes ângulos, será pos- sível estabelecer referências e compreender como uma disciplina, presente no currículo da escola pública brasileira, poderá promover a formação básica do cidadão. Sobre os autores Isabel Cristina Piccinelli Dissenha Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Currículo e Prática Educativa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e em Psicopedagogia pelo Instituto Brasileiro De Pós-Graduação e Extensão (IBPEX). Graduada em Pedagogia pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Sérgio Rogério Azevedo Junqueira Livre Docente e Pós-Doutor em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutor e Mestre em Ciências da Educação pela Universitá Pontifícia Salesiana di Roma. Especialista em Metodologia do Ensino Religioso pela PUC-SP e em Metodologia do Ensino Superior pelo Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais de Minas Gerais (CEPEMG). Graduado em Pedagogia pela Universidade de Uberaba (UNIUBE). Bacharel em Ciências Religiosas pelo Instituto Superior de Ciências Religiosas (ISCR). Professor Titular na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Professor do Programa de Strictu Sensu em Teologia na PUCPR. Líder do Grupo de Pesquisa Educação e Religião. Sumário Aula 01 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO 9 PARTE 01 | ENSINO RELIGIOSO NAS CONSTITUIÇÕES FEDERAIS E LDBs 11 PARTE 02 | ENSINO RELIGIOSO NOS DIFERENTES SISTEMAS DE ENSINO 18 PARTE 03 | PARÂMETRO CURRICULAR, DIRETRIZES E PROGRAMAS 23 Aula 02 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO 29 PARTE 01 | O QUE É UMA ÁREA DO CONHECIMENTO? 31 PARTE 02 | ÁREA DO CONHECIMENTO PARA AS DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO BÁSICA E PARA O CNPQ 36 PARTE 03 | OBJETOS DO ENSINO RELIGIOSO 40 Aula 03 O FENÔMENO RELIGIOSO 45 PARTE 01 | CONCEITOS DE RELIGIÃO E SUA HISTÓRIA 47 PARTE 02 | FENÔMENO RELIGIOSO 51 PARTE 03 | FENÔMENO RELIGIOSO COMO OBJETO PARA O ENSINO RELIGIOSO 55 Aula 04 O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO ESCOLAR 59 PARTE 01 | ESCOLA E RELIGIÃO 61 PARTE 02 | ESCOLA, DIVERSIDADE CULTURAL E CIDADANIA 65 PARTE 03 | O ENSINO RELIGIOSO E A DIVERSIDADE RELIGIOSA 70 Aula 05 PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO 73 PARTE 01 | PRESSUPOSTOS DA APRENDIZAGEM 75 PARTE 02 | PRESSUPOSTOS DO ENSINO – ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA 78 PARTE 03 | CONCEPÇÕES DO ENSINO RELIGIOSO 81 Sumário Aula 06 EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO 87 PARTE 01 | CURRÍCULO E SUA ESTRUTURA 89 PARTE 02 | IDENTIDADE E PERFIL DOS EIXOS 93 PARTE 03 | EIXOS DO ENSINO RELIGIOSO EM DIFERENTES REGIÕES 96 Aula 07 VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO ENSINO RELIGIOSO 101 PARTE 01 | PROJETO PEDAGÓGICO E O ENSINO RELIGIOSO 103 PARTE 02 | SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO RELIGIOSO 107 PARTE 03 | ENSINO RELIGIOSO E OS TEMAS TRANSVERSAIS 112 Aula 08 FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA O ENSINO RELIGIOSO 115 PARTE 01 | SISTEMA DE ENSINO E ENSINO RELIGIOSO 117 PARTE 02 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 121 PARTE 03 | ESTUDOS REGIONAIS E SUA POLÍTICA DE ORGANIZAÇÃO CURRICULAR 126 Identificar a construção histórico- -legislativa do Ensino Religioso no contexto republicano brasileiro. OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Aula 01 Objetivo: M ar k Sk al ny /S hu tt er st oc k FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 11 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 01 Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck ENSINO RELIGIOSO NAS CONSTITUIÇÕES FEDERAIS E LDBs O desafio de efetivar o Ensino Religioso durante o perío- do republicano brasileiro é registrado pela tensão causada no processo de aprovação das Constituições, especialmente nas três mais recentes que explicitaram a separação entre Estado e Igrejas, mas validaram a possibilidade de liberdade religiosa, mesmo que concretamente sofram restrições. Nesse sentido temos respectivamente Constituições da “Segunda República” (1946), do “Regime Militar” (1967) e a “Constituição Cidadã” (1988). Nos artigos referentes às ques- tões religiosas dos trechos das três Constituições, depreende-se que o Brasil vem sistematicamente, em consequência de sua herança cultural, refletindo e orientando a questão religiosa no país numa perspectiva plural. A introdução do Ensino Religioso (ER) nas escolas brasileiras a partir de 1931 foi justificada pelo então Ministro da Educação, Francisco Campos, com argumentos de caráter filosófico e pe- dagógico. Contudo, existe um aspecto político evidente: trata- va-se de obter o apoio da igreja ao novo governo, oriundo da Revolução de 1930. Neste período, além do caráter político, o aparato legal para introdução do ER se mostrou carregado também de dimen- são ideológica. A ligação entre formação moral e a educação religiosa e consequente transferência para a igreja católica da responsabilidade sobre esses aspectos, atendeu ao anseio de FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO12 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 01Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck educadores católicos, além de confirmar a concepção autoritá- ria do governo, que se serviu disso para estabelecer diferentes mecanismos de reforço à disciplina e autoridade. Apresentamos a seguir uma linha de tempo, a partir da dé- cada de trinta, na qual o ER é situado com relação às diferentes legislações brasileiras: 1931 – Reforma Francisco Campos: Ensino Religioso facul- tativo de acordo com a confissão e a opção familiar. 1934 – Constituição Federal: responsabilização do Estado quanto à educação para todos, com a consequente expansão da rede ensino. O ER foi mantido como facultativo. Havia forte influência eclesial no campo político. 1941 – Lei do Ensino Secundário de Gustavo Capanema: Incluída a Instrução Religiosa no currículo. 1946 – Constituição Brasileira: bastante polêmica com re- lação ao ER. A ICAR1 propunhacatequese no ambiente escolar. Nessa época o ER era de matrícula facultativa, de acordo com a confissão do aluno. Nessa Constituição, no capítulo referente à Educação, foram reintroduzidos alguns princípios suprimidos na “Carta Ditatorial” (1937). Entre esses princípios, que figura- vam, antes, na Constituição de 1934, estavam: • direito de educação para todos; • ensino primário obrigatório; • assistência aos estudantes; e • gratuidade do ensino oficial para todos no nível pri- mário e, nos níveis ulteriores, para quantos provassem falta ou insuficiência de meios. 1 ICAR: Igreja Católica Apostólica Romana. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 13 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 01 Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck 1961 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4.024/61) – o ER continuou com matrícula facultativa, respei- tando a confissão religiosa do aluno, sem ônus para estado. O registro de professores era realizado pela autoridade religiosa respectiva ao credo confessado pelo aluno. A disciplina era ope- racionalizada de modo mais próximo do Ecumênico, também por influencia do Concílio Vaticano II2. 1964 – Golpe militar. 1971 – Diretrizes e Bases para o ensino de 1.º e 2.º graus (Lei 5.692/71): o ER mantido como propagador da fé sendo fa- cultativo para os alunos. 1988 – Nova Constituição, antecedida por uma organização social pró-democracia. Nesse processo, o ER enquanto discipli- na recebeu a segunda maior ementa, cujo apoio reuniu mais de 70 mil assinaturas. No art. 210, Parágrafo 1.º é promulgado e garantido o ER, de matricula facultativa, como disciplina dos horários normais das escolas. Década de 90 – houve um boom religioso no país. 1995 – foi solicitada alteração da LDB. Neste ano foi funda- do o FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. 1996 – Aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), em seu artigo 33 constava ER sem ônus para o estado: Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter: 2 Série de conferências realizadas entre 1962 e 1965, consideradas o grande evento da Igreja Católica no século 20. Com o objetivo de modernizar a Igreja e atrair os cristãos afastados da religião, o papa João XXIII convidou bispos de todo o mundo para diversos encontros, debates e votações no Vaticano. (Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/ materia/o-que-foi-o-concilio-vaticano-ii>.) FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO14 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 01Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas en- tidades religiosas, que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa. (Revogado) (BRASIL, Lei 9.394/96) 1997 – Aprovada a revisão da LDB 9.394/96, com a lei 9.475/97, que fez uma revisão no artigo relativo ao ensino religioso: Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte in- tegrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) §1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. (Incluído pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) §2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso. (Incluído pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997). (BRASIL, Lei 9.394/1996) Extra Para que você possa refletir com novos elementos sobre o tema, propomos a leitura do artigo da Revista NUMEN: Sem ônus para os cofres públicos: O estado sem autoridade para garantir a laicidade no ER, de Antonio Carlos Ribeiro. Numen, v. 17, n. 1, 69-87, 2014. Disponível em: <http://numen.ufjf. emnuvens.com.br/numen/article/view/2829/2153>. Acesso em: 27 maio 2015. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 15 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 01 Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck Atividade Na Cartilha Diversidade religiosa e os direitos humanos publicada em 2004 e depois em 2013, pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos (BRASIL, 2013, p. 23-24), encontramos a seguinte história de matriz africana: [...] que no princípio havia uma única verdade no mundo. Entre o Orun (mundo invisível, espiritual) e o Aiyê (mundo natural) existia um grande espe- lho. Assim tudo que estava no Orun se materia- lizava e se mostrava no Aiyê. Ou seja, tudo que estava no mundo espiritual se refletia exatamente no mundo material. Ninguém tinha a menor dúvi- da em considerar todos os acontecimentos como verdades. E todo cuidado era pouco para não se quebrar o espelho da Verdade, que ficava bem perto do Orun e bem perto do Aiyê. Neste tem- po, vivia no Aiyê uma jovem chamada Mahura, que trabalhava muito, ajudando sua mãe. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. Um dia, inadvertida- mente, perdendo o controle do movimento ritma- do que repetia sem parar, a mão do pilão tocou forte no espelho, que se espatifou pelo mundo. Mahura correu desesperada para se desculpar com Olorum (o Deus Supremo). Qual não foi a surpresa da jovem quando encontrou Olorum calmamente deitado à sombra de um iroko (planta sagrada, guardiã dos terreiros). Olorum ouviu as desculpas de Mahura com toda a atenção, e declarou que, devido à quebra do espelho, a partir daquele dia não existiria mais uma verdade única. E concluiu Olorum: “De hoje em diante, quem encontrar um FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO16 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 01Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck pedaço de espelho em qualquer parte do mundo já pode saber que está encontrando apenas uma par- te da verdade, porque o espelho espelha sempre a imagem do lugar onde ele se encontra” (BRASIL, 2013, p. 23-24). Portanto, é preciso, antes de tudo, aceitar que somos to- dos iguais, apesar de nossas diferenças. Também é necessário entender que a verdade não pertence a ninguém. Há um peda- cinho dela em cada lugar, em cada crença, dentro de cada um de nós. A partir da história da disciplina de Ensino Religioso, e do artigo 33, da estabelecida pela Lei 9.475/97, e ainda com um olhar sensível para o apresentado acima, construa um texto que comunique a importância do trabalho que contempla a diversi- dade religiosa na formação dos estudantes. Referências BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro, 1934. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao34.htm>. Acesso em: 29 maio 2015. ______. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Promulgada em 18 de setembro de 1946. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao46.htm>. Acesso em: 26 maio 2015. ______. Lei 4.024 de 20 de Dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 27 dez. 1961 e retificado em 28 dez. 1961. Brasília: 1961. Disponível em: <www.planalto.gov. br/ccivil_03/Leis/l4024.htm>. Acesso em: 26 maio 2015. ______. Lei 5.692 de 11 de Agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1.º e 2.º graus, e dá outras providências. Publicada no Diário Oficial da União 12 ago. 1971. Brasília: 1971. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Leis/l5692.htm>. Acesso em: 26maio 2015. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 17 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 01 Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck ______. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Publicada no Diário Oficial da União, n. 191-A, 5 out. 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 26 maio 2015. ______. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Publicado no Diário Oficial da União, 23 dez. 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. ______.Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33 da Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional. Publicada no Diário Oficial da União, Brasília, Congresso Nacional, 1997. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015. BRASIL. Presidência da República. Cartilha de diversidade religiosa e direitos humanos. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Brasília: 2013, p. 23-24. Disponível em: <www.sdh.gov.br/assuntos/bibliotecavirtual/ promocao-e-defesa/publicacoes-2013/pdfs/diversidade-religiosa-e-direitos- humanos>. Acesso em: 12 jun. 2015. JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; CORRÊA, Rosa Lydia; HOLANDA, Ângela Maria. Ensino Religioso: aspectos legal e curricular. São Paulo: Paulinas, 2007. JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; WAGNER, Raul (Org.). Ensino Religioso no Brasil. Curitiba: Champagnat, 2004. Resolução da atividade A legislação permitiu uma amplitude na atuação do Ensino Religioso como componente curricular. A atual redação do ar- tigo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação propõe que não exista proselitismo, o que exige uma proposta intercultural para o ER. Esta história publicada na Cartilha da Diversidade apresenta a existência de diferentes verdades religiosas, por este motivo não é possível ensinar uma única perspectiva. É o resultado da construção pedagógica do Ensino Religioso. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO18 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 02Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck ENSINO RELIGIOSO NOS DIFERENTES SISTEMAS DE ENSINO Cabe lembrar que o país, na perspectiva cutural-religiosa a partir da década de 1940, passou por um período desafiante de transição de uma economia agropastoril para uma realidade de rápida urbanização, ou seja, de uma sociedade aparentemente homogênea para a explicitação de sua realidade pluralista, pro- gressivamente acompanhada pelo vislumbre das novas possibili- dades de tecnologia que chega aos lares brasileiros. Além disso, nesse cenário, os movimentos migratórios tanto do campo para a cidade quanto intrarregiões certamente deram maior visibili- dade a particularidades culturais regionais. Também é necessário relembrar as antigas configurações da disciplina: primeiro para a formação de membros da religião hegemônica e depois, a partir de 1961, aproximadamente, com um viés mais ecumênico. Então, a partir de 1996/1997 a visão passa a ser de uma disciplina que deve respeitar a diversidade cultural e religiosa brasileira. Em 1997, a Lei 9.475/97 alterou o artigo 33 da LDB (Lei 9.394/96), consolidando a regulamentação dos procedimentos para a definição dos conteúdos e o estabelecimento das nor- mas para a habilitação e admissão dos professores do Ensino Religioso como de responsabilidade dos Sistemas de Ensino. Dessa forma, cada sistema estadual e municipal de ensino deve orientar o perfil organizacional para o Ensino Religioso, sendo, portanto, impossível identificar uma perspectiva única nas di- ferentes realidades regionais. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 19 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 02 Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck Portanto, a partir do contexto escolar, é estabelecida a identificação do Ensino Religioso como um dos componentes do currículo do Ensino Fundamental para as escolas públicas brasi- leiras e assumidas essa disciplina como elemento integrante de uma área maior da educação. Entendendo o ER enquanto componente curricular, faz-se necessário compreender teorias e doutrinas no campo da Educação, e ainda perceber que a disciplina não está ancorada no conhecimento construído na área de Teologia ou Ciências da Religião. Isto se reflete no fazer pedagógico por conta de os profissionais que nele atuam não deterem formação nessas áreas. Novamente, dirigindo o olhar para a história, percebe-se que a produção de conhecimento POR e PARA essa disciplina escolar tem íntima ligação com o contexto social e, posterior- mente, com o contexto escolar ocupado pelas igrejas cristãs. O que influenciou a formação pedagógica, a organização curricu- lar e a metodologia desenvolvida no ER. Diferentes denominações religiosas, em especial as cristãs no caso do Brasil, influenciaram as escolhas do conteúdo e da metodologia. De forma que “o que ensinar” (conteúdo) se ini- ciou com a opção de conteúdo doutrinal, evoluindo para uma proposta ecumênica, traduzindo o momento de diálogo entre estas denominações, até alcançar a formatação de proposição inter-religiosa. Outro aspecto é o “como ensinar” (metodologias) que so- freu interferência direta das diferentes pedagogias desenvolvi- das ao longo do século XX. Partindo do processo de instrução, FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO20 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 02Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck diferentes configurações foram testemunhadas até se perceber a ação dos estudantes de modo ativo e interacionista. Os conteúdos, metodologias e técnicas traduzem a cons- trução desse componente curricular, que demonstra na sua his- tória e tem na atualidade a escola como local de produção de conhecimento, que deve levar em conta a cultura escolar, a cultura da sociedade e ainda a religiosa. Por conta da diversidade brasileira, os contextos escolares – sempre no plural devido à pluralidade de suas configurações, devem manter em tela a regionalidade histórica e cultural de cada sistema e escola. Nos 26 estados brasileiros, existem dife- rentes orientações sobre conteúdo e formação de professores, a fim de respeitar os diferentes contextos e, além disso, dar conta da formação desse cidadão considerando seu cotidiano e sua comunidade. Extra Para que você possa compreender a discussão sobre a re- gionalização do Ensino Religioso, propomos a leitura do arti- go que reflete essa temática: A regionalização do estudo do ensino religioso brasileiro, de Sérgio Junqueira e Flávio Paes Carvalho. Publicado na Revista Ciências da Religião – História e Sociedade, v. 11, n, 1, 2013. Disponível em: <http://editorare vistas.mackenzie.br/index.php/cr/article/view/5724/4146>. Acesso em: 27 maio 2015. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 21 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 02 Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck Atividade A maioria dos estados brasileiros possuem legislações pró- prias sobre o Ensino Religioso. Pesquise a legislação do seu es- tado ou de algum próximo ao seu e identifique as principais características dessa disciplina no texto da legislação em sua região. Você poderá localizar textos completos dos diversos es- tados em: <www.gper.com.br/ensino_religioso.php?secaoId=6>. Acesso em: 27 maio 2015. Referências BRASIL. Lei 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 23 dez. 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. ______. Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33 da Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional. Publicada no Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, Congresso Nacional, 1997. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015. BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história.3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação, Porto Alegre, n. 2, p. 177-229, 1990. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resolução CNE/CEB n. 07/2010. Brasília: CNE, 2010. ERN, Edel; AIRES, Joanez. Contribuições da história das disciplinas escolares para a história do ensino de ciências. Educação e Realidade, n. 32, p. 91-108, jan./jun. 2007. Disponível em: <www.seer.ufrgs.br/index.php/ educacaoerealidade/article/viewFile/6662%20/3978>. Acesso em: 29 maio 2015. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO22 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 02Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Parâmetro Curricular Nacional do Ensino Religioso. São Paulo: Ave Maria, 1997. FRACARO, Edile; GILZ, Claudino; JUNQUEIRA, Sérgio. Cultura material escolar e ensino religioso: um caminho para a formação do professor de ensino religioso. Diálogo Educacional, v. 9, n. 26, p. 181-195, jan./abr. 2009. JÚNIOR, Marcílio; GALVÃO, Ana Maria. História das disciplinas escolares e história da educação: algumas reflexões. Educação e Pesquisa, v. 31, n. 3, p. 391-408, set./dez. 2005. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/ a05v31n3.pdf>. Acesso em: 29 maio 2015. JUNQUEIRA, Sérgio. (Org.). O sagrado: fundamentos e conteúdo do ensino religioso. Curitiba: Ibpex, 2009. JUNQUEIRA, Sérgio; WAGNER, Raul. O ensino religioso no Brasil. 2. ed. Curitiba: Champagnat, 2011. Resolução da atividade Caberá a cada estado da federação definir o conteúdo e o perfil dos professores, portanto é importante localizar nas le- gislações estaduais quais as orientações sobre esses dois aspec- tos: o que será ministrado na disciplina e quem irá ministrar as aulas. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 23 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 03 Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck PARÂMETRO CURRICULAR, DIRETRIZES E PROGRAMAS O documento Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (1996), produzido pelo FONAPER, foi oficiosa- mente acolhido como norteador para a disciplina e estruturado segundo as orientações propostas para todos os componentes das áreas do conhecimento a serem trabalhadas efetivamente no cotidiano da escola. A atual legislação (a saber o artigo 33 da LDB 9.394/96, alterado pela Lei 9.475/97) sobre educação alte- rou de fato o Ensino Religioso. Não se trata mais de apresentar religiões, mesmo que de forma compartilhada como no modelo inter-relacional (interconfessional e inter-religioso), mas con- tribuir na formação básica do cidadão, procurando assegurar o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, além de vedar qualquer forma de proselitismo. Um Parâmetro Curricular é estabelecido com base em no- ções e conceitos essenciais sobre fenômenos, processos, siste- mas e operações, para contribuir na constituição de saberes, conhecimentos, valores e práticas sociais indispensáveis ao exercício de uma vida de cidadania plena. Especificamente, o Ensino Religioso foi organizado segundo o pressuposto de que o fenômeno religioso é a resposta articulada culturalmente para afrontar a questões existenciais que demonstram a situação de finitude do ser humano. Basicamente essas questões foram explicitadas em quatro estruturas: ressureição, reencarnação, ancestralidade e o nada, que procuram dar sentido a uma vida além da morte. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO24 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 03Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck Em cada uma dessas respostas, é estabelecido um sistema de pensamento próprio, porém, com critérios comuns que tor- nam visível o fenômeno religioso, ou seja, culturas e tradições, textos orais e escritos sagrados, as teologias, os ritos e o ethos. O primeiro critério, que trata das culturas e tradições, nos per- mite compreender a ideia do transcendente e a evolução das estruturas que explicitam as concepções expostas nas respostas ao problema do pós-morte. As ciências que estudam a religião como filosofia, sociologia e psicologia tornaram possível esta formalização do conhecimento. Os outros quatro critérios/eixos (textos orais e escritos sa- grados, as teologias, os ritos e o ethos) são a concretização da experiência das comunidades religiosas que incluem o cotidiano das tradições religiosas organizadas para fazer memória contí- nua da finitude humana. A sistemática de trabalho sobre esses aspectos é que as- sume uma configuração religiosa, favorecendo a compreensão da cultura em que estamos envolvidos. As expressões religiosas estão no substrato cultural da sociedade e são de fundamental importância para o estabelecimento da identidade de uma na- ção e dos cidadãos que dela fazem parte. De tal forma que a compreensão de religio proposta por Cícero, em que a religião é uma releitura do cotidiano social, expresso por meio das respostas oferecidas aos questionamen- tos que o ser humano faz a si mesmo, interfere nas relações que estabelece em um espaço e tempo concreto, como ser finito que busca fora de si o desconhecido, o mistério e o transcendente. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 25 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 03 Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck Portanto, muito mais do que o estudo de curiosidades religiosas ou simplesmente o perfilar das religiões, o Ensino Religioso é desafiado a favorecer a reflexão sobre a identidade, por meio desses critérios que estruturam as tradições religiosas. Os conhecimentos de caráter antropológico e sociológico, trabalhados sistematicamente no espaço formal da escola, de- vem contribuir para o estudante recuperar as questões existen- ciais que impulsionaram o ser humano a se confrontar consigo mesmo, com o outro e com seu ambiente. Os conteúdos e objetivos do Ensino Religioso são estabe- lecidos segundo critérios que tornam visível a possibilidade de responder questões existenciais do ser humano que busca o sen- tido último da vida expresso de forma sociocultural, favorecen- do a sensibilização dos estudantes que compreendam e respei- tem a pluralidade religiosa presente no país, contribuindo para a formação da identidade do povo brasileiro. Portanto, a disciplina objetiva valorizar a diversidade cul- tural brasileira e, consequentemente, o pluralismo religioso, de forma a facilitar o entendimento a respeito das diferentes formas que exprimem o transcendente, que compõem cenários de forma diferente no processo histórico da sociedade humana. Extra Para que você possa compreender as concepções do Ensino Religioso, propomos a leitura e o estudo do seguinte artigo: Concepções do Ensino Religioso, de Sérgio Junqueira e Sérgio Nascimento. Publicado na Revista Numen, v. 16, n.1 , 2013. Disponível em: <http://numen.ufjf.emnuvens.com.br/numen/ article/view/2141/1978>. Acesso em: 27 maio 2015. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO26 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 03Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck .Atividade Assista à entrevista sobre Ensino Religioso nos estados bra- sileiros e, com base nas informações apresentadas, explique como está o Ensino Religioso nas diferentes regiões do país. Organize um breve texto sobre esse mapa da disciplina no país. Vídeo disponível em: <www.youtube.com/watch?v=p- 5Nu9A4BXpc>. Acesso em: 12 jun. 2015. Referências BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 23 dez. 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 26 maio 2015. ______. Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33 da Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional. Publicada no Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, Congresso Nacional, 1997. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015. FONAPER.Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (PCNER). São Paulo: Ave-Maria. 1996. GIUMBELLI, Emerson. Mapeamento do Ensino Religioso no Brasil: definições normativas e conteúdos curriculares. Proposta para o programa de apoio a projetos em saúde, direitos sexuais e direitos reprodutivos (PROSARE Edital 2007). Rio de Janeiro: ISER, 2007. JACOB, César Romero et al, A diversificação religiosa. Revista Estudos avançados, v. 18, n. 52, São Paulo, set.-dez. 2004, p.9-11. Disponível em: <www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000300002>. Acesso em: 29 maio 2015. JUNQUEIRA, S. O Ensino Religioso no Brasil: estudo do seu processo de escolarização. 2000. 238 f. Tese (doutorado em Ciências da Educação), Universidade Pontifícia Salesiana, Roma: Itália, 2000. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 27 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 03 Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck JUNQUEIRA, S. Processo de escolarização do Ensino Religioso. Petrópolis: Vozes, 2002. JUNQUEIRA, S. WAGNER, R. O Ensino Religioso no Brasil. Curitiba: Champagnat, 2004. JUNQUEIRA, Sérgio; CORRÊA, Rosa Lydia; HOLANDA, Ângela Ribeiro. Ensino Religioso: aspectos legal e curricular. São Paulo: Paulinas, 2007. JUNQUEIRA, Sérgio Rogério; HOLANDA, Angela Maria Ribeiro; CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. Aspectos legislativos do ensino religioso brasileiro: uma década de identidade. Religião & cultura: Departamento de Teologia e Ciências da Religião PUC-SP, São Paulo, v. VI, n. 11, p. 09-42, jan./jun. 2007. Disponível em: <www.gper.com.br/biblioteca_download.php?arquivoId=41>. Acesso em: 29 maio 2015. Resolução da atividade É fundamental compreender que mesmo existindo uma proposta nacional para o Ensino Religioso, como os Parâmetros Curriculares Nacionais, cada estado apresenta uma identidade, saber identificar essas diferenças pode garantir a compreensão de uma imensa diversidade nacional. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO28 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO Pa r t e 03Mark Ska ln y/ Sh ut te rs to ck Estabelecer a compreensão do Ensino Religioso como área do conhecimento. O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Aula 02 Objetivo: ag a7 ta /S hu tt er st oc k FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 31 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 01 aga7ta/ Sh ut te rs to ck O QUE É UMA ÁREA DO CONHECIMENTO? O Ensino Religioso pode ser tomado, entendido e respei- tado como área de conhecimento segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira do ano de 1996. De acordo com a Resolução CNE/CEB 04 de 2010, que traz orientações sobre a definição e organização curricular para a Educação Básica: Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica constitui-se de conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente, expressos nas políticas públicas e gerados nas instituições produtoras do conhecimento científico e tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na produ- ção artística; nas formas diversas de exercício da cidadania; e nos movimentos sociais. §1.º Integram a base nacional comum nacional: a) a Língua Portuguesa; b) a Matemática; c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena, d) a Arte, em suas diferentes formas de expres- são, incluindo-se a música; e) a Educação Física; f) o Ensino Religioso. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO32 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 01aga7ta/ Sh ut te rs to ck §2.º Tais componentes curriculares são organiza- dos pelos sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento, disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especificidade dos diferentes campos do conhecimento, por meio dos quais se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao exercício da cidadania, em ritmo compatível com as etapas do desenvolvimento integral do cida- dão. (CNE/CEB 04/2010) Parte-se do entendimento que as áreas de conhecimento são “marcos estruturados de leitura e interpretação da reali- dade” (JUNQUEIRA, 2003, p. 98), sendo essenciais para pos- sibilitar a participação de cada cidadão de forma autônoma, de forma a compreender a sociedade e interferir no espaço e história que ocupam (ibidem). O Ensino Religioso como área de conhecimento está fun- damentado numa releitura religiosa do cotidiano, respaldado no estudo do ser humano em desenvolvimento, que sustenta a estrutura social das diferentes comunidades das quais parti- cipa, inclusive no processo da construção de um cidadão que compreende a pluralidade da sociedade. Ressalva-se a clareza de que essa área do conhecimento exige ainda uma reflexão pedagógica profunda em sua estruturação, o que demanda o estabelecimento de fundamentos para sua estruturação, no mapeamento curricular nacional. Assim, poderá se difundir entre os alunos o sentimento de amor e respeito pelas diferentes tradições religiosas, bem como desenvolver capacidades de aplicação dos novos conhecimen- tos, em confronto com as realidades atuais, além de contribuir FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 33 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 01 aga7ta/ Sh ut te rs to ck para o reconhecimento e aperfeiçoamento de uma educação significativa e efetivamente integral. A atual concepção é resultado de um longo percurso na organização de disciplina, currículo e articulação dos elemen- tos do processo de ensino-aprendizagem para compreender a elaboração do Ensino Religioso. Com base nesses pressupostos, o modelo para o Ensino Religioso é o referenciado na manifesta- ção do sagrado no coletivo. A mudança se propõe no momento histórico em que a cultura brasileira se confronta com as conse- quências políticas e sociais de uma economia neoliberal, de um subjetivismo cultural e de uma concepção religiosa pentecostal carismática. (JUNQUEIRA; ALVES, 2005) A elaboração do trabalho a ser desenvolvido no Ensino Religioso, enquanto conteúdo, foi desafiador e mobilizador, contando ainda com inúmeras discussões. O conceito de cida- dania, por exemplo, está sendo reelaborado e suas diversas dimensões assumem relevâncias diversificadas no decorrer do tempo, como consequência do desenrolar da história. Cada corrente filosófica percebe o conceito segundo seu ângulo de visão, não obstante o direito à educação, como exercício para a cidadania parecer indiscutível, pois constitui um instrumento de atuação social, possibilitando a releitura de seu contexto. Diante desse quadro, o Ensino Religioso assume o papel de provocar, junto a cada um dos com- ponentes da comunidade educativa, o questiona- mento sobre a própria existência do ser humano, participante das intrincadas relações sociocultu- rais, favorecendo-se o conhecimento das diversas tradições religiosas responsáveis pela construção cultural do nosso país. (JUNQUEIRA, 2008, p. 19) FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO34 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 01aga7ta/ Sh ut te rs to ck Extra Propomos a leitura do texto de Marlon Schock sobre objeto do Ensino Religioso: Objeto próprio do ensino religioso escolar: de Babel ao Mar Vermelho. Publicado na Revista Pistis & Praxis, v. 3, n. 1, 2011. Disponível em: <www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/ pistis?dd1=4578&dd99=view&dd98=pb>. Acesso em: 28 maio 2015. Atividade Convidamos você a assistir uma entrevista sobre a visão geral do Ensino religioso no Brasil. Com base nas informações apresentadas, responda à seguinte questão: O que é o ensino religioso no Brasil? Disponível em: <www.youtube.com/watch?- v=0Ktmt7HQrj4&index=15&list=PL9tahgr-HimMSOco7djqNkf4lX- flbtgjN>. Acesso em: 12 jun. 2015. Referências BRANDENBURG, Laude. A fenomenologia religiosa e os espaços educativos. In: BRANDENBURG, Laude. (Org.). Fenômeno religioso e metodologias: VI Simpósio de EnsinoReligioso. São Leopoldo: Sinodal; EST, 2009a. p. 67-74. BRASIL. Lei 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 23 dez. 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 26 maio 2015. ______.Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33 da Lei n. 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional. Publicada no Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, Congresso Nacional, 1997. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 35 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 01 aga7ta/ Sh ut te rs to ck JUNQUEIRA, Sérgio. O Ensino Religioso no Paraná: a partir da Deliberação 03/2002 do Conselho Estadual de Educação. Revista Educação em Movimento, Curitiba, v.2, n.5, p. 97-106, (Supl.), maio/ago. 2003. Disponível em: <www.gper.com.br/ biblioteca_download.php?arquivoId=663>. Acesso em: 29 maio 2015. JUNQUEIRA , Sérgio Rogério Azevedo; ALVES, Luiz Alberto Sousa. O contexto pluralista para a formação do professor de ensino religioso. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 5, n.16, p. 229-246, set./dez. 2005. Disponível em: <www2.pucpr.br/reol/index.php/dialogo?dd99=pdf&dd1=611>. Acesso em: 12 jun. 2015. JUNQUEIRA, Sérgio Rogério. Ensino Religioso na Perspectiva do Espaço Escolar”. Revista Teoria e Prática da Educação, v.11, n.1, p.15-22, jan./abr. 2008. Disponível em: <www.dtp.uem.br/rtpe/volumes/v11n1/002_Sergio_ Junqueira.pdf>. Acesso em: 29 maio 2015. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n. 4, de 13 de Julho de 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Publicada no Diário Oficial da União, Brasília, 14 jul. 2010, Seção 1, p. 824. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2015. SCHOCK, Marlon. Educação e transcendência: dimensões contempláveis, aspectos edificáveis, categorias compartilháveis. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Escola Superior de Teologia. Programa de Pós-Graduação, São Leopoldo, 2008. Resolução da atividade O Ensino Religioso é uma disciplina em construção, para tal, identificar o seu objeto de estudo, o seu contexto no ce- nário do conhecimento é algo a ser amadurecido e articula- do. Nessa entrevista são retomados diferentes aspectos dessa construção. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO36 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 02aga7ta/ Sh ut te rs to ck ÁREA DO CONHECIMENTO PARA AS DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO BÁSICA E PARA O CNPQ A Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação por meio da Resolução 07/2010 fixou as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos1 e traz o Ensino Religioso como componente da base cur- ricular nacional, junto com outras disciplinas como Língua Portuguesa, Matemática, entre outras. Além disso, dá instruções com relação ao Ensino Religioso, enquanto área de conhecimento, no § 6.º do artigo 15: §6.º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao aluno, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui componente curricular dos horários normais das escolas públicas de Ensino Fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas quaisquer formas de proselitismo, conforme o art. 33 da Lei n.º 9.394/96. (CNE/CEB 07/2010). Equiparável às outras disciplinas curriculares e considera- da uma das grandes áreas de conhecimento, tem-se em vista a necessidade de deter-se sobre um objeto de estudo com con- teúdos, tratamento didático e metodologias próprias, a fim de facilitar a construção de conhecimento específico da cultura religiosa. 1 Em consonância com a Resolução CNE/CEB 04/2010: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf>. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 37 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 02 aga7ta/ Sh ut te rs to ck Mais do que uma educação para a fé, que é de caráter pessoal e temático sobre a qual se ocupam as religiões, é o co- nhecimento dos fenômenos religiosos e suas inter-relações com o contexto social que é o campo de conhecimento do Ensino Religioso. Dessa forma, essa disciplina do corpo curricular da educa- ção brasileira pode propiciar um espaço e ambiente dialógico, em perspectiva inter, multi e transdisciplinar (Holanda, 2006), que instrumentalize os cidadãos para a convivência significativa em ambiente rico e plural como o brasileiro. Extra Propomos a leitura do artigo Religião e educação, um diá- logo emergente: do teórico ao prático para constituição de uma área de conhecimento, de Eulálio Figueira. Publicado na. Revista Pistis Praxis, v. 6, n. 2, 2014. Disponível em: <www2. pucpr.br/reol/pb/index.php/pistis?dd1=12767&dd99=view&d- d98=pb>. Acesso em: 28 maio 2015. Atividade O Ensino Religioso como elemento curricular teve sua ori- gem quando o Estado assumiu o papel de organizar a escolariza- ção. No primeiro momento, ocorreu a incorporação do modelo realizado nas comunidades religiosas no cotidiano escolar como consequência da forte influência das religiões sobre as socie- dades. Entretanto, quando os países reconhecerem o direito à livre opção religiosa e filosófica, será necessário uma alteração nesse componente curricular, mesmo contrariando lideranças FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO38 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 02aga7ta/ Sh ut te rs to ck de grupos religiosos que compreendem a escola como suplência das comunidades. Para essa atividade, assista ao filme: • Lutero (Luther) Gênero: Drama Ano de Lançamento: 2003 Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=PlP-Xt4LLNg>. Acesso em: 28 maio 2015. Com base na reflexão do filme sobre Lutero, propõe-se o aprofundamento da questão da inferência da religião sobre a educação no século XXI, e de que forma religião e sociedade se organizam. Elabore um texto deste seu estudo e reflexão. Referências HOLANDA, Ângela Maria Ribeiro. Fenômeno Religioso e Religiosidade. Revista de Educação da Aec. Ano 35, janeiro/março 2006, n. 138, pp. 24–31. Disponível em: <www.gper.com.br/noticias/3cc27b5c178434f822421ce40a0d0592.pdf>. Acesso em: 30 maio 2015. JUNQUEIRA, Sérgio. História, Legislação e fundamentos do Ensino Religioso. Curitiba: Ibpex, 2008. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n. 4, de 13 de Julho de 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Publicada no Diário Oficial da União, Brasília, 14 jul. 2010, Seção 1, p. 824. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2015. Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n. 7, de 14 de Dezembro de 2010. Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. Publicada no Diário Oficial da União, Brasília, 15 dez. 2010, Seção 1, p. 34. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb007_10.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2015. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 39 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 02 aga7ta/ Sh ut te rs to ck Resolução da atividade Lutero foi um dos responsáveis pela mudança na concep- ção de educação no mundo moderno. Ao questionar o papel do domínio religioso sobre a cultura alemã, esse monge interferiu na visão de mundo de colonos e nobres. O papel da religião na formação cultural religiosa de uma comunidade é um dos obje- tivos propostos pelo modelo brasileiro de Ensino Religioso, mas que tem suas origens muito antes de 1997. Ao conhecer a histó- ria de Lutero (em alemão: Martin Luther), você estará conhe- cendo uma parte da revisão do papel religioso na sociedade. FUNDAMENTOS DO ENSINORELIGIOSO40 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 03aga7ta/ Sh ut te rs to ck OBJETOS DO ENSINO RELIGIOSO O primeiro princípio a ser considerado para operacionalizar os objetivos do Ensino Religioso é que ele é parte integrante da formação básica do cidadão. Assim essa disciplina se alicerça nos princípios da cidadania, do entendimento do outro e na formação integral do educando. O direito ao exercício da religiosidade é garantido por lei federal, na qual se engloba também a opção por não ser religio- so. Ainda que essa opção seja exercida, a religião está para as pessoas como um dado antropológico e cultural perceptível em cada ajuntamento de pessoas, assim como a língua falada, as preferências alimentares, formas de vestir-se etc. No substrato de cada cultura, sempre está presente o religioso. Essa disciplina que trata do conhecimento religioso de for- ma plural oportuniza que o estudante se desenvolva, enten- dendo a si próprio e ao outro como pertencentes a um sistema complexo de relações culturais. Portanto, os saberes desen- volvidos pela disciplina vão além da informação a respeito de conteúdos e fenômenos religiosos, conforme apresentado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. Com base nesse componente curricular, busca-se ampliar as formas de convívio entre os estudantes, em que o respeito à sua própria tradição religiosa e à dos outros deve ser buscado diligentemente, proporcionando um espaço seguro para a liber- dade de expressão, também dos caracteres religiosos de sua própria forma de crer ou da opção e opinião daqueles que não FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 41 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 03 aga7ta/ Sh ut te rs to ck crêem. Nesse ambiente escolar de respeito, deve-se cultivar o diálogo e a reverência aos diferentes modos e às múltiplas formas que o transcendente pode ser declarado, considerando a cultura que permeia cada crença. Na perspectiva de disciplina escolar, o objeto a que se de- bruça o Ensino Religioso é o fenômeno religioso, cujos conteú- dos se traduzem no conhecimento das culturas e tradições reli- giosas organizados em teologias, escrituras e tradições sagradas (orais e escritas), ritos e ethos, que encontram na pluralidade cultural e religiosa brasileira uma vastidão de elementos para o desenvolvimento dos estudantes. É importante ressaltar que o desenvolvimento do conteúdo deve respeitar as características etárias, emocionais e cognitivas de cada fase ou ano escolar. O processo de aprendizagem no Ensino Religioso, como qualquer outra disciplina escolar, é permanente e evolutivo e, por isso, deve-se considerar o conhecimento prévio de cada estudante e propiciar uma continuidade progressiva, aprofun- dando o entendimento do fenômeno religioso, isento de juízo de valor e afirmação de preconceitos. É espaço excelente para que a alteridade seja desenvolvida, de forma a reconhecer a importância e a validade da superação das diferenças. O conhecimento da forma como é operacionalizado no ER pode oportunizar a valorização da religiosidade particular e tam- bém de diferentes agrupamentos humanos, promovendo uma convivência mais próxima do acolhimento e de posturas frater- nas, pois enquanto vivencia momentos de aprendizagem a res- peito da própria cultura e tradição religiosa, exercita a possibi- lidade de respeitar as formas culturais e religiosas dos outros. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO42 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 03aga7ta/ Sh ut te rs to ck Essa disciplina orienta para a sensibilidade ao mistério, na alteridade: este trata do conhecimento religioso que é ao mesmo tempo historicamente construído e revelado. Logo, os temas religiosos são complexos em si e muito mais em seu tra- tamento na pluralidade e diversidade da sala de aula. Isso re- quer do educador um aprofundamento mais apurado, pois é nas relações do conhecimento religioso próprio com o conhecimen- to religioso do outro que o educando vai se sensibilizando para o mistério, compreendendo o sentido da vida e da vida além morte, elaborada pelas Tradições Religiosas. O conhecimento a respeito do fenômeno religioso que se pretende construir de forma participativa e coletiva, mostra-se responsável por construir significados na medida em que pro- move a informação, reflexão e a construção de um conheci- mento novo significativo, de forma a entender outras respostas às questões humanas fundamentais de identidade e destino. O desenvolvimento e planejamento das aulas dessa disci- plina deve ser contextualizado e organizado, assim como as ou- tras do ambiente escolar, tendo em vista: a caracterização do estudante, os objetivos a serem alcançados, os melhores meios e métodos necessários para possibilitar a construção do conhe- cimento e ainda uma forma de aferir se os objetivos foram al- cançados. Os Parâmetros Curriculares Nacionais do ER orientam que ensino e aprendizagem devem ser permeados de momentos críticos reflexivos pelo docente que pretenda estabelecer uma prática intencional, dialógica e cooperativa. Ao olhar para os objetivos e para a aula desenvolvida, sur- ge o importante processo de avaliação. Como um momento de FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 43 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 03 aga7ta/ Sh ut te rs to ck significar o tão subjetivo alcance das aulas de ER, faz-se mister entender a avaliação como uma engrenagem que realimenta a máquina, no caso a aprendizagem significativa. Ter em mente o contexto social, cultural e religioso dos estudantes é um dos pressupostos que devem ser considerados para cada conteúdo e momento com a turma. Além disso, o acompanhamento do desenvolvimento de posturas, ideias e ex- pressões de cada um exige percepção, análise e reflexão para que seja possível aferir os resultados pretendidos. Extra Propomos a leitura do seguinte artigo: Ensino Religioso: espaço dos catecismos, de Sérgio Junqueira. Publicado na Revista Horizonte. v. 12, n. 36, 2014. Disponível em: <http:// periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P. 2175-5841.2014v12n36p1283/7529>. Acesso em: 28 maio 2015. .Atividade Selecione quatro reportagens de jornais ou revistas de sua região que expressem a relação do universo religioso com o co- tidiano social. Em seguida elabore um texto expressando a rela- ção entre as reportagens e procure formular uma aula de Ensino Religioso com esse material. Nesse plano explicite o objetivo ou objetivos, as atividades e a avaliação. Indique para que ano escolar seria proposta essa aula. Com essa ação, procure verifi- car sua sensibilidade para enxergar no cotidiano e na história os elementos para o Ensino Religioso no enfoque da diversidade. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO44 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO Pa r t e 03aga7ta/ Sh ut te rs to ck Referências BRASIL. Lei 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 23 dez. 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 26 maio 2015. ______. Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33 da Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional. Publicada no Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, Congresso Nacional, 1997. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015. FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO – FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso. São Paulo: Ave Maria, 1997. Resolução da atividade Por meio deste trabalho é possível verificar a relação en- tre o cotidiano do religioso e a educação de posturas para o diálogo, um dos objetivos do Ensino Religioso. Identificar o objeto do Ensino Religioso e sua relação com o estudo das Ciências da Religião por meio do fenômeno religioso. O FENÔMENO RELIGIOSO Aula 03 Objetivo: D av idC ar ill et /S hu tt er st oc k FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 47 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 01 David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck CONCEITOS DE RELIGIÃO E SUA HISTÓRIA A definição mais aceita pelos estudiosos, para efeitos de organização e análise, tem sido a se- guinte: religião é um sistema comum de crenças e práticas relativas a seres sobrehumanos dentro de universos históricos e culturais específicos. (SILVA, 2004, p. 4) O modelo de “Ensino Religioso fenomenológico assumiu como conceito de Religião (lat.) religio como (lat.) relegere (port.) “reler”, a definição de Cícero1.”(JUNQUEIRA, 2008, p. 20). Segundo esse filósofo, conforme aponta Junqueira (2008), “religio” estaria ligado ao culto aos deuses, a costumes ances- trais, e a religião mais antiga seria a melhor, por estar mais pró- xima dos deuses. A religião seria própria de cada sociedade hu- mana particular, sendo o conjunto de práticas e formas de crer, que busca honrar seus deuses, e por isso mesmo é apropriado receber respeito de outras comunidades. Na cultura do Império Romano, havia a demonstração desse princípio no reconhecimen- to do direito ao culto monoteísta a Javé para o povo Judeu, de forma livre, por meio do estatudo religio licita, tendo em vista “a realização escrupulosa da observância cultual, no respeito e na piedade devidos aos poderes superiores” (JUNQUEIRA, 2008, p. 20), como prática fundamentada em uma tradição. É necessário lembrar que o termo foi aplicado de for- ma ampliada, reconhecendo como religio sistemas e culturas que cultuavam divindade(s), mesmo que de maneiras diferen- tes ao praticado pelo Império Romano. Para Émile Durkheim2, 1 Conheça um pouco mais sobre Cícero: <http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%ADcero>. 2 Conheça um pouco mais sobre Durkheim: http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO48 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 01David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck sociólogo, psicólogo social e filósofo francês do início do Século XIX, a religião seria um “sistema solidário de crenças e práticas relativas a coisas sagradas” (Ibidem). A religião pode influenciar e definir as relações humanas, emprestando sentido, quando valida uma gama de informações, aferindo veracidade a elas. Além disso, serve de modelo en- quanto baliza ações e responde questões cruciais para a vida, como aquelas ligadas à identidade (quem sou? Por que estou aqui?) e destino (de onde vim? para onde vou?), além daqueles questionamentos quanto às ameaças de sofrimento, ignorância e injustiça. Instintivamente, há uma tendência à busca de comporta- mentos religiosos, independente da cultura a que pertença, por ser instrumento para o conhecimento e compreensão do mun- do, de si e de ações e fenômenos incontroláveis, inexplicáveis e desconhecidos. Assim, as aldeias humanas, independente de localização e época, vêm indicando e buscando significados para seu viver, e nisso se reconhece também a caracterização de religião, em que se constituem caminhos para dirigir-se àquilo que necessi- tava ser reconectado. Extra Propomos a leitura do artigo que aborda sobre a construção conceitual do Ensino Religioso e as Ciências da Religião Dos con- ceitos de Ciência de Religião e de Ensino Religioso: diálogos ne- cessários, de Edivaldo Bortoleto e Rosa Gitana Krob Meneghetti. Publicação Numen: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora, v. 17, n. 1, p. 15-50. Disponível em: <http://numen.ufjf. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 49 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 01 David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck emnuvens.com.br/numen/article/view/2828/2151>. Acesso em: 2 jun. 2015. Atividade Assista a entrevistas com três líderes de diferentes reli- giões e procure identificar: o que é uma religião? Seguem três sugestões: • Fé Baháí. Disponível em: <www.youtube.com/watch?- v=fhuHI942-Q0>. Acesso em: 15 jun. 2015. • Cristãos ortodoxos. Disponível em: <www.youtube. com/watch?v=9fjjpQjrLbs>. Acesso em: 15 jun. 2015. • Budismo Tibetano. Disponível em: <www.youtube. com/watch?v=4f6iwrm-FR0>. Acesso em: 15 jun. 2015. Referências JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; CORRÊA, Rosa Lydia; HOLANDA, Ângela Maria. Ensino Religioso: aspectos legal e curricular. São Paulo: Paulinas, 2007. JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; WAGNER, Raul (Org.). Ensino Religioso no Brasil. Curitiba: Champagnat, 2004. JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. Ensino Religioso na Perspectiva do Espaço Escolar. Revista Teoria e Prática da Educação, v.11, n.1, p.15-22, jan./abr. 2008. Disponível em: <www.dtp.uem.br/rtpe/volumes/v11n1/002_ Sergio_Junqueira.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2015. SILVA, Eliane Moura da. Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para a Cidadania. Revista de Estudos da Religião, n. 2 / 2004 / pp. 1-14. Disponível em <www.pucsp.br/rever/rv2_2004/p_silva.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2015. Resolução da atividade FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO50 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 01David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck O filósofo Cícero propõe que religião é a releitura do que transcende na sociedade. As entrevistas devem proporcionar condições de identificar o conceito do que é religião como uma marca distintiva humana, independente de qual ela seja. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 51 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 02 David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck FENÔMENO RELIGIOSO O Conselho Nacional de Educação (CNE) contribuiu com orientações para a formatação das diretrizes curriculares para todas as disciplinas escolares. O Fenômeno Religioso foi o cami- nho encontrado para a definição de objeto e objetivos para o Ensino Religioso (ER). Essa escolha deu condições de ampliar o entendimento a respeito do ER enquanto disciplina escolar, ao considerar duas áreas específicas: educação-ensino e religião, ou seja, a di- mensão escolar e aquela ligada a religiosidades. Ilimitadas pos- sibilidades se abrem, tanto com relação à primeira como quan- to à segunda. Inicialmente, é determinante o fato desse estudo ocorrer no espaço da escola, exigindo a escolarização dos estudos sobre as manifestações religiosas, em que entrecruzam-se: • a sociedade local, global, plural e cultural, suas injus- tiças e conquistas, conjunto que influencia a formação humana; • as diferentes visões de mundo e práticas de convivên- cia recebidas do ambiente familiar de cada estudante; • o sistema escolar expresso nas diferentes prioridades econômicas, filosóficas e pedagógicas, que estrutu- ram e influenciam uma gama de relações internas ho- rizontais e verticais de poder; • o corpo discente, ou estudantes, que com suas his- tórias, gostos e escolhas pessoais, inter-relacionados FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO52 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 02David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck com diferentes fases etárias, de desenvolvimento cog- nitivo e interpessoal, são influenciados pelo seu pro- tagonismo (ou não) nos contextos sociais em que se inserem. Algumas condições são necessárias para que se atinjam os objetivos da disciplina: • instrumento metodológico isento de ideologias, in- tenções preconcebidas, julgamento de valores (tanto quanto possível); • análise da recorrência e constância de determinados aspectos (valores, credos etc.) ao longo do tempo; • utilização de fontes primárias, ou seja, leituras inter- culturais o mais próximo possível de suas raízes origi- nais, descartada a prática de classificação (histórica, sociológica, ou qualquer outra), que evite apropriações de causa-efeito no afã de explicar o momento funda- mental apresentado enquanto fenômeno religioso. Fenômeno religioso pode ser comparado aos fenômenos sociais ou culturais, enquanto sistema de relações entre seres humanos, contudo seria possível restringir as relações do fenô- meno religioso ao relacional entre seus pares? Com o que ou com quem estes se relacionam no âmbito religioso? Novamente é preciso pensarque essa relação religiosa está relacionada às questões cruciais para a vida de identidade (quem sou? Por que estou aqui?), destino (de onde vim? para onde vou?) e profundidade existencial. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 53 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 02 David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck Portanto não se tratam de questões levianas ou superfi- ciais, já que envolve a pessoa em sua totalidade, oferecendo sentido, que por vezes se traduz como o sentido de ser, perma- necer e fazer no mundo. Extra Propomos a leitura do artigo Fenômeno Religioso: uma buca pela verdade, de Yask Gondim da Silva. Publicação: Fragmentos de cultura, Goiânia, v. 22, n. 4, p. 345-353, out./ dez. 2012. Disponível em: <http://seer.ucg.br/index.php/frag- mentos/article/view/2550/1583>. Acesso em: 15 jun. 2015. Atividades Assista ao Programa Teodiversidade da PUC São Paulo - Programa Teodiversidade 3 – Panorama das Religiões no Brasil, que discute a diversidade religiosa no Brasil. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=9HbncepXhkQ>. Acesso em: 15 jun. 2015. Tomando como base esse vídeo, propomos que você produ- za um breve texto respondendo à seguinte questão: Qual é o cenário religioso brasileiro? Caso você queira aprofundar a questão da diversidade religiosa no Brasil, acesse a pesquisa sobre o Novo Mapa das Religiões. Disponível em: <www.cps.fgv.br/cps/religiao/>. Acesso em: 15 jun. 2015. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO54 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 02David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck Referências JUNQUEIRA, Sergio (Org.). O sagrado: fundamentos e conteúdo do ensino religioso. Curitiba: Ibpex, 2009. JUNQUEIRA, Sergio; WAGNER, Raul. O ensino religioso no Brasil. 2. ed. Curitiba: Champagnat, 2011. Resolução da atividade Ao perceber a diversidade religiosa no cenário religioso brasileiro, é possível ampliar a visão do Ensino Religioso que deve apresentar o posicionamento de olhar para o fenômeno, ou seja, considerar a dimensão fenomenológica da disciplina. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 55 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 03 David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck FENÔMENO RELIGIOSO COMO OBJETO PARA O ENSINO RELIGIOSO Diante das bases filosóficas, sociológicas e legais a respeito do Ensino Religioso, e considerando a diversidade religiosa bra- sileira, o fenômeno religioso, enquanto núcleo central, apre- senta a releitura de diferentes contextos junto às concepções das diferentes religiões como o caminho para operacionalizar conteúdos para esse componente curricular. Mais do que apresentar esses conhecimentos, faz-se neces- sária uma postura facilitadora da construção destes, de forma provocativa, a fim de que os estudantes se tornem protagonis- tas da aprendizagem. Como caminhada de crescimento cultural, o modelo feno- menológico exige que se compreenda qual é a escola, o aluno e os contextos que estão envolvidos e, além disso, a proposta e a metodologia que se implementará nesta jornada. Neste percurso de formação cultural e, consequentemente, de preparação para atuação social e profissional, encontra-se a educação da consciência religiosa como um direito de cada pessoa. Como mais uma dimensão da cultura, torna-se possível discutir problemas da existência, entre outros fundamentais. Restringir o ensino a conteúdos vagos e neutros, que des- prezam a reflexão quanto a modelos que transmitem a tradição e cultura de cada povo, é limitar o leque de conhecimentos que podem ser desenvolvidos e apropriados e que podem ser signi- ficativos para as tomadas de decisão diante das opções de vida a serem enfrentadas. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO56 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 03David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck É na escola, enquanto agência de educação para a vida em sociedade, que a operacionalização fenomenológica da discipli- na pode influenciar a formação de seres que atuem de forma comprometida com o exercício da cidadania, com o mundo do trabalho, de seres que, de forma alteritária1, contribuem para uma vivência fundamentada na ética, na justiça, no respeito aos direitos humanos, efetivando uma formação integral. Além das contribuições filosóficas, sociológicas, legais, pe- dagógicas e a diversidade da nação brasileira, para a efetivação do Ensino Religioso, é preciso considerar também o ambiente educativo, aspecto valorizado na pedagogia contemporânea. O Ensino Religioso se insere nesses ambientes enquanto processo educativo e deve considerar seus elementos coexis- tentes (pessoas, relações, espaços e tempos destinados), po- dendo favorecer ou não a formação humana. As condições de espaço, tempo e as relações humanas se influenciam mutua- mente, de acordo com um programa na forma como é pensado e aceito pelos pares envolvidos. É a escola o cenário em que se desenvolve o crescimento cultural não só de cada sujeito, como de cada comunidade, e por isso mesmo, deve ser o lugar no qual as formulações de questões, e a busca pelas respostas e novas perguntas provem e ampliem a capacidade e possibilidade do exercício da inteligên- cia, da razão, da reflexão científica e da sensibilidade artística. É lá onde se deve reunir as condições ideais para que todos os questionamentos e, em especial, os ligados ao senso da vida e valores existenciais se desenvolvam. 1 Relativo à alteridade. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 57 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 03 David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck O Ensino Religioso, nesse aspecto, ocupa tempo e espaço privilegiados para uma formação que se pretende científica, pois propicia poder observar, analisar, rever, sintetizar e, em atitude de diálogo, conhecer o que de outra forma não seria possível. Extras Propomos a leitura do artigo: Um espaço para compreender o sagrado: a escolarização do Ensino Religioso no Brasil. Sylvio Fausto Gil Filho e Sérgio Rogério Azevedo Junqueira. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 43, p. 103-121, 2005. Editora UFPR. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/ historia/article/view/7865/5546>. Acesso em: 2 jun. 2015. Para que você possa ir além na compreensão da questão diversi- dade, propomos que acesse o site oficial do IBGE, em que encontra-se o artigo: Censo 2010: número de católicos cai e aumenta o de evangé- licos, espíritas sem religião. Disponível em: <http://censo2010.ibge. gov.br/pt/noticias=-censo?view=noticia&id1=&idnoticia2170=&t- censo-2010-numero-catolicos-cai-aumenta-evangelicos-espiritas- sem-religiao>. Acesso em: 15 jun. 2015. Atividade Para discutir nas aulas de Ensino Religioso sobre a cons- trução dos conceitos religiosos no país, é fundamental com- preender a sua diversidade religiosa. Propomos que você ouça o demógrafo da religião, e com base na entrevista, responda à seguinte questão: Como estão distribuídas as religiões no Brasil? Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=tmIEDltbfms>. Acesso em: 15 jun. 2015. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO58 O FENÔMENO RELIGIOSO Pa r t e 03David Ca ri lle t/ Sh ut te rs to ck Referências JUNQUEIRA, S. (Org.). O sagrado: fundamentos e conteúdo do ensino religioso. Curitiba: Ibpex, 2009. JUNQUEIRA, S.; WAGNER, R. O ensino religioso no Brasil. 2. ed. Curitiba: Champagnat, 2011. Resolução da atividade Compreender o Brasil como um país cuja diversidade se reflete em diferentes modos de vida, e em especial nos aspec- tos religiosos. Propõe-se esse percurso como forma de correla- cionar a necessidade do enfoque fenomenológico da disciplina como necessário e urgente para dar resposta à multicultural sociedade brasileira. Análise da diversidade cultural religiosa e seu impacto nas aulas de Ensino Religioso. O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO ESCOLAR Aula 04 Objetivo: ka m om ee n/ Sh ut te rs to ck FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 61 O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO ESCOLAR Pa r t e 01 kamome en /S hu tt er st oc k ESCOLA E RELIGIÃO Na educação realizam-se os aspectos do fazer da humani- dade,bem como na religião se expressam aspectos constituti- vos de cada povo, o que se reflete na atuação de cada indivíduo na sociedade onde vive. Sua atuação pode ou não transformar, manter ou desenvolver características que marcam e dão iden- tidade à sua cultura, ocupando a posição de agente social, com força e influência na formação desta, como protagonistas de atos que mantém ou transformam hábitos, costumes, ideolo- gias, moral. Assim, tanto a educação quanto a religião, tendo em vista que são organizações socioculturais, desempenham uma espe- cífica e determinada função social, que, ao longo do tempo, pode modificar aspectos sociais. Essas mudanças, via de regra, não se operacionalizam de forma homogênea e sem tensões, em especial quando a diversidade e a pluralidade enfrentam cenários também diversos e adversos na política e nas questões sociais, sendo possível aferir a diversidade também nos aspec- tos culturais, morais e religiosos. Historicamente, religião e educação são interdependentes em suas constituições, e elas se dedicam a questões cujos ele- mentos históricos, culturais e concretos compõem o processo de construção – perpetuação – modificação da história da huma- nidade. Interligadas historicamente, elas têm papel fundamen- tal no desenvolvimento dos povos, sendo responsáveis e oca- sionando tanto a delimitação quanto a expansão do processo evolutivo humano. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO62 O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO ESCOLAR Pa r t e 01kamome en /S hu tt er st oc k Com funções sociais diferentes, a educação tem a função de oportunizar a ciência do conhecimento historicamente cons- truído aos que a ela têm acesso. Já a religião tem a função de tornar acessível a dimensão simbólica, de aspectos do transcen- dente, de crenças e convicções religiosas humanas. Em ambas, é possível que o sujeito entenda a sua própria constituição en- quanto ser que tem aspirações e usar do conhecimento elabora- do/transmitido nessas esferas para sua atuação em sociedade. Com campos de atuação diferentes, o educacional e reli- gioso encontram na disciplina do Ensino Religioso o espaço pro- dutivo para entender a diversidade de forma a contribuir para a formação cidadã. Essa cidadania, da qual a escola se ocupa em formar e se coloca como espaço fundamental para isso, também é tocada por aspectos religiosos. E na escola, em especial, pode ser de- senvolvida a tão necessária acolhida àquilo ou àquele que é di- ferente, de forma respeitosa, e que só pode se efetivar através do conhecimento sistematizado. No desenvolvimento da cidadania a religião colabora pro- piciando fenômenos religiosos de diferentes sociedades, que configuram diferentes e densas articulações, mudanças, com- binações e interpretações. Diante de todos estes aspectos, é desafiante a postura que se exige da disciplina e dos profissionais que trabalham com o ER, pois os elementos concretos de cada esfera (educacional e religiosa) tem epistemologia própria e especifica diferente de qualquer outra disciplina escolar. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 63 O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO ESCOLAR Pa r t e 01 kamome en /S hu tt er st oc k Extra Propomos a seguinte leitura: Ensino Religioso e cidada- nia na escola pública, de Elisa Rodrigues, publicado na Revista Numen, v. 16, n. 1, 2013. Disponível em: <http://numen.ufjf. emnuvens.com.br/numen/article/view/2126/1935>. Acesso em: 5 jun. 2015. Atividade Converse com uma ou mais pessoas de seu convívio (adulta ou jovem) e tente resgatar de suas memórias alguns aspectos so- bre atividades religiosas que eram realizadas no espaço escolar. Após a organização do quadro a seguir, responda à seguinte questão: como a religião se expressa na escola? Escola pública Escola particular Existia alguma imagem re- ligiosa na escola? (Quadro/ estatueta/gravura...) SIM NÃO SIM NÃO Em algum momento, existiu a oportunidade de oração para os alunos? SIM NÃO SIM NÃO Era feita a distribuição de material religioso para alunos e/ou professores? SIM NÃO SIM NÃO Textos religiosos eram utiliza- dos na escola? SIM NÃO SIM NÃO Em algum momento aconte- ciam celebrações religiosas? SIM NÃO SIM NÃO FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO64 O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO ESCOLAR Pa r t e 01kamome en /S hu tt er st oc k Referências SEVERINO, Antonio Joaquim. Educação, ideologia e contra-ideologia. São Paulo: EPU, 1986. _____. Educação, trabalho e cidadania: a educação brasileira e o desafio da formação humana no atual cenário histórico. In: São Paulo em Perspectiva. São Paulo: Apr./June 2000. v. 14, n. 2. Disponível em: <www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392000000200010>. Acesso em: 16 jun. 2015. WEILER, Lara. A educação e a sociedade atual frente às novas tecnologias. Disponível em: <http://jararaca.ufsm.br/websites/l&c/download/Artigos/ L&C_1S_06/LaraL&C2006.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2015. Resolução da atividade A proposta é verificar a presença da religião na escola mes- mo sem o Ensino Religioso, pois algumas vezes o tema religião surge no espaço escolar em decorrência de situações propostas por alunos e/ou professores, como: o tema da morte, questões morais como aborto, eutanásia e homoafetividade. Aqui vale lembrar que os princípios religiosos orientam o tema do diá- logo. Para tal, é fundamental saber identificar e preparar-se para essas discussões. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 65 O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO ESCOLAR Pa r t e 02 kamome en /S hu tt er st oc k ESCOLA, DIVERSIDADE CULTURAL E CIDADANIA Diversidade tem sua raiz semântica (origem) na palavra latina diversitate e significa “diferença”, “dessemelhança”, “dissimilitude”. Por isso há o entendimento de que diversidade é palavra antônima à homogeneidade. Assim, diversidade cultural pode ser entendida como dife- rença entre culturas, na forma em que concebe o mundo, entre outras diferenças. Por serem originais em diferentes aspectos, com histórias de formação, necessidades e características pe- culiares entre si, exigem que o trato dos seus aspectos formati- vos e constitutivos seja feito evitando a uniformização, discri- minação e hierarquização de valores. É por isso também que a produção cultural que representa cada cultura deve ser tomada com postura respeitosa e alteritária. Essa produção cultural se expressa, entre outros aspectos, por meio de idioma, símbolos, tradições, ritos, alimentação, música, artes etc. Geertz1 (1926-2006), antropólogo da Universidade Princeton, de Nova Jersey, apresentou a diversidade cultural como uma teia de significados construída por meio das vivên- cias de cada um na sociedade em que se encontra. Por meio dessas vivências, são convencionadas significações, valores e regras que dão condição à comunicação e à vida entre os sujei- tos e entre os diferentes grupos. Cultura, portanto, não é ca- sual, mas resulta das relações historicamente construídas, por 1 Para saber um pouco mais sobre Clifford Geertz, acesse: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Clifford_Geertz>. FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO66 O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO ESCOLAR Pa r t e 02kamome en /S hu tt er st oc k gerações anteriores, e que condicionam a forma como se vive e como se traduz essa vida social. No primeiro artigo da Declaração Universal sobre Diversidade Cultural, consta que Artigo 1 – A diversidade cultural, patrimônio co- mum da humanidade. A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa di- versidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humani- dade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o gê- nero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em benefício das gera- ções presentes e futuras. (UNESCO, 2002). Portanto se entende