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TRANSTORNOS APRENDIZAGEM DIFICULDADES DEE Priscila Chupil Transtornos e Dificuldades de Aprendizagem Priscila Chupil ISBN 978-65-5821-111-2 9 786558 211112 Código Logístico I000485 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Priscila Chupil IESDE BRASIL 2022 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2022 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Rawpixel/Envato Elements/ VALUA STUDIO/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C487t Chupil, Priscila Transtornos e dificuldades de aprendizagem / Priscila Chupil. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2022. 94 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-111-2 1. Crianças - Desenvolvimento. 2. Crianças com distúrbios da aprendi- zagem. 3. Distúrbios da aprendizagem - Diagnóstico. 4. Resposta à interven- ção (Crianças com distúrbios da aprendizagem). I. Título. 22-75595 CDD: 618.9285889 CDU: 616.89-053.2 Priscila Chupil Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER). Especialista em Análise do Comportamento Aplicada ao TEA (CENSUPEG). Professora no ensino superior, atua também como psicopedagoga clínica e institucional. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Processos de aprendizagem 9 1.1 Definição de aprendizagem 10 1.2 O cérebro e a aprendizagem 13 1.3 Estímulos para a aprendizagem 17 1.4 Afetividade e aprendizagem 20 1.5 Estilos de aprendizagem 22 2 Dificuldades de aprendizagem 26 2.1 Dificuldades de aprendizagem: causas e tipos 26 2.2 Dislexia 30 2.3 Disgrafia 33 2.4 Disortografia 36 2.5 Discalculia 38 3 Transtornos de aprendizagem 43 3.1 Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) 43 3.2 Transtorno do espectro autista (TEA) 48 3.3 Síndrome de Asperger 51 3.4 Transtorno obsessivo compulsivo (TOC) 54 3.5 Transtorno desafiador opositor (TOD) 56 4 Fatores que interferem na aprendizagem 62 4.1 Fatores externos e internos que interferem na aprendizagem 62 4.2 Fatores afetivos 64 4.3 Fatores sociais 68 4.4 Fatores biológicos 71 5 Prevenção, diagnóstico e intervenção 75 5.1 Desenvolvimento das funções executivas 75 5.2 Prevenção às dificuldades de aprendizagem 79 5.3 Diagnóstico das dificuldades de aprendizagem 81 5.4 Intervenção aos problemas de aprendizagem 84 Resolução das atividades 90 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Nesta obra buscamos discutir como ocorre e quais são as principais dificuldades de aprendizagem, a origem e as possíveis intervenções para cada uma. Conhecer as causas dos insucessos no processo de aprendizagem propicia a reflexão sobre as práticas realizadas nas escolas e possibilita rever e superar as práticas que não contribuem para o sucesso dos alunos, pois cada um aprende de uma maneira e em tempos diferentes. Nesse viés, no primeiro capítulo, trataremos sobre os processos de aprendizagem, ou seja, refletiremos sobre o ato de aprender de maneira geral, compreendendo inicialmente a definição de aprendizagem. É essencial, nesse momento, também saber a relação entre o cérebro e a aprendizagem e, com isso, reconhecer os estímulos necessários para que esta ocorra. Ainda no primeiro capítulo, refletiremos sobre a importância da afetividade e os diferentes estilos para que o ato de aprender aconteça. No segundo capítulo, trataremos das principais dificuldades de aprendizagem, isto é, daquelas mais frequentes em sala de aula e que se tornam um desafio para o professor, como a dislexia, a disgrafia, a disortografia e a discalculia. O terceiro capítulo propõe reflexões mais amplas, pois devemos ter o entendimento de que alguns transtornos e distúrbios também geram dificuldades de aprendizagem. Por isso, são relacionadas as causas e características do transtorno do deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), do transtorno do espectro autista (TEA), da síndrome de Asperger, do transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e do transtorno desafiador opositor (TOD). Diante da amplitude de obstáculos frente à aprendizagem, e das características específicas de cada uma, é necessário, no quarto capítulo, analisar quais fatores contribuem para as dificuldades de aprendizagem e, dessa forma, refletir sobre fatores externos e internos que interferem na aprendizagem, bem como sobre os fatores afetivos, sociais e biológicos que estão relacionados a esse processo. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Transtornos e dificuldades de aprendizagem No quinto e último capítulo, analisaremos como prevenir, diagnosticar e intervir nos casos de transtornos e dificuldades de aprendizagem por meio do entendimento sobre a importância do desenvolvimento das funções executivas como base para todo o aprender. Consequentemente, a partir desse entendimento, veremos como agir de maneira preventiva com relação às dificuldades. Visto que essas questões precisam ser vistas e analisadas de modo responsável e por profissionais específicos, compreenderemos também como são feitos o diagnóstico e a intervenção adequados a cada um dos transtornos e dificuldades de aprendizagem. Com base nessas análises, o entendimento sobre como o ser humano aprende, a forma única de cada um ser e existir e os obstáculos que podem acontecer nesse caminho certamente será um grande diferencial para a atuação de todos aqueles que trabalham com a educação. Bons estudos! Processos de aprendizagem 9 1 Processos de aprendizagem Você já parou para pensar como acontece a aprendizagem? Quais são os processos que a envolve? O que faz o ser humano realmente aprender e praticar seu conhecimento? Parece algo automático, mas não é. Aprender é um processo comple- xo que envolve diferentes fatores, e eles podem contribuir ou não para que a aprendizagem aconteça. Todos os fatores ligados à aprendizagem estão relacionados inicial- mente ao desenvolvimento do cérebro. É esse órgão que rege todas nossas funções e comanda nossa forma de pensar e agir. Conhecer seu funcionamento e compreender a importância da memória nos traz um grande diferencial diante do trabalho e da interação para favorecer a aprendizagem. No processo de aprender, tanto os estímulos do ambiente quanto o vínculo afetivo são fundamentais para proporcionar ao cérebro diferentes vivências. São esses fatores que possibilitam torná-lo ainda mais capaz de assimilar conhecimento e de vivenciá-lo em forma de ações no dia a dia. Durante o processo de assimilação do conhecimento, devemos ainda ter a certeza de que ele não ocorre da mesma maneira para todas as pes- soas. Cada ser humano, a partir de seu desenvolvimento, seus estímulos e suas experiências vividas, possui seu próprio estilo de aprendizagem. Por isso, neste primeiro capítulo vamos compreender a aprendiza-gem e como ela acontece, relacionando-a com o desenvolvimento ce- rebral e os diferentes estímulos necessários para a progressão do ato de aprender. Em seguida, vamos refletir sobre como a afetividade faz parte do processo de aprendizagem e influencia sua forma de acon- tecer. Por fim, vamos conhecer os diferentes estilos de aprendizagem que fazem com que nos tornemos tão únicos e especiais, cada um a seu modo, na forma de ser, agir, pensar e aprender. 1.1 Definição de aprendizagem Vídeo A aprendizagem é um processo muito especial. Ela pode ser vista e analisada por diferentes perspectivas, além de ser influenciada por diferentes situações e ambientes vivenciados durante o processo de desenvolvimento. O ato de aprender estabelece uma relação do ser humano com o mundo, a fim de compreendê-lo e transformá-lo ao longo de sua vida. Dessa forma, a cada nova aprendizagem o ser humano se modifica e é capaz de modificar também seu meio. Mas como podemos definir a aprendizagem? Para compreendermos e analisarmos a aprendizagem, podemos interpretá-la por meio de dois conceitos principais, de diferentes teóri- cos, que a estudam com com base em linhas distintas de pensamentos. O primeiro conceito é o da visão comportamental, ou behaviorista. Essa abordagem considera a função de modelar e controlar as ações das pessoas como uma função dos estímulos do meio ambiente. De acordo com Portilho (2011), para os pesquisadores dessa corrente, o mais importante é o estudo daquilo que se pode constatar empirica- mente, isto é, a consistência da pesquisa está na conduta observável e em suas consequências. Nessa corrente, podemos ter como referência Ivan Pavlov (1849-1936) e Burrhus F. Skinner (1904-1990). Na perspectiva comportamental, devemos considerar que todos os fatores ambientais, como a interação social e as experiências práticas, podem constituir e modificar o comportamento huma- no. São esses os elementos responsáveis pelas experiências das transformações de nosso modo de ser e agir. A outra concepção é a cognitivista, para a qual é atribuída a conduta dos seres humanos, não mais os aspectos ambien- tais externos, mas sim certas estruturas Compreender a definição de aprendizagem humana. Objetivo de aprendizagem 1010 Transtornos e dificuldades de aprendizagemTranstornos e dificuldades de aprendizagem Liderina/Shutterstock Processos de aprendizagem 11 mentais complexas e determinados mecanismos de caráter interno (PORTILHO, 2011). Para os teóricos dessa corrente, o ser humano se desenvolve “de dentro para fora”; é seu desenvolvimento neurológico e biológico que possibilita as interações e a aprendizagem. Nessa concepção, podemos considerar autores como Lev Vygotsky (1896-1934), Jean Piaget (1896- 1980), entre outros. Nos caminhos percorridos para o processo de aprender, muitas são as influências que o compõem, sendo elas internas ou externas. Nesse percurso, um fator importante é a contribuição da psicologia para a pedagogia. Ao pensarmos na aprendizagem escolar, essa contri- buição veio para que houvesse uma modificação no ensino tradicional, uma vez que trouxe a ideia do aluno como agente de sua aprendiza- gem, deixando, assim, de ser considerado como um ser passivo ao en- sino do professor, modificando a fórmula: aluno aprende, professor ensina; com base na qual a educação se desenvolveu por muito tempo. Seja em uma concepção comportamentalista, cognitivista ou, então, voltada para a contribuição da psicologia, podemos entender a apren- dizagem como um processo complexo e repleto de possibilidades. E quando a aprendizagem começa a acontecer? Desde o desenvolvimento intrauterino, bilhões de células chamadas neurônios se desenvolvem e formam o sistema nervoso, o que torna possível todo o restante do desenvolvimento humano. Após o nasci- mento, a criança começa a descobrir o mundo e, partindo disso, sur- gem as primeiras representações de aprendizagem. Das contribuições e dos autores citados, aquilo que mais nos dire- ciona para a compreensão desse processo evolutivo são as fases do desenvolvimento apresentadas por Piaget (1999). Porém, devemos compreender que Piaget tratou de maneira distinta a aprendizagem e o desenvolvimento, pois são conceitos diferentes. O desenvolvimento é algo mais complexo, não se trata somente de desenvolvimento físico, mas também do amadurecimento do sis- 12 Transtornos e dificuldades de aprendizagem tema nervoso e das funções mentais. Ao contrário da aprendizagem, que acontece por meio de uma mediação, o professor exerce a fun- ção do mediador, o que amplia as possibilidades de aprendizagem desse ser humano. Dessa forma, compreender as fases do desenvolvimento apre- sentadas por Piaget nos leva a pensar sobre quais são as influências positivas que podem ser disponibilizadas em cada fase para que a aprendizagem ocorra. Cada uma delas representa um avanço, fazen- do com que a criança desenvolva novas habilidades e possibilitando que ela evolua e aprenda mais. Vamos conhecer, então, cada uma dessas fases? Estas são chama- das também de estágio do desenvolvimento, segundo Piaget (1999), e possuem uma idade aproximada para que o desenvolvimento ocor- ra. Temos, portanto, os seguintes estágios: • Sensório-motor: do nascimento aos 18 meses de idade. • Pré-operatório: dos 18 meses aos 6 anos de idade. • Das operações concretas: dos 6 aos 12 anos de idade. • Das operações formais: a partir dos 12 anos de idade. O estágio sensório-motor refere-se ao momento que a criança mais necessita de contatos sensoriais que a apresentem ao mundo e proporcionem seu desenvolvimento motor. Nessa fase, inicia-se a capacidade de imitação, tão importante para os processos de apren- der, uma vez que gera novos conhecimentos ao apresentar formas diferentes de agir e interagir. No estágio pré-operatório a criança, agora em fase de educa- ção infantil, tem a capacidade de reconhecer símbolos (base inicial para o processo de alfabetização) e interagir com eles. A representa- ção da realidade e a aprendizagem são externalizadas por meio das brincadeiras de faz de conta e jogos realísticos. Começa nessa fase, também, a regulação das emoções. O estágio das operações concretas é um marco nas questões da ampliação no processo de compreensão de regras e estratégias, que, em forma de brincadeiras, contribuem para sua estrutura de pensamento, que agora está cada vez menos egocêntrica e mais vol- Processos de aprendizagem 13 tada para as interações sociais. A criança tem uma lógica indutiva que consegue relacionar sua experiência com outros fatores apren- didos, por isso, nesse estágio, ocorre um grande amadurecimento no que se refere às estratégias para desenvolver a memória. Com o desenvolvimento desse estágio, a criança já possui base e condições para compreender e interagir com situações-problema e trabalhar com lógica. A maturidade do pensamento abre diversas possibilida- des para a aprendizagem e para ingressar em um mundo adolescen- te, com novos desafios. Já o estágio das operações formais, corresponde ao momento em que todas essas fases já foram superadas e o sujeito possui condições de aprender e interagir com essa aprendizagem de diferentes formas na sua vida prática Cada um desses estágios representa um marco no desenvolvi- mento humano em ampliação de capacidades motoras, cognitivas e afetivas. Por isso, requer atenção especial nos momentos de estímu- los a serem trabalhados, para levar a criança à evolução das fases. Mas e quando esse desenvolvimento não ocorre dentro do espe- rado? E quando aparecem lacunas ou dificuldades? Essas são ques- tões que abordamos na sequência, buscando compreender esses obstáculos e saber como agir diante deles. Para complementar as ideias apresentadas nesta seção, recomendamos a leitura do livro Como se aprende? Estratégias, estilos e metacognição, de Evelise Portilho. O livro tem como foco diferentes noções do entendimento do conceito de aprendizagem e suasdiferentes possibilidades. PORTILHO, E. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. Livro 1.2 O cérebro e a aprendizagem Vídeo Já sabemos que ao pensarmos em aprendizagem podemos imagi- nar todos os fatores que estão envolvidos nesse processo. Esses fato- res podem ser sociais, escolares, emocionais e de estímulos do meio. No entanto, para compreender como a aprendizagem ocorre, é neces- sário discutirmos sobre o cérebro e o sistema nervoso central (SNC). Podemos, inicialmente, relacionar a aprendizagem à memória, que é uma das principais habilidades proporcionadas pelo SNC. A partir do momento que o que foi vivenciado se torna parte da nossa memória, é possível considerarmos que ocorreu a aprendizagem. O aprender se torna significativo no momento em que se modificam os mecanismos do sistema nervoso central. Relacionar a aprendiza- gem com o desenvolvi- mento cerebral. Objetivo de aprendizagem 14 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Im ag eF low /S hu tte rs to ck Porém, a aprendizagem é determinada também pelo número de neurônios disponíveis. Todos somos capazes de aprender, e, no caso dos seres humanos, esse número é suficiente para permitir a formação de novas conexões que possibilitam a aprendizagem. A essas novas conexões damos o nome de sinapses. Desde o nasci- mento e durante o processo de desenvolvimento humano muitas sinapses acontecem a favor da aprendizagem, principalmente nos primeiros anos de vida, quando a produção de neurônios é rápida e crescente. Do nascimento aos 2 anos de idade é o momento em que mais ocorre a produção de neurônios. Em outros termos, esse é o momento de maior facilidade para assimilação de novas experiências. Esse desenvolvimento transcorre gradativamen- te, e por volta dos 6 anos de idade o cérebro atinge seu tamanho final. A partir daí seu de- senvolvimento vai ocorrendo de maneira mais lenta. É por essa razão que é importante estimular a criança até essa faixa etária, por ser mais fácil de o cérebro se mo- dificar. Sendo o SNC responsável pelo funcionamento cognitivo, os estímulos serão reflexos do desenvolvimento para a vida toda. M at tL ph ot og ra ph y/ Sh ut te rs to ck Processos de aprendizagem 15 Por isso, é importante sabermos também que o funcionamento cognitivo se desenvolve no córtex, o qual possui zonas específicas, denominadas lobos, em cada um dos dois hemisférios cerebrais (Fi- gura 1). Figura 1 Desenvolvimento dos neurônios do nascimento até os 2 anos Lobo frontal Lobo parietal Lobo occipital Bi gM ou se /S hu tte st oc k Lobo temporal Al ex S wi m /S hu tte rs to k Frontal: responsável pelo pensamento, planejamento, decisão, juízo, criatividade, resolução de problemas, comportamento, valores, hábitos. Parietal: responsável pela informação sensorial (tato, dor, gustação, pressão, temperatura). Temporal: responsável pela audição, linguagem, memória e emoção. Occipital: responsável pela informação visual. Fonte: Elaborada pela autora. O desenvolvimento dessas habilidades será por meio das experiên- cias vividas e dos estímulos proporcionados para a criança ao longo de seu crescimento. 16 Transtornos e dificuldades de aprendizagem A modificação na função cerebral depende das experiências vividas e dos estímulos investidos na primeira infância. A atenção ao desenvolvi- mento nesse momento é essencial para o amadurecimento do cérebro. Se o cérebro determina a maneira e a qualidade da capacidade de aprendizagem de uma criança, ter o conhecimento de como essa apren- dizagem pode ser otimizada, por meio de estratégias neuroeducativas, é uma ideia desejável (MAIA, 2011). Essa ideia justifica a aproximação da neurociência com a educação, a qual pode ser considerada algo re- cente e que vem trazendo ótimas experiências para aqueles que traba- lham com a aprendizagem. De que se tratam essas estratégias neuroeducativas? Inicialmente, trata-se de conhecermos as áreas de nosso cérebro responsáveis pela aprendizagem. Algumas delas são citadas por Levine (2003): • Controle da atenção: capacitar para a concentração de recursos mentais. • Controle da recepção: capacitar para retardar a recompensa e se tornar processador ativo da informação. • Controle da expressão: capacitar para pensar sobre alternativas. • Ordenação sequencial: capacitar para agir passo a passo. • Orientação espacial: capacitar para se engajar no pensamento não verbal produtivo. • Memória: capacitar para usar seus arquivos 1 de modo consciente. • Linguagem: capacitar para se tornar comunicador verbal eficiente. • Motricidade: capacitar para um nível satisfatório de eficiência motora. • Pensamento social: capacitar para compreender as habilidades interpessoais. • Pensamento superior: capacitar para se tornar analista concei- tual, criativo, sistêmico e crítico. Para ampliar e sistema- tizar os conhecimentos desta seção, recomenda- mos o vídeo Neurociência na aprendizagem escolar, do canal Gabriel Sathler, com a fala da Professora Marta Relvas. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=M5F2S5D5CDE. Acesso em: 21 set. 2021. Vídeo A palavra arquivos nesse contexto, se refere a todas as informações que o indivíduo vivenciou e guarda em sua memória. Um arquivo de suas recor- dações e aprendizagens. 1 Para ampliar e sistematizar os conhecimentos dessa sessão, recomendamos o vídeo Neurociência na aprendizagem escolar, do canal Gabriel Sathler, com a fala da Professora Marta Relvas, intitulado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=M5F2S5D5CDE. Acesso em: 10 set. de 2021. Para ampliar e sistematizar os conhecimentos dessa sessão, recomendamos o vídeo Neurociência na aprendizagem escolar, do canal Gabriel Sathler, com a fala da Professora Marta Relvas, intitulado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=M5F2S5D5CDE. Acesso em: 10 set. de 2021. Para ampliar e sistematizar os conhecimentos dessa sessão, recomendamos o vídeo Neurociência na aprendizagem escolar, do canal Gabriel Sathler, com a fala da Professora Marta Relvas, intitulado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=M5F2S5D5CDE. Acesso em: 10 set. de 2021. Processos de aprendizagem 17 Jacob Lund/Shutterstock Conhecer essas competências cognitivas e saber estimulá-las fará toda a diferença para a aprendi- zagem; essa, vale ressaltar, é uma preocupação daqueles que tra- balham com a aprendizagem. As competências cognitivas podem ser desenvolvidas por meio de estímu- los que constituem o desenvolvi- mento humano, conforme veremos no tópico a seguir. 1.3 Estímulos para a aprendizagem Vídeo Já sabemos da importância e da necessidade de desenvolver atenção, recepção, expressão, ordenação espacial e sequencial, memória, linguagem, motricidade e pensamento social e superior para que a aprendizagem aconteça. Para isso, podemos entender os estímulos como um fator que impulsiona e incentiva o ser humano a aprender. Esses estímulos estão presentes no meio em que vivemos e podem ser experien- ciados por meio de brincadeiras, jogos, trocas de afeto, conversas e outras situações que motivem a criança em todas as fases do de- senvolvimento. Esses estímulos precisam estar presentes em todos os ambientes de convívio da criança, ou seja, tanto em casa, com a família, quanto na escola. Situações educativas por meio desses momentos vão fazendo parte de um ambiente motivador e estimulante, que leve a criança a aprender de maneira tranquila, espontânea e contínua, e tam- bém a armazenar e transformar o que vivenciou em seus momen- tos de aprendizagem. Por meio dos estímulos, desde o primeiro ano de vida, a criança passa a se identificar como ser ativo no ambiente e a identificar o outro. “É por meio dos primeiros cuidados que a criança per- cebe seu próprio corpo como separado do outro, organiza suas emoções e amplia seus conhecimentos sobre o mundo” (BRASIL, 1998, p. 15). Reconhecer os diferentes estímulos de base para a aprendizagem. Objetivo de aprendizagem18 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Zalena Photo/Shutterstock Sabemos que esses primeiros cuidados podem ser trata- dos como estímulos e que eles afetam diretamente a formação da personalidade da criança, bem como abre portas para sua predisposição ao aprender. Nossas funções cerebrais estão abertas a esses estímulos, prin- cipalmente na infância, fase em que os neurônios estão aguar- dando por novas experiências e novos estímulos que os façam aprender e se desenvolver. Porém, devemos ter ciência de que a quantidade de estímulos é adequada e dosada conforme o crescimento e o desenvolvimento da criança. O indicador da faixa etária traz diferentes possibilidades de trabalho; um exemplo é a fase até os 6 meses de idade, em que o toque é de grande importância. Uma possibilidade é trabalhar com brincadeiras que envolvam o corpo, como massagens suaves nos braços e pernas, e trabalhar estímulos auditivos por meio de chocalhos e outros brinquedos que proporcionem diferentes sons. Aproximadamente a partir dos 6 meses a 1 ano de idade, a crian- ça já pode ser estimulada a segurar objetos e sentir diferen- tes texturas, sentar, engatinhar, andar com apoio, montar e desmontar cubos. Do primeiro até aproximadamente o segundo ano de idade, a criança já começa a correr, subir e descer escadas, empilhar blocos, montar e desmontar. Per- cebe-se até aqui que a aquisição de habilidades por meio dos estímulos é gradativa e depende da finalização da fase anterior para que a próxima venha a acontecer. O desenvolvimento motor se torna cada vez mais visível. Dos 2 aos 3 anos de idade a criança já pedala, dança, rabisca linhas horizontais e tem capacidade de participar da organização de brinque- dos. Esses estímulos são essenciais para a elaboração prévia de uma organização mental, que mais tarde refletirá em seus costumes na or- ganização dos estudos e do planejamento de seu dia a dia. Já dos 3 aos 4 anos de idade, a criança deve ser estimulada a pu- lar com desenvoltura, desenhar pessoas (ainda incompletas) e come- çar a copiar e se interessar por letras. O faz de conta de escrever traz a primeira expectativa em transformar suas mensagens em escrita. Nessa faixa etária, a criança também monta e desmonta pequenos quebra-cabeças. Processos de aprendizagem 19 Do quarto ao sexto ano de idade, a criança tem a habilidade e pode ser estimulada a permanecer em um pé só, além de já desenhar pessoas completas, escrever letras e reconhecer diferentes pesos e tamanhos. Essas simples habilidades, ao serem estimuladas na fase certa, trazem um grande diferencial para a concretização das bases para a aprendi- zagem. No entanto, devemos ter a ciência de que esses estímulos são apenas alguns exemplos do que cada criança é capaz de desenvolver em cada fase, se estimulada. O ser humano é formado por elementos mais complexos, que necessitam de estímulos diferenciados para se desenvolver. Nessa perspectiva podemos considerar os seguintes estímulos: Pu ck un g/ Sh utterstock São aqueles relacionados ao desenvolvimento emocional da criança, a maneira como se sente e lida com as emoções durante sua interação, seus sentimentos, seus desejos e suas ansieda- des. Os estímulos afetivos são importantes e necessários, uma vez que a criança precisa aprender a lidar com cada um deles. Estímulos afetivos Cu be 29 /S hu tterstock Coordenação motora, lateralidade e o psicomotor, estão voltados aos movimentos. Além de aprimorar o conhecimento do próprio corpo e o ritmo dele, auxilia na socialização e são pré-requisitos importantes para o desenvolvimento da escrita. Estímulos físicos Al in aP ol in a/ Sh utterstock Compreendem a base para a aprendizagem: a atenção, a memó- ria, a criatividade, a curiosidade, a linguagem, os pensamentos, a observação, a leitura e o raciocínio. O desenvolvimento desses fatores dá suporte para as ações de pensar, refletir, desenvolvi- mento do senso crítico e enriquecimento de ideias. Estímulos cognitivos Su do wo od o/ Sh utterstock Trata-se do desenvolvimento dos sentidos auditivo, visual, olfati- vo, tátil e gustativo. Esses estímulos aprimoram a leitura de mun- do da criança, são base para a aprendizagem por contribuirem para a construção do conhecimento e da personalidade. Estímulos sensoriais Percebemos, assim, o quanto os estímulos são necessários e es- senciais para desenvolver diferentes habilidades na criança, e que esse trabalho em cada fase cria uma base que sustentará toda a aprendizagem humana. Com o filme Ao mestre, com carinho, você conhe- cerá a história de Mark Thackeray, um engenheiro desempregado que resol- ve dar aulas em Londres, para alunos brancos, em uma escola no bairro operário de East End. Os alunos são indisciplina- dos, desordeiros e estão determinados a destruir suas aulas. Porém, Thackeray enfrenta o desafio e, ao receber um convite para voltar a atuar como engenheiro, precisa decidir se pretende seguir como mestre ou voltar ao antigo cargo. Podemos relacioná-lo com a habi- lidade do professor de focar o estilo de cada um aprender a se desenvol- ver e mudar suas formas de pensar e agir. Direção: James Clavell. Inglaterra: Columbia British Productions, 1967. Filme 20 Transtornos e dificuldades de aprendizagem E quando os estímulos são empregados de maneira inadequada? Ou, então, esses estímulos não ocorrem? A falta de estímulo, seja por qualquer motivo, pode causar pre- juízos para o desenvolvimento infantil, pois leva à perda de expe- riências necessárias para cada idade. Por exemplo, a criança que em casa brinca pouco terá mais dificuldade para interagir com diferen- tes objetos, socializar e até mesmo explorar diferentes formas de brincar na escola. É por essa razão que ações voltadas aos estímulos afetivos, cogni- tivos, físicos e sensoriais devem ser trabalhadas de modo integrado e contínuo ao longo do desenvolvimento da criança. Isso deve con- tribuir para a formação de sua personalidade, para a construção do conhecimento e para torná-la mais ativa, motivada a realizar tarefas com autonomia e confiança em si. O desenvolvimento de apenas um estímulo e a defasagem de outros não garante a aprendizagem e o desenvolvimento de maneira efetiva. 1.4 Afetividade e aprendizagem Vídeo Os bons relacionamentos, a troca de ideias positivas, sentir-se aco- lhido e parte de um meio social são sentimentos que fazem bem ao ser humano. Todas essas ações envolvem e podem ser representadas por uma palavra: afeto. Você já parou para pensar qual o verdadeiro sentido da palavra afeto? E por que a afetividade está relacionada à aprendizagem? Para Antunes (2008), o ser humano nasce extremamente imaturo o que afeta suas chances de sobrevivência, dessa forma, necessita da presença do outro, e essa necessidade chamamos de amor. O instinto de sobrevivência e a percepção da necessidade de proteção despertam esse sentimento na mãe e no pai, gerando a reciprocidade desse amor, e isso denominamos de afetividade. Esse sentimento implica viver em grupo, expandindo a afetividade de um para o outro. Compreender a importân- cia da afetividade para a aprendizagem. Objetivo de aprendizagem Processos de aprendizagem 21 Nesse sentido, podemos relacionar a palavra afeto ao ato de cuidar, afetar a ponto de interferir em seu processo de aprender e interagir. Es- ses momentos, em que o ato de afetar se apresenta ao indivíduo, podem causar também sensações, as quais será necessário afetar a fim de ensi- nar a lidar, por exemplo, ao se frustrar, contrariar para, então, consequen- temente aprender a lidar com sentimentos negativos também. Dessa forma, a afetividade pode ser considerada uma dinâmica relacional, que proporciona crescimento e aprendizagem de diferentes situações. A afetividade é algo extremamente relevante na vida das pessoas desde o nascimento, e deve ser considerada como fator importante na construção da autoestima, pois é por meio dela que adquirimos con- fiançano modo de pensar e agir, na forma como resolvemos e enfren- tamos problemas. A autoimagem bem construída leva à confiança de se relacionar e de aprender. Assim, a escola constitui-se como um importante ambiente de tro- cas e construção de afetividade. Sabemos que o professor, desde mui- to cedo, representa uma referência para a criança e que uma relação positiva entre eles traz ao aluno a sensação de maior valor, confiança e aprovação para o que executa. Além disso, proporciona liberdade de interação, alegria e entusiasmo para buscar conhecimento. Esse é o verdadeiro sentido do ato de afetar. A afetividade está relacionada à preocupação com o próximo, com sua aprendizagem e bem-estar, além de tornar próximo e acessível esse momento de desenvolvimento. De acordo com Antunes (2008), o professor muitas vezes é quem melhor pode ajudar o aluno a desenvolver e descobrir suas qualidades e seus talentos, surpreender-se com a responsabilidade, a disciplina e a felicidade. O papel da escola é fundamental no desenvolvimento so- cioafetivo da criança, ela auxilia no estabelecimento da relação com o outro para o desenvolvimento da aprendizagem. Nossa vida afetiva, desenvolvida em diferentes ambientes inclusive no escolar, faz-nos também assimilar valores ao longo da vida. Para Wallon (1978) – um dos principais estudiosos sobre a afetividade –, é partindo de suas próprias experiências que a criança se torna capaz de distinguir e reconhecer aquilo que está ou não de acordo com suas ex- pectativas e necessidades, levando, consequentemente, ao aprendizado. Wallon (1978) ressalta a importância das experiências para a apren- dizagem. Lidar com elas é uma construção que envolve afetividade, pois esta impulsiona a ação e leva à concepção da inteligência, além de O livro Afetividade e aprendizagem: contri- buições de Henri Wallon discute a afetividade no cotidiano escolar, apresentando pesquisas que se apoiaram na teoria de desenvolvimento de Henri Wallon. Segundo os estudos destacados, em todos os níveis de ensino – do fundamental ao superior –, alunos e professores se expressam por inteiro com cognições, sentimentos e movimen- tos. Assim, o processo de ensino-aprendizagem se enriquece à medida que considera a integração cognitiva-afetiva-motora. ALMEIDA, L. R. A.; MAHONEY, A. A. São Paulo: Loyola, 2007. Filme 22 Transtornos e dificuldades de aprendizagem possibilitar ao ser humano como identificar os desejos e sentimentos que o levarão ao sucesso diante de suas ações e decisões. O sentimento de insucesso e reprovação de suas capacidades com- promete o desempenho ao aprender, impossibilitando a espontanei- dade e a forma de se desenvolver. Valorizar o desempenho da criança torna-se, assim, o papel principal do professor e de outros profissionais que a acompanham e da família, lembrando que cada um aprende e se desenvolve à sua maneira. 1.5 Estilos de aprendizagem Vídeo Cada ser humano é único em sua forma de ser, pensar, agir e aprender. Você já parou para pensar qual é seu estilo de aprender? Como e por qual cami- nho assimila melhor os conhecimentos? Essas individualidades são percebidas desde a infância e se des- tacam ainda mais à medida que o ser humano vai se desenvolvendo e passando por diferentes experiências que o aproximam das for- mas que para ele são as mais fáceis de aprender, pois as diferenças pessoais se acentuam com o passar do tempo, sendo mais evidentes na vida adulta. Essas diferenças são caracterizadas devido aos estímulos e ao desen- volvimento pelo qual essa pessoa passou. Entendemos o termo estilos de aprendizagem – que ainda se apresenta como algo amplo – como um objeto de pesquisas e novas possibilidades a cada investigação. De acordo com algumas teorias, existem pessoas que respondem melhor a alguns estímulos, ou seja, a maneira como elas compreen- dem algo quando é ensinado se difere uma da outra. Ao longo da vida, as pessoas estão em constante processo de aprendizagem. Para alguns, esse processo é mais fácil de ser assimi- lado, para outros, nem tanto, ou pelo menos não encontraram sua forma específica de aprender. Identificar os diferentes estilos de aprendizagem. Objetivo de aprendizagem Processos de aprendizagem 23 Considerando que a aprendizagem é um processo individual (cada ser humano aprende à sua maneira), por mais que ocorra com influên- cia da coletividade, estabelece, com ela, conexões de maneira única e de acordo com seu próprio desenvolvimento. Para compreendermos melhor esses estilos de aprendizagem, par- tiremos dos conceitos originais dos estudos de Neil Fleming e Charles Bonwell (apud PORTILHO, 2011). Os estilos são divididos em quatro gru- pos: visual, auditivo, leitura e escrita e cinestésico, descritos a seguir. 1. Visual: maior facilidade para aprender com estímulos visuais, por meio de gráficos, tabelas, mapas mentais, listas, que possibilitem a visualização e a assimilação da informação. Geralmente também expressam melhor o que sabem por meio de resoluções visuais. 2. Auditivo: ouvir vai de encontro a esse perfil. Como a leitura nem sempre pode ser suficiente, realizá-la em voz alta para estimular a sensibilidade auditiva para conseguir memorizar, contar sobre o que aprendeu e discutir sobre esses temas também são boas estratégias de aprendizagem. 3. Leitura e escrita: a escrita aparece como um fator em destaque. Esse estilo consegue representar com facilidade suas ideias na forma escrita, com textos e redações, por exemplo. Também conseguem assimilar com mais facilidade por meio de anotações escritas no momento de aprender. 4. Cinestésico: esse perfil precisa aprender na prática, com estímulos externos para compreender novas aprendizagens. As experiências concretas estão relacionadas a simulações, demonstrações e dinâmicas. É importante ressaltarmos que essa teoria também considera que existem pessoas multimodais, ou seja, pessoas que, no momento da aprendizagem, se adaptam a qualquer um dos estilos que a elas pos- sam ser oferecidos. Outra teoria, também dividida em quatro grupos, é a de David Kolb (1984). Para o autor, esses estilos se dividem em adaptadores ou aco- modadores, assimiladores, divergentes e convergentes; que podem ser representados por meio da Figura 3. 24 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Experiência concreta Conceitualização abstrata Conhecimento divergente Conhecimento assimilador Observação reflexiva Experimentação ativa Conhecimento adaptativo Conhecimento convergente ApreensãoApreensão CompreensãoCompreensão Ex te ns ão Ex te ns ão Intenção Intenção Figura 2 Formas de conheci- mento dos estilos de aprendizagem Fonte: Adaptada de Kolb, 1984. Vamos compreendê-los de modo mais detalhado: • Adaptadores ou acomodadores: são pessoas que aprendem por meio de experiências de tentativa e erro. Utilizam mais a in- tuição do que a lógica. • Assimiladores: preferem trabalhar com as teorias e não tanto com a prática. Possuem habilidades com ideias abstratas e núme- ros. São menos sociáveis e preferem analisar e refletir sozinhos. • Divergentes: têm criatividade e imaginação, elaboram diferentes teorias com base em uma mesma situação. Trabalham bem em grupo e gostam de diferentes sensações e observações. • Convergentes: maior facilidade para praticar suas ideias, tomar decisões e resolver problemas. Dentro desses diferentes estilos, tratados em diferentes teorias, cabe ressaltarmos que o trabalho com eles é sempre uma tarefa desa- fiadora, uma vez que adaptações precisam ser realizadas para alcançar cada forma diferente de aprender. CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos neste capítulo o quanto o processo de aprender é complexo e, ao mesmo tempo, tão especial. Ao envolvermos diferentes possi- bilidades de aprendizagem, podemos relacioná-la com o desenvolvi- Como momento de aprofundamento desta seção, convidamos você a analisar as características de sua forma de aprender assistindo ao vídeo Tiposde aprendizagem: que tipo de aluno você é?, do canal Professor Ricardo Alencar Matemática. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=pIyMc2yz1CM. Acesso em: 21 set. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=pIyMc2yz1CM https://www.youtube.com/watch?v=pIyMc2yz1CM https://www.youtube.com/watch?v=pIyMc2yz1CM Processos de aprendizagem 25 mento do sistema nervoso central e a importância dos estímulos que tornam esse processo mais ativo, além da afetividade, a qual torna o indivíduo mais confiante e disposto a aprender. Devemos considerar o fato de lidar com os obstáculos que possam surgir e, com isso, tam- bém conhecemos os estilos de aprendizagem, o quais nos tornam tão únicos e especiais ao seu modo de desenvolver a aprendizagem. Compreender todos esses caminhos que levam à aprendizagem nos traz uma base para seguirmos em busca da compreensão dos fatores que apresentam as dificuldades e os obstáculos durante esse processo. ATIVIDADES Atividade 1 Discutimos, no início do capítulo, que existem duas concepções de aprendizagem: a comportamentalista e a cognitivista, que nos levaram a refletir sobre como acontece a aprendizagem. Vimos, ainda, que a psicologia trouxe grande contribuição para a aprendizagem escolar. Relate qual foi essa contribuição e exponha sua opinião sobre essa modificação. Atividade 2 Conhecemos e analisamos as diferentes formas de estímulos necessárias para que o desenvolvimento humano e a aprendiza- gem aconteçam. Escreva quais são essas formas de estímulos. Destaque e comente aquela que, pessoalmente, torna-se a mais relevante para o desenvolvimento da criança. Atividade 3 Pudemos conhecer e refletir sobre a importância da afetividade para a aprendizagem. Dentre os aspectos que a compõem, conhecemos Wallon, um dos maiores estudiosos do tema. Conceitue o que é a afetividade para Wallon e relate uma experiência afetiva que marcou seu processo de aprendizagem ao longo de seu desenvolvimento. REFERÊNCIAS ANTUNES, C. Como ensinar com afetividade. São Paulo: Ática, 2008. BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: formação pessoal e social. Brasília, DF: MEC; SEF, 1998. v. 2. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/ pdf/volume2.pdf. Acesso em: 15 set. 2021. KOLB, D. Experiential learning. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1984. LEVINE, M. Educação Individualizada. Rio de Janeiro: Campus, 2003. MAIA, H. Funções cognitivas e aprendizagem escolar. In: MAIA, H. (org). Neurociência e desenvolvimento cognitivo. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011 PORTILHO, E. Como se aprende? Estratégias, Estilos e Metacognição. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. WALLON, H. Do ato ao pensamento. Lisboa: Moraes, 1978. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf 26 Transtornos e dificuldades de aprendizagem 2 Dificuldades de aprendizagem O processo de aprendizado leva tempo para ocorrer, mas e quando ele não acontece como esperado? Neste capítulo refletiremos sobre esses momentos de desenvolvimento. Cada ser humano é único em sua forma de ser, agir, pensar e aprender. Essas diferenças são produtivas para a ampliação de conhecimento e socia- lização. No entanto, algumas vezes, surgem no processo de aprendizagem em forma de obstáculos que precisam ser diagnosticados, vistos e orien- tados de modo correto e significativo para a criança, fazendo com que ela aprenda e desenvolva-se normalmente. As dificuldades ou os transtornos de aprendizagem, como dislexia, discalculia, entre outros, surgem por fatores pedagógicos, sociais e cul- turais. Ainda podem ser genéticos e neurológicos, ou seja, acompanham a pessoa desde o nascimento. É preciso que, independentemente de sua ordem, esses fatores sejam compreendidos por todos os envolvi- dos com o trabalho na escola e fora dela. Em todas as situações que envolvam dificuldades é crucial contar com profissionais de apoio que auxiliem no convívio social, em adequações no ambiente e, em alguns casos, no mercado de trabalho. Conheceremos a definição e os principais elementos que caracterizam a dislexia, a disortografia, a disgrafia e a discalculia e, dessa forma, busca- remos, durante o estudo, fazer conexões com fatos ocorridos em sala de aula, de modo a auxiliar o trabalho do professor. Analisaremos as principais dificuldades de aprendizagem, a fim de que você consiga ampliar o seu olhar para as pessoas que apresentam essas dificuldades. 2.1 Dificuldades de aprendizagem: causas e tipos Vídeo É de extrema importância que compreendamos a nomenclatura do que estamos estudando ao nos referirmos a dificuldades, transtornos ou distúrbios de aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem, tema deste capítulo, são aquelas que apresentam barreiras e defasagens para o desenvolvi- Bi lli on P ho to s/ Sh ut te rs to ck Ka m el ia Il ie va /S hu tte rs to ck mento da aprendizagem. Surgem no percurso, devido ao fato de que algo ficou para trás na automatização e aquisição da aprendizagem. Porém, segundo Fonseca (1995), a criança com dificuldade de aprendizagem não deve ser vista como deficiente, mas sim como uma criança como qualquer outra, que apresenta um ritmo diferente, uma defasagem ou algo diferenciado na forma de aprender. Questões sociais, culturais, afetivas, de vínculo escolar e de adaptação a metodologias podem ter influência nas dificuldades e nos problemas ao aprender a ler, escre- ver, calcular, falar, se organizar e até mesmo socializar. Já os transtornos de aprendizagem ou distúr- bios de aprendizagem têm origem genética ou neurológica, acompanhando o indivíduo por toda a vida. Ao longo do desenvolvimento, característi- cas consideradas diferentes, ou seja, que nem sempre estão de acordo com a faixa etária da criança, vão sendo percebidas, e a falta de manejo 1 desses distúrbios gera dificuldades de aprendizagem. Vamos usar como exemplo uma criança disléxica. Na escola ela é obrigada a escrever muitas vezes as mesmas informações para superar seus erros. Ocorre que se a escola não possui o diagnósti- co e não traça formas de trabalho adequadas, a criança irá escrever incessantemente, sem ter de fato alguma mudança em sua apren- dizagem. Essa atitude, na verdade, causa cansaço e frustração, e a criança continuará cometendo erros, pois precisa de outro tipo de abordagem. Isso acaba gerando um constrangimento que, aliado aos demais sentimentos, não agrega à aprendizagem. É necessário co- nhecer as características do sujeito disléxico e desenvolver práticas que realmente o auxiliem em sua caminhada escolar. Reconhecer as causas e os tipos de dificuldades de aprendizagem. Objetivo de aprendizagem A falta de manejo refere-se às diferentes estratégias que podem ser utilizadas na escola, as quais buscam uma solu- ção equivocada para pro- blemas de aprendizagem. 1 Dificuldades de aprendizagemDificuldades de aprendizagem 2727 28 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Por isso, o diagnóstico e a intervenção precoces são o melhor ca- minho para proporcionar um bom desenvolvimento a essas crianças. Para o diagnóstico, é necessária a avaliação psicopedagógica, que será o ponto de partida para a compreensão das características cogniti- vas da criança. Assim que ocorre o diagnóstico, professores e famílias podem ser orientados para trabalhar adequadamente e proporcio- nar, com base nas dificuldades desses alunos, o desenvolvimento e a aprendizagem. Uma criança com problemas atencionais, por exemplo, tem dificuldade em manter o foco por muito tempo em uma mesma tarefa, desse modo, a estratégia deve proporcionar atividades de curta duração para aproveitar melhor seu tempo de concentração. De acordo com Morais (2006, p. 23), “deve ficar claro que a aprendi- zagem da leitura e escrita é um processo complexo, que envolve vários sistemas e habilidades (linguísticas, perceptuais, motoras, cognitivas), e não se pode esperar, portanto, que um determinadofator seja o único responsável pela dificuldade de aprender”. Nesse sentido, a criança com dislexia não deve ser vista apenas como aquela que possui um fator de desordem no seu desenvolvimen- to, e sim como alguém que tem uma série de habilidades que apenas estão desalinhadas e devem ser acompanhadas e estimuladas para o processo de aprendizagem. Por isso, após diagnosticados e identificados quais fatores sus- tentam o desenvolvimento e quais estão impedindo a aprendizagem (motor, linguístico, afetivo, cognitivo ou perceptual), todo o trabalho di- recionado a essa criança passa por uma reestruturação. Esse processo se dá na adequação escolar do currículo e de metodologias que otimi- zem o desenvolvimento da aprendizagem e socialização. Existem muitas dificuldades e transtornos que podem nascer com a criança ou surgir ao longo do seu desenvolvimento, como a dislexia, a discalculia, a disgrafia e a disortografia. Além disso, a ausência de estímulos de habilidades básicas an- tes do período de alfabetização pode ocasionar dificuldades para aprender, pois deixa de trazer bases importantes para que esse aprendizado aconteça. No quadro a seguir podemos verificar essas habilidades básicas. Dificuldades de aprendizagem 29 Quadro 1 Habilidades básicas Habilidade Definição Exemplo Imagem corporal Consciência do próprio corpo e sua interação com o mundo Relacionada à sua identificação do espaço (consigo pular? É alto para mim?). Orientação espacial Distinção de sua posição no espaço e relações espaciais que ocupa A organização dos próprios materiais e do local que ocupa tem relação com essa habilidade. Orientação temporal Duração e sucessão Reflete na organização com relação ao tempo (se consegue fazer as coisas no prazo de uma aula, por exemplo). Ritmo Duração sonora O ritmo de sons trabalhado desde os primeiros anos escolares auxilia mais tarde no ritmo de leitu- ra e no reconhecimento dos sons das letras. Memória visual Reter com exatidão a curto ou longo prazo o que foi visualizado Olhar e reter a informação auxilia no reconheci- mento da escrita das palavras (se é com s ou z, por exemplo). Coordenação visomotora Visão e movimentos do corpo integrados A criança movimenta a cabeça para olhar para o quadro e copiar uma informação ao mesmo tem- po sem perder a informação que leu. Memória cinestésica Movimentos motores necessários para a escrita Auxilia o engajamento da criança no manuseio de objetos menores, como o lápis na escrita. Habilidades auditivas Condução das informações gráficas até o cérebro Essa habilidade reflete a compreensão sonora das letras e auxilia na boa escrita ortográfica. Linguagem oral Etapa anterior à linguagem escrita; desenvolvimento da fala Falar com clareza e corretamente para conse- quentemente escrever bem. Fonte: Elaborado pela autora. Um exemplo da utilização prática dessas habilidades é o que a criança precisa adquirir antes de aprender a ler e escrever. A falta de um desses elementos pode gerar problemas de aprendizagem. Para ler e escrever, a criança precisa: Aprender a falar Ol lyy /Shutterstock Desenvolver a noção espacial para o registro Studio Rom antic/Shutterstock Diferenciar tamanhos An dr ey _P opov/Shutterstock Criar interesse pelo mundo letrado Sharom ka/Shutterstock O livro Dificuldades de aprendizagem de A a Z: um guia completo para pais e educadores, de Corinne Smith e Lisa Strick, é uma ótima opção para ampliar seus conhecimentos sobre as dificuldades de aprendizagem. As autoras apresentam de maneira didática cada dificuldade, sua origem e possibilidades de adequação de trabalho para cada uma delas. Porto Alegre: Artmed, 2012. Livro 30 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Esses prerrequisitos são temas abordados na Educação Infantil e estendem-se por boa parte do Ensino Fundamental, por serem parte de um processo de desenvolvimento. São extremamente necessários para que outras aprendizagens ocorram e funcionam como base de sustentação para o ato de aprender. Portanto, conhecer as diferentes dificuldades de aprendizagem e saber como lidar com cada uma delas é um desafio constante para o profissional que trabalha com a educação. 2.2 Dislexia Vídeo A dislexia é uma das dificuldades mais conhecidas, e somente no sé- culo XX passou a ser vista com a abrangência que possui. Vinda do grego dislexia – dis (dificuldade) e lexia (linguagem) – significa falta de habilidade na linguagem, que se reflete na leitura e na escrita. Desse modo, a dislexia não é considerada uma doença, e sim uma for- ma diferente de o cérebro funcionar e compreender a linguagem. Trata-se de uma questão neurológica, visto que atualmente exames de diagnóstico de imagem do cérebro mostram o processamento de informação dos dis- léxicos de uma maneira distinta, tornando possível sua forma de aprender diferente por meio de suas próprias habilidades. Por isso, a dislexia é classificada como um distúrbio neurológico que não prejudica o potencial cognitivo da criança, apenas torna diferen- te seu caminho de aprender a ler, escrever e decodificar a leitura e a escrita. Por ser neurológica, a dislexia demonstra alguns sintomas (Fi- gura 1) mesmo antes da fase de alfabetização, os quais devem ser observados pela família e escola. Se uma dificuldade está direta- mente ligada à leitura, à escrita e VL AD GR IN /S hu tte rs to ck Dificuldades de alfabetização Problemas de orientação espacial Dificuldade na coordenação motora fina Lentidão acima do normal durante o processo de alfabetização Problemas para ler e escrever Figura 1 Sintomas da dislexia infantil Conhecer as característi- cas da dislexia. Objetivo de aprendizagem wa ve br ea km ed ia /S hu tte rs to ck à sua compreensão e se ela se manifesta em outras áreas da aprendi- zagem essenciais para o desenvolvimento da criança, a dislexia passa a ser alvo de interesse de professores e todos os profissionais que traba- lham e intervêm nessa área. De acordo com Morais (2006, p. 41), “a dislexia é um termo que se refere às crianças que apresentam sérias dificuldades de leitura e, con- sequentemente, de escrita, apesar do seu nível de inteligência ser nor- mal, ou estar acima da média”. Assim, em sala de aula ou em outros momentos de realização de leitura e escrita, o interesse dos profissionais justifica-se. Ao surgirem obstáculos, as atividades de leitura e escrita não devem ser entendi- das como algo que o aluno não quer fazer, ou não se esforça, ou qual- quer outro estereótipo que não contribui para o seu desenvolvimento. Por outro lado, nem todas as dificuldades de leitura, escrita e interpretação devem ser entendidas como dislexia. A busca de um diagnóstico seguro, por meio de uma avaliação psicopedagógica, faz com que seja detectada a real origem dessa dificuldade e, conse- quentemente, leva à maneira correta de intervir e orientar em sala de aula, realizando as adaptações necessárias, sejam curriculares, sejam metodológicas. Diagnosticada por meio de uma avaliação psicopedagógica, a criança deve passar por um apoio externo ao ambiente escolar, com psicopedagogos, fonoaudiólogos e psicólogos, à medida que forem re- comendados no seu diagnóstico. No ambiente escolar esses profissionais, em trabalho conjunto com os professores, deverão traçar as melhores formas de avaliar a criança e intervir em sua aprendizagem. Com o diagnóstico feito (e as devidas adaptações realizadas), inicia-se o processo de com- preensão e aprendizagem da leitura e escrita e adaptações dos alu- nos com dislexia. Compreender o mundo das letras, o som de cada uma delas e suas variações, bem como a consciência fonológica 2 , a jun- ção de sílabas, frases e textos e, assim, sua interpretação, é um caminho a ser trilhado e orientado a cada passo. Entendemos por consciência fonológica a capacidade de refletir sobre a estrutura de pala- vras, sílabas e seus sons, conhecidos como fonemas, e compreendê-la.2 Dificuldades de aprendizagemDificuldades de aprendizagem 3131 32 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Esse caminho de compreensão se inicia na fase da alfabetização, e existe a necessidade de que o trabalho com a consciência fonológica seja intenso, pois a falta de seu reconhecimento é um dos principais fatores presentes na pessoa com dislexia. Segundo Seabra e Capovilla (2004), a consciência fonológica envol- ve a capacidade de identificar, isolar, manipular, combinar e segmen- tar mentalmente e de modo deliberado os segmentos fonológicos da língua. Essa manipulação das palavras faz parte da alfabetização, que nem sempre é tão óbvia. Para as crianças que conseguem compreen- der bem esse processo, geralmente ocorre um bom desenvolvimento da alfabetização no contato com a leitura, escrita e interpretação. Figura 2 Reconhecimento dos sons das letras Ca rla F ra nc es ca C as ta gn o/ Sh ut te rs to ck No entanto, quando ocorre o contrário, desde o início esse cami- nho é difícil demais para a criança. É o momento de observar seu de- sempenho e buscar recursos que possam a auxiliar ou a diagnosticar caso seja disléxica. Dentro dos inúmeros fatores que contribuem, ou não, para o de- senvolvimento da leitura e escrita, segundo Torres e Fernández (2002), podemos destacar alguns tipos de dislexia: • Dislexia visual: dificuldade na percepção visual e coordenação visomotora, não conseguindo visualizar o fonema com clareza. • Dislexia auditiva: dificuldade na percepção e memória auditiva, não conseguindo ouvir com clareza o fonema. • Dislexia disfonética: troca de sons diferentes, alterações na or- dem das letras e sílabas, omissões e acréscimos e maior dificul- dade na escrita do que na leitura. Dificuldades de aprendizagem 33 • Dislexia diseidética: dificuldade na leitura silábica, não conse- guindo realizar a síntese das palavras, e maior dificuldade para a leitura do que para a escrita. • Dislexia mista: combinação de mais de um tipo de dislexia. • Dislexia fonológica: forma leve de dislexia, confusão na realiza- ção da leitura, que apresenta pacientes que podem ler palavras muito bem mesmo sendo disléxicos. Com base no diagnóstico, uma boa estratégia é buscar o que de melhor o disléxico apresenta para que, com base em suas habilidades, outras sejam aperfeiçoadas, levando, então, ao seu desenvolvimento. De acordo com Gonçalves (2005 apud OLIVEIRA, 2011): grande parte da intervenção psicopedagógica estará em buscar talentos do disléxico, afinal os fracassos, sem dúvida, ele já os co- nhece bem. Outra tarefa da clínica psicopedagógica é ajudar essa pessoa a descobrir modos compensatórios de aprender. Jogos, leituras compartilhadas, atividades específicas para desenvolver a escrita e habilidades de memória e atenção fazem parte do processo de intervenção. À medida que o disléxico se percebe capaz de produzir poderá avançar no seu processo de aprendi- zagem e iniciar o resgate de sua autoestima. Sabendo que para o disléxico a recuperação da autoestima é um fa- tor importante, em sala de aula, o professor deve buscar compreendê-lo, ouvi-lo e dar o suporte necessário para seu desenvolvimento. Como complemento de nossas ideias, assista ao vídeo Mentes em pauta – dislexia, do canal Ana Beatriz Barbosa, sobre as características da dislexia. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=qvuSXtQtqv4. Acesso em: 1 dez. 2021. Vídeo 2.3 Disgrafia Vídeo Já sabemos que a dislexia traz dificuldades específicas para a leitu- ra, escrita e sua decodificação, além dos percalços causados por ela. Veremos agora outra dificuldade, a disgrafia, que é importante para a compreensão das dificuldades de aprendizagem. A disgrafia abrange questões que também estão ligadas à escri- ta, porém agora relacionadas ao traçado e à legibilidade. A criança que apresenta disgrafia produz uma escrita quase que ilegível, tanto para ela própria quanto para quem lê. No texto com disgrafia perce- bemos que o traçado das letras possui irregularidades na sua forma e organização do espaço. Identificar o que é disgrafia. Objetivo de aprendizagem https://www.youtube.com/watch?v=qvuSXtQtqv4 https://www.youtube.com/watch?v=qvuSXtQtqv4 https://www.youtube.com/watch?v=qvuSXtQtqv4 34 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Morais (2006) defende que a disgrafia é uma deficiência na qualidade do traçado gráfico, entretanto, não deve causar um déficit intelectual e/ou neurológico. Sabendo que não se trata disso, ao analisarmos suas causas, podemos pensar em algumas especificidades voltadas aos pri- meiros anos de vida, por exemplo, o desenvolvimento da motricidade. Partindo da ideia de que o desenvolvimento motor é necessário para que a criança desenvolva sua coordenação motora fina, é possível relacionar a disgrafia a problemas perceptivo-motores. Para Pereira (2009), a disgrafia envolve: 11 22 33 44 55 66 77 88 99 M ay oC re at ive /S hu tte rs to ck Coordenação geral: capacidade motora de usar o corpo de maneira eficiente. Coordenação motora: capacidade de dominar o corpo e o espaço e controlar seus movimentos. Motricidade ampla: compreende andar, saltar e mexer-se em diferentes direções. Motricidade fina: maneira que usamos os braços, as mãos e os dedos, manipulando objetos de modo preciso. Integração visomotora: coordenação entre a coordenação motora e a percepção visual. Planejamento motor: capacidade de organizar, planejar e executar ações, como desenhar e pedalar. Percepção visual: capacidade do cérebro de compreender, organizar e interpretar estímulos visuais. Atenção sustentada: capacidade de concentrar-se em uma tarefa por determinado tempo sem se distrair. Consciência sensorial dos dedos: habilidade consciente de uso e manuseio das mãos. A coordenação motora fina dá-se por meio de músculos pequenos, como os das mãos e dos pés. Ela é utilizada para desenhar, pintar ou ma- nusear pequenos objetos, realizando movimentos mais precisos e delicados. Lembrete Dificuldades de aprendizagem 35 Sabendo que essas bases são fundamentais para o bom traçado e desenvolvimento da escrita, é fundamental que o professor compreen- da que a letra “feia” pode não estar relacionada ao desinteresse, mas sim à dificuldade ou inabilidade em algumas dessas áreas. Dessa forma, na fase da alfabetização, quando é perceptível a difi- culdade da criança em escrever, o professor precisa estar atento para realizar um trabalho direcionado, buscando melhorar essa questão. É importante lembrar que o desenvolvimento da escrita não se trata de um processo linear. Pelo contrário, na maioria das escolas, a criança inicia o processo de alfabetização com a letra caixa-alta, também conhe- cida como letra de forma, e faz a transição no ano seguinte para a letra cursiva. Essa mudança, após o amadurecimento dos primeiros contatos com as letras, deve ser gradativa e repleta de estímulos que direcionem a criança para o escrever correto e legí- vel. Nesse momento, as dificuldades ou facilidades tornam-se muito pessoais entre os sujeitos, que devem ser orientados e auxiliados de acordo com a demanda que cada um apresenta. Alguns fatores ainda podem contribuir forte- mente para que a disgrafia ocorra ou se agrave, como: • Falta de organização da página: ligada à orientação espacial, apresenta margens malfeitas ou inexistentes e espaços inade- quados entre as palavras. • Letras mal organizadas: a criança não consegue se adaptar a nenhum sistema caligráfico (pode ser no formato de letra de im- prensa ou letra cursiva) e o traçado apresenta-se fora do padrão. • Erro de formas e proporções: quando a letra tem um formato grande ou pequeno demais. Assim como as demais dificuldades e transtornos de aprendizagem, os fatores afetivo e emocional devem ser considerados. Essas crianças já sentem o peso de fazerem diferente dos demais e, muitas vezes, não alcançam o êxito, por isso, apoiar, acolher e orientar são necessidades constantes.Ser diferente em sala de aula é algo difícil para a criança, pois ela passa por comparações, sentindo-se atrasada em relação aos demais, e os fatores emocionais podem interromper a aprendizagem e a evolução desse indivíduo. O livro Dificuldades específi- cas de aprendizagem: ideias práticas para trabalhar com: dislexia, discalculia, disgrafia, dispraxia, TDAH, TEA, Síndrome de Asperger e TOC, de Diana Hudson, trata de todas as dificul- dades e, em especial, traz um capítulo com um ótimo embasamento comple- mentar sobre a disgrafia. Petrópolis: Vozes, 2019. Livro Af ric a St ud io /S hu tte rs to ck 36 Transtornos e dificuldades de aprendizagem 2.4 Disortografia Vídeo Além da dislexia e da disgrafia, outra dificuldade que pode surgir durante o desenvolvimento da leitura e escrita é a disortografia. Caracterizada como uma dificuldade que afeta o domínio da escrita em questões tanto ortográficas quanto textuais, a disor- tografia apresenta uma escrita que foge às regras ortográficas (PEREIRA, 2009). De acordo com Pereira (2009, p. 9), a disortografia está relacio- nada a uma “perturbação que afeta as aptidões da escrita e que se traduz por dificuldades persistentes e recorrentes na capacidade da criança produzir textos”. Já para Barbeiro (2007, p. 118), “a disorto- grafia é a dificuldade de escrita que compromete a aprendizagem e a automatização dos processos responsáveis pela representação ortográfica apropriada”. No início do processo de alfabetização, as trocas ortográficas es- tão presentes pelo fato de a criança estar passando pelo reconheci- mento do traçado e da sonoridade das letras e palavras, mas devem ser superadas com a prática e a apropriação do sistema ortográfico. Essas trocas vão se amenizando à medida que a prática da escrita acontece. Quando elas persistem por muito tempo e mostram ca- racterísticas específicas, podem revelar um quadro de disortografia. Alguns exemplos de trocas são: • f/v: faca/vaca; • ch/j: chato/jato; • t/d: conte/conde; • p/b: pompa/pomba. Podem ocorrer ainda na disortografia omissões de letras, inver- sões e confusões entre sílabas. Torres e Fernández (2002) destacam sete tipos de disortografia: Reconhecer as caracterís- ticas da disortografia. Objetivo de aprendizagem Dificuldades de aprendizagem 37 11 22 33 44 55 66 77 M ay oC re at ive /S hu tte rs to ck Temporal: incapacidade de ter uma visão clara dos aspectos fonéticos da fala. Perceptivo-cinestésica: incapacidade para repetir os sons, verificando as substituições no modo de articular os fonemas. Cinética: deficiência de ordenação e sequenciação dos elementos gráficos, gerando erros de união e separação. Visuoespacial: alteração perceptiva da imagem dos grafemas. Dinâmica: alteração na expressão escrita das ideias e na estrutura sintática das proposições. Semântica: a análise é indispensável para o estabelecimento dos limites das palavras. Cultural: dificuldade na aprendizagem da ortografia convencional. Já caracterizados esses diferentes tipos de disortografia, pode- mos ainda a dividir em três grupos: das trocas auditivas, das trocas visuais e das trocas mistas. Quanto às trocas auditivas, caracterizam-se pela troca dos sons próximos, como f/v, t/d e c/g. Ao ouvir as palavras com essas le- tras, são facilmente confundidas, como vaca e faca. Esse grupo caracteriza-se também pela dificuldade de guardar palavras ditadas ou elaboradas mentalmente, logo, ao escrever, surgem também as inversões. 38 Transtornos e dificuldades de aprendizagem As trocas visuais são aquelas que têm relação com a orientação espacial, como p, b, d, q, ou semelhança de detalhes, como t, f. Nas trocas visuais ocorrem também erros relacionados à sequência vi- sual, como trem/temr ou moeda/muda. Aqui se justifica que, como prerrequisito à aprendizagem, a criança desenvolva a noção espacial e de lateralidade. Esses elementos, trabalhados ainda na Educação Infantil, fazem toda a diferença para a visualização e o posicionamen- to correto das letras quando se inicia o processo de alfabetização. Já as trocas mistas englobam as características do tipo visual e auditivo. Mesmo sendo mais raras, são casos considerados de longo prazo para que ocorra a reeducação. Assim, a disortografia pode prejudicar o processo de escrita e compreensão da criança, por isso deve ser vista por meio de um trabalho atento do professor. Ao surgirem indícios dessa dificul- dade, é necessário realizar o encaminhamento para um profissio- nal responsável, o psicopedagogo, para que realize uma avaliação psicopedagógica. 2.5 Discalculia Vídeo Conhecemos até aqui as principais dificuldades de aprendiza- gem presentes no desenvolvimento da leitura e escrita e de sua decodificação. No entanto, o raciocínio lógico-matemático também pode apre- sentar obstáculos significativos durante a aprendizagem. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtor- nos Mentais – DSM 1 -5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud PIMENTEL; LARA, 2017, p. 5), a discalculia “envolve o senso nu- mérico, memorização de fatos aritméticos, precisão ou fluência de cálculo e precisão no raciocínio matemático”. Além disso, esse é “um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades caracterizado por problemas no processamento de informações nu- méricas, aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluente”. Ainda, de acordo com Morais (2006), a discalculia pode ser classi- ficada em seis tipos: Como complemento, assista ao vídeo Disortografia, do canal Nadia Bossa, que aborda as características da disortografia. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=pS5l1C2li3k. Acesso em: 17 dez. 2021. Vídeo Compreender as caracte- rísticas da discalculia. Objetivo de aprendizagem Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição, ou DSM-5, é um manual diagnóstico elaborado pela Associação Ameri- cana de Psiquiatria para definir como é feito o diagnóstico de transtor- nos mentais. 1 https://www.youtube.com/watch?v=pS5l1C2li3k https://www.youtube.com/watch?v=pS5l1C2li3k https://www.youtube.com/watch?v=pS5l1C2li3k Dificuldades de aprendizagem 39 11 22 33 44 55 66 M ay oC re at ive /S hu tte rs to ck Practognóstica: dificuldades para enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens. Ideognóstica: dificuldades em fazer operações mentais e compreender conceitos matemáticos. Verbal: dificuldades em nomear quantidades matemáticas, números, termos e símbolos. Léxica: dificuldades na leitura de símbolos matemáticos. Operacional: dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos. Gráfica: dificuldades na escrita de símbolos matemáticos. Muitas vezes, a discalculia vem de bases não estimuladas e não de- senvolvidas, como as habilidades linguísticas, perceptivas, de atenção e matemáticas, as funções executivas prejudicadas e a baixa capacidade de atenção. Esses fatores resultam em déficits no senso numérico. Conhecida como a dislexia dos números, o termo discalculia vem do grego dis, que significa dificuldade, e do latim calculia, que significa con- tar, por isso a dificuldade para contar. Figura 3 Forma do pensa- mento matemático do discalcúlico A organização espacial interfere no sucesso da aprendizagem matemática. Ca rla F ra nc es ca C as ta gn o/ Sh ut te rs to ck 40 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Com relação à compreensão dos números, a criança discalcúlica pode apresentar: • Falta de compreensão intuitiva dos números, como não saber qual é o maior ou menor. • Dificuldade de arredondar números. • Dificuldade de fazer estimativa. • Uso dos dedos constantemente para contar. • Confusão com números parecidos e inversões, por exemplo, 240 por 204. • Extrema dificuldade de aprender tabuada. • Incapacidade de realizar cálculos mentais. • Dificuldade de lembrar de informações numéricas. • Incapacidadede realizar a reversibilidade, por exemplo, 2 + 3 é também 3 + 2. • Dificuldade em assimilar porcentagem, fração e casas decimais. Além dessas questões, a criança apresenta com frequência dificul- dades na memória a curto prazo, ou seja, lembrar de números durante os cálculos, de sequência numérica, de números de telefone ou de da- dos bancários e pontuações de competições esportivas. Isso também é refletido na representação gráfica ou na compreensão e interpretação de gráficos e escalas em papel (a leitura é imprecisa). Ainda questões de ordem pessoal costumam aparecer, como a di- ficuldade com a pontualidade, uma vez que não saber ler as horas em um relógio se torna um problema. Esses episódios trazem constran- gimento para a criança que ainda não assimilou essa aprendizagem. Consequentemente, sua organização diária pode sofrer prejuízos. Sabendo dessas questões e que toda dificuldade para aprender remete a prejuízo na autoconfiança e autoestima, vale lembrar de algumas atitudes essenciais e necessárias para atender aos alunos com discalculia: • Tornar o ambiente seguro, no sentido de que o aluno pode pedir ajuda e obter suporte diante de suas dificuldades. • Manter esses alunos sentados próximos aos demais, para evitar constrangimento se não quiserem se expor diante de dúvidas. Dificuldades de aprendizagem 41 • Trabalhar com exemplos concretos, escritos, de modo que a criança possa visualizar o que está sendo falado. • Verificar se o aluno compreende o que é para ser feito e o ritmo em que ele está realizando determinada tarefa. • Disponibilizar tempo suficiente para que as atividades sejam concluídas. Outro aspecto de cuidado é o da linguagem matemática. É necessá- rio verificar se todos os termos necessariamente usados nas explica- ções são de fácil acesso ao entendimento do aluno, pois o que muitas vezes é óbvio para quem fala não é para quem ouve. Partindo do princípio de que o óbvio também precisa ser dito, as orientações adequadas ao discalcúlico são sempre necessárias. Como complemen- to, assista ao vídeo Discalculia, do canal Nadia Bossa, que demonstra na prática as dificuldades da criança discalcúlica. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=mfHXkM1ctD0. Acesso em: 17 dez. 2021. Vídeo CONSIDERAÇÕES FINAIS Conhecer as dificuldades e os transtornos de aprendizagem nos tor- na profissionais diferenciados diante da individualidade do ser humano. O universo do aprender já é amplo, e quando esse caminho apresenta obstáculos, torna-se ainda maior, passando a ser um desafio constante. Atualmente, e felizmente, é possível o diagnóstico precoce, o que faci- lita e direciona o trabalho em sala de aula. A vantagem de conhecermos e identificarmos como trabalhar a dislexia (dificuldade ao ler, escrever e interpretar), a disortografia (dificuldades ortográficas), a disgrafia (di- ficuldade no traçado das letras) e a discalculia (dificuldade no raciocí- nio lógico-matemático), nos torna pessoas capazes de compreender e adaptar novas formas de aprendizagem. ATIVIDADES Atividade 1 Sobre as dificuldades de aprendizagem estudadas, escolha qua- tro delas e descreva suas principais características. Em seguida, responda: como você avalia seu processo de aprendizagem com relação à leitura, à escrita, à interpretação, ao traçado, à ortogra- fia e à matemática? https://www.youtube.com/watch?v=mfHXkM1ctD0 https://www.youtube.com/watch?v=mfHXkM1ctD0 https://www.youtube.com/watch?v=mfHXkM1ctD0 42 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Atividade 2 Conhecer as características da dislexia e encaminhar a criança para uma avaliação psicopedagógica, bem como saber intervir nesses casos, é de extrema importância para o profissional da educação. Com base nessa premissa, cite as principais característi- cas da criança disléxica. Atividade 3 Dos tipos de discalculia estudados, escolha o que para você parece ser o mais comum e justifique sua resposta. REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. BARBEIRO, L. Aprendizagem da ortografia. Porto: Edições Asa, 2007. FONSECA, V. da. Dificuldades de aprendizagem. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. GONÇALVES, A. M. S. A criança disléxica e a clínica psicopedagógica. Disponível em: http:// www.profala.com/artdislexia1.htm. Acesso em: 17 dez. 2021. MORAIS. A. M. P. Distúrbios da aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica. São Paulo: Edicon, 2006. PEREIRA, R. S. Dislexia e disortografia: programa de intervenção e reeducação. Montijo: Humanity’s Friends Books, 2009. SEABRA, A. G.; CAPOVILLA, F. C. Alfabetização: método fônico. 3. ed. São Paulo: Memnon, 2004. TORRES, R. M. R.; FERNÁNDEZ, P. F. Dislexia, disortografia y disgrafia. Lisboa: McGraw Hill de Portugal, 2002. Transtornos de aprendizagem 43 3 Transtornos de aprendizagem 3.1 Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) Vídeo Para compreendermos o TDAH devemos conhecer isoladamente os conceitos de atenção e hiperatividade. A atenção é uma função essencial para a vida humana, uma vez que muitas de nossas ações dependem dela, por exemplo, atravessar a rua, cozinhar, compreender uma aula e aprender algo novo. Podemos entender a atenção também como um processo do desenvolvimento cognitivo em que, por meio de um estímulo externo, conseguimos dar uma resposta a ele. A atenção se desenvolve por meio de vivências co- tidianas, como as brincadeiras na infância, as interações sociais e as atividades escolares rotineiras. Nessas vivências a atenção pode ser aprimorada ou desenvolvida por meio de intervenções cognitivas, sendo assim, deve ser estimulada. Inicialmente, deve ocorrer mediante atividades direcionadas, que são aquelas proporcionadas pela escola, iniciando na Educação Infantil e se estendendo por todos os anos escolares. Reconhecer o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e suas características. Objetivo de aprendizagem Conhecer as dificuldades que acometem a aprendizagem é algo bastante profundo, pois nos leva a conhecer também transtornos do desenvolvimento que interferem tanto na aprendizagem quanto em questões interpessoais. Estudaremos neste capítulo sobre o transtorno do espectro autista (TEA), o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), a síndro- me de Asperger, o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e o transtorno opositor desafiador (TOD). Esses transtornos se manifestam na infância e acompanham as fases do desenvolvimento humano. Compreender as características de cada um e intervir de maneira correta e no tempo certo faz parte do trabalho de todos aqueles envolvidos com a educação. Neste capítulo vamos co- nhecer, analisar e refletir sobre cada um desses transtornos. 44 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Assim, como em todo o processo de desenvolvimento humano, a atenção é algo que difere em cada pessoa, seja no tempo, na forma de agir, de pensar e nas experiências já adquiridas, por isso podemos considerar alguns tipos de atenção a ser desenvolvida pelo ser huma- no. Esses tipos de atenção (Quadro 1), quando trabalhados simultanea- mente, facilitam o desenvolvimento e a aprendizagem. Quadro 1 Tipos de atenção Atenção seletiva Habilidade para se centrar em um estímulo ou atividade na presença de outros estímulos que desviam a aten- ção, por exemplo, fazer uma tarefa em sala de aula com pessoas conversando ao redor. Atenção alternada Habilidade para alterar a atenção focada entre dois estí- mulos, em que se está atento, mas, por algum motivo rea- liza outra atividade e depois volta ao foco em que estava. Atenção dividida Habilidade em centrar ou prestar atenção a diferentes estímulos ao mesmo tempo. Atenção focada Habilidade para focar a atenção em um estímulo, sem dispersar com estímulos externos. Atenção constante Habilidade para se centrar em um estímulo ou atividade durante um longo período. Fonte: Elaborado pela autoracom base em Atenção, 2021. Dessa maneira, podemos depreender a complexidade da atenção, e os modos como ela se estrutura e faz a diferença nas nossas rotinas. Agora que apreendemos a respeito da atenção e as maneiras que ela pode se manifestar em cada indivíduo, devemos, antes de estudar- mos o TDAH, entender do que se trata a hiperatividade. A hiperatividade é um distúrbio do neurodesenvolvimento que na grande maioria das vezes se manifesta durante a infância. Trata- -se de uma condição neurológica que provoca prejuízos voltados ao desenvolvimento. Esses prejuízos acarretam consequências, como inquietação corpo- ral, ansiedade, dificuldade de esperar ou manter-se calmo diante de situações diversas, irritabilidade, agressividade, impulsividade e falta de atenção. Em função disso, tais atitudes afetam também a aprendi- zagem, pois a dificuldade de autocontrole prejudica sua capacidade de https://www.cognifit.com/br/habilidade-cognitiva/atencao-dividida de ca de 3d - an at om y o nl in e/ Sh ut te rs to ck interagir, socializar e realizar atividades até o fim, o tempo de concen- tração acaba sendo reduzido. As características da hiperatividade precisam ser verificadas e ana- lisadas desde muito cedo para não serem confundidas com questões voltadas simplesmente a falta de limites ou falta de orientação fami- liar. Por isso, o diagnóstico precoce é sempre o melhor caminho para verificar a forma de intervir e auxiliar. De modo geral, é a família ou o professor que inicialmente percebem os comportamentos constantes de inquietação e dispersão. Depois dessa percepção, a criança deve ser encaminhada para uma avaliação com neurologista, psicólogo e psicopedagogo. Após o diagnóstico, o tratamento também envolve diferentes profis- sionais, como psicopedagogo, psicólogo, neurologista, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. O encaminhamento é direcionado para os pro- fissionais que forem necessários de acordo com o grau de intensidade de cada caso. Compreendido o significado de atenção e de hiperatividade, vere- mos agora o que chamamos de transtorno do déficit de atenção e hipe- ratividade (TDAH), que é o que ocorre quando elas estão associadas. Para entender como essa defasagem ocorre neurologicamente, podemos considerar que as pessoas com TDAH possuem diferenças cerebrais anatômicas, apresentando uma maturidade cerebral tardia, pois o desenvolvimento do autocontrole e da atenção demoram mais a acontecer. As causas desse transtorno podem ocorrer desde um desenvolvimento intrauterino ina- dequado, até o consumo de álcool e drogas na gestação ou, ainda, a partir de lesões geradas na cabeça (por exemplo, doenças no cérebro e traumatismos que possam prejudicar alguma área responsável pela aprendizagem, como o lobo frontal). Figura 1 Impactos na aprendizagem Fortes traumas na parte frontal do cérebro podem causar prejuízos no que se refere à elaboração do pensamento e planejamento, além da programação de necessidades individuais e emoções. Transtornos de aprendizagemTranstornos de aprendizagem 45454545 Transtornos e dificuldades de aprendizagemTranstornos e dificuldades de aprendizagem 46 Transtornos e dificuldades de aprendizagem O TDAH é desenvolvido em virtude de uma questão genética ou neu- rológica que precisa ser vista e atendida, pois acompanhará a criança para sempre. No entanto, em paralelo a esse transtorno e devido a ele, surgem também dificuldades e problemas para aprender, ocasionados pela forma diferente do processo de aprendizagem, de ter atenção e de desenvolver a memória do sujeito com TDAH. O TDAH é caracterizado como a falta de capacidade de focar, de ter atenção e de controlar seu comportamento no geral, apresentando os sintomas que vimos anteriormente. De acordo com Döpfner, Frölich e Metternich (2016), o TDAH pode ser reconhecido por diferentes tipos: • TDAH com comportamentos combinados de desatenção e hipe- ratividade-impulsividade (TDAH combinado); • TDAH assinalado principalmente pela deficiência de atenção, e menos pela hiperatividade-impulsividade (tipo predominante desatento); • TDAH reconhecido principalmente pela hiperatividade-impulsivi- dade, e menos pela dificuldade de atenção (tipo com predomínio hiperativo/compulsivo). Essas diferenças também podem ser explicadas pelos graus em que o TDAH se apresenta, sendo analisados e distintos em grau leve, mo- derado e grave. Conhecendo as principais características do TDAH, devemos ter de modo evidente que esses sintomas, isolados ou não, podem ser decor- rentes de outros transtornos, ou ainda de situações cotidianas que, em um breve espaço de tempo, modificam o comportamento da criança. Mais um motivo para buscar o diagnóstico para que o entendimento da conduta dessa criança seja compreendido. Algumas outras dificuldades que podem vir acompanhadas do TDAH são: • Deficiência intelectual: crianças com déficit cognitivo ou difi- culdade para aprender. Geralmente apresentam dificuldade em manter a atenção e dificuldade em não se agitar, pois esses com- portamentos podem ser um mecanismo de defesa e fuga do que no momento está sendo difícil ou incompreensível de ser feito. Por isso, ao ser diagnosticado o TDAH, faz-se necessário também verificar as condições cognitivas dessas crianças para direcionar o tratamento adequado. Transtornos de aprendizagem 47 • Exigências escolares acima do adequado: ocorre quando a criança é colocada à prova diante daquilo que sua capacidade cognitiva no momento o impede de realizar, por isso, antes de cogitar TDAH, é necessário verificar se a carga que está sendo colocada nas rotinas diárias e as exigências escolares são cabíveis a sua idade cronológica. Geralmente a criança cansada tende a reagir de maneira agitada e dispersa. • Exigências escolares baixas: da mesma forma que muitos estí- mulos podem prejudicar o desenvolvimento, a falta deles pode ser um problema, pois podem ser a causa de sintomas de TDAH, como no caso de crianças com altas habilidades que podem se deparar com falta de estímulos, o que modifica seu comporta- mento ou interesse ao realizar o que é proposto. • Sintomas de TDAH provocados por medicamentos: alguns me- dicamentos podem desencadear alteração de comportamento e atenção. Nesse caso, se a criança faz uso de medicamentos con- tínuos ou por curto prazo, ao surgirem alterações de humor, o pediatra ou neurologista devem ser consultados. • Condutas de oposição: crianças com transtorno de conduta, po- dem ter sintomas parecidos com TDAH, pois têm dificuldade em seguir regras e são impulsivos. • Agitação e problemas de concentração relacionados ao medo: ao ser colocado diante de situações de medo, o comportamento da criança pode ser alterado. Esse medo pode estar relacionado a uma apresentação de trabalho, uma prova, ou qualquer coisa que a coloque em situações que não são confortáveis para ela. • Agitação e problemas de concentração devido a estresses emocionais: tais questões podem afetar diretamente a capaci- dade de atenção e foco da criança, bem como mudar seu com- portamento para uma forma apática e desinteressada. Com isso, podemos entender o que pode ser uma criança com TDAH, e o que também pode não ser. A sensibilidade do professor e do profissional da saúde que acom- panham essa criança deve ser minuciosa, no sentido de se ter cuidado ao encaminhá-la a um tratamento e ao diagnosticá-la. É necessário o diagnóstico real diante de cada situação para que a intervenção seja também a mais apropriada. Para aprofundar os conhecimentos sobre o tema, assista ao vídeo Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade | Nuno Lobo Antunes, do canal Drauzio Varella. O vídeo é uma entrevista com o neuropediatra Nuno Lobo Antunes sobre o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=uSv7KSQTgJI. Acesso em: 22 dez. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=uSv7KSQTgJI https://www.youtube.com/watch?v=uSv7KSQTgJIhttps://www.youtube.com/watch?v=uSv7KSQTgJI 48 Transtornos e dificuldades de aprendizagem 3.2 Transtorno do espectro autista (TEA) Vídeo Vamos conhecer agora o transtorno do espectro autista (TEA). O TEA é considerado um distúrbio do neurodesenvolvimento, em que o de- senvolvimento da criança se torna atípico por meio do comportamen- to, dos contatos, das interações sociais e da comunicação. De acordo com Lowenthal (2021), existem três condições semelhan- tes do TEA: • transtorno autista; • síndrome de Asperger; • transtorno invasivo do desenvolvimento sem outras especificações. A diferença entre essas nomenclaturas é por tornarem o diagnósti- co mais específico e, assim, sua gravidade ser definida de acordo com as características particulares da criança, bem como direcionar a me- lhor forma de tratamento. Dessa forma, a criança pode ser diagnosti- cada como grave inicialmente, e com o tratamento adequado melhorar e amenizar as condições. Segundo o DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2015), a classificação do TEA se dá em três níveis: • nível 1 – leve; • nível 2 – moderado; • nível 3 – severo. A gravidade é definida de acordo com a funcionalidade da pessoa e o quanto de apoio ela necessita para exercer suas funções diárias. Lowenthal (2021) representa essa classificação, , quanto à interação e à comunicação social (Quadro 2) e quanto ao comportamento restri- tivo/repetitivo (Quadro 3), da seguinte forma: Identificar as causas e ca- racterísticas do transtorno do espectro autista. Objetivo de aprendizagem Quadro 2 Necessidade de suporte quanto à interação e à comunicação social Nível 1 Necessita de suporte Prejuízo notado sem suporte; dificuldade em iniciar interações sociais; res- postas atípicas ou não sucedidas para o social; interesse diminuído nas in- terações sociais; dificuldade para manter uma conversa; tentativas de fazer amigos de maneira estranha e malsucedida. Nível 2 Necessita de suporte substancial Déficits marcados na conversação; prejuízos aparentes mesmo com suporte; dificuldade nas interações sociais; resposta anormal. Nível 3 Necessita de suporte muito substancial Prejuízos graves do funcionamento; interações sociais muito limitadas; res- postas reduzidas às interações sociais. Fonte: Adaptado de Lowenthal, 2021. Transtornos de aprendizagem 49 Quadro 3 Necessidade de suporte quanto ao comportamento restritivo/repetitivo Nível 1 Necessita de suporte Comportamento interfere significativamente na função; dificuldade para tro- car de atividades; independência limitada por problemas com organização e planejamento. Nível 2 Necessita de suporte substancial Comportamentos suficientemente frequentes, sendo óbvios para observado- res que não conhecem tanto a questão do TEA; comportamento interfere na função em grande variedade de ambientes; aflição e/ou dificuldade para mudar o foco na ação. Nível 3 Necessita de suporte muito substancial Comportamento interfere marcadamente na função em todas as esferas; difi- culdade externa ao lidar com mudanças; grande aflição/dificuldade de mudar o foco e a ação. Fonte: Adaptado de Lowenthal, 2021. Além das informações apresentadas nos quadros, é possível des- tacar ainda que alguns casos demonstram comportamento com mo- vimentos repetitivos e, muitas vezes, com preferências a temas ou atividades específicas. Tais sintomas ou sinais do desenvolvimento podem ser percebidos desde muito cedo. Assim, como em outros transtornos ou dificuldades, cabe destacar que quanto mais cedo se tiver o diagnóstico, por meio de um profissional capacitado – sendo este um neuropediatra, psicólogo ou psicopedagogo –, mais cedo as possibilidades de intervenção serão possíveis para contribuir com um melhor desenvolvimento da criança com o espectro. A avaliação deve ter um caráter multiprofissional, ou seja, com o parecer do psicopedagogo, da fonoaudióloga, do neuropediatra e do psicólogo, que juntos afirmarão, pelos conhecimentos de suas áreas, se a criança é portadora do espectro ou não, e o grau em que ela se encontra: leve, mediano ou severo. Portanto, o diagnóstico é essencialmente clínico. Esses profissionais realizam observações da criança, entrevistas com os pais e aplicação de testes e instrumentos específicos de cada área. As causas do TEA ainda são um desafio a ser investigado, no entan- to, estudos apontam que fatores genéticos ou ambientais (exposição a agentes químicos, deficiência de vitamina D, idade parental avançada, prematuridade, baixo peso ao nascer) podem ser a causa desse trans- torno, sendo de maior predominância os fatores genéticos. Ao ter conhecimento do diagnóstico fechado, é necessário que os profissionais que trabalharão com essa criança, assim como a famí- lia, tenham uma linha de ação comum a todos, traçando objetivos e determinando as áreas a serem estimuladas, assim como os obstá- culos a serem superados, um de cada vez, de acordo com a comple- xidade de cada caso. Essa individualidade na forma de tratar cada criança portadora do transtorno do espectro autista, e em perceber com um olhar sen- sível suas particularidades, vem com a justificativa de compreender- mos algumas questões, como: • Muitos autistas pensam visualmente, ou seja, aprendem me- lhor com informações, desenhos e códigos visuais. • As expressões faladas precisam ser mostradas, por exemplo: ao passar a informação de um trem andando no trilho, mostrar a imagem do que se trata. Esse pode ser um caminho também para a aprendizagem de conteúdos escolares. • A comunicação com autistas deve ser objetiva, evitando frases longas e com mais de um comando de uma só vez. Lembrando que investimento na clareza das infor- mações possibilita à criança conseguir aprender e executar o que é proposto, o que consequentemente a levará a de- senvolver autonomia. A partir do momento que diferentes habilidades vão sendo desenvolvidas na criança com autismo, elas refletirão em todos os seus saberes, sendo eles esco- lares ou sociais. Essas habilidades precisam ser esti- muladas e desenvolvidas, pois a criança com TEA pode apresentar também: • Dificuldade motora: a criança conse- gue se alfabetizar, mas a escrita é um desafio, pois seu traçado nem sempre é legível. Ev ge ni iA nd /S hu tte rs to ck 5050 Transtornos e dificuldades de aprendizagemTranstornos e dificuldades de aprendizagem Transtornos de aprendizagem 51 • Ecolalia: a criança possui o hábito de repetir palavras ou sílabas, demorando mais para estruturar sozinha uma frase. • Sensibilidade a sons e luzes: sons altos ou com sonoridades específicas, assim como luz forte demais ou falta de luz, podem gerar incômodo na criança. • Comportamento hiperativo: o comportamento agitado, ou ainda a inquietação, deve ser observado a fim de analisar qual o motivo dessa reação, buscando compreender a necessidade do momento e evitar que essas crises ocorram. Conhecendo as características apresentadas da criança com TEA, é necessário também relacioná-las com a permanência desse aluno na escola para saber quais os desafios a serem superados frente a esse trabalho. Nesse aspecto, por meio dessa análise, podemos ver que uma das principais questões é reconhecer a individualidade de cada caso, ter contato com os profissionais que atuam com essa criança e traçar li- nhas exclusivas de métodos para cada um. 3.3 Síndrome de Asperger Vídeo Similar ao TEA, a síndrome de Asperger também é um transtorno neurobiológico. De acordo com o DSM-5, trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento e é parte do transtorno do espectro autista, po- rém essa síndrome possui algumas particularidades que a fazem ser vista com características diferenciadas dentro do espectro autista. Uma das principais similaridades com o autismo são os prejuízos na capacidade de socialização, de se comunicar com as pessoas e de interpretar o mundo, porém apresenta uma melhor adaptação social do que as crianças com autismo. Diz respeito a uma formadiferente de ver e interagir com o mundo. Sabemos que com relação aos prejuízos na interação social, a sín- drome de Asperger é similar ao autismo, também no que se refere ao interesse voltado a determinados temas. A diferença está na aquisição Compreender as características da síndro- me de Asperger. Objetivo de aprendizagem 52 Transtornos e dificuldades de aprendizagem da linguagem e comunicação, nas quais não são verificadas dificulda- des, assim como nas habilidades cognitivas. Outro fator relevante é o das características físicas das pessoas com Asperger, pois geralmente são visíveis, como obstáculos na expressão motora, tendo muitas vezes movimentos considerados desajeitados. No que se refere à capacidade cognitiva, as pessoas com síndrome de Asperger podem apresentar inteligência média ou acima da média, geralmente não expressando dificuldades de aprendizagem. Essas crianças possuem menos problemas na fala que os autistas, mesmo que ela não seja compreendida por eles com clareza logo. Segundo Mello, Miranda e Muszak (2005, p. 53) a síndrome de Asperger pode ser caracterizada por coeficiente de inteligência (QI) de normal até as faixas mais altas, com habili- dades especiais. Na escola, apesar da inteligência normal, podem apresentar dificuldades em compreender conceitos abstratos, como os usados em metáforas e alegorias, dificultando o apren- dizado acadêmico. Assim como no autismo, as crianças com síndrome de Asperger precisam de apoio de profissionais como psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, os quais devem ser indica- dos a partir do momento em que o diagnóstico por um profissional habilitado for feito, sendo este um neurologista, um psicólogo e um psicopedagogo, que juntos, por meio de seus instrumentos de avalia- ção, determinarão um diagnóstico seguro. Os sintomas da síndrome de Asperger variam muito de pessoa para pessoa. Os primeiros sinais devem ser observados e, se persistirem, a criança deve ser encaminhada para avaliação junto a um profissional. Alguns desses sinais podem ser visíveis, como: • Dificuldades persistentes com comu- nicação social. • Dificuldade na interação social. • Padrões restritos e repetitivos de comportamentos. • Os mesmos interesses em atividades desde a primeira infância. Se rg ey N ov ik ov /S hu tte rs to ck Transtornos de aprendizagem 53 • Dificuldade em interpretar linguagem verbal e não verbal, como gestos ou tom de voz. • Compreensão literal da linguagem; não conseguem compreender quando as pessoas utilizam uma palavra com du- plo sentido. Esses padrões podem ser considerados danosos, pois limitam ou prejudicam a ro- tina. Se estes estão causando prejuízo ao desenvolvimento da criança, uma avaliação com especialistas deve ser realizada. As pessoas com síndrome de Asperger geralmente têm boas habilida- des linguísticas, porém acham difícil entender as expectativas dos outros dentro de conversas. Por isso, é importante falar de modo claro e consis- tente e dar tempo às pessoas para processar o que lhes foi dito. Por apresentar essas características, o trabalho escolar com crian- ças com essa síndrome requer alguns cuidados específicos e que po- dem facilitar o trabalho e a comunicação no dia a dia: • Mediar as interações sociais, orientando e intervindo quando necessário. • Destacar as principais habilidades escolares na criança para encorajá-la. • Conhecer os interesses da criança e poder trabalhar por meio deles. • Trabalhar com rotinas diárias. • Orientar a turma quanto ao respeito mútuo pelas diferenças. • Não subestimar o desenvolvimento da criança e sempre incenti- vá-la a atingir um comportamento melhor. Tais sugestões demonstram que o melhor meio de acompanha- mento e de aprendizagem é a sensibilização quanto a reconhecer as características únicas dessas crianças, que as fazem pensar e agir de um modo diferente do habitual, mas que em nenhum momento as im- pede de aprender. A fim de ampliar os conhecimentos sobre o tema, assista ao vídeo Co- nheça a menina Laura, que tem síndrome de Asperger « Programa Especial, do canal TV Brasil, que mos- tra um caso real de uma menina com síndrome de Asperger e um pouco do seu dia a dia. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=gGXoEyd_ OPU. Acesso em: 22 dez. 2021. Vídeo Ph ot og ra ph ee .e u/ Sh ut te rs to ck https://www.youtube.com/watch?v=gGXoEyd_OPU https://www.youtube.com/watch?v=gGXoEyd_OPU https://www.youtube.com/watch?v=gGXoEyd_OPU 54 Transtornos e dificuldades de aprendizagem 3.4 Transtorno obsessivo compulsivo (TOC) Vídeo Todos nós possuímos hábitos ou mantemos com frequência roti- nas que nos fazem bem e organizam nossas vidas. Mas e quando esse tipo de atitude passa dos limites e se transforma em dependência ou sofrimento? Nesse caso, podemos associar essa situação ao transtorno obsessivo compulsivo (TOC). O TOC está associado à ansiedade, pois em muitos casos apresenta crises de obsessão e compulsão diante de determinadas situações. Mas o que entendemos como obsessão? A obsessão pode se manifestar em diferentes meios, como nos pen- samentos, ideias e imagens que invadem a mente da pessoa insistente- mente, de modo que ela não pode controlar. Esses pensamentos levam o indivíduo a criar uma rotina, regida por regras e etapas que ele mesmo se auto estabelece e precisa cumpri-las diariamente. Essas rotinas são tão sérias para o portador de TOC que chegam a acreditar que algo ruim pode acontecer se não as cumprirem como o habitual. Tais práticas podem ser danosas às pessoas, uma vez que se, por exemplo, ocorre uma obsessão por verificar várias vezes uma porta para saber se está realmente trancada, essa atitude pode causar atrasos para o trabalho, escola ou outras situações. Essas obsessões geralmente vêm acompanhadas de um sentimen- to de medo e culpa, por serem inapropriadas, pois a pessoa possui consciência de seus atos, mas não consegue deixar de praticá-los. Os tipos mais comuns de obsessões estão relacionadas a: • Limpeza e higiene realizadas muitas vezes ao dia. • Simetria com objetos, não podendo ver quadros tortos, por exemplo. • Autoimagem, buscando a perfeição. • Acumulação, guardando coisas incessantemente, mesmo sem utilidade. • Lavar as mãos várias vezes em um curto período. • Repetir rituais de andar na rua, por exemplo, evitando pisar em rachaduras ou andando sempre do mesmo lado. • Checar muitas vezes se a porta está trancada antes de sair de casa. Identificar as caracte- rísticas do transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Objetivo de aprendizagem Transtornos de aprendizagem 55 O TOC, de acordo com Bruna (2021), pode ser classificado em dois tipos: • Transtorno obsessivo-compulsivo subclínico: as obsessões e ri- tuais se repetem com frequência, mas não atrapalham a vida da pessoa, podendo conviver com ela ou até mesmo se autocorrigir. • Transtorno obsessivo-compulsivo propriamente dito: as obsessões persistem até o exercício da compulsão que alivia a an- siedade. Nesse tipo, a pessoa pode deixar de realizar coisas ou se atrasar para um compromisso, por exemplo, apenas para voltar e verificar se a porta está realmente trancada. Para ser considerado TOC, os casos devem ser recorrentes, atrapalhar a vida diária e, principalmente, ser diagnosticado por um especialista. Até o momento, as causas conhecidas do TOC referem-se a diferen- tes fatores que podem causar essa desordem. Alguns estudos destacam a existência de alterações na comunicação entre determinadas zonas cere- brais que utilizam a serotonina 2 (conhecida como o hormônio da felicida- de) – entre suas funções estão a regulagem do ritmo cardíaco, do sono, do apetite, do humor, da memória. Fatores psicológicos e histórico familiar também estão entre as possíveis causas desse distúrbio de ansiedade. Ao analisarmos nossa rotina diária, em diferentes situações, pode- mos manifestar rituais compulsivos, mas que não caracterizamo TOC. Tais rituais podem causar ansiedade e outros prejuízos à saúde, como no caso de evoluir para um quadro depressivo. De maneira geral, o TOC é diagnosticado na fase adulta, na qual realmente se consolidam essas roti- nas que interferem no dia a dia. Na infância o distúrbio é mais frequente nos meninos, contudo, no final da adolescência, podemos dizer que o número de casos é igual nos dois sexos. O tratamento de TOC pode ocorrer por meio de medicamentos ou não. Se medicado, o indivíduo fará um tratamento com medicamentos similares a antidepressivos e remédios que baixem a ansiedade. O indicado é que juntamente à medicação seja feito um acompanha- mento terapêutico, que auxiliará o indivíduo a lidar com suas obsessões e compulsões. Uma das linhas de terapia indicada é a terapia cognitivo comportamental (TCC), que apresenta ótimo resultados para esses casos. É a substância química que faz com que os neurônios passem sinais entre si. 2 56 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Quando manifestada na infância, cabe ressaltar que em sala de aula essas compulsões podem prejudicar a aprendizagem e a rotina escolar, por isso o professor e a escola devem estar a par do diagnóstico e do tratamento a que a criança está sendo submetida. Para interagir no trabalho escolar com crianças que apresentam esse transtorno, é sempre importante ter claro alguns conceitos, para desen- volver um trabalho em conjunto com a família. De acordo com Bruna (2021): • Na escola as rotinas fazem parte das aulas, por isso as crianças podem obedecer a certos rituais, o que é absolutamente normal. No entanto, o que deve chamar a atenção dos pais é a intensida- de e a frequência desses episódios, e qual a flexibilidade com que se consegue lidar com eles. O limite entre normalidade e TOC é muito tênue. • A escola e os pais não devem colaborar com as manias e os rituais das crianças quando estes são descabidos ao momento, mas sim ajudá-las a enfrentar os pensamentos obsessivos e a lidar com a compulsão que alivia a ansiedade. • A tolerância aos rituais do portador de TOC pode interferir na di- nâmica da família e das aulas. Logo, é importante estabelecer o diagnóstico de certeza e encaminhar a pessoa para tratamento. • Não se deve esconder os sintomas por vergonha ou insegurança. Quanto mais se adia o tratamento, mais grave fica a doença. Analisado cada ponto específico do que se trata os sintomas do TOC, vale a pena reafirmar que todos nós em algum momento nos pegamos repetindo hábitos ou manias, e que estes não devem ser considerados TOC sem que seja realizado um diagnóstico preciso. 3.5 Transtorno desafiador opositor (TOD) Vídeo Outro transtorno muito frequente é o transtorno desafiador opositor (TOD). O TOD é um transtorno infantil caracterizado por comportamento desafiador e desobediente a figuras de autoridade ou regras. Ao tratarmos de comportamentos opositivos podemos considerar que eles se manifestam de diversas formas, podendo ser, de acordo com Caballo e Simón (2015): Assista ao vídeo TOC (Transtorno obsessivo-com- pulsivo), do canal Drauzio Varella, para aprofundar os conhecimentos sobre esse transtorno. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=fBAgNhXEFfo. Acesso em: 22 dez. 2021. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=fBAgNhXEFfo https://www.youtube.com/watch?v=fBAgNhXEFfo https://www.youtube.com/watch?v=fBAgNhXEFfo Transtornos de aprendizagem 57 • Passivos: quando uma criança não responde a um dado estímulo, permanecendo inativa e acomodada. • Desafiadores: com verbalizações negativas, comportamentos hos- tis e resistência física que incidiriam junto com a desobediência. A causa do transtorno desafiador opositor é desconhecida, mas assim como os demais transtornos, esta pode envolver uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Os sintomas, na grande maioria, começam antes de a criança com- pletar oito anos de idade, apresentando humor irritável, comportamen- to argumentativo e desafiador, agressividade e característica vingativa. Quando esses comportamentos duram mais de 6 meses e causam pro- blemas significativos em casa ou na escola, a criança deve ser enca- minhada para a avaliação e o acompanhamento com um especialista, sendo este um neurologista, psicólogo e psicopedagogo. No geral, o comportamento dessas crianças é extremamente desa- fiador, apresentam crises de teimosia ou são respondonas. É necessário não confundir essas características a condutas de personalidade, para que o tratamento adequado ocorra quando o diagnóstico for fechado. Como o TOD levanta muitas dúvidas e preocupações sobre o com- portamento das crianças, abala o funcionamento familiar e escolar, é fundamental buscar ajuda de especialistas para não se tirar conclusões diferentes do que o momento realmente representa, e a criança possa ser auxiliada a lidar com suas emoções e impulsos de maneira mais controlada. Por meio do diagnóstico, a criança passa a não ser considerada uma versão menos intensa do transtorno de conduta, pois existem diferen- ças entre TOD e o transtorno de conduta. Os portadores de transtorno de conduta não têm consciência do que fizeram, e não sentem empatia pelo próximo. Ao contrário, as crianças com TOD são conscientes de seus atos, sen- tem remorso, reagem com emoção, choram, se irritam e fazem birra facilmente quando são contrariadas. Tais condutas inevitavelmente in- terferem nas relações sociais, na vida escolar e familiar e no seu desem- penho acadêmico. Reconhecer as caracterís- ticas do transtorno desa- fiador opositor (TOD). Objetivo de aprendizagem 58 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Dentre algumas questões apresentadas no ambiente escolar, está a de que, por conta desse comportamento explosivo, essas crianças po- dem sofrer bullying com mais frequência, pois são discriminadas por seu jeito de ser, perdem oportunidades de aprendizagem em sala e de con- vívio social e não conseguem manter amizades. A criança portadora de TOD tem dificuldades para compreender re- gras e opiniões de terceiros, não lida bem com a frustração e expressa o seu desconforto de modo agressivo. É evidente a ausência de controle emocional. Outras características do TOD são: • discutir com adultos; • perder a calma com facilidade; • desafiar regras e instruções; • importunar outras pessoas; • provocar adultos e outras crianças; • reagir a repreensões ou regras com agressividade ou manha exagerada; • não saber expressar emoções intensas sem gritar; • responder à frustração com choro, birra ou agressividade; • transferir a culpa de seus atos para terceiros; • brigar com colegas na escola; • ficar ressentido com facilidade; • ser cruel ou vingativo ocasionalmente; • sentir-se culpado e chorar após ter uma atitude ruim. (PIMENTA, 2021) Diante da análise das condutas dessas crianças, notamos que elas advêm de diferentes ambientes e situações, e que a qualidade do am- biente familiar possui grande influência no comportamento das crianças com transtorno desafiador opositor. As causas da origem do TOD ainda são desconhecidas, porém possuem a particularidade de aparecer em lares em que a predominância é de com- portamento agressivo. Por isso, o tratamento envolve não somente a te- rapia individual como também a familiar, em que os conflitos devem ser resolvidos com base na comunicação positiva, saudável, na compreensão dos sentimentos, no acolhimento e na resolução de conflitos. Para ser diagnosticado, o transtorno precisa ser observado e analisado por volta de 6 meses, período em que tais comportamento se repetem. Essa análise pode ser realizada pelo psicopedagogo, psicólogo ou médico, que investigará a conduta da criança à procura de sintomas de depres- Transtornos de aprendizagem 59 são, ansiedade ou TDAH, pois possuem uma similaridade com o TOD, por exemplo, a irritabilidade é muito presente em crianças opositoras. O tratamento do TOD é feito de modo multidisciplinar, incluindo tera-pia comportamental, medicamentos e suporte escolar, além do trabalho em conjunto com a família, que é de extrema importância, pois é lá onde a criança deve perceber que sua mudança de conduta também deve acontecer. De dentre de casa para fora. Entre as intervenções recomendadas para a criança com TOD, assim como no TOC e TDAH, está a terapia cognitivo comportamen- tal (TCC), que é centrada em mudanças de comportamento, logo é a mais eficiente para modificar como a criança administra e expressa as suas emoções. Nesse contexto, o ideal é que a criança passe a frequentar terapias comportamentais que promovam o autocontrole, o planejamento de suas ações e o controle das emoções, além de reforçar as condutas desejadas para cada situação social, até que esse comportamento se transforme em um novo hábito. Desse modo, normalmente os pais são instruídos nessas técnicas de reforço, para que em todos os ambientes que cercam a criança a linguagem seja a mesma, pois sabe-se que a for- ma com que a criança é tratada, ou como agem com ela, influencia em suas reações e comportamento. Os medicamentos psiquiátricos são recomendados, porém é essencial analisar o grau de intensidade em que o transtorno se mani- festa, verificando sempre a real necessidade, pois em muitos casos o tratamento terapêutico, a mudança de atitudes na família e na escola, contribuem para uma evolução na forma de ser e agir da criança. No ambiente escolar, a criança que apresenta todas essas questões deve passar por uma adequação da equipe pedagógica, agindo em con- junto com os profissionais que a acompanham, para que assim suas vi- vências no ambiente escolar não sejam afetadas. Durante o tratamento, a reinserção da criança nos ambientes em que frequenta é essencial para que ela aprenda novas formas de pensar, controlar impulsos e ser aceita pelo grupo. Se o TOD tiver ligação com o TDAH, os pais devem buscar orientação de um psicopedagogo. Ele rein- tegra a relação dos pacientes com a aprendizagem e trata os sintomas por meio de ferramentas e testes específicos. 60 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Considerando o auxílio da reabilitação da criança em conduzi-la a mudança de conduta, alguns procedimentos são essenciais para o su- cesso dessa fase: • Diálogo: é uma das táticas que podem ser utilizadas para ensinar a criança a ter uma conduta adequada, sempre de maneira tran- quila, olhando para a criança e criando um momento especial para essas conversas. • Estímulos positivos: comportamentos adequados devem ser elo- giados de maneira expressiva para que a criança compreenda que tipo de comportamento é adequado e que ela consegue atenção e sucesso por meio deles. • Controle de emoções: identificar o sentimento, respirar fundo e saber lidar com esses sentimentos são orientações constantes que auxiliam nesse processo. Podem ser utilizadas técnicas de respira- ção ou ainda perguntar para a criança de que forma ela se sente bem e mais calma. Nos momentos de crise, utilizar essa técnica e orientá-la para que isso aconteça. Dessa maneira, podemos entender que o acolhimento leva a um pro- gresso do comportamento e bem-estar da criança com TOD, pois essas ações contribuem para seu autoconhecimento e, consequentemente, para que tenha uma vida mais tranquila e integrada. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento humano é cercado de delicadas etapas e grandes desafios. Conhecer cada fase, cada obstáculo, enriquece a forma com que tratamos o outro e percebemos os processos de aprendizagem. Quando se trata dos transtornos estudados, percebemos o quanto a conduta social pode interferir na aprendizagem e no ambiente escolar. Por isso, a melhor maneira é sempre termos a sensibilidade de olhar para a criança individualmente e saber o momento correto de, em parceria com a família, encaminhar para uma avaliação em busca de um diagnóstico. O diagnóstico e a intervenção precoce são sempre o melhor caminho para conduzir a criança a estabilidade e a saber lidar com seus desafios, sendo na escola ou no âmbito social. Para aprofundar os conhecimentos sobre o TOD, leia o livro Crianças Desafiadoras, do Dr. Clay Brites e Luciana Brites. Além de conceitos teóricos, esse livro traz exemplos práticos e até mesmo técnicas para lidar com crianças com TOD no dia a dia. É uma leitura objetiva e dinâmica, com informações diretas e claras. São Paulo: Gente, 2019. Livro Transtornos de aprendizagem 61 ATIVIDADES Atividade 1 Vimos em nossos estudos que a atenção pode ser aprimorada ou desenvolvida por meio de intervenções cognitivas, e que é algo que difere em cada pessoa. Por isso, podemos considerar alguns tipos de atenção. Escolha um dos tipos de atenção estudados, escreva sua definição, e comente sua importância para o processo de aprendizagem. Atividade 2 Vimos que a síndrome de Asperger é um transtorno neurobio- lógico, dentro do DSM-5 caracterizado como um transtorno do neurodesenvolvimento, parte do transtorno do espectro autista. Escreva quais as características que são similares entre o TEA e o Asperger. Atividade 3 Sabemos que o TOC (transtorno obsessivo compulsivo) pode se manifestar já na infância, trazendo prejuízos ao desenvolvimento. Descreva os dois tipos de TOC estudados e quais prejuízos você acredita que cada um pode trazer? REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegra: Artmed, 2015. ATENÇÃO. Cognifit, 2021. Disponível em: https://www.cognifit.com/br/atencao. Acesso em: 23 dez. 2021. BRUNA, M. H. V. Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Drauzio, 2021. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/transtorno-obsessivo-compulsivo- toc/. Acesso em: 22 dez. 2021. CABALLO, V. E.; SIMÓN, M. Á. Manual de psicologia clínica infantil e do adolescente: transtornos específicos. 1. ed. São Paulo: Santos, 2015. DÖPFNER, M. FRÖLICH, J. METTERNICH, T. W. Como lidar com o TDAH? São Paulo: Hogrefe. 2016. LOWENTHAL, R. Como lidar com autismo. São Paulo: Hogrefe, 2021. MELLO, C. B.; MIRANDA, M. C.; MUSZKAT, M. Neuropsicologia do desenvolvimento: conceitos e abordagens. São Paulo: Memnon, 2005. PIMENTA, T. TOD: entenda o que é o transtorno opositivo-desafiador. Vittude, 15 mar. 2021. Disponível em: https://www.vittude.com/blog/tod-transtorno-desafiador-de-oposicao/. Acesso em: 22 dez. 2021. 62 Transtornos e dificuldades de aprendizagem 4 Fatores que interferem na aprendizagem Sabemos que o desenvolvimento humano passa por várias fases, a infância, a pré-adolescência, a adolescência, a fase adulta e a terceira ida- de, bem como que cada fase e cada experiência vivida moldam a forma de ser e de agir de todos nós. Da mesma maneira que essa construção é gradativa e acrescenta no- vos conhecimentos para a formação humana, ela também contribui para o modo como iremos lidar ou assimilar a aprendizagem – ou seja, interfe- re na nossa cognição. Por isso, devemos conhecer os fatores que contribuem positiva e ne- gativamente no processo de aprender do ser humano, analisando cada um deles e considerando os aspectos emocionais, ambientais, econômi- cos, sociais, psicológicos, afetivos e familiares. 4.1 Fatores externos e internos que interferem na aprendizagem Vídeo Ao pensarmos no desenvolvimento humano e no desenvolvimento da aprendizagem, muitas questões, durante todo esse processo, de- vem ser consideradas, afinal são eles que refletirão na forma de ser e de aprender de cada indivíduo. O modo como a gestação é vivenciada, por exemplo, refletirá no desenvolvimento humano, com relação a fatores emocionais e biológi- cos e à aprendizagem. Dessa forma, os fatores internos fazem parte da constituição do indivíduo e devem ser considerados no decorrer do processo de aprendizagem. Esses fatores são aqueles que fazem parte do plano emocional, psicológico, afetivo e neurológico e que, em algum momento do desenvolvimento e da aprendizagem, podem causarobstáculos. Identificar fatores que podem interferir nas dificuldades de aprendizagem. Objetivo de aprendizagem Fatores que interferem na aprendizagem 63 As emoções acarretam consequências durante o ato de aprender, ou seja, o estado emocional da criança interfere diretamente no seu nível de atenção, motivação e predisposição para a realização de atividades em sala de aula. Por isso, estar atento à oscilação de humor da criança e se dispor a auxiliá-la faz parte de um olhar sensível que o professor deve ter diante dessas situações. Além de fatores emocionais e psicológicos, as questões de ordem neurológica também são consideradas um fator interno. Elas afetam o funcionamento do indivíduo e a sua forma de aprender, como no caso dos distúrbios ou transtornos. Já os fatores externos são aqueles relacionados ao ambiente em que a criança está inserida, podendo este ser o familiar, o escolar ou o social. Ferreira e Barreira (2010, p. 2) colocam que “de acordo com Martini (1995, apud Marturano, 1998), as crianças melhoram o desempe- nho quando os adultos em casa são mais unidos, cooperativos e cordiais”. O ambiente familiar possui um peso indiscutível no desenvolvimento da aprendizagem infantil; a família é a base inicial que motiva, valoriza e incentiva as conquistas da criança. Já o ambiente escolar apresenta diferentes fatores que podem influenciar a aprendizagem, como: • A relação entre professor e aluno: a afetividade é uma das grandes bases para aprender. Tratando-se de crianças, esse vínculo é ainda mais forte, pois a criança inicialmente aprende para ver o reflexo de suas conquistas nos adultos que a cercam, isto é, os pais ou os professores. Por isso, o professor deve investir em momentos em que o aluno realmente se sinta afe- tado por ele, no sentido de que se sinta acolhido, seguro e livre para expressar suas dificuldades e suas facilidades. • A metodologia da escola: nem toda metodologia é adequada para todas as crianças – isso relacionado ao projeto institucional, ou seja, à filosofia da escola, como também aos métodos utili- zados em sala de aula. Para cada dificuldade ou característica, podem ser recomendadas diferentes estratégias. Nesse sentido, a variação com metodologias que abranjam as diferentes formas de aprender é o mais recomendado. Evgeny Atamanenko/Shutterstock 64 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Ra wp ixe l.c om /S hu tte rs to ck Cabe ressaltar que, de acordo com Taylor e Vlastos (1983), a escola: se constitui em uma vibrante interação entre aluno, professor, currículo, ambiente, família e comunidade. Ela pode ser vista como um microcosmo do universo: o espaço físico delimita o mundo; o sistema escolar e sua organização revelam a so- ciedade; as pessoas envolvidas na experiência de aprendizado formam a população. Dessa forma, considerando os fatores internos e externos, para ampliar e aprofundar esta discussão, dividiremos esses fatores em três etapas de análise: os fatores afetivos, os fatores sociais e os fatores biológicos que interferem na aprendizagem. 4.2 Fatores afetivos Vídeo Ao iniciar as reflexões sobre os fatores afetivos que influenciam a aprendizagem, devemos ter claro, inicialmente, que a aprendizagem e a afetividade são questões indissociáveis, ou seja, caminham juntas, pois não existe aprendizagem sem afetividade. A afetividade é o sentimento mais profundo de que o ser humano pode participar, pois ela é a mistura de outros sentimentos, como: • amor; • motivação; Como complemento a essa discussão, faça a leitura do livro Educação, recursos, cotidiano escolar e pesquisa: processos e aprendizagem. Ele apre- senta, de modo amplo, a reflexão sobre os fatores que contribuem para a aprendizagem. MACHADO, A. de B. Curitiba: Bagai, 2021. Livro Fatores que interferem na aprendizagem 65 • ciúme; • raiva. Aprender a cuidar adequadamente de todos esses sentimentos, sabendo como interpretá-los, de modo que eles resultem em emo- ções positivas, é o que vai proporcionar ao sujeito uma vida emocional plena e equilibrada. O indivíduo nasce com recursos biológicos que lhe dão a capacidade de se desenvolver, no entanto, é no meio em que vive que as potenciali- dades orgânicas se desenvolverão. Por isso, devemos compreender do que se trata a palavra afetividade. Na psicologia, o afeto representa um agente modificador do comportamento. Ou seja, considerando que a afetividade e, consequentemente, o vínculo que se estabelece com as pessoas e os lugares modificam o comporta- mento do indivíduo, e que, por sua vez, a aprendizagem é um processo de modificação do comportamento, entende-se que eles se encontram. Quem já observou aquele aluno que não tinha um bom vínculo com o professor em um ano escolar e se saía mal nas matérias, mas que no ano seguinte possuía ótimo vínculo com o docente e a sua aprendiza- gem se desenvolvia melhor? O processo de educação significa a constituição de um sujeito, isto é, a criança, em qualquer que seja seu ambiente, em casa ou na escola, está se construindo como ser humano, por meio de suas experiências com o outro, naquele lugar e naquele momento. A construção do real acontece pela interação com o mundo, mas o aspecto afetivo nessa construção contínua sempre permanece muito presente. No processo de ensino-aprendizagem, o professor, como agente fundamental na construção da afetividade, deve passar aos alunos metas claras e realistas, levando estes a perceberem as vantagens de realizar atividades, de modo a motivá-los. Portanto, os alunos precisam sentir vontade de aprender, e o docente é quem pode despertar essa vontade neles. Por esse motivo, a afetividade constitui um importante campo de conhecimento que deve ser explorado pelos professores, uma vez que, por meio dela, é possível compreender a razão de alguns comportamentos, pois a afetividade e a aprendizagem são elementos que caminham juntos. Reconhecer os fatores afetivos e a sua influência na aprendizagem. Objetivo de aprendizagem 66 Transtornos e dificuldades de aprendizagem É inegável que para aprendermos precisamos ser afetados, no sentido de afetar positiva ou negativamente o aluno. Se o professor afe- ta o estudante positivamente e o ambiente o acolhe positivamente, o emocional fica em ordem e a aprendizagem acontece. Para nós adultos essa máxima também é verdadeira. Você não se identifica mais com as matérias nas quais o professor demonstra empatia e motivação? Para Oliveira e Rego (2003), Vygotsky, em sua teoria, elaborou uma nova concepção na relação entre mente e corpo e entre cognição e afeto. Ele enfatiza, em suas obras, a necessidade de superar essa vi- são que fragmenta esses dois aspectos e, dessa forma, busca reuni-los, para compreender o ser psicológico completo. Isso porque esse ser psi- cológico completo precisa de todos os aparatos necessários para que a aprendizagem ocorra, e o afeto é um desses elementos principais – ele não é o único, mas é um dos mais importantes. Segundo Souza (2003), Piaget também rompe com a forma iso- lada de se pensar em inteligência e afetividade e apresenta o de- senvolvimento psicológico nas dimensões afetiva e cognitiva. Piaget defende, também, a relação entre as construções cognitivas e afe- tivas ao longo do desenvolvimento humano. Para ele, a inteligência e a afetividade são dimensões indissociáveis e integradas, portanto não é possível a sua separação. Sem afeto, não existe interesse nem necessidade e motivação. Ainda, para Souza (2003), as considerações sobre as relações entre afetividade e cognição no desenvolvimento da criança partem dos se- guintes pressupostos: • a inteligência e a afetividade, por mais que sejam de naturezas distintas, são indissociáveis na conduta da criança; • a afetividade interfere constantemente no funcionamento da inte- ligência, estimulando ou perturbando, acelerando ou retardando; • a afetividade é o elemento energético das condutas. Outroautor que colabora de maneira bastante significativa no papel da afetividade na aprendizagem é Wallon. Para Nunes e Silveira (2009), Wallon relata que a escola tem de cuidar das emoções dos alunos, ensinando-os a lidar com as situações de frustração e ansiedade e não os estimulando negativamente, porque isso pode prejudicar o funciona- mento cognitivo da criança durante o processo de aprendizagem. Ainda, para Wallon, a afetividade é expressa de três formas: • Emoção: é considerada a primeira expressão da afetividade e, normalmente, não é controlada pela razão. É quando temos o impulso de pensar em bater em alguém que nos ofende, mesmo sabendo não ser a melhor atitude. • Sentimento: é a forma de expressão que já tem ligação com o cognitivo, ou seja, o indivíduo consegue aprender com aquilo que o afeta. • Paixão: tem como principal característica o autocontrole. Nela, em vez de bater em alguém que o ofende, o indivíduo consegue se controlar. Assim, o professor precisa ter cuidado, também, com suas próprias reações emocionais e com a forma como ele as demonstra para o alu- no. O docente, como exemplo de atitudes, deve compreender que o desenvolvimento humano passa por momentos conflituosos de altera- ções emocionais e, portanto, deve agir sem se deixar ser influenciado por essas situações conflituosas, buscando sempre manter o equilíbrio e utilizar a razão, pois a boa relação entre professor e aluno é um fator imprescindível para a aprendizagem. Assim, deve-se ter um ambiente em que professor e aluno se sintam bem e lidem com suas emoções de maneira coerente; isso faz com que esse local se torne um ambiente acolhedor, que proporcionará ótimos momentos de produtividade e conhecimento. Fatores que interferem na aprendizagemFatores que interferem na aprendizagem 6767 Ro be rt K neschke/Shutterstock Outro fator que envolve as questões emocionais é a motivação. Mo- tivar significa dispor o indivíduo a um comportamento desejado para aquele momento, de modo que ele esteja disposto a realizar algo. O alu- no motivado pelo professor, pelo ambiente e pelo processo de aprender, de resolver problemas e de se entregar terá melhores resultados e será cada vez mais impulsionado a novas descobertas e possibilidades. Dessa forma, uma vez que o fator emocional contribui para a aprendizagem, a motivação deve estar entre as preocupações do pro- fessor em sala de aula. 4.3 Fatores sociais Vídeo Ao tratarmos de condições sociais que interferem na aprendizagem, devemos ter em mente todas aquelas que envolvem condições econômi- cas e culturais, as quais geram má alimentação, vestimenta, qualidade de vida, de saúde, escolar e lazer e outras questões que, de alguma forma, interferem na dinâmica de desenvolvimento e aprendizagem da criança. Entre essas condições está, também, a organização familiar, que possui grande destaque, no que se refere ao seu modo de exercer roti- nas, de acompanhar as dificuldades que as crianças enfrentam e até mesmo de promover um tempo de qualidade juntos – fator relevante para o desenvolvimento infantil. O meio no qual a criança está inserida contribui para o seu rendi- mento. Além disso, é nele que, muitas vezes, a criança irá presenciar aspectos voltados à violência – por exemplo, a violência doméstica – e, inclusive, comportamentos inadequados (utilização de drogas) por parte dos adultos com quem convive. A violência doméstica deixa muitas marcas em suas vítimas, no entanto, nem sempre essas marcas são visíveis a um primeiro olhar. A criança e o adolescente que sofrem a violência doméstica deixam transparecer alguns sinais que servem de alerta. Azevedo e Guerra (2000, p. 5) apre- sentam alguns deles: • desconfiança exagerada, medo e cho- ro excessivo; Como complemento às nossas discussões, assista ao vídeo Aprendizagem X afetividade, do canal Sala dos Professores, em que a professora Izabel Paro- lin fala sobre afetividade e aprendizagem. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=T8XaWEDWURQ. Acesso em: 23 dez. 2021. Vídeo Conhecer fatores sociais que devem ser conside- rados nas dificuldades de aprendizagem. Objetivo de aprendizagem fizkes/Shutterstock 6868 Transtornos e dificuldades de aprendizagemTranstornos e dificuldades de aprendizagem https://www.youtube.com/watch?v=T8XaWEDWURQ https://www.youtube.com/watch?v=T8XaWEDWURQ https://www.youtube.com/watch?v=T8XaWEDWURQ Fatores que interferem na aprendizagem 69 • mudanças abruptas e frequentes de humor; • comportamento agressivo, destrutivo, passivo ou submisso; • problemas de relacionamento com colegas; • tentativa de suicídio, depressão, pesadelos e sono perturbado; • mau desempenho escolar e dificuldades de aprendizagem não atribuída a problemas físicos. Sendo assim, a maneira como a criança é tratada e a forma como ela se vê e se sente irão influir em muito no que ela faz durante seu processo de aprendizagem (POPPOVIC, 1980). Outro fator social é o desemprego, que gera, várias vezes, a impossibilidade de estudar, pois questões financeiras po- dem gerar evasão, reprovação e desistência dos estudos, até porque muitas dessas crianças acabam indo trabalhar para ajudar no orçamento familiar. O gráfico a seguir demonstra alguns desses fatores que ocasionam a saída da criança e do adolescente da escola. Figura 1 Questões sociais que ocasionam a saída do jovem da escola Por que jovens de 15 a 17 anos não estudam – em % Meninos 5,93 3,95 6,03 7,24 0,3 6,9 7,28 5,67 24,75 24,02 8,36 25,5 39,73 - Meninas 45 36 27 18 9 0 Falta de escola/ vaga/distância Falta de dinheiro para pagar despesas escolares Cuidados domésticos Problema de saúde ou deficiência Gravidez ou cuidar de criança Trabalha ou procura emprego Não tem interesse Fonte: Azevedo; Guerra, 1994. Freedomz/Shutterstock Os fatores sociais apresentados no gráfico da Figura 1 podem ser de ordem familiar e econômica. Porém, podemos considerar, ainda, o am- biente escolar como o responsável pelo sucesso ou não da aprendizagem. Sendo a família o primeiro contato da criança com o mundo em sociedade, a escola passa a ser esse segundo meio de convívio, onde o indivíduo irá adquirir experiências e vivências que contribuem para a sua aprendizagem. É importante que a organização dos espaços dentro da escola favoreça o acolhimento, a socialização e o desenvolvimento das habilidades da criança. Dessa forma, podemos considerar alguns aspectos que favorecem essa estrutura escolar: • ter uma estrutura física apropriada, com mobiliários adequados para a faixa etária; • estabelecer quando, como e onde cada espaço da escola é orga- nizado para favorecer a aprendizagem e a socialização; • promover um espaço que favoreça o contato e as relações so- ciais, pois elas contribuem para a aprendizagem e aproximam professores e alunos. Importante compreendermos que o meio social, sendo ele familiar ou escolar, influencia o desenvolvimento e a aprendizagem infantil. Tudo o que somos vem de uma história de vida, das nossas expe- riências positivas e negativas que nos constituem como pessoa. Para ampliar nossa reflexão sobre os fatores sociais que interferem na aprendizagem, assista ao vídeo Verbete de “Desi- gualdade Educacional”, do canal Observatório das desigualdades UFRN. O vídeo mostra pesquisas feitas no Brasil sobre a realidade das crianças e a sua aprendizagem em diferentes classes sociais. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=Rh3m8CGV14s&t=146s. Acesso em: 23 dez. 2021. Vídeo 7070 Transtornos e dificuldades de aprendizagemTranstornos e dificuldades de aprendizagem Fa m Ve ld /S hu tte rs to ck https://www.youtube.com/watch?v=Rh3m8CGV14s&t=146s. https://www.youtube.com/watch?v=Rh3m8CGV14s&t=146s. https://www.youtube.com/watch?v=Rh3m8CGV14s&t=146s. Fatores que interferem na aprendizagem 71 Sabendo disso, proporcionar às crianças uma boa base de desen- volvimento, em um ambiente social adequado, faz parte de todosque trabalham pela educação e por um desenvolvimento integral, onde o so- cial, o afetivo e o biológico possam se desenvolver de maneira saudável. 4.4 Fatores biológicos Vídeo Os fatores biológicos que interferem na aprendizagem são aqueles que nascem com a criança ou são adquiridos ao longo da vida, como no caso de uma lesão cerebral. Ao pensarmos no período de gestação, devemos saber que o siste- ma nervoso do bebê se desenvolve por etapas, e esse desenvolvimento continua após o seu nascimento. Durante esse processo, quando, por alguma razão, esse desenvolvimento é alterado, pode-se gerar uma di- ficuldade de aprendizagem. A falta de equilíbrio químico pode, ainda, causar dificuldades de aprendizagem, pois os neurotransmissores fazem a comunicação entre as células cerebrais. As alterações químicas podem fazer com que essa comunicação não ocorra da forma adequada e, assim, contribuir para dificuldades de aprendizagem ou para transtornos de atenção e hiperatividade. Outro fator pode ter a sua causa hereditária: a hereditariedade pode determinar o desenvolvimento de dificuldade de aprendiza- gem, como a hiperatividade, que leva à falta de concentração, à difi- culdade para seguir instruções, à imaturidade social, à inflexibilidade, à dificuldade com habilidades organizacionais, à distração, à falta de destreza e ao controle inibitório. A dislexia e o autismo também são exemplos de dificuldades que podem ter a sua causa na hereditariedade. Sabe-se que memória, linguagem e atenção são as funções execu- tivas de base para a aprendizagem. Elas são desenvolvidas no nosso encéfalo e ampliadas a cada ano de existência. Além disso, são fato- res que partem de um desenvolvimento biológico e cerebral, mas, para que se ampliem, contam os estímulos do cotidiano. Se algo não se desenvolveu nessas áreas, podem surgir problemas de aprendizagem. O cérebro é o órgão da aprendizagem; ele é composto de bilhões de neurônios. Esses neurônios são as células nervosas, que interagem entre si e com outras células, formando redes neurais. Por meio dessas redes neurais, podemos aprender. Reconhecer fatores bioló- gicos que interferem na aprendizagem. Objetivo de aprendizagem 72 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Os neurônios são células estimuláveis que se comunicam entre si ou com outras células. O nosso comportamento depende do número de neurônios envolvido nessa rede de comunicação neural e dos seus neurotransmissores. Os neurotransmissores são substâncias químicas que modulam a atividade celular, estimulando ou não a comunicação entre os neurônios. Nesse sentido, o nosso desenvolvimento e a nossa aprendizagem dependem do bom funcionamento dessas células. Essas células, quando em equilíbrio e trabalhando juntas, favorecem o bom funcionamento das cinco partes do nosso cérebro chamadas lobos: • o lobo frontal é responsável pela tomada de decisão, pelo julga- mento, pela memória recente, pela crítica e pelo raciocínio; • o lobo parietal está relacionado às sensações, à interpretação das sensações e ao senso de localização do corpo e do meio ambiente; • o lobo occipital se ocupa basicamente com a visão; • o lobo temporal se ocupa basicamente com a audição; • o lobo insular está relacionado a processos emocionais forte- mente influenciados pelos órgãos dos sentidos. Ao saber como cada uma das áreas do nosso cérebro funciona e como elas devem ser estimuladas, espera-se, então, que a escola, frente à sua contribuição a esse desenvolvimento biológico, possa mol- dar e modificar cada área. As metodologias utilizadas por professores são estímulos que produ- zem a reorganização desse sistema nervoso em desenvolvimento, o que resulta, consequentemente, em mudanças comportamentais e cognitivas. Como complemento e aprofundamento das nossas discussões sobre os fatores biológicos que interferem na aprendiza- gem, sugerimos a leitura do livro Neurociência e educação: como o cérebro aprende. O livro mostra como ocorre o funcionamento do cérebro, para que a aprendizagem ocorra, e nos leva a compreender melhor cada um dos aspectos que interferem de maneira orgânica na aprendizagem. COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Porto Alegre: Artmed, 2014. Livro M at tL ph ot og ra ph y/ Sh ut te rs to ck Fatores que interferem na aprendizagem 73 Esse processo ocorre devido à neuroplasticidade cerebral, que é a capacidade de se reorganizar frente a novos estímulos, sejam eles po- sitivos ou negativos. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento humano é muito mais complexo do que parece. Devemos considerar todos os fatores que englobam a evolução da criança, levando em conta cada uma de suas fases, para então compreender como a aprendizagem acontece e assim poder agir de maneira adequada a cada caso. Sendo os fatores afetivos, sociais ou biológicos os principais a serem considerados para a aprendizagem, eles devem ser vistos pela escola, pelo professor e por todos os envolvidos na aprendizagem da criança. Dessa forma, podem ocorrer melhores resultados tanto para a socializa- ção da criança quanto para o seu aprendizado. ATIVIDADES Atividade 1 Escreva como Piaget entende a relação entre afetividade e apren- dizagem e apresente um exemplo prático sobre isso. Atividade 2 Cite quais são as questões voltadas ao ambiente escolar que podem interferir no desempenho escolar do aluno. Atividade 3 Com relação aos fatores biológicos que interferem na aprendiza- gem, descreva o processo que acontece no encéfalo para que a aprendizagem ocorra. 74 Transtornos e dificuldades de aprendizagem REFERÊNCIAS FERREIRA, S. H. de A.; BARRERA, S. D. Ambiente familiar e aprendizagem escolar em alunos da educação infantil. Core, 2021. Disponível em: https://core.ac.uk/download/ pdf/25529929.pdf. Acesso em: 13 dez. 2021. MARTURANO, E. M. Ambiente familiar e aprendizagem escolar. In: FUNAYAMA, C. A. R. (org.). Problemas de aprendizagem: enfoque multidisciplinar. Ribeirão Preto: Legis Summa, 1998. NUNES, A. I. B. L.; SILVEIRA, R. do. N. Psicologia da aprendizagem: processos, teorias e contextos. Brasília: Líber Livro, 2009. OLIVEIRA, M. K.; REGO, T. C. Vygotsky e as complexas relações entre cognição e afeto. In: ARANTES, V. A. (org.) Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 2003. POPPOVIC, A. M. (coord.). Pensamento e linguagem: programa de aperfeiçoamento para professores da 1ª série. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 1980. SOUZA, M. T. C. C. de. O desenvolvimento afetivo segundo Piaget. In: ARANTES, V. A. (org.). Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 2003. TAYLOR, A. P.; VLASTOS, G. School zone: learning environments for children. Novo México: School Zone, 1983. https://core.ac.uk/download/pdf/25529929.pdf https://core.ac.uk/download/pdf/25529929.pdf Prevenção, diagnóstico e intervenção 75 5 Prevenção, diagnóstico e intervenção As dificuldades e os transtornos de aprendizagem são fatores que po- dem ocorrer durante o desenvolvimento humano por diferentes aspectos e motivos, sendo eles: o biológico, quando relacionado a fatores de ordem genética; o afetivo, relativo às questões emocionais e motivacionais; o so- cial, que diz respeito às condições culturais e econômicas; ou o cognitivo, que se refere à forma com que se assimila a aprendizagem. Essas dificuldades e transtornos devem ser diagnosticados precoce- mente para que seja dado à criança e à família todo o amparo durante seu desenvolvimento, ou até mesmo para que algumas ações possam ser realizadas de maneira preventiva a fim de que a dificuldade em si seja minimizada. Após a realização desse diagnóstico, a intervenção – ou seja, o caminho a ser seguido no auxílio para a criança – deve ser trilhada em conjunto com os terapeutas responsáveis, a família e a escola. Porém, o caminho que antecede tudo isso é a prevenção. É importante sabermos que existem formas de prevenir esses transtornos e dificulda- des e, porisso, conhecê-los também é parte do trabalho do professor. 5.1 Desenvolvimento das funções executivas Vídeo Os estímulos ao desenvolvimento das funções executivas podem ser um primeiro caminho de prevenção às dificuldades de aprendizagem, pois é por meio deles que toda a cognição e a interação com o mundo ocorrem. No entanto, do que se trata o termo funções executivas? Podemos compreender as funções executivas como aquelas que realizam a execução, ou seja, que fazem com que tudo aconteça no nosso corpo com relação à aprendizagem, ao conhecimento e à intera- ção com o mundo. As funções executivas não possuem um consenso sobre a sua con- ceituação, sendo geralmente definidas, de acordo com Garon, Bryson e Smith (2008) e Lezak (1995), como o conjunto de habilidades e capaci- Conhecer as funções exe- cutivas como base para a aprendizagem. Objetivo de aprendizagem 76 Transtornos e dificuldades de aprendizagem dades que nos permitem executar as ações necessárias para atingir um objetivo. Elas trabalham de modo integrado para que isso ocorra, au- torregulando o comportamento humano. As funções executivas permitem o planejamento de ações cotidia- nas, bem como a sua manutenção e continuidade. Para Fonseca (2014), elas são as habilidades cognitivas necessárias para re- gular nossos pensamentos, emoções e ações, e que, portanto, possuem um papel e um impacto na vida social, afetiva e inte- lectual por toda a nossa existência, exercendo grande influência desde a infância. Vejamos, no quadro a seguir, o que podemos considerar como fun- ções executivas. Quadro 1 Funções executivas Atenção É a capacidade de sustentação, foco, fixação, seleção de dados relevantes e irrelevantes, de saber lidar com momentos de distração que acabam desviando a atenção. Percepção É a capacidade de perceber e receber os estímulos vindos do ambiente por meio dos órgãos sensoriais e atribuir sentido à mensagem que eles trazem. Memória de trabalho É desenvolver a capacidade de retenção e de operação, ou seja, de localização, recuperação, manipulação, julgamento e utiliza- ção das informações relevantes. Controle É saber agir com persistência, esforço, inibição, regulação e autoavaliação de tarefas realizadas, a fim de buscar formas corretas de trabalho. Ideação É conseguir trabalhar com o improviso, raciocínio indutivo e dedutivo, precisão e conclusão de tarefas no tempo planejado e disponível para o momento. Planificação e a antecipação É trabalhar com prioridades, organização, hierarquização e predi- ção de tarefas visando atingir fins, objetivos e resultados. Flexibilização É saber realizar autocrítica realizando a alteração de condutas, mudando estratégias, detectando erros e obstáculos, buscando intencionalmente soluções sempre que necessário. Metacognição É desenvolver a capacidade de auto-organização, sistematiza- ção, controle, revisão de resultados e supervisão da sua própria aprendizagem. Decisão É conseguir aplicar diferentes resoluções de problemas, saber realizar a gestão do próprio tempo. Execução É executar e finalizar determinada atividade realizando a revisão dos resultados e retomando o que for necessário. Fonte: Elaborado pela autora com base em Fonseca, 2014. Ill ia R /S hu tte rs to ck Er ta /S hu tte rs to ck Prevenção, diagnóstico e intervenção 77 Já para Barkley (1997), a autorregulação é o componente-chave das funções executivas, pois leva ao comportamento orientado, à utilização de regras e falas reguladas, assim como ao controle dos impulsos. O modelo de funções executivas proposto por Barkley (1997) inclui, ainda, quatro domínios principais: 11 22 33 44 M ay oC re at ive /S hu tte rs to ck Memória de trabalho Autorregulação do afeto, da motivação e da estimulação Internalização da fala Reconstituição (análise e síntese do comportamento) Segundo Barkley (1997), o primeiro domínio apresenta a capacidade de manter e manipular uma informação na mente, ter noção de tem- po, autoconsciência e funções retrospectiva e prospectiva. O segundo domínio trata da capacidade de as pessoas se motivarem ou se envol- verem afetivamente para um fim específico. Uma forma de reflexão, autoquestionamento e monitoramento an- tes de agir, o que auxilia o indivíduo a manter o curso dos planos e objetivos, é o que apresenta o terceiro domínio. Finalmente, o último domínio representa as atividades relacionadas à análise e à síntese. A primeira fragmenta comportamentos ou situações em partes, e a se- gunda pode recombiná-las em novas formas criativas de sequências de comportamento (verbal ou não verbal). Devemos compreender que o desenvolvimento das funções execu- tivas depende tanto de um bom desenvolvimento neuronal quanto de treino e estímulos para que cada uma delas trabalhe de modo interli- gado, otimizando a aprendizagem. Assim, durante a infância, e em especial na escola, existem estímulos, apresentados por Fonseca (2014), que fazem com que a criança desen- volva essas habilidades. Vejamos, a seguir, quais são eles. 78 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Estabelecer os objetivos de cada tarefa a ser realizada. Ni ki ta S ta rk ov /S hu tte rs to ck Planificar, gerir e antecipar tarefas, textos e trabalhos, buscando organizar as demandas de tarefas. Ordenar e priorizar tarefas no espaço e no tempo adequado para concluí-las. Organizar diferentes fontes de informação e de estudo que possam auxiliar na aprendizagem. Separar ideias e conceitos gerais de detalhes e pormenores, sabendo separar o que é essencial do que é complemento. Pensar, manipular, memorizar e resumir dados ao mesmo tempo que se realizam leituras e estudos. Considerando um panorama de regularidade, ou seja, quando as estruturas cognitivas da criança se apresentam preservadas, essas são as funções executivas e algumas formas de estimulá-las. Mas e quando essas estruturas não estão em condições de serem estimuladas e de interagirem entre si? Uma das causas de as funções executivas não interagirem entre si e não gerarem aprendizagem são as lesões nas estruturas pré-frontais do cérebro. Elas podem causar, entre outros problemas, situações como o déficit de autoconsciência, a falta de motivação, a dificuldade para seguir ações, controlar as emoções e, ainda, desenvolver uma rigi- dez cognitiva que impede a aprendizagem em alguns aspectos. Para ampliar seus conhe- cimentos sobre funções executivas, assista ao vídeo Funções Executivas: habilidades para a vida e a aprendizagem. O vídeo demonstra o desenvolvi- mento e estímulos dessas funções desde a primeira infância. Disponível em: https://www.fmcsv. org.br/pt-BR/biblioteca/funcao- executiva---habilidade-para-a- vida-e-aprendizagem/. Acesso em: 14 jan. 2022. Vídeo https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/funcao-executiva---habilidade-para-a-vida-e-aprendizagem/ https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/funcao-executiva---habilidade-para-a-vida-e-aprendizagem/ https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/funcao-executiva---habilidade-para-a-vida-e-aprendizagem/ https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/biblioteca/funcao-executiva---habilidade-para-a-vida-e-aprendizagem/ Prevenção, diagnóstico e intervenção 79 Desse modo, problemas com o desenvolvimento das funções exe- cutivas podem alterar os processos cognitivos, como também a realiza- ção de tarefas cotidianas. Um desses problemas associados à deficiência nas funções executi- vas é a síndrome desexecutiva, ou síndrome frontal, associada à lesão do lobo frontal do cérebro. Essa síndrome atinge diversas habilidades cognitivas, como a moti- vação, a flexibilidade de pensamento e a autorregulação, o que, conse- quentemente, leva a problemas no ato de planejar e tomar decisões. Juntos, esses fatores causam uma conduta desorganizada e podem provocar mudanças de personalidade e até mesmo variações de hu- mor. Essa lesão que acarreta a síndrome desexecutiva pode ocorrer devido a uma lesão cerebral, seja ocasionada pormeio de um derrame, tumores ou doenças neurodegenerativas. 5.2 Prevenção às dificuldades de aprendizagem Vídeo Ao tratarmos de prevenções referentes às dificuldades de apren- dizagem, devemos ter claro que essas são basicamente estímulos e cuidados que devem monitorar o desenvolvimento desde a infância, visando proporcionar um bom desenvolvimento das funções executi- vas e de outros aspectos que influenciam na aprendizagem, como os fatores afetivos, biológicos e sociais. O ato de prever algo está relacionado à visão de que se tem totalidade, visualizando os objetivos, os caminhos a seguir e os resultados espe- rados. Se dentro dessas expectativas algo não acontece em um ritmo adequado, essa situação deve ser revista. É importante ressaltar que, no processo de desenvolvimento e de aprendizagem, cada criança se desenvolve conforme o repertório e a capacidade que ela possui, por isso, antes de apontar características como dificuldades, é necessária uma observação precisa de como essa criança pensa e age. É por essa razão que o trabalho em sala de aula é algo tão minu- cioso e de extrema importância. Relacionar trabalhos preventivos de problemas de aprendizagem. Objetivo de aprendizagem Be ar Fo to s/ Sh ut te rs to ck 80 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Com relação ao trabalho em sala de aula, algumas concepções po- dem ser alteradas para que a aprendizagem se torne mais prazerosa, leve e com um caráter preventivo diante de dificuldades. A prevenção é a visão que o professor tem sobre os erros come- tidos, pois eles podem ser vistos como uma chance de verificar a forma como o aluno pensa, age e processa a informação que lhe foi passada, bem como a maneira que ele compreendeu determinado contexto. Assim, a reflexão sobre o erro acarreta, consequentemente, uma reformulação das práticas docentes, sendo essa uma forma preven- tiva de agir, pois, a partir do momento em que essas dificuldades podem ser percebidas, são sanadas antes de se tornarem proble- mas maiores. Se durante o percurso de aprendizagem o aluno não aprendeu, por exemplo, na matemática, a formação dos números (que 8 pode ser 4+4, ou 5+3, ou 2+6...), sua flexibilidade de pensamento para as- similar o processo das quatro operações (adição, subtração, divisão e multiplicação) será mais difícil. É necessário, inicialmente, com- preender essa constituição de números para que o professor possa manuseá-los de diferentes formas nos conteúdos seguintes. Dessa forma, se o professor percebeu que o aluno não compreen- deu a base da atividade, de nada adianta evoluir para algo mais com- plexo, pois esse conhecimento fará falta na sequência. Logo, a forma preventiva é retomar e se assegurar de que o aluno assimilou o que lhe foi transmitido. Outro fator importante é a estrutura curricular da escola, ou seja, o que é ensinado, quando e de que forma. Trata-se de um meio de reflexão para a prevenção das dificuldades de aprendizagem, uma vez que é necessário revisar constantemente se ela está de acordo com a estrutura cognitiva, afetiva e social do aluno, equilibrando es- sas estruturas. Sabe-se que a organização curricular depende não somente de meios burocráticos, mas deve levar em consideração também a rea- lidade social e a demanda que a turma apresenta naquele momento. Não se trata de um documento fechado, mas sim flexível, no qual a retomada de conceitos e a reformulação de estratégias caminha junto com a resposta que os alunos dão à aprendizagem. Outro fator Ay an e Ha sh im ot o/ Sh ut te rs to ck Para aprofundar seus conhecimentos, recomen- damos a leitura do livro Prevenção das dificuldades de aprendizagem na Edu- cação Infantil. O material apresenta dicas de obser- vação para o professor, voltado a todo o processo de desenvolvimento de aprendizagem da criança, para que ele possa, assim, interferir nesse processo de modo preventivo e com a estimulação adequada. GASS. E. L.; STAMPA. M. Rio de Janeiro: Wak, 2018. Livro Prevenção, diagnóstico e intervenção 81 M on ke y B us in es s Im ag es /S hu tte rs to ck relevante para a prevenção das dificulda- des de aprendizagem é a forma como o professor se comunica com o aluno. A clareza da comunicação é um fator fundamental. Deve-se ter claro, a princípio, que o que é obvio para um pode não ser para o outro. Para se expressar adequadamente com o grupo com que se fala, é necessário levar em conta alguns aspectos: faixa etária (no caso de crianças, utilizar um vocabulário que corresponda ao seu reper- tório de conhecimento); classe social e cultural, considerando que cada termo novo que contribua para a ampliação do vocabulário seja explicado e tenha sentido; e também o fator regional, pois dentro do nosso país a variação linguística é muito diferente se compararmos as regiões Sul e Nordeste, por exemplo. Assim, a forma de acolher, comunicar e se fazer entender é muito importante em sala de aula. Nenhum ponto deve ser esquecido. Dessa forma, considerar cada um desses fatores de maneira sen- sível a cada situação traz uma ótima perspectiva de prevenção. Essa sensibilização com relação aos cuidados e detalhes do ato de apren- der deve ser iniciada desde os primeiros anos da criança na escola, pois, a cada fase do desenvolvimento infantil, novas expectativas e possibilidades surgem para a sua aprendizagem e desenvolvimento. 5.3 Diagnóstico das dificuldades de aprendizagem Vídeo As dificuldades de aprendizagem surgem, em sua grande maioria, a partir do momento em que a criança ingressa na escola e é descoberta por meio do seu desempenho e dos resultados que apresenta. Nesse momento, suas habilidades são colocadas à prova e surgem as caracte- rísticas específicas de cada criança. Desse modo, é importante que o professor saiba identificar os possíveis problemas para encaminhar o aluno a uma avaliação Reconhecer como é realizado o diagnóstico dos problemas de aprendizagem. Objetivo de aprendizagem https://blog.trivium.com.br/inovacao-na-educacao-tecnologias-que-tem-ajudado-a-aprendizagem/ 82 Transtornos e dificuldades de aprendizagem diagnóstica o quanto antes a fim de que o diagnóstico seja feito e possíveis soluções possam ser aplicadas em sala de aula. No entanto, é necessário destacar que não há a necessidade de encaminhar todas as dificuldades para a avaliação de profissionais externos. Muitas delas podem ser momentâneas, causadas por falta de entendimento de um conteúdo específico, podendo ser resolvidas com uma intervenção extra do professor, uma aula de reforço ou uma dinâmica diferenciada em sala de aula. Nesses casos, percebemos que o problema é resolvido em sala de aula mesmo, com o trabalho do professor, mas, em algumas situações, essa dificuldade persiste. Essa persistência se dá pela falta de enten- dimento, de atenção e de memorização, que, apresentados de modo constante, precisam ser avaliados por um profissional externo à escola (psicopedagogo, psicólogo ou neurologista). O professor, antes de so- licitar tal avaliação, precisa observar e verificar diferentes pontos para ter certeza de que o caso se refere a questões de ordem pedagógica, que podem ser vistas na escola, ou se a criança precisa realmente ser encaminhada a um profissional externo. A observação do comportamento e das atitudes do aluno em sala de aula pode ser considerada um primeiro passo para essa verificação da real dificuldade que se apresenta no momento. Por meio do comporta- mento do aluno, o professor pode analisar se ele se mostra desatento, se demora para realizar as atividades além do tempo esperado, se ele consegue manter a concentração pelo tempo necessário, se retém a informação que lhe foi passada, bem como observar o comportamento desse aluno diante de desafios e trabalhos em grupo. Outro fator que deve ser analisado refere-se à qualidade, o que se dá na verificação das atividades e provas realizadas, por meio de um olhar minucioso, que resultana possível percepção sobre quais são os obstáculos enfrentados pelo aluno, sejam eles relativos à interpretação do que deve ser feito ou aos conteúdos em si. Paralela a essa verificação das atividades e provas, ocorre também a visualização da qualidade da escrita do aluno, pois por meio dela é possível compreender como estão o rendimento e o desenvolvimento do estudante e se ele apresenta dificuldades específicas, como de tro- cas ortográficas constantes, de produção textual, de interpretação e leitura, que podem significar algum distúrbio. Prevenção, diagnóstico e intervenção 83 A observação minuciosa, em sala de aula, dos alunos que apresen- tam dificuldades de aprendizagem é uma ferramenta importante, uma vez que por meio dela é possível encontrar diversas possibilidades de auxílio ou mesmo verificar a necessidade de um encaminhamento para os profissionais externos à escola. Quando o caso é encaminhado para a avaliação externa com pro- fissionais específicos, eles realizarão, em ambiente clínico, uma bateria de testes que trarão as repostas sobre em qual fase da aprendizagem a criança se encontra ou, ainda, se ela não está ocorrendo devido a fatores emocionais, biológicos ou sociais. Terminado esse processo de avaliação e, em seguida, dado o diagnóstico quanto ao problema de aprendizagem, a escola e a família serão orientadas sobre como proceder com essa criança para que a aprendizagem e/ou socialização ocorra de maneira satisfatória. Esses problemas podem ser: • dislexia; • disgrafia; • disortografia; • discalculia; • TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade); • TOD (transtorno desafiador opositor); • TOC (transtorno obsessivo compulsivo); • fatores pedagógicos, relacionados à escola em si e aos apoios que podem ser viabilizados e solucionados nesse mesmo ambiente. Dessa forma, o diagnóstico é um elemento muito importante para traçarmos o caminho a ser seguido – considerando, aqui, o processo para se chegar ao diagnóstico, que se inicia pela visão do professor em sala de aula e prossegue por meio do encaminhamento a profissionais especializados. Ao final de todo o processo de avaliação, quando se chega ao diagnóstico, surgem novas possibilidade de repensar a prática docen- te – e, se necessário, também a estrutura curricular – e de realizar um trabalho integrado com diferentes profissionais. Por meio do diagnóstico, é possível começar a pensar sobre a di- ficuldade de aprendizagem sob outro olhar, como o de perceber, Como complemento para os seus estudos, suge- rimos a leitura do livro Diagnóstico e tratamento dos problemas de apren- dizagem, de Sara Paín. O material apresenta subsí- dios históricos e práticos do diagnóstico. PAÍN, S. Porto Alegre: Penso, 1985. Livro 84 Transtornos e dificuldades de aprendizagem inicialmente, os acertos dos alunos, o quanto eles evoluem dentro da sua capacidade e o valor de cada uma das suas conquistas ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Esse olhar leva ao entendimento de que o tempo e o momento de cada um podem variar, e saber acolher em cada uma dessas ocasiões faz parte do trabalho docente. 5.4 Intervenção aos problemas de aprendizagem Vídeo Após discutirmos sobre o olhar minucioso e entender como funcio- na o processo de prevenção, avaliação e diagnóstico dos problemas de aprendizagem, refletiremos agora sobre as formas de intervir e auxiliar na superação ou, então, em como abrir os caminhos para que a crian- ça aprenda a lidar com cada um desses problemas ou distúrbios de aprendizagem. A ação de intervir pode estar relacionada ao ato de agir a favor de alguma coisa, ou seja, auxiliar para que determinada situação venha a acontecer, mediar ou ajudar. No caso das dificuldades de aprendiza- gem, o processo de intervenção surge como o caminho, o qual, após o diagnóstico, deve ser percorrido para que o indivíduo aprenda e se desenvolva bem. O processo de intervenção deve ocorrer, a princípio, em dois âmbi- tos: na escola e com o psicopedagogo, que é o profissional que trabalha diretamente com os problemas de aprendizagem. Ambos os ambien- tes devem estar em contato e consonância com a família, para que seja trabalhada uma mesma linha de auxílio a essas crianças e jovens. No âmbito das intervenções que acontecem na escola, é necessário, inicialmente, reconhecer que não se trata de uma tarefa fácil lidar com essa diversidade em sala de aula. A escola deve superar a repetência como solução dos problemas, bem como a visão de que determinado aluno não tem mais como melhorar, aumentando, assim, os prejuízos à sua aprendizagem e formação. Intervir significa auxiliar a criança na superação dos seus obstáculos. Alguns processos simples realizados no ambiente escolar podem auxiliar as crianças com dificuldades de aprendizagem e devem ser considerados, como se segue: Identificar como ocorrem as intervenções relacio- nadas aos problemas de aprendizagem. Objetivo de aprendizagem Prevenção, diagnóstico e intervenção 85 O primeiro passo é ter clareza sobre o diagnóstico. A partir do momento em que a escola tem certeza de quais obstáculos essa criança possui, todos os envolvidos no trabalho com ela devem estar cientes sobre suas limitações e devem agir por um mesmo caminho para auxiliá-la. M ar tia l R ed /S hu tte rs to ck É necessário saber que as intervenções devem ser pontuais, ou seja, o professor deve agir no mesmo momento em que percebe que algo não está claro para a criança. Enquanto alguns alunos da sala trabalham com autonomia, o professor pode atender aqueles com mais dificuldade e auxiliar nas questões que para eles parecem mais difíceis naquele momento. Algumas escolas mantêm um professor tutor ou auxiliar que possa fazer os ajustes de aprendizagem ao lado da criança durante a aula, disponibilizando uma atenção diferenciada àquela criança específica que apresenta dificuldade. As salas específicas de apoio pedagógico também constituem uma boa solução de acompanhamento dos problemas de aprendizagem. Nessas salas, a orientação pode ocorrer tanto para o aluno quanto para aquele professor que não sabe exatamente como adequar sua aula ou lidar com o aluno que está na escola com um determinado laudo. O contato direto com a família é essencial. A escola precisa mantê-la informada sobre os encaminhamentos que estão sendo realizados com a criança, bem como orientar sobre quais tipos de auxílio ela pode fornecer em casa como complemento do trabalho escolar. O contato com os profissionais externos que atendem a criança também é necessário, de modo que seja realizado um trabalho em conjunto e eles possam acompanhar a evolução e os obstáculos que ainda precisam ser trabalhados. A escola e os professores precisam ter um plano de trabalho e objetivos claros individualizados para cada criança que apresenta uma dificuldade ou transtorno específico. Como complemento e auxílio a esses processos, a escola deve contar com profissionais externos que trabalhem em conjunto, orientem e 86 Transtornos e dificuldades de aprendizagem auxiliem nas estratégias que direcionam o trabalho com essas crianças com dificuldades de aprendizagem – o psicopedagogo, por exemplo. Já no que se trata do atendimento psicopedagógico clínico, Weiss (2000) define a prática psicopedagógica como aquela que deve consi- derar a criança como um ser global, composto pelos aspectos biológico, cognitivo, afetivo, social e pedagógico, aspectos esses considerados des- de o processo de avaliação das dificuldades do aluno, como visto ante- riormente, e que devem se estender durante o processo de intervenção. No que se refere à construção biológica do ser humano, sua relação com a dificuldade de aprendizagem está na causa orgânica, que diz respeito àquela relacionada ao corpo, ao cérebro e ao seu desenvolvi- mento em si. Quanto ao aspecto cognitivo, os problemas de aprendizagem são vistos com base nas estruturas do pensamento, ou seja,na capacidade do potencial cognitivo desenvolvido de acordo com as expectativas de cada fase do desenvolvimento, pois a criança apresenta, a cada ano, diferentes habilidades a serem desenvolvidas. O aspecto afetivo está relacionado à forma como o aprender se manifesta, uma vez que o indivíduo pode não conseguir estabelecer um vínculo positivo com a aprendizagem, o que acarreta dificuldades posteriores. Estar à vontade com o ambiente de aprendizagem, com quem medeia a aprendizagem e confiante de sua capacidade faz parte de um processo emocional/afetivo que contribui para a aprendizagem. O aspecto social se refere à relação do sujeito com a família, com a sociedade, com seu contexto social e cultural, visto que o aluno pode não aprender por apresentar limitações culturais relacionadas aos sa- beres escolares, por não contar com o apoio e suporte da família. Sa- bemos que, até boa parte da infância, esses elementos são essenciais para que a aprendizagem ocorra. Não podemos deixar de citar também o aspecto pedagógico, que diz respeito à forma como a escola organiza o seu trabalho, ou seja, o método, a avaliação, os conteúdos, a forma de ministrar a aula, entre outros. Devemos lembrar que, após passar pelo processo de avaliação, pode ser constatado que a criança não tem nenhum problema especí- fico, síndrome ou transtorno, mas sim uma “despedagogia”, ou seja, a falta de pré-requisitos para a aprendizagem ou a falta de entendimen- to dos saberes que deveria dominar naquele momento e que, nesse Prevenção, diagnóstico e intervenção 87 caso, devem ser revistos e acompanhados pela própria escola e pelo professor. Weiss (2000) afirma, ainda, que a aprendizagem é a constante inte- ração do sujeito com o meio. Dessa forma, é também a interação de todos os outros aspectos, assim como o não funcionamento ou o fun- cionamento insatisfatório de um dos aspectos apresentados, podendo gerar problemas de aprendizagem. Tendo refletido sobre cada um desses aspectos, basta agora estabe- lecer o caminho do auxílio que será prestado a essa criança ou jovem. O atendimento psicopedagógico clínico varia muito conforme a de- manda e a necessidade apontada. Em casos simples, o aluno pode fre- quentar o consultório uma a duas vezes por semana para ser realizado um trabalho de ressignificação do aprender. Casos mais específicos, como o TEA (transtorno do espectro autista), por exemplo, dependendo do seu grau, podem requerer atendimentos de três a quatro vezes por semana e com diferentes profissionais além da escola. Assim, o enfoque psicopedagógico na dificuldade de aprendizagem compreende como parte do trabalho com o desenvolvimento mais do que a dificuldade, considerando, também, os diferentes caminhos que podem ser abertos para que a aprendizagem ocorra. O olhar psicopedagógico entende o aluno como um ser interdisci- plinar e busca apoio em diferentes áreas do conhecimento, além de analisar a aprendizagem no contexto escolar e familiar. O trabalho no consultório é individualizado, pois, mesmo que apre- sente a mesma síndrome, transtorno ou dificuldade, cada ser humano reage de uma forma diferente às intervenções, possui caminhos diver- sos de desenvolvimento e compreensão. Por isso, o tempo de interven- ção é algo amplo e que dependerá da evolução de cada situação. De qualquer modo, o trabalho comprometido e direcionado, em parceria com a escola e a família, é o melhor caminho para que a superação de obstáculos aconteça. Recomendamos a leitura do livro Dificuldades de aprendizagem: uma proposta pedagógica para alunos disléxicos. O livro traz um bom exemplo de intervenção como complemento aos nossos estudos, em específico para alunos disléxicos. FERREIRA, S. M. D. São Paulo: Nelpa, 2019. Livro CONSIDERAÇÕES FINAIS A complexidade do desenvolvimento humano, em todos os seus âm- bitos – neurológico, biológico, social e afetivo –, demonstra a riqueza da individualidade e peculiaridades de cada um, seja na forma de ser, agir, interagir com o mundo e nas diferentes formas de aprender. 88 Transtornos e dificuldades de aprendizagem Entender essa complexidade está relacionado a um estudo constante sobre essa compreensão, que nos leva a novas descobertas, novas formas de diagnosticar e intervir nos problemas e transtornos de aprendizagem. A ciência evolui, e com ela novas descobertas nos deixam em constan- te movimento com relação às dificuldades de aprendizagem, esclarecen- do por que elas surgem e como podemos intervir para auxiliar quem as possui. Somos parte de um grupo de pessoas que estuda sobre essas questões e que pode fazer a diferença na vida de muitos por meio de um olhar diferenciado quanto às suas dificuldades e limitações. Esse olhar abre caminhos e traz perspectivas diferentes de vida, de interação e de aprendizagem. ATIVIDADES Atividade 1 Sabemos que, para que a aprendizagem aconteça, as funções executivas devem estar em consonância. Entre as funções execu- tivas estudadas está a atenção. Quais são os aspectos relaciona- dos ao desenvolvimento da atenção? Qual exemplo prático se pode dar sobre essas questões? Atividade 2 Fonseca (2014) ressalta algumas estratégias que auxiliam no desenvolvimento das funções executivas. Escolha uma dessas sugestões e relacione-a a um exemplo prático. Atividade 3 Como prevenção às dificuldades de aprendizagem, é necessário que o professor tenha um entendimento diferenciado sobre o erro. Como seria esse entendimento? REFERÊNCIAS BARKLEY, R. A. Behavioral inhibition, sustained attention, and executive functions: constructing a unifying theory of ADHD. Psychological Bulletin, v. 121, n. 1, p. 65-94, 1997. FONSECA, V. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógica. 6. ed. São Paulo: Vozes, 2014. GARON, N.; BRYSON, S. E.; SMITH, I. M. Executive function in preschoolers: a review using an integrative framework. Psychological Bulletin, v. 134, n. 1, p. 31-60, 2008. LEZAK, M. D. Neuropsychological assessment. 3. ed. New York: Oxford University Press, 1995. WEISS, M. L. Reflexões sobre o diagnóstico psicopedagógico. In: BOSSA, N. A. Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2000. Resolução das atividades 1 Processos de aprendizagem 1. Discutimos, no início do capítulo, que existem duas concepções de aprendizagem: a comportamentalista e a cognitivista, que nos levaram a refletir sobre como acontece a aprendizagem. Vimos, ainda, que a psicologia trouxe grande contribuição para a aprendizagem escolar. Relate qual foi essa contribuição e exponha sua opinião sobre essa modificação. A psicologia trouxe para a educação escolar grande contribuição no sentido de compreender que cada pessoa é alguém que pensa e aprende de maneira diferente e individual e que, por isso, não faz sentido todos serem submetidos a uma aprendizagem em que o aluno somente se submete aos conhecimentos do professor, mas sim que seja um ser ativo e responsável pelo seu modo de aprender. Em seu relato, reflita sobre os benefícios de uma educação não tradicional para a aprendizagem dele. 2. Conhecemos e analisamos as diferentes formas de estímulos necessárias para que o desenvolvimento humano e a aprendizagem aconteçam. Escreva quais são essas formas de estímulos. Destaque e comente aquela que, pessoalmente, torna-se a mais relevante para o desenvolvimento da criança. Os estímulos são os afetivos, físicos, cognitivos e sensoriais. Todos são importantes e devem ser trabalhados de maneira integrada para que o desenvolvimento humano ocorra de modo amplo. É importante que você relate essa necessidade, mas que também aponte qual a sua importância. 3. Pudemos conhecer e refletir sobre a importância da afetividade para a aprendizagem. Dentre os aspectos que a compõem, conhecemos Wallon, um dos maiores estudiosos do tema. Conceitue o que é a afetividade para Wallon e relate uma experiência afetiva que marcou seu processo de aprendizagem ao longo de seu desenvolvimento.Para Wallon, é com base nas próprias experiências, repetições e diferenças que a criança se torna capaz de distinguir e reconhecer o que está de acordo ou não com suas necessidades, o que consequentemente a leva ao aprendizado. O estudioso ressalta Resolução das atividades 89 a importância das experiências afetivas para a aprendizagem. É interessante você refletir sobre seu histórico de aprendizagem e relacioná-lo com uma prática afetiva que o influenciou, como a relação com algum professor, ou algum apoio quando precisou. 2 Dificuldades de aprendizagem 1. Sobre as dificuldades de aprendizagem estudadas, escolha quatro delas e descreva suas principais características. Em seguida, responda: como você avalia seu processo de aprendizagem com relação à leitura, à escrita, à interpretação, ao traçado, à ortografia e à matemática? Esta é uma resposta pessoal, entretanto, você deve escolher quatro dificuldades de aprendizagem e descrevê-las de acordo com o que foi estudado no capítulo. Ao refletir sobre o seu processo de aprendizagem, busque pensar nas seguintes questões: em qual área tenho mais dificuldade? Como foi meu processo de aprendizagem? Poderia ter ocorrido de maneira melhor? Essas questões são cruciais para a autorreflexão. 2. Conhecer as características da dislexia e encaminhar a criança para uma avaliação psicopedagógica, bem como saber intervir nesses casos, é de extrema importância para o profissional da educação. Com base nessa premissa, cite as principais características da criança disléxica. A criança disléxica apresenta dificuldades na alfabetização, como problemas de leitura e escrita, de orientação espacial, de compreensão de textos e de falta de atenção em sala de aula. 3. Dos tipos de discalculia estudados, escolha o que para você parece ser o mais comum e justifique sua resposta. Para responder a esta questão, é necessário escolher entre os seguintes tipos de discalculia: • Practognóstica: dificuldades em enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens. • Ideognóstica: dificuldades em fazer operações mentais e compreender conceitos matemáticos. • Verbal: dificuldades em nomear quantidades matemáticas, números, termos e símbolos. • Léxica: dificuldades na leitura de símbolos matemáticos. • Operacional: dificuldade na execução de operações e cálculos numéricos. 90 Transtornos e dificuldades de aprendizagem • Gráfica: dificuldades na escrita de símbolos matemáticos. Além disso, é importante refletir sobre as que você considera mais comuns. Em sua resposta, busque pensar em suas próprias experiências, relatos de amigos, colegas, familiares e professores. 3 Transtornos de aprendizagem 1. Vimos em nossos estudos que a atenção pode ser aprimorada ou desenvolvida por meio de intervenções cognitivas, e que é algo que difere em cada pessoa. Por isso, podemos considerar alguns tipos de atenção. Escolha um dos tipos de atenção estudados, escreva sua definição e comente da sua importância para o processo de aprendizagem. - Atenção seletiva: habilidade para se centrar em um estímulo ou atividade na presença de outros estímulos que desviam a atenção. - Atenção alternada: habilidade para alterar a atenção focada entre dois estímulos. - Atenção dividida: é possível se centrar ou prestar atenção a diferentes estímulos ao mesmo tempo. - Atenção focada: habilidade para focar a atenção em um estímulo, sem dispersar com estímulos externos. - Atenção constante: a habilidade para se centrar em um estímulo ou atividade durante um longo período. Após escolhido o tipo de atenção e escrito sobre ela, cabe ressaltar que todas têm a importância de constituir o processo de atenção do ser humano e que precisam ser estimuladas. 2. Vimos que a Síndrome de Asperger é um transtorno neurobiológico, dentro do DSM-5 é caracterizado como um transtorno do neurodesenvolvimento, parte do transtorno do espectro autista. Escreva quais as características que são similares entre o TEA e o Asperger. Assim como no autismo, a síndrome de Asperger traz prejuízos na capacidade de socializar, de se comunicar com as pessoas e de interpretar o mundo, porém apresenta uma melhor adaptação social do que as crianças com autismo. Trata-se de uma forma diferente de ver e interagir com o mundo. 3. Sabemos que o TOC (transtorno obsessivo compulsivo) pode se manifestar já na infância, trazendo prejuízos ao desenvolvimento. Resolução das atividades 91 https://www.cognifit.com/br/habilidade-cognitiva/atencao-dividida Descreva os dois tipos de TOC estudados e quais prejuízos você acredita que cada um pode trazer? Transtorno obsessivo-compulsivo subclínico – as obsessões e rituais se repetem com frequência, mas não atrapalham a vida da pessoa. Transtorno obsessivo-compulsivo propriamente dito – as obsessões persistem até o exercício da compulsão que alivia a ansiedade. Tal transtorno acarreta prejuízos para a criança durante a vida escolar, pois tais hábitos podem tirar a atenção de aula, ocasionar a saída de sala muitas vezes para lavar as mãos, por exemplo. Como o transtorno está relacionado à ansiedade, esta pode prejudicar seu tempo e qualidade das produções na escola. 4 Fatores que interferem na aprendizagem 1. Vimos que a afetividade é um fator importante para a aprendizagem, e que alguns autores concordam com esse fato, trazendo considerações importantes sobre ele. Escreva como Piaget entende a relação entre afetividade e aprendizagem e apresente um exemplo prático sobre isso. Piaget defende a relação entre as construções cognitivas e as afetivas ao longo da existência humana. Ele destaca que inteligência e afetividade são dimensões indissociáveis e integradas ao desenvolvimento psicológico, portanto não é possível a sua separação. Sem afeto, não existe interesse nem necessidade e motivação. Um exemplo prático seria um aluno que não possui vínculo com o professor e com o ambiente da escola, pois ele dificilmente terá bom rendimento escolar. 2. Entre os fatores sociais que interferem na aprendizagem, vimos que a escola é uma grande responsável por essa questão. Cite quais são as questões voltadas ao ambiente escolar que podem interferir no desempenho escolar do aluno. Algumas questões são: possuir estrutura física apropriada, com mobiliários adequados para a faixa etária; saber determinar quando, como e onde cada espaço escolar é organizado para favorecer a aprendizagem e a socialização; e promover um espaço que favoreça o contato e as relações também sociais, pois elas contribuem para a aprendizagem e aproximam professores e alunos. 92 Transtornos e dificuldades de aprendizagem 3. Com relação aos fatores biológicos que interferem na aprendizagem, descreva o processo que acontece no encéfalo para que a aprendizagem ocorra. O cérebro é o órgão da aprendizagem; ele é composto de bilhões de neurônios, que são as células nervosas, as quais interagem entre si e com outras células, formando redes neurais para que possamos aprender o que é significativo e relevante para a vida. 5 Prevenção, diagnóstico e intervenção 1. Sabemos que, para que a aprendizagem aconteça, as funções executivas devem estar em consonância. Entre as funções executivas estudadas está a atenção. Quais são os aspectos relacionados ao desenvolvimento da atenção? Qual exemplo prático se pode dar sobre essas questões? A atenção está relacionada a sustentação, foco, fixação, seleção de dados relevantes e irrelevantes e evitar distratores. Um exemplo prático de como a atenção acontece é a capacidade de manter o foco e não se distrair em sala de aula com conversas paralelas de colegas. 2. Fonseca (2014) ressalta algumas estratégias que auxiliam no desenvolvimento das funções executivas. Escolha uma dessas sugestões e relacione-a a um exemplo prático. Entre as sugestões de Fonseca (2014), podemos ter o de estabelecer objetivos com os alunos; antecipar tarefas, textos e trabalhos para melhor organização; priorizar e ordenar tarefasno espaço e no tempo para concluir projetos e realizar testes; organizar e hierarquizar dados, gráficos, mapas e fontes variadas de informação e de estudos; pensar, reter, manipular, memorizar e resumir dados ao mesmo tempo em que se lê. 3. Como prevenção às dificuldades de aprendizagem, é necessário que o professor tenha um entendimento diferenciado sobre o erro. Como seria esse entendimento? O erro deve ser visto como instrumento de análise para o professor compreender o momento em que aluno se encontra e como ele entendeu o que foi ensinado, refletindo sobre possíveis reformulações em sua prática e, assim, trabalhando de maneira preventiva a partir do momento em que essas dificuldades sejam percebidas, o que pode acontecer precocemente. Resolução das atividades 93 TRANSTORNOS APRENDIZAGEM DIFICULDADES DEE Priscila Chupil Transtornos e Dificuldades de Aprendizagem Priscila Chupil ISBN 978-65-5821-111-2 9 786558 211112 Código Logístico I000485 Página em branco Página em branco