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Eventual vício no âmbito do Inquérito Policial é suficiente para macular o processo penal consequente?

Possíveis irregularidades na fase inquisitorial contaminam o processo penal futuro?

💡 4 Respostas

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Franklin Xavier

Ariel, pertinente sua pergunta. A meu ver depende de que tipo de irregularidade, acredito que a maioria delas seriam uma mera irregularidade e não macularia o processo penal futuro, como também existem aquelas que seriam mais gravosas e talvez difíceis de acontecer que maculariam o processo, como por exemplo o inquérito não ter sido lavrado pela autoridade policial competente !
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Jardel Luciano

Excelente questão, meu caro! Das mais frutíferas, a meu ver.

Pois bem, nessa esteira de análise, mormente sob a ótica de um Direito Processual Constitucional, verdadeiro tugúrio do Garantismo de Ferrajioli, não coaduna com o vilipêndio da defesa do réu, absorto no sofisma de que "Eventuais vícios do inquérito policial não contaminam a ação penal.". Para não ser pernóstico, em arremate e nas reconfortantes palavras de Aury Lopes Jr: “(...) O que não pode ocorrer, sob nenhum argumento, é a conivência do juiz com um ato defeituoso contido no inquérito, sem a devida repetição do ato, sobre o qual ele deverá se manifestar de ofício, como são – v.g. – todas aquelas que violem os direitos constitucionalmente assegurados ao sujeito passivo (dentre eles, o contraditório e a ampla defesa, art. 5º, LV, da CB). Ademais, como aponta SIQUEIRA DE LIMA, ainda que na fase de persecutio criminis, ‘as autoridades envolvidas no apuratório devem primar pelo estrito cumprimento da legalidade dos atos praticados, vez que a Constituição, no seu art. 5º, LVI, proíbe no processo as provas obtidas por meios ilícitos’, de onde ‘pode concluir-se que as afirmações feitas alhures, de que o inquérito policial sendo mera peça informativa não atinge a ação penal com seus vícios, não encontram respaldo na ordem jurídica’. Em se tratando de provas ilícitas, acolhendo-se a doutrina da contaminação, necessariamente teremos de reconhecer que devem ser consideradas ilícitas independentemente do momento em que foram produzidas. Como muito bem destacou o Min. Celso de Mello, no julgamento do HC 73.271/SP (publicado no DJ de 04/10/1996, p. 37.100), (...) a unilateralidade das investigações preparatórias da ação penal não autoriza a Polícia Judiciária a desrespeitar as garantias jurídicas que assistem ao indiciado, que não mais pode ser considerado mero objeto de investigações. O indiciado é sujeito de direitos e dispõe de garantias legais e constitucionais, cuja inobservância, pelos agentes do Estado, além de eventualmente induzir-lhes a responsabilidade penal por abuso de poder, pode gerar a absoluta desvalia das provas ilicitamente obtidas no curso da investigação policial (grifo nosso). Nesse sentido, vejamos alguns exemplos, dentre muitos outros que podem surgir no caso concreto: a) interrogatório, reconhecimento pessoal, intervenções corporais, acareações, reconstituição do crime e todos os atos probatórios em que não se oportuniza e respeita o direito de silêncio do indiciado (nemo tenetur se detegere); b) a realização do interrogatório policial sem a presença de defensor; c) não assegurar a plenitude da defesa pessoal (autodefesa); d) prova obtida através da interceptação das comunicações telefônicas, quebra do sigilo bancário etc., sem a devida observância das normas atinentes à matéria. Quanto às provas ilicitamente obtidas, eis que houve violação do domicílio (art. 5º, XI, da CF); das comunicações telefônicas (art. 5º, XII, da CF, regulamentado pela Lei n. 9.296/96); mediante tortura ou maus-tratos (art. 5º, III, da CF); através da violação da intimidade (art. 5º, X, da CF etc.), necessariamente devem ser excluídas do processo, assim como as provas que por derivação estiverem contaminadas. Em todos os casos, o ato deverá ser repetido em juízo (quando possível) e determinada a exclusão física das respectivas peças nulas e derivadas. Tampouco entendemos que a irrepetibilidade da prova nula seja um argumento válido para mantê-la nos autos. Se a prova é irrepetível, com mais razão devem ser observados todos os requisitos formais que a lei exige para a sua produção. E mais do que isso, deveria ter sido praticada através do incidente de produção antecipada de provas, ante o juiz e com todas as garantias para a defesa. Destarte, o rançoso discurso de que as irregularidades do inquérito não contaminam o processo deve ser visto com muita cautela, pois pensamos em sentido diametralmente oposto, exigindo-se do juiz uma diligência tal na condução do processo que o leve a verificar se, no curso do IP, não foi cometida alguma nulidade. Verificada esta, o ato deverá ser repetido ou excluída a respectiva peça que o materializa, sob pena de contaminação dos atos que dele derivem. Caso o ato não seja repetido, ainda que por impossibilidade, sua valoração na sentença ensejará a nulidade do processo.”. (JR, Aury Lopes – Direito Processual Penal – 11ª Ed. 2014 – Editora Saraiva – pag. 1531).

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Felipe Dos Santos

você deve estudar a teoria das nulidades no processo penal, que em a priori, dispõe que não será declarada nulidade se dela não resultar prejuízo à parte.

o próprio IP é dispensável à propositura da açãp penal pública, assim independente de haver nulidade do IP, a instrução processual pode suprir como fundamento sobre os fatos para o convencimento do juízo.

veja reprodução parcial da ementa deste acórdão, in verbis:

[...]Deve ser destacado, que eventual nulidade na fase inquisitória, leia-se claramente, no inquérito policial, 'ab initio', não tem o condão de macular a fase processual, visto que, consoante a doutrina e jurisprudência, tal peça mostra-se dispensável para o ajuizamento da ação penal, entendimento assente nas Cortes Superiores. No que pertine às nulidades, cabe destacar, que vige no processo penal, quanto às nulidades, o brocardo 'ne pás de nulitè sans grief'', consubstanciado no artigo 563 do diploma de ritos, necessitando, em regra, que exista algum prejuízo aferível para seu reconhecimento em prestígio à instrumentalidade das formas. [...]

TJ-RJ - HABEAS CORPUS HC 00317079320148190000 RJ 0031707-93.2014.8.19.0000 (TJ-RJ)

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