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INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS 
SOCIAIS E POLÍTICAS
 
“A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à 
geração, sistematização e disseminação do conhecimento, 
para formar profissionais empreendedores que promovam 
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e 
cultural da comunidade em que está inserida.
Missão da Faculdade Católica Paulista
 Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo.
 www.uca.edu.br
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma 
sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, 
salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a 
emissão de conceitos.
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior
Professor | Luiz Alberto Neves Filho
Sumário
UNIDADE 1 – O PENSAMENTO CIENTÍFICO E O CAMPO 
DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
INTRODUÇÃO ................................................................ 7
1. O conceito de sociedade e os objetivos das Ciências 
 Sociais ...................................................................... 7
1.1 Sociedade ................................................................ 7
1.1.1 Revoluções econômicas e sociais .............................. 9
1.2 Objetivos das Ciências Sociais ................................. 10
2. O que é ser cientista social hoje? ............................. 11
3. O histórico da consolidação das Ciências Sociais 
 como campo de pesquisa e conhecimento ................ 13
4. Os desafios para a compreensão do mundo 
 contemporâneo ....................................................... 18
CONCLUSÃO ............................................................... 20
ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 21
REFERÊNCIAS ................................................................ 22
UNIDADE 2 – A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE 
SOCIAL: RELAÇÃO ENTRE INDIVÍDUO E SOCIEDADE
INTRODUÇÃO .............................................................. 24
1. O social no indivíduo: as marcas sociais que exibimos 
 nas formas de agir e pensar ..................................... 24
2. Memória e identidade social .................................... 27
3. Cultura e ideologia ................................................. 29
3.1 Conceito de cultura .................................................. 29
3.1.1 Cultura, Nação e Identidade Nacional .................... 31
3.2 Ideologia ................................................................ 31
4. A divisão social do trabalho ..................................... 32
5. Força, legitimidade, normas e poder ......................... 35
CONCLUSÃO ............................................................... 37
ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 38
REFERÊNCIAS ................................................................ 39
UNIDADE 3 – COMO A SOCIEDADE SE TRANSFORMA: 
O MUNDO DA POLÍTICA
INTRODUÇÃO .............................................................. 41
1. Da noção grega de pólis a Maquiavel: a construção 
 do pensamento político ........................................... 41
2. O Contratualismo de Hobbes, Locke e Rousseau ....... 44
2.1 Estado de Natureza em Hobbes, Locke e Rousseau .... 44
2.2 Propriedade Privada em Hobbes, Locke e Rousseau .. 45
3. Perspectivas e formas de poder ................................. 47
3.1 Aristocracia ............................................................. 47
3.2 Ditadura ................................................................. 48
3.3 Democracia ............................................................ 48
3.4 Revolucionária ........................................................ 50
4. O poder, a sociedade civil e o Estado .......................... 50
4.1 Poder ..................................................................... 50
4.2 Sociedade civil e Estado ........................................... 51
CONCLUSÃO ............................................................... 53
ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 53
REFERÊNCIAS ................................................................ 54
UNIDADE 4 – ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS 
DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
INTRODUÇÃO .............................................................. 57
1. Metodologia em Ciências Sociais ............................. 57
2. Metodologia científica de caráter qualitativo: esforços 
 e proposições ......................................................... 60
3. Metodologia científica de caráter quantitativo: esforços 
 e proposições ......................................................... 62
CONCLUSÃO ............................................................... 65
ELEMENTOS COMPLEMENTARES ................................... 66
REFERÊNCIAS ................................................................ 67
Unidade
1
Objetivos de aprendizagem 
da unidade
• Definir o campo das Ciências Sociais, as diferenças com as 
ciências naturais e os objetivos das disciplinas que buscam 
compreender o mundo social
• Identificar os campos de atuação do cientista social e apresentar 
aplicações práticas e potenciais procedimentos
• Compreender o contexto histórico do período da origem das 
Ciências Sociais e a busca de reconhecimento no interior do 
campo científico
• Identificar vínculos entre o pensamento sociológico e questões 
contemporâneas
Professor Mestre Luiz Alberto Neves Filho
O PENSAMENTO CIENTÍFICO E O 
CAMPO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
7
Unidade
1
INTRODUÇÃO 
Nesta unidade apresentaremos a constituição, o desenvolvimento do pensamento cientifico e a 
definição do campo de atuação das Ciências Sociais. As Ciências Sociais e Políticas representam um 
ramo importante da vertente científica, responsável pela realização dos estudos acerca da sociedade 
e dos seus movimentos ao longo da história humana. As Ciências Sociais e Políticas são compostas 
pelas seguintes áreas: Antropologia, Ciência Política e Sociologia. A Antropologia é a área que realiza 
estudos sobre o Homem no seu meio social, analisando, assim, a humanidade na sua totalidade. A 
Ciência Política se incumbe da realização de estudos sobre a Política e todas as suas repercussões 
(sistemas políticos, organizações e processos políticos). A Sociologia é a área responsável por estudos 
científicos relacionados às sociedades humanas, desde a sua constituição até os desdobramentos 
modernos (transformações), que impactam diretamente no cotidiano dos indivíduos.
O desenvolvimento de métodos científicos foi necessário para a constituição das Ciências 
Sociais, primeiramente, como disciplina cientifica, e, posteriormente, como detentora de área de 
atuação própria, na realização de estudos sobre a sociedade moderna ocidental.
Bons estudos!
1. O CONCEITO DE SOCIEDADE E OS 
ObjETIvOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
A sociedade é o alvo de todas as pesquisas realizadas pelas Ciências Sociais – esta não existira 
sem a primeira. Em um primeiro momento, é necessário compreender o processo de formação das 
sociedades, suas características e sua face atual. Estudos que levem a definições conceituais, observações 
empíricas e também ao levantamento das características das sociedades constituem os objetivos das 
Ciências Sociais. Veremos alguns destes elementos a seguir.
1.1 Sociedade
Existe grande controvérsia quanto ao conceito de sociedade, entretanto é possível afirmar que 
todas as definições (aceitas e reconhecidas pelas Ciências Sociais) partem de um princípio de que a 
sociedade é, antes de tudo, uma abstração (não acabada e em transformação). É uma abstração, que 
possui características complexas e que é composta por diversos agrupamentos, e também diversas 
configurações que merecem ser estudadas (SIMMEL, 2004). 
O desenvolvimento das complexidades (característicasda abstração da sociedade) se originou 
do processo civilizatório e teve como consequência o surgimento de um modelo de sociedade que 
necessita de estudos sobre a sua estrutura e o seu funcionamento. Diversos acontecimentos históricos 
(por exemplo, Revolução Industrial, Revolução Francesa e Revolução Científica), juntamente com 
fatores epistemológicos (mudança na maneira de pensar e enfrentar a realidade) trouxeram uma nova 
perspectiva histórico-social para os homens, culminando no surgimento do modelo de sociedade 
existente ainda hoje: sociedade moderna (SELL, 2001). 
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
8
As diversas transformações ocorridas no decorrer da história do homem moderno levaram, 
a partir do século XIX, ao surgimento da necessidade de desenvolvimento de uma área científica 
que seria responsável pela investigação das transformações presentes na sociedade moderna, ou 
seja, investigação científica dos elementos geradores de transformações no meio social do homem 
moderno: Sociologia.
A Sociologia surgiu como área científica responsável pela análise aprofundada dos 
desdobramentos e transformações da sociedade moderna, sendo possível também definir a Sociologia 
como Teoria da Modernidade (SELL, 2001). 
Augusto Comte, em 1839, alterou da ciência que estudava a sociedade, dando a ela o nome de 
Sociologia (do latim “socius” e do grego “lógos” – que significa estudo social) (SELL, 2001). 
A sociedade é composta por indivíduos em interação, e não uma coisa fixa ou acabada; portanto 
a Sociologia deve se preocupar em estudar os indivíduos em interação (SIMMEL,2004).
O ser humano é, por natureza, um ser social e sua sociabilidade se sustenta na interação 
dos indivíduos no mesmo meio social. Segundo Simmel (apud CASTRO, 2014), a interação entre 
os indivíduos pode ser observada na sociedade de várias formas, por exemplo, mediante conflitos, 
competição, submissão ou cooperação. A imagem, a seguir, demonstra um exemplo da socialização 
dos indivíduos:
Relações e interações sociais 
 
 Fonte: Pixabay.
O pensar sociologicamente deve ser crítico desde a sua origem, tendo em vista que o pensamento 
científico deve ser pautado sempre na dúvida, e o sociólogo (como homem da ciência) deverá apresentar 
essa atitude. A dúvida é a base para o pensar sociologicamente crítico, pois a Sociologia, na busca pela 
compreensão dos fenômenos sociais, deve duvidar de tudo, inclusive de si mesma (SOUTO, 1987).
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
9
Unidade
1
Os três principais pensadores das Ciências Sociais 
(Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber) apresentam 
conceitos teóricos e métodos científicos diferentes para 
a análise da sociedade, e isso é possível devido ao fato 
das Ciências Sociais não constituírem uma ciência 
exata, ou seja, nas Ciências Sociais é possibilitada 
existência de interpretações diferentes para um mesmo fato. 
Fonte: Elaborado pelo autor. 
1.1.1 Revoluções econômicas e sociais 
Três grandes revoluções (transformações profundas) abalaram completamente o modelo de 
sociedade que vigorava até o século XVIII e deram sustentação para o surgimento de um novo modelo 
se agrupamento social (sociedade moderna industrial): Revolução Francesa, Revolução Industrial e 
Revolução Científica.
• Revolução Francesa
A Revolução Francesa, ocorrida em 1789, provocou diversas transformações na forma de pensar 
o mundo (de maneira filosófica - Iluminismo), juntamente com o surgimento de novos ideais políticos 
e, também, com o desenvolvimento de novas formas de organização do poder.
A Revolução Francesa apresentou uma forma de rompimento com o regime antigo, trazendo 
novas perspectivas sociais, como é possível ver na imagem a seguir:
Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade
 
 Fonte: Pixabay.
A partir da promessa de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a Revolução Francesa trouxe 
impactos nas formas de organização do poder e na estrutura de funcionamento da sociedade, gerando 
o desenvolvimento de condições para o surgimento da sociedade moderna (SELL, 2001).
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
10
• Revolução Industrial 
Entre os séculos XVIII e XIX a sociedade passou por diversas transformações sociais rápidas e 
intensas, que tiveram origem em acontecimentos da ordem econômica (classificados posteriormente 
como Revolução Industrial). O desenvolvimento de equipamentos tecnológicos (máquinas) alterou 
toda a forma de relacionamento existente até então entre os indivíduos e trouxe como consequências 
diretas a elevação da produtividade e o surgimento de duas grandes classes sociais: burguesia e 
proletariado (SELL, 2001).
• Revolução Científica 
A busca por explicações lógico-racionais para os diversos fenômenos acompanha a humanidade 
desde o seu surgimento (acentuada pelo desenvolvimento de novas estruturas, por exemplo a 
sociedade). A elaboração de métodos racionais e rigorosos deixou de lado práticas pautadas em 
tradições populares e religiosas. O rompimento com a lógica não formal na busca pela “verdade” trouxe 
implicações profundas na sociedade (e nos seres humanos) com o surgimento da ciência moderna. 
As bases que deram origem à ciência moderna proporcionaram um novo olhar para o mundo, em 
que as explicações baseadas em métodos não lógicos não explicam de maneira satisfatória os diversos 
fenômenos que rodeiam o homem e a sociedade. O desenvolvimento de uma percepção crítica e 
questionadora se faz necessário nessa nova sociedade. Esse cenário deu origem às Ciências Sociais.
1.2 Objetivos das Ciências Sociais 
É necessário destacar, inicialmente, que cada uma das Ciências Sociais (Antropologia, Sociologia 
e Ciência Política) possui objetivos específicos próprios (que são convergentes). Entretanto, podemos 
afirmar que de maneira geral e integrada a finalidade das Ciências Sociais é buscar a compreensão, de 
maneira lógica, crítica e cientifica, das estruturas de funcionamento da sociedade em todas as suas esferas 
(política, cultural, social e econômica). A sociedade moderna (gerada pelas transformações política, 
econômica e social dos últimos séculos) é constituída por arcabouço de instituições que merecem 
serem estudadas, e as Ciências Sociais têm o objetivo (e a missão) de oferecer estudos científicos 
pautados em métodos reconhecidos e que apresentem panoramas lógicos sobre o funcionamento das 
instituições que compõem a sociedade moderna. 
O artigo “Sobre os obstáculos sociais ao desenvolvimento 
histórico da razão”, da pesquisadora Sylvia Gemiganni 
Garcia, repercute que a razão científica, aplicada à área 
de Ciências Sociais, pode ser avaliada em dois níveis de 
conhecimento: instrumental (usado para o controle técnico 
do mundo) e reflexivo (que estuda as várias dimensões de 
sentido das práticas humanas). O material está disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662014000400751& 
lang=pt>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
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Unidade
1
2. O qUE é SER CIENTISTA SOCIAL HOjE?
A pergunta que circula o título deste tópico envolve, primeiramente, a compreensão de outros 
questionamentos prévios como: Quais são as características da sociedade em que vivemos hoje? Quais 
são as perspectivas sociais da sociedade atual? Existem diferenças da sociedade contemporânea (atual) 
para a sociedade analisada por Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber? 
Quais são as características da sociedade atual? Este será nosso ponto de partida.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos sociólogos contemporâneos mais reconhecidos 
(pela complexidade das suas obras), afirma que a modernidade assumiu uma esfera mutável (tornando 
o “mundo líquido” para ser mais literal) na qual a incerteza passa a ser um ator predominante na cena 
social (sociedade). Uma característica marcante dessa sociedade,marcada pela liquidez e pautada 
na incerteza, é que os indivíduos foram transformados em meros consumidores, e os consumidores 
foram transformados em mercadorias. Bauman (apud CASTRO, 2014, p. 121) afirma que:
Na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar 
mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar 
e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria 
vendável. A “subjetividade” do “sujeito”, e a maior parte daquilo que essa subjetividade 
possibilita ao sujeito atingir, concentra-se num esforço sem fim para ela própria se tornar, e 
permanecer, uma mercadoria vendável. A característica mais proeminente da sociedade de 
consumidores – ainda que cuidadosamente disfarçada e encoberta – é a transformação dos 
consumidores em mercadorias [...]. 
Podemos perceber que, segundo Bauman, a sociedade moderna “evoluiu” para um modelo de 
sociedade marcado pelo consumo, pela incerteza e, principalmente, pela liquidez. Nesse cenário, ela 
se apresenta, de maneira objetiva, como opressora das vontades individuais, assumindo (de vez) um 
papel repressor e redutor dos indivíduos em consumidores, e os consumidores em mercadorias.
Neste ponto passaremos ao segundo questionamento: Quais são as perspectivas sociais da 
sociedade atual? As teorias presentes nas obras dos pensadores clássicos das ciências sociais (Émile 
Durkheim, Karl Marx e Max Weber) se mantêm atuais e, ainda hoje, são referências para a compreensão 
dos fenômenos sociais. A sociedade moderna industrial ainda vigora, em novos moldes, e as suas 
estruturas sociais (que ainda podem ser avaliadas pelos clássicos da sociologia) permanecem presentes 
no contexto social atual. Nesse cenário, podemos perceber que as preocupações e perspectivas sociais 
da sociedade moderna industrial fazem parte do cotidiano dos indivíduos nos dias de hoje. 
O pensamento sociológico é de fundamental importância para a análise da sociedade (meio 
social) e das transformações na qual ela passa de maneira cotidiana. Segundo Souto (1987), ele deve 
se adequar aos fatos sociais concretos. A construção teórica e metodológica deve seguir a realidade da 
sociedade, como podemos perceber ao analisar a seguinte afirmação:
Naturalmente, a própria construção teórica ex ante, sendo sociológica e, assim, científica, 
pressuporá algum grau de observação prévia informal da realidade. Essa construção será 
apenas anterior a uma comprovação fática por técnicas formais de pesquisa (observação, 
questionário, entrevista, experimento, etc.). (SOUTO, 1987, p. 50).
Como podemos perceber, o domínio metodológico (e das práticas sociológicas) permite a 
aplicação dos procedimentos mais adequados à realidade social e do objeto de pesquisa. Nesse cenário, 
o cientista social deve atualmente se moldar às necessidades metodológicas apresentadas pelos objetos 
de pesquisa. O pensar sociologicamente é de fundamental importância para a prática do cientista 
social hoje, tendo em vista que, segundo Souto (1987, p. 53):
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
12
Pensar sociologicamente não será algo que se esgote em um mero levantamento descritivo de 
dados. Se o fosse, então a atividade sociológica seria apenas atividade técnica. Seria somente 
atividade de aplicação de conhecimento, e não de crítica ao conhecimento estabelecido e 
tentativa de criação de conhecimento novo.
O pensar sociológico, característico das Ciências Sociais, não pode ser reduzido a atividades 
meramente técnicas, mas deve ser entendido como atividade crítica de questionamento ao 
conhecimento estabelecido, na busca pelo desenvolvimento de novos conhecimentos; ou seja, ainda 
hoje é uma atividade crítica e reflexiva. 
Como foi possível perceber neste tópico, a sociedade moderna, alvo de estudos das Ciências 
Sociais, passa por um processo de “mutação constante”, mas mantém as mesmas estruturas observadas 
pelos pensadores clássicos da Sociologia. Assim, o papel do cientista social se mostra centrado da 
busca pela construção de conhecimentos críticos, que atendam às expectativas de buscarem respostas 
para questionamentos sociais e também teóricos. O cientista social é o investigador social e usa suas 
técnicas (métodos científicos) como lupa social, buscando “enxergar melhor” a sociedade. 
Investigador social 
 Fonte: Pixabay.
As Ciências Sociais devem dar conta das lacunas criadas pela sociedade moderna e também das 
consequentes repercussões. Enfim, ser cientista social hoje é ser crítico dos conhecimentos existentes, 
observador da realidade social e, principalmente, entusiasta da busca pela liberdade das condicionantes 
criadas pela sociedade moderna industrial. 
O artigo da pesquisadora Lucie Tanguy publicado na 
Revista Educação e Sociedade – o título é “A sociologia: 
ciência e ofício” – aborda as atribuições dos profissionais da 
área de sociologia. A pesquisadora questiona se o sociólogo 
intelectual dos anos 1950-1960 estaria sendo substituído 
por um novo tipo de profissional, presente no papel de 
um consultor. O texto está disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0101-73302012000100003&lang=pt>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
13
Unidade
1
3. O HISTóRICO DA CONSOLIDAÇÃO 
DAS CIÊNCIAS SOCIAIS COMO CAMPO 
DE PESqUISA E CONHECIMENTO 
 
A análise da relação existente entre homem, sociedade e natureza no decorrer da história (Idade 
Antiga, Idade Média e Idade Moderna) constitui um elemento importante para análise da mudança 
social. Durante o período da Idade Antiga a filosofia clássica grega não separou o homem da sociedade 
e da natureza, convicção compartilhada em alguns estágios do desenvolvimento do pensamento 
moderno. Durante a Idade Média a ideia de unidade da razão, ligada aos primórdios da sociedade 
capitalista, foi uma característica da “luta” entre a Igreja e os poderes seculares.
No decorrer da Idade Moderna, o poder foi secularizado e uma mudança social passou a ser 
necessária. Nesse cenário, o racionalismo passou a ser predominante, tendo como característica o 
desenvolvimento das teorias psicológica e sociológica. Existiam três tendências importantes na Idade 
Moderna: a otimista (evolução e progresso), a pessimista (rejeição ao progresso pacifico) e a não 
conformista/crítico (materialista, na direção da satisfação das necessidades materiais).
Nesse cenário, o distanciamento da teoria social da filosofia – como veremos nesta unidade 
–, com o desenvolvimento da sociologia moderna, transformou a teoria social em uma questão 
sociológica específica.
Até o século XIX a análise social era feita por historiadores e teóricos sociais – a teoria social 
foi posteriormente foi reclassificada por Augusto Comte como Sociologia –, e um pequeno conflito 
era aparente, pois grande parte dos historiadores demonstrava certa resistência à teoria social, a qual 
posteriormente deu origem às Ciências Sociais. No século XVIII não existia nenhum tipo de conflito ou 
controvérsia entre os dois tipos de profissionais, porque as Ciências Sociais (em especial a Sociologia) 
ainda não existiam como área científica independente, e teóricos sociais debatiam a sociedade civil de 
maneira sistemática (ainda sem métodos próprios). 
No final do século XVIII, com a formação dos Estados Nacionais, a historiografia passou a se 
concentrar nos estudos de registros oficiais (documentos), em vez de crônicas, e esse fato gerou uma 
revolução nos métodos utilizados. Nesse momento, a leitura do convívio social passou a ser um modo 
legítimo de produção de conhecimento, descartando a simples leitura de relatos descritos nas crônicas: as 
Ciências Sociais se constituíram como área científica e os cientistas sociais passaram a gerar os próprios 
dados para suas pesquisas (colocando o passado em segundo plano para compreendera sociedade).
Diversas correntes de pensamento nas Ciências Sociais surgiram com o mesmo propósito: 
conhecer de maneira aprofundada a sociedade e buscar explicações para os fenômenos que a rodeavam.
A primeira corrente de pensamento da Sociologia foi o positivismo, fundado por Augusto 
Comte, o primeiro “sociólogo”). O positivismo apresentava um enorme sentimento antimetafisico, 
ou seja, sustentava que todas as formas de produção de conhecimento não passíveis de comprovação 
(empírica) não possuíam sentido/significado. A sociedade passou a ser estudada por intermédio de 
uma forma de “microscópio social”, e diversos métodos foram desenvolvidos no processo de busca 
pela explicação racional para os diversos fenômenos sociais que surgiam na sociedade moderna.
Segundo Sell (2001), a ciência sociológica é centrada em três problemas fundamentais para 
o desenvolvimento das Ciências Sociais como confiável e racional. Eles estão vinculados às teorias 
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
14
sociológica, da modernidade e política. A primeira é associada à dimensão teórico-analítica; a teoria 
da modernidade se liga à dimensão teórico-empírica; e a teoria política está relacionada à dimensão 
teórico-política.
Vamos conhecer os três principais pensadores da Sociologia Clássica. 
Émile Durkheim (1858-1917): importante sociólogo francês e principal expoente da corrente 
sociológica do positivismo (funcionalismo). Teve como contribuição o desenvolvimento das seguintes 
teorias:
•	 Teoria Sociológica: Método Funcionalista; 
•	 Teoria da Modernidade: Divisão Social do Trabalho; 
•	 Teoria Política: Culto do Indivíduo.
Émile Durkheim foi o primeiro grande pensador das Ciências Sociais e na sua teoria aponta que 
os diversos fenômenos sociais devem ser concebidos como “fatos sociais” e ser estudados de acordo 
com a sua natureza. Ele afirmava que os fatos sociais precisavam ser tratados como “coisas” e possuíam 
características próprias: coercitivos, gerais e externos. 
É fato social toda maneira de fazer, estabelecida ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo 
uma coerção externa; ou ainda, que ele é geral na extensão de determinada sociedade, embora 
tenha existência própria, independentemente de manifestações individuais. (DURKHEIM, 
apud CASTRO, 2014 p. 33).
Segundo Durkheim, os fatos sociais são coercitivos porque ocorrem independentemente 
da vontade dos indivíduos; são gerais, pois podem atingir a todos os indivíduos da sociedade; são 
externos, visto que as causas geradoras são externas aos indivíduos (não pertencendo a natureza 
humana – são “coisas sociais”). 
A sociologia, portanto, não é o anexo de nenhuma outra ciência, e sim, em si mesma, uma 
ciência distinta e autônoma, e a percepção do que a realidade social tem em específico é de tal 
forma necessária ao sociólogo que só uma cultura especificamente sociológica pode prepará-
lo para a compreensão dos fatos sociais. (DURKHEIM apud CASTRO, 2014 p. 36).
O método desenvolvido por Durkheim foi o funcionalista (comparativo) e tinha como objetivo 
buscar as explicações por meio da análise dos fatos sociais de maneira comparativa, buscando 
encontrar, de forma sistemática, similaridades presentes em diversos fatos sociais. Durkheim apresenta 
a Sociologia como uma ciência autônoma e independente, sendo a única capaz de explicar os fatos e 
fenômenos ocorridos na sociedade, e assim deve ser reconhecida: Ciência da Sociedade.
A série 13 Reasons Why  (exibida no Netflix) é 
baseada no livro Thirteen Reasons Why (2007), de Jay 
Asher, e adaptado por Brian Yorkey para a Netflix. A 
série cita um conjunto de situações cotidianas 
(sociais) que levaram uma jovem a cometer suicídio, 
demonstrando elementos práticos para a abordagem 
de Émile Durkheim em sua obra O Suicídio. Nela o 
autor afirma que o suicídio é um fato social – gerado por repercussões sociais externas a 
biologia dos seres humanos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
15
Unidade
1
Karl Marx (1818-1883): foi (e continua sendo até hoje) o principal expoente da sociologia crítica à 
sociedade moderna industrial e a todos os impactos causados aos indivíduos pelo surgimento das classes 
sociais (geradas pela sociedade moderna industrial). As principais contribuições teóricas foram: 
•	 Teoria Sociológica – Método Histórico-Dialético; 
•	 Teoria da Modernidade – Modo de Produção Capitalista; 
•	 Teoria Política – Revolução Comunismo.
A sociologia de Karl Marx tem como base a crítica às transformações geradas na sociedade pela 
Revolução Francesa e Revolução Industrial (transformações que deram origem à sociedade moderna 
capitalista – modelo atual da sociedade). Segundo Marx, os impactos sociais das revoluções podem 
ser observados mediante uma análise dialética da sociedade, ou seja, uma análise das promessas 
que sustentaram tais revoluções e as consequências reais delas. As condições objetivas de vida dos 
indivíduos pioraram após as Revoluções, e segundo Marx é justamente este fato que deve ser analisado 
pela sociologia. Marx (apud CASTRO, 2014, p. 12) afirma que:
As premissas de que partimos não são bases arbitrarias, dogmas; são bases reais que só 
podemos abstrair na imaginação. São os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais 
de existência, tanto as que eles já encontraram prontas, como aquelas engendradas de sua 
própria ação. Essas bases são, pois, verificáveis por via puramente empírica.
A Revolução Francesa, em sua essência, trouxe a expectativa de rompimento com o poder político 
dominado por um grupo por tradição (tradição religiosa – poder divino); entretanto, segundo Marx, 
ela possibilitou a ascensão ao poder a um grupo que não tinha poder político, mas tinha perspectiva e 
poder econômico: a burguesia. O desenvolvimento que a Revolução Industrial (tratada aqui de maneira 
una, mas que possuiu diversas fases distintas) possuía como objetivo foi obscurecido pela relação de 
exploração que acompanhou tal revolução. A burguesia, que tinha ascendido ao poder na Revolução 
Francesa, se constituiu como classe social dominante, buscando exclusivamente a concentração de 
capital no processo de desenvolvimento da Revolução Industrial (início da produção manufaturada 
com o surgimento das indústrias).
O surgimento de indústrias acelerou o processo de divisão do trabalho, cabendo à classe 
proletária os trabalhos repetitivos e sem intelectualidade (produção).
Trabalhadores na produção
 
 Fonte: Pixabay. 
Segundo a perspectiva marxista, a burguesia explorava o trabalho dos proletários, gerando, assim, 
o conflito social que sustenta o desenvolvimento da sociedade moderna até os dias atuais: burguesia X 
proletariado. Segundo Marx, a ciência deveria assumir um papel ativo na compreensão das condições 
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
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objetivas de vida dos indivíduos, que foram transformados em mercadorias descartáveis pela sociedade 
moderna (burguesa e industrial). Nesse cenário, Marx (apud CASTRO, 2014, p. 19) afirma que:
A reflexão sobre as formas da vida humana, e assim também a sua análise científica, segue 
em geral um caminho oposto ao do desenvolvimento efetivo. Começa um post festum e com 
resultados prontos do processo de desenvolvimento. As formas que marcam os produtos de 
trabalho como mercadorias e que são pressupostas, daí, na circulação de mercadorias, possuem 
já a firmeza de formas naturais de vida social, antes de os homens tentarem se dar conta do 
caráter histórico dessas formas, que valem para eles como já imutáveis, mas do seu teor. 
Segundo Marx, o Estado (Estado Nacional – base para o desenvolvimento da sociedade moderna) 
assumiu um papel de aparato técnico-burocrático (ideológico) pela manutenção da ordem contra a 
revolução proletária (todos contra o proletariado); a disputa política no âmbito do Estado não ocorria por 
princípios e sim por interesses(o Estado passa a se constituir a partir de um horizonte de modernidade).
O filme Tempos Modernos (1936), de Charlie 
Chaplin, apresenta a perspectiva de um proletário 
no desenvolvimento do mundo moderno e 
industrializado. Relata a trajetória de um trabalhador 
no mundo industrial e as formas como a exploração 
burguesa era realmente constituída. O filme se 
torna uma das bandeiras na crítica às condições de trabalho presentes após a Revolução 
Industrial.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Max Weber (1864-1920): pensador alemão que teve um papel importante na consolidação das 
Ciências Sociais como disciplina científica. As suas principais contribuições teóricas foram: 
•	 Teoria Sociológica – Método Compreensivo; 
•	 Teoria da Modernidade – Método Racionalismo da Dominação do Mundo; 
•	 Teoria Política – Liderança Carismática e Ética da convicção e da responsabilidade.
No início do século XX, Max Weber apresentou novas perspectivas para a sociologia na busca pela 
compreensão dos diversos fenômenos sociais que rodeavam a sociedade em pleno desenvolvimento. 
Ele defendia que a sociologia deveria estabelecer-se de maneira científica a partir das conexões dos 
problemas, como podemos perceber na seguinte afirmação:
O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões “objetivas” entre as “coisas” 
mas as conexões conceituais entre os problemas. Só quando se estuda um novo problema com 
o auxílio de um método e se descobrem verdades que abrem novas e importantes perspectivas 
é que nasce uma nova ciência. (WEBER, apud CASTRO, 2014, p. 55).
Max Weber afirmava também que o indivíduo e a sua subjetividade deviam estar no centro dos 
estudos da sociologia, e os tipos ideais precisavam percorrer o caminho para a compreensão do papel 
dos sujeitos na sociedade (tais como todas as suas formas de influência). Ele ressaltava ainda que era 
necessária a construção sociológica de determinada forma de organização social que servisse como 
modelo para análise de ações sociais e que esse modelo não seria existente na realidade (servindo 
apenas como ferramenta metodológica racional – para a compreensão da realidade): tipos sociais ou 
tipo ideal. Como destacou o pensador alemão:
As construções da teoria abstrata só na aparência são “deduções” a partir de motivos psicológicos 
fundamentais. Na realidade, trata-se antes do caso especial de uma forma da construção de conceitos, 
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
17
Unidade
1
própria das ciências da cultura humana e, em certo grau, indispensável... Pelo seu conteúdo, essa construção 
reveste-se do caráter de utopia, obtida mediante a acentuação mental de determinados elementos da 
realidade. A sua relação com os fatos empiricamente dados consiste apenas em que, onde quer que se 
comprove, ou suspeite de que determinadas relações – tipo das representadas de modo abstrato naquela 
construção, a saber, as dos acontecimentos dependentes do “mercado” – chegam a atuar em algum grau 
da realidade, podemos representar e tornar compreensivo pragmaticamente a natureza particular dessas 
relações mediante um tipo ideal. Esta possibilidade pode ser valiosa, e mesmo indispensável, tanto para 
a investigação como para a exposição.” (WEBER, apud CASTRO, 2014, p. 56).
O filme “A Onda” (2008) retrata o pensamento de 
Weber de que a sociedade e a história devem ser 
entendidas pela ação intencional de um indivíduo 
sobre o outro. A relação social na sociedade se dá entre 
indivíduos. As coisas (situações) são tão-somente os 
meios pelos quais os indivíduos se inter-relacionam. O 
filme foi inspirado no livro homônimo de 1981 do pensador americano Todd Strasser e 
também no experimento social da  Terceira Onda, realizado pelo professor de história 
norte-americano Ron Jones. 
Fonte: Elaborado pelo autor.
Para Weber, o tipo ideal decorre da concepção acerca da infinita complexidade do real, diante do 
alcance limitado dos conceitos elaborados pela mente humana; nenhum dos tipos ideais construídos 
deve ser considerado mais que um instrumento limitado e provisório de investigação. Weber afirmava 
que a sociologia deveria construir elementos metodológicos para compreender os fenômenos que 
rodeavam os indivíduos na sociedade moderna. Um exemplo metodológico abordado por ele por 
meio da construção de um tipo ideal foi a burocracia. Para o pensador, no mundo moderno trata-
se do exemplo mais típico do domínio legal, nos limites da legitimidade. A definição desse tipo 
ideal de burocracia é relacionada a uma série de dimensões, cada qual na forma de um contínuo; 
quando se mede cada contínuo, nenhuma variação concomitante é encontrada entre as dimensões. A 
utilização desse modelo inibe que a avaliação das organizações seja feita a partir de não burocráticas 
e burocráticas.
Além dos pensadores clássicos da Sociologia (Émile 
Durkheim, Karl Marx e Max Weber), podemos 
também destacar importância das contribuições do 
sociólogo austríaco Alfred Schutz (1899-1959) para o 
desenvolvimento da Ciências Sociais. Segundo ele, as 
Ciências Sociais deveriam desenvolver dispositivos 
metodológicos diferentes dos utilizados nas ciências 
naturais: “Uma teoria que visa explicar a realidade social tem de desenvolver dispositivos 
particulares, estranhos às ciências naturais, a fim de acompanhar a experiência do senso 
comum do mundo social. Isso foi, de fato, o que fizeram todas as ciências teóricas das 
coisas humanas – economia, sociologia, direito linguística, antropologia cultural etc.” 
(SCHUTZ, apud CASTRO, 2014, p. 52).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
18
4. OS DESAFIOS PARA A COMPREENSÃO DO 
MUNDO CONTEMPORâNEO
Como já apresentamos, o mundo contemporâneo passa por diversas transformações contínuas, 
sem alterar a estrutura da sociedade moderna industrial. A compreensão da conjuntura na qual tais 
mudanças ocorrem se tornou um desafio de grande importância para a área das Ciências Sociais. As 
transformações sociais estão vinculadas a diversos fatores: geográficos, socioeconômicos, tecnológicos, 
políticos e, principalmente, humanos (que englobam todos os anteriores). Neste tópico abordaremos 
de maneira sistemática os fatores humanos.
Um questionamento importante a se fazer para a compreensão das transformações ocorridas na 
sociedade moderna industrial é sobre o apreço dos indivíduos ao novo. Simmel (2004, p. 45) afirma 
que “a razão do apreço pelo novo e pelo excepcional reside na ‘sensibilidade para a diferença’ que há na 
constituição pelo espírito”. Ainda segundo Simmel (2004), o ser humano tem seu significado prático 
determinado por meio das suas semelhanças e diferenças.
As transformações sociais são geradas por uma necessidade dos indivíduos, de maneira coletiva, 
na busca pelo novo, por novas experiências e por novas vivências. No decorrer da Idade Média essa 
busca era oprimida pela realidade religiosa e pela perseguição a todos que questionavam a realidade 
existente, regrada por dogmas, padronizações e convicções rígidas – antagônicas à liquidez e à 
flexibilidade características da sociedade moderna).
Nesse cenário, podemos especular que as mudanças ocorridas no cotidiano da sociedade 
moderna são alimentadas por uma necessidade natural dos seres humanos, que anseiam por 
novidades e por transformações. Podemos perceber esse fato em nosso cotidiano, ao compreender o 
porquê a realidade de cinco anos atrás não dá conta das demandas de hoje. Atualmente, os indivíduos 
são dependentes das tecnologias que criaram para satisfazer suas necessidades. A imagem, a seguir, 
apresenta um recurso tecnológico que transformou a sociedade contemporânea e, ao mesmo tempo, 
tornou o seu detentor dependente.
Dependência da tecnologia 
 Fonte: Pixabay.
O mundo líquido, descrito por Bauman, possibilita que o ser humano se reconheça e se realize nas 
necessidades (ou pseudonecessidades) mais profundas, mas também o aprisiona nelasao transformá-
lo em simples mercadorias (BAUMAN, apud CASTRO, 2014).
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
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Unidade
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O maior desafio das Ciências Sociais na compreensão do mundo contemporâneo é, justamente, 
explicar as implicações geradas pela busca desenfreada dos seres humanos pela satisfação das suas 
necessidades, que os tornou simples indivíduos que agem por interesse próprio. Podemos perceber 
que a sociedade moderna não teve as estruturas alteradas na contemporaneidade, mas os seres 
humanos se tornaram individualistas na busca por atingir os anseios particulares. Assim, ela apenas 
se adaptou para transformá-los no que mais buscavam para saciar as suas necessidades: mercadorias. 
Para compreender esse fenômeno, podemos buscar, novamente, refúgio nos pensadores clássicos 
das Ciências Sociais: Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Os desafios são novos, mas as bases 
teóricas dos clássicos se mantêm atualizadas para desvendar os novos questionamentos que surgem 
todos os dias.
Começaremos por Émile Durkheim. A busca pelo novo é geral e coletiva – todos os “indivíduos” 
estão inseridos nela –, e, segundo Durkheim, “é um estado de grupo, que se repete nos indivíduos 
por impor-se a eles” (DURKHEIM, apud CASTRO, 2014, p. 31). Os indivíduos são condicionados 
pelo pensamento coletivo, e a sociedade moderna, ao se tornar “flexível e líquida”, os condiciona a 
seguirem os padrões coletivos. Por mais que faça parte da natureza humana, a busca pelo novo na 
sociedade moderna enseja, segundo Durkheim, um pensamento coletivo, ou seja, não é meramente 
uma necessidade individual, e sim uma imposição coletiva. 
Já Karl Max e Friedrich Engels, ao questionarem a submissão dos homens às mercadorias, 
afirmaram: “Até agora, os homens sempre tiveram ideias falsas a respeito de si mesmos, daquilo que 
são ou deveriam ser.... Criadores inclinaram-se diante de suas próprias criações.” (MARX; ENGELS, 
apud CASTRO, 2014. p. 11). As mercadorias são criaturas dos seres humanos, mas na sociedade 
moderna estes se transformaram em criaturas das suas criações. Podemos perceber que, ao assumir 
o papel de mercadorias, passam a fazer parte de uma falsa realidade na qual se inclinaram diante das 
próprias criações, como se as mercadorias fizessem parte dos seres humanos ou fossem eles próprios.
A tecnologia trouxe diversos exemplos práticos dessas situações: um smartphone (e todas as 
suas aplicações e aplicativos) hoje é mais importante que um órgão fisiológico para grande parte dos 
seres humanos; eles podem deixar de realizar as necessidades fisiológicas (ou atrasá-las para horários 
mais convenientes) mas “quase nunca” esquece o dispositivo em casa ou no trabalho – quando isso 
ocorre se sentem incompletos, como se um pedaço de si próprios estivesse faltando). Nesse cenário, é 
completamente factível a afirmação de Marx e Engels de que os seres humanos se tornaram criaturas 
das próprias criações; nos tornamos criaturas da tecnologia e reduzidos a perfis de aplicativos e sites 
de relacionamento.
Em outubro de 2017, perto de 241 milhões de linhas 
de telefone móvel estavam ativas no Brasil, informou 
a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). 
De acordo com a Agência, as linhas 4G cresceram 
4,27% (3,9 milhões de novas unidades entre setembro 
e outubro. Se levarmos em conta os últimos 12 meses, 
esse aumento foi de 81,23%, o que equivale a 42,7 milhões de unidades.
Fonte: GOVERNO DO BRASIL, 2017.
A dominação à qual os homens se submeteram pode ser compreendida pela análise da sociologia 
compreensiva de Max Weber. Ele afirma que: 
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
20
A dominação, ou seja, a probabilidade de encontrar obediência a um determinado comando, 
pode fundar-se em diversos motivos de submissão. Pode depender diretamente de uma 
situação de interesse, ou seja, de considerações utilitárias de vantagens e inconvenientes por 
parte daquele que obedece. Pode também depender de mero “costume”, do hábito obtuso 
de um comportamento inveterado. Ou pode fundar-se, finalmente, no puro afeto, na mera 
inclinação pessoal do dominado. (WEBER, apud CASTRO, 2014, p. 58).
Podemos perceber que, segundo Weber, a dominação que sofremos do mundo das mercadorias 
na sociedade moderna é fruto dos nossos costumes e das nossas situações de interesse. O interesse 
não faz parte da natureza humana, mas das necessidades coletivas criadas e da adaptação (pelas 
vantagens e conveniências criadas por elas); sendo assim, não é possível afirmar que ela é consciente e 
dotada de crítica. Ou seja, simplesmente os homens se condicionaram aos seus interesses, vantagens 
e conveniências para se submeter à obediência a um comando que não percebem nem sequer a 
existência dele. 
Segundo Demo (1985), o poder embutido nesse processo não deveria ser eliminado, mas sim 
democratizado, buscando, na sua essência, a geração de benefícios para a maioria. Entretanto, na 
sociedade moderna industrial, os benefícios são restritos a uma minoria em detrimento da maioria e 
assim os interesses e vantagens atingem apenas uma pequena parcela dos indivíduos pertencentes à 
classe econômica dominante: burguesia. 
Esses são os desafios existentes para a compreensão do mundo contemporâneo: perceber o que 
está além dos olhos, lutar contra as formas de dominação e se imaginar além das suas criações. As 
Ciências Sociais (e seus clássicos pensadores) ainda possuem um papel de destaque na busca por 
respostas aos questionamentos gerados pela sociedade moderna e pelo mundo contemporâneo. 
CONCLUSÃO
O principal objetivo desta unidade foi apresentar elementos palpáveis para uma compreensão 
inicial da área de atuação das Ciências Sociais. O conteúdo proposto buscou abordar o panorama de 
surgimento das Ciências Sociais e também a sua constituição como disciplina científica (metódica, 
sistemática e rigorosa). Desde a sua origem, com a “criação” da sociologia por Augusto Comte no 
século XVIII, o pensamento sociológico foi profundamente influenciado por diversos pensadores, 
tendo como destaque Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber, que deram às Ciências Sociais um 
caráter científico e transformaram-nas em uma ciência completa (mas não exata). As contribuições 
de sociólogo polonês Zygmunt Bauman também foram destacadas – principalmente a percepção dele 
acerca da liquidez do mundo contemporâneo –, além dos componentes teóricos apresentados por 
Alfred Schutz para o desenvolvimento da Ciências Sociais.
Vimos que as transformações cotidianas vivenciadas pela sociedade moderna industrial 
(fase atual da sociedade) apresentam diversas novas perspectivas para a área das Ciências Sociais, 
principalmente para o campo de atuação dos cientistas sociais contemporâneos.
Por fim, entendemos que as Ciências Sociais possuem um papel de relativa importância no 
processo de compreensão do mundo, das relações humanas e das perspectivas sociais (do presente 
e do futuro), devendo apresentar a crítica aos conhecimentos desenvolvidos e também se manter 
neutras e distantes das influências que podem contaminar as respectivas análises sociais.
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
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Unidade
1
ELEMENTOS COMPLEMENTARES
#LIVRO#
Título: Raízes do Brasil 
Autor: Sérgio Buarque de Holanda
Editora: Companhia das Letras 
Sinopse: Estudo histórico e sociológico do processo de desenvolvimento 
da sociedade brasileira. O autor apresenta um conjunto de características 
do povo brasileiro que, na sua interpretação, influenciaram e continuam 
influenciando a sociedade brasileira. 
 #FILME#
 
Título: Tempos Modernos
Ano: 1936
Sinopse: Filme relata a rotina de um empregado de uma linha de 
montagem no início do século XX e os impactos causados a sua 
vida profissional e pessoal por conta do ritmo acelerado.
#FILME#
Título: A Onda
Ano: 2008 
Sinopse: O filme foi inspirado no livro homônimo 
de 1981 do pensador americano Todd Strasser e também 
no experimento social da  Terceira Onda, realizadopelo 
professor de história norte-americano Ron Jones. Retrata o 
pensamento de Weber de que a sociedade e a história devem 
ser entendidas pela ação intencional de um indivíduo 
sobre o outro. A relação social na sociedade se dá entre 
indivíduos. As coisas (situações) são tão somente os meios 
pelos quais os indivíduos se inter-relacionam. 
Unidade
1
O pensamento científico e o campo das ciências sociais
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Título: 13 Reasons Why
Ano: 2017
Sinopse: A série 13 Reasons Why é baseada no 
livro  Thirteen Reasons Why  (2007), de Jay Asher, e 
adaptada por Brian Yorkey para a Netflix. Apresenta 
um conjunto de situações cotidianas (sociais) que 
levaram uma jovem a cometer suicídio, demonstrando 
elementos práticos para a abordagem de Émile 
Durkheim na sua obra “O Suicídio” (quando o autor afirma que o suicídio é um fato social 
– gerado por repercussões sociais externas a biologia dos seres humanos).
REFERÊNCIAS
CASTRO, C. (Org.) Textos básicos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
DEMO, P. Sociologia. São Paulo: Atlas, 1985.
GARCIA, S. Sobre os obstáculos sociais ao desenvolvimento histórico da razão. Sci. stud.,  São 
Paulo, v. 12,  n. 4, out./dez. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1678-31662014000400751&lang=pt>. Acesso em: 14 jan. 2018.
GOVERNO DO BRASIL. Brasil tem mais de 240 milhões de linhas de celular ativas, 6 dez. 2017. 
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2017/12/brasil-tem-mais-de-240-milhoes-
de-linhas-de-celular-ativas>. Acesso em: 14 jan. 2018.
SELL, C. E. Sociologia Clássica: Marx, Durkheim e Weber. São Paulo: Editora Vozes, 2001.
SIMMEL, G. Questões fundamentais da Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. 
SOUTO, C. O que é pensar sociologicamente. São Paulo: EPU, 1987.
TANGUY, L. A sociologia: ciência e ofício. Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 118, jan./mar. 2012.
Unidade
2
Objetivos de aprendizagem 
da unidade
•	 Analisar	as	distinções	dadas	ao	indivíduo	e	ao	ser	social	a	partir	
do	estudo	do	processo	de	socialização	
•	 Discorrer	sobre	a	categoria	de	memória	relacionando-o	com	o	
conceito	de	identidade	social
•	 Conceituar	cultura	e	ideologia	e	identificar	os	componentes	da	
cultura	que	influenciam	a	posição	política
•	 Compreender	a	consolidação	da	divisão	social	do	trabalho	e	a	
solidariedade	social	dentro	de	sociedades	complexas
•	 Apresentar	 os	 conceitos	 de	 poder,	 dominação,	 coerção,	
legitimidade,	legalidade	e	norma	a	partir	do	contexto	sociológico	
e	político
Professor	Mestre	Luiz	Alberto	Neves	Filho
A	CoNstrução	DA	iDeNtiDADe	soCiAL:	
reLAção	eNtre	iNDivíDuo	e	soCieDADe	
Unidade
2
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
24
iNtroDução	
Esta unidade pretende apresentar, de maneira clara, como ocorre o processo de construção da 
identidade social dos indivíduos na sociedade moderna industrial. A compreensão dessa construção 
tem um caminho a ser percorrido que, necessariamente, depende da compreensão de alguns elementos 
constitutivos. São eles: a presença do social no indivíduo; a construção e preservação da memória e da 
identidade social; o desenvolvimento cultural da sociedade (e as suas implicações); o papel exercido 
pela ideologia na produção cultural e na sociedade; a importância do trabalho (e da sua divisão social) 
na formação do indivíduo e da sociedade; a força do Estado e da sociedade que se organizam e se 
legitimam por meio de normas e leis para exercer o seu poder sobre os indivíduos.
Podemos perceber, inicialmente, que a construção da identidade social depende de fatores 
externos aos indivíduos, muitas vezes contrários a própria natureza humana.
Bons estudos!
1.	o	soCiAL	No	iNDivíDuo:	As	MArCAs	
soCiAis	que	exibiMos	NAs	ForMAs	De	
Agir	e	PeNsAr
A natureza dos seres humanos sempre foi a aproximação com o outro (formação de coletividade), 
mesmo o homem não nascendo social ele adquire essa característica na relação com o outro. A história 
da humanidade demonstra que os seres humanos sempre possuíram a tendência de viverem em grupo 
e de se socializarem. Segundo Vila Nova (2000, p. 51), socialização significa “transmissão e assimilação 
de padrões de comportamento, normas, valores e crenças, bem como desenvolvimento de atitudes e 
sentimentos coletivos”.
Nesse cenário, é natural conseguir perceber a influência da socialização nas nossas ações, 
comportamentos, hábitos e atitudes cotidianas. Nós não nascemos indivíduos sociais, mas 
incorporamos características comportamentais típicas de humanos no processo de socialização e, 
consequentemente, nos tornamos indivíduos sociais. 
Nesse mesmo caminho, Aron (1982, p. 301) afirma que, Durkheim já apontava que os indivíduos 
nascem da sociedade e não o contrário: “[...] Durkheim deduz uma ideia que manteve por toda a sua 
vida, e que ocupa o centro de toda sua sociologia: a que pretende que o indivíduo nasce da sociedade, 
e não que a sociedade nasce dos indivíduos”.
A aceitação de que o indivíduo é fruto da sociedade nos permitirá ter uma compreensão prática 
sobre a presença do social nele. Como herdamos nossos valores, nossas crenças, nossa linguagem, nossos 
hábitos e nossa cultura? Compreender as repercussões desse questionamento será de fundamental 
importância para o entendimento sobre a formação dos indivíduos por meio do social. Buscaremos 
nas teorias de Émile Durkheim elementos importantes para esse esforço. O pensador afirma que o 
domínio da sociedade sobre os indivíduos tem dois sentidos: prioridade histórica e prioridade lógica 
(DURKHEIM apud ARON, 1982).
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
25
Unidade
2
Segundo Durkheim (apud ARON, 1982), as sociedades em que os indivíduos se assemelham 
– aquelas com solidariedade mecânica – surgiram primeiro (prioridade histórica); ou seja, se as 
sociedades coletivistas apareceram primeiro, não faz sentido tentar explicar a sociedade a partir dos 
indivíduos (prioridade lógica). As sociedades coletivistas possuem prioridade histórica por terem 
surgido primeiro; assim, de maneira lógica, a explicação dos fenômenos da diferenciação social deve 
ocorrer a partir dos indivíduos (prioridade lógica). Resumindo: não podemos explicar o indivíduo de 
maneira descontextualizada, pois foi precedido por uma sociedade coletivista; ele deve ser entendido 
a partir das características apresentadas pela coletividade, pois ela surgiu primeiro. 
O filme “O garoto selvagem” (1969) relata a história de 
um garoto que foi encontrado por caçadores em uma 
área de selva, e no momento em que isso ocorreu, 
ele não andava como um bípede, se alimentava de 
grãos e raízes, não falava nem escrevia, não tinha 
contato com a sociedade e com as suas respectivas 
linguagens, costumes, práticas etc. Um professor de 
medicina se interessou pela história do garoto e passou a estudá-lo e também a ajudá-lo a 
se inserir na sociedade.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Neste momento, uma dúvida importante pode ter surgido: a sociedade moderna industrial 
é coletivista? A resposta é simples, mas paradoxal: não, a sociedade moderna industrial é baseada 
na diferenciação, portanto não é coletivista (na qual cada indivíduo se assemelha a todos), mas 
derivou diretamente de sociedades coletivistas. Assim, a prioridade lógica apresentada por Durkheim 
determina que todos os fenômenos sociais que envolvam os indivíduos tenham como referência as 
sociedades coletivistas, pois estas possuem prioridade histórica (surgiram antes) sobre as sociedades 
baseadas na diferenciação. 
É necessário destacar que, segundo Durkheim, algumas instituições presentes na sociedade, como 
família, religião, escola etc., exercem um papel fundamental na construção social dos indivíduos, pois 
disseminam valores, crenças, costumes, linguagens existentes antes do nascimento deles. O homem, 
ao nascer, é desprovido de todos os valores e costumes sociais que o circulam, mas com o crescimento 
passa a incorporar aqueles que lhe são interessantes;assim, inicia-se a construção do indivíduo como 
ser social (DURKHEIM apud ARON, 1982).
No artigo “A particularidade do processo de socialização 
contemporâneo”, publicado em novembro de 2005 
na revista Tempo Social, a pesquisadora Maria da 
Graça Jacintho Setton aborda de maneira objetiva o 
processo de socialização no mundo contemporâneo e 
também suas implicações concretas no cotidiano dos 
indivíduos. O material está disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-20702005000200015&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Unidade
2
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
26
Nossas formas de agir e pensar são influenciadas pelo contexto social no qual estamos inseridos; 
assim, podemos afirmar que somos fruto da socialização e que o social está em nós. Entretanto, como 
vivemos em uma sociedade baseada na diferenciação, a socialização apresenta “diversos caminhos”, 
todos determinados pelo contexto social. O indivíduo até pode acreditar que está percorrendo um 
caminho próprio, diferente da sua realidade social concreta, com escolhas próprias, com pensamentos 
e formas de agir autônomas. Entretanto, não podemos esquecer que o ser social está inserido nas 
raízes dos indivíduos, e justamente por esse fato esses “novos caminhos” percorridos estão inseridos 
na dinâmica social da nossa sociedade (sustentada na diferenciação). 
Nas imagens a seguir, poderemos perceber a força da socialização no nosso cotidiano e também 
nas nossas ações. A primeira apresenta um indivíduo, sem rosto e sem marcas pessoais, inserido no 
meio de uma coletividade que o levou à socialização. Ele busca se tornar iluminado (diferenciado) em 
relação aos outros, mas, ainda assim, apresenta as marcas da coletividade e da socialização (seguindo 
padrões determinados – está em uma fila organizada). 
Já a segunda imagem demonstra que os seres humanos nascem com características impares, 
são seres únicos, mas a socialização os transforma em indivíduos no meio de uma coletividade e 
impactados pelo processo de socialização. Nascemos com características próprias e incorporamos 
características comuns a todos mediante o processo de socialização.
Indivíduo inserido no coletivo
 Fonte: Pixabay.
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
27
Unidade
2
Os indivíduos nascem com características únicas 
 Fonte: Pixabay.
Para facilitar a compreensão, utilizaremos o exemplo de um jovem filho de um carpinteiro que 
deseja cursar Medicina. Nesse caso, existe um claro distanciamento entre a realidade social, cultural e 
econômica apresentada pelos seus pais e as ambições, expectativas sociais e profissionais. Ainda assim, 
a busca por uma profissão que possui o respeito social e que gera melhor perspectiva econômica se 
enquadra na realidade social já existente e desejada por muitos. Isso porque, mesmo que esse jovem 
venha a atingir o seu objetivo (cursar Medicina e se tornar um respeitável profissional), ele não 
estará rompendo com a estrutura social da sociedade, mas estará se aproximando de outro grupo na 
sociedade baseada na diferenciação (diferenciando-se da realidade vivida pelos pais).
2.	MeMóriA	e	iDeNtiDADe	soCiAL
A memória e a identidade social constituem pilares importantes para o reconhecimento do 
indivíduo na sociedade e também para a preservação da história dele, dos costumes, dos valores e da 
própria sociedade de maneira geral. 
Como veremos no Tópico 3 (Cultura e Ideologia), a cultura exerce um papel de grande relevância 
na vida dos indivíduos e nos seus respectivos processos de socialização. Ela é um produto coletivo dos 
seres humanos, mas é construída de maneira histórica. Santos (2006, p. 45) afirma que “cultura é uma 
construção histórica, seja na concepção, seja como dimensão do processo social”. A construção histórica 
dela e também dos diversos processos sociais presentes na sociedade cria elementos constitutivos do 
indivíduo, da sociedade e da identidade social. Como podemos preservar a história desses elementos 
constitutivos dos indivíduos? A preservação da memória é a resposta para esse questionamento.
A memória é a forma de se conservarem e recordarem fatos, situações e produções humanas 
vinculadas à criação do estado de consciência dos indivíduos. Ou seja, significa registrar e relembrar 
todos elementos que fazem parte da história da sociedade e, consequentemente, dos grupos sociais 
e indivíduos que dela fazem parte. Não existe cultura sem memória, pois a cultura é construída 
historicamente, e a história deve ser preservada e registrada. Todas as ações e obras da humanidade 
devem ser preservadas, pois influenciam de maneira direta a construção da identidade e dos próprios 
Unidade
2
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
28
indivíduos. A memória é constitutiva das identidades cultural e social, ou seja, sem a preservação dela 
não existe nenhuma forma de identidade (cultural, social e política). Assim, não existe identidade sem 
preservação da história e, consequentemente, sem registro e preservação da memória. 
Preservação da memória
 
 Fonte: Pixabay. 
Existem diversas formas de preservar a memória, como registros oficiais verdadeiros, manutenção 
e preservação dos objetos da construção humana, registros fotográficos, crônicas verídicas etc. 
Segundo Berger e Luckmann (2003), a identidade tem a sua raiz de formação nos processos 
sociais, e após ser cristalizada pode ser mantida, modificada ou remodelada pelas relações sociais 
cotidianas presentes nos processos sociais. Já os processos sociais (geradores da identidade) são 
determinados pela estrutura social da sociedade. 
O filme “Eu, mamãe e os meninos” (2013), dirigido 
por Guillaume Gallienne, é uma comédia que conta 
a história de um personagem que busca a construção 
da sua identidade, mesmo diante de imposições e 
contrariedades da sociedade e da própria família.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Segundo Aron (1982), o indivíduo nasce da sociedade, fato que já denuncia o processo de formação 
de identidades na sociedade. Ou seja, se ele é construção direta das relações sociais, logo a construção da 
sua identidade depende das relações sociais presentes no cotidiano e vivenciadas por ele.
Um indivíduo desenvolve sua identidade social por meio dos processos sociais de que participa, 
os quais, por sua vez, aproximam tal indivíduo de valores (políticos, religiosos, sociais, morais etc.), 
crenças, pensamentos, atitudes e de espelhamentos que admira e/ou compartilha. A identidade social 
é formada mediante o tempo e possui um caráter flexível, pois pode ser modificada e/ou remodelada 
pela incorporação de novas características (valores, crenças, pensamentos, atitudes etc.) por parte do 
indivíduo em novas relações sociais cotidianas. 
É importante destacar que, muitas vezes, os processos históricos que dão origem à construção 
cultural (e a identidade também) são frutos de ações não planejadas de indivíduos. Ou seja, o 
desenvolvimento cultural e histórico também é fruto de ações particulares, cujas repercussões se 
tornam coletivas e sociais. 
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
29
Unidade
2
Nesse cenário, Elias (1993, p. 17) afirma que:
[...] a questão de como todos esses processos, que consistem em nada mais do que ações 
de pessoas isoladas, apesar disso dão origem a instituições e formações que nem foram 
pretendidas nem planejadas por qualquer indivíduo singular na forma que concretamente 
assumem. 
Ou seja, mesmo em um ambiente de construção social padronizada, as ações individuais ainda 
são importantes para o processo de desenvolvimento de instituições e outras formações que impactam 
a formação culturale de identidade social. Ainda que não consciente, a natureza humana ainda 
sobrevive, mesmo em um ambiente de geração coletiva de valores, crenças, costumes e padrões de 
comportamento. 
O artigo “Documento, história e memória: a importância 
da preservação do patrimônio documental para o 
acesso à informação”, desenvolvido pelas pesquisadoras 
Franciele Merlo e Glaucia Vieira Ramos Konrad, aborda 
a importância do patrimônio documental no processo de 
preservação da história e da memória. Confira o texto em: 
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/viewFile/18705/pdf_43>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
3.	CuLturA	e	iDeoLogiA
Neste tópico, serão abordados os conceitos de cultura e ideologia, e também todas as suas 
repercussões na formação dos indivíduos, da coletividade e das identidades (nacional, social e política). 
3.1	Conceito	de	cultura
Segundo Vila Nova (2000), cultura, no sentido sociológico, é tudo o que resulta da criação 
humana, sendo assim, compreende ideias e artefatos. Nesse cenário, podemos perceber que o conceito 
de cultura para as Ciências Sociais possui diferenças básicas em relação à definição proposta pelo 
senso comum. No cotidiano, o termo se refere a erudição, conhecimentos, construções humanas 
(arte e ciência) etc. O sentido sociológico não exclui as definições de cultura para o senso comum, 
entretanto não se limita a elas. Nota-se que erudição, conhecimentos diversos, arte, ciência e filosofia 
fazem parte da cultura, mas não se limita a elas (na perspectiva sociológica). Edward B. Tyler (apud 
VILA NOVA, 2000, p. 53) afirma que cultura pode ser entendida como: “Um todo complexo que 
abarca conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes, e outras capacidades adquiridas pelos 
pelo homem como integrante da sociedade”. 
Portanto, resumidamente, cultura é todo o resultado atingido em processos que se sustentam 
na criação humana (VILA NOVA, 2000). Podemos dividi-la em material e não material. A cultura 
material é representada por objetos e artefatos em geral, e a imaterial é se expressa pelo domínio das 
ideias (linguagem, crenças, ética, valores morais, normas, técnicas etc.). Na perspectiva das Ciências 
Sociais, não existe hierarquia entre as culturas, ou seja, não há cultura superior e cultura inferior; 
existem, simplesmente, culturas diferentes (VILA NOVA, 2000).
Unidade
2
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
30
A cultura material representada por objetos e artefatos
 Fonte: Visualhunt.
Berger e Luckmann (2003) afirmam que a linguagem é o mais importante sistema de sinais 
das sociedades humanas, sendo a vida cotidiana fruto direto da linguagem (inserida no escopo da 
cultura). Podemos, assim, entender que compreender a linguagem é fundamental para a compreensão 
da vida cotidiana; ou seja, a vida circula por meio da linguagem (expressão direta da cultura). 
A cultura está presente em todos os nossos atos e em todas as nossas produções, e a própria 
expressão da linguagem é uma expressão direta da cultura. Berger e Luckmann (2003, p. 57) 
descrevem que:
A linguagem tem origem e encontra sua referência primária na vida cotidiana, referindo-se 
sobretudo à realidade que experimento na consciência e estado de vigília, que é dominada 
por motivos pragmáticos (isto é, o aglomerado de significados diretamente referentes as ações 
presentes ou futuras) e que partilho com os outros de maneira suposta evidente.
A cultura, em geral, faz referência a um passado comum a um povo, que seria base e também o 
portador da cultura (OLIVEN apud MICELI, 2002). A cultura está ligada a um povo, e a identidade 
nacional, a uma nação. Não podemos confundir cultura com identidade: a cultura é expressa por 
meio de toda a produção humana, consequentemente um povo expressa a sua cultura pelas produções 
sociais e das produções humanas individuais (produção de um ou mais integrantes, mas compartilhada 
por todos). 
Segundo Santos (2006), nas sociedades contemporâneas a cultura apresenta uma grande 
diversidade; o nosso país, por exemplo, possui uma grande diversidade cultural, ou seja, grandes 
variações dentro de uma mesma cultura. A afirmação Santos é convergente com a perspectiva 
sociológica de Émile Durkheim, segundo o qual a sociedade complexa (como a nossa sociedade 
contemporânea) se sustenta na diferenciação dos indivíduos mesmo apresentando um processo de 
socialização coercitivo. Em nossa sociedade, a diferenciação se apresenta na forma de diversidade. 
Santos (2006, p. 51-52) afirma: “A diferenciação é, no entanto, mais complexa, pois não se pode dizer 
que as maneiras de viver sejam homogêneas nem dentro da classe trabalhadora nem dentro da classe 
proprietária”. 
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
31
Unidade
2
A cultura não é homogênea, mesmo em sociedades pautadas por um grande processo de 
socialização dos indivíduos (sociedade contemporânea), e deve ser observada e analisada a partir 
da sua diversidade. Ou seja, a aceitação da diversidade cultural é de fundamental importância para o 
respeito de culturas diversas das nossas, tendo em vista que não existe superioridade ou inferioridade 
de culturas, apenas processos históricos que estabelecem marcas diferentes em determinados grupos 
(SANTOS, 2006).
3.1.1	Cultura,	Nação	e	identidade	Nacional
Em sua definição moderna, Nação está ligado um território no qual os indivíduos compartilham 
características culturais, linguísticas e sociais comuns e desenvolvem um espirito de pertencimento. Já 
Identidade Nacional está vinculado ao grupo de indivíduos que compartilham esses valores culturais, 
linguísticos e sociais presentes em uma nação, sendo que esses indivíduos possuem um sentimento 
de ser parte de uma sociedade e/ou país. Resumindo, a nação não é, simplesmente, um território que 
tem todos os poderes concentrados em um Estado, mais, sim, um território no qual os indivíduos são 
vinculados por valores culturais, linguísticos e sociais, desenvolvendo, assim, a identidade nacional. 
Atualmente, temos diversos exemplos de nações que não constituídas em Estados burocráticos, mas 
por valores (e espírito nacionalista) que integram os seus componentes. (por exemplo, Catalunha, 
território localizado na Espanha, e País Basco, situado entre a Espanha e a França). 
A Identidade é fruto direto do autorreconhecimento de um indivíduo como integrante de um 
grupo no qual ele possui valores comuns (culturais, religiosos, políticos, sociais etc.). Entretanto, 
segundo Santos (2006), é importante ressaltar que para compreender as características culturais de 
um país devemos considerar a existência da diversidade cultural. Ou seja, mesmo em países que 
apresentam elevados níveis de rigidez cultural, ela existe e deve ser analisada e respeitada.
3.2	ideologia
O conceito de ideologia pode ser compreendido de diversas formas, entretanto partiremos da 
definição crítica utilizada nas Ciências Sociais. Segundo Marx e Engels (apud ARON, 1982), a ideologia 
está vinculada a um conjunto de ideias cujo objetivo é deixar de maneira obscura (escondida) a própria 
origem por interesses sociais de determinado grupo social. Portanto, a ideologia tem como característica 
influenciar os indivíduos (de todas as formas) na defesa dos interesses de dado grupo social. A 
adulteração da realidade objetiva (realidade que vivemos) é prática comum em nossa sociedade, situação 
que podemos perceber facilmente ao acompanhar um simples noticiário na televisão. 
As notícias são transmitidas, em grande parte, de acordo com os interesses do grupo de 
transmissão na qual ela está sendo reproduzida, ou seja, um mesmo fato pode ser descrito de diversas 
formas diferentes, conforme os interesses particulares de quem o está apresentando.
Portanto, podemos compreender a ideologia como um conjunto de ideias não verdadeiras que 
adulteram a realidade dos fatos, com o objetivo de alinhá-los aos interesses de determinadogrupo 
social, visando a gerar eventuais ganhos (econômicos, políticos, sociais etc.). Essa “verdade criada” 
tem sustentação nos modelos de Estado e de sociedade contemporâneos: Estado de direito e sociedade 
moderna industrial. Michel Foucault (2008, p. 179) afirma que: “[...] as regras do direito que delimitam 
formalmente o poder e, por outro, os efeitos da verdade que este poder produz, transmite e que por 
sua vez reproduzem-no. Um triângulo, portanto: poder, direito e verdade”.
Unidade
2
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
32
A ideologia está diretamente ligada ao conjunto de ideias que os grupos que estão no poder 
apresentam como verdades objetivas concretas. Segundo Foucault (2008), a verdade criada e, 
consequentemente, transmitida tem como finalidade a adulteração da realidade objetiva, mesmo que 
de maneira coercitiva exercida por meio do poder). Assim, a verdade criada assume um papel de 
verdade objetiva, encobrindo as mazelas deixadas pelo Estado de direito e pela sociedade moderna 
industrial. A ideologia é uma ferramenta de opressão dos grupos dominantes sobre os grupos 
dominados na sociedade.
O filme “Cidadão Kane” (1941), escrito, dirigido 
produzido e estrelado por  Orson Welles, conta 
a história de um magnata da indústria da 
comunicação, que criou um império por meio do 
mercado da informação, e esta foi transformada em 
um produto mercadológico – servindo assim aos 
interesses de grupos específicos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.	A	Divisão	soCiAL	Do	trAbALho
O primeiro grande trabalho de Émile Durkheim foi a obra Da Divisão do Trabalho Social (1893), 
título também da sua tese de doutoramento. É justamente nesse livro que o pensador assume de maneira 
clara as influências de Augusto Comte, e da sociologia positivista, estabelecendo de maneira clara um 
dos principais objetos dos seus estudos: as relações existentes entre os indivíduos e a coletividade 
(ARON, 1982). 
Na busca por explicar essas relações, mais precisamente sobre a divisão do trabalho social, 
Durkheim descreve a existência de duas formas de “solidariedade” (geradoras de integração ou coesão 
social) na sociedade: mecânica e orgânica. Começaremos descrevendo cada uma das solidariedades 
observadas e descritas por Durkheim (1999):
•	 Solidariedade mecânica: solidariedade por semelhança; quando essa forma se sobrepõe 
na sociedade, a tendência é que os indivíduos tenham características semelhantes, ou seja, 
pouco diferem entre si. As semelhanças são baseadas no fato de os indivíduos carregarem 
os mesmos valores, possuírem os mesmos sentimentos e reconhecerem os mesmos objetos 
sagrados.
•	 Solidariedade orgânica: a diferenciação está presente, ou seja, a unidade que une a coletividade 
resulta de uma diferenciação. Trata-se da solidariedade baseada na diferenciação dos 
indivíduos.
Aron (1982) afirma que as solidariedades descritas por Durkheim apresentam uma oposição 
entre si, se combinando com a oposição entre as sociedades segmentárias e aquelas com moderna 
divisão do trabalho (ARON, 1982). Ou seja, segundo Aron, Durkheim dá um passo importante para 
conhecer a sociedade moderna industrial ao criar elementos metodológicos (próprios da sociologia) 
para diferenciá-la de outros modelos de sociedades. 
Primeiramente, é necessário compreender o conceito de sociedades segmentárias utilizado 
por Durkheim para descrever as sociedades opositoras àquelas com uma moderna divisão do 
trabalho social. Segundo Durkheim (1999), um segmento pode ser concebido como um grupo 
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
33
Unidade
2
social no qual os membros estão integrados entre si, mas também separados do mundo exterior. Ou 
seja, as sociedades segmentárias possuem semelhanças com a solidariedade mecânica, entretanto a 
solidariedade mecânica não descarta a comunicação com o mundo exterior (DURKHEIM, 1999). É 
importante destacar que por mais que existam singularidades entre as sociedades segmentárias e a 
solidariedade por semelhanças, a estrutura segmentária não pode ser confundida com a solidariedade 
por semelhanças (ARON, 1982). 
Apresentadas as diferenças básicas entre as formas de solidariedade descritas por Durkheim, 
tentaremos compreender como ocorre a divisão do trabalho social nas sociedades caracterizadas pela 
solidariedade orgânica (inclusive a sociedade moderna ocidental). Durkheim (1999) afirma que a 
diferenciação das diversas profissões e a multiplicação das atividades industriais são expressões de 
uma diferenciação social, características de sociedades com solidariedade orgânica. Ou seja, não 
seria possível o desenvolvimento das diversas atividades industriais (que deram origem a diversas 
novas profissões – fenômeno que ocorre até os dias atuais) e a diferenciação das profissões se não 
tivesse ocorrido uma ruptura com as estruturas das sociedades com base na solidariedade mecânica e 
sociedades com estruturas segmentárias. 
Neste momento, surge um questionamento importante: segundo Durkheim, como ocorre a 
divisão do trabalho nas sociedades que apresentam solidariedade orgânica? O pensador deduz que 
a divisão do trabalho se apresenta como “uma certa estrutura de toda a sociedade, de que a divisão 
técnica ou econômica do trabalho não passa de uma manifestação” (DURKHEIM apud ARON, 
1982, p. 302). O domínio da coletividade sobre os indivíduos explica a manifestação apresentada, ou 
seja, a divisão do trabalho não está distante dos demais fenômenos sociais existentes nas sociedades 
complexas, nas quais o indivíduo é um fruto da sociedade e não o contrário.
Nesse cenário, podemos perceber que o processo de divisão do trabalho não ocorre ao acaso, 
mas, sim, de maneira objetiva, a sustentar a organização social da sociedade. Trata-se de algo muito 
maior que um mero fenômeno econômico, é um fenômeno social que sustenta as condições essenciais 
para a existência da vida social. As sociedades complexas (como a sociedade moderna industrial) 
se mantêm em equilíbrio por causa, justamente, da divisão de tarefas, e assim a divisão do trabalho 
exerce um papel fundamental na geração de solidariedade social.
É importante ressaltar que nas sociedades que apresentam solidariedade orgânica (por 
diferenciação) o elemento que faz a ligação entre os indivíduos é a solidariedade social, que, na nossa 
sociedade, é gerada pela divisão do trabalho social; ou seja, a solidariedade social contribui para a 
integração da sociedade que possui solidariedade orgânica (DURKHEIM, 1999). 
Já, segundo Weber (2004), a falta de uma profissão fixa (estabelecida na divisão social do 
trabalho) gera ao indivíduo uma perpétua confusão, pois não sabe o que fazer ou quando fazer. Weber 
(2004, p. 147) afirma que: 
O trabalho instável a qual se vê obrigado o homem comum que trabalha por dia é um 
estado precário, muitas vezes inevitável, sempre indesejável. Falta justamente à vida de quem 
não tem profissão o caráter metódico-sistemático que, como vimos, é exigido pela ascese 
intramundana.
Podemos perceber que Weber destaca a necessidade de uma ascese ao trabalho, identificada por 
ele em alguns agrupamentos religiosos protestantes, e que a falta dessa ascese (consequentemente de 
uma profissão) faz com que o indivíduo se sinta perdido (ficando preso em uma perpétua confusão). Se, 
por um lado, Durkheim observa que a divisão do trabalho – e a geração de solidariedade social – gera 
uma forma de integração nas sociedades que apresentam solidariedade orgânica (como a sociedade 
moderna industrial – sociedade contemporânea), por outro lado, Weber diz que essa ligação deixa os 
Unidade
2
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
34
indivíduos em estado de confusão caso não exista a ascese ao trabalho. A ascese ao trabalho, segundo 
Weber, é gerada pela existência de vocação profissional, e não para que o indivíduo ocupe um lugar na 
sociedade, visando a gerar integração social e também coesão social.É importante destacar que Max Weber, na sua obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 
descreveu de maneira clara as razões para que essa ascese ao trabalho (e também ao capitalismo) 
ocorra com maior intensidade em alguns grupos sociais e religiosos. Por fim, segundo Weber 2004), o 
“homem de profissão” é aquele que possui a coerente ideia de vocação profissional.
A divisão do trabalho na sociedade moderna industrial, segundo Karl Marx, tem a ideologia 
como forma de sustentação. O pensador afirma que, na sociedade moderna industrial, o Estado 
assume um papel de aparato técnico burocrático (ideológico), buscando a manutenção da ordem 
contra a revolução proletária (todos contra o proletariado). Assim, a disputa política no âmbito do 
Estado não ocorria por princípios e sim por interesses (o Estado passa a se constituir a partir de um 
horizonte de modernidade).
Segundo Marx, a organização do trabalho (na sociedade moderna industrial) tem como ponto 
de partida a cisão entre trabalho intelectual e trabalho manual, e esse fato é um golpe para a classe 
trabalhadora, pois a relação entre a teoria e a práxis é impedida de se concretizar, inviabilizando a 
formação completa dos indivíduos nessa sociedade) (MARX apud ARON, 1982). Nesse cenário, Marx 
(apud ARON, 1982, p. 129) afirma que:
O país mais desenvolvido industrialmente mostra aos que o seguem na escala industrial a 
imagem do seu próprio futuro [...] Mesmo quando uma sociedade chega a descobrir a pista 
da lei natural que preside ao seu movimento [...], ela não pode ultrapassar de um salto nem 
abolir por meio de decretos as fases do seu desenvolvimento natural; pode, contudo, reduzir 
o período de gestação e minorar os males da sua gravidez.
O filme “A divisão social do trabalho Segundo Adam 
Smith” (2011) aborda a história de cinco trabalhadores 
que tentam romper com divisão social do trabalho 
imposta pela sociedade.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Ao estudar a divisão do trabalho social, podemos perceber que, segundo os autores clássicos 
das Ciências Sociais (Durkheim, Weber e Marx), ela possui um papel importantíssimo no processo 
de socialização dos indivíduos nas estruturas da sociedade moderna industrial. As diversas 
profissões que surgiram a partir da divisão do trabalho social separaram ainda mais os indivíduos 
nessa sociedade marcada pela diferenciação. Podemos ver nas imagens, a seguir, dois exemplos 
distintos de profissões e atividades profissionais. A primeira mostra o trabalho manual de um 
artesão, se utilizando de técnicas (quase sem tecnologia alguma); já a segunda, uma reunião de 
executivos (regada com diversas tecnologias diferentes – e um trabalho intelectualizado). Você acha 
que existe alguma diferença entre esses dois tipos de trabalho? Reflita sobre o assunto a partir da 
perspectiva de que o trabalho tem um papel central na nossa sociedade, sendo que essa sociedade 
já é reconhecida como a sociedade do trabalho.
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
35
Unidade
2
Trabalho de um artesão
 Fonte: Freeimages. 
Reunião de executivos 
 Fonte: Pixabay. 
O artigo “A categoria trabalho no capitalismo 
contemporâneo”, escrito pelo pesquisador Luís Antônio 
Cardoso, aborda a discussão sobre a centralidade exercida 
pelo trabalho na vida cotidiana e também no pensamento 
social. O autor relata a importância de estudos sobre o 
trabalho para o desenvolvimento das Ciências Sociais, 
apresentando também as suas repercussões na vida social dos indivíduos. O texto está 
disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ts/v23n2/v23n2a11>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
5. ForçA, legitimidAde, normAs e poder
O Estado moderno, estrutura do Estado contemporâneo, se constituiu, nos últimos séculos, 
como detentor do monopólio do poder, legitimidade, normas e uso da força (muitas vezes por meio 
da violência) (ADORNO, 2002). Portanto, ele será o ponto de partida deste tópico. 
É importante ressaltar que o Estado moderno se constituiu a partir do rompimento das 
estruturas do modelo de Estado que vigorava até o século XVIII, sendo elemento sustentador da 
sociedade moderna industrial. Foucault (2008) afirmava que não é possível manter o exercício do 
poder sem esconder parte da verdade objetiva dos fatos da população. Partiremos dessa afirmação 
Unidade
2
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
36
para tentar compreender a relação do Estado (e da própria sociedade) com a força, a legitimidade, 
as normas e o poder.
Segundo Marx, a ideologia capitalista é composta por um conjunto de ideias que tem a função 
de criar uma cortina de fumaça para esconder das classes reprimidas a realidade objetiva dos fatos. 
Esse apontamento é sustentado por Foucault, pois se, de um lado, Marx apresentava que a ideologia era 
fundamental para a manutenção do domínio da classe dominante, por outro lado, Foucault apresenta 
elementos concretos para a percepção de que a realidade social continua a mesma da analisada por Marx. 
Adorno (2002) afirma que o Estado sustenta seu monopólio da violência, na sua organização 
jurídico-política. A organização do Estado de direito criou os elementos necessários para que tivesse 
as ferramentas necessárias para exercer poder, violência, criar normas e exercer a sua legitimidade. 
Ou seja, o Estado é legitimado, por normas criadas, a exercer o seu poder, até mesmo de maneira 
violenta. O poder, o controle e a coesão social constituem a base da sociedade moderna industrial 
(e do Estado moderno). 
Estado usa a violência para exercer o poder
 Fonte: Visualhunt.
 
O pesquisador Gustavo Silveira Siqueira apresenta 
um diálogo entre os pensamentos da filósofa Hannah 
Arendt e do filósofo Jurgen Habermas sobre o poder e a 
consequente legitimidade do Estado no exercício dele. 
Confira o material em: <www.confluencias.uff.br/index.
php/confluencias/article/download/109/214>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Segundo Kant (apud ADORNO, 2002), o Estado se consolidou na unificação dos homens 
sob leis e normas jurídicas; ou seja, os homens, unificados sob normas jurídicas, criaram elementos 
concretos para legitimar a dominação de uns sobre os outros. Mas como esse poder é exercido? A 
violência ocorre de que maneira? As normas jurídicas (leis) são criadas de qual modo? E, por fim, a 
legitimidade do Estado e da sociedade se sustentam de que forma?
Foucault (2008) afirma que o triângulo formado por poder, verdade e direito é fundamental 
para a sustentação do Estado, bem como para as demais relações de força e poder existentes nas suas 
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
37
Unidade
2
estruturas. Para explicar melhor o funcionamento desse triângulo, recorreremos novamente ao autor, 
quando afirma que: “[...] as regras do direito que delimitam formalmente o poder e, por outro, os 
efeitos da verdade que este poder produz, transmite e que por sua vez reproduzem-no. Um triângulo, 
portanto: poder, direito e verdade” (FOUCAULT, 2008, p. 179). 
Podemos perceber que o poder (institucionalizado) constrói a sua verdade (seguindo os seus 
interesses) e a transmite, tornando-a, assim, uma verdade social. Elias (1993, p. 17) afirma que “uma 
das instituições constitutivas exigidas pela organização social que denomina Estado é o monopólio do 
exercício da força física”. Em outras palavras, não existe Estado sem força física, e a verdade produzida 
pelo Estado é imposta de maneira coercitiva por meio até mesmo da força física. 
As punições previstas nas normas criadas pelo Estado (em forma de leis), segundo Foucault 
(1987, p. 163), têm como objetivo: “[...] relacionar os atos, os desempenhos, os comportamentos 
singulares a um conjunto que é ao mesmo tempo campo de comparação, espaço de diferenciação e 
princípio de uma regra aseguir”. Em tese, buscam alinhar os indivíduos a moldes estabelecidos pelo 
Estado, visando a limitar os comportamentos humanos àqueles criados burocraticamente; assim, a 
essência humana é violentada e essa violência é legitimada pelo Estado de direito. Nesse sentido, o 
Estado assume o papel de vigiar e punir os indivíduos, visando à manutenção da ordem imposta (de 
maneira coercitiva) pelos grupos que dominam o próprio Estado (FOULCAULT, 1987).
CoNCLusão
Nesta unidade, foi possível compreender como ocorre o processo de formação/construção 
de identidade social dos indivíduos. A relação entre a sociedade e o indivíduo se dá de maneira 
automática, e desde o seu nascimento, o indivíduo é bombardeado por características sociais que 
constituem a sua identidade. Percebemos que o indivíduo é fruto das suas relações sociais, culturais, 
políticas e linguísticas, ou seja, ninguém desenvolve características distintas da conjuntura social à 
qual foi exposto de maneira contínua. Somos frutos das nossas relações, da cultura na qual estamos 
inseridos, das perspectivas sociais e das nossas escolhas pessoais, mesmo que estas últimas sejam 
orientadas por estruturas sociais já existentes.
As influências exercidas pelos grupos dominantes se apresentam de diversas formas, incluindo 
pela ideologia, que tem o papel de “maquiar” a realidade objetiva, criando uma falsa realidade de 
acordo com os interesses dos grupos dominantes que concentram o poder do Estado. Percebemos 
também que o Estado, por intermédio de todos os seus aparatos e técnicas, exerce com mão de ferro o 
papel de disciplinador na manutenção da ordem, mesmo que ela seja questionável. A nossa identidade 
social é fruto da história da sociedade, das memórias preservadas, das verdades construídas e, também, 
da força e coerção exercidas pelo poder estatal.
Acima de tudo, nesta unidade foi possível compreender, ainda que de maneira contraditória, 
que somos frutos das nossas escolhas, mesmo que estas sejam orientadas pela sociedade e pelo Estado. 
Unidade
2
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
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eLeMeNtos	CoMPLeMeNtAres
#LIVRO#
 
Título: O Suicídio 
Autor: Émile Durkheim
Editora: WMF
Coleção: Biblioteca do Pensamento Moderno
Sinopse: Nessa obra, Émile Durkheim analisa as influências sociais 
(e extrassociais) que levam um indivíduo a se suicidar na sociedade 
moderna. O autor aborda o caráter social do suicídio e sua tendência 
coletiva. 
#FILME#
 
Título: EQUALS – Quando te Conheci
Ano: 2015
Sinopse: O filme relata a rotina em uma sociedade em que não 
existem emoções e sentimentos (considerados doenças) e na 
qual se move somente pela racionalização, sem a emotividade 
característica dos seres humanos. A trama demonstra que os 
elementos internos dos seres humanos (sentimentos) ainda são 
importantes para o processo de socialização e formação do ser 
social.
#FILME#
Título: Bicho de Sete Cabeças 
Ano: 2000
Sinopse: O filme aborda a história de um jovem internado em 
um hospital psiquiátrico por conta de um “eventual uso de 
drogas”. Traz elementos importantes para a compreensão sobre a 
coerção do processo de socialização e também as suas instituições 
socializadoras (sociais). O uso da violência, legitimada pela 
autoridade (presente em cargos e ocupações), também é tratado. 
A construção da identidade social:
relação entre indivíduo e sociedade 
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Unidade
2
reFerÊNCiAs
A DIVISÃO social do trabalho segundo Adam Smith. Direção: Fátima Ribeiro. Brasil: 2011.
ADORNO, S. Monopólio Estatal da Violência na Sociedade Brasileira Contemporânea. In: MICELLI, 
S. (Org.). O que ler nas ciências sociais brasileiras. 1970-2002. V. IV, 2002. São Paulo: Anpocs; Ed. 
Sumaré; Brasília: Capes, 2002. p. 1-32.
A ONDA. Direção: Dennis Gansel. Alemanha: 2008.
ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes; Brasília: Ed. UNB, 1982.
BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
CARDOSO, L. A. A categoria trabalho no capitalismo contemporâneo. São Paulo, Tempo Social, v. 
23, n. 2, p. 265-295, nov. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ts/v23n2/v23n2a11>. Acesso 
em: 14 jan. 2018.
CIDADÃO Kane. Direção: Orson Welles. Estados Unidos: 1941.
DURKHEIM, É. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ELIAS, N. O processo civilizador. Formação do Estado e civilização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 
1993.
EU, mamãe e os meninos. Direção: Guillaume Gallienne. França, 2013. 
FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1987.
______. Microfísica do poder. São Paulo, Paz e Terra, 2008.
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WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
Unidade
3
Objetivos de aprendizagem 
da unidade
•	 Apresentar	o	histórico	e	as	bases	fundamentais	da	Ciência	Política
•	 Apresentar	 a	 noção	 de	 contrato	 social	 a	 partir	 da	 perspectiva	
filosófica	 sobre	 a	 docilidade	 e	 a	 concordância	 sob	 termos	 de	
obediência	e	à	submissão	às	normas	
•	 Identificar	 as	 principais	 propostas	 e	 perspectivas	 de	 poder:	
aristocracia,	ditatura,	democracia	e	revolucionária	
•	 Distinguir	 os	 conceitos	 de	 política	 e	 Estado,	 em	 tempos	
contemporâneos,	a	partir	de	diferentes	concepções	teóricas
 
Professor	Mestre	Luiz	Alberto	Neves	Filho
COMO	A	SOCIEDADE	SE	TRANSFORMA:	
O	MUNDO	DA	POLÍTICA		
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
41
Unidade
3
INTRODUÇÃO	
Nesta unidade, com o tema “Como a sociedade se transforma: o mundo da política”, buscaremos 
esclarecer conceitos importantes para a Ciência Política. Elementos políticos da Grécia Clássica, como 
pólis, politeia e democracia, serão abordados, juntamente com as contribuições de grandes teóricos 
clássicos da Ciência Política como Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques 
Rousseau. A compreensão dos ensinamentos desses autores clássicos é de fundamental relevância 
para a compreensão da própria política, inclusive nos dias atuais. 
Acompanhar a evolução contínua dos conceitos vinculados à política, e também da própria 
política, sinaliza a compreensão de um horizonte recheado de transformações, muitas vezes 
desprezadas e desconhecidas. Buscaremos solucionar alguns questionamentos básicos sobre o nosso 
cotidiano: vivemos em um regime democrático igual ao dos tempos da Grécia Clássica? Qual é o papel 
do Estado na nossa sociedade? O estado de natureza do homem é respeitado pelo Estado Moderno?
Pretendemos esclarecer esses questionamentos (e todos os outros que surgirem) no decorrer da 
unidade. Portanto, mãos à obra e bons estudos!
1.	DA	NOÇÃO	gREgA	DE	pólis 
A	MAqUIAvEL:	A	CONSTRUÇÃO	
DO	PENSAMENTO	POLÍTICO
Neste tópico abordaremos conceitos de grande importância para a compreensão das estruturas 
fundantes da Ciência Política. Uma das três grandes áreas das Ciências Sociais (junto com Sociologia e 
Antropologia), ela se constituiu como disciplina científica nos últimos dois séculos, entretanto alguns 
termos importantes precederama sua fundação como disciplina científica. 
A pólis é uma das antecessoras ao surgimento da Ciência Política, e sua definição inicial está 
ligada ao período da Grécia Antiga, também conhecida como Grécia Clássica. Aristóteles, na sua 
obra clássica Política, apresenta a pólis como um local de pluralidade, conforme o seguinte relato de 
Miranda Filho (1998, p. 28): “Viver na pólis não é, pois, viver numa comunidade de sábios virtuosos, 
nem de religiosos, ou de conformistas ou de guerreiros, ou de ricos ou de pobres. A pólis é, como diz 
exemplarmente Aristóteles na Política, uma pluralidade”.
As cidades-estados da Grécia Clássica (pólis) que possuíam uma assembleia de cidadãos para 
deliberarem sobre os assuntos comuns (públicos) recebiam o nome de politeia. As características 
dela a distinguiam de dois regimes já conhecidos na Grécia Clássica (democracia e aristocracia) na 
concepção de leis (com suas qualidades), independentemente do seu regime político. Ou seja, tanto 
o regime da maioria (democracia) como regime de alguns (aristocracia) poderiam existir nas pólis, 
dependendo do regime de leis vigentes, conforme afirma Miranda Filho (1998, p. 35):
A politéia não se confunde com nenhum dos regimes reais, em particular não se confunde 
com os dois regimes dominantes na Grécia Clássica, a oligarquia e a democracia. Toda pólis 
é presidida por leis e estas são a expressão do grupo hegemônico da cidade. Cada pólis se 
caracteriza, portanto, pela qualidade de suas leis, ou seja, pelo seu regime político: este pode 
ser o regime da maioria ou de alguns apenas, democracia e oligarquia.
Unidade
3
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
42
Nesse cenário, podemos perceber que a pólis precedeu a própria política, tendo em vista que a 
política se realizava naquele contexto. Assim, os pensadores clássicos da Grécia Antiga, que observavam 
e relatavam o cotidiano da pólis (principalmente Platão e Aristóteles), podem ser considerados os 
primeiros pensadores da “ciência política”, a qual foi constituída como disciplina científica dezenas de 
séculos depois). Norberto Bobbio (2000, p. 159), afirma que a política pode ser concebida como um:
Derivado do adjetivo de pólis (politikós), significa tudo aquilo que se refere à cidade, e portanto 
ao cidadão, civil, público e também sociável e social, o termo “política” foi transmitido por 
influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que deve ser considerada o primeiro 
tratado sobre a natureza, as funções, as divisões do Estado, e sobre várias formas de governo, 
predominantemente no significado de arte ou ciência do governo, isto é, de reflexão, não importa 
se com intenções meramente descritivas ou também prescritivas, sobre as coisas da cidade.
O artigo “A política desde o universo espiritual da pólis 
grega”, escrito pelo pesquisador Francisco de Moraes, 
aborda as raízes da experiência política da Grécia Clássica. 
O caráter originário da comunidade política grega é o 
eixo central presente na reflexão de Moraes. O texto está 
disponível em: <https://ufsj.edu.br/portal2-repositorio/
File/existenciaearte/A_politica_desde_o_universo_da_polis_grega.pdf>. 
Fonte: Elaborado pelo autor.
Aristóteles pode ser concebido como o fundador do conceito política, e foi quem escreveu uma 
importante obra (filosófica e embrionária da Ciência Política) com o nome Política. Podemos perceber 
que os gregos já possuíam uma forma complexa de organização “política”, sendo responsáveis pelo 
desenvolvimento de dois dos regimes políticos de maior envergadura histórica: democracia e aristocracia. 
Ruínas de uma pólis 
 Fonte: Freeimages. 
Com o decorrer da história da humanidade, os modelos e conceitos “idealizados” pelos filósofos 
da Grécia Clássica já não atendiam plenamente às necessidades da “política” no final da Idade Média 
e início da Idade Moderna. Nesse cenário, surgiu uma das figuras mais controvérsias da história da 
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
43
Unidade
3
organização política: Nicolau Maquiavel. Em seu livro O Príncipe (1513), defende a ruptura com os 
pensamentos “dialéticos” dos filósofos da Grécia Clássica. Conforme comenta Weffort (2001, p. 18):
A substituição do reino do deve ser, que marcara a filosofia anterior, pelo reino do ser, da 
realidade, leva Maquiavel a se perguntar: como fazer reinar a ordem, como instalar um Estado 
estável? O problema central de sua análise política é descobrir como pode ser resolvido o 
inevitável ciclo de estabilidade e caos. 
Nesse contexto histórico, os conhecimentos herdados da filosofia dos clássicos (da Grécia Antiga) 
já não davam conta de organizar politicamente as novas estruturas sociais e políticas, que estavam em 
pleno desenvolvimento no início da Idade Moderna. Assim, Maquiavel coloca a “política” em um novo 
patamar: resolver os contínuos ciclos de estabilidade e casos que vigoravam naquele período. 
A organização dos homens, por meio da política, deveria ocorrer seguindo preceitos básicos; 
como por exemplo o de que os homens são imutáveis. Assim, Weffort (2001, p. 19) afirma que:
Seu “diálogo” com os homens da antiguidade clássica e sua prática levaram-no a concluir 
que por toda parte, e em todos os tempos, pode-se observar a presença de traços humanos 
imutáveis. Daí afirmar, os homens “são ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante os 
perigos, ávidos de lucro” (O Príncipe, cap. XVII). 
Maquiavel inaugura a busca pela compreensão da natureza humana – aprofundada, 
posteriormente, pelos jusnaturalistas Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau –, 
afirmando que os homens devem ser doutrinados para que a sua natureza ingrata e covarde seja 
controlada; e a obra O Príncipe se torna um manual político para o controle dos homens (utilizado até 
os tempos de hoje). O livro ensina governantes a manterem o controle da ordem (necessário para o 
funcionamento pleno da política), conforme destaca Weffort (2001, p. 18):
A ordem, produto necessário da política, não é natural, nem a materialização de uma vontade 
extraterrena, e tampouco resulta do jogo de dados do acaso. Ao contrário, a ordem tem um 
imperativo: deve ser construída pelos homens para se evitar o caos e a barbárie, e, uma vez 
alcançada, ela não será definitiva, pois há sempre, em germe, o seu trabalho em negativo, isto 
é, a ameaçada de que seja desfeita. 
Norberto Bobbio (2000, p. 159) afirma que, na Era Moderna, o conceito de política passou 
por um grande processo de transformação, dando origem a novas conceituações e também a novas 
implicações objetivas.
Na era moderna, o termo perdeu o seu significado original, tendo sido paulatinamente substituído 
por outras expressões tais como “ciência do Estado”, “doutrina do Estado”, “ciência política”, “filosofia 
política” etc., para enfim ser habitualmente empregado para indicar a atividade ou o conjunto de 
atividades que têm de algum modo, como o termo de referência, a pólis, isto é, o Estado.
Podemos perceber que, segundo Bobbio (2000), a política foi reduzida a diversos conceitos 
abstratos, voltados à compreensão do Estado Moderno (que sucedeu o modelo da pólis grega). Nos 
próximos tópicos desta unidade abordaremos, de maneira clara e objetiva, os panoramas apresentados 
pelo Estado e pela própria Ciência Política. 
O filme “Sócrates” (1971), dirigido pelo cineasta 
Roberto Rossellini, é uma cinebiografia de Sócrates 
(470-333 a.C.) e conta a história de um dos maiores 
filósofos da humanidade, destacando desde as suas 
ideias até a sua condenação à morte.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Unidade
3
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
44
2.	O	CONTRATUALISMO	DE	HObbES,	LOCkE	
E	ROUSSEAU
Neste tópico, abordaremos o contratualismo político de Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques 
Rousseau. Em geral, os contratualistas foram filósofos que, entre os séculos XVI e XVIII, afirmaram que 
as origens da sociedadee também do Estado estavam vinculadas a um “contrato social” assumido pelos 
homens: os homens poderiam viver sem poder e/ou organização, mas “aceitaram” firmar um pacto que 
estabelecia as regras de convívio social e de subordinação política (WEFFORT, 2001). 
Hobbes, Locke e Rousseau, que apresentaram as teorias que envolvem o “contrato social aceito” 
pelos homens para viverem em sociedade, são também os principais representantes do jusnaturalismo 
– teoria dos direitos naturais. 
Estudaremos, a partir de agora, as noções de Estado de Natureza (Estado Natural dos Homens) 
e de Propriedade Privada, segundo os pensadores contratualistas. 
2.1	Estado	de	Natureza	em	Hobbes,	Locke	e	
Rousseau
Para Hobbes é o mesmo homem que vive em sociedade e não com o passar do tempo, história 
ou vida social; assim, ele não pode ser considerado um selvagem no seu estado natural. O filósofo não 
acreditava que os homens eram absolutamente iguais, entretanto afirmava que eram “tão iguais que...”; 
ou seja, em determinadas situações a igualdade deles era colocada à prova pelo Estado ou pelos seus 
governantes (apud WEFFORT, 2001). 
O filme “A Gaia Ciência” (1969 – direção de Jean-Luc 
Godard) aborda o percurso de dois jovens idealistas em 
busca da revolução. O filme tem um vínculo forte com 
o pensamento revolucionário de Jean-Jacques Rousseau, 
que influencia diretamente os ideais incorporados pelos 
jovens Emile e Patrícia. 
Fonte: Elaborado pelo autor.
A igualdade relativa dos homens, proposta por Hobbes na sua grande obra Leviatã, poderia 
provocar diversos conflitos no interior do Estado, pois gerava violência e insegurança entre os 
indivíduos. Assim, ele defendia que esse Estado deveria utilizar, de maneira racional, medidas de 
controle e de repreensão. Em tese, Hobbes defende um Estado forte e controlador. Sobre o Estado de 
Natureza dos homens, ele afirma que:
A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora 
por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais 
vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isso em conjunto, a diferença 
entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um possa com base nela 
reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele. (HOBBES 
apud WEFFORT, 2001, p. 54). 
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
45
Unidade
3
Se, por um lado, para Thomas Hobbes os homens, em seu Estado de Natureza, têm uma relativa 
igualdade (que deve ser controlada pelo Estado), de outro, para John Locke eles vivem em estado de 
perfeita liberdade e não dependem da vontade de qualquer outro homem para suas ações. Os direitos 
dos homens precediam o Estado e a Sociedade, assim, o Estado não poderia exercer controle sobre a 
liberdade natural dos indivíduos. Locke defende que o Estado exerça um papel mínimo no controle e 
propõe uma espécie de individualismo liberal (no qual os indivíduos tenham seus “direitos” naturais 
resguardados – como a própria liberdade). Nesse cenário, Kuntz (1998, p. 97) afirma que:
Na condição natural, escreve Locke, os homens vivem num “estado de perfeita liberdade para 
ordenar suas ações e para dispor de suas posses e pessoas como julguem adequado, dentro 
dos limites da lei de natureza, sem pedir autorização ou depender da vontade de qualquer 
outro homem” (Segundo Tratado – John Locke). 
Portanto, para Locke, a liberdade dos indivíduos no seu Estado Natural deveria ser preservada 
pelo Estado e pelas leis. Jean-Jacques Rousseau, o terceiro contratualista, afirma que o homem é livre 
no seu Estado de Natureza, entretanto perde a liberdade natural com a sua entrada na ordem civil (na 
sociedade e no Estado). Rousseau afirma que, a liberdade civil (dentro da Sociedade e do Estado) não 
é a mesma liberdade do Estado de Natureza dos homens, e não é possível atingir tal liberdade dentro 
da ordem civil. Nesse cenário, Nascimento (1998, p. 122) afirma que: 
Segundo Rousseau, podemos identificar no homem, no estado de natureza, no qual vive 
isoladamente, uma faculdade que o distingue dos outros animais, isto é, a liberdade, marca a 
sua constituição metafísica. Mas essa liberdade, sem a qual o homem perderia sua “qualidade 
de homem”, assume características totalmente diferentes quando ele sai do estado de natureza 
e ingressa na ordem civil. 
O artigo “Thomas Hobbes: a necessidade da criação do 
Estado”, escrito pelo pesquisador Jecson Girão Lopes, 
apresenta elementos importantes para a compreensão do 
processo de criação do Estado, segundo as perspectivas 
de Thomas Hobbes. Leitura sugerida para a compreensão 
aprofundada sobre o processo de surgimento do Estado 
Moderno.
Fonte: http://www2.ufrb.edu.br/griot/images/vol6-n2/12-THOMAS_HOBBES_-_A_
NECESSIDADE_DA_CRIACAO_DO_ESTADO-Jecson_Girao_Lopes.pdf
Fonte: Elaborado pelo autor.
Ao abrir mão da sua liberdade natural para ingressar na ordem civil, segundo Rousseau, o 
homem abre mão da sua própria natureza, assumindo características completamente diferentes do 
seu estado natural, ou seja, perde a sua condição de homem natural.
2.2	Propriedade	Privada	em	Hobbes,	Locke	e	
Rousseau 
Para Hobbes, a propriedade não existe no estado de natureza dos homens, sendo criada pelo 
Estado-Leviatã; assim, ela deveria ser controlada por esse mesmo Estado-Leviatã. Nesse sentido, se a 
propriedade não pertence ao homem natural, o Estado tem por direito o poder de controle sobre ela, 
Unidade
3
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
46
e esse controle deve ser exercido pelos governantes e/ou pelos ocupantes de posições de autoridade no 
poder estatal. Assim, podemos ver em Monteiro (1998, p. 78) que:
A ideologia hobbesiana não propunha a supressão da propriedade privada, nem a supressão 
da burguesia como classe – propunha apenas que a propriedade pertencesse toda de 
direito ao Estado, ou seja, que seu controle permanecesse sempre nas mãos de homens que 
ocupassem posições de autoridade no poder estatal e que os empresários privados fossem 
permanentemente vigiados pelo aparelho estatal.
O conflito entre e Hobbes e Locke, presente na concepção do estado de natureza do homem, se 
apresenta também na concepção de propriedade. Se para Hobbes a propriedade é fruto do Estado, para 
Locke ela já existia no estado de natureza dos homens, sendo até anterior à própria sociedade. Assim, não 
é legítimo que o Estado assuma o controle da propriedade natural dos homens. No cenário de aparente 
contraste entre o direito à propriedade em Hobbes e em Locke, Weffort (2001, p. 85) afirma:
Para Hobbes, a propriedade inexiste no estado de natureza e foi instituída pelo Estado-Leviatã 
após a formação da sociedade civil. Assim como a criou, o Estado pode também suprimir 
a propriedade dos súditos. Para Locke, ao contrário, a propriedade já existe no estado de 
natureza e, sendo uma instituição anterior a sociedade, é um direito natural do indivíduo que 
não pode ser violado pelo Estado. 
A propriedade privada assumiu um papel central 
no Estado Moderno e desenvolvimento das relações 
sociais. O Estado precisou assumir um papel de 
agente garantidor da posse da propriedade e os 
indivíduos assumem o papel de guardiões da posse 
da propriedade. A imagem acima ilustra uma placa 
indicativa de propriedade de um estabelecimento 
rural. Não basta ter a posse, ela precisa ser resguardada e monitorada.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Em cenário do conflito de Hobbes e Locke, Rousseau reitera que com o contrato social o homem 
perde a sua liberdade natural, mas “ganha” em troca a liberdade civil e o direito de propriedade. A 
troca da liberdade natural pela liberdade civil e pela propriedade de tudo que possui é apresentada da 
seguinte forma por Rousseau:
O que o homem perde pelo contrato social é a liberdade natural e um direito ilimitado a 
tudo quanto aventura e pode esperar. O que ele ganha é a liberdade civil e a propriedade de 
tudo que possui. A fim de não fazerum julgamento errado dessas compensações, impõe-
se distinguir a liberdade natural, se só conhece limites nas forças do indivíduo, e liberdade 
civil, que se limita pela vontade geral, e, mais, distinguir a posse, que não é senão o efeito da 
força ou do direito do primeiro ocupante, da propriedade, que só pode fundar-se num título 
positivo. (ROUSSEAU apud NASCIMENTO, 1998, p. 128).
Portanto, para Rousseau, a propriedade é um direito de quem tem a posse dela. Os indivíduos 
que não a possuem, trocaram a sua liberdade natural apenas pela liberdade civil (e pela perspectiva de 
que irá alcançar a posse da propriedade algum dia – se lhe for de direito). 
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
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Unidade
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Propriedade privada
 Fonte: Pixabay. 
O artigo “Aspectos da filosofia política de John Locke 
e a sua aplicação na contemporaneidade”, escrito pelo 
pesquisador Luiz Antônio Gomes Pinto, aborda a ligação 
existente entre o pensamento liberal de John Locke com 
o neoconservadorismo da era Reagan na presidência dos 
EUA (1981-1989). O texto está disponível em: <http://
www.periodicos.ufes.br/sinais/article/viewFile/2845/2311>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
3.	PERSPECTIvAS	E	FORMAS	DE	PODER	
Neste tópico, abordaremos algumas perspectivas políticas que levaram ao surgimento, em 
especial, de quatro formas de governo: aristocracia, ditadura, democracia e revolucionária. Ao serem 
apresentadas de maneira detalhada, trazem características próprias e reguladas por instrumentos 
próprios de funcionamento. Assim, devemos buscar compreender, cada uma delas, no seu contexto e 
nas suas circunstâncias próprias. 
3.1	Aristocracia
A aristocracia tem definição inicial elaborada pelos pensadores da Grécia Clássica. Em tese, 
trata-se de uma forma de governo dos melhores, portanto uma forma de governo de poucos. Idealizada 
na Grécia Clássica, defendia, em sua essência, um governo racional de pessoas capazes de governar. 
Ou seja, a aristocracia, segundo Aristóteles, deveria se sustentar na busca pelos melhores, conforme 
afirma Bonavides (2000, p. 193): 
A aristocracia significa governo de alguns, o governo dos melhores. Na etimologia da palavra 
“aristocracia” deparamo-nos já com a ideia de força. Essa raiz evolve naturalmente para a 
acepção de força da cultura, força da inteligência, força entendida de modo qualitativo, força, por 
conseguinte, dos melhores, dos que tomam as rédeas do governo. A exigência de todo governo 
aristocrático deve ser, segundo Aristóteles, a de selecionar os mais capazes, os melhores.
Unidade
3
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
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A busca da aristocracia por um governo “dos melhores” foi completamente desvirtuada dos 
objetivos filosóficos que precederam o seu desenvolvimento, se transformando em um regime de 
desonestidade e de interesses econômicos privados. Conforme destaca Bonavides (2000, p. 194): “A 
aristocracia depravada se transmuda em oligarquia, plutocracia ou despotismo, como governo do 
dinheiro, da riqueza desonesta, dos interesses econômicos anti-sociais” (BONAVIDES, 2000, p. 194).
Assim, a aristocracia perdeu seu principal norteador filosófico ao se distanciar da busca por ser 
o governo dos melhores.
3.2	Ditadura
A ditadura é caracterizada por ser o governo de somente uma pessoa, e tem nas monarquias 
absolutistas a sua raiz de surgimento. É importante destacar, inicialmente, que as monarquias absolutistas 
tinham como base principal de sustentação a teoria do direito divino, ou seja, o poder na terra era 
“herdado” diretamente do poder divino. Entretanto, conforme afirma Bonavides: “Desvirtuada de seu 
significado essencial de governo que respeita as leis, a monarquia se converte em tirania, a saber, governo 
de um só, que vota o desprezo da ordem jurídica” (BONAVIDES, p. 2000, p. 194).
No momento em que o regime monárquico se afasta do cumprimento das leis, se torna uma 
ditadura, ressaltando que as ditaduras modernas se sustentam, justamente, nesta premissa: o ditador 
não respeita as leis e se mantém no poder a partir do uso da força e da violência. Um regime ditatorial 
cria medidas legais para satisfazer, exclusivamente, os próprios interesses (e de seus correligionários), 
e busca de todas as formas se distanciar de medidas que reduzam o seu poder e/ou coloquem em risco 
a continuidade no comando do poder político.
O despotismo, central nos regimes ditatoriais, pode ser definido, segundo Bonavides, da 
seguinte forma:
Sua natureza [do despotismo] se resume na ignorância ou transgressão da lei. O monarca 
reina fora da ordem jurídica, sob impulso da vontade e dos caprichos pessoais. O princípio 
de todo o despotismo reside no medo: onde há desconfiança, onde há insegurança, onde 
há incerteza, onde as relações entre governantes e governados se fazem à base do temor 
recíproco, não há, segundo Montesquieu, governo legítimo, mas governo despótico, governo 
que nega a liberdade, governo que teme o povo. (BONAVIDES, 2000, p. 196).
Podemos perceber que a ditadura padece de legitimidade e se concentra na tensão com as 
liberdades do povo, pois nesse modelo de governo o povo é temido e reprimido ao mesmo tempo 
(a repressão é justificada pela “ideologia” de manutenção da ordem). A contínua tensão entre povo e 
governo é uma das principais marcas das ditaduras.
3.3	Democracia
A democracia constitui um dos regimes de governo mais conhecidos, tendo em vista o seu 
“caráter de participação popular”. Entretanto, é necessário destacar que ela surgiu na Grécia Clássica 
com uma proposta de governo diferente da perspectiva democrática utilizada no cotidiano atual da 
sociedade. Na antiguidade clássica, era uma proposta de deliberação em praça pública de medidas 
a serem tomadas no âmbito do governo. Ou seja, os cidadãos (démos) eram chamados para, eles 
próprios, tomar as decisões, conforme afirma Norberto Bobbio (2000, p. 372):
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
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Unidade
3
Para os antigos a imagem de democracia era completamente diferente: falando de democracia 
eles pensavam em uma praça ou então em uma assembleia na qual os cidadãos eram chamados 
para a tomar eles mesmos as decisões que lhe diziam respeito. “Democracia” significava o 
que a palavra designa literalmente: o poder do démos, e não, como vemos hoje, poder dos 
representantes dos démos.
O artigo “As percepções sobre Democracia, Cidadania e 
Direito”, dos pesquisadores Gustavo de Faria Lopes, Denise 
Paiva e Marta Rovery Souza, apresenta elementos práticos para a 
compreensão sobre o funcionamento da democracia brasileira, 
e todas as suas repercussões sociais. O texto está disponível em: 
<http://www.scielo.br/pdf/op/v10n2/22022.pdf>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Na conjuntura moderna, gerada pelo crescimento das cidades – transformadas em metrópoles 
–, a tomada de decisões em praça pública pelos cidadãos se tornou inviável. Assim, os poderes dos 
cidadãos (nas decisões) são transferidos para representantes, criando uma forma de democracia 
sustentada na representação (democracia representativa). A positividade da tomada de decisões 
pelos próprios cidadãos “cravou” na democracia uma conotação positiva, conforme podemos ver nas 
seguintes palavras de Bobbio (2000, p. 375):
Hoje a “democracia” é um termo que tem uma conotação fortemente positiva. Não há regime, 
mesmo o mais autocrático, que não goste de ser chamado de democrático. A julgar pelo modo 
através do qual hoje qualquer regime se autodefine, poderíamos dizer que já não existem no 
mundo regimes não democráticos.
Os governos modernos dificilmente se assumem como antidemocráticos, e mesmo as ditaduras 
mais violentas tendem a se apresentar como detentores de poder por meios democráticos. 
Representantes dos cidadãos são escolhidos pelo voto
 Fonte: Visualhunt. 
A democracia deixou de ser um regime voltado para a tomada de decisões por todos os cidadãos 
para se tornarum mero adjetivo positivo, utilizado para que governos (de todas as formas) se assumam 
positivamente perante o povo (e outros governos também). 
Unidade
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Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
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3.4	Revolucionária
A perspectiva revolucionária de governo é ao mesmo tempo a mais próxima dos ideais de justiça 
e igualdade e também a mais utópica de todos os regimes. Ela demanda uma formação política, cultural 
e intelectual dos cidadãos, para que estes busquem na convergência de objetivos a sua “libertação” 
das amarras criadas pelos governos corruptos (presentes na aristocracia, na ditadura e também na 
democracia representativa). 
Nascimento (1998, p. 123) afirma que, na perspectiva rousseauniana (derivada dos ideais 
propostos por Rousseau): “Quem vivesse no estado civil querendo reivindicar a liberdade natural, isto 
é, como se estivesse vivendo no estado de natureza, seria um inimigo da classe política”.
A busca por uma liberdade inexistente nessa sociedade, caracterizada pela construção do Estado 
como aparelho regulador das ações humanas, é uma das marcas da ruptura proposta pelos “regimes 
revolucionários”. Todos os regimes aqui apresentados (aristocracia, ditadura e democracia) possuem 
forte presença estatal no controle das vontades individuais. Ou seja, o rompimento com o modelo 
adotado pelo Estado Moderno é uma das premissas fundamentais para a consolidação de modelo 
revolucionário de governo. A busca por uma sociedade justa e liberta de todas as amarras sustenta os 
ideais sociais dos regimes revolucionários. Podemos ver em Rousseau o caminho para que a liberdade 
e a justiça almejadas se constituam, quando afirma que: 
[...] procura como se poderia dizer em termos kantianos, que condições tornam inteligíveis 
uma sociedade justa. Tudo se passará como se os homens tivessem concluído um tal contrato. 
Isso não implica, em absoluto, que alguma vez ele se tenha realizado ou que deva se realizar. 
Tudo o que é preciso perceber é que uma sociedade justa não é possível, não é concebível sob 
outra suposição. (ROUSSEAU apud NASCIMENTO, 1998, p. 130).
A ruptura com esse modelo de sociedade que impõe liberdades civis contrárias à liberdade 
natural dos homens (existentes no seu estado de natureza) ocorrerá somente por meio de uma 
revolução social (centro da busca dos regimes revolucionários). Ou seja, a concretização dos ideais 
revolucionários não se dará nos regimes de governo aristocrático, ditatorial e democrático. No próximo 
tópico abordaremos as relações de poder que buscam, a todo momento, minar qualquer pensamento 
contrário às estruturas do Estado Moderno.
4.	O	PODER,	A	SOCIEDADE	CIvIL	E	O	ESTADO
O último tópico desta unidade tem como objetivo trazer à discussão elementos importantes 
sobre desenvolvimento histórico de conceitos relacionados ao poder, à sociedade civil e ao Estado. 
Como vimos anteriormente, a política teve uma trajetória repleta de transformações no decorrer da 
história da humanidade, e as diversas representações dessa “política” (poder, sociedade civil e Estado, 
por exemplo) passaram por um ajustamento no âmbito do percurso dessas mudanças. O poder 
centralizado no âmbito do Estado será o primeiro item a ser analisado.
4.1	Poder
A discussão sobre o conceito de poder se centralizará no que tange àquele exercido no âmbito 
do Estado contemporâneo. Ou seja, não serão foco da nossa análise outras formas de poder existentes 
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
51
Unidade
3
nas sociedades pautadas em modelos já superados. Norberto Bobbio, com base nos ensinamentos de 
Aristóteles, apresenta os elementos concentradores de poder no decorrer da história e afirma que:
A tipologia clássica propagada ao longo dos séculos é aquela que podemos ler na Política de 
Aristóteles, que distingue as três formas típicas de poder com base na distinta sociedade na 
qual se aplica: o poder do pai sobre os filhos, do senhor sobre os escravos, do governante sobre 
os governados. (BOBBIO, 2000, p. 216).
Focaremos nossa discussão no poder exercido pelos governantes sobre os governados, ou 
seja, abordaremos o poder político exercido no âmbito do Estado. Thomas Hobbes afirmava que os 
governantes, em um estado absolutista, não poderiam estar sob as mesmas leis dos seus governados, 
tendo em vista que as leis que deveriam reger os governantes deveriam ser as leis naturais. Nesse 
cenário, Monteiro (1998, p. 78) apresenta a ideia de que:
Em hipótese alguma o soberano hobbesiano pode ficar sujeito às leis civis (capítulo XXIX do 
Leviatã): o soberano encontra-se sujeito unicamente às leis da natureza, pois essas leis são 
divinas e não podem ser revogadas pelo poder do Estado. Mas a quaisquer leis feitas pelo 
próprio Estado, pelo próprio soberano, este não pode estar sujeito, porque estar sujeito às leis 
civis, no seu caso, é o mesmo que estar sujeito ao soberano representante, ou seja, a si próprio.
A diferenciação dos governantes no cumprimento das leis, proposta por Hobbes, é veementemente 
refutada por John Locke, que afirma que qualquer diferenciação no âmbito do poder e das leis romperá 
com o princípio de igualdade, presente no estado de natureza dos homens. Assim, Kuntz (1998, p. 97-
98) ressalta que:
Mas a condição livre dos homens é meramente descrita, sem uso de argumento. A liberdade, 
este é um ponto importante, é explicitada como poder de agir, dentro da lei de natureza, 
sem depender de autorização de outra pessoa. Embora Locke se refira ao estado de natureza 
como condição “também de igualdade”, os dois atributos, de fato, não são apresentados 
como independentes. A ideia de liberdade se explicita com a noção de igualdade, isto é, de 
indiferenciação de poder. 
A indiferenciação no âmbito do poder político (evitando a concentração do poder nas mãos 
dos governantes), proposta por Locke, buscaria o equilíbrio e a igualdade na sociedade e no próprio 
Estado. O rompimento com o domínio dos governantes deveria ser o objeto principal do liberalismo 
político proposto por Locke, pois segundo ele falta racionalidade no domínio dos governados 
pelos governantes – e até legitimidade na imposição de punições para o descumprimento das leis. 
Os apontamentos do filósofo, ainda, constituem elementos críticos à atuação do poder político na 
atualidade, em que as leis parecem não valer para os governantes.
4.2	Sociedade	civil	e	Estado
A sociedade civil se caracteriza pelas relações estabelecidas pelo indivíduo no seu meio social, 
mediante normas sociais criadas e estabelecidas de maneira coercitiva ao indivíduo. Em outras 
palavras, é a própria sociedade regida pelos costumes cotidianos estabelecidos ou não em lei. 
Unidade
3
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
52
Sociedade civil – relações estabelecidas pelo indivíduo no meio social 
 Fonte: Pixabay.
Ao nascerem, todos os indivíduos são inseridos automaticamente nas estruturas que organizam 
a vida civil no cotidiano da sociedade. O simples estabelecimento deles nessa condição constitui 
uma grande violência com o estado natural (estado de natureza). Ao analisar a obra de Rousseau, 
Nascimento (1998, p. 123) realça que:
Para que se afirme o estado civil, as forças naturais do homem, inclusive sua liberdade natural, 
precisam ser aniquiladas e mortas. Em outras palavras, para que o homem civil, o cidadão, se 
afirme com a liberdade moral convencional, será necessário eliminar de si a liberdade natural.
Nesse cenário, a própria política é estabelecida como uma ferramenta burocrática de coerção 
para a organização da vida civil dos indivíduos, e, em última escala, constitui simples ferramenta de 
poder e de coerção. Assim, Bobbio (2000, p. 160-161) percebe que:
O conceito de política, entendida como forma de atividade ou práxis humanas, está 
estreitamente ligado ao conceito de poder. O poder foi definido tradicionalmente como 
“consistente nos meios para se obter alguma vantagem” (Hobbes)ou, de modo análogo, como 
o “conjunto dos meios que permitem conseguir os efeitos desejados” (Russel).
O Estado moderno (em todos os regimes de governo) se estabeleceu como responsável pela 
institucionalização de mecanismos de coerção e poder. O poder, definido por Hobbes como “consistente 
nos meios para se obter alguma vantagem”, é figura central na fundação do Estado moderno e eixo 
estruturante da sua atuação em face das inquietações sociais de grupos não participantes da “cena 
política”. Assim, podemos concluir que a sociedade civil, o Estado e o poder ainda fazem parte do 
mesmo “circo” apresentado por Maquiavel na sua obra O Príncipe. Ou seja, resta aos indivíduos (sem 
a suas liberdades naturais) a “política do pão e circo”, compreendida por Maquiavel como ferramenta 
de controle de um Estado com regimes políticos fracassados, no âmbito da busca pela igualdade, da 
liberdade natural e da fraternidade.
O artigo “Política e Arte: Maquiavel, La Boètie e 
Shakespeare”, do pesquisador Miguel Chaia, apresenta a 
conjuntura política apresentada por Maquiavel e demonstra 
o quanto o pensamento dele ainda está vivo e presente no 
cotidiano da sociedade moderna. O texto está disponível em: 
<https://cienciapolitica.org.br/system/files/documentos/
eventos/2017/02/politica-e-arte-maquiavel-la-boetie-e-shakespeare-343.pdf>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
53
Unidade
3
O filme “Gladiador” (2000), dirigido por Ridley 
Scott, mostra a rotina do “pão e circo” na Roma 
Antiga, imposta por uma aristocracia corrupta e 
desvirtuada de valores morais.
CONCLUSÃO
A unidade buscou apresentar elementos teóricos para a compreensão do Estado Moderno 
e de todas as suas implicações no cotidiano dos indivíduos. O campo da política é dotado de 
transformações contínuas e lineares, assim a compreensão do processo político-histórico nos faz 
refletir sobre o percurso transcorrido até o estágio atual da sociedade. Pensadores como Aristóteles, 
Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau apresentaram contribuições 
de grande relevância para o reconhecimento da política atual. É quase impossível não perceber a 
importância da obra O Príncipe (Maquiavel) na conjuntura política atual, ou seja, um livro com mais 
de 500 anos ainda influencia atores políticos no mundo contemporâneo. Os ideais que levaram ao 
surgimento da democracia na Grécia Antiga ainda perduram na sociedade contemporânea, por mais 
que o regime tenha sido alterado na sua essência fundadora.
O papel de controle do Estado na vida dos indivíduos (previsto por Hobbes) é completamente 
visível na sociedade moderna ocidental. O liberalismo político proposto por John Locke é referência em 
países com elevado nível de desenvolvimento capitalista, ou seja, Locke está presente no pensamento 
político-econômico moderno. E os ideais iluministas (liberdade, igualdade e fraternidade) defendidos 
por Rousseau ainda fazem parte das bandeiras defendidas por diversos grupos políticos.
Finalizando, pudemos perceber que as transformações e, consequente, o enfraquecimento 
de regimes de governo sustentados por valores racionais, como democracia e aristocracia, abriram 
diversos caminhos para o surgimento de regimes corruptos e/ou totalitários (ditaduras), inclusive na 
atual conjuntura política nacional e mundial. Todas as circunstâncias citadas abriram um grande leque 
de estudos para as ciências sociais desenvolverem novos métodos científicos para a compreensão das 
transformações sociais. 
ELEMENTOS	COMPLEMENTARES
#LIVRO#
Título: O Príncipe
Autor: Nicolau Maquiavel 
Editora: WMF Martins Fontes
Sinopse: O livro, escrito no ano de 1513, expressou pela primeira vez 
a noção de Estado como uma forma de organização da sociedade do 
modo como a conhecemos hoje. Justamente por esse fato Maquiavel é 
considerado o pai da moderna ciência política. Nessa obra, ele constrói 
um manual de como o novo príncipe deveria agir para estabelecer seu 
poder, agindo ao mesmo tempo com sutileza e violência (se necessário). 
O livro ultrapassou diversos séculos e ainda se mantém atualizado 
como manual político para governantes. 
Unidade
3
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
54
 #LIVRO#
Título: Leviatã
Autor: Thomas Hobbes 
Editora: Martin Claret - Bb
Sinopse: O livro é um clássico da Ciência Política moderna. Nele, o 
autor aborda grande parte das suas concepções sobre política e Estado, 
além de ser um dos fundadores do jusnaturalismo (estado de natureza e 
direitos naturais dos homens). 
 
#FILME#
 
Título: Anna Karenina
Ano: 2012
Sinopse: O filme, dirigido por Joe Wright, apresenta a vida de uma 
jovem casada com um funcionário de alto escalão da aristocracia 
russa (fortemente influenciada pelos costumes franceses). Trata-se de 
uma boa indicação para a compreender o funcionamento do regime 
aristocrático. 
REFERÊNCIAS
A GAIA Ciência. Direção: Jean-Luc Godard. Alemanha Ocidental / França, 1969.
BONAVIDES, P. Ciência Política. 2. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2000. 
BOBBIO, N. Teoria Geral da Política: a Filosofia Política e as lições dos Clássicos. Rio de Janeiro: 
Campus, 2000. 
CHAIA, M. Política e Arte: Maquiavel, La Boètie e Shakespeare. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO 
BRASILEIRA DE CIÊNCIA POLÍTICA, 8., 1-4 ago. 2012, Gramado. Anais... Gramado: Fundação de 
Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em: <https://cienciapolitica.org.br/
system/files/documentos/eventos/2017/02/politica-e-arte-maquiavel-la-boetie-e-shakespeare-343.
pdf>. Acesso em: 21 jan. 2018.
GLADIADOR. Direção: Ridley Scott. Estados Unidos / Reino Unido, 2000.
KUNTZ, R. Locke, Liberdade, Igualdade, Propriedade. In: QUIRINO, C. G.; VOUGA, C.; BRANDÃO, 
G. M. (Org.). Clássicos do Pensamento Político. São Paulo: Edusp, 1998. p. 91-120.
LOPES, G. F.; PAIVA, D.; SOUZA, M. R. As percepções sobre democracia, cidadania e direitos. 
Opinião Pública, Campinas, v. 10, n. 2, p. 368-376, out. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/
Como a sociedade se transforma: o mundo da política 
55
Unidade
3
pdf/op/v10n2/22022.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2018.
LOPES, J. G. Thomas Hobbes: a necessidade da criação do Estado. Griot – Revista de Filosofia, 
Amargosa, v. 6, n. 2, p. 170-187, dez. 2012. Disponível em: <http://www2.ufrb.edu.br/griot/images/
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Girao_Lopes.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2018.
MIRANDA FILHO, M. Politeia e virtude: as origens do pensamento republicano clássico. In: 
QUIRINO, C. G.; VOUGA, C.; BRANDÃO, G. M. (Org.). Clássicos do Pensamento Político. São 
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MONTEIRO, J. P. A ideologia do Leviatã Hobbesiano. In: QUIRINO, C. G.; VOUGA, C.; BRANDÃO, 
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MORAES, F. de. A política desde o universo espiritual da Polis grega. Existência e Arte, São João del 
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NASCIMENTO, M. M. do. Reivindicar direitos segundo Rousseau. In: QUIRINO, C. G.; VOUGA, 
C.; BRANDÃO, G. M. (Org.). Clássicos do Pensamento Político. São Paulo: Edusp, 1998. p. 121-134.
PINTO, L. A. G. Aspectos da filosofia política de John Locke e a sua aplicação na contemporaneidade. 
Sinais – Revista Eletrônica, Vitória, v. 1, n. 2, p. 47-65, out. 2007. Disponível em: <http://www.
periodicos.ufes.br/sinais/article/viewFile/2845/2311>. Acesso em: 21 jan. 2018.
SÓCRATES. Direção: Roberto Rossellini. Espanha/Itália/França, 1971.
WEFFORT, F. (Org.) Os clássicos da política. Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, ‘’O 
Federalista’’. 1º volume. São Paulo: Ática, 2001.
Unidade
4
Objetivos de aprendizagem 
da unidade
•	 Compreender	 o	ofício	 do	 cientista	 social	 como	um	artesanato	
intelectual
•	 Apresentar	 abordagens	 e	 exemplos	 dapesquisa	 qualitativa	 no	
campo	das	Ciências	Sociais
•	 Apresentar	abordagens	e	exemplos	da	pesquisa	quantitativa	no	
campo	das	Ciências	Sociais
 
Professor	Mestre	Luiz	Alberto	Neves	Filho
ASPeCtoS	teóriCoS	e	MetodoLógiCoS	
dAS	CiêNCiAS	SoCiAiS		
Aspectos teóricos e metodológicos das ciências sociais 
57
Unidade
4
iNtrodUÇÃo	
Esta unidade, intitulada “Aspectos teóricos e metodológicos das Ciências Sociais”, tem como 
objetivo apresentar elementos para a compreensão do ofício do cientista social como um artesanato 
intelectual. A pesquisa cientifica, realizada por ele, deve ser sustentada em elementos constitutivos 
da ética e da moral presentes na sociedade e na comunidade científica. A atuação do cientista social 
precisa ser pautada na análise do comportamento humano em grupo, ou seja, das repercussões sociais 
das ações humanas/individuais
As metodologias cientificas utilizadas pelas Ciências Sociais são sustentadas em técnicas 
qualitativas e quantitativas, que possuem o mesmo objetivo: oferecer ao cientista social as condições 
para a realização de pesquisas com o maior índice de assertividade, gerando, assim, a compreensão 
dos fenômenos sociais que circundam os indivíduos na sociedade contemporânea.
Ao final desta unidade, pretendemos que o aluno tenha a compreensão, e o entendimento, dos 
processos científicos e das ferramentas utilizadas pelas Ciências Sociais na construção do conhecimento 
científico.
Pronto para começar? Mãos à obra e bons estudos!
1.	MetodoLogiA	eM	CiêNCiAS	SoCiAiS
As metodologias científicas utilizadas em Ciências Sociais constituem-se como uma das 
questionadoras (e questionadas) de todo o campo científico. A diversidade metodológica é uma das 
principais marcas da área, e seus métodos abordam tanto questões qualitativas como quantitativas (às 
vezes as duas em uma única pesquisa). Entretanto, alguns questionamentos sobre os métodos utilizados 
ainda fazem parte do cotidiano acadêmico científico, conforme afirma Earl Babbie (2001, p. 57):
Um dos mais vivos debates acadêmicos dos últimos anos diz respeito ao status “científico” das 
disciplinas englobadas sob a rubrica das ciências sociais – tipicamente incluindo sociologia, 
ciência política, psicologia social, economia, antropologia, pesquisa de mercado e, às vezes, 
áreas como geografia, história, comunicações e outros campos compostos ou especializados. 
A questão básica é se o comportamento humano pode ser submetido ao estudo “científico”.
Babbie questiona se o comportamento humano pode ser alvo de estudos científicos, pois ele não 
apresenta as características dos objetos estudados pelas ciências naturais e exatas. Os fenômenos sociais 
e humanos podem ser aferidos e/ou analisados com a mesma intensidade em que as ciências exatas e 
as ciências naturais analisam seus objetos? Ele afirma que mesmo com todas as críticas sofridas pelas 
Ciências Sociais, o objeto de estudos dos cientistas sociais (fenômenos sociais) pode ser medido ou 
observado de maneira sistemática. Assim, Babbie (2001, p. 58) ressalta: “O primeiro tijolo da ciência é 
a ‘medição’ ou a observação sistemática. Não há razão fundamental pela qual os cientistas sociais não 
possam medir fenômenos relevantes às suas investigações”.
A sociedade é composta por indivíduos diferentes, mas que podem apresentar comportamentos 
comuns (ou iguais), frutos do processo de socialização. As técnicas utilizadas pelas Ciências Sociais 
precisam dar conta da observação sistemática dos comportamentos dos indivíduos, das suas 
características comuns e particulares.
Unidade
4
Aspectos teóricos e metodológicos das ciências sociais 
58
A imagem a seguir apresenta uma representação do comportamento de pessoas diferentes 
seguindo um mesmo padrão, compartilhando os mesmos objetivos.
Comportamento humano 
 Fonte: Pixabay. 
Partindo do primeiro ponto de que o objeto de pesquisa dos cientistas sociais é palpável à 
realização de pesquisas cientificas, devemos passar para um segundo aspecto igualmente importante: 
as Ciências Sociais podem realizar pesquisas científicas? A pesquisa cientifica, realizada por essa área 
do conhecimento ocorre de maneira artesanal ou segue os mesmos modelos das desenvolvidas por 
outras áreas da ciência moderna (ex. ciências naturais e ciências exatas)? 
As teorias sociais produzidas pelas Ciências Sociais 
são mutáveis, pois sofrem influência contínua das 
mudanças sociais (apresentadas pela sociedade) e 
também das novas condições objetivas (sociais e de 
pesquisa) geradas por estas mudanças.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Lima e Godim (2006) afirmam que a pesquisa pode ser concebida como uma atividade artesanal, 
ou seja, que apresenta uma marca do pesquisador no seu processo de constituição. Assim, destacam que:
Concebendo a pesquisa como atividade artesanal, isto é, como um trabalho em que está 
presente a marca do autor, deve-se voltar a atenção, inicialmente, para o pesquisador. Em 
outras palavras, antes de tratar dos métodos e das técnicas, cabe uma reflexão sobre as 
motivações e sobre o perfil daquele que será o principal responsável pela aplicação desses 
instrumentos, ou seja, daquele que definirá o que “pode servir” para sua bricolagem. (LIMA; 
GODIM, 2006, p. 14-15).
O processo de construção da pesquisa científica nas Ciências Sociais segue o modelo de 
artesanato intelectual, ou seja, o pesquisador deixa sua marca no processo; além dos seus métodos 
científicos, ele também insere as suas motivações no objeto a ser pesquisado – a própria escolha do 
objeto já é fruto das motivações que impulsionam o cientista social.
Aspectos teóricos e metodológicos das ciências sociais 
59
Unidade
4
É importante destacar que as motivações dos cientistas sociais podem ter origem em diversos 
aspectos da sua vida cotidiana (pessoal, acadêmica ou profissional), sendo a busca pelo distanciamento 
do objeto (gerador de neutralidade) um dos principais obstáculos a ser superado. O modelo de escrita 
gerado pelo artesanato intelectual, segundo Lima e Godim (2006, p. 34) pode ser assim compreendido:
Um dos aspectos mais importantes do “artesanato intelectual” refere-se à difícil arte de 
escrever com clareza, seguindo norma padrão e determinado estilo exigido. Trata-se de um 
aprendizado demorado – na verdade, interminável – que, no caso dos textos científicos, 
depende menos de talento que de esforço e treino.
A clareza e a objetividade devem sinalizar o horizonte das pesquisas a serem realizadas pela área 
de Ciências Sociais. A ausência desses aspectos nas pesquisas, e consequentemente na redação dos 
resultados gerados por elas, pode gerar um ambiente de questionamentos sofre a eficiência (e também 
sobre a eficácia) das realizadas no âmbito das Ciências Sociais, ou seja, dificultará sua manutenção 
como disciplina com caráter científico (e metodológico). 
O artigo “A pesquisa nas Ciências Sociais: Desafios e 
Perspectivas”, escrito pela pesquisadora Odária Battini, 
apresenta a pluralidade de concepções existentes na 
realização de pesquisas cientificas nas Ciências Sociais. A 
compreensão dos fenômenos sociais é o grande desafio 
das pesquisas cientificas nesta área, tendo em vista que os 
fenômenos sociais não se apresentam de maneira uniforme, mas possuem características 
de pluralidade (distanciando o objeto das Ciências Sociais dos objetos uniformes das 
outras áreas científicas). O texto está disponível em: <http://www.revistas2.uepg.br/index.
php/emancipacao/article/view/36/33>.
Diferentemente de outras áreas cientificas, as Ciências Sociais sofrem mutações constantes, tanto 
nos seus objetos quanto nos seus modelos metodológicos, tendo em vista que as mudanças sociais 
que ocorrem de maneira cotidiana impactam as teorias sociais geradas pelas pesquisas científicas 
realizadas. Nesse cenário, Babbie (2001, p. 66) afirma que: 
Provavelmente nenhuma teoria social sobreviverá indefinidamente. Ou um crescente peso de 
evidências contrárias a derrubaráou se encontrará uma substituta, mais nova e parcimoniosa. 
Em qualquer caso, não se pode esperar que um achado de ciência social, ao longo prazo, 
resista ao teste do tempo.
Assim, da mesma forma que os fenômenos sociais, alvos das pesquisas realizadas pelas Ciências 
Sociais, tendem a mudar com o passar do tempo, as teorias sociais tendem a serem superadas com 
o surgimento de novas evidências científicas. Ou seja, as Ciências Sociais são mutáveis e sofrem 
influência das mudanças sociais e das novas condições geradas por essas mudanças. 
Nos próximos tópicos, abordaremos os tipos (e/ou modelos) de pesquisas utilizadas pelas 
Ciências Sociais: o modelo qualitativo (descritivo e empírico) e o modelo quantitativo (geral e externo). 
O documentário brasileiro “Em frente”, dirigido por 
Carol Gesser e Will Martins, apresenta o paradigma 
da mudança social, gerada pelo rompimento com o 
modelo convencional imposto pela realidade objetiva. 
Produzido em 2017, ele retrata a história de quatro 
indivíduos, que insatisfeitos com sua realidade concreta, 
buscam o rompimento de paradigmas sociais existentes para trilharem novos caminhos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Unidade
4
Aspectos teóricos e metodológicos das ciências sociais 
60
2.	MetodoLogiA	CieNtÍFiCA	de	CArÁter	
QUALitAtiVo:	eSForÇoS	e	ProPoSiÇÕeS
As pesquisas qualitativas constituem uma vertente de grande importância para as Ciências 
Sociais. As técnicas de pesquisa, que sustentam a metodologia científica de caráter qualitativo, são 
fundamentais para a compreensão dos fenômenos sociais de maneira particular e objetiva. Uma delas, 
muito utilizada nessa metodologia, é o estudo de caso, ou seja, o estudo de uma situação particular ou 
de um fenômeno específico. No caso das Ciências Sociais, consiste na observação sistemática de um 
fenômeno ou situação social, conforme afirma Becker (1994, p. 118): 
O cientista social que realiza um estudo de caso de uma comunidade ou organização 
tipicamente faz uso do método de observação participante em uma de suas muitas variações, 
muitas vezes em ligação com outros métodos mais estruturados, tais como entrevistas. A 
observação dá acesso a uma ampla gama de dados, inclusive os tipos de dados cuja existência 
o investigador pode não ter previsto no momento que começou a estudar, e portanto é um 
método bem adequado aos propósitos do estudo de caso.
As pesquisas qualitativas (inclusive as sustentadas em estudos de caso) tendem a apresentar 
resultados descritivos, podendo, assim, apontar um caminho ou percurso longo, buscando explicar as 
situações a partir da sua origem. A esse respeito, Goldenberg (2013) afirma que o cientista social deve 
centrar-se na objetividade e na clareza, evitando correr o risco de perder-se em um caminho longo 
demais. Assim ele se expressa:
Ao se pensar nas origens da pesquisa qualitativa em ciências sociais, corre-se o risco de se 
perder num caminho longo demais, que procurando as origens das origens não chega jamais 
ao fim. Poderia chegar a Heródoto, que, descrevendo a guerra entre a Pérsia e a Grécia, se 
dedicou a esboçar os costumes, as vestimentas, as armas, os barcos, os tabus alimentares e as 
cerimônias religiosas dos persas e povos circunvizinhos. (GOLDENBERG, 2013, p. 16).
A objetividade das pesquisas realizadas pelas Ciências Sociais também deve ser direcionada às 
técnicas utilizadas na realização da coleta dos dados. Diversos instrumentos metodológicos podem 
ser considerados, desde que sejam adequados ao objetivo proposto. Becker, ao avaliar o estudo de 
caso em especial, percebeu que o rigor metodológico precisa estar vinculado aos problemas teóricos 
a serem encontrados no decorrer das pesquisas. Estes podem se apresentar em uma escala de grande 
variedade, portanto os pesquisadores devem estar preparados e despidos de “falsas proposições gerais”. 
Assim, Becker (1994, p. 118) salienta que: 
Por objetivar compreender todo o comportamento do grupo, o estudo de caso não pode 
ser concebido segundo uma mentalidade única de testar proposições gerais. Em contraste 
com experimento de laboratório, o qual é concebido para testar uma ou poucas proposições 
intimamente relacionadas tão rigorosa e precisamente quanto possível, o estudo de caso tem 
que ser preparado para lidar com uma grande variedade de problemas teóricos e descritivos.
As abordagens geradas pelas pesquisas qualitativas tendem a chegar a um excesso de descrição, 
podendo, assim, se deparar com questões teóricas significativas. É importante destacar que os 
pesquisadores (que se utilizam de instrumentos qualitativos) buscam se distanciar de modelos únicos, 
para, assim, se manter longe das questões teóricas que podem impactar o processo de construção de 
relatos sociais verídicos e compatíveis com os resultados dos estudos realizados.
As Ciências Sociais, diferentemente de outras baseadas em leis gerais, buscam legitimar seus 
conhecimentos mediante instrumentos (de pesquisa) próprios, refutando, assim, modelos previamente 
estabelecidos. Nesse cenário, Goldenberg (2013, p. 16-17) destaca que:
Aspectos teóricos e metodológicos das ciências sociais 
61
Unidade
4
Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa em pesquisa se opõem ao pressuposto 
que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, baseado no modelo de estudo 
das ciências da natureza. Estes pesquisadores se recusam a legitimar seus conhecimentos por 
processos quantificáveis que venham a se transformar em leis e explicações gerais. Afirmam 
que as ciências sociais têm sua especificidade, que pressupõe uma metodologia própria.
O antropólogo Bronislaw Malinowski foi um 
dos primeiros estudiosos das Ciências Sociais 
a desenvolver técnicas de pesquisa qualitativas, 
sustentadas em estudos de caso (pesquisas de 
campo) realizados com um grupo nativo de 
ilhas localizadas no Pacífico Ocidental, onde 
inicialmente permaneceu de 1915 até 1916 e depois 
em determinados períodos de 1917 e 1918. Os resultados, do trabalho de campo de 
Malinowski foram apresentados na sua grande obra, Os argonautas do Pacífico Ocidental, 
na qual descreveu de maneira detalhada toda a estrutura social dos povos das ilhas 
estudadas (conhecidos como trobiands). 
Fonte: Elaborado pelo autor.
As técnicas qualitativas buscam aproximar o pesquisador do objeto de pesquisa e, assim, 
proporcionam-lhe a compreensão de significados de ações sociais de indivíduos e deles próprios. No 
caso das Ciências Sociais tais técnicas se distanciam do modelo positivista, criado por Augusto Comte 
e por Émile Durkheim, que tinha como objetivo principal a separação total e radical do sujeito e do 
objeto de pesquisa. Assim, Goldenberg (2013, p. 19) ressalta que:
Os cientistas sociais, que pesquisam os significados das ações sociais de outros indivíduos e 
deles próprios, são sujeito e objeto de suas pesquisas. Nesta perspectiva, que se opõe à visão 
positivista de objetividade e de separação radical entre sujeito e objeto da pesquisa, é natural 
que cientistas sociais se interessem por pesquisar aquilo que valorizam. Estes cientistas 
buscam compreender os valores, crenças, motivações e sentimentos humanos, compreensão 
que só pode ocorrer se ação social é colocada dentro de um contexto de significado. 
As pesquisas realizadas na vertente qualitativa são alimentadas e sustentadas por técnicas 
desenvolvidas e aperfeiçoadas de maneira contínua para aproximarem os resultados da realidade 
social analisada. O distanciamento de uma visão generalista oferece às Ciências Sociais a possibilidade 
de desenvolvimento de novas técnicas de acordo com os objetos a serem examinados. O surgimento 
de técnicas e métodos qualitativos de pesquisa social é apresentado por Goldenberg (2013, p. 19) da 
seguinte forma: “Esta discussão filosófica mais geral, que diferencia as Ciências Sociais das demais 
ciências, contextualiza o surgimento e o desenvolvimento das técnicas e métodos qualitativos de 
pesquisa social”.
As principais técnicas utilizadas em métodosqualitativos de pesquisa são: estudo de caso 
(pesquisas de campo), entrevistas e análise de cenários (conjunturas). As entrevistas são ferramentas 
poderosas para a compreensão de fenômenos particulares, constituindo também uma relevante 
ferramenta das Ciências Sociais. A imagem a seguir ilustra a entrevista que, como vimos, pode ser um 
mecanismo importante da ligação do pesquisador com o objeto de pesquisa.
Unidade
4
Aspectos teóricos e metodológicos das ciências sociais 
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Pesquisas possibilitam coleta de dados detalhados 
 Fonte: Pixabay.
A coleta de dados é fundamental para as pesquisas científicas realizadas pelas Ciências Sociais e é 
alvo dos estudos com técnicas qualitativas e quantitativas. As técnicas quantitativas, que se distanciam 
de questões teóricas e particulares, serão debatidas e analisadas no próximo tópico desta unidade.
“Da antropologia de gabinete à antropologia participante: 
Bronislaw Malinowski” é o título do vídeo disponível no 
canal YouTube que apresenta de forma didática a biografia 
desse importante antropólogo. Produzido por Alexsandro 
Arbarotti, Gabriel Moreira Monteiro e Pedro Meinberg, o 
material traz as contribuições mais relevantes do estudioso 
no campo da Antropologia. O vídeo está disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=HzH57CtaULI>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
3.	MetodoLogiA	CieNtÍFiCA	de	CArÁter	
QUANtitAtiVo:	eSForÇoS	e	ProPoSiÇÕeS
Nas Ciências Sociais, a metodologia cientifica sustentada em técnicas quantitativas não 
apresenta essência exclusivamente diferente da sustentada nas técnicas qualitativas. As diferentes 
técnicas (quantitativas e qualitativas) se alicerçam nos mesmos princípios e buscam obter resultados 
satisfatórios para as inquietações sociais avaliadas.
Assim, podemos dizer que os cientistas sociais, mesmo que se apoiem em técnicas diferentes 
(quantitativas e qualitativas), estão vinculados no mesmo objetivo: descobrir novos conhecimentos 
relevantes à área das Ciências Sociais. Nesse mesmo caminho, Becker (1994, p. 14) afirma:
Aspectos teóricos e metodológicos das ciências sociais 
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Unidade
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[...] os métodos qualitativos não são tão diferentes dos métodos quantitativos quanto pensam 
comumente os sociólogos. Os mesmos princípios subjacentes se aplicam a ambas as maneiras 
de trabalhar. Ambos os tipos de sociólogos tentam descobrir algo que valha a pena saber, no 
sentido de que poder-se-ia contar com este conhecimento como uma base para atividade no 
que diz respeito à coisa estudada (mesmo se esta atividade for somente a de conduzir um novo 
estudo que utiliza os resultados daquela primeira).
Assim, podemos perceber inicialmente que a pesquisa empírica (que sustenta as pesquisas 
qualitativas) é uma operação lógica, que segue um padrão lógico. As quantitativas, alicerçadas na 
estatística, possuem o mesmo caráter lógico, entretanto se utilizam de instrumentos diferentes no 
processo de construção de dados a serem analisados. As pesquisas qualitativas buscam o estudo de 
caso (trabalho de campo) para conhecer as particularidades do objeto estudado, ao passo que as 
quantitativas buscam nos dados estatísticos (descritivo e inferencial) a sua base de análise do todo de 
uma população, por meio da análise de uma amostra dela. Babbie (2001, p. 383) também aproxima as 
pesquisas qualitativa e quantitativa ao defender que:
A pesquisa empírica é, antes de mais nada, uma operação lógica, e não uma operação 
matemática. A matemática é apenas uma linguagem conveniente e eficaz para descrever 
operações lógicas inerentes à boa análise de dados. A estatística, um ramo da matemática 
aplicada, é especialmente adequada para várias análises de pesquisa. [...] A estatística 
descritiva é um meio de descrever dados em formas manejáveis. A estatística inferencial, por 
seu lado, ajuda a tirar conclusões de observações; tipicamente, envolve tirar conclusões sobre 
uma população a partir de uma amostra daquela população.
O filme “Eleição” (1998) é uma comédia, na qual o 
enredo está ligado a uma eleição estudantil, sendo que 
o resultado contrariou todas as previsões e pesquisas de 
intenções de voto realizadas antes do pleito.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Os dados estatísticos proporcionam a compreensão do conjunto de uma população por meio 
da análise de uma pequena fração dela; ou seja, por meio de uma amostra da população é possível 
compreender e tirar conclusões sobre todo o conjunto dela. A pesquisa eleitoral (de intenção de votos, 
por exemplo) constitui uma das muitas que se utilizam dessa modalidade.
A origem das pesquisas quantitativas está centrada no positivismo de Émile Durkheim. O filósofo 
afirma que todos os fenômenos sociais devem ser tratados como “coisas sociais” e ser entendidos 
mediante três características: gerais, externos e coercitivos. Ou seja, se todos os fenômenos sociais são 
gerais, eles tendem a acontecer em larga escala (em grande parte da sociedade); se são externos, indicam 
que não fazem parte da natureza dos indivíduos (não necessitando estudá-los individualmente); e se 
são coercitivos, ocorrem contra a vontade dos indivíduos.
Assim, segundo Durkheim não faz sentido avaliar os fenômenos separados (caracterizando cada 
um deles), tendo em vista que possuem as mesmas características. Nesse cenário em que a amostra é 
uma forte representação do todo, ele afirma:
No entanto, os fenômenos sociais são coisas e devem ser tratados como coisas. Para demonstrar 
essa proposição, não é necessário filosofar sobre a sua natureza, discutir as analogias que 
apresentam como fenômenos dos reinos inferiores. Basta constatar que eles são o único 
datum oferecido ao sociólogo. É coisa, com efeito, tudo o que é dado, tudo o que se oferece 
ou, melhor, se impõe à observação. Tratar fenômenos como coisa é tratá-los na qualidade de 
data que constituem o ponto de partida da ciência. (DURKHEIM, 1990, p. 28).
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Aspectos teóricos e metodológicos das ciências sociais 
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Nesse contexto, não faz sentido, segundo Durkheim, analisar as particularidades dos fenômenos 
(modelo utilizado pelas técnicas qualitativas – pesquisa empírica), pois basta conhecer caracteres 
exteriores que são comuns a todos. Assim, podemos compreender a estrutura de todos os fenômenos 
sociais conhecendo apenas as características comuns que os unem, e não as particularidades deles.
O método positivista, idealizado por Augusto Comte e desenvolvido na sua plenitude por Émile 
Durkheim, propõe que as pesquisas realizadas pelas Ciências Sociais se concentrem na compreensão 
dos fenômenos sociais por meio das suas características comuns. Assim, Durkheim (1990, p. 36) afirma 
que: “Jamais tomar por objeto de pesquisas senão um grupo de fenômenos previamente definidos por 
certos caracteres exteriores que lhe são comuns, e compreender na mesma pesquisa todos os que 
correspondem a essa definição”.
A pesquisa de campo é sustentada pela observação 
do contexto natural no qual o objeto da pesquisa está 
inserido. A análise “em campo” dos problemas e das 
variáveis apresentadas pelo objeto, no seu contexto 
natural, permitem ao pesquisador coletar dados 
verídicos importantes para o desenvolvimento da 
pesquisa.
Fonte: Elaborado pelo autor.
A análise das características comuns permite, por exemplo, que um cientista político tenha 
condições de fazer uma avaliação assertiva em dia de eleição com base em uma amostra do eleitorado, 
tendo a chance de atingir um coeficiente que apresente uma baixa margem de erro. A pesquisa 
eleitoral é uma clara representação das técnicas quantitativas utilizadas atualmente. A imagem a seguir 
demonstra a importância desse tipo de pesquisa para aferir as intenções de voto de determinado 
grupo na sociedade que apresenta características e vontades comuns.
Eleição e pesquisa eleitoral
 Fonte: Visualhunt.
O papel do cientista político é destacado por Babbie, no que tange à assertividadedas análises 
de intenção de voto do eleitorado, por meio da análise prévia do comportamento de uma parcela da 
população. Assim, Babbie (2001, p. 58-59) realça que:
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O cientista político consegue determinar o comportamento na urna em dia de eleição de 
todo leitorado ou de zonas eleitorais individuais. A quantidade de tráfego num determinado 
trecho de rodovia pode ser medida em diferentes pontos do tempo. Pesquisadores de mercado 
podem medir volumes de venda.
Assim, as pesquisas realizadas pelas ciências com metodologias sustentadas em técnicas 
quantitativas buscam, na sua essência, o mesmo que as pesquisas sustentadas em metodologias com 
técnicas qualitativas: compreender os fenômenos sociais e dar um pouco de sentido ao cotidiano dos 
indivíduos na nossa sociedade contemporânea.
Existem diversos institutos de pesquisa que são 
especializados em pesquisas quantitativas. O DataFolha é 
um dos que utilizam as metodologias que sustentam que 
uma amostra pode representar o conjunto total de uma 
população. Ou seja, uma pequena parcela da população 
pode apresentar o resultado geral das vontades e objetivos 
de toda uma população. Sobre esse assunto, vale a pena conferir outras informações em: 
<http://datafolha.folha.uol.com.br/duvidas/pesquisas_eleitorais.shtml>.
Fonte: Elaborado pelo autor.
CoNCLUSÃo
Nesta unidade, abordamos os recursos metodológicos utilizados pelas Ciências Sociais no 
processo de construção de seus conhecimentos teóricos e práticos. As metodologias científicas são 
sustentadas por técnicas qualitativas e quantitativas, as quais, por definição, possuem diferenças 
essenciais básicas; entretanto, podemos perceber que os objetivos práticos são os mesmos: gerar dados 
para os pesquisadores que possibilitem atingir resultados objetivos e claros. O artesanato intelectual 
(dos cientistas sociais) depende de dados verídicos e confiáveis, para que a sua contribuição possa ser 
representada por um texto claro, objetivo e sintético.
Para que as pesquisas realizadas por cientistas sociais (e cientistas políticos) apresentem 
resultados confiáveis, os métodos e as técnicas precisam ser empregados de maneira adequada. A 
precisão metodológica é de vital importância para o reconhecimento e para a manutenção da 
confiabilidade das Ciências Sociais. As Ciências Sociais devem ofertar dados, informações e análises 
de qualidade, facilitando assim a compreensão dos fenômenos sociais presentes em nossa sociedade, 
independentemente dos impactos gerados por tais fenômenos. A informação deve ser fiel à realidade, 
e para isso as metodologias e técnicas devem ser adequadas à natureza do objeto de estudo.
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Aspectos teóricos e metodológicos das ciências sociais 
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eLeMeNtoS	CoMPLeMeNtAreS
#LIVRO#
Título: A ética Protestante e o “espirito” do capitalismo
Autor: Max Weber
Editora: Companhia das Letras 
Sinopse: Ensaio clássico da sociologia escrito por Max Weber (um 
dos fundadores da sociologia moderna) apresenta um repertório 
objetivo de análise social descritiva (qualitativa). O autor busca 
compreender (e explicar) a ascese dos protestantes ao capitalismo, 
utilizando um método compreensivo descritivo. Trata-se da obra 
fundadora da sociologia qualitativa (método descritivo).
#LIVRO#
Título: Os Argonautas do Pacífico Ocidental
Autor: Bronislaw Malinowski
Editora: Abril Cultural – Os Pensadores 
Sinopse: Ensaio clássico da Antropologia Moderna escrito pelo 
antropólogo Bronislaw Malinowski, considerado com um dos 
percursores da etnografia (descrição direta e participante dos 
objetos de pesquisa), na qual o pesquisador participou ativamente 
das atividades da comunidade e viveu junto com os nativos, 
buscando descrever as suas características culturais de maneira 
precisa (com a coleta, registro e posterior análise dos dados). 
#FILME# 
 
Título: Ensaio sobre a Cegueira 
Ano: 2008 
Sinopse: O filme relata uma epidemia 
que leva as pessoas a ficarem cegas. Os 
acometidos pela doença são isolados 
e passam a contar com pequenos 
serviços básicos oferecidos pelo Estado. 
Com o tempo, tais serviços tornam-se 
insuficientes e a população passa a agir 
de forma bruta, violenta e primitiva.
O filme é um relato descritivo de uma sociedade que questiona se as regras sociais são 
naturais e se as normas podem ser transformadas em números e quantificadas (esquecendo 
as particularidades de cada um dos casos).
 
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#FILME# 
Título: Entrevista 
Ano: 2015
Sinopse: Um famoso apresentador, cansado de fazer entrevistas 
com celebridades, resolve mudar e buscar uma linha mais séria 
(jornalística). Ele consegue marcar uma entrevista com o ditador 
da Coreia do Norte (Kim Jong-um), mas acaba recrutado pela CIA 
para um plano para assassinar o ditador.
O filme apresenta, em formato de comédia, a busca de um 
jornalista (“pesquisador”) por dados e fatos coletados mediante 
entrevistas. É importante destacar que a entrevista jornalística tem 
elementos teóricos distintos da entrevista sociológica, mas ambas 
são ferramentas de coleta de dados e informações para a geração 
de impactos profundos.
#WEB# 
O artigo “Uma questão de método: desafios da pesquisa quantitativa na sociologia”, 
da pesquisadora Ana Cristina Collares, busca discutir a inserção das metodologias 
quantitativas nas Ciências Sociais sob várias perspectivas. A partir de uma dimensão 
epistemológica, a autora aborda a capacidade explicativa dos modelos estatísticos para as 
Ciências Sociais e, também, os desafios existentes para se combinar teoria e empiria para 
desvendar os mecanismos da ação social.
O texto está disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ideias/
article/view/8649415>. 
reFerêNCiAS
ARBAROTTI, A.; MONTEIRO, G. M.; MEINBERG, P. Alexsandro Arbarotti, Gabriel Moreira 
Monteiro e Pedro Meinberg. Da antropologia de gabinete à antropologia participante: Bronislaw 
Malinowski. YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HzH57CtaULI>. Acesso 
em: 14 jan. 2018.
BABBIE, E. Métodos de pesquisas de survey. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.
BATTINI, O. A pesquisa nas Ciências Sociais: desafios e perspectivas. Revista Emancipação, v. 3, 
n. 1, p. 9-23, 2003. Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao/article/
view/36/33>. Acesso em: 21 jan. 2018.
BECKER, H. S. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: HUCITEC, 1994.
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1990. 
ELEIÇÃO. Direção: Alexander Payne. Estados Unidos, 1998.
EM FRENTE. Direção: Carol Gesser e Wil Martins. Brasil, 2017.
GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. 13. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2013.
LIMA, J. C.; GODIM, L. A pesquisa como artesanato intelectual – Considerações sobre método e 
bom senso. São Carlos: EDUFSCAR, 2006.

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