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EXTINÇÃO DO CRÉDITO E EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA - PARTE I

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Walcyr Alves

A PUNIBILIDADE:

Conforme previsto no Código de Processo Penal, art. 43, II, a punibilidade é uma condicionante para o exercício da ação penal, o qual estabelece a possibilidade jurídica do Estado na aplicação da devida sanção penal (pena ou medida de segurança) ao autor do ilícito. Enfim, a punibilidade é consequência do crime.

A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE:

As causas extintivas da punibilidade são situações que impedem a aplicação da pena. Algumas dessas situações são decorrências de acontecimentos naturais, como a morte; outras de fatos complexos, como a passagem do tempo e a inércia do titular do direito; existem, ainda, situações que dependem necessariamente da vontade do Estado, como o indulto, a anistia, a graça e o perdão judicial; existem também situações que são condicionadas à vontade do ofendido (renúncia e perdão) ou à vontade do agente (retratação, ressarcimento do dano, casamento com a ofendida) e outros.

Os fatos e atos que geram essas causas extintivas podem ocorrer após o fato, durante o processo ou mesmo depois da condenação. Algumas dessas situações fazem excluir o tipo legal de ilícito crime (lei nova retroativa); outras excluem a reprovabilidade do fato (anistia) e outras extinguem somente a pena (indulto), mantendo nesse caso os efeitos civis, para fins de indenizar o dano (prescrição da ação penal). No entendimento de Fernando Capez, na obra “Curso de Direito Penal” (2013:597):

“As causas de extinção da punibilidade “[…] são aquelas que extinguem o direito de punir do Estado”. O autor ressalta ainda que tais causas estão mencionadas no art. 107 do Código Penal. No entanto, não se trata de um rol taxativo, tendo em vista a existência de outras causas no próprio Código Penal e em legislação especial, por exemplo, o ressarcimento do dano que, antes do trânsito em julgado da sentença, na hipótese do delito de peculato culposo, extingue a punibilidade.”

OS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

Os crimes contra a ordem tributária eram definidos na Lei nº 4729/65 como crimes de sonegação fiscal, por conseguinte derrogada pela Lei nº 8137/90.

O patrimônio público era o bem jurídico protegido pela Lei nº 4729/65, no seu contexto, previa a intencionalidade de eximir-se do pagamento de tributo como elemento do tipo penal, através de uma das condutas descritas no ordenamento. Assim, para a consumação do crime de sonegação fiscal bastaria que fosse configurado uma das mencionadas condutas direcionadas a eximir-se do pagamento de tributo, sem, contudo, depender da efetiva consumação do resultado.

A lei nº 8137/90, da mesma forma que a legislação anterior de 1965, procurou resguardar o erário, o patrimônio público como bem da coletividade, a fim de que o Estado cumpra seu papel social, sobretudo, combatendo a pobreza e a redução das desigualdades sociais. E para que isso ocorra é necessário à obtenção de recursos.

Os crimes contra a ordem tributária estão previstos nos artigos 1º, 2º e 3º da Lei 8137/90. Os crimes nos artigos 1º e 2º são praticados por particulares contra o erário. Já o artigo 3º diz que o sujeito ativo do crime tem que possuir uma qualidade especial, ou seja, os crimes devem ser praticados por funcionários públicos (famigerado crime funcional).

Nestes termos, o pagamento é uma das causas de extinção do crédito tributário, conforme pode ser visto no art. 156 do Código Tributário Nacional, cuja redação é a seguinte:

Art. 156. Extinguem o crédito tributário:

I – o pagamento;

II – a compensação;

III – a transação;

IV – remissão;

V – a prescrição e a decadência;

VI – a conversão de depósito em renda;

VII – o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º;

VIII – a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164;

IX – a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória;

X – a decisão judicial passada em julgado.

XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. (Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001)

Parágrafo único. A lei disporá quanto aos efeitos da extinção total ou parcial do crédito sobre a ulterior verificação da irregularidade da sua constituição, observado o disposto nos artigos 144 e 149.

CONCLUSÃO

Diante do que foi apresentado, vislumbra-se o surgimento de, pelo menos, três correntes no que diz respeito ao pagamento como forma de extinção da punibilidade dos crimes tributários. A primeira corrente (entendimento predominante) propõe que a extinção da punibilidade só ocorrerá por meio do cumprimento integral estabelecido pelo fisco, antes do recebimento da denúncia (encargo do Ministério Público). E isso foi decorrência de vários precedentes do Supremo Tribunal Federal. A segunda corrente é somente empregada para débitos atinentes a contribuições especiais. E essa adota no seu processo de extinção uma postura, exclusivamente administrativa, similar à denúncia espontânea, conforme artigo 138 do CTN. E a última corrente traz em seu bojo uma situação bem ampla, visto que o sujeito passivo pode realizar o pagamento como forma de extinguir a punibilidade de delitos contra a ordem tributária a qualquer tempo, mesmo que essa conduta tenha sido transitada em julgado.

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