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. Segundo Max Weber, o que é o conceito de “ação social"?

💡 2 Respostas

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Nina Ribeiro

ação social é entendida por Weber como qualquer ação realizada por um sujeito em um meio social que, no entanto, possua um sentido determinado por seu autor. O contínuo processo de comunicação está intimamente ligado ao conceito de ação social. A manifestação do sujeito que deseja uma resposta é manifestada em função dessa resposta. Em outras palavras, uma ação social constitui-se como ação a partir da intenção de seu autor quanto à resposta que deseja de seu interlocutor.

A partir desse entendimento, Weber justifica que a função dos esforços sociológicos é justamente tentar compreender os sentidos dados às ações humanas em suas relações sociais. As relações humanas e, por sua vez, as ações que estão inseridas no contexto dessas relações possuem sentido atribuído a elas por seus autores. Para que se compreenda o processo de comunicação e de interação social, é necessário, então, que se compreenda o sentido da ação, bem como, ainda mais importante, desvende-se o objetivo do autor da ação em seu esforço comunicativo. Peguemos, por exemplo, a ação social de um abraço, que pode carregar uma infinidade de sentidos. O autor da ação, ao realizá-la, deseja que seu interlocutor apreenda o sentido que desejou implantar em seu ato, e não apenas que entenda o sentido genérico do ato de abraçar.

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LR

É objeto de estudos da sociologia  a ‘ação social’, e cabe a sociólogo compreende-la sob o ponto de vista de seu causualidade e efetividade: “Segundo Colliot-Thélenè (1995) ‘a compreensão da ação social, longe de constituir um simples elo da exemplificação causal, é o método específico da sociologia, que daí extrai, por essa razão, sua denominação’.” (MORAIS, 2003: 62). Weber busca o sentido social da ação do homem, compreendendo-a como “dotada de sentido e cabe ao cientista social metodizar a compreensão por meio da elaboração e do estabelecimento de conexões causais (esquemas), que possibilitem a decifração do sentido imaginado e subjetivo do sujeito da ação.” (MORAIS, 2003: 62). Nessa busca o esforço de Weber gera categorias de ações sociais:

1) Ação social racional em relação aos fins: “A ação social de um indivíduo ou grupo será entendida como racional em relação a fins se, para atingir um objetivo previamente definido, lançar-se mão dos meios adequados e necessários. É o caso de uma conduta científica ou de uma ação econômica (modelos típicos de ação que permitem uma interpretação racional). De um lado, Weber afirma que a conexão entre fins e meios é tanto mais racional quanto mais se elimine a interferência perturbadora de erros e afetos que possam desviar seu curso.” (MORAIS, 2003: 62).

2) Ação social racional em relação aos valores: “De outro lado, a ação social (conduta) será racional em relação a valores, quando o sujeito orienta-se por fins últimos, agindo em conformidade com seus próprios valores e convicções, mantendo sua fidelidade a estes valores que inspiram sua conduta ou, ainda, na medida em que acredita na legitimidade intrínseca de um comportamento válido por si mesmo. É o caso do cumprimento de um dever, de um imperativo ou exigência ditados por seu próprio senso de dignidade, por suas crenças religiosas, políticas, morais ou estéticas ou por valores nos quais acredita (justiça, honra, ética, fidelidade etc).” (MORAIS, 2003: 62-63).

3) Ação social de tipo afetiva: “sem qualquer motivação racional”;  “A ação de tipo afetivo é inspirada em emoções e medidas, tais como orgulho, inveja, desespero, vingança etc., e não leva em consideração os meios ou fins a atingir.” (MORAIS, 2003: 63)

4) Ação social de tipo tradicional:determinada por costumes arraigados”; “Diz-se (...), que uma ação é considerada estritamente tradicional, quando hábitos e costumes arraigados levam a que se aja em função deles (como sempre se fez), tratando-se de uma reação a estímulos habituais.” (MORAIS, 2003: 63)

Informações adicionais sobre a Sociologia de Weber:

A questão religiosa (a família é expressão da religião) é central para explicar a questão econômica. Weber afirma-se, e de fato era, pertencente a classe burguesa. Dessa forma ele julgava estar atestando sua própria fé. Como burguês, sentindo-se e agindo segundo sua classe, vivia então de acordo com os modos vigentes de uma moralidade protestante. Entretanto, assumir isso não significa aprovava a beatice religiosa, era inclusive indiferente ao culto religioso. Ao contrario disso, significava que Weber compreendia o valor instrumental da religião na composição da própria burguesia, ao passo que compreendia que os valores protestantes eram os valores burgueses. Quando escreve A ética protestante e o espirito capitalista (1904), verifica que há na moralidade religiosa certos regramentos econômicos característicos da lógica capitalista. Weber declara então sua fé nos seguintes termos: "Sou um membro da classe burguesa. Sinto-me como tal, fui educado de acordo com suas concepções e seus ideais. No entanto, é de vocação (Beruf) da nossa ciência dizer o que não se gosta de ouvir — de dizê-lo para o alto e para baixo, inclusive para a própria classe [...]. Não foi a burguesia, por sua própria força, que criou o Estado alemão. Uma vez criado, houve no comando da nação uma figura de César, feita de cepa diferente da burguesa [...]. É claro que grande parte da alta burguesia deseja o aparecimento de um novo César que a proteja das classes populares ascendentes, tanto quanto da tendência ao reformismo social vinda do alto, tendência esta que lhe parece ser a das dinastias alemãs.’” (POLLAK, 1996: 89). A teoria weberiana, para de compreender o sistema capitalista, estrutura sua análise da seguinte forma: “a) delimitou a distinção entre uma formação católica e outra protestante, em que a diferença estaria alocada na perspectiva de uma educação humanista (católica) em confronto com uma mais técnica (protestante); b) empreendeu uma análise do ‘espírito capitalista’ (não o sistema econômico e a empresa capitalista), articulado a uma ética de vida em torno da dedicação ao trabalho e da bisca da riqueza, considerados como dever moral.” (WEBER, 2016: 8 – 9). A grande preocupação do autor, o que Weber buscou resolver em sua teoria, foi “a questão do poder, da iniciativa, da conduta e das ações que quase se naturalizam com o passar dos tempos, relacionadas, portanto, a uma dimensão de poder, porque há uma aceitação voluntária em torno de um tipo de conduta considerada como válida” (WEBER, 2016: 10).

Referência bibliográfica:

POLLAK, Michael. Max Weber: elementos para uma biografia sociointelectual (parte II). In MANA 2(2): 85-113, 1996.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito capitalista. São Paulo: Martin Claret, 2016.

MORAES, Lucio Flávio Renault. O paradigma werberiano da ação social: um ensaio sobre a compreensão do sentido, a criação de tipos ideiais e suas aplicações na teoria organizacional. In Rev. adm. contemp. vol.7 no.2 Curitiba Apr./June 2003.

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