Todos nós já tivemos a experiência de estar em um lugar público e ouvir uma conversa acontecendo ao redor. Por razões de educação, geralmente não voltamos o olhar diretamente para os eventuais participantes; somos, no entanto, capazes de formar alguma impressão que nos auxilie a identificá-los socialmente, avaliando a origem geográfica e a classe social dos participantes desconhecidos e as circunstâncias da interação em que se acham envolvidos apenas com base na expressão verbal.
Assim, vamos supor que, em uma viagem de ônibus, ouvíssemos o vizinho no banco de trás perguntar: “Farta muito pra essa lata veia chegá?”. Logo identificamos uma diferença entre a palavra “falta”, geralmente pronunciada com “u”, como “fauta”, e sua alternativa “farta” pronunciada com “r”; identificamos também a pronúncia da semivogal “i” no lugar de “lh” da palavra “velha”, pronunciada “veia”. Com base nesses traços, suspeitamos de que o falante tem origem rural ou baixa escolaridade, ou está muito à vontade, em uma situação extremamente familiar.
Por que é possível fazer essas adivinhações com grau considerável de acerto? A resposta mais natural é porque, por um lado, toda língua varia, isto é, não existe comunidade linguística alguma em que todos falem do mesmo modo e porque, por outro lado, a variação é o reflexo de diferenças sociais, como origem geográfica e classe social, e de circunstâncias da comunicação. Com efeito, um dos princípios mais evidentes desenvolvidos pela linguística é que a organização estrutural de uma língua (os sons, a gramática, o léxico) não está rigorosamente associada com homogeneidade; pelo contrário, a variação é uma característica inerente das línguas naturais.
CAMACHO, Roberto Gomes. Norma culta e variedades linguísticas. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Prograd. Caderno de formação: formação de professores didática geral. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, v. 11.
TEXTO 2
Chopis Centis
Eu "di" um beijo nela
E chamei pra passear
A gente fomos no shopping
Pra "mode" a gente lanchar
Comi uns bicho estranho
Com um tal de gergelim
Até que "tava" gostoso,
mas prefiro Aipim
Quanta gente
Quanta alegria
A minha felicidade é um crediário nas Casas Bahia
Esse tal chopis centis é muito legalzinho
Quando eu estou no trabalho
Não vejo a hora de descer dos andaime
Pra pegar um cinema, ver Schwazneger
E também o Van Damme.
(Mamonas Assassinas)
Considerando o exposto sobre variação linguística, julgue os itens a seguir.
I. Nessa letra de música, há exemplos de variação social e cultural, ou seja, pode-se verificar o uso do português não padrão e identificar a classe social do personagem.
II. A letra da música não apresenta uma transgressão à norma culta, uma vez que hoje se admite o falar informal, como o apresentado.
III. A letra da música apresenta variação regional quando da utilização do termo “Aipim” no lugar da palavra “mandioca”, por exemplo.
É correto o que se afirma em
A)
I e III, apenas.
B)
II e III, apenas.
C)
II, apenas.
D)
I, II e III.
E)
I, apenas.
A alternativa correta é a letra A) I e III, apenas. Justificativa: I. Nessa letra de música, há exemplos de variação social e cultural, ou seja, pode-se verificar o uso do português não padrão e identificar a classe social do personagem. III. A letra da música apresenta variação regional quando da utilização do termo “Aipim” no lugar da palavra “mandioca”, por exemplo. A alternativa B está incorreta, pois a letra da música apresenta transgressão à norma culta. A alternativa C está incorreta, pois a letra da música apresenta variação social, cultural e regional. A alternativa D está correta, pois inclui as afirmativas I, II e III. A alternativa E está incorreta, pois a letra da música apresenta variação regional e social.
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