Buscar

Explique o dolo que invalida os negócios juridicos? Pode haver reciprocidade?

💡 2 Respostas

User badge image

Bruno Mozer de Azevedo

No dolo, o indivíduo devido a uma conduta astuciosa, maliciosa, atribuível a outrem é levado a praticar aquele determinado negócio jurídico. Tal como o erro, o dolo também pode ser essencial ou acidental. No primeiro caso fica comprovado que o indivíduo só contratou por ter sido enganado, trapaceado, e por essa razão o mesmo autoriza o pedido de anulação. No dolo acidental, apesar do indivíduo ter sido enganado contrataria de qualquer forma e por essa razão só autoriza as perdas e danos. Habitualmente o dolo se dá por ação, onde o indivíduo faz uso de todas as táticas, de toda a sua malícia para obter o consentimento alheio. O dolo por omissão só terá relevância em negócios jurídicos bilaterais naquelas circunstancias que a pessoa deveria prestar informação relevante a contratação e deixa de fazê-lo, permitindo-se assim o pedido de desfazimento. Em um contrato de seguro de vida, as informações acerca do real estado de saúde conhecido do contratante devem ser prestadas, e caso deixe de sê-lo está caracterizado o dolo por omissão. O dolo bônus é conduta lícita relacionada às táticas comerciais de convencimento onde são exaltados os benefícios daquela contratação. Trata-se de prática lícita e passa-se ao dolo malus no momento em que são trazidas informações inverídicas ou mentirosas, podendo ensejar a anulação ou as perdas e danos dependendo da constatação de que o contrato só se celebrou por conta daquela conduta (essencial) ou seria celebrado de qualquer forma (acidental).

O art. 150 trata do chamado dolo recíproco, onde ambas as partes ao praticarem negócio jurídico procuram enganar uma a outra. A consequência que a norma coloca para uma situação como essa é de que nenhum dos contratantes poderá exigir a anulação ou as perdas e danos mesmo que o prejuízo de um supere o do outro. O art. 150 é mais uma implicação do princípio da eticidade e do subprincípio de que a ninguém é dado o direito de tirar benefício de sua própria torpeza, de maneira que o negócio ficará mantido integralmente. Normalmente aquele que engana outro a com ele pactuar, assim procede para tirar benefício próprio com a celebração daquele negócio, porém em algumas hipóteses a norma trata que o dolo exercido por terceiro, onde aquele que engana é pessoa estranha ao negócio contratado. Imaginando que João, corretor de imóveis seja contratado por Marcos, para que este último venda imóvel de sua propriedade. João, no exercício de sua função é procurado por Ana e consegue que a mesma compre o imóvel, ocultando, porém, a necessidade de uma benfeitoria absolutamente relevante de ser informada. Passado algum tempo da contratação Ana se vê obrigada a fazer aquela despesa, extremamente cara, e descobre que foi ludibriada ao contratar pretendendo agora o desfazimento do negócio jurídico. Para que o negócio possa ser anulado será necessário analisar a conduta da pessoa que contratou com aquele que foi enganado, ou seja, a postura de Marcos. Se a pessoa que contratou com quem agiu sob influência de vício de consentimento não sabia nem poderia saber da conduta alheia, atua de boa-fé como a hipótese é de negócio anulável e não nulo, a consequência que se coloca é a manutenção do negócio jurídico restando ao prejudicado, no caso Ana, o direito de requerer perdas e danos daquele que a enganou. Caso aquele que contrata com o enganado soubesse ou pudesse saber da conduta alheia, porque são irmãos, amigos íntimos, ou a transação se deu por valor muito diverso do valor de mercado o indivíduo atua de má-fé ou ela se presume e nesse contexto não só a ação anulatória será acolhida, como também poderá o enganado recobrar todas as perdas e danos que se viu obrigado a experimentar no mesmo processo, tanto em face de quem lhe enganou como também daquele que com ele contratou.

O código civil admite duas modalidades de representação: a legal, onde o representante não é eleito pelo representado, tal como acontece em relação aos pais, tutores, curadores e síndico; e a representação convencional, onde o representante é escolhido pelo representado, sendo o melhor exemplo disso o mandato (procuração).  Em ambas as modalidades o representante atua em nome próprio porem pratica o negócio jurídico que repercute diretamente sob a esfera jurídica do representado. Imaginando que o dolo tenha sido exercido pelo representante que engana determinada pessoa a com ele contratar, repercutindo esse negócio sobre a esfera jurídica do representado. Constatado o vício de consentimento o negócio será anulável e a ação será proposta em face do representado. Quanto às eventuais perdas e danos, deverá ser investigada qual a modalidade de representação tratada no caso em específico. Em se tratando de uma representação legal, onde o representante não foi escolhido pelo representado, todas as perdas e danos serão por ele suportadas. No que diz respeito à representação convencional o representante foi escolhido, e por essa razão o representante responderá conjuntamente com o representado por todas as perdas e danos experimentados por aquele que contratou com o representante, aplicando-se aqui a ideia da chamada culpa in eligendo, onde o representado responde por ter escolhido mal aquele que atua em seu nome.

0
Dislike0
User badge image

Carlos Eduardo Ferreira de Souza

Defeito ou vício do  negócio jurídico ocorre quando há determinada imperfeição, de consentimento ou social, que macule a livre e desembaraçada declaração da vontade ou que busque lesar terceiros, o que pode gerar anulação do negócio jurídico celebrado, desde que requerida pela parte interessada, no prazo decadencial de 4 anos, a contar dos fatos previstos no art. 178, I e II, do CC:

"Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:

I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;

II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;"

Os vícios ou defeitos dos negócios jurídicos estão regulados entre os arts. 138 e 165, do CC e podem ser de consentimento ou sociais.

1) Vícios de consentimento: erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão;

2) Vícios sociais: fraude contra credores.

Do dolo:

No dolo existe a ação da outra parte ou de terceiros para induzir à falsa percepção de quem pratica o negócio jurídico. Quando o dolo for fundamental para a prática do negócio, este será anulável (art. 145, do CC).

Lembramos que o dolo acidental se trata daquele que macula o consentimento, mas que não dá causa à celebração do negócio jurídico, ou seja, com ou sem dolo o negócio seria praticado, mas em outras condições. Assim, não gera anulação, mas enseja perdas e danos (art. 146, do CC).

O dolo pode ser manifesto ou por meio do silêncio intencional, bem como pela omissão dolosa, ensejando a anulação do negócio quando for essencial e perdas e danos quando for acidental (art. 147, do CC).

Pode haver dolo de terceiro, quando este induz alguém a erro para que haja prática do negócio jurídico. Neste caso, se a parte a quem aproveite tivesses ou devesse ter conhecimento, poderá haver anulação. Se a parte não sabia e nem deveria saber, responde o terceiro por perdas e danos (art. 148, do CC).

Quanto ao dolo recíproco, ou seja, quando ambas as partes agirem com dolo, não será possível anulação ou pleito de indenização (art. 150, do CC).

"Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização."

0
Dislike0

✏️ Responder

SetasNegritoItálicoSublinhadoTachadoCitaçãoCódigoLista numeradaLista com marcadoresSubscritoSobrescritoDiminuir recuoAumentar recuoCor da fonteCor de fundoAlinhamentoLimparInserir linkImagemFórmula

Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta

User badge image

Outros materiais