O curta aborda um tema de extrema importância: o racismo. O enredo se baseia em duas realidades totalmente diferentes: uma senhora branca que mora ...

O curta aborda um tema de extrema importância: o racismo. O enredo se baseia em duas realidades totalmente diferentes: uma senhora branca que mora sozinha e precisa de um ajudante para cuidar da casa e dela mesma, que nunca teve filhos, pois o falecido marido não quis; e uma mulher de meia idade, negra, moradora de periferia, que precisa trabalhar para se sustentar e perdeu seu filho com um tiro nas costas. A senhora, dona da casa, trata sua ajudante como uma pessoa submissa apenas pelo fato dela ser negra. Em diversos momentos faz comentários e tem atitudes preconceituosas e absurdas. Implica até com a cor da santa, que é negra. Um dia a “patroa” derruba propositalmente o único suco que tinha na casa, então a ajudante vai até sua casa catar acerola do pé e fazer um outro suco. A senhora adora o suco e como recompensa a ajudante pede para ensiná-la a jogar xadrez, mas como forma de superioridade e monopólio do conhecimento, a senhora não a ensina, ela joga com o intuito de humilhar e rebaixar ainda mais a sua ajudante. Após esse episódio a ajudante volta para casa muito triste. No caminho para casa da ajudante, o curta apresenta a atmosfera das redondezas de sua rua, com crianças negras correndo pela rua brincando com armas de brinquedo (algumas bem semelhantes com as reais), simulando um tiroteio ou algo do gênero. Após o terrível jogo de xadrez, ela decide aprender por conta própria, como forma de resistência e empoderamento, vai até a casa da senhora, vence a partida e segue sua vida sem ela, após se demitir. Nessa parte mostra novamente o entorno da casa da ajudante e as crianças que antes estavam brincando de armas, agora estão jogando xadrez e até mesmo com tabuleiros improvisados. Ou seja, elas foram influenciadas e inspiradas pela ajudante, demonstrando que a cultura e os costumes são mutáveis. Entretanto, a senhora sente saudades de sua ajudante, mesmo tendo contratado uma outra, branca. A senhora então pede para que um parente vá procurar a antiga ajudante para que ela possa voltar a trabalhar para ela. Foi essa cena que mais me marcou: a senhora e a ajudante não falam nada, mas os gestos e as ações de cada uma falam muito! Quando a ajudante retorna para a casa da senhora, vê o saquinho da acerola e a santa negra próximo dela, então decide arrumar o tabuleiro de xadrez e começam a jogar juntas, em silêncio, após isso dão as mãos – a primeira e última cena do curta em que a senhora toca (fisicamente) a outra mulher.