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A proposta de reforma tributária do governo FHC recebeu críticas e reparos tanto de natureza técnica como de encaminhamento político de entidades d...

A proposta de reforma tributária do governo FHC recebeu críticas e reparos tanto de natureza técnica como de encaminhamento político de entidades da sociedade civil, como sindicalistas ligados ao setor público e instituições representativas dos municípios, e de parlamentares de diversas correntes, inclusive da própria base governamental. As críticas enfatizavam as questões que poderiam prejudicar determinados Estados específicos ou regiões inteiras. Dado que o princípio do destino seria implantado aos poucos no novo ICMS, um dos questionamentos dizia respeito à situação relativamente difícil de determinados Estados quando da plena implementação do novo ICMS. O Estado de São Paulo, por exemplo, grande exportador de produtos e serviços, perderia quantia considerável de receita. O Amazonas, que exporta quase toda a sua produção industrial e não importa quase nada, poderia se inviabilizar se não adotasse medidas corretivas. Outra questão apontada foi o impacto decorrente da implantação de alíquotas interestaduais uniformes, ocasionando perdas enormes para os Estados menos desenvolvidos, especialmente do Norte e Nordeste, que hoje se beneficiam das alíquotas diferenciadas nas operações realizadas com o Sul e o Sudeste. Além disso, a proposta previa que o Senado definiria o percentual da alíquota estadual que caberia a cada um dos Estados envolvidos em uma determinada operação interestadual. Partindo do princípio de que o total da alíquota deveria ser pago na origem, o contribuinte pagaria à União o percentual normal da alíquota federal, acrescido daquele que o Senado reservou ao Estado consumidor, sendo o restante da alíquota estadual creditado no estado produtor. Em um segundo momento, caberia à União repassar ao comprador da mercadoria do Estado consumidor, em forma de crédito fiscal, o montante definido pelo Senado e já arrecadado na origem pelo fisco federal. Este arranjo seria uma maneira de evitar a sonegação nas operações interestaduais e uma forma de transferir recursos arrecadados nos estados produtores para os consumidores. Assim, o novo ICMS traria maiores vantagens para os locais de destino das mercadorias e serviços. Haveria ainda outra possibilidade na proposta do governo para regular as operações interestaduais: a criação de uma câmara de compensação entre os Estados. Ao se tratar do processo legislativo da proposta de reforma tributária no governo FHC, a apreciação da PEC 175/95 demorou excepcionalmente. Esse atraso teria resultado de três fatores. O primeiro seria que, devido à derrota sofrida na época na área da previdência, o governo mostrou-se mais cauteloso e postergou a apreciação da PEC 175/95 pela Câmara. A segunda razão deve-se à escolha do relator, o deputado do Piauí Mussa Demes, que passou a oferecer resistências significativas ao projeto e que a equipe econômica rejeitava. A terceira e principal razão teriam sido os irreconciliáveis conflitos federativos ocorridos na negociação da proposta com os governadores. Devido aos dois últimos fatores, o governo mudou de estratégia e promoveu a criação pelo deputado Antônio Kandir (PSDB-SP) de uma Subcomissão da Reforma Tributária na Câmara, formada por especialistas em finanças públicas. Dessa Comissão, resultou um projeto de lei com as medidas infraconstitucionais que estavam na PEC. Como alternativa às resistências à reforma tributária, o governo encaminhou um projeto de lei complementar, a chamada Lei Kandir, que o Executivo logrou aprovar recorrendo a seus poderes de agenda, como o regime de urgência. A negociação para a aprovação dessa Lei, contudo, envolveu a retirada de uma parte dos dispositivos que dispunham sobre a guerra fiscal, foco de grande dissenso entre os aliados. No Senado persistiu a resistência em relação à parte que permaneceu, e para evitar que o projeto retornasse à Câmara, em virtude de ter sido alterado, fechou-se um acordo para que o Presidente sancionasse o projeto com vetos a tais dispositivos. Assim, a Lei Kandir regulamentou o ICMS, mas manteve a guerra fiscal. O relator da PEC 175/95 Deputado Mussa Demes, contrário à proposta do Executivo, apresentou um substitutivo com preocupações de natureza federativa ao projeto em 1996 que só foi votado três anos mais tarde. O relator rejeitou todas as medidas que buscavam limitar a possibilidade de concessão de benefícios e isenções por parte dos entes subnacionais de governo. Também foram rejeitados os dispositivos que afetavam de alguma forma a atual estrutura de repartição de receitas. No entanto, o projeto do relator preservou a ideia central da proposta no que se refere ao ICMS, de transformar o ICMS e o IPI em um só imposto. As diferenças entre este projeto e a proposta do Executivo surgiram na forma de compensação das perdas e no período de transição. O Executivo, por sua vez, sinalizou que não levaria em frente o processo de negociação da PEC 175/95, e manteve o substitutivo na comissão praticamente arquivado. Enquanto isso, mobilizava os líderes para a aprovação da Lei Kandir e promovia estudos para uma alternativa à PEC apresentada. Essa alternativa, a chamada Proposta Parente, só foi apresentada por insistência da própria comissão. Conforme Demes em relato citado por Melo, “(...) o Secretário-Executivo do Ministério da Fazenda e, enquanto tal, Presidente do CONFAZ, Sr. Pedro Parente, surgiu (...) com uma proposta inteiramente nova, diferente de tudo o que tínhamos apresentado até então. Acenou com uma proposta, a juízo dele, muito mais ambiciosa e muito mais moderna do que aquilo que havíamos feito até ali.” Passou-se um ano e três meses para que o Executivo apresentasse uma proposta à Comissão. Enquanto ela não era formalizada, a Comissão Especial continuou com seus trabalhos e o substitutivo do relator foi aprovado em novembro de 1999 por 35 votos favoráveis e um contra, apesar da rejeição reiterada da proposta por parte do Ministro da Fazenda, Pedro Malan, e pelo Secretário da Receita, Everardo Maciel. A reação da Comissão Especial frente a essa rejeição refletia a indignação de que as críticas dirigiam-se a aspectos centrais da PEC 175/95. Ou seja, a Comissão discutira um texto já rejeitado pelos seus próprios proponentes. Após aprovado, a Comissão entregou dois projetos distintos à Presidência da Câmara, um oficial e outro extra-oficial, que deveriam balizar os trabalhos em plenário. Durante o primeiro semestre de 2000, seguiu-se intenso processo de mobilização por parte de empresários, através da CNI e de seus representantes no Congresso. O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Michel Temer (PMDB-SP), defensor das propostas empresariais, juntamente com o presidente da Comissão Especial para a Reforma Tributária, Germano Rigotto (PMDB-RS), iniciaram intensa mobilização na mídia e entre congressistas para que o substitutivo aprovado fosse encaminhado ao Plenário. O Executivo manifestou forte resistência à sua aprovação, em virtude do dispositivo de eliminação da cumulatividade de impostos.

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205 pág.

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