A sanção penal, mas também o Direito como um todo, é produto da sociedade e, por isso, acompanha suas transformações históricas. Nesse sentido, para se compreender as finalidades do Direito Penal e da própria pena nos dias atuais, é necessário se fazer uma digressão histórica para compreender sua origem, identificar suas transformações e, sobretudo, as razões dessas transformações. É comum se afirmar que a sanção penal tem sua origem na sociedade arcaica ou primitiva, que ainda não estava estruturada na forma de Estado e tinha por característica a proteção individual dentro de grupos, tribos ou famílias. Contudo, identifica-se que a estrutura de pensamento do homem primitivo era totalmente diversa do que se verifica atualmente. Fenômenos naturais, por exemplo, não eram, pelo homem primitivo, interpretados segundo o princípio da causalidade, mas devido à sua qualidade humana que atribuía às divindades ou mesmo aos elementos da natureza (árvores, animais, etc), ele entendia tais fenômenos segundo um princípio de imputação (de uma punição ao grupo no qual ele está inserido). Logo, pode-se concluir, como afirma Luiz Regis em Tratado de Direito Penal Brasileiro, que "o princípio religioso, de caráter onipresente, perdurou por muito tempo, por séculos. Daí porque o delito era tratado mais como agressão à divindade (pecado) do que à ordem social propriamente dita, e a pena visava justamente a aplacar a ira dos deuses". Por isso, a reação ao delito, seja dentro do próprio grupo, seja de um grupo contra outro, poderia ser a mais violenta possível. Tendo em vista essa relação existente entre a história das sociedades primitivas e o Direito Penal, bem como o exposto anteriormente com a concepção de pena atual, é correto afirmar que na sociedade primitiva já existia o Estado tal qual hoje, em nome do qual era possível aplicar a pena estatal segundo critérios de racionalidade, como meio de se punir o infrator da ordem social. atualmente a pena é uma reação estatal ao delito que não mais se justifica pela necessidade de aplacar insatisfações de divindades ou forças da natureza. embora a pena pública estatal hoje não mais tenha a finalidade de aplacar a fúria de divindades, ela conserva um aspecto religioso no que diz respeito à concepção do crime como pecado. embora atualmente a pena seja uma reação estatal à violação da ordem social representada pelo delito, a estrutura de pensamento do homem ainda não incorporou o raciocínio causal para os fenômenos naturais. como as reações punitivas visavam preservar o grupo familiar ou tribo contra a ira de uma autoridade dividida, não havia penas corporais ou violência, uma vez que as punições ocorriam por meio de mediação.