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ESTUDOS DE CASO AV1 TEORIA DO CRIME

 "Furto de frango de R$ 4 em Minas vai parar no STJ, que encerra ação: - Absurdo -, diz ministro". O acusado do crime vivia em - condição de miséria - e cometeu o delito para consumo próprio, mas Ministério Público decidiu levar denúncia adiante. A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou o trancamento de uma ação penal aberta pela Justiça de Minas Gerais contra um homem acusado de furtar dois steaks de frango, avaliados em R$ 2 cada, de um supermercado. O caso ocorreu em 2017, em Araxá, no Alto Paranaíba. O colegiado aplicou o princípio da insignificância ou da bagatela, tendo em vista o baixo valor dos produtos e outras peculiaridades do caso. Resta a percepção de que o Ministério Público de Minas Gerais e o seu Judiciário se houveram com excessivo rigor e se afastaram da jurisprudência remansosa dos tribunais superiores para levar adiante um processo criminal de tão notória inexpressividade jurídico-penal -, afirmou o relator do recurso em habeas corpus, solicitado pela defesa do acusado, ministro Rogerio Schietti Cruz. O magistrado destacou que o preço total da mercadoria furtada equivalia, na época, a 0,42% do saláriomínimo. Além disso, considerou que a vítima do delito foi uma empresa. O suspeito, sem antecedentes criminais, foi preso em flagrante pela Polícia Militar, mas o delegado de plantão não ratificou a prisão, considerando a - condição de miséria - em que ele vivia. O policial também levou em conta o baixo valor dos produtos e indícios de que o furto teria sido cometido para consumo próprio. Identifique os pressupostos fixados pela jurisprudência para aplicação casuística do princípio da insignificância ou da bagatela, bem como as consequências jurídico-penais para o homem acusado do furto dos steaks de frango, ante o reconhecimento da aplicação do referido princípio ao caso narrado ao ser julgado pela Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Considere, ainda, os seus estudos acerca dos princípios da intervenção mínima e da lesividade.

💡 1 Resposta

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Julia Faccio

O princípio da insignificância permite excluir da apreciação judicial, no âmbito criminal, os danos de pequena importância, sendo que, quando uma conduta tem sua relevância fático-jurídica reduzida, a responsabilização criminal deve ser afastada, reservando-se as penas somente para fatos que se configurem de todo incompatíveis com os pressupostos de uma vida pacífica, livre e materialmente assegurada. 

Embora o princípio da insignificância não esteja positivado no direito penal pátrio, foi tranquilamente recepcionado pela doutrina nacional, que se posiciona, de forma pacífica, pela desnecessidade de intervenção do Direito Penal, se ínfima a lesão ao bem jurídico por ele tutelado, também para que se reafirme, com isto, o caráter subsidiário e fragmentário deste ramo jurídico.   

Neste sentido, aduz, por exemplo, FRANCISCO DE ASSIS TOLEDO que o princípio da insignificância constitui “regra auxiliar de interpretação, que permite excluir os danos de pouca importância”. Transcreveremos um trecho da obra do ilustre jurista sobre o assunto, verbis:


“(...) Segundo o princípio da insignificância, que se revela por inteiro pela sua própria denominação, o direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai até onde seja necessário para a proteção do bem jurídico. Não deve ocupar-se de bagatelas (....) Note-se que a gradação qualitativa e quantitativa do injusto referida inicialmente permite que o fato penalmente insignificante seja excluído da tipicidade penal, mas possa receber tratamento adequado – se necessário, como ilícito civil, administrativo etc (...).” (Princípios básicos de Direito penal. São Paulo, Saraiva, 1991, p. 133/34 - grifado).


Ademais, não se pode perder de vista que, hodiernamente, não mais se concebe que a tipicidade penal seja entendida como um mero juízo de subsunção formal da conduta à letra da lei. Ao revés, conforme leciona o Professor Luiz Flávio Gomes, “a tipicidade tem que ser compreendida (necessariamente) também em sentido material” (Direito Penal – Parte Geral – Teoria Constitucionalista do Delito, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 94 – grifado). 

Isso significa que o tipo penal não pode mais ser visto apenas como uma descrição objetiva e desvalorada de determinadas condutas humanas. A evolução da dogmática penal, inspirada por princípios de política criminal, levou à construção de uma tipicidade material, que também deve ser levada em conta para que se possa considerar um determinado comportamento como típico.

Para que uma determinada conduta possa ser tida como materialmente típica, exige-se que ela tenha criado ou incrementado um risco proibido relevante e que tenha produzido um resultado jurídico relevante, qual seja a lesão ou o perigo de lesão ao bem jurídico protegido.

Em suma, se a conduta não for apta para produzir um resultado jurídico relevante, se as suas consequências forem ínfimas, o fato será atípico porque insignificante para reclamar a atuação do Direito Penal. Incidirá o princípio da insignificância.

O Supremo Tribunal Federal, em diversos julgados como o infra transcrito, estabeleceu requisitos para o reconhecimento da insignificância, quais sejam, a mínima ofensividade da conduta do agente, ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada.



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