Buscar

Módulo 1 1. Introdução ao Processo Penal. O direito processual penal é o ramo do direito (conjunto de princípios e normas) que rege as relações jur...

Módulo 1
1. Introdução ao Processo Penal.
O direito processual penal é o ramo do direito (conjunto de princípios e normas) que rege as relações jurídicas dos sujeitos que participam do instrumento que viabiliza a ação que tenha por objeto a realização de uma pretensão de natureza penal. Em verdade, nascida a pretensão penal do Estado pelo descumprimento de uma norma penal, existirá um conflito de interesses: de um lado, o Estado pretendendo a punição do agente infrator e, de outro, a pessoa apontada como infratora exercendo seu direito de defender-se. Essa pretensão do Estado será levada ao Poder Judiciário através da ação penal que será instrumentalizada através de vários atos que formam o processo. Irão disciplinar esse processo vários princípios e normas que compõe o chamado 'Direito Processual Penal'. Outros dois conceitos podem ser dados: 'Chama-se direito processual o conjunto de normas e princípios que regem (...) o exercício conjugado de Jurisdição pelo Estado-Juiz, da ação pelo demandante e da defesa pelo demandado' (Cintra, Grinover e Dinamarco in Teoria Geral do Processo, 9, ed. Malheiros, Ed., p. 41) 'O conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades persecutórias da Policia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares.' (José Frederico Marques, in Elementos de direito processual penal, 2ª Edição, Forense, v. 1, p. 20) Os aludidos princípios estão inicialmente previstos na Constituição Federal (v.g. contraditório, ampla defesa, presunção de inocência, devido processo legal, duração razoável do processo) e complementarmente na legislação infraconstitucional (v.g. instrumentalidade, duplo grau de jurisdição). Já as normas processuais estão previstas no Código de Processo Penal (Dec.-lei 3.688/41) e legislação extravagante (v.g. lei da interceptação telefônica, lei da prisão provisória, lei da identificação criminal, lei do tráfico de drogas). Subsidiariamente, se aplicam outras leis por analogia (v.g. Código de Processo Civil). Por outro lado, também importante lembrar da divisão teórica do direito processual (do qual o processo penal faz parte): 1 - Teoria unitária: Os direitos subjetivos são criados pelo juiz ao exercer a jurisdição; 2 - Teoria dualista: as normas já existem e o juiz apenas as reconhece no exercício da jurisdição. Destarte, importante observação deve ser feita. O direito processual penal não se confunde com o direito penal, pois este é o conjunto de normas e princípios que regem as relações jurídicas entre o Estado e o particular para a proteção da sociedade contra atos que ante a sua gravidade extrema foram considerados como ilícitos penais. Já as normas processuais têm caráter nitidamente instrumental. De qualquer forma, ambos têm em comum a premissa de serem espécies do chamado Direito Público, ante a presença do Estado.

1. O Direito de Punir.
Alguns bens, ante a sua condição essencial para a vida, são tutelados pelo direito penal (v. g. direito à vida, patrimônio, honra, dignidade sexual). Por outro lado, foi incumbida ao Estado a função de reprimir as condutas indesejáveis, aplicando ao infrator as penas previstas em lei, surgindo então o direito de punir. Este direito somente pode ser realizado por um órgão estatal, na medida em que, a aplicação de pena é proibida a entes privados. Destarte, somente pode aplicar a sanção penal um órgão componente do Poder Judicial que seja dotado de poder jurisdicional. Sobre a jus puniendi, seja em abstrato ou em concreto, trataremos nos próximos módulos. Por hora, necessário consignar que um conflito de interesses pode ser solucionado de várias maneiras: Em primeiro lugar é possível a autocomposição em que as partes solucionam a crise de relação através da: a. Desistência de uma delas sobre o direito; b. Submissão ou pagamento, quando não se oferece resistência à vontade da outra; c. Transação, quando existem concessões e ganhos recíprocos. A autocomposição, sem sede de direito penal, até pouco tempo era proibida no Brasil. Contudo, com o advento da Lei 9.099/95 (para crimes de menor potencial ofensivo), esta situação foi alterada, pois agora é possível a chamada 'transação penal'. Apesar do acima exposto, entendemos que em verdade não há uma completa incidência da autocomposição em direito penal, pois necessário se submeter ao juiz de direito a transação, a fim de que o mesmo proceda a conferência da hipótese de incidência e homologue a transação. Também merece citação a chamada autotutela, que é a defesa de um direito pelo próprio interessado sem a interferência do Estado ou de terceira pessoa. A autotutela é proibida por lei, configurando inclusive crime quando exercida. Mas, quando autorizada por lei é possível: a. Hipótese de prisão em flagrante, artigo 302, do CPP; b. Hipótese de estado de necessidade, art. 24, do CP; c. Hipótese de legitima defesa, art. 25, do CP. Finalmente, a fim de se solucionar conflitos, ganha destaque a heterotutela que é a intervenção de terceira pessoa para a solução do conflito de tiva de prestação jurisdicional, o que viola o artigo 5, XXXV, da C.F.; 5 – Indelegabilidade: a atividade em comento deve ser exercida somente por órgão investido para tanto. Assim, não poderão os juízes delegar esta função à pessoa estranha ao Poder Judiciário. Por outro lado, a atividade jurisdicional obedece a uma ordem legal preestabelecida de divisão de jurisdição, o que se denomina competência (princípio abaixo exposto). Nesse sentido, o juiz competente para a prestação da atividade não poderá delegar o exercício a outro magistrado, sob pena de violar o artigo 5, LIII, da CF. 6 - Juiz natural: a atividade somente pode ser exercida por um juiz competente (aquele escolhido com base nas normas preestabelecidas), sendo proibida constitucionalmente a criação de tribunais para julgamento de casos concretos - tribunais de exceção, art. 5º, XXXVII. Módulo 2

2. Pretensão Punitiva e Lide Penal.
O Estado é o único detentor do direito de punir. Quando uma pessoa pratica um ilícito penal este poder que na verdade também é um dever, de genérico vira específico, razão pela qual, passa a existir uma pretensão. É de todo essencial explicar que o Estado não deve (e não tem o poder) realizar pó si só este direito de punir sem o devido processo legal. Assim, necessário é se deduzir em juízo esta pretensão de punir. Por sua vez, quando a pretensão é deduzida perante um Juízo, é necessário se possibilitar que a parte tome conhecimento da acusação que é feita, o que somente é possível com o devido contraditório. No momento em que o réu apresenta sua defesa (que no processo penal é obrigatória) aparece o que se define como lide, ou seja, uma pretensão resistida em juízo. Sobre os institutos acima expostos, cumpre apresentar algumas importantes observações: - O direito de punir do Estado (jus puniendi in abstrato) é sempre genérico e abstrato, por não se tratar de um direito penal dirigido a uma pessoa específica, mas a toda a sociedade. Note-se que no Brasil não é adotada a teoria do direito penal do inimigo, voltada a pessoas específicas, mas sim o direito penal do cidadão. - A pretensão punitiva do Estado (jus puniendi in concreto) é sempre específica. É sempre dirigida a uma pessoa específica, que tenha praticado (presumidamente) um delito. - O conflito de interesses instaurado, somente pode ser solucionado por um Juiz, não se admitindo qualquer outra forma de resolução (nulla poena sine judice – nenhuma pena é imposta senão pelo Juiz). Até mesmo nos processos em que admite a transação penal, a atuação do Poder Judiciário é necessária. - Para que o juiz solucione o conflito de interesses é obrigatória a existência de um processo que deverá respeitar todos os princípios como o devido processo legal, a ampla defesa, a imparcialidade, o duplo grau de jurisdição, entre outros (nulla poena sine judicio - nenhuma pena é aplicada senão por meio do processo).

Essa pergunta também está no material:

34 pág.

Direito Penal I Universidade Estácio de SáUniversidade Estácio de Sá

💡 1 Resposta

User badge image

Ed Verified user icon

O direito processual penal é o ramo do direito que rege as relações jurídicas dos sujeitos que participam do instrumento que viabiliza a ação que tenha por objeto a realização de uma pretensão de natureza penal. Esse direito é instrumentalizado através de vários atos que formam o processo, disciplinados por princípios e normas do chamado "Direito Processual Penal". Esses princípios estão previstos na Constituição Federal e na legislação infraconstitucional, enquanto as normas processuais estão no Código de Processo Penal e legislação extravagante. Subsidiariamente, aplicam-se outras leis por analogia, como o Código de Processo Civil.

0
Dislike0

✏️ Responder

SetasNegritoItálicoSublinhadoTachadoCitaçãoCódigoLista numeradaLista com marcadoresSubscritoSobrescritoDiminuir recuoAumentar recuoCor da fonteCor de fundoAlinhamentoLimparInserir linkImagemFórmula

Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta

User badge image

Outros materiais

Outros materiais