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Mecânica dos Solos Avançada e Introdução a Obras de Terra Estado de tensões e critérios de ruptura Prof. Amanda Christoni • Unidade de Ensino: 3 • Competência da Unidade: Compreender a rotina dos ensaios de cisalhamento direto e triaxial e aplicar o conhecimento adquirido sobre a resistência dos solos na interpretação de ambos os ensaios. • Resumo: Através da aula será possível compreender de que maneira as tensões agem no solo e como estas podem ser representadas pelo círculo de Mohr, responsável por obter graficamente os parâmetros de resistência do solo. • Palavras‐chave: Coesão. Ângulo de atrito. Círculo de Mohr. Ensaio de cisalhamento direto. Ensaio triaxial. • Título da Teleaula: Estado de tensões e critérios de ruptura. • Teleaula nº: 3 Contextualização da aula • Solo que recebem cargas de edificações ou que sofrem escavações e aterros estão submetidos a estados de tensões e podem levar ao desequilíbrio das forças; • No momento em que a tensão de cisalhamento atinge o limite da resistência temos a ruptura do solo. • Quais são os parâmetros de resistência ao cisalhamento? • Como determiná‐los? Plano de ruptura do solo • O cisalhamento significa o deslizamento recíproco dos grãos, havendo aumento (dilatância) ou redução (contração) do volume total do solo. • Tensões (normal e cisalhante) atuam sobre alguns planos dos solos (vertical e horizontal) considerando certa profundidade e correspondendo ao peso próprio devido ao carregamento. Fonte: Leão e Paiva (2018). Cisalhamento e tensões • Plano inclinado em função à referência inicial e, por este motivo, deve‐se fazer a rotação do sistema com o ângulo de . 𝜎 𝜎 𝜎 2 𝜎 𝜎 2 cos 2𝛼 𝜏 𝜎 𝜎 2 sin 2𝛼 Fonte: Leão e Paiva (2018). Plano de ruptura 1 2 3 4 5 6 Círculo de Mohr • Solução gráfica para representar as variações dos componentes de tensões através de uma circunferência no espaço ( x ). 𝜎 𝜎 𝜎 2 𝜏 𝜎 𝜎 2 • Comparando com a equação do círculo: 𝑥 𝑎 𝑦 𝑏 𝑅 Círculo de Mohr • Centro: 𝜎 𝜎 2 • Raio: 𝜎 𝜎 2 Círculo de Mohr Tensão normal máxima Tensão cisalhante máxima Fonte: Leão e Paiva (2018). Exemplo Existe um único polo para cada círculo de Mohr: Polo do círculo de Mohr Fonte: Leão e Paiva (2018). Definido o polo, basta projetar uma reta paralela ao plano de análise passando pelo polo: Tensões do círculo de Mohr Fonte: Leão e Paiva (2018). 7 8 9 10 11 12 Tensões do círculo de Mohr Fonte: Leão e Paiva (2018). Tensões maiores 1 e 3 Tensões maiores • 1: compressão unitária longitudinal. • 3: compressão unitária atuando uniformemente sobre a superfície lateral. Fonte: Leão e Paiva (2018). Considerando o mesmo estado de tensões em todos os pontos do corpo de prova em que 1 e são as tensões principais: • Aumentando progressivamente 1, os próximos estados de tensões que serão alcançados são representados pelas circunferências tracejadas • O aumento de 1 ocorre até a ruptura do solo, representada pela circunferência em linha cheia Fonte: Leão e Paiva (2018). Resistência ao cisalhamento Situação Problema 1 Uma empresa projetista está responsável pela abertura de uma rodovia estadual que transpassará uma região composta por uma sequência de maciços intemperizados. Estudos realizados apontaram que o maciço é composto por filito, uma rocha de baixa resistência. Esse aspecto preocupa a equipe devido a problemas de instabilidade que podem ocorrer durante a execução do projeto e depois de inaugurado o novo trecho. 13 14 15 16 17 18 A empresa projetista fez um corte no terreno natural, expondo porções da rocha alterada. Os estudos geológicos mostraram que abaixo do limite de escavação, aproximadamente 10 m de profundidade, existem estruturas da rocha que podem condicionar a estabilidade do terreno. Considere que o solo é pré‐adensado, h = 294 kN/m², d = 19,6 kN/m³ e a superfície do terreno é horizontal. Determine analiticamente as componentes de tensão normal e cisalhante que agem no plano AA’ tendo em vista que esses esforços são condicionantes no maciço. Determine também a tensão normal e cisalhante máxima. Fonte: Leão e Paiva (2018). Resolução SP1 As tensões principais são: 𝜎 𝜎 294 𝑘𝑁/𝑚² 𝜎 𝜎 𝛾 . 𝑧 19,6.10 196 𝑘𝑁/𝑚² As tensões normais e cisalhantes são: 𝜎 𝜎 𝜎 2 𝜎 𝜎 2 cos 2𝛼 294 196 2 294 196 2 . 0,5 220,5 𝑘𝑁/𝑚² 𝜏 𝜎 𝜎 2 sin 2𝛼 294 196 2 3 2 42,4 𝑘𝑁/𝑚² Analisando a figura, pode‐se obter o ângulo a = 120° que corresponde ao ângulo normal ao plano A‐A’ com a direção de s1. Fonte: Leão e Paiva (2018). A máxima tensão cisalhante corresponde aos segmentos CD e CE, que são o próprio raio do círculo. 𝜏 á 𝜎 𝜎 2 49 𝑘𝑁/𝑚² Para determinar a tensão normal nos planos de cisalhamento máximo, pode‐se obter graficamente pelo centro do círculo e analiticamente por: 𝜎 á 𝜎 𝜎 2 245 𝑘𝑁/𝑚² Dúvidas? 19 20 21 22 23 24 Envoltória Mohr ‐ Coulomb A linha OE é chamada de envoltória de Mohr – Coulomb. Qualquer estado de tensão abaixo ou acima da envoltória não corresponde à condição de ruptura. A envoltória toca na tangente do círculo da ruptura. Fonte: Leão e Paiva (2018). Envoltória Mohr ‐ Coulomb A inclinação da envoltória representa o ângulo de atrito do solo. A interseção da envoltória com o eixo y representa a coesão do solo. Fonte: ENADE (2017). Coesão e ângulo de atrito 45° + /2 Fonte: ENADE (2017). Diferentes estados de tensões 1 2 3 4 • O esquema 1 corresponde a uma amostra de solo que se encontra submetida a uma tensão cisalhante inferior à sua resistência ao cisalhamento. • O esquema 2 corresponde a uma amostra de solo que excedeu a resistência ao cisalhamento em mais de um plano, o que não é permitido pelo critério de Mohr‐Coulomb. • O esquema 3 corresponde a uma amostra de solo que se encontra submetida somente a uma pressão hidrostática e, nesse estado, a tensão de cisalhamento é nula. • O esquema 4 corresponde a uma amostra de solo que atingiu a resistência ao cisalhamento em algum plano e, por essa razão, ocorreu a ruptura. 25 26 27 28 29 30 Resistência ao cisalhamento • A tendência do cisalhamento se manifesta em escavações de terrenos (estabilidade das paredes de cavas ou taludes de cortes), execução de aterros (estabilidade dos taludes dos aterros) ou quando são aplicadas cargas ao terreno. Fonte: Leão e Paiva (2018). Resistência ao cisalhamento Em materiais granulares (não coesivos), areia e pedregulho o atrito é um misto de escorregamento (deslizamento) e de rolamento, afetado fundamentalmente pelo entrosamento entre os grãos. Atrito entre os grãos de solo Fonte: Leão e Paiva (2018). • A coesão é uma caraterística dos solos finos (argilosos e siltes plásticos), diretamente ligada à consistência e originada da atração entre os grãos do material. • É uma componente da resistência ao cisalhamento que independe do esforço normal. Coesão do solo Solos arenosos puros e secos não possuem qualquer coesão, até certo grau de umidade. Em praias é possível observar que a areia úmida apresenta certa coesão, chamada de “aparente” em função da tensão capilar da água. 𝜏 𝑐 𝜎 tan 𝜑 c é coesão; é tensão normal ao plano; é ângulo de atrito interno do solo. Resistência ao esforço cisalhante Critério de resistência 31 32 33 34 35 36 Situação Problema 2 Na segunda etapa do projeto, você identifica em campo que o terreno é composto por uma argila saturada e encaminha amostras desse solo para o laboratório. Os resultados foram: 1 – Argila pré‐adensada a uma pressão de 2 kgf/cm²; 2 – Em um dos ensaios, com a amostra na condição natural de umidade, foi aplicada uma pressão normal ao plano de cisalhamento de 6 kgf/cm² e após cisalhar apresentou resistência ao cisalhamento de 3,5 kgf/cm²; 3 – Já em um segundo ensaio com mesma pressão normal (6 kgf/cm²) ao plano de cisalhamento, ofereceu uma resistência de 1,75 kgf/cm², porém a amostra estava saturada. Obtenha os valores de ângulo de atrito interno eaparente para esta argila, além da coesão para os ensaios nas amostras na umidade natural e saturada por meio do Círculo de Mohr. Você percebe alguma influência nos parâmetros de resistência da amostra quando ela estava na umidade natural e saturada? Resolução SP2 Temos os valores de tensão normal de 3 = 6 para ambos os ensaios e deste ponto traçamos uma reta que faz 45° com a horizontal. Se prolongarmos uma reta horizontal utilizando os pares de pontos de pressão normal (6;1,75) e de cisalhamento (6;3,5) e depois traçarmos uma reta que faz 45°, podemos definir o centro das envoltórias das amostras natural e saturada. Como a tensão cisalhante é máxima, obtemos os centros das envoltórias prolongando os pontos de 1,75 e 3,5 kgf até interceptar a linha que faz 45° e traçamos uma vertical até interceptar o eixo das pressões normais. Fonte: Leão e Paiva (2018). Ao traçar os círculos de Mohr aos ensaios natural e saturado, sabemos que a argila estava previamente adensada 2 kgf/cm² e se prolongarmos uma reta saindo de ‐2 kgf/cm² até que tangencie o círculo de Mohr, teremos a envoltória. A coesão e o ângulo de atrito são obtidos graficamente. Fonte: Leão e Paiva (2018). Ensaio de cisalhamento direto 37 38 39 40 41 42 Pode ser executado de três formas em função da presença ou ausência de água, como também na condição do solo natural: • Sem drenagem (presença de água) • Com drenagem durante um carregamento vertical • Com drenagem durante todo o ensaio Ensaio de cisalhamento direto Fonte: o próprio autor. Com a aplicação do esforço horizontal nas amostras, o ensaio pode ser classificado de duas maneiras: • Tensão controlada – aplica‐se um determinado esforço horizontal e faz‐se a medição das deformações até atingir a estabilização. • Deformação controlada – a caixa de cisalhamento se desloca a uma velocidade controlada, onde são medidas a resistência ao cisalhamento correspondente, por meio do anel dinamométrico. Dilatância: durante o cisalhamento ocorre um aumento de volume, em função do arranjo dos grãos e para que ocorra um deslocamento entre eles, é necessário um novo arranjo, com o preenchimento dos vazios existentes. Compressão: Durante o cisalhamento ocorre uma diminuição do volume onde podemos supor um acréscimo de acréscimo de esforço horizontal e aumento da resistência média das tensões principais. Fonte: Leão e Paiva (2018). Ensaios drenados Ensaio triaxial Consta de uma célula onde são produzidos o adensamento e ruptura de uma amostra de solo. • Aplicação da pressão hidrostática 3 (pressão externa) por meio da água; • É introduzida uma carga vertical por meio do pistão que dividida pela área da amostra resulta na tensão desviadora. Ensaio triaxial Fonte: Pinto (2006). • Ensaio com tensão controlada e deformação controlada Fonte: Leão e Paiva (2018). 43 44 45 46 47 48 • Lento ‐ adensado drenado (CD): aplica‐se uma pressão confinante e espera‐se que o corpo de prova adense, ou seja, que a pressão neutra dissipe. Fonte: Leão e Paiva (2018). • Rápido pré‐adensado ‐ adensado não drenado (CU): aplica‐se a pressão confinante e deixa‐se dissipar a pressão neutra, assim o corpo de prova adensa sob a pressão confinante. Fonte: Leão e Paiva (2018). • Rápido ‐ não adensado e não drenado (UU): corpo de prova é submetido à pressão confinante e, a seguir, ao carregamento axial, sem que se permita qualquer drenagem. O teor de umidade permanece constante e, se o corpo de prova estiver saturado, não haverá variação de volume. Fonte: Leão e Paiva (2018). Ensaio para determinação da resistência Situação Problema 3 A empresa deseja realizar uma obra subterrânea no maciço em solo residual com o objetivo de abrir um túnel de forma a simplificar o traçado da rodovia. A partir da coleta de amostra do solo residual do maciço, são executados 3 ensaios de compressão triaxial adensados não drenados (CU). Calcule as pressões axiais efetivas e confinantes consideradas no ensaio, determinando também os parâmetros de resistência em termos de pressões totais, além de obter a coesão e o ângulo de atrito efetivos do solo. Corpo de prova w final (%) 3 (kgf/cm²) 1 (kgf/cm²) u ruptura (kgf/cm²) 1 27,0 1,3 4,69 ‐0,19 2 26,3 3,0 9,07 0,96 3 25,9 6,0 14,90 2,80 49 50 51 52 53 54 Resolução SP3 Inicialmente determina‐se a diferença entre as pressões principais, que correspondem a diferença entre a pressão axial e a pressão confinante. Em seguida, a pressão axial efetiva é a diferença entre a pressão axial total e a pressão neutra; e a pressão confinante efetiva é igualmente a diferença entre a pressão confinante e a pressão neutra. Corpo de prova ‐ 3 (kgf/cm²) 𝝈𝟑 (kgf/cm²) 𝝈𝟏 (kgf/cm²) 1 3,39 1,49 4,88 2 6,07 2,04 8,11 3 8,90 3,20 12,10 Os círculos de Mohr apresentam pares (1,30;4,69), (3,00;9,07) e (6,00;14,90). Fonte: Leão e Paiva (2018). Em termos de pressão efetiva, onde identifica‐se os parâmetros de coesão e ângulo de atrito para ambas as condições, tem‐se os círculos cujos pontos são (1,49; 4,88), (2,04; 8,11) e (3,20; 12,10). Fonte: Leão e Paiva (2018). Análise dos prédios da orla de Santos ‐ SP Santos ‐ SP Fonte: Cimento Itambé (2015). Fonte: Engenheiro Caiçara (2016). Santos ‐ SP Fonte: Engenheiro Caiçara (2016). Superposição dos bulbos de tensões por conta das proximidades dos prédios. 55 56 57 58 59 60 Recapitulando Recapitulando • Plano de ruptura • Círculo de Mohr • Envoltória de Mohr – Coulomb • Parâmetros de resistência ao cisalhamento • Cisalhamento direto • Cisalhamento triaxial 61 62 63
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