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SIMULADO 1 QUESTÃO 1 Em seu art. 5.º, inciso LIV, a Constituição Federal de 1988 assevera que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. O princípio do devido processo legal é uma das garantias mais amplas do direito constitucional, além de ser uma premissa essencial nas relações de caráter processual. É, portanto, um princípio intrínseco às atividades dos cargos de analista judiciário, como o processamento de feitos e a função de apoio em julgamentos. Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, disserte EM ATÉ 15 LINHAS sobre o princípio do devido processo legal. Em seu texto, aborde os seguintes aspectos, conforme a Constituição Federal de 1988, a doutrina e o entendimento do Supremo Tribunal Federal: 1) As garantias processuais dos indivíduos no Estado democrático de direito, apresentando, pelo menos, 3 prerrogativas constitucionais que se relacionam com o devido processo legal. R. As garantias processuais dos indivíduos no Estado democrático de direito, apresentando, pelo menos, quatro prerrogativas constitucionais que se relacionam com o devido processo legal. O devido processo legal ou due process of law é uma garantia essencial com caráter subsidiário e geral em relação às demais garantias. As garantias processuais presentes no Estado democrático de direito e que lhe são inerentes são: 1 – o direito ao contraditório e à ampla defesa; 2 – o direito ao juiz natural; 3 – o direito a não ser processado e condenado com base em prova ilícita; e 4 – o direito a não ser preso senão por determinação da autoridade competente e na forma estabelecida pela ordem jurídica 2) A aplicação do princípio do devido processo legal aos estrangeiros. R. O princípio do devido processo legal é amplamente aplicável ao estrangeiro, conforme expresso no art. 12, § 2.º, da Constituição Federal: “A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição”. Assim, os instrumentos processuais de tutela do indivíduo presentes na Constituição Federal de 1988 alcançam plenamente o estrangeiro. A jurisprudência do STF está assentada nesse entendimento (RDA 59/326, RT 312/363; RTJ 164/193-194). O estrangeiro tem direito público subjetivo à observância e ao integral respeito ao devido processo legal — ainda que não possua domicílio no país — e está exposto à condição indisponível de sujeito de direitos. 3) A aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada no contexto do devido processo legal. R. Conforme a teoria dos frutos da árvore envenenada, a prova ilícita originária contamina todas as demais provas obtidas a partir dela, ou seja, todas as demais provas decorrentes daquela prova ilícita são também ilícitas. Esse entendimento é estabelecido pela Constituição Federal de 1988 no art. 5.º, inc. LVI. O Supremo Tribunal Federal já legitimou sua aplicação em diversos julgados, declarando a nulidade de todos os atos praticados no processo, na hipótese de a prova ter sido obtida de forma ilícita. O exemplo clássico é o de confissão de crime por meio de tortura. Destarte, são consideradas ilícitas as provas ilícitas por derivação. O devido processo legal proíbe a utilização dessas provas e garante a ampla defesa ao acusado. A respeito da teoria dos frutos da árvore envenenada, citam-se os julgados do Supremo Tribunal Federal (HC 74.116-9/SP; HC 69.912/RS; HC 72.588-1/PB; entre outros). O candidato poderá ainda, mas não necessariamente, demonstrar que o Supremo Tribunal Federal permite algumas exceções à aplicação dessa teoria, quando no processo não se demonstrar o nexo causal entre as provas ilícitas e as derivadas ou quando essas puderem ser obtidas de forma independente. Por fim, a prova, em princípio ilícita, poderá ser admitida se produzida pelo réu em estado de necessidade ou legítima defesa. QUESTÃO 2 À noite, no retorno para a delegacia, depois de cumpridas outras diligências, policiais civis do estado do Ceará suspeitaram, com razões justificáveis, da ocorrência de tráfico de drogas em determinada residência. Imediatamente, entraram à força no local e realizaram busca e apreensão no domicílio. Considerando o entendimento do STF. 1) Ao entrarem na residência, naquele momento, os policiais agiram de maneira legal? R. SIM, pois é possível a entrada domiciliar, no período noturno, sem mandado judicial, nas hipóteses permitidas pela Constituição Federal: flagrante delito, desastre, para prestar socorro ou com o consentimento do morador. Art. 5.º, XI, CF/1988 – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. 2) Ao realizarem busca e apreensão no domicílio, os policiais agiram legalmente? Em que momento ocorre o controle judicial desse tipo de ação? R. É possível a busca e apreensão no período noturno, sem mandado judicial, quando há situação de flagrante delito. O controle judicial ocorre posteriormente, quando a autoridade apresenta as fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori. 3) Caso a ação dos policiais seja considerada ilícita, quais serão as consequências dessa ação? R. Se a ação for considerada ilícita, o agente ou autoridade poderá ser responsabilizado disciplinar, civil e penalmente. Além disso, será possível a nulidade de todos os atos praticados. Inviolabilidade de domicílio – art. 5.º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar sem mandado judicial em caso de crime permanente. (…) Fixada a interpretação de que a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados. (RE 603.616, relator ministro Gilmar Mendes, j. 5/11/2015, P, DJe de 10/5/2016, com repercussão geral.) QUESTÃO 3 João precisa fazer um empréstimo e, para isso, a empresa precisa consultar seus dados de crédito. Entretanto, ao solicitar tais dados, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) em questão se negou a informá-los. 1) O que é o Habeas Data? R. O habeas data é um remédio constitucional, previsto no artigo 5º, inciso LXXII, destinado a assegurar que um cidadão tenha acesso a dados e informações pessoais que estejam sob posse do Estado brasileiro, ou de entidades privadas que tenham informações de caráter público. Com o remédio constitucional habeas data objetiva-se que todas as pessoas possam ter acesso às informações que o Poder Público ou entidades de caráter público possuam a seu respeito. Ou seja, é o direito de saber o que o governo sabe (ou afirma saber) sobre você. Ele também pode ser acionado para corrigir dados pessoais que estejam inexatos. 2) João pode solicitar um Habeas Data à Justiça para ter acesso aos seus dados de crédito presentes no banco de dados do SPC? Justifique. R. Diante da recursa do SPC em fornecer os dados pessoais de João. Sim. Ele pode requerer através do acionamento do remédio constitucional habeas data, porque o SPC se enquadra em entidade de caráter público que pode deter informações de um cidadão e porque houve a negativa de acesso aos dados. 3) Quais são as características fundamentais do remédio constitucional Habeas Data? R. É garantido a todo cidadão brasileiro o direito a requerer habeas data. A ação é gratuita, não são cobradas custas judiciais. Mas o cidadão precisa acionar um advogado. É importante perceber também que o impetrante pode apenas pedir acesso a seus próprios dados, e não de terceiros. Uma exceção a essa regra ocorre no caso de um cônjuge pedir a liberação de dados do parceiro falecido.