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U R G E N T E RÉU PRESO TÍCIO, estado civil XXX, possuidor do RG. nº XXX, inscrito sob CPF de nº XXX, residente e domiciliado na Rua XXX, Cidade XX...

U R G E N T E RÉU PRESO TÍCIO, estado civil XXX, possuidor do RG. nº XXX, inscrito sob CPF de nº XXX, residente e domiciliado na Rua XXX, Cidade XXX, CEP XXX, vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, intermediado por sua advogada ao final firmada — onde, com embasamento no que expressa o art. 5º, § 1º do Estatuto da OAB, vem protestar pela juntada do instrumento procuratório no prazo legal —, para, com fulcro no art. 310, inc. III, art. 322, parágrafo único e art. 350, todos do Código Processual Penal, apresentar: PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA, subsidiariamente com pedido de revogação da prisão preventiva Pelos fatos e fundamentos que passa a expor: I. DOS FATOS Tício foi preso em flagrante pelos policiais rodoviários federais, após causar um acidente de trânsito na BR 470, fato este que acabou resultando no óbito de Mévio, ainda no local dos fatos. Tício apresentava alteração na capacidade motora por conta do consumo de álcool, o que ficou comprovado no teste de bafômetro. No Auto de Prisão em Flagrante, Tício foi indiciado pela prática do crime de homicídio doloso (dolo eventual) descrito no artigo 121 do Código Penal. Tício passou por audiência de custódia, no prazo dentro das 24h, presidida pelo juiz de plantão da comarca. A prisão em flagrante acabou convertida em prisão preventiva. Para tanto, o Magistrado ponderou: i) a prisão é admissível – art. 313, inciso III, do CPP; ii) existência de provas da materialidade (certidão de óbito e teste de alcoolemia) e indícios suficientes da autoria (própria situação de flagrância); e, iii) necessidade de resguardar a ordem pública, tendo em vista a gravidade concreta da conduta apurada e em razão de Tício possuir condenação anterior transitada em julgado pela prática do crime de furto qualificado.Tício ainda não foi citado para apresentar a competente resposta. II. DO DIREITO III. DO CABIMENTO DA LIBERDADE PROVISÓRIA O indiciado cometeu crime tipificado em lei específica – lei nº 9.503/97, Código Brasileiro de Trânsito – transcrito no art. 302, § 3º, in verbis: Art. 302. Praticar HOMICÍDIO CULPOSO na direção de veículo automotor: § 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017) (Vigência) Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. A doutrina majoritária considera a força normativa da legislação específica na aplicação das penas pois, este tipo de legislação gera uma maior eficácia e precisão na aplicação do direito, uma vez que as leis especializadas tratam de questões mais particulares e específicas. Além do que, a força normativa da lei própria incentiva a harmonização e coerência do ordenamento jurídico, evitando interpretações contraditórias e promovendo uma maior segurança jurídica. Considerando isso, a lei específica deve ser aplicada em detrimento das normas gerais, a fim de garantir uma interpretação unificada e coerente do direito. Portanto, no caso em tela, não há que se falar na aplicação de lei adversa, como no caso, a aplicação do art. 121 do Código Penal, devendo-se levar em consideração para aplicação da pena o constante no art. 302, §3º do Código Brasileiro de Trânsito, que traz de forma específica a conduta do réu. Desde 2017, o Código Brasileiro de Trânsito qualifica como culposo o crime de homicídio na condução de veículo automotor na situação de embriaguez. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13546.htm#art3 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13546.htm#art6 A legislação penal é literal ao afirmar que não cabe prisão preventiva em crimes culposos, somente em dolosos, o que evidentemente, não é o caso do réu, visto que o artigo 302, §3º, do CBT, traz de forma expressa sobre a tipificação da conduta na modalidade culposa, devendo por tanto, a pena de Prisão Preventiva ser convertida em Restritiva de Direito. O art. 44 do Código Penal, traz a seguinte redação: Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;(Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) II – o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998). Como exposto, a pena restritiva de direito deve substituir a privativa de liberdade quando crime culposo, qualquer que seja a pena aplicada. Em consideração ao inciso II do artigo e parágrafo mencionados, a pena restritiva de direito deve prevalecer sob a privativa de liberdade quando o réu não for reincidente em crime doloso. É importante ressaltar que a existência de condenação anterior de Tício por crime de furto qualificado, ainda que transitada em julgado, não pode servir como única justificativa para a manutenção da prisão preventiva, sob pena de violação ao direito fundamental à liberdade. A reincidência só tem efeitos penais quando se trata de crime pretérito com dolo nas duas condutas, sendo a reincidência do réu, no caso narrado, na modalidade culposa, neste sentindo, a prisão preventiva deve ser a última ratio do legislador. Marco Antônio Ferreira Lima e Raniere Ferraz Nogueira, trazem a seguinte lição sobre o tema: “A regra é liberdade. Por essa razão, toda e qualquer forma de prisão tem caráter excepcional. Prisão é sempre exceção. Isso deve ficar claro, vez que se trata de decorrência natural do princípio da presunção de não culpabilidade.” (LIMA, Marco Antônio Ferreira; NOGUEIRA, Raniere Ferraz. Prisões e medidas liberatórias. São Paulo: Atlas, 2011, p. 139). No mesmo sentido: “Como é sabido, em razão do princípio constitucional da presunção da inocência (art. 5º, LVII, da CF) a prisão processual é medida de exceção; a regra é sempre a liberdade do indiciado ou acusado enquanto não condenado por decisão transitada em julgado. Daí porque o art. 5º, LXVI, da CF dispõe que: ‘ninguém será levado à prisão ou nela mantida, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança. “ (BIANCHINI, Alice . . [et al.] Prisão e medidas cautelares: comentários à Lei 12.403, de 4 de maio de 2011. (Coord. Luiz Flávio Gomes, Ivan Luiz Marques). 2ª Ed. São Paulo: RT, 2011, p. 136). Dando importância ao plano constitucional, a imposição de prisões processuais passaram a ser a exceção, sendo a liberdade a regra. Para o legislador, as prisões estabelecidas no Código de Processo Penal, constituem verdadeiras antecipações de pena. Desse modo, tal agir afronta os princípios constitucionais da liberdade pessoal (art. 5º, CR), do estado de inocência (art. 5º, LVII, CR), do devido processo legal (art. 5º, LIV, CR), da liberdade provisória (art. 5º, LXVI, CR) e, ainda, da garantia de fundamentação das decisões judiciais (arts 5º, LXI e 93, IX, CR). De efeito, não resta, nem de longe, quaisquer circunstâncias que justifiquem a prisão preventiva, visto que o réu, apesar de ser reincidente, não é tipificado na modalidade dolosa, não apresenta transtorno a ordem pública e não representa risco de tentativa de fuga, devendo a prisão preventiva ser substituída por medidas cautelares

Essa pergunta também está no material:

PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA (1)
5 pág.

Direito Penal e Processo Penal Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do ItajaíCentro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí

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