Um conto é uma narrativa que cria um universo de seres, de fantasia ou acontecimentos. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e um enredo.
O gênero literário conto é estruturado como uma narrativa curta que envolve apenas um conflito. Nessa perspectiva, o momento de maior tensão do gênero é chamado de clímax. Além disso, embora não seja uma regra, é comum que o conto apresente:
Uma subcategoria de conto, popularizada no século XX, é o microconto. Nele, em uma ou duas frases, toda a estrutura do gênero aparece. Veja, a seguir, dois microcontos de célebres autores da Modernidade:
Vende-se: sapatinhos de bebê nunca usados.
Ernest Hemingway
Uma gaiola saiu à procura de um pássaro.
Nota-se que, em ambos os casos, há uma narrativa com conflito único. No primeiro caso, o conflito, em seu clímax, é a venda de sapatinhos de bebê nunca usados. Sugere-se, portanto, que as personagens envolvidas perderam um filho.
No segundo exemplo, o clímax estaria na ação da personagem gaiola, que sai em busca de um pássaro prisioneiro.
A estrutura do conto é baseada nos elementos fundamentais da tipologia narrativa. Nesse sentido, o gênero textual em questão deve ter:
Esse elemento corresponde aos seres que executam e sofrem ações durante o enredo das narrativas. Nesse sentido, podem ser personagens tanto seres humanos quanto outros seres viventes, tais quais animais, plantas ou até objetos humanizados. Veja, a seguir, a apresentação da personagem Ana, do conto “O amor”, de Clarice Lispector:
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.
In: LISPECTOR, C. Laços de família.
Nota-se que o leitor conhece a personagem pelas ações de Ana — “Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas” —, bem como pela descrição de pessoas próximas a ela, como os filhos ou o marido. Além disso, sobre o cenário descrito: a cozinha, em específico, e o apartamento, em geral, são também elementos que fazem o leitor pensar sobre quem seria essa personagem.
Para saber mais sobre a construção de personagens, clique aqui.
O narrador é aquele que conta a história ao leitor, possui tipos, conforme se explica a seguir.
Esse elemento em uma narrativa pode ser entendido de duas formas. De um lado, fala-se de tempo como a época em que a história ocorre. Por exemplo, no conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato, o enredo acontece pouco depois da libertação dos escravos, em 13 de maio de 1888:
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos — e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo — essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia! 'Qualquer coisinha': uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho porque disse: 'Como é ruim, a sinhá!'.
O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis.
In: LOBATO, M. Negrinha.
Além dessa perspectiva, há também nesse elemento a ideia de tempo de duração da narrativa. Seguindo o exemplo anterior, o enredo de “Negrinha” ocorre durante pouco mais de um mês:
Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro do seu doloroso inferno, envenenara-a.
Brincara ao sol, no jardim. Brincara!... Acalentara, dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer mamã, a cerrar os olhos para dormir. Vivera realizando sonhos da imaginação. Desabrochara-se de alma.
Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de anjos... E bonecas e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça — abraçada, rodopiada.
In: LOBATO, M. Negrinha.
O espaço de um conto é, em linhas gerais, o cenário no qual as personagens executam e sofrem as ações que compõem o enredo. Relembre o cenário de “O amor”, da obra Laços de família, de Lispector: “A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando”.
É definido como a sequência das ações que compõe a história. É o enredo que traz movimento para o gênero narrativo.
Pode ser definido como a situação-problema vivenciada pelas personagens em uma narrativa. No caso do conto, por ser um gênero curto, o conflito costuma ser único.
Leia também: Crônica narrativa
Devido à diversidade de formas com as quais um conto pode ser construído, é comum encontrarmos subdivisões desse tipo de texto. Nesse sentido, veja duas subcategorias do gênero, a seguir.
Pode ser definido como aquele em que o enredo apresenta situações inexplicáveis, segundo as leis que regem a realidade. Nesse tipo de narrativa, o acontecimento sobrenatural está sempre presente. Por exemplo, no conto “O pirotécnico Zacarias”, de Murilo Rubião, o narrador é atropelado e morre. Em seguida, ouve aqueles que o mataram discutir o destino do seu corpo e, então, protesta:
Mas aquele seria um dos poucos desfechos que não me interessavam. Ficar jogado em um buraco, no meio de pedras e ervas, tornava-se para mim uma ideia insuportável. E ainda: o meu corpo poderia, ao rolar pelo barranco abaixo, ficar escondido entre vegetação, terra e pedregulhos. Se tal acontecesse, jamais seria descoberto no seu improvisado túmulo e o meu nome não ocuparia as manchetes dos jornais.
Não, eles não podiam roubar-me nem que fosse um pequeno necrológio no principal matutino da cidade. Precisava agir rápido e decidido:
— Alto lá! Também quero ser ouvido.
In: RUBIÃO, M. Obra completa.
Sabe-se que é impossível alguém morrer e, em seguida, protestar sobre qualquer coisa. Por isso, é possível considerar essa narrativa como um conto fantástico. Para saber mais sobre, leia: Conto Fantástico.
Os contos de fadas, velhos conhecidos da infância, são gêneros medievais que ainda fazem muito sucesso. Por definição, esse tipo de narrativa tem personagens folclóricos, tais como: fadas, gnomos, animais personificados etc. Além disso, é comum que esse tipo de conto apresente um fundo moral claro e, por isso, tem certo caráter didático. Para saber mais sobre, leia: História do Conto de Fadas.
Por Me. Fernando Marinho
O conto possui características específicas e é bastante comum na tradição literária brasileira.
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
MARINHO, Fernando. "Conto "; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/o-conto.htm. Acesso em 04 de julho de 2020.
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