Buscar

Resumo crítico sobre Antropologia,O social e o cultural,Digestão a fábula das três raças,ou problema do racismo a brasileira.?

💡 1 Resposta

User badge image

Augusto César

Resenha Crítica: Digressão: A Fábulas das Três Raças ou O Problema do Racismo à Brasileira

por Roges

Referências:

DAMATTA, Roberto. Digressão: A Fábulas das Três Raças ou o Problema do Racismo à Brasileira. In: Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social. Petrópolis: Vozes, 1981. (p. 58-85).  

GUIMARÃES, Antônio S. A. Racismo e Anti-Racismo no Brasil. In: Novos Estudos CEBRAP, nº 43, novembro 1995: p. 26-44.

REIS, Vilma. Das Alianças entre os Malungos, de Gorée a Salvador, resistimos. In: LIMA, Maria Nazaré Mota de. (org.). Escola Plural: a Diversidade está na Escola. Formação de Professores/as em História e Cultura Afro-brasileira e Africana. 3. ed., São Paulo: Cortez / Brasília: UNICEF, 2012, p. 119-133.

RODRIGUES, T. C. Movimento Negro no Cenário Brasileiro: embates e contribuições à política educacional nas décadas de 1980-1990 – São Carlos; UFSCar, 2005.

 

Roberto DaMatta, autor do livro “Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social”, qual encontra-se o texto “Digressão: A Fábula das Três Raças ou o Problema do Racismo à Brasileira” é historiador de formação e pós-graduado, mestre e doutor, em Antropologia Social pela Harvard University, nos Estados Unidos. Atualmente, é professor titular na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), onde desenvolve pesquisas acerca da Sociologia do Brasil. Dentre as disciplinar que já ministrou, vale destacar Introdução a uma Antropologia Social do Brasil, na University of California; Estruturalismo, Experiência Brasileira, na University of Notre Dame e Pesquisa Pobres Urbanos na Periferia de São Paulo, na Universidade de São Paulo (USP). Em sua obra, merece um olhar mais atento O que é o Brasil? (Rocco, 2005) e Explorações: Ensaios de Sociologia Interpretativa” (Rocco, 1986).

O texto em questão, traz uma análise acerca da construção do mito da democracia racial presente na sociedade brasileira. Partindo daquilo que o autor vai chamar de “A Fábula das Três Raças”: “[…] vale destacar o nosso racismo contido na «fábula das três raças» que, do final do século passado até os nossos dias, floresceu tanto no campo erudito (das chamadas teorias científicas), quanto no campo popular.” (DAMATTA, 1981, p. 58).

O argumento usado pelo autor segue uma linha comparativa entre o racismo no Brasil e nos Estados Unidos. Da parte do Brasil, o racismo vai ser construído enquanto um meio de hierarquização e controle social dos negros e índios. Ora, em Portugal, as desigualdades sempre foram latentes e, não obstante, justificadas por leis. No entanto, só atingia os brancos pobres que lá viviam. Com o advento das grandes navegações, e a oportunidade de construir uma nova sociedade, os meios de hierarquização vão ser mudados. Aqui, na colônia de exploração, os brancos atingiriam um estado de bem-estar social, estando sempre acima dos negros e índios. Um contraponto que aparece no texto, afim de quebrar o mito da crença popular, que fala sobre a vinda para a povoação da colônia brasileira de degredados europeus. E é lógica a evidência de que a colonização foi algo muito bem esquematizado pelas elites e religiosos, para seguir os moldes da própria sociedade portuguesa.

Porém, a recém-formada sociedade brasileira irá fechar os olhos a este fato e irá enxergar-se, a partir do fato da miscigenação do branco, do índio e do negro, como uma comunidade que coexiste harmonicamente com as diferenças raciais, ainda que com ressalvas. Formando, assim, a peculiaridade do racismo à brasileira.

Tais raças – branca, negra e índia – trariam consigo características que seriam responsáveis pelos erros e injustiças cometidas pelos brasileiros e pelas brasileiras. Do branco, teria sido herdada a estupidez; do negro, a melancolia; e do índio, a preguiça. Esses estereótipos também estariam no papel de responsáveis por todo e quaisquer atrasos políticos, econômicos e culturais que o Brasil tenha. E encontrariam embasamento teórico em pensamentos como o da eugenia (Galton), determinismo (Comte) e de algumas outras vertentes do racismo científico, à época, hegemônico, para justificar as demandas imperialistas e a “supremacia natural europeia”.

Apesar de ser evidente esta postura racista em diversos meios sociais, o racismo que, desde formado, é negado, ainda o será em grandes obras da sociologia brasileira contemporânea, como “Casa Grande e Senzala”, onde vai ser afirmado que os portugueses – brancos – haveriam tido, a partir do contato com os mouros e as mouras, uma predisposição à interação com as outras etnias – negros e índios.  

 […] esse triângulo foi mantido como um dado fundamental na compreensão do Brasil pelos brasileiros. E mais, como essa triangulação étnica, pela qual se arma geometricamente a fábula das três raças, tornou-se uma ideologia dominante, abrangente, capaz de permear a visão do povo, dos intelectuais, dos políticos e dos acadêmicos de esquerda e de direita, uns e outros gritando pela mestiçagem e se utilizando do «branco», do «negro» e do «índio» como as unidades básicas através das quais se realiza a exploração ou a redenção das massas. (DAMATTA, 1981, p. 63)

Nos Estados Unidos, o racismo se percebe de maneira muito evidente. Eles não credibilizam a contribuição das, aqui chamadas, três raças e dentro da hierarquia social o branco ocupa, sem disfarce algum, o topo. Sendo o índio e o negro totalmente desprezados e inferiorizados. E o autor ressalta, para a compreensão do racismo brasileiro, a importância dessa diferença latente da não existência deste dito triângulo formador na percepção da sociedade estadunidense:

[…] nos Estados Unidos, o recorte social da realidade empiricamente dada foi inteiramente diverso, com negros e índios sendo situados nos polos inferiores de uma espécie de linha social perpendicular, a qual sempre situava os brancos acima. Naquele país, como tem demonstrado sistematicamente muitos especialistas, não há escalas entre elementos étnicos: ou você é índio ou negro ou não é! (DAMATTA, 1981, p. 63)

Logo, as discussões que Roberto DaMatta traz neste texto são extremamente importantes para o entendimento da formação do pensamento racista no Brasil. Estas ideias que, ainda hoje, são tratadas como tabus em nossa sociedade e não são amplamente discutidas como deveriam. Contextualizar historicamente a maneira como esta ideologia tão massacrante agiu – e ainda age! – em nosso meio social é fundamental.

Também é considerável destacar a necessidade contínua de romper com essa falsa ideia de democracia racial que vem sendo institucionalizada desde a década de 30, a partir das obras de Gilberto Freyre, como vai afirmar GUIMARÃES (1995, p. 26):

Em termos literários, desde os estudos pioneiros de Gilberto Freyre no início dos anos 30, seguidos por Donald Pierson nos anos 40, até pelo menos os anos 70, a pesquisa especializada de antropólogos e sociólogos, de um modo geral, reafirmou (e tranquilizou) tanto aos brasileiros quanto ao resto do mundo o caráter relativamente harmônico de nosso padrão de relações raciais.

Findar com esta ilusão é, entre outras coisas, reconhecer a situação deplorável de desigualdade – racial – que o Brasil enfrenta desde sua formação enquanto, estado de direito, e que ainda se nega a enxergar. A perceber, o lugar social que ocupam os negros. Continuam, em maioria, pobres, sem acesso ao estudo, a trabalhos bem remunerados. E quando, porventura ocupam locais de poder, são rechaçados pelo meio e discriminados, como muitas vezes ocorre, por exemplo dentro das universidades. Principalmente com a mulher negra.

Seguindo a linha trazida por DaMatta, de acabar a fábula das três raças, insere-se também, a partir da lei 10.639/2003, que marca a obrigatoriedade do ensino da “História e da Cultura Africana e Afro-brasileira” nas instituições de ensino fundamental e médio, públicas e particulares. Esta diretriz, sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é uma grande vitória para o Movimento Negro e para todos aqueles e todas aquelas que acreditam em um futuro mais justo e igualitário para o Brasil. Afinal, conhecer a história, de maneira mais abrangente possível, perceber todas as injustiças que foram, e têm sido, cometidas para conosco – negros -, pode ajudar, muito, a mudar essa realidade. Como reitera REIS (2012, p.131):

[…] o marco legal é apenas um primeiro passo da longa caminhada que terá que fazer toda a sociedade brasileira, por dentro e por fora da escola, pois enfrentar o racismo é ir nas entranhas do projeto de nação das elites brasileiras, historicamente protegida pelo privilégio da cor da pele branca e pelo violento silêncio imposto aos outros, a maioria: os não brancos, os povos indígenas, a população negra.

No entanto, apesar do texto ser direcionado a um público direcionado, a escrita poderia transcorrer de maneira que o entendimento fosse um tanto quanto mais simples. O tema tratado é de interesse geral e se fosse discutido, também, nas escolas, talvez gerasse um sentimento de pertencimento e de vontade de lutar nos jovens.

[…] A divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam a todos, respeito aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira. (RODRIGUES, 2005, p. 86)

 Até porque, sabemos que a autoestima do jovem negro, quanto às injustiças que ocorrem na sociedade, muitas vezes é baixíssima. Reflexo latente, infelizmente, ainda deixado pela marginalização do povo negro. E sem luta não há vitórias.

Portanto, este fragmento da obra Relativizando: Uma Introdução à Antropologia Social (Vozes, 1981), é notável afim de compreender a influência e formação do racismo em nossa sociedade. Sua contribuição é louvável para toda a sociedade brasileira, para que ela, enfim, assuma seu preconceito e racismo e desconstrua-o. A leitura é extremamente recomendável. Principalmente pelos argumentos sólidos que o autor apresenta e pelo caráter inovador de desmistificação desse tema ainda tão evitado nos meios populares e intelectuais.

Rogério Wesley Reis Felix Santos
Graduando em Museologia pela Universidade Federal da Bahia

0
Dislike0

✏️ Responder

SetasNegritoItálicoSublinhadoTachadoCitaçãoCódigoLista numeradaLista com marcadoresSubscritoSobrescritoDiminuir recuoAumentar recuoCor da fonteCor de fundoAlinhamentoLimparInserir linkImagemFórmula

Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta

User badge image

Outros materiais