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Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 1 POPULAÇÕES NEGLIGENCIADAS DEFINIÇÃO: Refere-se a um grupo de indivíduo com uma identidade comum em um estado de marginalização política, econômica, social ou que sofrem discriminação e/ou incompreensão da população em geral. EXEMPLOS DESSAS POPULAÇÕES: Indígenas, moradores de rua, profissionais do sexo, imigrantes, drogadictos, analfabetos, moradores de favelas e áreas de risco, a comunidade LGBT, presidiários, crianças de rua, vítimas de violência doméstica, etc. VIOLÊNCIA SIMBÓLICA: Ocorre de forma inconsciente muitas vezes Se trata a pessoa diferente como menor Naturaliza a discriminação Diferencia e estranha o outro – eu eugemônico, diferente do outro Hierarquiza e inferioriza – diferente como inferior e menor Desumaniza Invisibiliza a violência, considerando-as naturais ESTRESSE DE MINORIA: Impacto direto nos indicadores de saúde Menor acesso aos serviços de saúde Maior vulnerabilidade a doenças e agravos em saúde Maior risco de violência ocorrer dentro do próprio serviço de saúde Maior dificuldades para o autocuidado DEFINIÇÃO DE VULNERABILIDADE: Característica inexorável daquilo que tem vida - seja humana, animal, protista ou vegetal. VIDAS QUE IMPORTAM: Todas as vidas importam Naturalização da discriminação Naturalização da pobreza DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE: Conjunto de fatores que distanciam a perfeição teórica de programas de saúde coletiva da dura aplicação prática do conceito de saúde estabelecido pela Organização Mundial de Saúde Os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Os determinantes sociais de saúde englobam desde situações socioeconômicas, culturais e ambientais gerais até fatores individuais e hereditários Os DSS são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham. Os fatores e mecanismos através dos quais as condições sociais afetam a saúde e que potencialmente podem ser alterados através de ações baseadas em informação As características sociais dentro das quais a vida transcorre Exemplos: Educação, desemprego, condições de trabalho, acesso a serviços de saúde, condições de habitação e saneamento, alimentação, idade e sexO Determinantes Intermediários: fatores relacionado a atenção a saúde, redes sociais e comunitárias, saneamento básico Determinantes Distais: demográficos e socioeconômicos- cor, situação conjugal, escolaridade e ocupação materna, local da residência, condições de moradia Determinantes proximais: fatores biológicos. INDICADORES DE SAÚDE: Os indicadores de saúde, quando cruzados com as características socioeconômicas, revelam a importante relação entre saúde, seus determinantes sociais e a organização do sistema de saúde. A compreensão deste conjunto é fundamental para instrumentalizar a elaboração de políticas e programas voltados para o combate às desigualdades, principalmente na saúde, em que se busca construir um SUS equitativo no acesso e pautado na integralidade da saúde. Conhecer/reconhecer os territórios e suas diversidades DESIGUALDADES E INIQUIDADES EM SAÚDE: Desigualdades em Saúde: diferenças sistemáticas na situação/condição de saúde ou na distribuição de seus determinantes em diferentes grupos populacionais Iniquidades em Saúde: diferenças na situação de saúde que além de sistemáticas e relevantes, são injustas, evitáveis e desnecessárias – há distribuição desigual, um desnível – financeiro e na distribuição dos recursos São as populações de menor renda ou de menor escolaridade as que sofrem mais de todos os tipos de doenças. O que nós temos hoje claramente é que, qualquer que seja a doença, há um escalonamento da sua distribuição na população de acordo com a estratificação social, com maior predominância nas classes de baixa renda. Então, nosso grande problema de saúde é combater essas iniquidades na saúde, que são as diferenças injustas, evitáveis e desnecessárias, causadas por determinantes sociais. As precárias condições de vida e saúde de amplos setores da população brasileira são privações de liberdade que limitam sua capacidade de optar entre diferentes alternativas, de ter voz frente às instituições do Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 2 POPULAÇÕES NEGLIGENCIADAS Estado e da sociedade e de ter maior participação na vida social. São mais evidentes na região norte e nordeste ESTIGMA SOCIAL: Uma construção social que representa uma marca no indivíduo, delegando a pessoa um status desvalorizado em relação aos demais membros da sociedade. O reconhecimento da diferença, da ‘marca’, somado a um rebaixamento do portador daquela ‘marca’. O termo estigma foi criado pelos gregos para se referirem “a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava”. Assim, o uso da palavra estigma remete a uma marca, visível ou invisível, física ou social. A discriminação social é uma atitude de segregação ou tratamento diferenciado, inferiorizando um indivíduo ou grupo de indivíduos MIGRAÇÕES: Brasil, ao longo de sua história, recebeu diferentes fluxos migratórios, de modo que distintos povos contribuíram para a formação de características atuais de sua diversidade cultural O crescimento dos fluxos migratórios internacionais traz à tona o debate referente à responsabilidade dos Estados em garantir os direitos sociais básicos às populações imigrantes, estando incluso o acesso à saúde. Com a globalização e com a criação do Mercado Comum do Sul – MERCOSUL, o fluxo de estrangeiros no país tem se intensificado. Os novos migrantes e os moradores fronteiriços. Há, ainda, um despreparo, somado à limitação de recursos, envolvendo espaços públicos, gestão em saúde e profissionais de saúde, em distintos casos, para lidar com a interculturalidade. Embora casos de boas práticas de atenção em saúde existam, as situações de descaso ou desconhecimento ainda persistem, trazendo a necessidade do diagnóstico participativo e de programas específicos. O imigrante que busque, no Brasil, um espaço para sua sobrevivência e realização deve receber condições adequadas ao tratamento de seus direitos, bem como o estrangeiro que esteja no Brasil e o brasileiro que resida fora, sem impedimentos ao acesso à plenitude cidadã. Nova Lei da Migração - LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017 Políticas Públicas: o acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social é um princípio da nova lei POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: A População em Situação de Rua (PSR) é um grupo social que vivencia distintas situações de múltiplas vulnerabilidades, processos de marginalização e preconceitos. Trata-se de uma população marcada por processos de exclusão social e que convive com experiências de desrespeito e ausência de reconhecimento social no seu cotidiano. O estigma perpassa o acesso aos bens públicos, e alguns serviços de saúde, que se recusam a oferecer atendimento pela ausência de documentação ou domicílio cadastrado. A Política Nacional para a População em Situação de Rua propõe a superação do estigma do ‘morador de rua’ ao considerar a ‘população em situação de rua’ como um grupo populacional heterogêneo que se encontra abaixo da linha da pobreza, com seus vínculos familiares rompidos ou fragilizados e não possuindo moradia regular, utilizando logradouros públicos e áreas degradadas para morar e viver ou fazendo uso das unidades de acolhimento para pernoite, de modopermanente ou temporário. Itinerância – material e simbólica A denominação de ‘mendigos’, ‘vagabundos’, ‘fedorentos’, ‘cracudos’ são termos estigmatizantes usados pela sociedade, e reforçados pela mídia, que destaca aspectos considerados negativos, associando a PSR ao crime, e a ‘cracolândia’ a um espaço muito perigoso. Criação da equipe Consultório na Rua (eCnaR) para PSR e usuários de álcool, crack e outras drogas de forma a efetivar um cuidado integral implementado segundo os atributos da APS e da Promoção da Saúde. Uma equipe de Saúde da Família para populações e territórios dinâmicos e vulneráveis, numa concepção potente em promover o acesso, construir vínculos e prover um cuidado integral, na perspectiva da redução de danos e da clínica ampliada. ECNAR: Visitas sistemáticas ao território para conhecê-lo, não apenas em sua dimensão geográfica, mas, também, em suas características ambientais, sanitárias e em suas áreas de risco e violência - percorrer os espaços e anotar em diários de campo, as características dessas áreas (dormitórios, higiene e consumo de drogas). Abordagem gradual, com a equipe se fazendo presente no território e mostrando-se acessível - a eCnaR se apresenta aos usuários, informa sobre a possibilidade do cuidado – na própria rua ou na unidade básica de saúde – esclarecendo sobre o sigilo das informações e da não obrigatoriedade de documentos de identificação, estabelecendo inicialmente laços de confiança e vínculo. Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 3 POPULAÇÕES NEGLIGENCIADAS Identificar limites, mesmo que dinâmicos, das cenas de uso e realizar cadastro dos usuários, de forma preliminar (contagem de grupos, como se organizam – as “famílias formadas na rua”) ou mais completo, dependendo da oportunidade e da disponibilidade do usuário em fornecer informações. Educação Permanente - Uma descrição detalhada da etnografia do ambiente, das cenas, dos moradores, das percepções e ações realizadas em campo pode constituir-se em tema para discussão nas reuniões regulares da eCnaR, e subsidiar a melhoria da organização do processo de trabalho e planejamento das ações da equipe. Dependendo da complexidade dos casos, a eCnaR se torna a porta de acesso para outros níveis da rede de cuidado como as emergências/hospitais clínicos ou a atenção psicossocial. GÊNERO E SEXUALIDADE: A Política LGBT tem como marca o reconhecimento dos efeitos da discriminação e da exclusão no processo de saúde-doença da população LGBT. Suas diretrizes e seus objetivos estão, portanto, voltados para mudanças na determinação social da saúde, com vistas à redução das desigualdades relacionadas à saúde destes grupos sociais. O desenvolvimento de ações intersetoriais de educação em direitos humanos e respeito à diversidade, efetivando campanhas e currículos escolares que abordem os direitos sociais. A sensibilização dos profissionais a respeito dos direitos de LGBT, com inclusão do tema da livre expressão sexual na política de educação permanente no SUS. A inclusão dos quesitos de identidade de gênero e de orientação sexual nos formulários, prontuários e sistemas de informação em saúde. A ampliação da participação dos movimentos sociais LGBT nos conselhos de saúde. O incentivo à produção de pesquisas científicas, inovações tecnológicas e compartilhamento dos avanços terapêuticos. A garantia dos direitos sexuais e reprodutivos e o respeito ao direito à intimidade e à individualidade. O estabelecimento de normas e protocolos de atendimento específicos para as lésbicas e travestis. A manutenção e o fortalecimento de ações da prevenção das DST/aids, com especial foco nas populações LGBT. O aprimoramento do Processo Transexualizador A implementação do protocolo de atenção contra a violência, considerando a identidade de gênero e a orientação sexual. As equipes de Saúde da Família precisam estar atentas ao agrupamento das pessoas em novas configurações familiares, como as famílias homoafetivas, que devem ser acolhidas e acompanhadas da mesma forma que as famílias tradicionais. INDÍGENAS: História - Escravização, expropriação de suas terras, aculturação, assassinadas – garimpo, latifundiários, marginalização da sociedade. Política Nacional de Saúde dos Povos Indígenas: Reciprocidade: busca uma coexistência equitativa entre as comunidades indígenas e os agentes de intervenção na saúde, tanto em nível da troca de experiências como da oportunidade de decisão; Eficácia Simbólica: busca uma compreensão ampla do universo simbólico indígena como condição indispensável para a atuação em saúde, através da aproximação entre medicina e cultura; Integralidade: busca uma visão abrangente da problemática indígena, atuando sobre os determinantes históricos, sociais, culturais e ambientais da saúde, de uma forma global e criativa; Autonomia: busca a autogestão e a gestão participativa nos programas de saúde implementados nas comunidades, dentro da perspectiva maior da autonomia dos povos indígenas. POPULAÇÃO NEGRA: A Política nacional de Saúde integral da População negra (PnSiPn) é uma resposta do Ministério da Saúde às desigualdades em saúde que acometem esta população e o reconhecimento de que as suas condições de vida resultam de injustos processos sociais, culturais e econômicos presentes na história do País. Atenção às doenças genéticas ou hereditárias mais comuns da população negra: anemia falciforme, diabetes mellitus (tipo 2), hipertensão arterial, deficiência de glicose-6-fosfasto desidrogenase. Juventude negra – causas externas – violência O racismo é o principal determinante social em saúde para população negra, já que incide negativamente sobre todos os fatores que compõem o conceito de saúde. Situação de iniquidade e vulnerabilidade que afeta a saúde da população negra – precocidade dos óbitos, altas taxas de mortalidade materna e infantil, maior prevalência de doenças crônicas e infecciosas e altos índices de violência A naturalização de pensamentos e situações que promovem a discriminação racial formam o racismo estrutural. PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: Um dos problemas fundamentais para a efetivação de políticas públicas voltadas à saúde das pessoas privadas de liberdade é a superação das dificuldades impostas pela própria condição de confinamento, que dificulta o acesso às ações e serviços de saúde de forma integral e efetiva. A consequência econômica e social dessa desconformidade implicou, por parte do governo Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 4 POPULAÇÕES NEGLIGENCIADAS federal, a elaboração e pactuação de uma política própria, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), instituída pela Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014, com o objetivo de ampliar as ações de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) para a população privada de liberdade, fazendo com que cada unidade básica de saúde prisional passasse a ser visualizada como ponto de atenção da Rede de Atenção à Saúde. EAPP: Atenção Primária intramuros e o correto encaminhamento para outros pontos da Rede de Atenção à Saúde (RAS), como aos serviços de média e alta complexidade extramuros. As Equipes de Atenção Primária Prisional são formada por profissionais das mesmas categorias profissionais da Estratégia Saúde da Família (enfermeiro, médico, técnico ou auxiliar de enfermagem, cirurgião-dentista e técnico ou auxiliar de saúde bucal) – dependendo do tipo. Podem ser acrescentados outros profissionais. PERIFERIAS E FAVELAS: Pensar a favela sob o olhar da saúde e ambiente Moradia, Saneamento e Mobilidade Território esquecido pelo Estado acaba sendo dominado pela ação das Milícias e pelo Narcotráfico – que impõem nova ordem social. Três processosimportantes que configuram a experiência do morar em favelas: o desenraizamento, a provisoriedade e a invisibilidade. Fragilidade histórica das políticas públicas de moradia para as classes populares - processos marginais de ocupação irregular dos territórios. Marginalização das metrópoles - Populações excluídas do trabalho, renda e seguridade social. Problemas - falta de saneamento básico, os problemas respiratórios associados à poluição, o consumo de drogas e as mortes por acidentes e violência urbana, além das deficiências do SUS local, em particular de programas como a Estratégia de Saúde da Família Necessidade de discutir temas, problemas e alternativas para o território. - desigualdades socioespaciais Algumas das possíveis causas de adoecimento e morte nos vários territórios nos revelam que o drama cotidiano dos moradores não é visível, nem para os profissionais de saúde e assistência social que atuam junto a essas populações, e nem para os sistemas de informações existentes de saúde pública. Muito menos são visíveis as muitas e necessárias respostas que devem ser dadas a esses dramas ignorados. POSSÍVEIS RESPOSTAS: Competências estruturais: Reconhecer os marcadores da diferença que influenciam a interação clínica – gênero, raça, procedência, orientação cultural ... Promovem diferenças na nossa sociedade Desenvolver linguagem interdisciplinar e intersetorial – antropologia, psicologia social... Estigma, estrutura social, lugar de fala… Articular as apresentações culturais do encontro clínico com a dinâmica estrutural – convivência Propor interveausadas por agentes infecciosos virais e bacterianos ou parasitas e são consideradas endêmicas em populações de baixa renda. Estratégias da Escola Médica: Dar visibilidade aos temas, Projeto político pedagógico e Diálogo com a sociedade DOENÇAS NEGLIGENCIADAS: São aquelas causadas por agentes infecciosos virais e bacterianos ou parasitas e são consideradas endêmicas em populações de baixa renda. Baixo interesse da indústria farmacêutica nesse tema, justificado pelo reduzido potencial de retorno lucrativo para a indústria, uma vez que a população atingida é de baixa renda e presente, em sua maioria, nos países em desenvolvimento. São consideradas doenças da extrema pobreza, como são perpetuadoras da miséria, na medida em que pioram a exclusão social e diminuem a inserção de pessoas no mercado de trabalho, e incluem: tuberculose, hanseníase, esquistossomose, dengue, malária, helmintíase (causada por vermes parasitários, como a tênia) e tracoma (infecção no olho causada por bactéria), doença de Chagas, fasciolíase, raiva, a leishmaniose, a elefantíase e a doença do sono, por exemplo. Doenças negligenciadas são, portanto, aquelas que, por afetarem populações de baixo poder aquisitivo em países em desenvolvimento, não despertam o interesse da indústria farmacêutica, que não vê nelas uma possibilidade de auferir grandes lucros. Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 5 POPULAÇÕES NEGLIGENCIADAS
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