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ARBITRAGEM DOMÉSTICA E INTERNACIONAL ESTUDOS EM HOMENAGEM AO PROF. THEÓPHILO DE AZEREDO SANTOS COORDENADORES RAFAELLA FERRAZ JOAQUIM DE PAIVA MUNIZ COLABORADORES Ana Tereza Palharcs Basílio Antônio Carlos Estavas Torres Arnoldo Wald Carlos Augusto da Silveira Lobo Carlos César Borromeu de Andrade Carlos Eduardo Rangel de Menezes Côrtes Carmen Tibúrcio Eduardo Damião Gonçalves 'nu Balbino Gustavo Tcpedino J. A. Penalva Santos J. E. Carreira Alvim Joaquim de Paiva Muniz José Emílio Nunes Pinto José Gabriel Assis de Almeida José Maria Rossani Garcez Lauro Gama e SOIlla Jr. Luís Roberto Barroso Luiz Fernando Teixeira Pinto Luiz Olavo Baptista Pedro A. Baptista Martins Pedro Paulo Cristófaro Rafaella Ferraz Selma Ferreira Lemes Sergio Berrnudes Sidney Sandias PREFÁCIO FRANCISCO REZEK *** FORENSEgn °R Rio de Janeiro A694 Arbitragem doméstica e internacional: estudos cm homenagem ao prof. Theóphilo de Azeredo Santos / coordenadores Rafaella Ferraz, Joaquim de Paiva Muniz. — Rio de Janeiro: Forense, 2008. Inclui bibliografia ISBN 978-85-309-2696-0 1. Arbitragem c sentença. I. Ferraz, Rafaella. II. Muni; Joaquim de Paiva. 08-1710. CDU: 347.918 O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer for ma utilizada poderá requerer a apreensão dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da indenização cabível (art. 102 da Lei n°9.610, de 19.02.1998). Quem vender, expuser à venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, será solida- riamente responsável com o contrafator, nos termos dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores o importador c o distribuidor em caso de reprodução no exterior (art. 104 da Lei n°9.610/98). A EDITORA FORENSE se responsabiliza pelos vícios do produto no que conceme à sua edição, aí compreendidas a impressão c a apresentação, a fim de possibilitar ao consu- midor bem manuseá-lo e lê-lo. Os vícios relacionados à atualização da obra, aos conceitos doutrinários, às concepções ideológicas e referências indevidas são de responsabilidade do autor e/ou atualizador. As reclamações devem ser feitas até noventa dias a partir da compra e venda com nota fiscal (interpretação do art. 26 da Lei n° 8.078, de 11.09.1990). Reservados os direitos de propriedade desta edição pela COMPANHIA EDITORA FORENSE Uma editora integrante do GEN 1 Grupo Editorial Nacional Endereço na Internet: http://www.forense.com.br — e-mail: forense@forensocom.br Av. Erasmo Braga, 299— I° e 2° andares — 20020-000 — Rio de Janeiro — RJ Tel.: (0XX21) 3380-6650—Fax: (0XX21) 3380-6667 Impresso no Brasil Printed in Brazil G(/‘ â6c14 CAD r 8: J4.2 142eã. C34*e 400 100 4 ;66 IS edição —2008 @ Copyright Rafaella Ferraz e Joaquim de Paiva Munir CIP — Brasil. Catalogação-na-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. ÍNDICE SISTEMÁTICO Prefácio Apresentação Projeto de Lei de Mediação Obrigatória e a Busca da Pacificação Social , —Ana Tereza Palhares Basílio e Joaquim de Paiva Muni XI XIII 1 1. Considerações iniciais 1 2. A mediação no direito comparado 4 2.1. A experiência argentina 4 2.2. Mediação nos Estados Unidos da América 5 2.3. Mediação na Europa Continental 6 3. Projeto de Lei sobre a mediação • 7 3.1. Disposições gerais 7 3.2. Mediadores e co-mediadorcs 8 3.3. Mediação prévia 15 3.4. Mediação incidental 18 3.5. Audiência preliminar c alterações ao art. 331 do CPC 21 4. Conclusão 23 5. Bibliografia 23 Arbitragem — Estudo sobre a Resistência — Soluções —António Carlos Esteves Torres 25 O Direito Societário c a Arbitragem —Amoldo Wald 41 O Procedimento Cautelar Pré-Arbitral da_CCI — Carlos Augusto da Silveira Lobo ___.. 55 ' 1. Solução de emergências imprevistas na execução de contratos 55 2. O Regulamento de Procedimento Cautelar Pré-Arbitral da CCI 56 3. A cláusula de Procedimento Cautelar Pré-Arbitral 57 4. Algumas disposições mais importantes do regulamento 58 4.1. Poderes do Terceiro Ordenador 58 4.2. Resumo do procedimento 59 5. Natureza jurídica da cláusula de Procedimento Cautelar Pré-Arbitral 60 6. Natureza jurídica da Determinação Cautelar 62 A Solução de Controvérsias no Setor de óleo e Gás. A Tendência ao Uso de Meios menos Advcrsariais na Solução de tais Conflitos — Carlos César Borromeu de Andrade 65 358 Rafaella Ferraz NAVARRETE, Antonio M. Lorca e ESTAGNAN, Joaquin Silguero Estagnan. Derecho de arbitraje espelho! — Manual teorico — practico de jurisprudencia arbitrai espalda. Ma- drid: Dykinson, 1994. NFIERING NETTO, Carlos. "Jurisprudência da Corte de Arbitragem da CCI", in Revista de Direito Mercantil 85/72, 1992. PUCCI, Adriana Noemi (organizadora, obra coletiva). Aspectos atuais da arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 2001. ROSSAN1 GARCEZ, José Maria. A Arbitragem na Era da Globalização. Rio de Janeiro: Ed. forense, 1997. SOARES, Cuido F. S. Arbitragens comerciais internacionais no Brasil —Vicissitudes. São Paulo: Revista dos Tribunais, março 1989. STRANGER, trinca. Arbitragem Comercial Internacional, São Paulo: LTr Editora, 1996. . Comentários à lei brasileira de arbitragem. São Paulo: LTr, 1998. TÁCITO, Caio. "Arbitragem nos Litígios Administrativos", in Revista de Direito Adminis- trativo, 210, 1997. TAVARES GUERREIRO, José Alexandre. Fundamentos da Arbitragem do Comércio In- ternacional. São Paulo: Editora Saraiva. VALENÇA FILHO, Clávio. "Arbitragem c Contratos Administrativos", in Revista de Di- reito Bancário, do Mercado de Capitais e da Arbitragem, n° 8. WALD, Amoldo. "Algumas considerações a respeito da cláusula compromissoria firma- da pelos Estados nas suas Relações Internacionais", 111 Revista de Direito Bancário, do Mercado de Capitais e da Arbitragem, ano 5, outubro-dezembro de 2002, p. 283 e segs. WALD, Amoldo, CARNEIRO, Athos Gusmão, ALENCAR, Miguel Tostes de e DOURA- DO, Ruy Janoni. "Da Validade de Convenção de Arbitragem Pactuada por Sociedade de Economia Mista", in Revista de Direito Bancário, do Mercado de Capitais e da Ar- bitragem. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 5, n° 18, outubro a dezembro de 2002, p. 407 e segs. WALD, Amoldo, MORAES, Luiza Rangel de, WALD, Alexandre de M. O Direito de Par- ceria e a Lei de Concessões.? ed. São Paulo: Saraiva, 2004. AS PECULIARIDADES E OS EFEITOS JURÍDICOS DA CLÁUSULA ESCALONADA: MEDIAÇÃO OU CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM' Selma Ferreira Lemes Advogada. Consultora em Arbitragem. Mestre em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Doutora em Integração da América Latina pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades da Uni- versidade de São Paulo. Professora do GVLA e do FGV Management da Fundação Getúlio Vargas — São Paulo/Rio de Janeiro. Integra o corpo de árbitros de Câmaras de Ar- bitragem no Brasil e no Exterior e foi Membro da Comissão Relatora da Lei Brasileira de Arbitragem. Professor TheiSphilo de Azeredo Santos O Professor Theophilo de Azeredo Santos está vinculado à arbitragem no Brasil de modo tão estreito, que seria impossível dissociar a sua marca do Comitê Brasileiro da Câmara de Comércio Internacional — CCI, no Rio de Ja- neiro. Grande entusiasta da arbitragem, sempre se incumbiu em difundi-la em eventos e seminários por todo o Brasil, mesmo quando o instituto jurídico da arbitragem era visto como algo muito distante e de pouca utilidade no cenário interno, haja vista a legislação não prestigiar a sua utilização, fato que mudou radicalmente, com o advento da Lei n° 9.307, de 1996. Apesar de conhecer seu trabalho e vasta produção acadêmica de há muito, somente tivemos contato quando em 1990 retomei de um estágio na CCI emParis. A partir de então, tivemos o prazer de auxiliá-lo nas conferên- cias e simpósios da CCI em São Paulo, que sempre contaram com o apoio da 1 Palestra proferida na XXIX Conferência da Comissão Interamericana de Arbitragem Comercial — CIAC — e XXXI Assembléia Geral da Associação Interamericana de Câ- maras de Comércio, Rio de Janeiro, Hotel Copacabana Palace, 23.11.2004, com o título "Cláusula escalonada, mediação e arbitragem". O texto (inédito) foi ampliado e atualizado nesta edição. As Peculiaridades e os Efeitos Jurídicos da Cláusula Escalonada: Mediação... 361 360 Selma Ferreira Lemes Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP/CIESP, quando integrávamos o Departamento Jurídico das referidas entidades. Por sua iniciativa, tive um de meus primeiros trabalhos sobre arbitra- gem publicado no periódico do Sindicato dos Bancos do Rio de Janeiro, no início da década de 90, fato que recordo com muito orgulho. Ademais, sempre que nos encontramos nos simpósios de arbitragem, carinhosa e respeitosa- mente, relembra-me tal fato. Por tudo que o Professor Theóphilo fez e faz em prol do desenvol- vimento da arbitragem no Brasil, ressalto ejue é Com grande satisfação que , participo desta distinta e merecida hontenagem.z Sumário: .1.0 Sistema Amigável de Solução deDisputas e as cláu- sulas escalonadas. 2. A investidura do mediador ou conciliador e do árbitro. 3. O precedente affaire de Taba. 4. A redação da cláusula escalonada. 5. Efi- cácia contratual da cláusula escalonada. 6. Eficácia processual da cláusula escalonada. 7. Jurisprudência. 8. Conclusão. J. •O Sistema Amigável de Solução de Disputas e as cláusulas escalonadas No Sistema Amigável de Solução de Disputas, também denominado Alternativa Dispute Resolution —ADR,2 encontramos as formas que com- binam as técnicas da mediação ou conciliação prévias e, a seguir, a arbi- tragem, na eventualidade da mediação ou conciliação não redundar em acordo das partes. Cláusulas que prevêem essas modalidades conjugadas denominam-se "cláusulas escalonadas". Estas cláusulas estão presentes, com certa freqüência, em contratos de longa duração e complexidade, tais como os contratos de infra-estrutura, os contratos denominados de "chave na mão", contratos nas áreas de energia, gás e petróleo, em que o inadim- p 2 As ADRs represèntam um conjunto de técnicas -que surtiram nos EUA, a partir da "Pond Conference de 1976", para dar solução à crise craque se encontrava o aparato judicial nos EUA. Este movimento foi iniciado pelos setores empresariais e jurídicos. As ADRs podem ser definidas como todos os procedimentos que permitem resolver conflitos ou disputas extrajtidicialmente, de forma Paeífica e letal, reservando papel preponderante às partes no conflito. Cl'. TOltittSA, Virginia Pujadas. "Los ADR en Estados Unidos: Aspectos Destacables de su Rcgulación Jurídica", in Revista de la Corte Espaiiola de Arbitraje, vol. XVII, 2003, p. 73. Cf., no- âmbito interno, o abrangente estudo efettiadd pôr JoSé M. RõsSatii GARCEZ, Técnicas de Negociação - Resolução Alternativa de Conflitos: AIAS, Mádiação. Conciliação e Arbitragem, Rio de Janeiro, Lumen Jwis; 2002. Para -urna "visão da Mediação fio Brasil cf. BRA- GA NETO, Adolfo. Jornal Valor Etoilômico,. ediçõb-s de 14.09.2004, 17.09.2004 c 21.09.2004. pleniento eontratual repercute em cadeia nas demais contratações e sub- tontratações, sendo de todo oportuno prevê-las e estipulá-las. Nos editais de licitação para concessões no sistema de parcerias público-privadas, as CláuStilás escalonadas estão presentes, não obstante o caráter técnico do eoniitê de Conciliação ou mediação, quê se classificam, em alguns casos, cóino utà bOtfrils".4 À guisa de exeinplo, podemos citar o contrato da linha 4 dó metrô de São Paulo, o eontrato.para construção do sistema de disposição oceânica do Jaguaribe, em Salvador, e, em Minas Gerais, o contrato para construção da rodovia MG-50. A simbiose entre formas autocompositivãss e heterocompositivas está presente também nas legislações que regulam a arbitragem e no curso do procedimento, tais como a Lei brasileira, Lei n°9.307, de 23.09.1996, art. 21, § 4°, que estabelece que o tribunal arbitrai poderá, no inicio do pro- cedimento, tentar conciliar as partes homologando o acordo por sentença arbitrai (art. 28), a Lei espanhola de Arbitragem, Lei n°60, de 23.12.2003, que nó art.- 36 regula o acordo das partes no curso da arbitragem e a possi- bilidade de ser ditada sentença- arbitral por acordo,6 e, ainda, entre outras, a Lei interna- de arbitragem suíça; regulada no acordo cantonal denominado . . 3 Cf. José Emílio NUNES PINTO. OMeccrilisino Multi-Etapas de-Solução de -Contro-- véésias. in www.camarb.com.br e CONNERTY, Anthony. "The Role of ADR in the Resolution of International Disputes,'. in Arbitration International, vol. 12, 1:4755, , 1996. r 4 Cf. WALD, Arnold. "A Arbitragem contratual c os dispute boards", in Revista deArbii tragem e Mediação, 6:9/24, jul./set., 2005, e KOCIt Cristophcr. "Novo 'Regulamento da CCI relativo aos dispute boards", pp. 143-175 da ReVista especificara — 5 Cf. AZEVEDO, André Gomma de e SILVA, Cyntia de Carvalho e. "Autocomposi- - ção, processos construtivos c a advocacia: breves comentários sobre a atuação de ad- vogados em processos autocompositivos", in Revista do Advogado, Associação dos , Advogados de São Paulo - AASP, n°78, pp. 115-128, setembro 2006. Acentua Lhana Riberti NAZARETH que "a mediação vem para substituir o tratamento do problema através do conflito pelo tratamento do problema através do acordo; ou, dito de ou- tra maneira, vem para substituir a linguagem do déficit pela linguagem-dos récursás: Nutfia mediação bem-sucedida o acordo é construído-inteiramente pelas partes. O mediador é um catalisador de modificações; devolve às pessoas envolvidas a autoria de suas "vidas. Transforma-as em agentes do próprio destino" (Revista dó Advágado. AASP, n°78, p. 133, setembro 2006). 6 Cf. MANTILLA-SERRANO, Fernando. "A Nova Lei de Arbitragem na EsPanha", iii Revista Brasileira de Arbitragem. 2:109/122, abr./maio/jun./2004. Verificar a ver;' são integral da referida Lei na Revista de Arbitiageni e Mediação, 2:333/356, maio/ ago./2004. 362 Selma Ferreira Lemes As Peculiaridades e os Efeitos Jurídicos da Cláusula Escalonada: Mediação... 363 Concordata de 1969, ao dispor sobre a conciliação prévia, estabelece que este procedimento deve ser assimilado ao de arbitragem (art. 13, 2).7 No mesmo sentido os regulamentos de diversas instituições arbitrais prevêem a conciliação no bojo do processo arbitrai, como, por exemplo, o art. 26 do regulamento de arbitragem da Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional — CCI. Por oportuno, impende observar que na prática arbitrai se verifica, com certa freqüência, a elaboração de sentença por acordo das partes, 2. A investidura do mediador ou conciliador e do árbitro ' Note-se que estamos tratando da mediação e ao mesmo tempo no- meando também a conciliação. Ambas possuem peculiaridades que as di- ferenciam, pois o conciliador pode sugerir um acordo para as partes; já o mediador auxilia no sentido de que as próprias partes assim procedam. Todavia, do ponto de vista jurídico, tanto a mediação como a conciliação são formas de solucionar litígios fundadas no acordo das partes e conceitu- adas como procedimento pré-contencioso, que não sendo frutífero remete as partes à arbitragem, diante de cláusulas escalonadas.9 A possibilidade de o árbitro atuar como conciliador no curso da arbi- tragem ou do mediador ser investido como árbitro são questões polémicas, pois muitos entendem que o árbitro deve desempenhar a missão de con- ciliar as partes com cuidado, para evitar que o seu procedimento no curso da conciliação ou mediação venha a exteriorizar propensão a uma das par- tes e, com isso, demonstrar falta de imparcialidade ou deixar transparecer essa impressãoà outra parte. As legislações domésticas, geralmente, nada mencionam a respeito, conforme acentua Pietcr Sanders, em estudo com- parativo sobre as ADRs nos países de corrente romano-germânica. Cita, o referido autor, que no estado canadense de Albert.% a legislação expressa- mente estabelece que com o consentimento das partes o árbitro pode atuar 7 Cf. LALIVE, P.; PODRET, J. E c REYMOND. C. Le Droit del'Arbitrage Interne et limernational en Suisse. Lausanne: Payot Lausanne, p. 89, 1989. 8 A propósito, cf. nossos comentários "Dos Árbitros", Pedro B. MARTINS, Selma M. Ferreira LEMES e Carlos Alberto CAMONA, Aspectos Fundamentais da Lei de Ar- bitragem, Rio dc Janeiro, Forense, 1999, p. 284. 9 A partir deste tópico, para facilitação, a referência á conciliação serve à mediação ou vice-versa, não obstante a mencionada diferença conceituai entre os institutos, que para os fins deste estudo, neste momento, deixam de ser relevantes. como conciliador assistindo-as na obtenção de um acordo e, se não for alcançado, dar prosseguimento à arbitragem.'° No que concerne à mediação prévia e à posterior arbitragem, há regu- lamentos de instituições arbitrais que estabelecem expressamente vedação neste sentido, salvo disposição em contrário das partes, tal como o disposto no art. 6.3. do Regulamento da Câmara de Mediação e Arbitragem de São Paulo do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo — C1ESP; no art. 10 do Regulamento de Conciliação da Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional — CCI, e no art. 19 do Regulamento de Conciliação da Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento do Direito Comercial — UNCITRAL. Note-se que este cuidado e reticência de regulamentos de instituições de arbitragem ocidentais não são acompa- nhados pelas Câmaras ou Centros localizados no Extremo Oriente, em que a cultura da conciliação está mais arraigada e é efetivamente enaltecida. Neste sentido comenta R Sanders que o Regulamento do Centro de Arbi- tragem da "China International Economic and Trade Comission — CIE- TAC" concede total liberdade aos árbitros para assistir as partes na conci- liação e observa que, "no Oriente, um acordo obtido por uma conciliação evita que as partes sejam estigmatizadas como perdedoras. A probabilidade da continuação da relação amistosa de negócios depois que uma disputa é solucionada por conciliação é maior do que por arbitragem. Podemos aprender alguma coisa com esta atitude? No Extremo Oriente, conciliação e arbitragem são consideradas formas de processo combinado" (tradução livre). Ainda, a propósito da inconveniência do conciliador atuar também como árbitro, um precedente jurisprudencial americano do Estado da Fló- rida esclareceu: "O mediador, através de treinamento e experiência, apro- xima as partes de diferentes maneiras. Considerando que o mediador não decidirá a questão, tanto o mediador como as partes são livres para discutir a questão sem receios e conseqüências quanto a um acordo cm particular, em oposição ao litígio. Esta é uma das razões por que o mediador deve preservar e manter a confidencialidade de todo o procedimento da media- ção. Em contraste, o papel do juiz [árbitro] é decidir a controvérsia com justiça c imparcialidade, fundado na lei. Assim, aconselhamos e sugerimos 10 Cf. SANDERS, Peter. "ADR in Law Contries", in Arbitration. vol. 61, n° 1:36, feb./1995 c WIJNEN, Otto Witt. "ADR, The Civil Law Approach", in Arbitration, vol. 61, 1:38/42, feb./1995. 11 Op. cit., p. 37. 364 I' 4 .Selin;FerreiM.Limés . 2•0 2 r que a mediação seja deixada atis mediadores e.o julgamento, aos juízes [árbitros]"2 (tradução livre)..... e..'• • , Mas é importante salientar que 'esta não é tuna opinião.unânime ou mesmo Ma pois•mititas vezes O Medido:lotou conciliador, eS ra- zãoi de—suas habilidades.pessoaiS e confiança cliié aPaneinele depositam, 'pode-perfeitamente Seíindicado"com'o* arbitto. Pdi- oportuno, salientamos "que na dossSa prática arbitrai presenciamos, dal:freqüência, após as faseS das alegacõeS e respostas iniciais?* as partes com a ajuda inicial de mil hábil árbitr6pode-1n, com grande-probabilidade de êxito; conciliar-se e pôr Ífimi diàpbta pdirraio de um abordo, em especial ni área comercial. En- fitnireitere-se, Muito dependerá da liabilidadeb16 radiador, do .conciliador e do árbitro?' :2 •I • • :. • , todáVià:deve ser registrado 4tte existe diferetia de-énfoente da ma- téria entre os-países que perfilham o civil kw e o -Coininou ldiv, _pois en- gani° no SiStemâ do civillai.V"é perfeitamente O-as-Net ao juiz intervir e Stiaeitar debates Si toriiíde urn acordo, Propondo e Sugerindo írespeito, a postura -dõ jui±- do cànimon é.dé uma atitude-Malapassiva em ma- nteria processual. Coniefeito;Dohlinique Haschetrao exarar_ &ementários sobre á taci CCI 5.082; •Spéeificamente , uma 'Ordem Processual de 07.06.1998, a-qual á Tribunal Arbitrai conclamo-ti-e prbtrioveu negocia- ções de acordo entre as partes, aduz que "é geralmente aceitável, .na práti- ca da arbitragem internacional, quen árbitro possa sugerir a pasibilidade -de acordo de todas ou parte das questões, bem 'como áutorizado pelas partes participar das negociações de acordo ou sugerir os seus termos. Cotividar as partes para tentar e negotiarsuadiferenças faz parte do pa- liei ativo que b árbitro deve desempenhar ná 'direção dó prcicesSo. Neste sentido, poderia ser útil a colaboração 'dás co-áibitrás -em contato com as partes.qüe os indicarain; más desde que haja consentlinento das partes. Os -árbitra;, contudo; &venni .permanecer prudentes em prol-haver-o acordo das partes, em decorrência das diferentes tradições legais que têm enfo- ques próprios:Enquaritonnos sistema do civil laiv demanda-se ao juiz que ahl6re eártras•partaranpoSsibilidadé•dí acordo e reconciliação destas, t̀ ett: LIS!, • • _ 4- ' • • 12 Jurisprudência cda por Ladence STREET, "Mediation", Worldwide Fortim on lhe ArbitratiOn of. Iniellectu-alProperOP Disputes, Genebra, 1994, p. 256. 13 Cf. nossos contentários 'sobre a mediação cOmo .prácédimento preambular da arbitra- gem. MARTINS, Pedro .B.; LEMES: Selma M. Ferreira c CAMONA, Carlos Alberto. "Arbitragem Institucional e .Ad lloc", in Aspectos Fundamentais da Lei de Arbitra- gem. Rio de Janeiro: Forense, pp. 332/334, 1999. As Peculiaridades e os Efeitos Jurídicos da Cláusula Escalonada: Mediação... 365 o medrio-é visto cimo impróprio pára o juiz do cámmon law, durante o julgamento"" (tradução livre).. n.•• Saliente-se, por oportuno,' que o Código de Ética elaborado pela In- ternational Bar Association — IBA, para árbitros internacionais, estabelece no item 8 denominado "Participação em" propostas de acordos amigáveis" que "quando as partes o solicitarem, outeitarem uma•sugestão do Tri- bunal Arbitrai em tal sentido, o Tribunal em conjunto (ou o presidente do tribunal, quando for o caso) pode dirigir propostas de acordo às partes simultaneamente, preferencialmente na presença .dos demais.-Ainda que qualquer procedimento seja possível mediante acordo das partis, o Tribu- nal:Arbitral deve adverti-las que é desaconselhável que um árbitro discuta, com uma das partes e na ausência da outra, os termos de um acordo, já nque normalmente isto poderá determinar que o arbitro implicado na discussão seja desqualificado para toda e futura intervenção na arbitragem"?' • c•-••:rn 'I . • ' 3:0 precedefite affaire de Taba _ • ' A doutrina internacional ressalta interessante e original procedimento estipulado para dirimir controvérsia na área de Direito Internacional Públi- co, entre o Egito e Israel; referente à estipulação da fronteira comum no Si- nai, conhecido como affaire de Taba.,0 compromisso assinado pelo Egito e 'porlsrael instituiu nonSeio do Tribunal Arbitrai uma Comissão (Câmara de Conciliação) incumbida de "explorar as possibilidades de um- acordo". O Tribunal Arbitrai deveria ser composta pôr' dois árbitros naciánais eum neutro (de outra nacionalidade)," que seria o presidenie•do.Tribunal,•no caso específico o professor e presidente da Corte de CaSsação•ftancesa, Pierre •Bellet. Foram formados dois procedimeítiis 'paralelos: iCâniára de Conciliação e o Tribunal Arbitrai. O Tribunal habilita o presidente dá Câmara de Conciliação a ouvir as partes, separada ou' conjuntainente, e efetuar recoinéhações. Em nenhuma hipótae,-as•recoinerulaçõá oui ou- •• . • 1 1 /41 Cl 14 v Dentinique HASCHER, Collection of Procedural Decisions in ICC Arbtration 1993- ,'g1996, The Hague, Kluwer, 1997, p. 76. 15-r Selma M. Ferreira LEMES, "Árbitro. O padrão de cOndutaldear, in Arbitragem, lei —a— brasileira e a praxe internacional, Paulo Borba CASELLA (org.), São Paulo; LTr, 2° I, o. ed., 1999. p. 252.- • - 16 r Quanto aos conceitos de neutralidade e imparcialidade do árbitro e sua não-equiva- - lenda, cf. nosso livro Árbitro. Princípios da Independência e da Imparcialidade, São PauloiLTr, 2001; pp. 63-72. , L t. tL4 em 1 I e - 'tf 366 Selma Ferreira Lemes As Peculiaridades c os Efeitos Jurídicos da Cláusula Escalonada: Mediação... 367 tras sugestões efetuadas perante a Câmara de Conciliação poderiam ser divulgadas ao Tribunal Arbitrai e as partes não poderiam utilizá-las no pro- cesso de arbitragem. Ao final do prazo estipulado, o presidente da Câma- ra de Conciliação informou ao Tribunal Arbitrai que não poderia efetuar nenhuma recomendação de acordo, apesar de seus esforços em encontrar uma solução razoável aceita pelas partes. A sentença arbitrai foi expedida em 1988." 4. A redação da cláusula escalonada A redação das cláusulas escalonadas deve observar adequadainen- te os critérios e parâmetros a serem adotados, tanto na fase de mediação como na eventualidade deste procedimento autocompositiVo não ser exito- so, instaurando-se a arbitragem imediatamente, sem objeções. Neste sentido, seria de boa cautela que a redação da cláusula estipu- lasse como esse processo de mediação ou conciliação deve iniciar, transcor- rer e finalizar, como prazos bem definidos, haja vista as repercussões que possam advir, pois em vez de facilitar a solução da controvérsia, restando expedita a via arbitrai, pode a ela representar um embaraço, como a seguir trataremos ao expor a jurisprudência interna e comparada a respeito. Note-se que, não obstante a inclinação das partes às modernas for- mas autocompositivas de solução de conflitos e de patificação social, bem como atentando às vantagens econômicas em evitar os custos de uma de- manda judicial ou arbitrai, poderão as partes, "em vez de estar adquirindo um passe para o paraíso, ficarem presas numa ratoeira", tal como acentua Marc Blessing." 17 Cf. Prosper WEIL, "Observations sur la sentence arbitrale dais 1' affairc de Taba", in Etudes offertes à Pierre Beijei, Paris, Litec, 1991, pp. 493-520. A sentença arbitrai, de 29 de setembro de 1988, foi publicada em International Legal Materiais 1988, p. 1.421 e extratos no Journal da Droit International, 1989, p. 587. 18 Cf, Marc BLESSING, "The Mediation Rules of WIPO and Others: A Ticket to Para- dise or into a Better Mousetrap", Conference on Redes for Institutional Arbitration and Mediation, Genebra, 20.01.1995, Organizaç;lo Mundial da Propriedade Intelec- tual — OMP1, pp. 119-135. Argumenta Blessing, quanto à conveniência e oportuni- dade em utilizar as ADRs e a mediação, indagando se seriam apenas uma passagem pré-arbitral; uma armadilha para perder mais tempo e dinheiro; se o jurista sueco já falecido e emérito estudioso da arbitragem, Dr. Gillis Wetter, estaria certo quando disse que "ADR is tlw stuffdreams are made of nothingelse", ou, ao contrário, estaria revelando uma nova era pós-arbitral no mundo; ou seria um paraíso para aliviar as Quando as partes num contrato estabelecem as cláusulas escalonadas o fazem imbuídas das melhores intenções, no sentido de preservar a manu- tenção de um bom relacionamento comercial. Mas em algumas situações não se trata de cláusulas escalonadas. Assim se verifica quando as partes salientam que, surgida a controvérsia, envidarão seus melhores esforços i:sara solucionar a controvérsia amigavelmente c, não sendo possível, insti- tuirão procedimento arbitrai, regulando, em seguida, a arbitragem. A pro- posição de solução amigável, tal como acima mencionada, mesmo quando fixa prazo para que as partes tentem uma solução amigável, representa um procedimento informal e de condução de uma simples negociação, consi- derando-se verificada, sem maiores formalidades, com o início de trocas de correspondências, com atas de reuniões entabuladas para esse fim, in- clusive envolvendo altos escalões da empresa, com o objetivo de alcançar solução para o dissenso. Neste exemplo, a forma aberta e genérica em que foi redigida, não se pode dizer que representa uma cláusula escalonada, mas exterioriza procedimento normal e habitual de negociação, não de- mandando maiores formalidades, além da demonstração de tentativa de negociar e solucionar o conflito, conforme acima mencionado. Assim, não atingindo as partes o Consenso esperado, dá-se o passo seguinte: inicia-se a arbitragem. No mesmo sentido representa uma mera declaração de intenção indi- car as regras de ADRs da CCI, na forma opcional ("... as partes poderão a qualquer momento e sem prejuízo de outros procedimentos procurar solu- cionar qualquer disputa surgida ou em conexão com o presente contrato, de acordo com as Regras de ADR da CCI"). Todavia, quando as partes estabelecem no contrato uma cláusula es- calonada, nomeando que, surgido um conflito, as partes submeter-se-ão aos procedimentos prévios distintos de mediação ou conciliação e poste- riormente à arbitragem, surge a questão quanto às repercussões jurídicas dores sofridas numa contenda que percorreu um doloroso caminho na arbitragem? No decorrer de sua exposição o referido palestrante analisa as diversas formas de ADRs e salienta que todos os procedimentos são oportunos e podem ser utilizados na solução de disputas, enaltecendo as experiências exitosas verificadas nos Estados Unidos. Re- fere-se à importância das ADRs em contratos de longa duração, tais como os contratos de construção, joint ventures, contratos de fornecimento de longa duração em que se devem preservar um bom relacionamento comercial. Conclui que o desenvolvimento da mediação, em oposição à disputa litigiosa (inclusive a arbitragem), constitui uma nobre tarefa a ser desenvolvida. 368 Selma Ferreira Lemes , As Peculiaridades e os Efeitos Jurídicos da Cláusula Escalonada: Mediação... 369 desta cláusula prévia de conciliação ou mediação, para indagar se ela faz nascer uma obrigação inafastável de instaurar o processo de mediação ou conciliação, notadamente em decorrência da lealdade e boa-fé contratual. Neste passo, podem ser formuladas as seguintes questões: uma cláu- sula de mediação prévia teria efeito vinculante? Seria uma mera declaração de intenção? Como considerar seu inadimplemento? As partes estariam dela liberadas para iniciar o procedimento arbitral? Seria considerada urna simples disposição contratual e a sua inobservância poderia representar ressarcimento por perdas e danos? Poderia pressupor que as partes dela desistiram quando uma das partes inicia procedimento arbitral? Estas indagações demonstram a complexidade da matéria, com re- percussões no direito obrigacional, interpretado à luz da cláusula geral da boa-fé e da lealdade contratual, que na legislação nacional, com a vigência do Novo Código Civil de 2002, atinge sua "quinta-essência" no artigo 113 ("Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua cdlebração"). Também não se pode deixar de conside- rar e analisar a matéria no enfoque de se privilegiar e enaltecer as formas extrajudiciais de solução de conflitos, no contexto de facilitação de "acesso à Justiça" e da eficiência da prestação jurisdicional (art. 5°, LXXVI10.19Destarte, indaga-se: até que ponto uma cláusula prévia de conciliação ou mediação impediria uma parte de iniciar imediatamente um procedimento arbitrai ou um processo judicial? Com efeito, a matéria deve ser analisada no contexto contratual •e processual, a seguir exposto. 5. Eficácia contratual da cláusula escalonada Uma cláusula prévia de mediação ou conciliação pode ser analisa- da quanto à sua eficácia contratual e estar constituída de duas obrigações. Uma obrigação de resultado quanto à sua origem, ou seja, faz nascer a necessidade de se instituir um procedimento de mediação, determinando que as partes sejam pró-ativas na indicação do mediador ou conciliador, que disponham sobre as regras do procedimento de conciliação, que dili- 19 As formas extrajudiciárias de solução de controvérsias são, na acepção de Mauro Cappelletti, integrantes da "terceira onda" renovatória das normas processuais e do efetivo acesso à Justiça. Cf. CAPPELLETTI, Mauro. "Os Métodos Alternativos de Solução de Conflitos no Movimento Universal de AceSso à Justiça", in Revista de Processo, 74:82197 (trad. José Carlos Barbosa Moreira). genciem no sentido de auxiliar o mediador ou conciliador, de fornecer os documentos necessários, de designar reuniões de trabalhos etc. E, uma vez instituída a mediação ou a conciliação, procurar com lealdade e boa-fé Uma solução para o conflito que deriva do contrato principal, tendo uma atitude construtiva, representando uma obrigação de meio. A não-obser- vância em se submeter à mediação ou conciliação prévias seria conside- Fada inadimplemento contratual, gerando; em conseqüência, a responsa- bilidade civil. Não obstante a conceituação contratual quanto aos efeitos da cláusu- la escalonada, há de ser notado que seus reflexos práticos não atingem o esperado e pactuado pelas partes, quando não observado por elas. Assim, a solução encontrada para enaltecer as formas autocompositivas e dar eficá- cia à cláusula escalonada é reconhecer seus efeitos processuais.2° 6. Eficácia processual da cláusula escalonada A outra forma de interpretar a cláusula de mediação ou conciliação prévias é no sentido de que ela decorre da vontade das partes, analisada na sua perspectiva consensual, que representa o equilíbrio de interesses bem cumprido e em conceder a eficácia máxima para a cláusula de conciliação ou mediação prévias. Ao conceder à cláusula escalonada efeito processual, ao conceituar a verificação da mediação ou conciliação como um pressu- posto para a ação ou a arbitragem, o juiz ou árbitro não poderia receber uma demanda sem antes as partes terem se submetido a um procedimen- to de mediação e conciliação, concedendo à clausula escalonada eficácia positiva. Esta forma de interpretação considera que a cláusula escalona- da teria os mesmos efeitos de uma convenção de arbitragem, no sentido de impor às partes a mediação ou conciliação prévias e retirar do juiz ou 20 O judiciário inglês tem dado importantes passos no sentido de promover as ADRs paralelamente ao sistema judicial, incentivando o seu uso. Cf. CONNERTY, Anthony. "The Role of ADR in the Resolution of International Disputes", /PI Arbitration In- iernational, vol. 12, 1:4755, 1996. Pode-se dizer que o movimento de incentivo às ADRs também se manifestam nos países latino-americanos, tais como na Argentina, ao prever a mediação prévia como condição da propos itura de ação judicial para deter- minados casos, e, no Brasil, atualmente a matéria é objeto de projeto de lei que trata da mediação extrajudicial e judicial (PL 94/2002, aprovado no Senado em 12.07.2006). A propósito, quanto as reformas operadas no direito processual civil brasileiro, cf. D1NAMARCO, Cândido Rangel. Nova Era do Processo Civil. São Paulo: Malheiros, 2003, pp. 11-21. As Peculiaridades e os Efeitos Jurídicos da Cláusula Escalonada: Mediação... 371 370 Selma Ferreira Lemes árbitro sua competência para analisar a questão (eficácia negativa)." Ou seja, a mediação (ou conciliação) seria pressuposto' ao exercício da ação (judicial) ou instituição da arbitragem. Toda e qualquer renúncia ao pro- cedimento de conciliação ou mediação prévias só seria possível mediante renúncia expressa de ambas as partes. Destarte, verifica-se que, pela corrente que considera a cláusula es- calonada como de eficácia contratual, a não-observância do pactuado seria sancionada como inadimplemento contratual, podendo gerar o ressarci- mento equivalente, ou a aplicação de cláusula penal estipulada no cohtra- to. Por outro lado, a classificação da cláusula escalonada como de eficá- cia processual determina o envio das partes pelo juiz ou árbitro à prévia mediação ou conciliação, mesmo que os resultados posteriores não sejam positivos c as partes não alcancem um consenso. 7. Jurisprudência No âmbito nacional pode-se invocar a experiência pregressa da le- gislação trabalhista brasileira, em que para instaurar dissídio coletivo há 21 Cf. Pedro Batista MARTINS. "O Poder Judiciário e a Arbitragem — Quatro Anos da Lei n° 9.307/96 (4' e última parte)", in Revista de Direito Bancário, do Mercado de Capitais e da Arbitragem, I 3:350/374, 2001 e LEMES, Selma M. Ferreira. "Cláusulas Arbitrais Ambíguas e Contraditórias c a Interpretação da Vontade das Partes", is, Re- flexões sobre Arbitragem—In memoriais, do Desembargador Cláudio flanna de Lima. MARTINS, Pedro Batista e GARCEZ, José M. Rossani (orgs.). São Paulo: LTr, 2002, pp. 191/192. 22 Analogicamente valemo-nos do conceito de "pressuposto processual" previsto no direito processual civil.. Vale recordar, conforme acentua TI4E0DORO JÚNIOR, Humberto, que não se confundem os pressupostos processuais com as condições da ação. "Os pressupostos são aquelas exigências legais sem cujo atendimento o pro- cesso, como relação jurídica, não se estabelece ou não se desenvolve validamente. E, em conseqüência, não atinge a sentença que deveria apreciar 'o mérito da causa. São, em suma, requisitos jurídicos para a validade e eficácia da relação processual. Já as condições da ação são requisitos a observar, depois de estabelecida regulamente a relação processual, para que o juiz possa solucionara lide (mérito). Os pressupostos são dados reclamados para a análise de viabilidade do exercício do direito de ação sob o ponto de vista estritamente processual. Já as condições da ação importam o cotejo do direito de ação concretamente exercido com a viabilidade abstrata da pretensão de direito material. Os pressupostos, em suma, põem a ação em contato com o direito processual, e as condições de procedibilidade põem-na em relação com as regras do direito material" (Curso de Direito Processual Civil. 37° ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, vol. I, pp. 54-55). a necessidade de exaurimento da fase 'negociai, por imperativo constitu- cional (art. 114, § 2°, redação da Emenda Constitucional n° 45/2004). O Supremo Tribunal Federal, reiteradamente, reforça o referido preceito constitucional, tal como verificado no seguinte julgamento em Agravo de Instrumento: "CONSTITUCIONAL. TRABALHO. AÇÃO COLETIVA. NEGOCIAÇÃO PRÉVIA. CE, árt. 114, § 2°, I. O exaurimento das tratativas negociais é requisito indispensável à propositura da ação coletiva. CF art. 114, § 2°. II — R.E. Inadmitido. Agravo não provido."23 Note-se, no mesmo sentido, que o Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho — TST, no art. 310, esclarece que somente após frus- trada total ou parcialmente a autocomposição de interesses coletivos, em negociação promovida diretamente pelos interessados, ou mediante inter- mediação administrativa do Ministério do Trabalho, poderá ser ajuizada a ação de dissídio coletivo." Por outro lado, quando estamos diante de conflitos individuais, fo- ram instituídas as Comissões de Conciliação Prévia (Lei n° 9.958, de 12.01.2000), com a finalidade de tentar a conciliação prévia das partes, antes da propositura de demanda judicial. Porém, é discutível se esta conci- liação prévia seria umafaculdade ou um dever, sendo que a jurisprudência se inclina no sentido de que a conciliação prévia não é pressuposto ao exer- cício do direito de ação, garantido pelo art. 5°, XXXV, da CF, salientando que não existe cominação na lei que penalize o empregado que assim não proceder. Ressalta, ademais, que a tentativa de conciliação efetuada pelo Juiz do Trabalho atende ao objetivo legal." 23 STF, relator Mim Carlos Velloso, Segunda Turma, Al 166962 AgR/RS — Rio Grande do Sul, j. em 30/04/1966, votação unanime. Saliente-se que na ficha processual deste acórdão há a identificação de sete idênticos precedentes julgados pelo STF. 24 Cf. wwsv.tst.gov.br/ASCS/dissidio.htm. 25 Cf. TRT 2' Região, Recurso Ordinário em rito sumaríssimo;relatora Maria Apare- cida Duenhas, Acórdão n° 200010371740, processo n°20010255944, 6' Turma, j. em 26.06.2001 c TRT 2' Região, Recurso Ordinário, relatora Tânia Si Q. de Mo- rais, Acórdão n° 20040412681, 'processo n° 03225-2001-381-02-00-3, 5° Turma, j. em 10.08.2004. Quanto à conciliação em juízo, experiência importante é verificada em Nova Iorque, "onde o juiz que julga o caso não é o mesmo que tentou conciliá-lo. Isso evita que se obtenha a aquiescência das partes apenas porque elas acreditam que o resultado será o mesmo depois do julgamento, ou ainda porque elas temem incorrer no Pondere-se que, não obstante as peculiaridades que envolvem as questões laborais, por analogia, não deixa de ser interessante invocá-las nas áreas cível e empresarial, haja vista a questão permanecer em aberto, ou seja, o efeito vinculante ou não da mediação prévia à arbitragem. Ade- mais, saliente-se, em matéria de lege ferenda não podemos olvidar que o projeto de lei sobre mediação que tramita no Congresso Nacional (PL 94/2002), com as alterações efetuadas no Senado, prevê a mediação pré- via obrigatória, para determinadas matérias, no âmbito judicial (mediação incidental).26-" Com efeito, parece-nos igualmente importante verificar como a dou- trina e a jurisprudência comparada enfrentam a questão da obrigatoriedade ou não da conciliação ou mediação prévias à instituição da arbitragem.2" Na pesquisa jurisprudencial empreendida encontramos precedentes em ambos os sentidos. Com efeito, em dois julgados oriundos da Corte de Cassação francesa (P Câmara Civil) em que foram partes Clinique du Morvan v. Vermuseau, julgamento em 23.01.2001, e SNEP e/os v. SNAM et SPEDIAM, julgamento em 06.03.2001, a cláusula de conciliação prévia foi considerada como mera disposição contratual, sendo que a inobservância ressentimento do juiz", CAPPELLETTI, Mauro e GARTH, Briant. Acesso à Justiça, Porto Alegre: Sergio Fabris, p. 86, 1988 (trad. Ellen Gracic Northfleet). 26 "Art. 34. A mediação incidental será obrigatória no processo de conhecimento, salvo nos seguintes casos: I - na ação de interdição; II - quando for autora ou ré pessoa de direito público e a controvérsia versar sobre direitos indisponíveis; III - na falência, na recuperação judicial e na insolvência civil; IV - no inventário e no arrolamento; V - nas ações de imissão de posse, reivindicatória e de usucapião dc bem imóvel; VI - na ação de retificação de registro público; VII - quando o autor optar pelo procedi- mento do juizado especial ou pela arbitragem; VIII - na ação cautelar; IX - quando na mediação prévia,realizada na forma da seção anterior, tiver ocorrido sem acordo nos cento e oitenta dias anteriores ao ajuizamento da ação." 27 Cf. ANDRIGHI, Fátima Nancy. "Mediação - Um Instrumento Judicial para a Paz Social". in Revista do Advogado. AASP, n°87, pp. 134-137, setembro 2006. Sobre o referido projeto de lei, verificar SANTOS, Lia Justiniano dos. "A Introdução da Me- diação no Judiciário Paulista através do Setor de Conciliação do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo", in Revista do Advogado. AASP, n°78, pp. 138-144, setembro 2006. Também, BACELLAR, Roberto Portugal. "A Mediação no Contexto dos Mo- delos Consensuais de Resolução de Conflitos", in Revista de Processo, 95:122/133. 28 Cf. COOLEY. John W. e LUBET, Steven. "Advocacia de Arbitragem", Brasília: UnB, p. 33, 2001 (trad. René Loncan). não violaria nenhuma norma de ordem pública, bem como que não havia sanção pela violação do preceito contratual e que não impediria o recebi- mento da ação judicial." Entretanto, nota-se uma propensão majoritária em priorizar a força vinculante das obrigações contratuais, inclusive em homenagem ao princí- pio da boa-fé contratual e do pacta sunt servanda," bem como a tendência moderna em privilegiar as A DRs. Neste sentido há dois precedentes, (a) um da Corte de Cassação francesa (r Câmara Civil) Société Polyclinique des Fleurs v. Peyrin, julgamento em 06.07.2000, e, (b) o outro, da Alta Corte da Inglaterra e do País de Gales (Corte Comercial), Cable&Wireless Plc v. IBM United Kingdom Ltd., julgamento em 11.10.2002,3' que enviaram as partes ao processo de conciliação ou mediação previamente acordados, estabelecendo que a violação de um dever contratual é suscetível de exe- cução. Assim, ambas as Cortes entenderam que os respectivos processos judiciais (não havia, no caso, cláusula de arbitragem) ficariam suspensos enquanto as partes se submetessem aos processos de ADRs. (a) No precedente francês a Corte de Cassação, Câmara Comercial, em 28 de novembro de 1995, decidiu reformular a decisão proferida pela Corte de Apelação d'Aix-en-Provence, que admitira a ação judicial, não obstante a cláusula de conciliação. Para a Corte de Cassação, a renúncia te- tia que ser expressa e não tácita, a ponto de se entender que com a proposi- tura da demanda judicial houve a renúncia à conciliação." Em 1998, a Cor- te de Apelação de Nitnes, em demanda das Partes referidas, considerou que 29 Revue de L'Arbitrage, 4: 753/764, 2001, comedirias de Charles Jarrosson. 30 Cf. nossas anotações sobre o princípio jurídico da boa-fé in "Os Princípios Jurídi- cos da Lei de Arbitragem," MARTINS, Pedro Batista; LEMES, Selma M. Ferreira e CARMONA. Carlos Alberto. Aspectos Fundamentais da Lei de Arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 1999, pp. 81-88. No mesmo sentido, José Emílio Nunes PINTO. cláusula compromissória à luz do Código Civil". 'Disponível em: www.ccbc.org.br artigos. 31 Cf. os comentários ao referido precedente efetuado por VEEDER, V. V. Rente de 'Arbitrage, 2:537/541, 2003. A cláusula que estipulava a submissão prévia à ADR tinha a seguinte redação: "Se a dificuldade não for solucionada pela via de negocia- ções (entre os dirigentes), as partes se esforçarão para solucionar á diferença de boa-fé por meio de um procedimedo de ADR recomendado pelo Centro de Resolução de Disputas. No entanto, o fato de recorrer a tal processo não impedirá as partes (...) de iniciar um processo.- O Centro para a Solução Efetiva de Disputas (CERD) é entidade inglesa que se dedica à mediação. Verificar-Cm www.cedr.co.uk. 32 Revim de l'Arbitrage, 4:614/619, 1996, comentários de Charles iarrosson. 372 Selma Ferreira Lemes As Peculiaridades c os Efeitos Jurídicos da Cláusula Escalonada: Mediação... 373 As Peculiaridades e os Efeitos Jurídicos da Cláusula Escalonada: Mediaçâo... 375 374 Selma Ferreira Lemes a conciliação prévia era pressuposto para a ação judicial e, em 06.07.2000, a Corte de Cassação, 26 Câmara Civil, confirmou o entendimento da Corte de Apelação. Com efeito, as partes, nesta contenda que surgiu em 1991, ficaram 10 anos discutindo se a conciliação estipulada era uma simples declaração de intenção ou uma efetiva disposição contratual executável, instaurando, desta forma, um "contencioso parasita".33 Sublinhe-se que a doutrina francesa, na pena de Charles Jarrosson, critica a posição confli- tante entre a la e 28 Câmara da Corte de Cassação, esclarecendo sobre a conveniência em harmonizar a questão." (b) Na jurisprudência inglesa, até o advento da decisão menciona- da, a presença de uma cláusula escalonada num contrato era considerada de aplicaçãoduvidosa e o efeito no direito inglês quanto ao agreement to agree era considerado desprovido de valor contratual. Assim, a doutrina relata o precedente, caso Paul Smith Ltd v. H&S Int. Holding Inc., de 1991, em que foi decidido que uma cláusula de ADR "não cria nenhuma obriga- ção jurídica suscetível de ser sancionada pelos tribunais", no qual foi cita- do o precedente Fairbairn v. Tolaini da Corte de Apelação, de 1975. Com efeito, alterando totalmente a linha anterior, o julgado de 2002 rejeitou a argumentação de Cable & Wireless, no sentido que a referência à ADR não teria um verdadeiro valor contratual, deduzindo-se que a submissão de uma demanda perante um processo de ADR não necessariamente deveria ser operacionalizada. No caso, conforme acima referido, a Corte Comer- cial inglesa decidiu que a vontade das partes em recorrer ao processo de CERD não era totalmente "incerto ou impreciso" e que se as partes expres- saram verdadeiramente a vontade de a ele recorrer, toma-se uma obrigação à qual se deve conferir vinculação contratual exeqüível." Em outro precedente francês, o efeito vinculante da cláusula de con- ciliação foi discutido sob a ótica da prescrição. Decidiu a Corte de Cassa- ção, Câmara Mista, no caso Poiré v. Tripiet: em julgamento realizado em 14.02.2003, que o processo de conciliação prévia suspendia o curso da prescrição.36 A presença de clausula de conciliação prévia e as medidas de urgência também foram decididas na jurisprudência francesa no caso SCM Port-Royal v. Pebay et,Samper, em que a Corte de Apelação de Paris (146 33 Reme de 1 'Arbitrage, 4:749/764, 2001 e 2:406/416, 2003, comentários de Charles Jarrasson. 34 Op. cit., 752. 35 Revue dei 'Arbitrage, 2, p. 537/8, 2003, comentários de V. V. Veeder. 36 Reme de I 'Arbitrage, 2: 403/416, 2003, comentários de Charles Jarrosson. Câmara A) em julgamento de 23.05.2001, estabeleceu que a existência de cláusula preliminar e obrigatória de conciliação não excluía a possibilidade de propositura de medida de urgência perante o Judiciário." Importa salientar, neste sentido, que a Lei-Modelo da UNCITRAL sobre Conciliação Internacional, no art. 13, dispõe sobre a propositura de demanda judicial e que tal fato não constitui renúncia ao acordo de recorrer ao procedimento de conciliação. No art. 4°, em nota de rodapé, dispõe a Lei-Modelo de Conciliação Internacional quanto à possibilidade de os Estados tratarem nas legislações internas sobre a prescrição." Esta foi a linha perfilhada pelo Projeto de Lei brasileiro de mediação (PL 94/2002), art. 35: "Nos casos de mediação incidental, a distribuição da petição inicial ao juízo interrompe a prescri- ção, induz litispendência e produz os demais efeitos previstos no art. 263 do Código de Processo Civil. § 1° Havendo pedido de liminar, a mediação terá curso após a respectiva decisão. § 2° A interposição de recurso contra a decisão liminar não prejudica o processo de mediação." Em outro precedente oriundo da Corte de Cassação francesa, em que foram partes Negrev. Société Vi vendi, julgamento em 28.01.2003, em con- trato que previa cláusula compromissória e uma das partes ajuizou deman- da judicial, por proposta do juiz, as partes foram enviadas e aceitaram a mediação judicial por mediador indicado pelo juízo, salientando que tal fato não implicaria a renúncia à clausula arbitral." 8. Conclusão Em conclusão, aferimos que as cláusulas escalonadas, que combinam a mediação ou conciliação e a arbitragem, são instrumentos eficazes para solucionar conflitos que surjam em contratos. As cláusulas escalonadas de- vem observar redação adequada e precisa, que reflita a verdadeira intenção das partes. Neste sentido, não se deve confundir uma cláusula que externe simples atividade negociai ou a intenção de envidar esforços conjuntos para obter uma solução comercial aceitável com a cláusula efetivamen- te escalonada, em que a conciliação ou a mediação esteja perfeitamente 37 Idem, pp. 405-416. 38 Cf. Cuide to Enactment and Use of lhe UNCITRAL MODEL LAW, 2002, Parte II, § 48, p. 31. Disponível em http://www.uneitralorg/pdf/english/texts/arbitration/m1- cone/m1-conc-e.pdf. 39 Reme de I 'Arbitrage, 4: 1337/1340, 2003, comentários de Cécile Legros. 376 Selma Ferreira Lemes definida como etapa pregressa à instauração da arbitragem. Em qualquer caso, impõe-se a estipulação de prazos definidos para que as partes possam adotar as providências necessárias para solucionar o conflito, sem maiores delongas. A jurisprudência compilada demonstrou as vacilações 'e incertezas reinantes quanto ao efeito vinculante da cláusula éscalonada. Com efeito, para evitar a instauração de um "contencioso parasita", que discuta a ne- cessidade ou não de prévia mediação ou conciliação à demanda judicial ou arbitra!, que venha abordar finalmente sobre o mérito da controvérsia, tal comó relatado no exemplo 'da Polyclinique des Fleurs, que fez com que os postulantes percorressem "não uma via de flores, mas um caminho de espinhos" por 10 anos, mostra-se oportuno dispensar à cláusula escalonada redação precisa e que externe a efetiva intenção das partes, seja solucio- nando o conflito por composição amigável, seja por arbitragem. Do ponto de vista académico, a discussão quanto à natureza jurídica da cláusula escalonada e seus efeitos, mostra-se campo interessante para estudo, bem como as implicações decorrentes. Por fim, salientamos que ao nosso sentir o procedimento prévio de mediação ou conciliação atrelado à arbitragem (cláusula escalonada) tem: a) o condão de interromper a prescrição; b) não é fator impeditivo de ob- tenção de medidas de urgência no Judiciário; e c) constitui litispendência, posto que, neste caso, a mediação (ou conciliação) é sustentáculo da cláu- sula de arbitragem. 00000001 00000002 00000003 00000004 00000005 00000006 00000007 00000008 00000009 00000010 00000011 00000012
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