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Que caracterizam a posição (a). O professor Toynbee, por exemplo, formula, para apoiar a posição (a), as seguintes ideias, que são típicas da posiç...

Que caracterizam a posição (a). O professor Toynbee, por exemplo, formula, para apoiar a posição (a), as seguintes ideias, que são típicas da posição (b): "As civilizações não 'são condições estáticas da sociedade, mas movimentos dinâmicos, de tipo evolutivo. Elas não apenas estão impossibilitadas de permanecer imutáveis, como estão impossibilitadas de inverter a direção de seu movimento sem destruir suas próprias leis de evolução (...)70". Aí se acham praticamente todos os elementos usualmente encontrados em formulações da posição (b): a ideia de uma dinâmica social (que se opõe a uma estática social); os movimentos evolutivos das sociedades (sob a influência de forças sociais); e a ideia de direções, ou sentidos (e, naturalmente, de trajetórias e de velocidades) de tais movimentos sentidos que, segundo se afirma, não podem ser invertidos sem ruptura das leis de movimento. Os termos sublinhados foram todos tomados de empréstimo da Física, e sua adoção na Sociologia levou a uma série considerável de mal-entendidos. Mal-entendidos de espantosa crueza, mas típicos do mau emprego científico de exemplos retirados da Astronomia e da Física. É certo que tais mal-entendidos tiveram pequeno reflexo fora dos círculos historicistas. Em Economia, por exemplo, o uso do termo 'dinâmica' (cf. o emprego muito em voga da expressão 'macrodinâmica') não levanta objeções, fato admitido até mesmo por aqueles a quem o termo não agrada. Mas esse uso também deriva da tentativa de Comte no sentido de aplicar à Sociologia a distinção, própria da Física, entre estática e dinâmica – e não há dúvida de que um grosseiro mal-entendido orientou essa tentativa. Com efeito, o tipo de sociedade que o sociólogo denomina 'estática' é justamente o análogo dos sistemas físicos que a Física denomina 'dinâmicos' (embora 'estacionários'). Exemplo esclarecedor é o do sistema solar. É o protótipo do sistema dinâmico, no entender da Física; sendo, porém, repetitivo (ou seja, 'estacionário') e uma vez que não cresce nem se desenvolve, uma vez que não apresenta alterações estruturais (descontadas as alterações que não estão no âmbito da dinâmica celeste e que podem, portanto, ser negligenciadas no presente contexto), o sistema solar corresponde, indubitavelmente, aos sistemas sociais que o sociólogo denominaria 'estáticos'. O ponto em tela é de considerável importância quando se cogita das afirmacoes do historicismo, na medida em que o êxito das previsões a longo prazo, na Astronomia, depende desse caráter repetitivo (e, no sentido do sociólogo, estático) do sistema solar – depende, em outras palavras, do fato de que é possível, no caso, negligenciar quaisquer sintomas de um desenvolvimento histórico. É errôneo, pois, supor que estas previsões dinâmicas, a longo prazo, relativas a um sistema estacionário, estabeleçam a possibilidade de se formularem profecias históricas de (larga escala, relativas a sistemas sociais não-estacionários. Mal-entendidos similares decorrem da aplicação, à sociedade, dos demais termos acima arrolados, próprios da Física. Essa aplicação é, com frequência, anódina. Não há mal, por exemplo, em descrever alterações da organização social ou dos métodos de produção, entendendo que sejam movimentos. Deve ficar claro, entretanto, que estamos utilizando metáforas – e, aliás, metáforas não muito felizes. Com efeito, se, na Física, falamos de movimento de um corpo (ou de um sistema de corpos), não pretendemos afirmar que o corpo em questão (ou o sistema de corpos em tela) sofra qualquer alteração interna, ou estrutural; afirmamos apenas que o corpo (ou o sistema de corpos) altera sua posição, relativamente a algum sistema de coordenadas, arbitrariamente escolhido. Em oposição, o sociólogo, quando se vale da expressão 'movimento da sociedade', pretende aludir a alguma alteração estrutural, ou interna. O sociólogo admitirá, por conseguinte, que um movimento da sociedade deve ser explicado por meio de forças; o físico, por seu turno, admite que apenas as alterações de movimento – e não os próprios movimentos – necessitam ser assim explicadas71. As ideias de velocidade de um movimento social, de trajetória ou de direção desse movimento social, também não provocam dificuldades, contanto que utilizadas simplesmente com o objetivo de despertar uma impressão intuitiva; se utilizadas com finalidades científicas, aquelas ideias se transformam em jargão científico ou, falando mais precisamente, em jargão holístico. É certo que qualquer alteração de um fator mensurável (e.g., o crescimento da população) pode ser representado graficamente, exatamente como a trajetória de um corpo em movimento. Mas é claro que um diagrama desse gênero não retrata o que as pessoas entendem por movimento da sociedade – considerando que uma população estacionária pode sofrer uma radical convulsão social. Podemos, naturalmente, combinar um número qualquer de tais diagramas, formando uma representação única, multidimensional. Mas esse diagrama composto não pode ser visto como algo que representa a trajetória do movimento da sociedade; ele não acrescenta informações novas, que se adicionariam às informações prestadas pelos diagramas isolados; ele não representa qualquer movimento da 'sociedade global', mas apenas alterações ocorridas em partes selecionadas. A noção de movimento da própria sociedade – a ideia de que a sociedade, exatamente como um corpo físico, pode mover-se, como um todo, ao longo de determinada trajetória, em certo sentido – não passa de confusão holística. A esperança de que se venha, algum dia, a descobrir as 'leis do movimento da sociedade', exatamente como Newton descobriu as leis de movimento dos corpos físicos, é apenas fruto de ritas como dinâmicas (ainda que estacionárias) – é que Comte consideraria 'estáticas', e não 'dinâmicas', em sua terminologia. De uma forma ou de outra, não merecem ser chamadas leis – já que dependem de condições especiais, vigentes no sistema solar (ver a próxima seção). Prefiro denominá-las 'quase-leis de sucessão'. O ponto importante é este: embora caiba admitir que qualquer sucessão real de fenômenos se manifeste em consonância com leis da natureza; releva compreender que praticamente nenhuma sequência de digamos, três ou mais eventos concretos, causalmente associados, se manifesta segundo uma só lei natural. Se o vento balança uma árvore e a maçã de Newton cai ao solo, concreta, de eventos causalmente associados; ao lado da gravidade, seria preciso considerar as leis que explicam a pressão do vento; o movimento dos galhos das árvores; a tensão que se observa no talo que prende a maça à árvore; o que precede processos químicos provocados pelo choque, etc. É simplesmente errônea a suposição de que uma sequência ou sucessão de eventos (desconsiderados exemplos especiais, como o do movimento pendular ou o do movimento do sistema solar) possa ser explicada por meio de uma única lei ou por qualquer conjunto definido de leis. Não existem leis de sucessão nem leis de evolução. Não obstante, Comte e Mill viram as suas leis históricas de sucessão em termos de leis que determinariam uma sequência de eventos históricos, que se apresentariam na ordem de sua ocorrência real. É o que se depreende da maneira pela qual Mill fala de um método que 'consiste em tentar descobrir, através de estudo e análise de fatos gerais da História, (...) a lei do progresso; lei que, uma vez determinada, deve (...) possibilitar a previsão de eventos futuros, exatamente como, na Álgebra, a partir de uns poucos termos de uma série infinita, é possível identificar o principio de formação e prever o restante da série, obtendo tantos de seus termos quantos nos aprouver76'. Mill critica esse procedimento; sua crítica, porém (ver início da seção 28), não atinge a possibilidade de determinar leis de sucessão análogas às leis que governam a formação das sequências matemáticas – embora ele assevere que 'a ordem de sucessão (...) que se apresenta na História' talvez não tenha a mesma 'rígida uniformidade' que é típica da sequência matemática77. Já vimos que não há leis que determinem a sucessão de uma tal série 'dinâmica' de acontecimentos78. De outra parte, podem existir tendências que tenham esse caráter 'dinâmico'; entre elas, digamos, a do crescimento da população. Cabe presumir, pois, que Mill haja pensado em tendências desse tipo, quando se referiu às 'leis de sucessão'. Essa hipótese é confirmada pelo próprio Mill, pois ele descreve a sua lei histórica do progresso como uma

Essa pergunta também está no material:

A Miséria do Historicismo
96 pág.

Questao Social e Serviço Social Universidade Estácio de SáUniversidade Estácio de Sá

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