) O advogado de Joaquim ingressou com uma ação indenizatória em face da Loja Belga Ltda com o intuito de obter indenização por danos imateriais devido

Art 1062 NCPC, agiu erroneamente o Juiz.

Existe forte controvérsia sobre a questão, mas entendo ter havido equívoco, em razão da corrente majoritária que vem prevalecendo. 

Observemos os pontos de vista:

Quem é favorável à desconsideração da personalidade jurídica, se baseia em comando expresso do CPC, em seu art. 1.062:

"Art. 1.062. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de competência dos juizados especiais."

Ademais, entendimento semelhante trilha o FONAJE, que reeditou o enunciado nº 60, durante o XIII Encontro: "ENUNCIADO 60 – É cabível a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, inclusive na fase de execução. (nova redação – XIII Encontro – Campo Grande/MS)."

Então por que alguns juristas (e não são poucos) defendem o contrário?

É que o Novo CPC alocou o incidente de desconsideração da personalidade jurídica como intervenção de terceiros (Título III - Da intervenção de terceiros, Capítulo IV - DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA), como de fato é, pois o sócio que será chamado a responder é um terceiro que não integrava a lide originária, em que constava a Pessoa Jurídica, que com ele não se confunde.

Ocorre que o art. 10 da Lei 9099/95, que regula o procedimento dos Juizados Especiais Cíveis dispõe o seguinte: "  Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio."

Ademais, haveria incompatibilidade entre a intervenção de terceiros e os Juizados Especiais Cíveis, em razão da complexidade daquela primeira e os princípios da simplicidade e celeridade que norteiam a segunda, bem como da expressa previsão do art. 3º, caput: "Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:"

Como resolver a questão? 

O CPC é norma geral em relação à Lei 9099, lei especial que regula os Juizados Especiais. Todavia, o dispositivo que prevê expressamente a aplicação do incidente deve ser considerado norma especial, pois regula especificamente os Juizados Especiais Cíveis e, ainda mais, especificamente os incidentes de desconsideração da personalidade jurídica.

Notemos que o dispositivo da Lei 9099 fala genericamente da intervenção de terceiros, em um tempo em que a desconsideração da personalidade jurídica sequer possuía essa classificação.

Assim, devemos entender que, em razão da especialidade, vende o CPC, solução semelhante àquela que extraímos da utilização do critério temporal para solução: o CPC seria norma posterior, apta a revogar norma anterior.

Por todo exposto, deve ser deferida a desconsideração da personalidade jurídica, nada obstante entendimento minoritário em contrário.