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Sobre o princípio da legalidade/ vedação de tortura

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Princesa Priscila

Princípio da legalidade: não há crime, nem pena, sem lei anterior que os defina.
Princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: vedação de tortura

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Especialistas PD

Os seguintes livros apresentam ótimos capítulos dedicados a Lei de Tortura e merecem atenção:

  • Legislação Criminal Especial Comentada – Renato Brasileiro de Lima
  • Legislação Penal Especial – Victor Eduardo Rios Gonçalves
  • Leis Penais Especiais – Rogério Sanches Cunha
  • Leis Penais Especiais – Gabriel Habib
  • Leis Penais Extravagantes – Cláudia Barros Portocarrero
  • Tratado de Legislação Especial Criminal - Francisco Sannini e Eduardo Cabette

O tema também pode ser encontrado em livros sobre Direitos Humanos, em função dos tratados internacionais relacionados à matéria, como a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Degradantes ou Desumanos e a Convenção interamericana para Prevenir e Punir a Tortura. No livro “Curso de Direitos Humanos” do Professor André de Carvalho Ramos há bons estudos sobre o tema.

Carolina Costa Ferreira e Maria Gorete Marques de Jesus possuem interessante artigo (“Vinte anos da Lei de Tortura: o que temos a dizer”) sobre a Lei de Tortura publicado no portal “Justificando”:

“Em 7 de abril de 1997, foi promulgada no Brasil a Lei 9.455, que passou a tipificar o crime de tortura, antes considerado pelo Código Penal apenas uma qualificadora. A lei surgiu da comoção de um episódio que ficou conhecido como “Caso da Favela Naval”, em que policiais militares torturavam e intimidavam moradores da região de Diadema. As cenas de violência foram gravadas e transmitidas por jornais de impacto nacional.

À época da aprovação da lei, muitos pontos foram tema de debate. A Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Degradantes ou Desumanos, recepcionada em nosso ordenamento por meio do Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991, estabelecia como tortura“qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência” (art. 1º).  A Lei nº 9.455/97, por sua vez, não considerou o crime de tortura como crime próprio – no sentido da prática ser restrita apenas a agentes de Estado, como dispõe a Convenção.

O fato de a legislação não acompanhar a definição da tortura presente nos Tratados Internacionais ratificados pelo Brasil gerou discussões sobre a imposição da seletividade dos casos de tortura que chegariam ao sistema de justiça criminal e como seriam tratados aqueles envolvendo agentes do Estado.

Considerada genérica e pouco efetiva na definição do crime de tortura, especialistas já apontavam os problemas relacionados à eficácia da lei para a devida apuração, investigação e processamento dos casos, sobretudo aqueles envolvendo agentes do Estado. Da forma como foi disposta, a legislação deixaria a critério dos intérpretes da lei – especialmente juízes -, a caracterização do caso como crime de tortura.

Franco (1997), Shecaira (1997), Juricic (2002), Cabette (2006) e Burihan (2008), somente para citar alguns, destacaram que as divergências entre a lei brasileira e as Convenções internacionais contra tortura abriram a possibilidade de que qualquer pessoa poderia ser processada segundo essa lei, independentemente de ser ou não agente do Estado, já que a lei ordinária optou por uma classificação do crime como comum, e não como próprio, conforme os Tratados internacionais.

Luciano Mariz Maia (2006) destacou que uma das principais consequências da lei da forma como foi promulgada era o grande número de condenação de casos de violência doméstica como crime de tortura, ofuscando, assim, os casos que envolviam propriamente agentes públicos. Anos depois, pesquisas confirmaram essa possibilidade. O estudo “Julgando a Tortura” (2015) demonstra que os agentes públicos acusados por crime de tortura têm mais chance de serem absolvidos do que os não agentes, sobretudo nos tribunais superiores.

A pesquisa indica que a falta de provas e a falta de empenho das instituições de segurança pública e justiça na apuração dos casos envolvendo agentes públicos contribuem para esse resultado. Além disso, há um julgamento entrelaçado ao processo que diz respeito ao perfis das partes envolvidas. Se a vítima é um suspeito ou alguém que estava preso, há uma tendência de juízes e promotores não acreditarem na versão da vítima em detrimento da do agente público. Essa desqualificação impacta na forma como os casos são apurados, processados e julgados.

A falta de empenho das autoridades em apurar denúncias de tortura está presente também nos resultados de outras pesquisas. Recente trabalho publicado pela Conectas, chamado “Tortura blindada” (2017), demonstra que promotores e juízes, inclusive defensores, pouco se preocupam em apurar denúncias de violência policial mencionadas pelos acusados em audiências de custódia. O juiz deixou de perguntar se houve violência em 33% dos casos analisados. Em 91% dos casos, foi o promotor quem deixou de perguntar. Há também uma desqualificação das denúncias.

Outra função institucional necessária à prevenção e ao combate à tortura e que merece cada vez mais atenção é o controle externo da atividade policial, que deve ser exercido pelo Ministério Público, como dispõe o art. 129, VII da Constituição. No entanto, em pesquisa divulgada em dezembro de 2016 intitulada “Ministério Público: guardião da democracia brasileira?”, o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESEC/UCAM) apurou, dentre Promotores de Justiça e Procuradores da República entrevistados, que a prioridade em suas atuações é o combate à corrupção (62%). Apenas 7% dos entrevistados declararam que o controle externo da atividade policial é sua atual atividade exclusiva, e 24% disseram desempenhá-la em conjunto com outras funções institucionais.

A audiência de custódia pode ser considerada um avanço para a identificação da tortura, apesar dos desafios apontados pela pesquisa da Conectas. Mas, além dessas audiências, tivemos alguns avanços institucionais nos últimos anos, como a aprovação da Lei nº 12.847/2013, que institui o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, cria o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura e o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. Os relatórios produzidos pelo MNPCT apontam e expõem a falência do sistema carcerário, que traz em seu cotidiano práticas de violência institucional que violam a Lei nº 9.455/97 e a Lei de Execução Penal. Relatórios internacionais indicam a criação da lei como avanço necessário, mas ainda há muito o que se fazer para ampliar a atuação destes entes, criar Comitês Estaduais de Prevenção e Combate à Tortura e reforçar a importância de uma atuação direta do Ministério Público em relação ao controle externo da atividade policial, uma de suas funções institucionais.

Há outra questão que merece atenção: o SPT recomenda, desde 2000, que o Brasil assegure a independência dos Institutos Médico-Legais em relação às polícias, a fim de garantir que o exame de corpo de delito não seja acompanhado por um policial, em caso de tortura. Além disso, os protocolos de realização destes exames devem observar o exame de lesões internas, externas e devem prever a investigação de tortura psicológica.

Podemos dizer que nesses 20 anos alguns passos foram dados, o que fortalece a política de prevenção e combate à tortura no Brasil. A lei 9.455/97 pode ser considerada o início dessa jornada, apesar dos problemas identificados em pesquisas quanto à sua aplicação. Talvez o maior desafio esteja na visão das instituições e nos atores responsáveis pela apuração, investigação, processamento e julgamento dos casos de tortura. É preciso mudar a cultura que permeia essas instituições e que tornam a violência policial uma realidade cotidiana.”

Também merece atenção o artigo “Tortura é prática comum no Brasil, mas casos nem sempre chegam à Justiça”, publicado no portal CONJUR:

“Dezoito anos após a promulgação da Lei 9.455/1997, que pune a tortura, o Brasil ainda convive com a prática. Desde 2005, 699 processos contra o crime foram movidos apenas na Justiça do Rio de Janeiro. Desses, 219 já foram julgados, sendo que em 197 casos houve condenações em primeira instância. No segundo grau, o estado é o que possui mais decisões entre 2005 e 2010, segundo estudo da ONG Conectas e do Núcleo de Estudos da Violência da USP, divulgado neste domingo (12/7) pelo jornal O Globo.

A tortura é crime hediondo, inafiançável e sem direito a anistia, punível com pena de até 21 anos e quatro meses de prisão.

No entanto, o presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB-RJ, Breno Melaragno, afirma que casos de tortura dificilmente chegam à Justiça, seja por medo das vítimas, seja por uma dificuldade prática em se apurar a ocorrência.

Além disso, Melaragno diz ser difícil responsabilizar agentes públicos pelo crime, uma vez que eles estão protegidos pela autoridade que o cargo lhes confere. Segundo o levantamento da Conectas e da USP, de 75 decisões em segunda instância no Rio entre 2005 e 2010, só 22 envolviam servidores, e, em 10 desses casos, eles foram absolvidos. Além disso, a pesquisa concluiu que agentes públicos acusados de tortura têm menos chances de serem condenados do que os agentes privados.

As polícias Civil e Militar são frequentemente acusadas, especialmente por aqueles mais pobres, de praticarem tortura nos suspeitos. Desde 2010, a PM do Rio abriu 15 procedimentos para investigar 91 policiais — inclusive os 25 que respondem pelo desaparecimento do pedreiro Amarildo, em 2013. Nesse período, 18 agentes foram expulsos da corporação pelo crime.

Os detidos em prisões e instituições de reeducação de jovens também frequentemente se queixam de serem vítimas de tortura. Em 2013, três internas de 15 a 17 anos do Educandário Santos Dumont, na Ilha do Governador, contaram a defensores públicos que era comum o castigo da “bailarina”, segundo o qual elas eram algemadas em grades acima de suas cabeças e obrigadas a ficar na ponta dos pés enquanto apanhavam.

Em 2011, o Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura, órgão ligado à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, fez uma vistoria nas prisões e centros educacionais mantidos pelo Departamento Geral de Ações Socioeducativas. Os fiscais verificaram indícios de tortura em quase todas as 50 visitas que fizeram.

Doze sindicâncias foram abertas pela Secretaria de Administração Penitenciária do Rio para apurar a prática entre 2012 e 2014, mas apenas três estão em curso. As demais foram arquivadas.

Militares: torturadores e torturados

A tortura também é uma prática usual nas Forças Armadas, e não apenas contra civis. Conforme o jornal O Globo, a Justiça Militar do Rio julgou 299 casos desde 2005. Todos eles são relatos de maus-tratos e lesão corporal praticados por instrutores durante o treinamento dos oficiais. Parte das acusações, porém, foi modificada para delitos mais leves, como violência contra inferior e ofensa aviltante.

Um tenente de 26 anos sofreu uma parada cardíaca e ficou com uma ferida profunda nas costas durante curso no Centro de Instrução de Operações Especiais do Exército. Sete militares foram denunciados. Contudo, o caso foi enquadrado como maus-tratos, e não tortura, e todos foram absolvidos. A família recorreu ao Supremo Tribunal Federal, mas a corte trancou a ação.”

Por fim, o artigo “Metade dos brasileiros aceita tortura de acusados” também merece atenção:

“Quase metade dos brasileiros concorda com o uso de tortura para obtenção de provas. É o que mostra uma pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) realizada em 2010 e divulgada nesta terça-feira (5/6). O levantamento utilizou a pergunta: “Os tribunais podem aceitar provas obtidas através de tortura?”, e 52,5% dos entrevistados discordaram. Em 1999, 71,2% foram contra quando questionados da mesma maneira.

Para a coordenadora da pesquisa, professora Nancy Cardia, o desapontamento da população com a eficiência da Justiça e das polícias em esclarecer crimes mais graves pode explicar o aumento da aceitação do uso de tortura para obtenção de provas.

“Existe uma frustração com o desempenho do nosso sistema de Justiça. Ao longo desse período, de 1999 a 2010, houve um crescimento brutal da população prisional, mas não necessariamente estão nas prisões as pessoas que cometeram os crimes que produzem mais medo na população”, disse. 

A pesquisa aponta que, para a maioria dos entrevistados, a polícia deve “interrogar sem violência”. No entanto, aproximadamente um terço dos pesquisados concorda que a Polícia, para obter informações sobre crimes, pode submeter suspeitos a meios extralegais, como “ameaçar com palavras”, "bater", “dar choques ou queimar com ponta de cigarro”, “ameaçar membros da família” e “deixar sem água ou comida”.

O uso de algum tipo de violência é mais aceito para suspeitos de delitos como estupro (43,2%), tráfico de drogas (38,8%), sequestro (36,2%), uso de drogas (32,3%) e roubos (32,1%). Esses suspeitos poderiam receber um pior tratamento durante a investigação policial, na opinião dos pesquisados. O levantamento mostra que quanto mais jovem o entrevistado, maior parece ser a tendência em apoiar o uso de práticas de tortura.

De modo geral, os entrevistados continuam desaprovando o uso de força pela Polícia. Porém, caiu, no período de 1999 a 2010, o número dos que “discordam totalmente” que a Polícia pode: “invadir uma casa” (de 78,4% em 1999 para 63,8% em 2010), “atirar em um suspeito” (de 87,9% para 68,6%), “agredir um suspeito” (de 88,7%, para 67,9%) e “atirar em suspeito armado” (de 45,4% para 38%).

Para a maioria dos entrevistados, a prisão é percebida como pouco ou nada eficiente tanto para punir (60,7%) ou reabilitar (65,7%) os infratores, como também para dissuadir (60,9%) e controlar (63%) possíveis criminosos.

Os entrevistados também foram ouvidos sobre as penas que seriam mais adequadas para os crimes graves — identificados pelas pessoas pesquisadas como os que atentam contra vida, terrorismo, corrupção, estupro e tráfico de drogas.

O maior consenso identificado foi sobre o uso da pena de prisão perpétua para alguém condenado por terrorismo (35,9%), a pena de prisão com trabalhos forçados para políticos corruptos (28,3%) e a pena de morte aplicada a estupradores (39,5%). A opção de pena de prisão é mencionada por 32% dos entrevistados para os sequestradores, maridos que matam a mulher (30,5%), jovens que matam (37,2%) e traficantes de drogas (28,8%).”

 

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