Autoexecutoriedade- Atos executórios são os que podem ser materialmente implementados pela administração, diretamente, inclusive mediante o uso da força, se necessária, sem que a administração precise obter autorização judicial prévia. Refere-se a situações expressas em lei.
A autoexecutoriedade jamais afasta a apreciação judicial, do ato, apenas dispensa a administração de obter ordem judicial prévia para poder praticá-lo.
Sobre o tema, Rafael Carvalho Rezende de Oliveira ensina:
É a prerrogativa conferida à Administração para implementar os seus atos, sem a necessidade de manifestação prévia do Poder Judiciário. O Poder Público pode, por exemplo, retirar os invasores e destruir construções irregulares em áreas de preservação ambiental, utilizando-se da força proporcional, quando o caso.
Em razão da autoexecutoriedade, a Administração não possui, em regra, interesse na propositura de demandas judiciais, uma vez que pode implementar a sua vontade com as suas próprias forças.
Em situações excepcionais, comprovada a impossibilidade concreta da autoexecutoriedade, poderia a Administração se valer da via jurisdicional.
Ressalte-se, por oportuno, que alguns atos de polícia não possuem o atributo da executoriedade.
É o caso da multa que não pode ser satisfeita (adimplida) pela vontade unilateral da Administração e a respectiva cobrança é realizada, normalmente, por meio da propositura da execução fiscal.
É tradicional a distinção entre a executoriedade (privilège d’action d’office, executoriedade propriamente dita ou direta) e a exigibilidade (privilège du préalable ou executoriedade indireta).
De um lado, na executoriedade propriamente dita, o administrador utiliza-se de meios diretos de coerção, inclusive a força, para implementar a vontade administrativa (ex.: uso da força para encerrar tumulto violento no espaço público). Por outro lado, a exigibilidade envolve meios indiretos de coerção que induzem o particular a cumprir as determinações administrativas (ex.: previsão de multas para o descumprimento de determinações legais).
Há controvérsia doutrinária sobre a necessidade de previsão legal expressa para reconhecimento da autoexecutoriedade administrativa:
1.º entendimento (majoritário): A doutrina majoritária afirma que a executoriedade depende de previsão legal ou do caráter emergencial da situação concreta. Nesse sentido: Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Celso Antônio Bandeira de Mello, José dos Santos Carvalho Filho; Marçal Justen Filho e Diógenes Gasparini.48
2.º entendimento: parcela da doutrina afirma que a executoriedade é a regra, somente afastada na hipótese de expressa vedação legal. Nesse sentido: Diogo de Figueiredo Moreira Neto, Hely Lopes Meirelles.
Entendemos que a executoriedade é a regra, autorizada expressa ou implicitamente pelo ordenamento jurídico, salvo as hipóteses em que a legislação, excepcionalmente, exige a prévia manifestação do Judiciário para atuação administrativa. A referida conclusão decorre do princípio da separação de poderes e da legitimidade dos agentes públicos. É preciso esclarecer que a autoexecutoriedade não significa arbitrariedade – confusão encontrada em alguns estudos sobre o tema –, pois a atuação administrativa sempre deverá observar a juridicidade (regras e princípios consagrados no ordenamento jurídico). Vale lembrar que o princípio da ampla defesa e do contraditório (art. 5.º, LV, da CRFB) não impede a executoriedade dos atos administrativos, pois a instauração prévia de processos administrativos para formulação e implementação da vontade administrativa não pressupõe a intervenção do Judiciário.
Questão interessante é saber se as multas de trânsito possuem o atributo da autoexecutoriedade. A discussão tem por objeto exigência de pagamento prévio das multas de trânsito para emissão do Certificado de Registro de Veículo – CRV (art. 131, § 2.º, do Código de Trânsito Brasileiro).
Portanto, o pagamento da multa é uma condição para que a Administração pratique atos em favor do proprietário do veículo. Trata-se, em verdade, de exigibilidade, e não de executoriedade propriamente dita.
Em relação à exigência de pagamento da multa para emissão do Certificado de Veículo, o STJ consagrou a sua orientação na Súmula 127 que dispõe: “É ilegal condicionar a renovação da licença de veículo ao pagamento de multa, da qual o infrator não foi notificado”. Ao ser constatada a infração às normas de trânsito, a autoridade administrativa deve emitir duas notificações (Súmula 312 do STJ): da autuação e da aplicação da pena decorrente da infração. A Administração, após observar as exigências procedimentais do Código, poderá exigir o pagamento da multa como condição para o licenciamento do veículo.” (Curso de Direito Administrativo. e-book. 6ª ed. pgs. 324-325)
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