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ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS | 201
EM13CHS603. Todas elas dialogam com ações ligadas 
ao reconhecimento de desigualdades, injustiças sociais 
e violações de direitos humanos e com mecanismos de 
respostas que possam reparar essas heranças históricas 
na contemporaneidade. Com isso, espera-se que os es-
tudantes, ao analisarem o movimento negro em suas 
diferentes épocas e localidades geográficas, reflitam so-
bre formas de organização e atuação política mobiliza-
das em seu cotidiano. Considerando que muitos estu-
dantes se identificam como negros ou pardos, e que 
esse autorreconhecimento vem se tornando maior em 
nossa sociedade, o tema aqui proposto pode ser parti-
cularmente pertinente para estabelecer um elo entre as 
lutas do passado e as culturas juvenis atuais. Mesmo 
para os estudantes de outras etnias, a cultura das peri-
ferias urbanas brasileiras, marcada por uma série de mo-
vimentos culturais, como o hip-hop e o funk, é bastante 
presente. É interessante que possam reconhecer que 
essas expressões também têm na resistência negra seu 
mote criativo.
Essas habilidades do Tema 3 podem ser desenvol-
vidas, especificamente, pelos professores de História e 
de Sociologia. Na primeira dessas disciplinas, estão pre-
sentes conteúdos históricos canônicos, como o ques-
tionamento do legado da escravidão nas Américas e o 
debate sobre a participação da população negra na 
formação econômica, política e social do Brasil em di-
ferentes períodos. Em Sociologia, é possível esclarecer 
conceitos como racismo e etnocentrismo, além de exa-
minar o modo como estão presentes no mundo con-
temporâneo.
Para expandir o tema e trazê-lo ainda mais para o 
presente, os professores de História e de Sociologia po-
dem desenvolver um trabalho conjunto que aborde a 
forte cultura negra no Brasil atual a partir de produtos 
culturais dedicados ao legado, às desigualdades e à luta 
dessas populações. Vale destacar que ritmos negros e 
periféricos, como o rap e o funk, são objetos de pesqui-
sa cada vez mais frequentes nas universidades, tanto por 
parte de pesquisadores negros como brancos. Um exem-
plo para consulta pode ser o dossiê “Rap: protagonismo 
musical periférico”, organizado pela socióloga Daniela 
Vieira dos Santos em Música Popular em Revista (2019). 
Disponível em: https://www.publionline.iar.unicamp. 
br/index.php/muspop/article/view/1001. Acesso em: 
4 set. 2020.
Revela-se importante destacar ainda que o Tema 3 
dá bastante enfoque ao movimento negro estaduniden-
se. Em primeiro lugar, essa estratégia responde à tenta-
tiva de complexificar a relação entre América Latina e 
Estados Unidos, rompendo com dualismos herdados 
dos movimentos anti-imperialistas dos anos 1960 e 1970. 
Ou seja, é preciso reconhecer que os nossos “vizinhos 
do Norte” não são um todo homogêneo, e que esse país 
também é marcado por uma infinidade de componen-
tes étnicos e pautas identitárias. Essa tentativa responde 
a demandas históricas do próprio movimento negro, 
que tradicionalmente promove a solidariedade entre 
comunidades de origem africana em várias partes do 
mundo.
Embora uma série de categorias previstas para a área 
de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas sejam mo-
bilizadas neste Tema, destaca-se, em particular, Indivíduo, 
Natureza, Sociedade, Cultura e Ética como categorias 
centrais.
Mais conteúdo
Pan-africanismo
A origem do pan-africanismo pode ser localizada nas 
últimas décadas do século XIX, quando intelectuais negros 
das Américas (principalmente dos Estados Unidos) e da 
África passaram a discutir temas como o colonialismo e a 
subalternidade das populações negras. Esses intelectuais 
passaram a defender a solidariedade entre populações de 
origem africana ao redor do mundo como forma de com-
bater as desigualdades e violências às quais estavam sub-
metidas.
Na década de 1920, emergiu uma segunda geração de 
intelectuais pan-africanistas, que ganhou força nos Estados 
Unidos e na Europa principalmente por meio de manifes-
tações culturais. O pesquisador Muryatan S. Barbosa des-
taca que:
Os Pan-africanismos culturais se consolidaram 
nos anos 1920, nas redes de relações entre os intelec-
tuais negros e o público ocidental, na Europa e EUA. 
A marca maior deste período inicial será, sem dúvi-
da, a produção literária e artística. Entre os grandes 
escritores negros que se iniciaram no período, pode-
-se destacar nomes como René Maran, Jean Toomer, 
Claude McKay, Price-Mars, René Ménil, Langston 
Hughes e outros. Entre os artistas e músicos, vê-se a 
consagração da bailarina Joséphine Baker, do jazz, do 
samba, da salsa, etc. Os pontos cardeais desta reno-
vação cultural serão Paris e New York, onde se forma 
o movimento do Harlem Renaissance. Trata-se, em 
suma, de um período de intensa incorporação sim-
bólica do negro à cultura artística ocidental. É isto o 
que o sociólogo Antonio Sérgio Guimarães (2003) in-
titulou de “modernidade negra”: o new negro é o ne-
gro enquanto parte de uma visão de mundo moderna, 
marcada pelo gosto de tudo aquilo que é tido por no-
vo e original.
BARBOSA, Muryatan S. Pan-africanismo e teoria social: 
uma herança crítica. In: África, São Paulo, v. 31-32, p. 135-
155, 2011/2012, p. 141-142. 
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ 
africa/article/view/115352/113006. 
Acesso em: 4 set. 2020.
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Apesar desse diálogo estabelecido entre intelectuais 
negros de distintos contextos nacionais, o movimento en-
frentou divergências internas, principalmente a partir da 
década de 1970, após as independências de alguns países 
africanos. Por um lado, nesse contexto surgiram conflitos 
étnicos entre populações negras da África, que colocaram 
em destaque as etnicidades do continente. Por outro, o 
discurso pan-africanista foi apropriado por governos que 
fizeram uso dessa ideologia para se manter no poder. Tam-
bém ganhou força, nas últimas décadas, um discurso que 
reconhece a África como um continente diverso, com et-
nias e culturas variadas. Consequentemente, uma parte 
dos intelectuais que pesquisam o continente consideram 
que o pan-africanismo poderia apagar essa diversidade.
Fontes de pesquisa para o professor
Para se aprofundar no tema da resistência negra tanto 
no passado como na atualidade, há uma infinidade de re-
ferências bibliográficas, sites e materiais audiovisuais que 
podem ser consultados.
• Indica-se os livros do pesquisador e professor da Uni-
versidade Federal da Bahia, João José Reis. Em Rebelião 
escrava no Brasil, o autor trata da Revolta dos Malês, 
ocorrida na Bahia em 1835.
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil. São Paulo 
Companhia das Letras, 2003.
• Outro livro que colabora com o entendimento da 
questão negra de modo mais global, refletindo sobre 
o colonialismo e suas consequências históricas, é A ra-
zão africana, de Muryatan S. Barbosa. O foco do his-
toriador está no diálogo com o pensamento de inte-
lectuais negros sobre a questão.
BARBOSA, Muryatan. A razão africana: breve história 
do pensamento africano contemporâneo. São Paulo: 
Todavia, 2020.
• Recomendamos também os vídeos do canal de YouTu-
be da historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, onde 
podem ser acessados conteúdos sobre a questão negra 
em diferentes momentos da história brasileira. Como 
exemplo, destaca-se o vídeo sobre João de Deus Nasci-
mento, líder negro da Revolta dos Alfaiates (1798-1799). 
Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=wXrPWj8BrV4. Acesso em: 4 set. 2020.
• No site Memórias, Áfricas, Escravidão, da Universidade 
Federal Fluminense, há uma série de conteúdos sobre 
as populações negras no Brasil no passado e no pre-
sente que podem ser trabalhados em sala de aula.
Memórias, Áfricas, Escravidão. Laboratório Federal 
Fluminense – LABHOI. Disponível em: http://www.labhoi.
uff.br/?q=linha-de-pesquisa/memoria-africas-escravidao. 
Acesso em: 04 set. 2020.� Seções do Tema 3
Reflexões (p. 51) 
Como encaminhamentos iniciais, sugerimos que a ati-
vidade seja feita individualmente, em sala de aula. Pode-
-se solicitar aos estudantes que façam uma primeira 
leitura do texto e, em um segundo momento, anotem 
no caderno os pontos principais de cada parágrafo. Esse 
mapeamento ajudará nas respostas das questões a seguir.
 1. A principal preocupação do professor Kabengele 
Munanga é a destruição das políticas públicas con-
tra o racismo. Segundo ele, o país estava avançando 
nessa direção e agora está retrocedendo. Ele se 
preocupa porque a construção de políticas públi-
cas com participação popular é a única maneira, 
segundo ele, de se combater o racismo no Brasil.
 2. A relação que pode ser estabelecida é que um 
Parlamento onde a população preta e parda não é 
proporcionalmente representada terá pouca atua-
ção na formulação de políticas de combate ao 
racismo. Para o autor, a população preta e parda 
deve se mobilizar para defender os seus direitos.
Ampliando (p. 52)
Nesta seção, o professor de História poderá trabalhar 
o tema dos direitos civis nos Estados Unidos. Como con-
teúdo multimodal alternativo, sugerimos o debate sobre 
a imagem da menina Linda Brown em sua escola no es-
tado do Kansas, nos anos 1950. O caso ficou famoso pe-
lo fato de o pai de Linda ter movido uma ação judicial 
para conseguir o direito de matricular sua filha numa es-
cola que não aceitava estudantes negros, numa época em 
que as escolas segregavam os estudantes negros.
Fotografia de Linda Brown 
na escola contra a qual 
sua família moveu 
uma ação por 
segregação racial, 
em 1954. 
Após o processo, 
a Suprema Corte 
estadunidense 
estabeleceu 
como 
inconstitucional 
qualquer 
segregação racial 
nas escolas.
AP Photo/Glow Images
Com base nessa fotografia, é possível não apenas trazer 
informações extras sobre o caso, mas analisar em conjunto 
com os estudantes a imagem, discorrendo sobre a postura 
de Linda e de seus colegas. Também é possível pensar em 
sentimentos que concernem à segregação racial, como o 
isolamento e a exclusão, mas também a coragem e a força 
presentes na postura e no olhar da garota.
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