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Em sua obra Sendo um Personagem, Christopher Bollas (1992, p. 52) propõe o interessante conceito de "Psychic Genera" (traduzido como "gênese psíqui...

Em sua obra Sendo um Personagem, Christopher Bollas (1992, p. 52) propõe o interessante conceito de "Psychic Genera" (traduzido como "gênese psíquica" ou "generatividade psíquica"), ao qual ele atribui uma nota relevante de opositor ao conceito de trauma. Nessa oposição, enquanto o trauma seria gerador de dor psíquica, produzindo impacto significativo no self, a genera, por seu turno, seria produtora do que ele denomina de uma elaboração sucessiva do "idioma pessoal", gerando novas concepções de realidade. É marcante em sua teoria, pois, o conteúdo contributivo e procriativo das genera, no sentido de embasar processos internos e buscar novas organizações para viabilizar o crescimento pessoal do sujeito, vinculando-se aos instintos de vida, ao passo que o trauma teria uma ligação mais estreita com a compulsão à repetição e ao mortífero. As genera seriam "elaborações psíquicas desejadas que refletem as escolhas introjetivas do sujeito, à medida que este se sente livre para seguir as articulações inconscientes de seu idioma pessoal e são parte do erótico da forma" (BOLLAS, 1992, p. 52). A originalidade da ideia formulada por Bollas reside no que ele chama de teoria da recepção: haveria uma gravitação psíquica, como uma espécie de ímã, que atrairia blocos de ideias organizadas para o inconsciente, ideias estas em manifesta oposição ao que se conhece como ideias reprimidas, já que elas estariam trabalhando para elaborar a fantasia, favorecer o desenvolvimento da personalidade do indivíduo e teriam como função possibilitar "o desenvolvimento inconsciente sem o efeito intrusivo da consciência" (idem, p.55). As genera estariam, por isso, profundamente relacionadas à vivência da criatividade. Se, por um lado, o recalque, fundado na teoria da repressão, estaria trabalhando para banir o conflito entre as instâncias psíquicas, reprimindo os conteúdos não compatíveis com a estruturação da subjetividade consciente, por outro lado, a teoria da recepção se funda na construção de um espaço mental para o desenvolvimento. Para Bollas (1992), as ideias, palavras, afetos e experiências desses blocos organizados em polos de atração fariam um trabalho de "esquadrinhar o mundo da experiência em busca de fenômenos relacionados a este trabalho interno" e, por serem produtos de gênese, voltariam à consciência transformados em "ações de enriquecimento do self" (p. 56), diferente do que ocorre com o reprimido. Um dos seus intentos é apreciar como psicanalistas e analisandos colaboram de forma inconsciente para construir novas narrativas sobre a história pessoal destes, em uma proposta de trabalho não imersa em modelos exclusivamente patológicos. No seu entender, as genera seriam produtoras de novas genera e muitas vezes se relacionam a trabalhos científicos e artísticos, sendo produzidas após um longo percurso, como uma espécie de consequência de ideias sequenciadas e desenvolvidas anteriormente. Esse conhecimento, ligado à atividade do analista, representaria a capacidade de sustentar longas horas de não conhecimento, visando acessar uma descoberta psíquica. E, em relação ao analisando, redundaria em uma possibilidade de reorganizar sua forma de catalogar as experiências vividas com uma nova estruturação simbólica em virtude das aquisições paulatinas e anteriores das genera. Elas passariam a se integrar ao psiquismo como "um novo modo de entender as coisas" (idem, p. 59). Em uma análise, portanto, as genera serão produzidas pela dupla analista e analisando, em uma espécie de jogo que abarca a criatividade sobre o sentido da existência, englobando um esforço criativo do pensamento, para convocar novos arranjos psíquicos. Emerge da obra de Bollas (1992), assim, a ideia do inconsciente receptivo a partir das contribuições ofertadas pelo analista ao analisando, que poderão trazer novas riquezas simbólicas para serem semeadas no inconsciente receptivo desse paciente. Além da questão de construção, há, também, oferta e recepção. Bollas considera que esse inconsciente receptivo trabalha ao lado do inconsciente reprimido.

Essa pergunta também está no material:

Adriana Meyer Barbuda Gradin
209 pág.

Pedagogia Universidade do Estado do Rio de JaneiroUniversidade do Estado do Rio de Janeiro

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