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Bacteriologia e bacterioses I - Pasteurella

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Bacteriologia e bacterioses I 
Pasteurella 
As Pastereullas são pequenas cocobacilos gram-negativos que 
habitam a cavidade oral e o trato gastrintestinal de muitos animais 
e causam vários problemas infecciosos, incluindo sepse e 
pneumonia. Nos seres humanos, a infecção é causada por 
mordeduras, arranhaduras ou lambidas de cães e gatos, resultando 
em celulite, abscessos subcutâneos e várias outras síndromes. 
As bactérias pertencentes ao gênero Pasteurella foram isoladas 
primeiramente em aves com cólera em 1878. Elas foram 
caracterizadas 2 anos depois por Pasteur. O primeiro episódio 
humano de infecção humana por Pasteurella, em um caso de sepse 
puerperal, foi relatado por Brugnatelli em 1913. O isolamento da 
Pasteurella multocida de uma infecção que ocorreu com uma 
mordida de gato foi descrito em 1930. 
Posteriormente, as espécies foram agrupadas, em primeiro lugar, 
como Pasteurella septica e, em seguida, no final da década de 
1930, como o grupo Pasteurella multocida. O genoma completo de 
Pasteurella multocida foi sequenciado em 2001, oferecendo uma 
oportunidade para elucidar os mecanismos de patogenicidade com 
maior precisão. 
Microbiologia 
Os membros do gênero Pasteurella são bactérias pequenas, 
cocobacilos de 1 a 2µm de comprimento não móveis, não 
formadoras de esporos, gram-negativas, anaeróbias facultativas; 
na coloração de Gram, aparecem como bacilos únicos. Os 
organismos crescem em cultura em uma variedade de meios 
comerciais, incluindo Ágar chocolate, mas não geralmente no meio 
de ÁgarMacConkey. 
A maioria das cepas é constituída por catalase, oxidase e indol 
positivo e produz ácido a partir de sacarose. Os espécimes isolados 
em humanos mais comumente pertencem ao grupo Pasteurella 
multocida. A Pasteurella multocida inclui 5 sorogrupos (A, B, D, E, 
F). As cepas do grupo A foram mais frequentemente isoladas como 
colonizadores ou patógenos do trato respiratório, enquanto que as 
cepas não-A foram isoladas com maior frequência de espécimes 
não respiratórios, incluindo sangue, fluido cerebrospinal e 
abscessos. 
Epidemiologia 
As bactérias do gênero Pasteurella, em particular a Pasteurella 
multocida, apresentam uma distribuição mundial na flora normal do 
trato respiratório de mamíferos. Para a maioria das Pasteurella 
spp, o reservatório principal está em animais. Cães e gatos têm 
taxas de colonização particularmente elevadas de 70 a 90% e de 
20 a 50%, respectivamente. Na maioria dos casos, esse estado 
carreador é assintomático, embora as infecções do trato 
respiratório superior e inferior e a septicemia sejam bem 
conhecidas em animais. 
A colonização do aparelho respiratório por Pasteurella multocida 
em seres humanos é bem conhecida; na maioria dos casos, os 
pacientes colonizados têm doenças das vias respiratórias 
inferiores, incluindo sinusite crônica, doença pulmonar obstrutiva 
crônica (DPOC) ou bronquiectasias. A maioria dos pacientes 
colonizados tem história de contato doméstico com animais 
portadores da doença. 
Em termos gerais, a infecção humana com Pasteurella pode ser 
dividida em três tipos: infecção que ocorre com mordidas de 
animais, geralmente de cães ou gatos; infecção secundária à 
exposição a outro animal; e infecção que ocorre sem contato 
conhecido com animais. 
A infecção por mordidas de animais é a forma mais comumente 
relatada. Entre as mordidas de animais, as de cães são mais 
comuns, seguidas das mordidas de gato. Aproximadamente, 15 a 
20% das feridas de mordida de cão e mais de 50% das feridas 
de mordida de gato se tornam infectadas, e maior incidência de 
infecção por mordidas de gato é provavelmente resultado do fato 
de que os dentes de gato são mais finos e, mais comumente, 
resultam em feridas puntiformes que apresentam um maior risco 
de infecção. 
Em mordidas de cães, os Staphylococcus aureus e Streptococcus 
são os agentes patogênicos mais comumente isolados, com 
Pasteurella e outros organismos. Em infecções por mordida de 
gato, a Pasteurella spp. é o agente patogênico mais comum. Das 
infecções por Pastereulla spp em humanos, 76% ocorrem como 
resultado de mordeduras de gato e 24% ocorrem por mordeduras 
de cães. 
As infecções por Pasteurella também foram descritas por 
mordidas de outros animais, incluindo porcos, ratos e coelhos. Além 
das mordidas, as infecções por Pasteurella também foram 
relatadas como secundárias a arranhaduras de cães e gatos e da 
lambedura de feridas abertas por esses animais. Em uma 
proporção significativa de casos de Pasteurella, nenhuma 
exposição animal conhecida ou seu contato pode ser identificado. A 
transmissão vertical de Pasteurella multocida tem sido rara. 
Fatores de risco para desenvolvimento de doença grave incluem 
condições imunossupressoras, com cirrose, transplantador por 
órgãos sólidos e neoplasias hematológicas tendo um risco 
particularmente alto, e extremos da idade, como neonatos e idade 
avançada. 
Patogênese 
Os mecanismos precisos da patogenicidade do gênero Pastereulla 
permanecem incertos. Em animais, as cepas virulentas de 
Pasteurella multocida aderem às células epiteliais da mucosa no 
trato respiratório superior, particularmente nas amígdalas. Vários 
fatores de virulência foram descritos em Pasteurella spp, como a 
toxina Pasteurella multocida (TPM), produzida pelas cepas A e D, 
sendo um mitógeno potente que ativa uma série de cascatas de 
sinalização intracelular, resultando em múltiplos efeitos deletérios. 
Os lipopolissacarídeos da Pasteurella multocida (LPS) são outros 
fatores de virulência comprovado. Além disso, as cepas de 
Pasteurella mais virulentas produzem cápsulas de polissacarídeos 
que conferem muitos mecanismos possíveis de patogenicidade, 
incluindo resistência à dessecação, promoção da aderência e 
resistência à fagocitose e apoptose mediados por complemento. 
Finalmente, a ligação de transferrina por algumas cepas de 
Pasteurella patogênicas pode ser um mecanismo usado pelas 
bactérias para garantir um suprimento de ferro necessário para 
o crescimento. Os anticorpos para antígenos somáticos e 
capsulares desenvolvem-se dentro de 2 semanas de infecção 
clínica por Pastereulla. Os anticorpos capsulares são mais 
duradouros do que os somáticos. O papel preciso desses anticorpos 
na defesa do hospedeiro em seres humanos não está claro. 
Manifestações Clínicas 
A maioria das infecções por Pasteurella em seres humanos é 
causada por Pasteurella multocida e envolve pele e tecidos moles; 
menos comumente, pode causar artrite séptica, osteomielite e 
meningite. Embora ambas as subespécies, multocida e séptica, 
causem infecções cutâneas e de tecidos como resultado de 
mordidas de animais e arranhões, a multocida também causa 
infecções do trato respiratório e infecções sistêmicas. 
As infecções da pele e dos tecidos moles geralmente se 
desenvolvem após uma mordedura ou arranhadura de animais e, 
menos frequentemente, ocorrem pelo contato com a saliva de cão 
ou gato com uma ferida aberta. O edema e o eritema se 
desenvolvem no local da lesão, em geral dentro de 24 horas a 
partir do momento da exposição, podendo ocorrer tão 
precocemente quanto 3 horas após mordedura com intensa 
reação inflamatória com dor e edema proeminentes e drenagem 
purulenta em 40% dos casos e descarga serossanguinolenta em 
20% dos casos. 
A linfadenopatia regional ocorre em 30 a 40% dos casos. A celulite 
é evidente em 24 a 48 horas, e alguns casos podem evoluir com 
fascite necrotizante. A febre ocorre em, aproximadamente, 20% 
dos casos. Um pouco mais de 50% dos casos de infecção por 
mordedura de cães e gatos ocorre nas extremidades superiores, 
seguidas por extremidades inferiores, cabeça, rosto e pescoço; 
vários locais de infecção são, por vezes, evidentes. 
Os abcessos e tenossinovites são as complicações mais frequentes 
da infecção por Pasteurella, sendo a artrite séptica e a 
osteomielite menos comuns. A maioria dos casos de artrite séptica 
não ocorre sem injúria penetrante da articulação. Existem três 
formas diferentes de infecçõesósseas e articulares por espécies 
de Pasteurella, que incluem a artrite séptica, a osteomielite e 
artrite e osteomielite combinadas. 
A osteomielite ocorre, normalmente, como extensão de um 
processo de celulite local e é mais frequente com mordeduras de 
gatos que de cães. O joelho é a articulação mais envolvida; ocorre 
mais frequentemente em articulações já com dano prévio, como 
em pacientes com artrite reumatoide, osteoartrite ou próteses 
articulares. 
Em contraste com a artrite séptica, aproximadamente 70% dos 
casos de osteomielite ocorrem em ossos da extremidade superior, 
geralmente a mão ou o punho. Também, ao contrário da artrite 
séptica, condições médicas crônicas e terapia com 
corticosteroides não são antecedentes comuns. Fatores de risco 
para osteomielite por Pastereulla incluem idade mais avançada, 
artrite reumatoide e uso de corticosteroide. 
As infecções de sistema nervoso central pela Pastereulla multocida 
são raras. A meningite é mais comum e ocorre em extremos de 
idade como crianças e idosos ocorre pleocitose com predomínio de 
polimorfonucleares na análise do líquor, e, em 80% dos casos, a 
Pastereulla é identificada na coloração de Gram, embora 
frequentemente seja confundida com Haemophylus e Neisseria 
meningitidis. Podem ainda ocorrer casos raros de lesões focais, 
como o abscesso cerebral e o empiema subdural. A mortalidade 
das meningites por Pastereulla é de 25%. 
A bacteremia pode ser uma complicação da infecção por 
Pasteurella, sendo mais frequentemente associada com infecções 
de pele, infecções de tecidos moles (26,9%), infecção do trato 
respiratório (21,8%), infecção endovascular (14,7%), infecção 
intra-abdominal-pélvica (10,3%) e infecção óssea e articular (9 %), 
embora possa ocorrer sem um outro foco infeccioso definido. 
A maioria dos casos foi associada ao contato com animais (80%) e 
a maioria dos pacientes apresentou condições médicas 
subjacentes, especialmente cirrose, malignidade, alcoolismo, DPOC 
e diabetes melito. A mortalidade é alta, sobretudo em pacientes 
comprometidos por imunodeficiência, mas a mortalidade geral 
diminuiu substancialmente de 1950 a 2010. 
A endocardite infecciosa tem sido relatada com muito menos 
frequência do que a septicemia com 15 casos de infecções por 
Pastereulla multocida, e as infecções podem envolver válvulas 
nativas ou prostéticas. Em quase 50% dos casos de endocardite 
por Pastereulla, nenhuma doença cardíaca preexistente é 
evidente. 
Infecções respiratórias com Pasteurella spp. envolvem o trato 
respiratório superior, podendo causar sinusite, bronquite, glossite, 
faringite, otite, e também o trato respiratório inferior, causando 
pneumonia, abscesso pulmonar e empiema pleural. O trato 
respiratório somente é menos acometido que a pele nas infecções 
por Pastereulla. A colonização de Pasteurella assintomática no trato 
respiratório superior foi relatada em pacientes com doença do 
trato respiratório subjacente, incluindo doença pulmonar obstrutiva 
crônica e bronquiectasias. 
A pneumonia é a complicação de trato respiratório inferior; 
geralmente ocorre em pacientes com doença pulmonar subjacente 
e é lobar, com um pródromo curto, e, em dois terços dos casos, 
cursa com febre. Sintomas incluem mal-estar, dispneia e dor 
pleurítica. Foram descritos casos de envolvimento pulmonar 
multilobar. 
A maioria dos casos de empiema por Pasteurella ocorre em adultos 
com idade média de 70 anos, e quase todos apresentam doença 
pulmonar subjacente, DPOC ou bronquiectasia. Embora as queixas 
respiratórias e constitucionais sejam sintomas de apresentação 
dominante, a febre foi surpreendentemente incomum. O líquido 
pleural é descrito como purulento em todos os pacientes. 
Outra complicação rara são as infecções intra-abdominais por 
Pasteurella, que incluem peritonite bacteriana espontânea em 
pacientes com cirrose, peritonites em pacientes em diálise 
peritoneal e apendicites; quase todos os casos descritos são 
associados a mordeduras de gatos. O diagnóstico é normalmente 
realizado pelo isolamento da Pastereulla em culturas. 
Tratamento, Prevenção e Prognóstico 
As bactérias do gênero Pastereulla podem ser tratadas por um 
grande número de antibióticos que incluem as penicilinas como 
penicilina cristalina, ampicilina, amoxicilina e amoxicilina/ácido 
clavulânico; já as penicilinas antiestafilocócicas como a oxacilina e 
nafcilina não apresentam grande atividade e não são 
recomendadas para o tratamento de infecções por Pasteurella. 
Muitas cefalosporinas demonstram atividade in vitro contra 
Pasteurella multocida. 
Em geral, a atividade é maior com cefalosporinas de última geração. 
As cefalosporinas por via oral, cefuroxima e cefotaxime, 
juntamente com agentes parenterais como ceftriaxona, 
cefoperazona e cefazolina, apresentam uma excelente atividade 
in vitro e, provavelmente, são bons substitutos da penicilina. As 
quinolonas, doxiciclina ou trimetoprim-sulfametoxazol, devem ser 
consideradas como uma alternativa para pacientes com 
intolerância a ß-lactâmicos. 
Como as infecções de feridas com mordida animal são 
frequentemente polimicrobianas e podem incluir espécies de S. 
aureus, estreptococos e anaeróbios, além de Pasteurella, a terapia 
antibiótica empírica deve ser dirigida a esses organismos até que 
os resultados de culturas de feridas realizem o diagnóstico. 
O tratamento ambulatorial da celulite por Pasteurella documentada 
e não complicada é realizado, preferencialmente, com 
amoxacilina/clavulonato. A duração da terapia não está bem 
definida, mas 10 a 14 dias é, provavelmente, um curso de tempo 
razoável. Os pacientes com evidência de envolvimento de 
estruturas mais profundas (por exemplo, tenossinovite, artrite) 
devem ser hospitalizados e tratados com agentes parenterais, 
sendo o uso de piperacilina-tazobactan ou ampicilina/sulbactam 
uma boa opção até o resultado de culturas estar disponível. 
A drenagem e o debridamento podem ser necessários para 
pacientes com infecção progressiva com formação de abscessos. 
O tratamento da artrite séptica deve consistir em terapia 
antimicrobiana juntamente com a drenagem frequente das 
articulações envolvidas. A maioria dos pacientes recupera-se 
completamente. O resultado do tratamento da artrite séptica com 
osteomielite não é muito bom, com a deformidade residual e a 
perda de função da articulação sendo comuns. Para pacientes com 
osteomielite por Pasteurella, a terapia antimicrobiana deve ser 
continuada por 4 a 6 semanas. 
Os pacientes com peritonite bacteriana espontânea têm uma taxa 
de mortalidade extremamente alta, enquanto que aqueles com 
apendicite, com ou sem peritonite, geralmente evoluem bem, e o 
uso de profilaxia antimicrobiana para pacientes que apresentam 
mordidas de animais logo após a lesão que não são obviamente 
infectados é controverso. 
A profilaxia é controversa, mas a amoxicilina/ácido clavulânico é 
um agente comumente utilizado, que tem atividade contra S. 
aureus, estreptococos, anaeróbios e Pasteurella. A combinação de 
cefuroxima, doxiciclina, uoroquinolona ou trimetoprim-
sulfametoxazol, além de metronidazol ou clindamicina, é uma 
alternativa para pacientes com alergias graves à penicilina. 
Normalmente, recomendam-se cursos de 3 a 5 dias.

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