Sua arte, nesse momento de felicidade amorosa, de exaltação dos sentidos, faz-se mais harmoniosa e mais sensual. Pelo menos quando é inspirado por ...
Sua arte, nesse momento de felicidade amorosa, de exaltação dos sentidos, faz-se mais harmoniosa e mais sensual. Pelo menos quando é inspirado por sua voluptuosa amante de formas cheias. Ambroise Vollard lhe pediu ilustrações para a edição que quer fazer da novela de Balzac Le Chef-d’oeuvre inconnu [A obra-prima desconhecida], um texto a que Cézanne se referia para dizer o quanto a pintura era para ele um destino que ignorava meias medidas. Picasso também está engajado sem reservas nessa arte que custou a razão a Frenhofer, o herói de Balzac, e à qual Cézanne deu sua vida. Com a diferença de que ele, Picasso, tem um gosto tão pronunciado pelos prazeres carnais que foi alheio ao pintor das Banhistas. Sem se preocupar demais em ser fiel ao autor que deve ilustrar, ele desenvolve o tema do pintor e de seu modelo feminino. Paralelamente, multiplica figuras de mulheres ferozes, cruéis, com traços de feiticeira, que ele rompe e desarticula, como sabe fazer bem. Sempre a dualidade. Pode-se dizer: eis aí a esposa frente à amante, o dever oposto à alegria sensual. Mas Picasso talvez não sofra tanto com o casamento e a vida familiar como diz. Se ele fosse verdadeiramente romântico, não se colocaria nenhuma questão, se daria inteiramente ao novo amor. Se fosse verdadeiramente surrealista, teria ainda menos razões de pactuar com a ordem burguesa. Se tivesse apenas que escolher entre Olga e Marie-Thérèse, seria talvez mais simples, mas conceber assim a alternativa é esquecer um terceiro elemento, o mais importante: a pintura.
Desculpe, mas sua pergunta parece ser um trecho de um texto ou uma citação longa. Se precisar de ajuda para entender ou analisar o texto, estou à disposição para ajudar.
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