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18 “Não está morto, está descansando.” – Monthy Phyton No Capítulo 17, foram discutidos os primeiros estágios da embriogê-nese que ocorrem nas sementes das angiospermas em desenvol- vimento. Sementes são unidades dispersoras especializadas exclusivas da divisão Spermatophyta, ou plantas com sementes. Tanto nas angiospermas quanto nas gimnospermas, as sementes desenvolvem-se a partir dos rudi- mentos seminais (óvulos), que contêm o gametófito feminino, discutido no Capítulo 21. Após a fecundação, o zigoto resultante desenvolve-se em um embrião. O empacotamento do embrião contido em uma semente foi uma das muitas adaptações que liberaram a reprodução vegetal da dependência da água. Por isso, a evolução das plantas com sementes representa um im- portante acontecimento na adaptação das plantas à terra firme. Neste capítulo, segue a discussão da sequência do desenvolvimento pela descrição dos processos de germinação da semente e estabelecimento da plântula – pela qual passa a geração das primeiras folhas fotossintetizantes e de um sistema de raízes mínimo. Em geral, entre a embriogênese e a germi- nação, há um período de maturação da semente seguido pela quiescência, durante a qual a disseminação da semente ocorre. A germinação é, então, atrasada até que as condições de água, oxigênio e temperatura estejam fa- voráveis para o crescimento da plântula. Algumas sementes necessitam de tratamento adicional, como luz ou abrasão física, antes que possam germi- nar, condição conhecida como dormência. Além de servirem como uma barreira protetora durante a embriogêne- se, as sementes também proporcionam a nutrição durante a embriogênese e o desenvolvimento inicial da plântula. As reservas das sementes são arma- zenadas em diversos tipos de tecidos. Uma vez que o processo de germina- ção está intimamente ligado à mobilização das reservas armazenadas, é feita inicialmente uma descrição da estrutura e da composição da semente. Após, são considerados vários tipos de dormência da semente, os quais, em alguns casos, devem ser superados para a germinação ocorrer. É discutida, então, a mobilização das reservas armazenadas em diferentes tipos de tecidos, sendo também explorado o papel dos hormônios na coordenação dos processos de crescimento da plântula e mobilização de reservas. Dormência e Germinação da Semente e Estabelecimento da Plântula Taiz_18.indd 513Taiz_18.indd 513 27/10/2016 15:57:3727/10/2016 15:57:37 514 Unidade III • Crescimento e Desenvolvimento Durante o estabelecimento da plântula, as respostas da planta à luz, à gravidade e ao toque auxiliam na orien- tação das raízes e da parte aérea da planta em seus res- pectivos ambientes. Além disso, a diferenciação do tecido vascular promove a ligação crucial entre a raiz e a parte aérea para o movimento de água e minerais. Por fim, será descrito o processo de ramificação das raízes, um estágio crucial no estabelecimento da plântula. Estrutura da semente Este capítulo tem como foco as sementes das angiosper- mas por causa de sua extraordinária diversidade e impor- tância para a agricultura, porém é importante reconhecer as diferenças básicas entre angiospermas e gimnosper- mas. Algumas das principais mudanças anatômicas asso- ciadas à evolução das sementes são discutidas no Tópico 18.1 na internet. Todas as sementes estão envoltas por uma camada externa protetora de células mortas denomi- nada testa, ou capa da semente. Entretanto, a testa pode, em algumas situações, estar fusionada com o pericarpo, ou parede do fruto, derivado da parede do ovário. Nesse caso, a “semente” é, de fato, um fruto. A Tabela 18.1 lista alguns exemplos familiares de sementes verdadeiras ver- sus frutos que se assemelham a sementes. A anatomia da semente varia amplamente entre diferentes grupos de plantas O embrião da angiosperma é uma estrutura relativamen- te simples que consiste no eixo embrionário e em um ou dois cotilédones. O eixo é composto da radícula, ou raiz embrionária, do hipocótilo, ao qual os cotilédones estão aderidos, e do eixo caulinar portando a plúmula, ou pri- meiro primórdio foliar. Apesar da simplicidade do embrião e do número limitado de tecidos que o circundam, a anato- mia da semente exibe uma considerável diversidade entre os diferentes grupos de plantas. As sementes aparecem de todas as formas e tamanhos, indo da menor semente de orquídea, que pesa um micrograma (10–6 g), até a enorme semente do coco-do-mar, batendo a marca de 30 kg! Alguns exemplos representativos de sementes de eudi- cotiledôneas e monocotiledôneas são mostrados na Figura 18.1. As sementes podem ser categorizadas amplamente como endospérmicas e não endospérmicas, dependendo da presença ou ausência de um endosperma triploide bem for- mado na maturidade. Por exemplo, sementes de beterraba são não endospérmicas, pois o endosperma triploide é bas- tante utilizado durante o desenvolvimento do embrião. Ao contrário, o perisperma e os cotilédones de reserva servem como fontes principais de nutrientes durante a germinação (ver Figura 18.1). O perisperma é derivado do nucelo, o te- cido materno que origina o rudimento seminal (ver Capítu- lo 21). Em geral, sementes de feijoeiro (Phaseolus vulgaris) e sementes de leguminosas também são não endospérmicas, dependendo da reserva de seus cotilédones, que compõem a maior parte da semente para suas reservas de nutrientes. Ao contrário, as sementes de mamona (Ricinus communis), cebola (Allium cepa), trigo (Triticum spp.) e milho (Zea mays) são todas endospérmicas. Mantendo seu papel como um tecido de reserva de nutrientes, o endosperma em geral é rico em amido, óleos e proteínas. Alguns tecidos do endosperma têm paredes celulares espessas que se rompem durante a germinação, liberando uma diversidade de açúcares. A camada mais externa do endosperma em algumas espécies diferencia- -se em um tecido secretor especializado com paredes pri- márias espessas denominado camada de aleurona, chama- do assim porque é composto de células preenchidas com vacúolos de reserva de proteínas, originalmente deno- minados grãos de aleurona. Como será visto mais adiante, a camada de aleurona tem um papel importante na regula- ção da dormência em certas sementes de eudicotiledône- as. Em sementes de trigo e nas de outros membros da fa- mília Poaceae (família das gramíneas), camadas secretoras de aleurona são também responsáveis pela mobilização de reservas de nutrientes durante a germinação. TABELA 18.1 Sementes ou frutos? Semente Fruto (e tipo) Espécies de Brassica (p. ex., canola, mostarda, repolho) Freixo, ácer, olmo (sâmara) Castanha-do-pará Trigo-mourisco, anêmona, avens (aquênio) Mamona Cereais (cariopse) Feijão-café Avelã e nogueira (noz), carvalho (bolota) Algodoeiro Alface, girassol e outras Compositae (cípsela) Leguminosas (p. ex., ervilhas, feijão) Abóboras (p. ex., pepino, abóbora) Tomateiro Fonte: Bewley et al., 2013, p. 3. Taiz_18.indd 514Taiz_18.indd 514 27/10/2016 15:57:3727/10/2016 15:57:37 Capítulo 18 • Dormência e Germinação da Semente e Estabelecimento da Plântula 515 Os embriões dos grãos dos cereais são altamente espe- cializados e merecem um exame mais cuidadoso por causa de sua importância agrícola e porque têm sido utilizados como sistemas-modelo para estudar a regulação hormonal da mobilização de reservas durante a germinação. Estrutu- ras embrionárias especializadas peculiares da família das gramíneas incluem o que segue (ver Figura 18.1): • O cotilédone foi modificado pela evolução para for- mar um órgão de absorção, o escutelo, o qual forma a interface entre o embrião e o tecido amiláceo do en- dosperma. • A bainha do escutelo alongou-se para formar o cole- óptilo que cobre e protege as primeiras folhas durante sua permanência no solo. Testa e pericarpo Camada de aleurona Camada de aleurona Testa Testa Testa Testa Cotilédones Cotilédones Cotilédones Cotilédone Cotilédones (reserva de nutrientes) Plúmula Meristema apicaldo caule Meristema apical do caule Hipocótilo Radícula Radícula Radícula Radícula Carúncula Endosperma Endosperma Endosperma Endosperma (principal reserva de nutrientes) Perisperma Endosperma Beterraba Trigo CebolaFeijão-trepadorFeno-grego Mamona Meristema apical do caule Meristema apical do caule Eixo hipocótilo-raiz Radícula Escutelo Radícula Primeiras folhas (na plúmula) Coleorriza Coleóptilo e folhas Testa Figura 18.1 Estrutura da semente de eudicotiledôneas e monocotiledôneas selecionadas. • A base do hipocótilo alongou-se para formar uma bainha protetora em volta da radícula denominada coleorriza. • Em algumas espécies, como o milho, o hipocótilo su- perior foi modificado para formar o mesocótilo. Du- rante o desenvolvimento da plântula, o crescimento do mesocótilo auxilia o aparecimento das folhas na superfície do solo, em especial no caso de sementes localizadas mais profundamente (ver Tópico 18.2 na internet). Dormência da semente Durante a germinação da semente, o embrião desidrata e entra em uma fase quiescente. A germinação da semente requer a reidratação e pode ser definida como a retomada do crescimento do embrião na semente madura. Entretan- to, a germinação compõe todos os eventos que acontecem entre o início da embebição da semente seca e a emergên- cia do embrião, em geral a radícula, a partir das estruturas que o circundam. O término bem-sucedido da germina- ção depende das mesmas condições ambientais para o crescimento vegetativo (ver Capítulo 19): água e oxigênio devem estar disponíveis, e a temperatura deve ser adequa- da. Contudo, uma semente viável (viva) pode não germi- nar mesmo se as condições ambientais forem satisfeitas, um fenômeno denominado dormência da semente. Esse fenômeno consiste em um bloqueio temporal intrínseco ao término da germinação que fornece um período adicio- nal para a dispersão da semente a distâncias geográficas Taiz_18.indd 515Taiz_18.indd 515 27/10/2016 15:57:3727/10/2016 15:57:37 516 Unidade III • Crescimento e Desenvolvimento maiores, ou para o ciclo de dormência sazonal no banco de sementes no solo (descrito adiante neste capítulo). Ele também maximiza a sobrevivência da plântula pela inibi- ção da germinação sob condições não favoráveis. Sementes maduras em geral têm menos de 0,1 g de água g–1 massa seca no momento da queda. Como uma conse- quência da desidratação, o metabolismo cessa e a semente entra em um estado de quiescência (“descanso”). Em alguns casos, a semente torna-se dormente também. Ao contrário de sementes quiescentes, que germinam sob reidratação, se- mentes dormentes necessitam de tratamentos adicionais ou sinais para a germinação ocorrer. Depois que a dormência foi quebrada, a semente é capaz de germinar sob uma gama de condições permissíveis para um genótipo em particular. Diferentes tipos de dormência da semente podem ser distinguidos com base na época do desenvolvimento em que a dormência inicia. Sementes maduras, recém-dispersas, que não conseguem germinar sob condições normais, exi- bem dormência primária, em geral induzida pelo ácido abs- císico (ABA) durante a maturação da semente. (A regulação da dormência da semente via ABA é discutida mais adiante neste capítulo.) Assim que a dormência primária foi perdi- da, sementes não dormentes podem adquirir dormência se- cundária se expostas a condições não favoráveis que inibem a germinação por um período de tempo. Para exemplos de dormência secundária, ver Tópico 18.3 na internet. A dormência pode ser imposta ao embrião pelos tecidos circundantes A dormência da semente pode resultar da dormência do embrião, dos efeitos inibitórios dos tecidos circundantes ao embrião ou de ambos. A dormência fisiológica imposta ao embrião pela casca da semente e por outros tecidos en- volventes, como endosperma, pericarpo ou órgãos extra- florais, é conhecida como dormência imposta pela casca. Os embriões de tais sementes germinam prontamente na presença de água e oxigênio assim que a casca da semente e outros tecidos circundantes tenham sido removidos ou danificados. Existem diversos mecanismos pelos quais as cascas das sementes podem impor dormência ao embrião: • Impermeabilidade à água. Esse tipo de dormência im- posta pela casca é comum em plantas encontradas em regiões áridas e semiáridas, em especial entre as legu- minosas, como trevo (Trifolium spp.) e alfafa (Medicago spp.). O exemplo clássico é a semente da flor-de-lótus (Nelumbo nucifera), que sobreviveu até 1.200 anos por causa da impermeabilidade de sua casca. Cutículas ce- rosas, camadas suberizadas e camadas em paliçada de esclereídes lignificadas combinam-se para restringir a penetração da água na semente. Esse tipo de dormência pode ser quebrado por escarificação mecânica ou quí- mica. No ambiente selvagem, a passagem pelo trato di- gestório dos animais pode causar escarificação química. • Limitação mecânica. O primeiro sinal visível da germina- ção em geral é a radícula (raiz embrionária) transpondo suas estruturas circundantes, como o endosperma, se presente, e a casca da semente. Em alguns casos, en- tretanto, o endosperma com parede espessa pode ser demasiadamente rígido para a raiz penetrar, como em Arabidopsis, tomateiro, cafeeiro e tabaco. Para tais se- mentes completarem a germinação, as paredes celulares do endosperma devem ser enfraquecidas pela produção de enzimas que as degradam, em especial onde a radí- cula emerge. • Interferência na troca de gás. A dormência em algumas sementes pode ser superada por atmosferas ricas em oxigênio, sugerindo que a casca da semente e outros tecidos circundantes limitam o suprimento de oxigê- nio ao embrião. Na mostarda selvagem (Sinapis arven- sis), a permeabilidade da casca da semente ao oxigê- nio é menor do que a permeabilidade à água em um fator de 104. Em outras sementes, reações oxidativas envolvendo compostos fenólicos na casca da semente podem consumir grandes quantidades de oxigênio, re- duzindo a disponibilidade desse gás ao embrião. • Retenção de inibidores. Sementes dormentes com fre- quência contêm metabólitos secundários, incluindo ácidos fenólicos, taninos e cumarinas, e enxágues repe- tidos com água em tais sementes com frequência pro- movem a germinação. A casca pode impor a dormência impedindo a saída de inibidores a partir da semente, ou eles podem se difundir pelo embrião a partir da casca da semente e impedir que ela germine. Os mutantes transparent testa (tt) de Arabidopsis, que contêm quan- tidades reduzidas de pró-antocianidinas (taninos con- densados) na casca da semente, possuem dormência reduzida, mas longevidade reduzida também. A dormência do embrião pode ser causada por fatores fisiológicos ou morfológicos A dormência da semente que é intrínseca ao embrião e não é devida a qualquer influência da casca da semente ou de outros tecidos circundantes é denominada dormência do embrião. Em alguns casos, essa dormência pode ser que- brada pela remoção dos cotilédones. Espécies em que os co- tilédones têm um efeito inibitório incluem a avelã europeia (Corylus avellana) e o freixo europeu (Fraxinus excelsior). As sementes podem não conseguir germinar porque os embriões não atingiram sua maturidade completa. Esses embriões requerem apenas um período adicional para crescer sob condições apropriadas antes que possam emergir da semente. Exemplos familiares de dormência causada por embriões pequenos são a do aipo (Apium graveolens) e da cenoura (Daucus carota) (Figura 18.2). As sementes com embriões não diferenciados em geral são pequenas e incluem as plantas parasíticas orobanques (Orobanche e Phelipanche spp.) e as orquídeas. Sementes não dormentes podem exibir viviparidade e germinação precoce Em algumas espécies estuarinas, a semente madura, além de não possuir dormência, também germina ainda en- Taiz_18.indd 516Taiz_18.indd 516 27/10/2016 15:57:3727/10/2016 15:57:37 Capítulo 18 • Dormência e Germinação da Sementee Estabelecimento da Plântula 517 quanto na planta-mãe, um fenômeno conhecido como vi- viparidade. A viviparidade verdadeira, germinação de se- mentes imaturas na planta-mãe, é extremamente rara em angiospermas e é bastante restrita aos mangues e a outras plantas vivendo em ambientes estuarinos ou ripários nos trópicos e subtrópicos. Um exemplo bem conhecido de uma espécie vivípara é o mangue-vermelho ou sapatei- ro (Rhizophora mangle) (Figura 18.3). As sementes dessas espécies germinam enquanto dentro do fruto e produzem um propágulo semelhante a um dardo que pode cair da árvore e se enraizar na lama circundante. A germinação das sementes maduras fisiologicamente na planta-mãe é conhecida como germinação pré-colhei- ta e é característica de algumas culturas de grãos quando amadurecem sob clima úmido (Figura 18.4A). A brotação na espiga dos cereais (p. ex., trigo, cevada, arroz e sorgo) reduz a qualidade do grão e causa sérias perdas econômi- cas. No milho, mutantes vivíparos (vp) têm sido seleciona- dos para a germinação dos embriões na espiga enquanto aderidos à planta-mãe, referido como germinação preco- ce (Figura 18.4B). Muitos desses mutantes são deficientes em ABA (vp2, vp5, vp7, vp9 e vp14); um é insensível ao ABA (vp1). A viviparidade nos mutantes deficientes em ABA pode ser parcialmente inibida pelo tratamento exógeno com ABA. A viviparidade no milho também requer a sín- tese precoce de giberelina (GA) na embriogênese como um sinal positivo; mutantes duplos deficientes em GA não exi- bem esse fenômeno. Isso demonstra que a razão ABA:GA é o que regula a germinação, e não a quantidade de ABA. A razão ABA:GA é o primeiro determinante da dormência da semente Há muito tempo se sabe que o ABA exerce um efeito inibi- tório sobre a germinação da semente, enquanto a gibereli- na exerce uma influência positiva. De acordo com a teoria do balanço dos hormônios, a razão desses dois hormô- nios serve como um determinante primário da dormência e da germinação da semente. As atividades hormonais re- lativas de ABA e GA na semente dependem de dois fatores principais: das quantidades de cada hormônio presente (A) 12 h (B) 18 h (C) 30 h (D) 40 h Figura 18.2 Crescimento do embrião menor que o normal de cenoura durante a embebição das sementes por 12 (A), 18 (B), 30 (C) e 40 horas (D). O pequeno embrião à esquerda, removido da semente para melhor visualização, está embebido em uma cavidade no endosperma formada pela liberação das enzimas de degradação da parede celular. A germinação inicia com a emergência da radí- cula da semente 2 a 4 dias após a embebição. (De Homrichhausen et al., 2003.) Figura 18.3 Sementes vivíparas do mangue-vermelho (Rhizo- phora mangle). Taiz_18.indd 517Taiz_18.indd 517 27/10/2016 15:57:3727/10/2016 15:57:37 518 Unidade III • Crescimento e Desenvolvimento nos tecidos-alvo e da capacidade dos tecidos-alvo para de- tectar e responder a cada hormônio. A sensibilidade hor- monal, por sua vez, é uma função das rotas de sinalização nos tecidos-alvo. As quantidades dos dois hormônios são reguladas por suas taxas de síntese versus sua desativação (ver Capítu- lo 15). Para o ABA, a reação envolvendo NCED, a enzima que cliva 9-cis xantofila em xantoxina, parece ser a eta- pa limitante em sua rota de biossíntese. A desativação do ABA é conduzida principalmente pela ABA-8’-hidroxilase, CYP707A2. A etapa limitante na rota de biossíntese da GA é a reação final que dá origem à forma ativa do hormônio (GA9 em GA4 em Arabidopsis; GA20 em GA1 na alface), catalisado pela enzima GA 3-oxidase (GA3ox). A princi- pal enzima que desativa a GA é a GA 2-oxidase (GA2ox), que regula negativamente a germinação pela redução do conteúdo de GA da semente. O equilíbrio entre as duas rotas de biossíntese e desa- tivação é regulado ao nível genético pela ação de fatores de transcrição. A promoção da germinação pela GA requer a destruição da família de proteínas DELLA que reprimem a germinação, em parte pelo aumento da expressão de pro- teínas que promovem a biossíntese de ABA. O aumento de ABA, então, promove a expressão dos fatores de trans- crição regulados por fosfatases da classe de proteínas ABI (ver Capítulo 15) e a inibição das proteínas DELLA (dis- cutido mais adiante neste capítulo), criando um feedback positivo. De acordo com um modelo recente, o equilíbrio das atividades de ABA e GA nas sementes está sob controle ambiental e do desenvolvimento (Figura 18.5). Durante os primeiros estágios do desenvolvimento da semente, a sensibilidade ao ABA é alta e a sensibilidade à GA é bai- xa, o que favorece a dormência sobre a germinação. Mais tarde no desenvolvimento da semente, a sensibilidade ao ABA declina e a sensibilidade à GA aumenta, favorecen- do a germinação. Ao mesmo tempo, a semente torna-se progressivamente mais sensível aos estímulos ambientais, como temperatura e luz, que podem tanto estimular quan- to inibir a germinação. (A) (B) Condição ambiental (p. ex., temperatura ou luz) Síntese de ABA (NCED) Sinalização por ABA (ABREs) Sinalização por GA Sensibilidade ao ABA Degradação de GA (GA2ox) Sensibilidade à GA Degradação de ABA (CYP707A2) Síntese de GA (GA3ox) ABA GA Indução da dormência Dormente Sensibilidade da semente à germinação no ambiente Ciclando Não dormente Germinação Quebra da dormência Condição ambiental Percepção Resposta Integração Sobreposição: início da germinação Figura 18.4 (A) Germinação pré-colheita na espiga de trigo (Triticum aestivum). (B) Germinação precoce no mutante vivipa- ry14 (vp14) deficiente em ABA no milho. A proteína VP14 catalisa a clivagem dos 9-cis-epoxicarotenoides para formar xantoxina, um precursor do ABA. (A de Li et al., 2009; B cortesia de Bao Cai Tan e Don McCarty.) Figura 18.5 Modelo para regulação por ABA e giberelina (GA) da dormência e da germinação em resposta aos fatores ambientais. Fatores ambien- tais como a temperatura afetam as razões ABA:GA e a resposta do embrião a ABA e GA. Na dormên- cia, a GA é catabolizada, e a síntese e a sinalização por ABA predominam. Na transição para germina- ção, ABA é catabolizado, e a síntese e a sinalização por GA predominam. A interação complexa entre a síntese, a degradação e a sensibilidade ao ABA e à GA em resposta às condições ambientais pode resultar na ciclização entre estados dormentes e não dormentes (ciclização da dormência). A ger- minação pode continuar para a conclusão quando há uma sobreposição entre condições ambientais favoráveis e não dormentes. Genes-alvo essenciais para ABA e GA estão entre parênteses. (De Finch- -Savage e Leubner-Metzger, 2006.) Taiz_18.indd 518Taiz_18.indd 518 27/10/2016 15:57:3827/10/2016 15:57:38 Capítulo 18 • Dormência e Germinação da Semente e Estabelecimento da Plântula 519 Entretanto, ABA e giberelina são, sem dúvida, os úni- cos hormônios que regulam a dormência da semente. Eti- leno e brassinosteroides reduzem a capacidade do ABA de inibir a germinação, aparentemente pela rota de sinalização de transdução de ABA. O ABA também inibe a biossíntese de etileno, enquanto os brassinosteroides a aumentam. Por isso, as redes hormonais provavelmente estão envolvidas na regulação da dormência da semente, assim como na re- gulação de muitos fenômenos do desenvolvimento. Liberação da dormência A quebra da dormência envolve uma mudança de estado metabólico na semente que permite ao embrião reiniciar o crescimento. Como a germinação é um processo irrever- sível que ocasiona que a semente cresça em uma plântula, muitas espécies desenvolveram mecanismos sofisticados para perceber as melhores condições para que isso ocor- ra. Em geral, há componentes sazonais para a “decisão” final de uma semente de germinar, como nos exemplos de dormência secundária observados anteriormente neste capítulo. Nesta seção, são discutidos alguns dos estímulos ambientais que efetuam a liberação da dormência. Embora cada sinal externo seja discutido em separado, assementes na natureza necessitam integrar suas respostas com múlti- plos fatores ambientais percebidos simultaneamente ou em sucessão. Como a razão ABA:GA exerce um papel decisivo na manutenção da dormência da semente, acredita-se que as condições ambientais que quebram a dormência fun- damentalmente operam no nível das redes genéticas que afetam o equilíbrio entre as respostas ao ABA e à GA. Essa hipótese é coerente com o fato de que o tratamento de se- mentes com GA em geral pode substituir um sinal positi- vo na quebra da dormência. A luz é um sinal importante que quebra a dormência nas sementes pequenas Muitas sementes têm uma necessidade de luz para a ger- minação (denominada fotoblastia) que pode envolver uma exposição breve, como no caso do cultivar de alface (Lac- tuca sativa) “Grand Rapids”, um tratamento intermitente (p. ex., suculentas do gênero Kalanchoë), ou mesmo foto- períodos específicos envolvendo dias longos e curtos. Por exemplo, sementes de bétula (Betula spp.) necessitam de dias longos para germinar, enquanto sementes da coní- fera cicuta oriental (Tsuga canadensis) requerem dias cur- tos. O fitocromo, que percebe comprimentos de onda do vermelho (R) e vermelho-distante (FR) (ver Capítulo 16), é o sensor primário para a germinação regulada por luz. Todas as sementes que necessitam de luz exibem dormên- cia imposta pela casca, e a remoção dos tecidos mais exter- nos – especificamente o endosperma – permite ao embrião germinar na ausência de luz. O efeito que a luz tem no embrião permite à radícula (raiz embrionária) penetrar o endosperma, um processo facilitado em algumas espécies pelo enfraquecimento enzimático das paredes celulares na região micropilar, próxima à radícula. A luz é requerida pelas sementes pequenas de várias espécies herbáceas e campestres, muitas das quais per- manecem dormentes se estão enterradas abaixo de uma profundidade na qual a luz penetra. Mesmo quando tais sementes estão na superfície do solo ou próximas a ela, a quantidade de sombra do dossel da vegetação (i.e., a razão R:FR que a semente recebe) provavelmente afeta a germina- ção. Mais adiante no capítulo, são vistos os efeitos da razão R:FR em relação ao fenômeno de evitamento da sombra. Algumas sementes requerem ou resfriamento ou pós-maturação para quebrar a dormência Muitas sementes necessitam de um período de temperatu- ras baixas (0-10°C) para germinar. Em espécies de zonas temperadas, essa demanda tem um valor óbvio para sua sobrevivência, pois tais sementes não germinarão no ou- tono, mas na primavera subsequente. Resfriar as sementes para quebrar sua dormência é referido como estratifica- ção, nome dado à prática agrícola de hibernar sementes dormentes em montes estratificados de solo ou areia úmi- da. Hoje, as sementes são simplesmente estocadas úmidas em um refrigerador. A estratificação adicionou o benefício de sincronizar a germinação, assegurando que as plantas amadurecerão ao mesmo tempo. A Figura 18.6A demons- tra o efeito do resfriamento sobre a germinação da semen- te. Sementes intactas necessitam de 80 dias de resfriamen- to para um máximo de germinação; ao contrário, embriões isolados atingem isso em cerca de 50 dias. Por isso, a pre- sença da casca da semente e do endosperma aumenta a ne- cessidade de resfriamento do embrião em cerca de 30 dias. Algumas sementes necessitam de um período pós- -maturação, ou seja, uma estocagem seca à temperatura ambiente, antes que possam germinar. A duração da ne- cessidade da pós-maturação deve ser curta como algumas semanas (p. ex., cevada, Hordeum vulgare) ou longa como cinco anos (p. ex., labaça-crespa, Rumex crispus). No cam- po, a pós-maturação deve ocorrer nas plantas de inverno em que a dormência é quebrada pelas altas temperaturas de verão, permitindo às sementes germinarem no outono. Ao contrário, o resfriamento úmido durante os meses frios do inverno é eficaz em muitas plantas de verão. A pós- -maturação em culturas hortícolas e agrícolas em geral é realizada em fornos especiais para secagem que mantêm a temperatura e a aeração apropriadas e fornecem condições de baixa umidade. O efeito da duração da pós-maturação sobre a germi- nação das sementes de Nicotiana plumbaginifolia é mostra- do na Figura 18.6B. Sementes pós-maturadas por somente 14 dias iniciaram a germinação depois de cerca de 10 dias de umedecimento, enquanto a pós-maturação de semen- tes por 10 meses iniciou a germinação depois de 3 dias apenas. O mecanismo pelo qual a pós-maturação efetua a liberação da dormência é pouco compreendido. As semen- tes são consideradas “secas” quando seu conteúdo de água Taiz_18.indd 519Taiz_18.indd 519 27/10/2016 15:57:3827/10/2016 15:57:38 520 Unidade III • Crescimento e Desenvolvimento cai para menos de 20%. Em muitas espécies, o ABA dimi- nui durante a pós-maturação, e mesmo um pequeno de- clínio deve ser o suficiente para quebrar a dormência. Por exemplo, em sementes de N. plumbaginifolia, o conteúdo de ABA decresce em cerca de 40% durante a pós-maturação. Entretanto, se as sementes tornam-se muito secas (5% de água ou menos), o efeito da pós-maturação é diminuído. A dormência da semente pode ser quebrada por vários compostos químicos Numerosas moléculas, como inibidores respiratórios, com- postos sulfídricos, oxidantes e compostos nitrogenados, têm sido relatadas por quebrar a dormência em determinadas espécies. Entretanto, somente algumas delas ocorrem na- turalmente no ambiente. Dessas moléculas, o nitrato, com frequência em combinação com a luz, provavelmente é a mais importante. Algumas plantas, como a erva-rinchão (Sysymbrium officinale), têm uma necessidade absoluta de ni- trato e luz para a germinação da semente. Outro agente quí- mico que pode quebrar a dormência é o óxido nítrico (NO), uma molécula sinalizadora encontrada em animais e plantas (ver Capítulos 23 e 24). Mutantes de Arabidopsis incapazes de sintetizar NO exibem germinação reduzida, e o efeito pode ser revertido pelo tratamento das sementes com NO exógeno. Outro forte estimulante químico da germinação da semente em muitas espécies sob condições naturais é a fu- maça, que é produzida durante as queimadas das florestas. Provavelmente, a fumaça contém múltiplos estimulantes da germinação, porém um dos mais ativos é a carriquinolida, um membro da classe das carriquinas, que se assemelha es- truturalmente à estrigolactona (ver Capítulos 15 e 17). Nos três exemplos, os estimulantes químicos parecem quebrar a dormência pelo mesmo mecanismo básico: re- gulando para baixo a síntese ou a sinalização por ABA, e regulando para cima a síntese ou a sinalização por GA, alterando, portanto, a razão ABA:GA. Germinação da semente Germinação é o processo que inicia com a absorção de água pela semente seca e termina com a emergência do eixo embrionário, em geral a radícula, transpondo seus tecidos circundantes. Estritamente falando, a germina- ção não inclui o crescimento da plântula depois da emer- gência da radícula, que é referido como estabelecimento da plântula. De modo similar, a rápida mobilização das reservas que estimula o crescimento inicial da plântula é considerada um processo pós-germinação. A germinação requer quantidades adequadas de água, temperatura, oxigênio e com frequência luz e nitrato. Des- ses, a água é o fator mais essencial. O conteúdo de água de sementes secas e maduras está entre 5 e 15%, bem abaixo do limiar necessário para o metabolismo completamente ativo. Além disso, a absorção de água é necessária para gerar a pressão de turgor que potencializa a expansão ce- lular, a base do crescimento e do desenvolvimento vegeta- tivo. Como foi discutido no Capítulo 3, a absorção de água é direcionada pelo gradiente de potencial hídrico (Ψ) do solo para a semente. Por exemplo, a incubação de semen- tes de tomate em um potencial hídrico ambiental alto (Ψ = 0 MPa) permite 100% de germinação, ao passo que a incu- bação em um potencial hídrico ambiental baixo(Ψ = –1,0 MPa), que anula o gradiente de potencial hídrico, suprime completamente a germinação (Figura 18.7). A germinação pode ser dividida em três fases correspondentes às fases de absorção da água Sob condições normais, a absorção de água pela semente é trifásica (Figura 18.8): • Fase I. As sementes secas absorvem água rapidamente pelo processo de embebição. • Fase II. A absorção de água pela embebição declina e os processos metabólicos, incluindo a transcrição e a tradução, são reiniciados. O embrião expande, e a ra- dícula emerge da casca da semente. • Fase III. A absorção de água reinicia devido a um de- créscimo no Ψ à medida que a plântula cresce, e as re- servas de nutrientes das sementes são completamente mobilizadas. 0 20 40 60 80 100(A) Embrião isolado Semente intacta G er m in aç ão ( % ) 10 20 30 40 50 60 70 80 Dias a 5°C 0 20 40 60 80 100(B) 10 meses 14 dias G er m in aç ão ( % ) 0 3 6 9 12 15 18 21 Dias após a semeadura Estratificação Pós-maturação Figura 18.6 A dormência da semente pode ser superada pela estratificação ou pós-maturação. (A) Liberação de sementes de maçã pela estratificação ou pelo resfriamento úmido. Sementes embebidas foram estocadas a 5°C e removidas periodicamente para testar as sementes ou os embriões isolados para germinação. A germinação de sementes intactas atrasou significativamente em comparação com aquela dos embriões isolados. (B) Efeito da pós-maturação (estocagem seca à temperatura ambiente) sobre a germinação das sementes de Nicotiana plumbaginifolia. A pós- -maturação por 10 meses ou mais acelerou bastante a germinação, comparada com a pós-maturação por somente 14 dias. (A de Visser, 1956; B de Grappin et al., 2000.) Taiz_18.indd 520Taiz_18.indd 520 27/10/2016 15:57:3827/10/2016 15:57:38 Capítulo 18 • Dormência e Germinação da Semente e Estabelecimento da Plântula 521 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 G er m in aç ão ( % ) 0 12 24 36 48 60 72 84 96 108 Tempo (h) 0 MPa –0,1 MPa –0,2 MPa –0,3 MPa –0,4 MPa –0,5 MPa –0,6 MPa –0,7 MPa –0,8 MPa –1,0 MPa Potencial hídrico ambiente, Ψ C o n te ú d o d e ág u a d a se m en te e d a p lâ n tu la ( ) Germinação Fase I Fase II Crescimento da plântula Síntese de DNA Reparo de DNA Embebição Respiração, reparo mitocondrial e multiplicação Mobilização de reservas nos tecidos-estoque Emergência da radícula devido à expansão celular Tempo Mobilização de reservas (oligossacarídeos, quebra muito limitada de polímeros no embrião) Principal mobilização de reservas Tradução ou degradação do mRNA estocado Divisão celular Transcrição e tradução de novos mRNAs Fase III Pós-germinação Figura 18.7 Curso do proces- so da germinação de sementes do tomate em diferentes potenciais hí- dricos ambientais. (De G. Leubner [http://www.seedbiology.de], utili- zando dados de Liptay e Schopfer, 1983.) Figura 18.8 Fases da embebição das sementes. Na fase I, as sementes secas embebem ou absorvem água rapida- mente. Já que a água flui do potencial hídrico mais alto para o mais baixo, a ab- sorção de água cessa quando a diferen- ça no potencial hídrico entre a semente e o ambiente se torna zero. Durante a fase II, as células expandem-se e a ra- dícula emerge da semente. A atividade metabólica aumenta e ocorre o afrou- xamento da parede celular. Na fase III, a absorção de água reinicia à medida que a plântula se estabelece. (De Nonogaki et al., 2010.) Taiz_18.indd 521Taiz_18.indd 521 27/10/2016 15:57:3827/10/2016 15:57:38 522 Unidade III • Crescimento e Desenvolvimento A absorção inicial rápida de água pela semente seca durante a fase I é referida como embebição, para distin- guir da absorção de água durante a fase III. Embora o gra- diente de potencial hídrico impulsione a absorção de água em ambos os casos, as causas dos gradientes são diferen- tes. Na semente seca, o potencial matricial (Ψm) compo- nente da equação do potencial hídrico baixa o Ψ e cria o gradiente. O potencial matricial surge da ligação da água a superfícies sólidas, como os microcapilares das paredes celulares e superfícies de proteínas e outras macromolé- culas (ver Capítulo 3). A reidratação das macromoléculas celulares ativa os processos metabólicos basais, incluindo a respiração, a transcrição e a tradução. A embebição cessa quando todos os sítios de liga- ção potenciais da água se tornarem saturado, e o Ψm torna-se menos negativo. Durante a fase II, a taxa de absorção de água diminui até que o gradiente de poten- cial hídrico seja restabelecido. A fase II pode, assim, ser imaginada como uma fase preparatória que precede o crescimento, durante a qual o potencial do soluto (Ψs) do embrião torna-se gradualmente mais negativo devido à queda das reservas estocadas e à liberação de solutos ativos osmoticamente. O volume da semente pode au- mentar, rompendo sua casca. Ao mesmo tempo, funções metabólicas adicionais iniciam, como a reestruturação do citoesqueleto e a ativação de mecanismos de reparo do DNA. A emergência da radícula através da casca da semente na fase II marca o final do processo de germinação. Essa emergência pode ser um processo de etapa única em que a radícula emerge imediatamente depois que a casca da semente (testa) é rompida, ou pode envolver duas etapas, em que o endosperma deve primeiro sofrer um amoleci- mento antes que a radícula possa emergir (ver Tópico 18.4 na internet). Durante da fase III, a taxa de absorção de água au- menta rapidamente devido ao início do afrouxamento da parede celular e à expansão celular. Portanto, o gradiente de potencial hídrico nos embriões da fase III é mantido pelo relaxamento da parede celular e pelo acúmulo de so- lutos (ver Capítulo 14). Mobilização das reservas armazenadas As principais reservas de nutrientes das sementes das an- giospermas em geral são armazenadas nos cotilédones e no endosperma. A mobilização massiva de reservas que ocorre após a germinação fornece nutrientes para a plân- tula em crescimento até que ela se torne autotrófica. Car- boidratos (amido), proteínas e lipídeos são armazenados em organelas especializadas dentro desses tecidos. Em ní- vel subcelular, o amido é armazenado em amiloplastos no endoesperma de cereais. As duas enzimas responsáveis pela degradação inicial do amido são a α e a β-amilase. A α-amilase (da qual há diversas isoformas) hidrolisa cadeias de amido internamente para produzir oligossa- carídeos consistindo em resíduos de glicose com ligações α-(1 → 4). A β-amilase degrada esses oligossacarídeos a partir de suas regiões terminais para produzir maltose, um dissacarídeo. A maltase, então, converte a maltose em glicose. A regulação hormonal dessas enzimas é descrita em mais detalhe na seção seguinte. As paredes celulares espessas do tecido endospérmico em algumas sementes fornecem outra fonte de carboidratos para a plântula em crescimento durante a mobilização. Os vacúolos de reserva de proteínas são as fontes pri- márias de aminoácidos para uma nova síntese de proteí- nas na plântula. Além disso, eles contêm fitina, sais de K+, Mg2+ e Ca2+ do ácido fítico (mio-inositol-hexafosfato), uma forma principal de estoque de fosfato em sementes. Du- rante a mobilização de reservas nas sementes, a enzima fi- tase hidrolisa a fitina, liberando fosfato e outros íons para utilização pela plântula em crescimento. Os lipídeos são uma fonte de carbono de alta energia que é estocada em óleos ou em corpos lipídicos. Corpos lipídicos de sementes de canola, mostarda, algodão, linho, milho, amendoim e sésamo contêm lipídeos, como triacil- gliceróis e fosfolipídeos, e proteínas, como oleosinas (ver Capítulo 1). O catabolismo de lipídeos durante a germina- ção da semente foi discutido no Capítulo 12. A camada de aleurona dos cereais é um tecido digestivo especializado circundando o endosperma amiláceo Os grãos dos cereais contêm três partes: o embrião, o en- dosperma e a fusãotesta-pericarpo (Figura 18.9). O em- brião, que crescerá em uma nova plântula, tem um órgão de absorção especializado, o escutelo. O endosperma triploide é composto de dois tecidos: o endosperma amiláceo cen- tralmente localizado e a camada de aleurona. O endosper- ma não vivo consiste em células com paredes celulares finas preenchidas com grão de amido. Células vivas da camada de aleurona, que circundam o endosperma, sintetizam e liberam enzimas hidrolíticas no endosperma durante a ger- minação. Como consequência, as reservas de nutrientes do endosperma são decompostas, e os açúcares solubilizados, aminoácidos e outros produtos são transportados para o embrião em crescimento via escutelo. A camada isolada de aleurona, consistindo em uma população homogênea de células responsivas à GA, tem sido amplamente utilizada para estudar a rota de transdução de sinal por GA na au- sência de tipos celulares não responsivos. Experimentos realizados na década de 1960 confirma- ram observações anteriores de que a secreção de enzimas que degradam amido pelas camadas de aleurona de ceva- da depende da presença do embrião. Assim, rapidamente foi descoberto que GA3 poderia substituir o embrião no estímulo da degradação do amido. O significado do efei- to da GA tornou-se claro quando se demonstrou que o embrião sintetiza e libera GAs no endosperma durante a germinação. Embora as camadas de aleurona respondam à GA3, estudos genéticos demonstram que GA1 é a única GA bioativa produzida pelos cereais. Taiz_18.indd 522Taiz_18.indd 522 27/10/2016 15:57:3927/10/2016 15:57:39 Capítulo 18 • Dormência e Germinação da Semente e Estabelecimento da Plântula 523 A GA aumenta a transcrição do mRNA da α-amilase Mesmo antes que as abordagens de biologia molecular fossem desenvolvidas, já havia evidências fisiológicas e bioquímicas de que a GA aumentava a produção da α-amilase ao nível da transcrição gênica. As duas linhas principais de evidência eram: • A produção de α-amilase estimulada por GA3 foi blo- queada por inibidores da transcrição e da tradução. • Os estudos com isótopos marcados demonstraram que o estímulo da atividade da α-amilase por GAs bioativas envolveu a síntese de novo da enzima a par- tir dos aminoácidos, em vez da ativação de enzimas preexistentes. Os grãos dos cereais podem ser cortados em dois, e “metade da semente” que não contém o embrião (a fonte de GA bioativa no grão intacto) representa um sistema ex- perimental conveniente para o estudo da ação da GA. Es- tudos de microarranjos confirmaram a regulação para cima (up-regulation) de genes codificando muitas isoformas de α-amilase nas metades de sementes de arroz que foram tra- tadas por 8 horas com GAs. Nessas metades de sementes, as únicas células vivas – e as únicas células em que a sina- lização por GA ocorre – estão na camada de aleurona. De todos os genes da análise por microarranjo, aqueles codifi- cando isoformas de α-amilase mostram o nível mais alto de aumento de expressão após o tratamento com GA, seguido de perto por proteases e hidrolases. O receptor de GA, GID1, promove a degradação de reguladores negativos da resposta à giberelina Como discutido no Capítulo 15, o receptor de giberelina GIBBERELLIN INSENSITIVE DWARF 1 (GID1) passa por uma mudança conformacional quando se liga à GA, a qual promove a ligação de proteínas repressoras DELLA. As proteínas DELLA também passam por uma mudança conformacional, facilitando a interação com a E3 ubiqui- tina ligase SCFSLY1. Como resultado, a ligação do receptor (C) (D) (B) Primeira folha Coleóptilo Camada de aleurona Enzimas hidrolíticas Células do aleurona Endosperma amiláceoMeristema apical do caule GAs GAs Solutos do endosperma Escutelo Pericarpo-testa Raiz 1. As GAs são sintetizadas pelo embrião e liberadas no endosperma amiláceo. 2. As GAs difundem-se para a camada de aleurona. 3. As células da camada de aleurona são induzidas a sintetizar e secretar α-amilase e outras hidrolases no endosperma. 4. Amido e outras macromoléculas são decompostos em pequenas moléculas. 5. Os solutos do endosperma são absorvidos pelo escutelo e transportados para o embrião em crescimento. (A) N VEPVEP N VEPVEPVEPVEP G VEPVEP G VEP Figura 18.9 Estrutura de um grão de cevada e funções de vários tecidos durante a germinação. (A) Diagrama das interações do início da germinação. (B-D) Micrografias da camada de aleurona de ceva- da (B) e protoplastos da aleurona de cevada em um estágio precoce (C) e tardio (D) de produção de amilase. Várias vesículas de esto- que de proteínas (VEPs) em (C) coalescem para formar uma gran- de vesícula em (D), que disponibilizará aminoácidos para a síntese de α-amilase. G, fitina globoide que sequestra minerais; N, núcleo. (B-D de Bethke et al., 1997, cortesia de P. Bethke.) Taiz_18.indd 523Taiz_18.indd 523 27/10/2016 15:57:3927/10/2016 15:57:39 524 Unidade III • Crescimento e Desenvolvimento de GA GID1 às proteínas repressoras DELLA desencadeia a ubiquitinação e a subsequente degradação pelo proteas- somo 26S, o qual permite o prosseguimento da resposta à GA (ver Figuras 15.33 e 15.34). As camadas de aleurona dos mutantes gid1 de arroz com um defeito no receptor de GA são incapazes de sin- tetizar α-amilase, envolvendo de modo claro o receptor solúvel de giberelina GID1 nessa clássica resposta à GA. Outra evidência obtida antes da caracterização do GID1 sugeriu que a giberelina também pode se ligar a uma pro- teína na membrana plasmática das células da aleurona. A evidência de mais de um receptor foi obtida para auxina e ABA (ver Capítulo 15). Considerando a grande diversida- de na resposta à GA, a existência de receptores múltiplos não deve ser tão surpreendente, embora no momento não haja evidência definitiva da identificação de receptores de GA ligados à membrana plasmática. Dentro das células da aleurona existem rotas de sinalização de GA Ca2+-inde- pendente e Ca2+-dependente. A primeira leva à produção de α-amilase, enquanto a última regula sua secreção. GA-MYB é um regulador positivo da transcrição da α-amilase A sequência do elemento de resposta ao ácido giberélico (GARE, gibberellic acid response element) no promotor do gene da α-amilase (TAACAAA) é semelhante à sequência de DNA à qual as proteínas MYB se ligam. As proteínas MYB são uma classe de fatores de transcrição em todos os eucariotos incluindo as plantas. Na cevada, no arroz e em Arabidopsis, um conjunto de MYBs tem relação com a sinalização por GA. Na cevada, um membro dessa família, GA-MYB, tem relação com a sinalização por GA. A evidência de que GA- -MYB ativa a expressão gênica de α-amilase (i.e., que GA- -MYB é um regulador positivo da α-amilase) inclui o seguinte: • A síntese do mRNA de GA-MYB começa a aumentar já em 1 hora após o tratamento com GA, precedendo o aumento no mRNA da α-amilase por muitas horas (Figura 18.10). • Uma mutação no GARE que inibe a ligação de MYB também inibe a expressão de α-amilase. • Na ausência de GA, a expressão constitutiva de GA- -MYB pode induzir as mesmas respostas que a GA induz nas células da aleurona, demonstrando que GA-MYB é necessário e suficiente para o aumento da expressão da α-amilase. A ciclo-heximida, um inibidor da tradução, não tem efei- to na produção do mRNA de GA-MYB, indicando que a síntese de proteínas não é necessária para a expressão de GA-MYB, o qual pode, então, ser definido como um gene de resposta primária ou precoce. Por outro lado, experi- mentos similares demonstram que o gene da α-amilase é um gene de resposta secundária ou tardia. Proteínas repressoras DELLA são rapidamente degradadas Reunindo-se a informação para o sistema da aleurona de cereais (Figura 18.11), pode-se lançar a hipótese de que a ligação da GA bioativa ao GID1 leva à degradação da proteína DELLA. Como uma consequência da degrada- ção da DELLA, e via algumas etapas intermediárias que ainda não foram definidas, a expressão de GA-MYBé re- gulada para cima. Por fim, a proteína GA-MYB liga-se a um GARE altamente conservado no promotor do gene da α-amilase, ativando sua transcrição. A α-amilase é secre- tada das células da aleurona por uma rota que requer a acumulação de Ca2+. A degradação do amido ocorre nas células do endosperma amiláceo pela ação de α-amilases e outras hidrolases, e os açúcares resultantes são exportados para o embrião em crescimento. Alguns desses genes codificando outras enzimas hi- drolíticas cuja síntese é promovida pela GA também têm motivos de ligação a GA-MYB em seus promotores, indi- cando que essa é uma rota comum para as respostas da GA nas camadas de aleurona. ABA inibe a produção de enzima induzida por GA Além do antagonismo ABA-GA afetando a dormência da semente, o ABA inibe a síntese de enzimas hidrolíticas induzida por GA que são essenciais para a decomposição das reservas armazenadas nas plântulas em crescimento (ver Figura 18.9). O ABA inibe a síntese de α-amilase de- 100 75 50 25 0 63 12 18 24 Horas após a exposição à giberelina mRNA de GA-MYB mRNA de α-amilase N ív ei s re la ti vo s d e tr an sc ri çã o Figura 18.10 Curso do processo para a indução dos mRNAs de GA-MYB e α-amilase por GA3. A produção do mRNA de GA-MYB precede aquela do mRNA da α-amilase em cerca de 3 horas. Esses e outros resultados indicam que GA-MYB é um gene de resposta precoce à GA que regula a transcrição do gene da α-amilase. Na ausência da GA, os níveis dos mRNAs de GA-MYB e de α-amilase são negligenciáveis. (De Gubler et al., 1995.) Figura 18.11 Modelo composto para a indução da síntese de α-amilase nas camadas de aleurona em cevada pela GA. Uma rota independente de Ca2+ induz a transcrição do gene da α-amilase; uma rota independente de cálcio está envolvida na secreção de α-amilase. � Taiz_18.indd 524Taiz_18.indd 524 27/10/2016 15:57:3927/10/2016 15:57:39 Capítulo 18 • Dormência e Germinação da Semente e Estabelecimento da Plântula 525 GA1 GA1 mRNA de GA-MYB Transcrição e processamento Transcrição e processamento Gene da α-amilase mRNA da α-amilase Célula da camada de aleurona Fator de transcrição GA-MYB Vesículas secretoras contendo α-amilase Retículo endoplasmático rugoso Ribossomos Complexo de Golgi Membrana plasmática Núcleo α-amilase Degradação de amido no endosperma 2 3 54 7 8 9 10 11 12 1 6 GARE Rota de transdução do sinal dependente de Ca2+ envolvendo calmodulina e proteínas quinase DNA Promotor Gene GA-MYB DNA Degradação 1. GA1 do embrião entra em uma célula da aleurona. 2. Uma vez dentro da célula, GA1 pode iniciar uma rota dependente de cálcio-calmodulina necessária para a secreção de α-amilase. 3. GA1 liga-se ao GID1 no núcleo. 4. Após a ligação à GA1, o receptor GID1 passa por uma mudança alostérica que facilita sua ligação a um repressor DELLA. 5. Uma vez que a proteína DELLA tenha se ligado ao complexo GA1-GID, uma proteína F-box (parte de um complexo SCF) poliubiquitina o domínio GRAS da proteína DELLA. 6. A proteína DELLA poliubiquitinada é degradada pelo proteassomo 26S. 7. Uma vez que a proteína DELLA é degradada, a transcrição de um gene precoce é ativada. (GA-MYB é mostrado neste modelo como um gene precoce, embora haja evidência de que a regulação da transcrição de outros genes precoces deva ocorrer primeiro.) O mRNA de GA-MYB é traduzido no citosol. 8. O fator de transcrição GA-MYB recém-sintetizado entra no núcleo e liga-se nos promotores da α-amilase e de genes codificadores de outras enzimas hidrolíticas. 9. A transcrição desses genes é ativada. 10. A α-amilase e outras hidrolases são sintetizadas no RE rugoso, processadas e empacotadas em vesículas de secreção pelo complexo de Golgi. 11. As proteínas são secretadas por exocitose. 12. A rota secretora requer estimulação do GA da rota dependente de cálcio-calmodulina. F-box GID1 DELLA GRAS Taiz_18.indd 525Taiz_18.indd 525 27/10/2016 15:57:3927/10/2016 15:57:39 526 Unidade III • Crescimento e Desenvolvimento pendente de GA pela inibição da transcrição do mRNA de α-amilase por dois mecanismos, um direto e outro indireto: 1. Uma proteína originalmente identificada como ativa- dora da expressão gênica induzida por ABA, VP1, age como um repressor transcricional de alguns genes re- gulados pela GA. 2. O ABA reprime a expressão de GA-MYB (induzida pela GA), um fator transcricional que medeia a indu- ção pela GA da expressão gênica da α-amilase. Crescimento e estabelecimento da plântula O estabelecimento da plântula é crucial para a sobrevi- vência da planta e crescimento e desenvolvimento subse- quentes. Esta transição entre a germinação (emergência) e o crescimento independente da semente é crucial, já que as plântulas são altamente suscetíveis a fatores bióticos e abióticos durante esse estágio. Por exemplo, cerca de 10 a 55% das plântulas de milho e 48 a 70% das plântulas de soja não superam esse estágio no campo. O estabelecimento da plântula tem sido variavelmen- te definido como: • O período entre a emergência da radícula e a exaustão das reservas da semente (fisiológico) • O aparecimento da primeira folha (agronômico) • O estágio no qual as condições ambientais começam a exercer uma pressão seletiva sobre a sobrevivência da plântula (ecológico) • O ponto no qual a plântula é capaz de um crescimento autossustentável (desenvolvimento) Amplamente definido, o estabelecimento da plântula é o momento em que ela se torna competente para fotossin- tetizar, assimilar água e nutrientes do solo, passar pela diferenciação celular e dos tecidos e maturação normais e responder apropriadamente aos estímulos ambientais. O tamanho da semente é um fator importante no estabele- cimento da plântula porque sementes maiores têm mais reserva de nutrientes, permitindo mais tempo para o de- senvolvimento da plântula. As plântulas de angiospermas enquadram-se em duas classes principais com respeito ao destino de seus cotilédones durante o crescimento do caule. As plântulas que erguem seus cotilédones acima da superfície do solo são ditas epígeas, enquanto aquelas cujos cotilédones permanecem no solo são denominadas hipógeas (ver Tó- pico 18.2 na internet para exemplos). A auxina promove o crescimento nos caules e coleóptilos, enquanto inibe o crescimento nas raízes A auxina sintetizada no ápice caulinar é transportada em direção aos tecidos abaixo do ápice. O suprimento regular de auxina que chega à região subapical do caule ou coleóptilo é necessário para o alongamento contínuo dessas células. Visto que o nível de auxina endógena na região de alongamento de uma planta normal e saudável está próximo do ideal para o crescimento, borrifar a planta com auxina endógena causa somente um modesto e curto estímulo ao crescimento. Tal procedimento deve até mes- mo ser inibitório no caso de plântulas cultivadas no escu- ro, as quais são mais sensíveis a concentrações supraideais de auxina do que as plantas cultivadas na luz. Entretanto, quando a fonte endógena de auxina é re- movida por excisão do caule ou secções do coleóptilo con- tendo a zona de alongamento, a taxa de crescimento cai rapidamente a um nível basal. Tais secções excisadas com frequência respondem à auxina exógena aumentando ra- pidamente sua taxa de crescimento de volta para o nível da planta intacta (Figura 18.12). O controle do alongamento da raiz tem sido mais di- fícil de demonstrar, talvez porque a auxina induz a pro- dução de etileno, o qual inibe o crescimento da raiz. Es- ses dois hormônios interagem diferencialmente no tecido da raiz para controlar o crescimento. Entretanto, mesmo se a biossíntese do etileno é especificamente bloqueada, baixas concentrações (10–10 a 10–9 M) de auxina promo- vem o crescimento das raízes intactas, ao passo que con- centrações mais altas (10–6 M) inibem o crescimento. Por isso, enquanto as raízes podem necessitar de uma con- centraçãomínima de auxina para crescer, o crescimento desses órgãos é fortemente inibido pelas concentrações de auxina que promovem o alongamento nos caules e nos coleóptilos. Os tecidos externos dos caules das eudicotiledôneas são os alvos da ação das auxinas Os caules das eudicotiledôneas são compostos de muitos tipos de tecidos e células, alguns dos quais devem limitar a taxa de crescimento. Essa questão é ilustrada por um ex- perimento simples. Quando secções de regiões em cresci- mento de um caule estiolado de uma eudicotiledônea, como ervilha, são divididas longitudinalmente e incubadas em tampão isoladamente, as duas metades curvam-se para fora. Esse resultado indica que, na ausência da auxina, os tecidos centrais – incluindo a medula, os tecidos vasculares e o córtex interno – alongam-se mais rapidamente do que os tecidos mais externos, os quais consistem no córtex exter- no e na epiderme. Por isso, os tecidos externos devem estar limitando a taxa de alongamento do caule na ausência de auxina (ver Figura 18.12). Quando secções similares são in- cubadas em tampão mais auxina, as duas metades pendem para dentro, devido ao alongamento, induzido por auxina, dos tecidos externos do caule. Para alcançar os tecidos exter- nos das regiões de alongamento dos caules e de estruturas semelhantes ao caule, a auxina derivada do ápice caulinar deve ser deslocada lateralmente da corrente de transporte polar nas células do parênquima vascular para os tecidos caulinares externos. Taiz_18.indd 526Taiz_18.indd 526 27/10/2016 15:57:3927/10/2016 15:57:39 Capítulo 18 • Dormência e Germinação da Semente e Estabelecimento da Plântula 527 O período de atraso mínimo para o alongamento induzido por auxina é de 10 minutos Quando uma secção do caule ou do coleóptilo é excisada e colocada em um equipamento sensível à medição do cresci- mento, a resposta do crescimento à auxina pode ser monito- rada em alta resolução. Sem auxina no meio, a taxa de cres- cimento declina rapidamente. A adição de auxina estimula fortemente a taxa de crescimento de secções de coleóptilos de aveia (Avena sativa) e de hipocótilos de soja (Glycine max), após um período de atraso de somente 10 a 12 minutos (Fi- gura 18.13A). A taxa máxima de crescimento, que representa um aumento de 5 a 10 vezes sobre o índice basal, é alcançada após 30 a 60 minutos de tratamento com auxina. Como está mostrado na Figura 18.13B, um limiar de concentração de (A) (B) 3 5 20 1 Tempo de incubação em 10 μM AIA (h) (A) (B) (C)Ta xa d e al o n g am en to ( % h –1 ) AIA Soja Aveia Concentração de AIA (M) C re sc im en to r el at iv o d o s eg m en to d e al o n g am en to 0 – + 10–8 10–7 10–6 10–5 10–4 10–3 10–2 Crescimento controle (sem adição de AIA) AIA+ –10 0 10 20 30 40 50 60 4,5 40 80 120 160 200 240 5,0 5,5 6,0 Tempo (min) p H A lo n g am en to (μ m ) AIA Compri- mento pH Figura 18.12 A auxina estimu- la o alongamento de secções do coleóptilo de aveia que tiveram a auxina endógena removida. Essas secções do coleóptilo foram incu- badas por 18 horas em água (A) ou auxina (B). O amarelo dentro do coleóptilo translúcido representa o tecido primário da folha. (Fotos © M. B. Wilkins.) Figura 18.13 Curso do processo e dose-resposta à auxina. (A) Comparação da cinética de crescimento de secções do cole- óptilo de aveia e do hipocótilo de soja incubados com 10 μM de AIA (ácido indol-3-acético) e 2% de sacarose. O crescimento está plotado como a taxa de alongamento, em vez do crescimento ab- soluto, em cada tempo. A taxa de crescimento do hipocótilo de soja oscila após 1 hora, ao passo que aquela do coleóptilo de aveia é constante. (B) Curva típica da dose-resposta para o crescimento induzido por AIA em caules de ervilha ou secções do coleóptilo de aveia. O crescimento em alongamento de secções excisadas dos coleóptilos ou caules jovens está plotado versus concentrações crescentes de AIA exógeno. Em concentrações acima de 10–5 M, AIA torna-se menos eficaz. Acima de aproximadamente 10–4 M ele torna-se inibitório, como demonstrado pelo fato de que a estimu- lação decresce e a curva finalmente cai abaixo da linha pontilhada, o que representa crescimento na ausência do AIA adicionado. (C) Cinética do alongamento induzido por auxina e acidificação da parede celular em coleóptilos de milho. O pH da parede celular foi medido com um microeletrodo de pH. Observe os períodos de atraso similares (10-15 min) para a acidificação da parede celular e o aumento na taxa de alongamento. (A de Cleland, 1995; C de Jacobs e Ray, 1976.) Taiz_18.indd 527Taiz_18.indd 527 27/10/2016 15:57:3927/10/2016 15:57:39 528 Unidade III • Crescimento e Desenvolvimento auxina deve ser alcançado para iniciar essa resposta. Além da concentração ideal, a auxina torna-se inibitória. A estimulação do crescimento pela auxina requer energia, e inibidores metabólicos inibem a resposta den- tro de minutos. O crescimento induzido por auxina tam- bém é sensível a inibidores da síntese de proteínas como a ciclo-heximida, sugerindo que a síntese de proteínas é necessária para a resposta. Inibidores da síntese de RNA também inibem o crescimento induzido por auxina por um período um pouco mais longo. A extrusão de prótons induzida por auxina induz o deslizamento da parede celular e o alongamento celular De acordo com a hipótese do crescimento ácido, íons hi- drogênio atuam como um intermediário entre a auxina e o afrouxamento da parede celular (ver Capítulo 14). A fonte dos íons hidrogênio é a H+-ATPase da membrana plasmá- tica, cuja atividade pode aumentar em resposta à auxina. A auxina estimula a extrusão de prótons na parede celular após 10 a 15 minutos de período de atraso, coerente com a cinética de crescimento, como mostrado na Figura 18.13C. Como discutido no Capítulo 14, as proteínas de afrou- xamento da parede celular, denominadas expansinas, afrouxam as paredes celulares mediante enfraquecimento das pontes de hidrogênio entre os componentes polissaca- rídicos da parede quando o pH está ácido. Tropismos: crescimento em resposta a uma quantidade de maiores estímulos direcionais As plantas respondem aos estímulos externos alterando seus padrões de crescimento e desenvolvimento. Durante o estabelecimento da plântula, fatores abióticos como gra- vidade, toque e luz influenciam o hábito de crescimento inicial da planta jovem. Tropismos são respostas de cres- cimento direcional em relação aos estímulos ambientais causados pelo crescimento assimétrico do eixo da planta (caule ou raiz). Os tropismos devem ser positivos (cresci- mento direcionado para o estímulo) ou negativos (cresci- mento para longe do estímulo). Uma das primeiras forças que as plântulas emergentes encontram é a gravidade. O gravitropismo, crescimento em resposta à gravidade, possibilita que os caules cresçam em direção à luz solar para fotossintetizar e que as raízes cresçam para dentro do solo em busca de água e nutrientes. Tão logo o ápice do caule emerge da superfície do solo, ele encontra a luz solar. O fototropismo permite que as partes aéreas cresçam em direção à luz solar, maximizando, assim, a fotossíntese, enquanto algumas raízes crescem para lon- ge da luz solar. O tigmotropismo, crescimento diferencial em resposta ao toque, auxilia as raízes a crescer em torno de obstáculos e a se enrolar e envolver em outras estruturas como suporte. O gravitropismo envolve a redistribuição lateral de auxina Quando plântulas de Avena cultivadas no escuro estão orientadas horizontalmente, os coleóptilos pendem para cima em resposta à gravidade. De acordo com a hipótese de Cholodny-Went, em um modelo geral que se aplica a todas as respostas dos tropismos, a auxina no ápice do coleóptilo orientado horizontalmente é transportada lateralmente para o lado inferior, fazendo esse lado do coleóptilo crescer mais rápido do que o lado superior. Evidências experimentais in- dicaramque o ápice do coleóptilo poderia perceber a gravi- dade e redistribuir a auxina para o lado inferior (ver Capítulo 16). Por exemplo, se os ápices do coleóptilo estão orientados horizontalmente, uma quantidade maior de auxina difunde- -se no bloco de ágar da metade inferior do que da metade superior, como demonstrado por bioensaio (Figura 18.14). Os tecidos abaixo do ápice também são capazes de responder à gravidade. Por exemplo, quando coleóptilos de milho orientados verticalmente são decapitados por remoção dos 2 mm superiores do ápice e então orienta- dos horizontalmente, uma curvatura gravitrópica ocorre a uma taxa lenta por muitas horas, mesmo sem o ápice. A aplicação de ácido 3-indolacético (AIA), a principal au- xina, à superfície cortada restaura a taxa de curvatura a (A) (B) Metade inferior Metade superior Figura 18.14 A auxina é trans- portada para a parte inferior de uma ponta de coleóptilo de aveia orientada horizontalmente. (A) A auxina das metades superior e inferior de uma ponta horizontal difunde-se em dois blocos de ágar. (B) O bloco de ágar da metade in- ferior (esquerda) induz uma curva- tura maior em um coleóptilo deca- pitado do que no bloco de ágar da metade superior (direita). (Fotos © M. B. Wilkins.) Taiz_18.indd 528Taiz_18.indd 528 27/10/2016 15:57:3927/10/2016 15:57:39 Capítulo 18 • Dormência e Germinação da Semente e Estabelecimento da Plântula 529 níveis normais. Essa descoberta indica que a percepção do estímulo gravitacional e a divergência assimétrica de au- xina podem ocorrer nos tecidos subapicais, embora o ápice seja necessário para a produção de auxina. A redistribuição lateral de auxina é mais difícil de de- monstrar no meristema apical caulinar do que nos coleóp- tilos por causa da presença da recirculação de auxina na folha em desenvolvimento e no primórdio apical do cau- le, semelhante ao que é observado nos ápices das raízes. Entretanto, alguns dos mesmos mecanismos diferenciais de transporte de auxina na curvatura fototrópica também estão envolvidos na curvatura gravitrópica. O transporte polar de auxina necessita de energia e não depende da gravidade A polaridade do transporte de auxina no embrião em desenvolvimento foi discutida no Capítulo 17. A Figura 18.15A ilustra o uso dos termos basípeto (em direção à base) e acrópeto (em direção ao ápice) quando se discute a direção do movimento da auxina. Para maior simplicida- de, serão usados às vezes os termos em direção à raiz e em direção ao caule com referência aos movimentos para baixo e para cima da auxina, respectivamente. Estudos anteriores do transporte de auxina foram conduzidos utilizando-se o método do bloco de ágar doador- -receptor (Figura 18.15B). Um bloco de ágar contendo au- xina marcada radiativamente (bloco doador) é colocado na extremidade do segmento de um tecido, e um bloco receptor é colocado na outra extremidade. O movimento da auxina através do tecido em direção ao bloco receptor pode ser determinado ao longo do tempo pela medição da radiatividade no bloco receptor. Esse método tem sido aperfeiçoado para permitir a deposição de gotículas bem menores de auxina radiativa sobre superfícies discretas das plantas, melhorando a acurácia dos estudos de trans- porte de auxina por distâncias curtas. A partir de tais estudos, as propriedades gerais do trans- porte polar de auxina se tornaram conhecidas. Os tecidos di- ferem no grau de polaridade do transporte de auxina. Em co- leóptilos, caules vegetativos, pecíolos e na epiderme da raiz, o transporte a partir do ápice predomina, ao passo que, nos tecidos estelares da raiz, a auxina é transportada em direção ao ápice. O transporte polar de auxina não é afetado pela orientação do tecido (ao menos em períodos curtos de tem- po), sendo, portanto, independente da gravidade. Os efeitos da falta da gravidade no transporte polar de auxina são mostrados na Figura 18.16. Nesse experimen- to, estacas de videira são colocadas em uma câmara úmi- da, permitindo a formação de raízes adventícias nas extre- midades basais das estacas, enquanto caules adventícios se formam nas extremidades apicais. A mesma polaridade das formações de raízes e de partes aéreas ocorre mesmo quando as estacas são invertidas. As raízes formam-se na base porque a diferenciação da raiz é estimulada pela acu- Ápice da parte aérea Plântula Hipocótilo Extremidade apical (A) Secção excisada Inverter A (doador) B (receptor) O transporte para o receptor acontece Extremidade basal (B) B (doador) A (receptor) O transporte para o receptor é bloqueado Bloco doador de ágar contendo auxina radiativa Gema apical do caule (gema terminal) (A) (B) Lâmina Nó Entrenós Raiz lateral Ápice da raiz Raiz primária Pecíolo Gema axilarCaule Junção caule-raiz (base) A cro p étalo B asip étalo A cr o p ét al o B as ip ét al o Figura 18.15 Demonstração do transporte polar de auxina com auxina marcada radiativamente. (A) O transporte polar de auxina é descrito em termos da direção de seu movimento em relação à base da planta (a junção caule-raiz). A auxina que se move para baixo a partir da parte aérea se move basipetamente (em direção à base) até que atinja a junção caule- -raiz. Daquele ponto, o movimento para baixo é descrito como acropétalo (em direção ao ápice). O movimento da auxina a partir do ápice da raiz em direção à junção caule-raiz também é descrito como basipétalo (em direção à base). (B) Método do bloco de ágar receptor-doador para medir o transporte polar de auxina. A polaridade do transporte é independente da orientação do tecido da planta com respeito à gravidade. Taiz_18.indd 529Taiz_18.indd 529 27/10/2016 15:57:4027/10/2016 15:57:40 530 Unidade III • Crescimento e Desenvolvimento mulação de auxina devido ao transporte polar. As partes aéreas tendem a se formar nos ápices, onde a concentração de auxina é menor. O transporte de auxina avança de modo célula-célu- la, e não via simplasto; isto é, a auxina sai da célula pela membrana plasmática, difunde-se através da lamela mé- dia composta e entra na próxima célula pela sua membra- na plasmática. A exportação de auxina das células é deno- minada efluxo de auxina; a entrada de auxina nas células é denominada absorção ou influxo de auxina. O processo global, requer energia, conforme evidenciado pela sensibi- lidade do transporte de auxina à diminuição de oxigênio, sacarose e inibidores metabólicos. A velocidade do transporte de auxina pode exceder 3 mm h–1 em alguns tecidos, sendo mais rápida do que a difusão, porém mais lenta do que as taxas de translocação do floema (ver Capítulo 11). Índices maiores do transporte polar de auxina são observados em tecidos imediatamen- te adjacentes aos meristemas apicais do caule e da raiz. O transporte polar é específico para auxinas ativas, na- tural e sintética; outros ácidos orgânicos fracos, análogos inativos de auxina e conjugados de AIA são fracamente transportados. A especificidade do transporte polar de au- xina indica que ele é mediado por carregadores proteicos na membrana plasmática. De acordo com a hipótese do amido-estatólito, amiloplastos especializados servem como sensores da gravidade nas coifas (raízes) Além de agir como protetora das células sensíveis do me- ristema apical à medida que o ápice da raiz penetra o solo, a coifa é o local de percepção da gravidade. Visto que a coifa está a certa distância da zona de alongamento onde a cur- vatura ocorre, os eventos de sinalização da resposta gravi- tacional iniciados na coifa devem induzir a produção de um mensageiro químico que modula o crescimento na zona de alongamento. Experimentos microcirúrgicos em que me- tade da coifa foi removida demonstraram que ela produz um inibidor de crescimento, mais tarde identificado como a auxina, na região inferior da raiz durante a curvatura gravi- trópica (Figura 18.17). O mecanismo primário pelo qual a gravidade pode ser detectada pelas células é pelo movimentode um corpo em queda ou pela sedimentação. Candidatos ób- vios para servirem como sensores nas plantas são os amiloplastos grandes e densos, pre- sentes em células especializadas sensíveis à gravidade. Esses grandes amiloplastos (plas- tídios que contêm amido) têm densidade su- ficientemente alta em relação ao citosol para sedimentarem prontamente na parte inferior da célula (Figura 18.18). Os amiloplastos que funcionam como sensores da gravidade são chamados de estatólitos, e as células espe- cializadas em perceber o estímulo gravitacio- nal nas quais eles ocorrem são os estatócitos. Amiloplastos grandes e densos que se- dimentam no citosol em resposta à gravida- de (estatólitos) estão localizados nas células centrais, ou columela, da coifa. A remoção de Raízes adventícias Caule adventício Caule adventício Raiz-controle orientada verticalmente, com a coifa. A raiz-controle orientada horizontalmente, com a coifa, mostra curvatura gravitrópica normal. Raiz Coifa A remoção da coifa da raiz vertical estimula levemente o crescimento em alongamento. A remoção da metade da coifa causa uma curvatura na raiz em direção ao lado que contém a metade remanescente. A remoção da coifa de uma raiz horizontal elimina a resposta à gravidade, enquanto estimula levemente o crescimento em alongamento. (A) (B) Figura 18.16 As raízes adventícias crescem dos extremos da base das estacas de videira, e os caules adventícios crescem dos extremos apicais, se as estacas são mantidas na orientação invertida (as duas estacas à esquerda) ou na orientação correta (as estacas à direita). As raízes formam-se nos extremos da base porque o transporte de auxina não depende da gravidade. (De Hartmann e Kester, 1983.) Figura 18.17 Experimentos microcirúrgicos de- monstram que a coifa é necessária para o redirecio- namento da auxina e a subsequente inibição dife- rencial do alongamento na curvatura gravitrópica na raiz. (De Shaw e Wilkins, 1973.) Taiz_18.indd 530Taiz_18.indd 530 27/10/2016 15:57:4027/10/2016 15:57:40 Capítulo 18 • Dormência e Germinação da Semente e Estabelecimento da Plântula 531 raízes intactas anula o gravitropismo das raízes sem inibir o crescimento. De acordo com a hipótese amido-estatóli- to, essas células representam estatócitos ou células sensí- veis à gravidade (ver Figura 18.18). Ainda é pouco compreendido como os estatócitos per- cebem precisamente a sedimentação dos estatólitos. De acordo com uma hipótese, o contato ou a pressão resultante da sedimentação do amiloplasto sedimentando no retículo endoplasmático (RE) na metade inferior da célula desenca- deia a resposta (ver Figura 18.18). A forma predominante do RE nas células da columela é o tipo tubular, mas uma for- ma incomum da RE, chamada de “RE nodal”, também está presente e deve exercer um papel na resposta à gravidade. A hipótese amido-estatólito da percepção da gravida- de nas raízes é apoiada por várias linhas de evidência. Os amiloplastos são as únicas organelas que sedimentam con- sistentemente nas células da columela de diferentes espécies vegetais, e a taxa de sedimentação está correlacionada ao tempo necessário para perceber o estímulo da gravidade (ver Figura 18.18). As respostas gravitrópicas dos mutantes defi- cientes em amido são, em geral, muito mais lentas do que as das plantas selvagens. Entretanto, os mutantes sem amido apresentam algum gravitropismo residual, sugerindo que, embora esse carboidrato seja necessário para uma resposta gravitacional normal, também devem existir mecanismos de percepção da gravidade independentes dele. 0 10 20 30 40 50 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 20 30 40 50 1 2 3 4 5 Tempo (s) Queda do amiloplasto Alcalinização citoplásmica de células da columela Localização polar de PINs na columela Razão da auxina lateral Ângulo do ápice da raiz Tempo (min) Tempo (h) Amiloplasto Núcleo PIN3, PIN7 Retículo endoplas- mático Figura 18.18 Sequência de eventos seguindo a graviestimulação de uma raiz de Arabidopsis. A escala de tempo na parte inferior não é linear. As barras horizontais sombreadas no gráfico indicam o período de vários eventos na graviestimulação da raiz, com o sombreamento mais escuro correspondendo à maior mudança. O crescimento da plântula em diferentes estágios da resposta está ilustrado abaixo da escala de tempo. Três estágios da sedimentação dos estatólitos são mostrados no topo. A figura à esquerda mostra o tempo zero, quando a plântula está rotacionada primeiro a 90°. O segundo e o terceiro estágios mostrados estão a cerca de 6 minutos e 2 horas após a rota- ção. A seta vermelha indica o fluxo de auxina, com as setas mais gros- sas indicando um fluxo maior. Células com concentração de auxina relativamente alta são mostradas em laranja. As células da columela da coifa são mostradas em verde no tempo zero; a cor muda para o azul e, após, para o verde-azulado em estágios mais tardios, indican- do o grau de alcalinização do citoplasma. A distribuição do PIN3 está diagramada como uma linha roxa sobre a membrana plasmática das células da columela. (De Baldwin et al., 2013.) Taiz_18.indd 531Taiz_18.indd 531 27/10/2016 15:57:4027/10/2016 15:57:40 532 Unidade III • Crescimento e Desenvolvimento Outras organelas, como os núcleos, podem ter den- sidade suficiente para atuarem como estatólitos. Talvez não seja necessário que o estatólito sedimente na parte inferior da célula, visto que as interações com as endo- membranas e os componentes do citoesqueleto pode- riam transduzir um sinal gravitrópico de uma maneira desconhecida. Os movimentos da auxina na raiz são regulados por transportadores específicos Embora as coifas contenham pequenas quantidades de AIA, raízes de mutantes defeituosos no transporte de au- xina, como aux1 e pin2, são agravitrópicas, sugerindo que a auxina seja o inibidor de crescimento derivado da coifa durante o gravitropismo. Entretanto, a maioria da auxina na raiz é derivada da parte aérea. O AIA é liberado no ápice da raiz através de uma corrente direcionada à raiz pelo PIN/ABCB19 (Figura 18.19). Ele também é sintetiza- do no meristema da raiz. Contudo, o hormônio é excluído das células apicais da coifa pela atividade combinada dos transportadores de auxina PIN3, PIN4 e ABCB1. Ao mes- mo tempo, a absorção de auxina mediada por AUX1 nas células laterais da coifa impulsiona uma corrente de auxi- na em direção ao caule a partir do ápice da raiz. O PIN2, que está localizado na parte superior das células epidér- micas da raiz e na região superior e lateral às células epi- dérmicas nas células corticais, conduz a auxina para longe da coifa da raiz lateral até a zona de alongamento, onde estimula ou inibe o alongamento celular. Além disso, um modelo do circuito de refluxo de auxina nas células corticais postula que há um redirecionamento de auxina em dire- ção à corrente de transporte estelar da raiz nos limites da zona de alongamento (ver Figura 18.19). A circulação de auxina no ápice em crescimento pode permitir a conti- nuidade do crescimento da raiz por um período de tempo independente da auxina proveniente da parte aérea, como também pode mover a auxina sintetizada no ápice da raiz para a corrente de refluxo. Meristema apical do caule Cotilédones Hipocótilo Raiz PIN1 PIN2 PIN3 PIN4 PIN7 ABCB1 ABCB4 ABCB9 Movimento não direcional de auxina mediado por ABCB1 no meristema apical do caule ABCB19 medeia o movimento da auxina ao ápice da raiz ABCB4 regula os níveis de auxina nos pelos radiculares Movimento não direcional de auxina mediado por ABCB1 no ápice da raiz Vários PINs participam na recirculação de auxina no ápice da raiz PIN3 redireciona a auxina lateralmente de volta para o tecido parenquimático vascular PIN1 direciona o movimento vertical da auxina do caule para a raiz PIN1 é principalmente responsável pela recirculação de auxina no meristema apical do caule (A) (B) Figura 18.19 Em Arabidopsis, as proteínas de transporte PIN
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