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Dermatite atópica É a principal manifestação cutânea de atopia. Ocorre mais em crianças e tende a desaparecer com a idade. Atinge indivíduos de qualquer idade, espe- cialmente aqueles com história familiar ou pessoal de doenças atópicas (rinite, asma). As lesões são caracterizadas pela liquenificação e pelo prurido (inclusive dormindo). A pele é seca e surgem lesões cutâneas de morfologia e distribuição típicas que podem sofrer mudanças ao longo de sua evolução. EPIDEMIOLOGIA • Em cada 7 pessoas, 1 é atópica. • 50% tem história familiar de atopia. • 50% dos lactentes melhora até os 2 anos. Geral- mente começa com a introdução de novos ali- mentos. • 20-40% persiste na vida adulta, mas o quadro clínico tende a se tornar menos intenso. • 2% acontece após 45 anos. FISIOPATOLOGIA É uma doença multifatorial, com relação entre defeitos da barreira cutânea, disfunção imunológica, alterações do microbioma (colonização pelo S. aureus na superfície cutânea), fatores genéticos, fa- tores ambientais e fatores psicológicos. FATORES GENÉTICOS: modo de herança ainda não esclarecido. Quando os dois pais são atópicos, os fi- lhos têm 79% de chance de desenvolver atopia. O risco é maior se a mãe for atópica. • Alteração na filagrina, que tem a função de agru- par feixes de queratina (arcabouço da pele, evi- tando perda de água). A filagrina é a principal responsável pela formação da camada córnea, que é a primeira barreira de proteção da pele. Se a filagrina é disfuncionante, as células não fi- cam tão unidas e perde-se água entre elas. Por isso que o paciente tem a pele seca é a mais sensível a alérgenos como um todo. DISFUNÇÃO IMUNOLÓGICA: • Fase aguda da doença: ativação das interleucinas 4, 5 e 13, desencadeando uma resposta Th2. Essas interleucinas interagem com eosinófilos e au- mentam a produção de IgE. • Fase crônica: ativação das citocinas IFN-ɣ, IL-12, IL-5 e GM-CSF, com resposta Th1 e Th17. FATORES AMBIENTAIS Área urbana > rural. Irritantes xerosantes. Alérgenos de contato/aeroalérgenos. Não necessa- riamente precisa ter um alérgeno específico, às ve- zes pode ser apenas a mudança de ambiente, tem- peratura. Agentes infecciosos: principalmente bactérias que funcionam como agentes comensais, como S. au- reus. Fatores emocionais. Hormônios. Clima seco e baixas temperaturas. Comentado [MEA1]: Eczema: ebulição, efervescência. É comum nas dermatoses inflamatórias: dermatite atópica, dermatite seborreica e dermatite de contato. Dieta: • Efeito protetor: frutas, vegetais, proteínas de ce- reais e nozes, peixe. • Risco: dieta rica em açúcar e ácidos graxos polis- saturados. Baixa exposição à radiação UV. A radiação ultravio- leta tem um certo papel anti-inflamatório na pele. QUADRO CLÍNICO Independente da idade, a principal lesão é o ec- zema, um processo inflamatório com várias fases de evolução. O eczema também ocorre na dermatite de contato. Em todas as faixas etárias acometidas por DA, podemos encontrar todos os estágios de eczema, o que muda é a topografia das lesões. DA INFANTIL (até 2 anos): • Eczema predomina em face e poupa a região cen- trofacial e o sulco nasogeniano. • Pernas e abdome mas poupa área das fraldas. • Lesões eritematosas papulosas ou papulovesicu- lares (eczema agudo). DA PRÉ-PUBERAL (3 a 12 anos): • Eczema em áreas de dobra: pescoço, fossa ante- cubital e fossa poplítea. Tem menos exsudação. • Pode haver lesões em face, mas menos evidentes. DA DO ADULTO (a partir de 12 anos): • Principalmente em mãos, semelhante a derma- tite de contato. São placas com liquenificação. • Regiões de flexura: fossa antecubital, pescoço e fossa poplítea. MARCHA ATÓPICA Sinais de atopia Dupla prega de Dennie-Mor- gan: prega dupla na pálpebra inferior. Sinal de Hertoghe: rare- fação ou ausência do 1/3 distal das sobrancelhas. Hiperlinearidade palmo- plantar: acentuação das li- nhas de palmas e plantas. Dermografismo branco: es- trias brancas que surgem após fricção ou pressão li- near. COMPLICAÇÕES Distúrbios psiquiátricos: déficit de atenção, hipera- tividade. Infecções bacterianas: são as mais comuns. O prin- cipal agente envolvido é o S. aureus. Crostas melisséricas no impetigo por S. aureus. Infecções virais: • Erupção variceliforme de Kaposi: infecção disse- minada pelo HSV. • Maior incidência de verrugas virais. • HIV pode piorar a DA. Erupção variceliforme de Kaposi. Alterações oculares: conjuntivite é comum, catarata subcapsular (uso de corticoide e trauma por fricção), ceratoconjuntivite. DIAGNÓSTICO 3 critérios maiores + 3 critérios menores. Critérios maiores • Prurido. • Morfologia e distribuição típica das lesões: com- prometimento facial e extensor nas crianças e li- quenificação e linearidade nos adultos. • Dermatite crônica e recidivante. • História pessoal ou familiar de atopia (asma, ri- nite e DA). Prurido: paciente não para de se coçar, inclusive du- rante o sono. Adultos: liquenificação flexural. Liquenificação é o espessamento da pele com acentuação das marcas cutâneas pelo ato de coçar (a pele aumenta a espes- sura). Em especial, ocorre nas fossas antecubitais e poplíteas. Crianças e lactentes: envolvimento facial. Principal- mente perioral e periorbital (coça muito o olho). Também há prurido em regiões antecubitais e poplí- teas. Diferente da dermatite seborreica, a derma- tite atópica poupa o sulco nasolabial. Critérios menores • Rubor ou palidez facial. • Xerose ou ictiose. • Queratose pilar. • Queilite. • Pitiríase alba (manchas hipocrômicas mal defini- das = perda de melanina pelo ato de coçar). • Início precoce da doença. • Dermografismo branco. • Dermatite inespecífica das mãos e pés. • Pregas anteriores do pescoço. • Escurecimento periorbital. • Elevação da IgE sérica. • Conjuntivites recorrentes. • Dupla linha de Dennie-Morgan. • Infecções cutâneas – HSV, S. aureus. • Catarata subcapsular anterior. • Ceratocone. • Intolerância alimentar. • Eczema de mamilo. • Hiperlinearidade palmar. • Eczema perifolicular. Ceratose pilar (às vezes pode ser a única manifes- tação) Pitiríase alba (tem muita relação com o resseca- mento da pele) Eczema perifolicular, além da ceratose pilar (parece um quadro de acne). Dermografismo Hiperlinearidade palmar (pele ressecada) Exames complementares Contagem de eosinófilos no sangue periférico. Níveis séricos de IgE total. Níveis séricos de IgE específica a alérgenos. Testes cutâneos de leitura imediata (prick test). Teste de contato para atopia (patch test). Provocação oral com alimentos: padrão ouro para diagnóstico de alergia alimentar. Eczema com infecção se- cundária. Liquenificação (pitiríase alba). Eczema e crostículas de infecção secun- dária, poupando sulco nasogeniano PIOR PROGNÓSTICO • Prurido e xerose persistentes na vida adulta. • Eczema infantil extenso. • Associação com rinite e/ou asma. • História familiar de DA. • Início precoce. • Sexo feminino. MANEJO Controle ambiental A chave para controlar DA é evitar ou reduzir a exposição aos fatores desencadeantes. • Poeira, detergentes e produtos de limpeza em geral, roupas de lã e tecido sintético, alimentos, baixa umidade, frio intenso, calor e transpiração, infecções, estresse emocional. PELE SECA: tem que utilizar hidratante quantas ve- zes for necessário por dia, sempre. O problema do hidratante é que, numa área de pele machucada, arde, o que torna bem difícil o uso na criança em crise. A ideia do hidratante é manter a pele boa fora da crise. • Permanecer na água por 10 minutos durante o banho. O ideal é que não seja muito quente. • Adicionar óleo de banho adequado à água para prevenir o ressecamento da pele. • Deve-se evitarutilizar sabonetes comuns, que são irritantes e perfumados. É melhor utilizar lo- ções de limpeza especiais, porque são bem tole- radas pelas crianças e de fácil uso. • A temperatura da água deve ser fria e o banheiro, aquecido. • Evitar qualquer mudança de temperatura, que pode causar prurido. • Secar com toalha de algodão macia. • Passar hidratante depois. Emolientes/hidratantes: ureia (na fase de controle, é excelente, na crise, arde muito), lactato de amônio, propilenoglicol, óleos vegetais (amêndoas, semente de uva), ácidos graxos essenciais, ceramidas, sin- dets. Tratamento farmacológico CORTICOIDE TÓPICO: principal tratamento da crise. Não deve ser utilizado de forma continuada e sem controle (atrofias, estrias, efeitos sistêmicos). • Raramente são necessários corticoides de potên- cia elevada. Evitar corticoide de alta potência na face (mais comum a atrofia). • Geralmente potência baixa (desonida) ou muito baixa (hidrocortisona). Potência Corticoide Muito baixa Hidrocortisona 0,5 e 1% Baixa Desonida 00,5% Moderada* Furoato de mometasona 0,1% Desonida 0,1% Elevada Diproprionato de betametasona 0,025% 17-valerato de betametasona 0,1% Aceponato de metilprednisolona Muito elevada 17-proprionato de clobetasol 0,05% Acetonido de fluocinolona 0,1% *Moderada: para áreas muito liquenificadas. CORTICOIDE ORAL (prednisona, prednisolona): via de rega, não deve ser utilizado. Pode causar depen- dência. IMUNOMODULADORES TÓPICOS (inibidores de calcineurina): custo elevado. Vantagem em relação ao corticoide é que não causam atrofia. • Pimecrolimus 1%. • Tracrolimus 0,03% - 0,1%. Pode-se tentar fototerapia nos locais antes de fazer medicamento sistêmico. Água do mar + exposição solar: muito benéficos no controle da dermatite atópica (durante a crise, a água do mar provoca ardência). ANTI-HISTAMÍNICOS: via de regra, não servem para tratar DA (a cronicidade não depende de hista- mina). Em criança pequena, pode ser utilizado de primeira geração (feniramina) porque causa sedação e melhora o prurido. Anticorpos monoclonais: anti-IL-4 (dupilumabe) – bem caro. ATB tópicos/orais (S. aureus). CASOS GRAVES: ciclosporina (primeira opção, mas não pode por muito tempo), MTX, azatioprina. Dermatite seborreica Doença inflamatória comum, com prevalência de 2-5% da população. Os homens são mais acome- tidos, principalmente quando há história familiar. A idade de pico é aos 40 anos. É caracterizada por lesões papuloescamosas superficiais, crônicas, com predileção por couro cabeludo, bordos palpebrais, sobrancelhas, sulco nasolabial e região pré-esternal. A prevalência aumenta nos pacientes infectados pelo HIV, em que as lesões tendem a ser mais infla- matórias, extensas e resistentes ao tratamento. ETIOLOGIA Presença de fungos como Pityroporum ovale ou Malassezia (como é chamado hoje). • Malassezia aumenta a atividade da lipase, libe- rando ácidos graxos livres, que são inflamatórios. Inflama a glândula sebácea e piora a dermatite seborreica. Resposta imune anormal: há menor número de lin- fócitos T helper e anticorpos nas pessoas com der- matite seborreica. Fatores hormonais: androgênios pioram a derma- tite seborreica (melhoram a dermatite atópica). HIV e Parkinson (pode ser uma manifestação pre- coce). Medicamentos: clorpromazina, cimetidina, fluou- racil, haloperidol, IFN-ɑ, fenotiazinas, lítio. QUADRO CLÍNICO O quadro é intermitente, com fases alternadas entre queimação, coceira e descamação e períodos inativos. Tende a ser mais intenso durante o inverno e a ter remissão durante o verão. Lactente Acontece pela presença de andrógenos mater- nos e depois vai melhorando. • Crosta-láctea/capuz de leite (ermo): aparece nos primeiros meses de vida. São lesões em couro cabeludo, muitas vezes escamas grossas amare- ladas aderidas, que podem ser removidas com óleo mineral. • Pode haver sobreposição com dermatite atópica (mais tarde, com introdução dos alimentos). Adulto É comumente chamada de caspa e ocorre entre 15-40 anos. São escamas até crostas aderidas. Placas são raras. A localização preferencial é no couro cabeludo (normalmente fica restrita a ele). A partir do couro cabe- ludo, pode se espalhar para a glabela, sobrancelhas, orelha, sulco nasogeni- ano, nuca, região pré-esternal, axilas e virilhas. • Poupa bochecha e acomete sulco nasogeniano. • Casos extensos: pensar em doenças sistêmicas, principalmente HIV e Parkinson. Em negros, ocorre dermatite seborreica anular, tam- bém chamada de dermatite seborreica petaloide. Lesões papulosas em região pré-esternal. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Lactente • Dermatite atópica: é mais tardia e coça muito mais. • Doença de Leiner (deficiência de C5). As lesões são extensas, generalizadas e associadas a diar- reia, anemia e vômitos. • Acrodermatite enteropática (deficiência de Zn). • Candidíase/dermatofitose. Podem ser complica- ções da dermatite seborreica na área de fralda. Adulto • Psoríase (seborríase). Pode se sobrepor à derma- tite seborreica. TRATAMENTO O tratamento sempre resolve a dermatite se- borreica. Se não resolver, buscar doença de base. Lactente Xampu com cetoconazol. Óleo mineral. Creme com hidrocortisona/desonida (raramente) e/ou antifúngicos. Adulto Xampu com cetoconazol, piritionato de zinco, co- altar, ciclopiroxolamina, sulfeto de selênio. A der- matite seborreica se acostuma com alguns tipos de xampu, então pode ser necessário trocar ao longo do tempo. • Cetoconazol: diminui ação androgênica e a popu- lação de Pityroporum ovale. Loções com CE, ácido salicílico: se quadro muito in- flamatório. Ajuda a remover as escamas. Face: creme com CE de baixa potência (hidrocorti- sona) e/ou antifúngico, imunomoduladores (tacro- limus). Sabonetes com enxofre e ácido salicílico. • Enxofre diminui a atividade das glândulas sebá- ceas. • Ácido salicílico ajuda a remover escamas Raspar pelos ajuda. Evitar dormir de cabelo molhado (aumenta o fungo).
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