Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
POLfTICA Autor: Arist6teles Tradur;iio: Ant!'lllio Campelo Amar:o~l e Carlos Gomes Coh:c:,-IIc: Vega Universidade/Ciencias Socials oJ Politicas Direc,,:iio de coleCI;iio: Jofto Bettencourt da Camara ?rcfricio e revisiin cientifica: R. M. Rosado Fernandes !ntrodur;clo: Mendo Castro Hcnrique3 indice~-: Manuel Silvestre © Vega (1998) Direitos reservados em lingua portuguesa por Vega, Limit:J.da Sem autori:zar;iiu expressa do editor niio e permitida a reprodUI;iio parcial 011 total desta obra desde· que tal reprodur;iio niio decorra das finalidades especificas da divulgar;iio e da critica. Ediror: Assfrio Bace[ar Capa: J. Machado Dias Fotocompusiriiu, Fotolitos e Montrlgem: CoP.>ino & Neto- Gabinete de Fotocomposi<;:ilo, Lda. ISBN: 972-699_-561-2 Dep(Jsiro Legal: 124395/98 lmpressiio e Acabamento: FERGRAFICA- Artes Graficas, S.A. ARISTOTELES POLITIC A ED.TI;iio BILINGUE NOTA PREVIA Joiio betlencourt da Cti.mara I.S.C.S.P.! Univcrsidadc TC..:nica de Lisboa PREF ACIO E REV! SAO LITERARIA Raul M. Rosado Fernandes F.L./ Universidade Cl:issica de Lisbon INTRODUc;Ao E REVISAO CIEN'!'f.FJCA Mendo Castro Henriques Gepolis I Univcrsidade Cat6lica Portugucsa TRADU<;:AO E NOTA.S AntOnio Campe!o Amaral e Carlos de Carvalho Gomes F. C. H. e F.T.I Universidade Cat6!io;a Portuguesa INDICES DE CONCEITOS E NOMES Manuel Silvestre Gepolis I Universidade Cat6\ica Portugue3a vega SBD-FFLCH-USP I \IIIII IIIII ~~ij\~~ij\111 Ill\ Ill\ i Jj !' I '.i ..... ~~ ~ (I /~-- -:._ /'yu p DEDALUS - Acervo - FFLCH-FIL 21000045047 NOTA PREVIA Segundo uma tradit;iio ja corrente na antiguidade, tanto a biblioteca como a obra inedita de Arist6teles (384-322 a. C.), incluindo a Politica, teriamficado sepultadas numa cave de Scepsis, desde a sua morte, em 322, at€ serem recuperadas par Sula, em 80, o que explicaria o relativo esquecimento a que foi votada, mesmo pel as seus sucessores no Liceu de Atenas, durante esses mais de duzentos anos. Os pafses tambem tem:as suas c;aves, onde jazem descuradas as obras dos seus mestres e daquele.y que me~tres desses mestres foram. Niio que Arist6teles niio tenha sido lido .e comentado em Portugal desde a idade M€dia- e multo bem- au que. niio haja ·versOes em-Portugues da Politica, . que as hd wirias: mas todas desce'f!.de11,,tes par via de outras linguas do original, esquecido em Scepsis pelos descendentes de Nuleu. Em suma, at<! agora, nao havia entre n6s nenhuma versiio da Politica como a presente, traduzida directamente do Grego para Portugues, incluindo o original de referencia. Em parte, por falta de iniciativa de investigadores interessados e de tradutores competentes para deitar miios a tarefa - e para lhe suportar as responsabilidades: por isso, jicamas todos devedores a Mendo Castro Henriques, pelo impulso que deu e pe/os cuidados com que acompanhou a tradu<;:iio de dais outros academicos, Antonio Campelo Amaral e Carlos Gomes, que, assim, ganham com ele o direito a urn credito permanente, na Hist6ria da Cultura Portuguesa. Mas em parte tambem, devido a falta de editores capazes de suportarem os trabalhos e dias exigidos por uma 7 iniciativa deste alcance. Encontrou-se finalmente um, em Assirio Bacela1~ a quem niio tive qualquer dificuldade em persuadir da relev[mcia e merecimento da empresa, que de pronto abrar;ou, com as naturais preo- cupar;Oes, mas tmnbem com o entusiasmo e a alegria de quem tem sempre entendido a sua actividade e vocar;iio como um servir;o a prestar d cultura portuguesa. Aos nomeados e aos seus colaboradores, acima de tudo, cabem as meritos de agora se atenuar a divida perante OS Clcissicos que niio temos querido au sabido suficientemente merecer. Ao Professor Rosado Fernandes, deve-se a revisiio do texto grego, bem como um prefcicio, que s6 podem enobrecer a edir;G.o. Que o livro swja publicado na Colecc;5o Ci€ncias Sociais e Politicas, dispensa explicac;Oes. Mal ird o especialista, o estudante ou o simples interessado nestas dreas, que tenha achado poder dispensar-se de ler uma das suas capita is obras fundadoras. Como escrevia o prOprio Arist6teles, no fecho anunciador da sua Etica, "devemos agora examinar todas as questoes da politeia, au constituiqiio, para que posssamos completar essa parte da filosofia que trata do Homem. (..) Qual e a melhor especie de constituic;5o? Qual e a ordenac;iio ou estrutura de cada especie de cons- tituiqiio? Quais OS seus codigos estabelecidos de leis e de moral?" As respostas a estas e outras questOes acham-se na Politica, cuja leitura mostra que tanto a natureza humana como as problemas pastas hci quase dais m.il e quinhentos anos e iluminados par soberba intelig€ncia, pouco mudaram, retendo uma singular e perene actualidade. Fil6sofo, biologo, literato, cientista social, Arist6teles pertence ao mundo daquelas imortais crianqas a que (adaptando) se referia o velho do Timeu: "v6s, as Gregos, sois todos crianc;as. Um Grego nunca e velho. Sois todos }ovens pelo que toea a vossa alma, pais nao tendes nela qualquer dautrina antiga nem saber encanecido pelo tempo". Como na Ultima frase da :Etica, "vamos, portanto, comec;ar." 8 JOAO BETTENCOURT DA CAMARA Mar90 de 1998 f .i I A FACULDADE DE CIENCIAS HUMANAS DA UNIVERSIDADE CATOLICA PQJ, '" . lfloSA PREFACIO E urn acto de coragem traduzir para Portugues um texto grego com materia tiio diflcil como e a Politica de Arist6teies. Em primeiro Iugar, pela natureza mesma da concepc;iio da obra, uma vez que tudo leva a crer que a sua elabora<;iio em oito livros niio tenha seguido uma redacr;iio sistema- tica, mas seja antes a compilar;do de diversos logoi, ensaios au lic;Oes, como quisermos traduzir, reunidos depois num volume. Em segundo lugar, porque o helen isla portugues nao dis poe de nenhum diciomirio grego-portugues do nivel dos que fa ram elaborados para as linguas inglesa, alema au frances a. E assim jor9ado a raciocinar e a deduzir em Ires linguas: o grego, a lingua do dicionitrio que utiliza e o seu prOprio idioma. Em ultimo Iugar ha que referir a propria materia de Politica, em que noc;Oes politicas pela primeira vez sistematizadas representam uma reali- dade social diferente da que hoje conhecemos, ainda que nessa altura se levantassem as mesmos problemas humanos do nosso tempo. A verdade e que a palavra polis, norma/mente traduzida par "cidade", tern a valor real em Grego antigo de "cidade-estado" e pode abranger a parte urbana do referido Estado ou o seu conjunto em que se incluem as suas zonas rurais. A polis ateniense tanto abrange os citadinos, cidadQos ou nao, como os camponeses das terras de Atica. Casas ha, contudo, em que s6 se refere a cidade contida nas muralhas e dominada ptda Acr6pole. A mesma ambiguidade e gerada par uma palavra como politeia, que tanto pode significar constituiyao, como sistema politico, como ate regime, tradur;iio por que optam por vezes os tradutores portugueses, a meu ver. com grande sensibilidade politica e linguistica. 11 Os termos mais tecnicos siio mais facilmente transmissiveis para o leitor moderno par se referirem a situac;Oes especijicas da politica grega (como o caso da tirania par via eleitoral da aisymneteia; vid. livro III, 1285 a), mas nem par isso deixam de ser dificeis de traduzir para que sejam compreensiveis. Considero que a tradu<;iio, apesar das dificuldades da tarefa, conse- gue, sem cometer anacronismos, dar ao leitor portugues um texto escrito em bam Portugues e alem disso inreligivel para qualquer leitor de cultura mediana. ..flrist6teles tenta, no decorrer dos oito livros, fazer niio sO a ancilise do aparecimenro da sociedade humana representada pela cidade-estado, como tambem sistematizar todos as seus elementos constituintes e todas as formas que no mundo conhecido de entiio podia assumil: Ao mesmo tempo que rez.{ne factos antropol6gicos e sociol6gicos racionaliza pelo metoda comparativo as diferentes constituic;Oes entiio conhecidas,a que muito nazuralmente correspondiam regimes politicos com diversas e par vezes antag6nicas formas de governac;iio. Numa breve resenha podemos dizer que os livros I-III silo constituidos par uma introduc;iio em que o filOsofo esboc;a a teoria do Estado em geral e classifica as v6.rias constituic;i5es; nos livros IV-VI apresenta exemplos concretos que consubstanciam a natureza das constituic;Oes existentes, que correspondem ou niio aos principios da boa governar;iio. Finalmente nos /ivros VII- VIII, este ultimo livro niio acabado, entra jti no dominio da politico ideal e nas formas de a atingir par meio da educa<;iio dos cidadiios, segundo nuitodos pedag6gicos bem definidos. Quando Iemos o texto receamos cometer anacronismos na sua inter- pretac;iio, mas e impassive! nilo ver que o problema da riqueza das nac;Oes e o que mais o preocupa, uma vez que o equilibria entre ricos e pobres e determinante para 0 estabelecimento de uma classe de cidadilos a que hoje em dia chamariamos de "media", imico remedto apontado par Arist6teles para evitar a agitar;iio social. Par isso, vemo-lo examinar, no livro terceiro, as diferenr;as entre oligarquia, regime favt;Jrizvel aos ricos, que silo poucos, e democracia, regime favor6.vel aos pobres, que silo muitos, e concluir que a verdadeira diferenr;a entre democracia e oligarquia e a pobreza e a riqueza, ao passo que, diz-nos urn pouco antes, a tirania, regime a que o excesso demag6gico em geral conduz, e o governo de um sO que para si prOprio aufere vantagens exclusivas. Vemos, pais, que o fi/6sofo-naturalista, observador da Natureza, das plantas, dos animais, e dos homens, ao contrcirio de Platii.o, tern a noc;ilo 12 exacta da dimensiio social do Estado e do ser humano que definiriz, neste mesmo livro, como "animal politico", ou seja, animal que ~ive na polis, o que quer dizer em sociedade. Como naturalista, ve Arist6teles a sociedade organizada na forma de Olganfsmo ViVO que descreve 110 fivro ]: e COnstitufda pela cefula familiar com as suas relac;i5es de poder entre senhor e escravo, marido e mulher, pai e filhos e finalmente na sua rela<;iio com as interesses do Estado. Esta ce/ula observada relativamente a situaqoes de bem-estar, da riqueza au da pobreza, depende )6. nesse tempo de urn instrumento financeiro criado recentemente na humanidade, que e a moeda, para cuja importdncia, como instrumento de troca, Arist6teles aponta, vincando hem o progresso que constitui para a Humanidade em geral. Essa vida em sociedade estrutura-se por meio das constituir;i5es do Estado, examinadas comparativamente por AristOteles no livro II em que recusa a utopia comunista e totalitdria apresentada par PlatO.o na RepU- blica e nas Leis, aduzindo exemplos de outras constituic;Oes como a de Esparta, a de Creta e a de Cartago, e assim tambem todo o esforc;o legislativo de Solon de Atenas. Dai resulta que a natureza do Estado seja diferenciada conforme a organiza<;iio politico dos cidadiios, explica-nos o fil6sofo no livro III. Que cidadCios devem ter acesso ao poder, que formas politicas de governo devem e!es constituir, urn equilibria au des equilibria entre facqoes da sociedade, entre ricos e pobres: Realeza, Aristocracia, Governo Constitucional sao as formas correctas de governar;ii.o, que depois devido a ambh;iio e malque- renc;a dos homens se podem transformar em Tirania, Oligarquia e Demo- cracia, ciclo tripartido que }a Platiio criticava na Republica, e no qual tambem AristOteles niio encontra superiores virtudes, uma vez que pensa que a lei deveria ser soberana, s6 que hit. leis mcis ditadas par maus demagogos, maus legis/adores. Sfio tres OS, livros introdut6rios perpassadOS pe[a dindmfca da SOCie- dade humana e suas inevititveis convulsi5es, ditadas pela procura do poder e do bem-estar, para urn sO, para poucos ou para muitos, eis as grandes diferen<;as. Os Ires livros seguintes (IV- VI) apresentam exercicios evidentes sabre casas politicos existentes que divergem entre si mas que tambem se combinam, uma vez que o merito, o nUmero e a riqueza podem mistur:ar- -se em proporr;Oes divers as em formas aristocrizticas de governar;iio mais 13 au menas aligdrquicas au mesma demacrdticas, com excepc;iia da tirania, que e a manarquia egoista com fundamento na farc;a, na irrespansabilidade e na impunidade. Claro que o Gaverna constitucional se apoiard sobretudo sabre uma classe midia e sabre os ricos, sendo cidadiio todo aquele que pu- der empunhar as armas. o que quer dizer, pagar o prec;o pela sua aquisic;iio. Nada disso dispensa as formas de justic;a necessdrias para aplacar diferendos, e Arist6teles apresenta as divers as Junc;Oes, siio oito, do sistema judicial. S6 esse equilibria poderti evitar revoluc;qes (que trata no livro V), devidas a demagogos e aos abusos do poder. A monarquia desem- penhada com moderac;iio par um rei e niio par um tirana e a forma que parece a preferida de Arist6teles, mestre do jovem Alexandre e cantempo- rdneo de Filipe da }lfacedonia, com o qual mantinha relar;oes de familia jd antigas. Demacracia e Oligarquia e as suas variadas farmas e constituic;Oes seriio analisadas no livro VI, do qual se passarti para os do is Ultimos livros (VII e VIII) em que procurara estudar, ainda que de forma inacabada, o que }a comer;ara a discutir na Etica a Nic6maco, a forma do Estado ideal mais pratictivel, o nUmero equilibrado de habitantes que deve ter, o territ6rio, a defesa deste, as instituic;Oes, as infra-estruturas de abasteci- mento, de eigua e comerciais, bern como religiosas e militares. Dentro desse Estado e indispenstivel proceder d educac;iio dos cidadiios, procurando niio s6 dar-lhes saber como prepard-los psicologicamente para as suas respon- sabilidades civis e sociais. Passadas mais de dais milinias sabre a texto, ainda hoje nos surpre- ende a observar;iio levada a cabo par este filosofo, da escola de Platiio, mas niio utopista nem totalitdrio, que consegue estudar os sistemas poli- ticos d: dimensiio humana, sem demasiado preconceito e com a serena abertura e o born sensa que acabaram par tornil-lo manual indispensdvel no Ocidente a que pertencemos. Esperemos que os leitores portugueses que vierem a consultar esta traduc;iio portuguesa da Politica aristotelica tirem o proveito da sua leitura que deverei consistir sobretudo no facto de que ?m todo o espac;o que decorreu entre o seu autor e a nossa rfpoca os problemas de organizac;iio da sociedade civil e do Estado continuam sempre a depender de muitos factores niio s6 econ6micos ou politicos, mas da simples vida humana e moral. For isso nos recorda Aristoteles no inicio do livro VII o que }a tinha defendido na Etica, pais e na etica, au seJa no comportamento ditado par 14 principios previamente aceites, que deve assentar toda a acr;5o governat · d 'dd = a.SO~l~ a e em que Vivemos, par parte dos governantes e governados. Sao prmctpws ~~e entiio ~om~ agora pouco se alteraram, excepto no progresso d~ sua analise e aplzcac;ao nos diversos sistemas politicos que o Homem foz conhecendo atraves dos seculos. .. RAUL M. ROSADO FERNANDES 23 de Setembro de 1997 ' 15 ' l I I I. A obra Introdu<,;ao a Politica de Arist6teles A Politica de Arist6teles, embora talvez surpreendentemente, e urn dos grandes classicos da filosofia politica, e em que pulsa o genic aristotelico da apreensao global de uma realidade. Adquiriu esse estatuto apesar de ser urn texto incomplete e provis6rio, com imperfeiy6es, repetiy5es e remiss5es obscuras, e redigido a partir de uma primeira versao destinada ao ensino oral. Mas foi nesta sua obra genuina que o fil6sofo verteu o essem·ial de mais de quarenta anos de investigay6es da "filosofia das coisas hurnr)nas", num discurso que reflecte a tenslio entre duas orientay6es, a um ;_-cmpo divergentes e reconciliadas: as experiencias, inculcadas pela Acadcrr:i,, pia- tOnica, da vida criativa racional que se dirige para o bern suprc.;:-!!\ e a analiseda multiplicidade das manifesta96es de uma realidade, neste caso a unidade politica da cidade-estado. 0 estatuto da Po/itica surpreende menos se pensarmos que as propostas que nela emergem sao a culmin8.ncia de investigayOes presentes em obras entretanto perdidas e noutras que permaneceram. Entre as obras perdidas relevantes contam-se os quatro livros Da Justic;a e os dais sabre o Politico, sugeridos pelos dialogos de Platao; os tratados Alexandre au a coloniza9iio e o Da Monarquia, preciosos para avaliar rnelhor a relayao do autor com Alexandre Magno, e a desconfianya perante a criayao de uma monarquia 17 mundiaL das !58 constitui<;:6es do mundo helenico, recolhidas pelos disci- palos do Liceu, perderam-se todas excepto a Constituiqiio de Atenas, :_scnta pelo punho de Arist6teles, possivelmente como rnodelo de redac<;:a~ do corpus. 1 Par outro lado, a Politica pode e deve ser compara?~a c_om o~~as que permaneceram e que exp6~m o papel ar~uitect6nico_ da ctencm, ~ohttca no conjunto do saber, tais como a MetafisLca e o conJunto das EtL~as (a Nic6maco, a Eudemo e Magna Mora/ia), remanesccntes de tratados ,como 0 Protn!ptico) e correspondencia varia. . , _ . f' Tal como chegou ate n6s pela tradiyfio manuscnta, a PohtLca, mms_ qu ... urn tratado e urna colecs;ao de formula<;:6es (logoi), destinadas a servrr de base a exp~siyao oral. A critica minuciosa estabeleceu ind~b~tav~ln:ente que 05 oito livros da Politica niio resultaram de um impulse cnattvo umco, ant~s acompanharam o percurso do autor. Arist6teles foi membra da Acad~mm Plat6nica desdc 367 a. C., quando com dezassete anos chegou a Atenas vmdo da longinqua cidade natal de Estagira, ate a rnorte de Platao ern 348 ":C. Ap6s ensmar tres anos em Assos e dais em Mttilenc, fm tutor do pn~ctpe 5 C · · · o Lrceu Alexandre. Regressado a Atenas em 33 a. . m cnou, e ensm~u, n · Abandonou a cidade em 323a.C. "para evitar urn segundo cnme contra a filosofia" e morreu no ana seguinte em Calcis, na ilha de Eubeia. Trat~ndo-se de obra n§.o sistematica, e sem o fulgor imaginative das construy5es plat6nicas que tanto impressionaram autores como Cicer~ e Agostinho, apagou-se a repercussiio iU:ediata da :olitica. n_o mundo :nh.go _ uma vez extinta a palavra que a ammava - ate a tradtyao hermeneu.tica a reavivar. A partir do comentS.rio de Andr6nico de Rodes, un?~ctmo escolarca do Liceu, no sec. I a.C., e em particular do comentano de Alexandre de Afrodisias no final do sec. II d. C., Arist6teles tomou-se a base de todas as escolas de filosofia politica no rnundo intercultural da !dade M6dia _ arabe, judaica e crista. Se a polis e o domini a de actualizayao da natureza humana, para a compreender temos que compreen~er a naturez~ do homem que a forma. Os grandes medievais como Avtcena, Aver:oes, Maim6nides, Joao de Salisbirria, Marsilio de Padua e, sobretudo, Tomas de Aquino, iniciaram aqui perspectivas inovadoras. . , . A recepyao escolS.stica criou a impressao de urn pensador st~tem~tic_o, posis;ao refors;ada pelos humanistas do sec. XVI que exagerararn a drssocrayao entre Arist6teles e Platao. Ap6s o eclipse iluminista do anstotehsrno, esse preconceito assumiu a fom1a de crenya num autor que se libertara das 1 Sabre 0 tema ver Werner JaegeJ~ Aristotle: Fundamentals of the history of his development, Oxford, O.U.P., z.a ed, 1967; trad. com acrescentos c correcyQcs do autor, pp. 259-60. 18 dependencias idealistas platonizantes. A sitna<;:ao agravou-se corn tradu<;:oes infi6is da Politica que visariam estudar o "estado ideal'', dais anacronismos que, juntos, sao muito perigosos. Os historiadores da filosofia especulararn sabre a eventual evolu<;:ao do jovem Arist6teles para o realisrno da matn- ridade que ultrapassaria o idealismo plat6nico inicial. Quando idealisrno e realismo como concepy5es sistematicas da filosofia fizeram o seu caminho ate a ediyao, a tradiy8.o romantica oitocentista chegou a reordenar a Politica, numa pretensa sequencia pristina dos tratados. Entretanto, a confusfio ideo!6gica persistente do sec. XX apresenton leituras diversas e contradit6- rias da obra. Arist6teles foi apodado de liberal, conservador, fascista, momirquico, republicano, defensor da classe m6dia defensor da aristocracia, xen6fobo, e dernocratico. Nao sera dificil ao sec~ XXI fazer rnelhor. Como 6 regra geral, a simples leitura dos textos originais desfaz a maior parte dos eqnivocos hermeneuticos. A Politica e nrna obra w1itatia na qual convergern oito tratados relativarnente independentes cuja datas;ao aproxirna- da e concatenac;ao ficaram estabelecidas na interpreta<;:iio c!assica de Werner Jaeger, de 1928. No essencial, a seqnencia dos oito livros foi determi- nada pelo proprio Arist6teles no panigrafo final da Etica a Nicomaco (X,!O,ll8lbl9 e ss.): "Primeiro, procuraremos rever 0 qne foi dito pelos nossos predecessores~.~-:.i!!Y_~~-t-~~9--rim este assunto. DepOTS~~COID~·baSe~ -na nossa recolha de consti~ic;5es, consid;m;e'ffiQ5Q(~jUe-pT'e"Sen;~_-;;_ 0 -q~~-·destr6i as cictades b~~~-~9.~o ~~--r~.~l?-~~!iv~i .. c.00Stituiy5es e quars-sa·o __ ·as-·~~-~sa-s·_cte _que umas s_~J~~~!Jen:_govemadas e -outrasn~o.·EstUCEidas--estaS questoes, podernos comp~eender rnelhor qu~l a. rnelhor constitui<;:ffo~-corno- cada-uma deve ser Qr<Jepad~_e deque _ _l.,is e costumes ca?ece';. - .. ·- .. .. . -- Se respeitarmos esta inte-ll9~0:- ton;:~m":Se -··rnais claros os arranjos sucessivos introduzidos na Politica. Na forma actual res nita de do is estratos cronologicarnente distintos. No rnais antigo, formad; pelos Livros II, III, VII e VIII, transpare_c:_e_aJ1r:e(.)."_lljl_~£~<!._de descrever 0 meihor regime_d_eacordo corn c~i!"':ios _(horoi) derivados (!~~:C:a'U;-;(i<;[~oes. sob~e. ()-be~ A rnelhor cidade Eer~f!q\l_e~<l e111 ql)".f()[ E~..S! ,;~]-;; f~licid~d~-~ btid~-p~Ii ~ida criati va d~ razag (bios tfl.~()r_"tikD,'), Af".!ici~_<i;e -illiiTVi&:;;;i-d~~e corresponder a crdad~ __ f~~2:. (polis eudaimon) (1323b3o)-:-·Nest~--p~()jjj~;:;_;atica plat6nica, Arist6teles introduz urna nova metodologia: em vez da constru<;:ao discursiva (en logois) de uma cidade paradigrnatica que nao existe na hist6ria, surge a tensao entr~ . ..?~c:r:ite~jc,s_ ~_ci~"::'!'.!11~~h_()E._e_()~_Eegimes poli!!5'5'S f!~tual rnente exrstentE:s;__.a_ fOfll!<! da crdade rnelhor tern qne ser _grocurag_~. na exp~_~iencia politica imanente. --~~~-~- . , Esta.iinha. de investigac;.ao, que ocupou longamente Arist6teles e os drscrpnlos ·do Lrceu esta na base do segundo estrato de livros: 0 inverl_tarjo !9 I l!,!i "' dos regimes_Qg:DJl1~-ilPJJra.r:. ;uL._Q_Qndi_yO_es limitadoras da acy.fuJ .golitic.a__us po~~iintid-;des c!e aperfei<;oar a legisla<;ao. Os livros IV, V e VI descrevem ~-~- [eg)mes constitucioJHlit)_Q_Q_mUJl.do.Jwl6_W_cu,_L:_mn.has_e __ no.tmenso rnatenal. recolhido. De forma por vezes prolixa, acumulam-se detalhes sabre os ·reaime;~··de cidades e col6nias da peninsula Grega, Asia Menor, Magna4 o;ecia, e bacia do Mediterr3neo. Pormenores como a referSncia ao assas- sinate de Filipe da Macedonia em 336 a. C., em Atenas, ajudam a datar e~te segundo con junto de livros. :E possivel que o livro V- sabre as re_vol~yoes _ seja uma intcrposi<;ao posterior entre o IV c o VI. Com a r_edac<;ao do. livro I como intrpdudio geral,. ficou complete o tratado da Polztrca, desrg- n~do po~ acroamitico, ou esot6rico, parser para ensino oral e que comporta os oito livros da versao final: I- A natureza da cidade e os seus elementos; II- A critica das constitui<;6es; III- A teoria da cidadania e tipos de regime; IV - A pluralidade de regimes constitucionais; V-A teoria das revoluy6es; VI -- Democracias e oligarquias; t;n- A felicidadc e o regime melhor; VIII - A cducayao dos jovens. · 2. A natureza da cidade A finalidade da obra e introduzida pela considera<;ao de que _s~<:lacic\ade e uma comunidade _pol~ti~_a (koinonia) est_abelecid~ et~ .. ~~?~~"!1---.a urn bern (agathou) cU: 1JJlMr( ~I!.; l,I?:60b27) !,'-___cid!_~"-_::is~obem maior p~rque abrange outraG com\IJ~~4a.d_~_s men ores e porque_possu1 u~a a~t?-suf!.~encta. Cp..te-aSCon1UillC1ideS maiores nao alcanyam. A metodologta uhhzada e a de Unillses c sii1lCseS. sucessiv::is--que, tomadas isoladarnente, aparecem cmno outras tantas simplificayOes e comphcayOes mas que, vistas em conj~nto, comp6em um puzzle intelectual cujo desenho e sugerido pela finahdade pnesentc em cada pe<;a (I,l,l252a20 e ss.). . _. A primeira amilisc aborda as partes estaticas da comumdade pohtlca. A componente inicial e a far11ilia ou casa (oikos) com as relay6es entre mando c esposa, pais e 'fiil-:os, senhores e servos. A sua finalidade e satisfazcr as carCncias elementares quotidianas. A ald_~i?: _(kame) resulta da reuniao de varias familias ou casas; 6 rcgida par tnoCfelOs derivados do poder_ patemo e satisfaz carencias mais complexas. A--:£l4i1e, enfim, resul:a _da asSOClayao de v8.rias aldeias, e e uma co~~-~Jdad~ __ ~uper_ior qD:e conshtm o fim por nat~reza (physis telos estin) ~1:!~1J~_Po4-~.m as anteriores associa~oes;" cai'acteriza-se pela auto-suficiencia (autarkheia) e por promover_ urTI"a'vTcta' boa (eu zen); possui. u;;p;.;crerpolitico (e ja nao paternal) cuja natureza visa libertar o individuo dos modos deficientes e incompletos de 20 ~ss_ociayio, abaixo ou acima do nivel de plena realizayao da polis. A politica e hbertadora, contexto em que surge a mais celebre das. f6rmulas da obra· '';! homem e pm:: .... IJ.£!11JLf!.YJ.,__ um 'i£L'!iY2.J!SiiiJi;;;;i' (I,2, 1253a2-3). . As catego~tas deste p~rtico da obra - natureza, finalidade, felicidade, bem, homem, ctdade, ser vtvo - tocam o centro da filosofia de Arist6teles. Uma das maneiras de aceder ao centro, e seguir o desenrolar da teorizayao do processo de busca do fundamento nas obras de Arist6teles. Se conside- rarmos aiti~n o term~ para expressar o fundamento procurado, necessitam_os de categonas causats, ou etiol6gicas para abordar a vida politica. Se pnvtlegtatmos a finalidade (te/os), carecemos de categorias teleol6gicas; se for ark}_Ie,_ de categorias arquetipicas, ou de principia. Mas quer abordemos a extstencta do homem politico procurando causas, principios, ou finalidades, depar~mo-nos sempre com o fundan1ento de que participa a razao humana. E necessirio ter presente esta perspectiva global de Arist6teles; a natureza de qualquer realidade, seja criatura viva, instrumento ou comuni- d~~e, deve se_r procurada num fw1damento, apresentado como causa, prin- ctpto ou finahdade. ~.~-mturez~ do individ~o _humano s6 e realiz:ivelatray~s ~~c.?.~.~~~-':1-i~~-~~-~ _§_<?_~,i-~_1_ epOiitica:·~o-fncti~id~~~--i~Qlgdo.·t~rn~-s~--·i;;:;~~i~;~l· ~ ::JlO}~~~:;~; __ ~'.':P.o_rt~~d'::~e-~c_ornoufil deus gu .lllll_a.~e~t[i,. ~25Ja22l- A pol:~~L-~~- .. !?.~0.~-~~lE.J?.E~<~~SS?_._~.~-~-~-~-~ico, ern pat1e _um_ processo OitiTberctacte hum_~n":, 0 homem nao e um animal gregario (agelaion zoon) rnas urn p'(;{[tzkon zoon porgue <1 comunidade assenta no discernimento do bern e do ~l E ao afirmar que "quem prirneiro a estab~lece~--fo(~-~~;~ (~'i/i~)"'d~ grandes beneficros" (1253a30-31), Arist6teles situa a evolu<;ao da cidade no quadro da hist6ria. 0 impulso inicial do fundador e o processo politico do l~gtslador sao tilo decisivos quanta o processo org<lnico de crescimento da ctdade. A metafisica das causas, dos principios e das fina!idade nao impede a hvre mtervenyao do sujeito humano. Na analise inicial da sequencia casa-aldeia--cidade, anuncia-se a inten- <;ao de analisar as componentes da cidadc segundo as rela96es entre marido ? ~sposa, pais e filhos, senhores e servos mas a anilise restringe-se a estas ulttmas (!,3, 1253bl-l3). Arist6teles ace_ita a escmvatura e considera-a mesmo desejavel para os que ;i[a";;;~;a~os por nahrrez~(lissai':s): D~sde ~-~-~sCimento, __ uns estao_ d~?tin~Q,Q$ _p_q~ ~~-~!~~~-- ~ -~~~-~e_gldos,_ outros a --~;_ger; ~r:~s ~as~em hvres, outros s_a_o e~cravos pqr_ p_~tllreza. Condena~-poreffi<--~ ~~:.~~~~~-~~£L~Y9$. INL.~QJlY~n-Y~.S\. t.~~HJ!'!.I}t~s---=~,~~9.2~!E~!P. _g~---~q"~q~£;j_'-!:~ !'::strfica a escravatura natural pela suposta incapacidade .de certos. ho111ens S"J;ovemarem a si mesmos; .~s___e_s_cn!~(l;po_i!la_tl1r;,za.(phys~tdo~i;~) devem ~u~n:~.t.:'::.S.: ao gc;v~';'.'?_;i? ,~e':~9[ (despotes) no interesse deste e_sJ!: .• ~L propnos (l254aiO-l5). ContuC!o, o poder conferido pela for9a nao confere ·----------------·---·------~·~---·---------- .. 21 \, 1: I! I' ,I II I. II I r 0 direito de ,scravizar prisioneiros de guerra, e menos ainda e ll.cit" 1 ~SCi<iVizaf Greg;~s;_-o po_vo he-1_6_~}~.?.,~~'---E?T_ natuEeza_, __ !iyr_~_· Em _Paralelo com ! ~firma<;6es ant~;!ores da '£iica a Nicomaco (116ib3) alega amda a neces- j sidade econ6mica: o es_cravo e urn "instrumento animado" ·que maneJa instrument;;~ i~~nimados (1253bi-8). . . , -- ·T3.is afhmayOes sabre a escravatura sao chocantes e mesmo mdtgnas, . \ na medida em que pretendem conciliar a existencia da escravatura con: uma f ideia de natureza humana universal; noutros tempos, foram aprovettadas til como justificayao politica. E contudo, n3.o nos podemos pe;mitir ser senti- mentais neste tema. A categoria social de escravatura e re_corre~te na i historia· a ausencia de liberdades (de circula<;ao, de opiniao, de reumao, de ' escolha) nos paises comunistas antes de 1989, convertia ~ esmag~dora ~,,- maioria dos habitantes em escravos por convenyao. Conv6m, amda, assmalar t . que a condenayiio 6tica do escravo por convenyiio e a aceitay3.o do escravo c por natureza era urn dilema significative para Arist6teles que, por testamen- to, libertou os seus pr6prios escravos. _ A problematica inovadora da economia ~o Livro I, 8-11 tem_por obJec~? a riqueza dmn6stica embora os prece1tos da let ou admtms,t~ayao da c~~a , tamb6m se apliquem a:cidade, pois dirigem-se ao pai de famtha e ao pol~tt~o. A economia destina-se q __ Q[Q_du?.iL9~~?.-Q~.Q_nsyJ!l_Q..Jrr_Qp_d._9_; a __ cremahs~te_a (de khrematizo, ocupar-se de trocas por dinheiro) ~!_~p9rcio_~a ~ens com :~~ta ao lucro exiae a criayao de dinheiro e funda-se na convemenc1a em facthtar as trOCa~. A forma de aguisicao ec_q_~2-~~C::~.-~.~--ljgg~.~~--Q9D.?!§!e. -~Jn __ .ob.ter ~s bens necessirios a vida com moderayao e sobrie,Qa.Q~.·- Mas se a economta tern urn flffiit~--porq;:;eoseu -[;f[l ~ao e aquisi<;ao ilirnitada, ja a aquisi<;ao crernatistica de moeda e especula<;ao (1,9, 1257b25). 0 lei tor que se surpreender por esta avalia<;ao moral da economia (!,10,1259bl-2), decerto nao esta recor- dado dos motivos que levaram Adam Smith a investigar os me10s de nqueza das nay5es em ordem a estabelecer os fins da economia, ~e~ do deba~e, ~as religi5es crista, isl3.mica e judaica, sabre o sentido da actiVIdade e~onomtca. 0 Livro II da Politica transita da natureza permauente da ctdade para a sua UC't~~fuayao, @reciando programas vis_iomlrios e constituiy6es. Surge a grande critica a ~m corilo a Faleas .de Calced6nia e Hipodamo de Mileto a avalia<;ao dos regimes de Esparta, Creta e Cartago e das legisla<;iie~ de Solon, Filolau, Carondas e Pitaco. Atraves das li<;iies deri- vadas de criticas e enc6mios vririos, Arist6teles insiste num problema mmto claro: os habitantes da cidade tern que possuir uma certa unidade_. Mas qual? E quanta? E como? o problema-ieorico-fsaber ~<e_deve s_e_r_possuido em c6Ii1Uffi;,~;-t-~das as coisas, se nenhumas, se algumas. 0 .. -gAin.imo _c_qmum i~~atarnente aceitcivel 6 0 territ6rio. 0 mriximo C0ffi!![l1, .. a.s.e.rJi.roini![J!lellte ~·~~-----------~--·---· ·-----~--~-~~--·- - 22 rejeitado, seria a posse comum __ 9:~~bel!§ .... .PI!J.Jh~re_s e.JHho~ __ CQf!l:~."~l,lrge. ~-a intrigante proposta da Republica de Platao. -.. ·- ·-_-A demoraaii"ciTiica-;;pl~tii~ p~d~ ;;;-,;c1tar a impressao de uma oposi9a0 ao plutonismo; nao 6 o caso num discipulo da Academia que continua o essencial do platonismo. A primeira critica contra a cornunidade somatica de mulheres e filhos e realizada em nome daliberdade. 0 excesso de unidade liquidaria a cidade, dependente da ac9ao individual dos seus membros.--"A.: igualdade na-recrprocidade e ~--sabagurucdadas -cidades~ta!-;;,;-,;;;:, ji foi referido na 6tica, jri que is to tern que ocorrer entre individuos livres e iguais" (126la30-33). Outra razao para recusar a uniformiza<;ao e a teoria da amizade, a for9a viva de cada sociedade. A.. amizade (phi/ia tambem pode ter a conota<;ao de amor e comunica9ao) e a substancia do relacionamento humano e a dinamica de todas as rela96e; sociai~ .duraveis, e -d~ ·;;-~de os governo-;--reti;:;,m .;!~biTi.<:!Jlfie:"_-:';"Acrediiam~;-que_~a_a111i~'L4e e o m~ior das heilsrara' as cidad!?_L (!262b7). Ca.Q"'j!l<:!ixiduo apresenta-se como o. <.;entrg_~el!!!i""aj"cle de re"las:oe.~_gjy~_r§i[l£aQ~L~" nag~ _existe para preencher essas rela96es, a £.i.-4~.1~~-R~..rde_ cap.acidades. Ora a cmnunit~fiZayao da-s ;ela95~~ · s~X:UaiS taz desaparecer o relacionamento saud<lvel de pais e filhos,. e as excelencias humanas que eles geran1. 0 terceiro argumento em prol do que chamariamos, segundo Bergson, "sociedade aberta" e o da propriedade. "Existem duas__o;gisas que fazem com q!;!_~_s<e_r:"-~ humanos ... sintam solicitude e amizade exclusi~a:- a pr;)priect3"cte E_;l.~feigil,o" (i262b23-25). 6"1'!9£Ei<:~acl~ comum dos hens econtriria ao "!!!QQ"_p!O]J~io queiqadia .da individualidade para a propriedaae privada. A regulamenta<;ao da propriedade deve permitir a cada urn dispor de uma esfera de acyao individual (1266b27 e ss.) sendo a desregulamenta<;ao a causa da ~~ior_parte das revoluy6es. Este ponto te~Wfl."S-eqU-fuiC.ias ·programAticas eVIdellteS-. ~~-:-causaS das revoluyOes nao_ residem na existencia de proprie- dade privada mas no apetite ilimitado (pleonexia) de riquezas, que deve ser ''aomesiicado" peia educa<;ao. 0 conjunto das criticas a comunidade que Socrates descreve na Repu- blica e bern indicativo do realismo de Aristoteles. "Cada urn pode imaginar hip6teses mas deve evitar o impossivel" (1265al8). Esta impossibilidade nao reside na descri<;ao plat6nica da natureza do homem nem no sistema educativo propos to (paideia ), mas precisamente nos meios imaginados por Platao que indicarn falta de confian9a no processo educativo e urn radica- lismo insustentavel nas institui<;oes. 0 excesso de unifonniza_yao da socie- dade destroi a capacidade de actualizar as potencialidades humanas atraves ~hvre reahza9ao do bern.-----------:-~----------------- ----~------"--··--- 23 3. A forma da cidade 0 Livro Ill sobre a \C.Oii"c_d_'l: __ <;j<J~d'!_nja e o centro de gravidade da - · · 1 cOrrespondena ao pnme1ro tratado; na forma Politica. Na versao ongma 'tigac;ao sobre odominiQ5k.~£Ci..~()_dolegi1;\lldOr deftmttva da obra, csta m~e:ao a -.;-ah.;·ez; da cidade, nos livros I e II, e as e mediadora entre a mtro li'r· . • · 1 · nos Livros IV, V e VI. aphcac;oes legrs atrvads a a cr. dade como um composto, uma multidao A. t't 1 s mtro uz acror . ns o e e de~ ue cada cidadao (polites) e urna parte. Alem da drverstftcada (ple~os), legislador tern que conhecer a politeia (regrme, natureza da erda e, 0 t't cr'onal forma de govemo regime constitucional). ft ·- ordemcons1u ' ' cons 1 mc;ao, l'f fosse apenas o resultado de urn processo biol6gico, Se a umdade po 1 IC~ relatar o processo de crescimento, saud8vel ou te6rico apenas term que d t 0 - Mas a cidade-estado tambem resulta os ac os doentio e de corrupc;ao. - . ' d f dadores originais e dos fundadores permanentes que sao ltbertadores os un · · ·d l't. t cidad8.os que part1c1pam na VI a po 1 1ca. 1 "gisladorcs goveman es e d · c ' . d d de cidadaos (koinonia politon) e com para a a uma ~---~9-~~~:_~~--·-·--h-···-,-~--s ~~a embarcayao. Em ambas ocorre uma nidade ue mann euo , . cornu - . bina ao de dinamismo e ordem e necessana divisao de funyoes, cuja C.Ql!L .. ---~----~u-~-~-,--~-----~-:--:.:----- d . . ·· · Analogamente os Cidadaos, embora es]_g!!_~}~ · na vtagem ' -- ". seguran<;~1"efa cornu~ a seguranc;aJasphaleia) ~-a comunidad." (1276b t~::: __ ~-~!?.:? __ ~'-'--~ __ ., .... --------- ---- - _, .. 26-29 )· . . ta sabre 0 gue e urn cidadao, Arist6teles procede par Quanta a pe~g~~ A rcs.tde'n·c-1·a~~--n--·o-- 'teiTit6rio e crit6rio insuficiente 1' · - de cntenos e rmmac;ao . .escravos tambem a podern possuir. 0 direito de porque estrangetros e d do Cessado J·udicialmente 6 insuficiente; po e ser assegura Processar e ser pro . b' · d' t t atado A descendencra materna ou paterna tam em a estrangmros me Ian e r · f d d - . 1 problema de regressus ad infinitum; e os un a ores nao basta co oca urn · 'd d" · ·d d ' b 1 ·arn por n8.o se enquadrar no crit6rio. Ass1m, c~?_S __ da Cl a e aca ar . , . , d fu - verdadeiramente, o q.ue P~liicipa na vt~~--P.~~~!~~-~--'----~~fa:'~~-- _e .- n_y~_e_f; . . · d-, · · . designa-se por crdade a mu_ lttdao de tats crdadaos dehbcrattvas OUJU lCtaiS, e ~---·------:----- -- . (I , · ufi·,· 0 · 1 ·cnte para alcanc;ar a autarqma (!275bl5). Segum o a em numero s . . .... , . · · 1 . 1 · d ·--_ .... ----h-:·-·-;·-:-·· --·- orrente no mundo helemco, Anstotees exc m __ a concepyao mtsogma c -- - · d · lheres 05 estrangeiros residentes (metekoi) e os escravos, ctda ama as mu ' " 'd d- · .c: ·t " Esta --·· · anci8.os considerados c1 a aos tmper1e1 os . sendo as cnanyas e . . · d 1 - mostra que Arist6teles tern drftculdades em .cnar urn llstagem e exc usoes d" . · · ' · d cidadania. Alias, acaba por admitir qu_"__":__asce"c encra PQL'Llll cnteno e ------ ... ,d. a-A:--- t - e teoncamente paterna e imr~rt~I1tE: Jlar~ se ser ct a ao. . respos a nao . , - -~-···;--; · talvez fosse prelendrda como taL Anstoteles desco mmto sat1s1atona, nem . _ , . ~~-·----- - · . briu (j';'_e,_:U:<Oi~.:'cia.J'()l~t~~a, __ a_Il_~xii_o___<!e. p"JJ~J~l!o e smgularmente vazra, 24 s~!!_Q_o __ ~£!~_s. illlPOXt<:tnJ~ in_yestig~r de _qt:te _modo a miturez:a com urn do politico se actualiza de mqq_9 Q_jf~_r~p,tc pas inllrneras variantes constitucionais_. Esta nova problemitica da tensao entre natureza (physis) da cidade e forma (eidos) dos regimes politicos e a resposta te6rica aos materiais de !58 c~uiyOes helenicas. E_m vez ae·]lrQ~i:i@f-_f~~er cOi;~idi~ _r{~~~reZa_ e fo~cl. para obter urna "cidade _ic!,e~J" _c: __ d~~ejivel:;,;~s-i;:;{p~~;;_~~lde---.ii;;f~J~~e~-::_ Ar!st6tcleS-\7ei:Tiica q,;(;. a~_imRerf9ic;oes 4~s. \:..~!!l!&U:e@)t'!.m.<!<t fait.~- de Jlrotagonism:>":~o~:cT43.ci~()~ .. liYxes .. eigu<~G .. .w<:_.§ev~ri.~m .. £~1l.'l!.i!!!ir~i:S~!'.O predominante na vida politica. -~---- Esta pr;~~~P~vao 6 ede'a e politica, e mesmo est6tica e religiosa, segundo os significados modemos destes termos. Se diferentes tipos humanos buscam a felieidade de diversos modos, forc;os,megte_p0~~\lem .. di(enm!e~ rg[_;;..;~~J;::g:Qxemo:C:>!ci;!pofu6"'liffia.;..-;.jii-dii~ c~m tipos humanos extre- mamente diversiftcados; segundo Arist6teles apenas urn pequeno grupo de individuos responsaveis (insistentemente designados por spoudaoi) atingira urna estatura moral completa ou perfeita (teleotes); outros seriio bans cidadaos, sem serem foryosamente homens de bern: outros nem possuem os requisites necesscirios para a cidadania, tal como os metecos. No grau inferior desta escala estar[o os escravos por natureza. E a escala e ainda mais complicada devido a interferencias de sexo, idade, profissao, posiyao econ6mica e destino pessoal (tykhe), condi96es da sociedade e da civiliza9i'io e factores geogriftcos e etnicos. A variedade de tipos humanos resultante 6 enorme e mostra-nos uma sociedade pluralista. Para efeitos de descriyao, podemos concentrar-nos nos dois_p<)l£_s opostos desta es~ala social: o individuo responsive! eo escravo (spoud~ios ... e · do~losj-: ·.. .. .. · · --Arist6teles. esta conscient;;de uma aporia. (Q}:UO pode a diferen<;a de tipos humanos reconciliar,se com a ideia de unidad~cia-natiireza- hnmana? Ttmdg_o escravo capacidade de virtude, como se distinguira do homern livre? E see humano, como pode deixar deter racionalidade? A sua solucao reside n:a -aescric;iio de caracteres em ~'2":?~:'.P!e~()NiP_an£i£u;l,!;..lUJl .. <!~~-~?I!'P5'~ nentes. _A diferenya entre seres humanos 6 de esp6cie, e nao de grau nem de ge'!;-ero. Arist6teles sustenta a igualdade da natureza humana, a par de <!i§"'1u;as....cte ... ll"J:so!.ll'cli<!.a.<.!~--A.aes1giiafcfacte';;;iCle;;!e'~llire"i1o-meiii. "Iivre e escravo niio signiftca uma diferen9a de natureza. A natureza e identica para todos devido a razao, mas a disposiy3.ointerna desta 6 extraord.!!!?.-Ei~m.~-!!i~ divers a. 0 escravo por na:tureza-~l urn or.c-aso---ae-nlaXf~a:fasta~ento das ~ dianoeticas e eticas, e na mente de Arist6teles, tambem as mulheres e crian9as se afastam desta culminancia. """"'"~""···-~ ... ·· .. Q·u,;i~~;J;;~~m respon~avel (spoudaios), Arist6teles segue a mesma metodologia de descric;ao do caricter em termos de predominancia de urn ---'-~--~"'- ----- 25 dos tres componentes da alma: desejo, vontade e __ razao. Em Etica a Nicomaco(lO'J51:iT4es;;ydefi~os trrs-·uj)o"S'ae ·ousca <fa felicidade que se c~racterizam pela predomin§.ncia respectiva do desejo, da acyao e da contemplayao criadora, por parte do intelecto humano. Nas correntes filo- s6ficas da 6poca e na Academia em particular, existiam as press6es para desvalorizar a vida do desejo e para o fi16sofo se retirar da vida politica. Era o que se verificava nas propostas de cinicos, cirenaicos e megciricos e no posterior sucesso das correntes est6ica e epicurista. Mas, sem abdicar do primado da razao ~ cientifica, artistica e mistica ~ Arist6teles e resoluta- mente a favor da vi~~_politica, ou Vif1a._activ.ahG.9J!!Q mei_o de alcaQ_~---~ felicidade. -~----x·C-14~-d~"~~?;i?~~--~P-~~~~--.P.~!_~-_y~y~~i j~~~~-~2:c.~~~P!0I?_9!__~!-~~~!~E!P~ vi4~.£2_l?~f.O-; caso contrcirio tambem poderia existir uma cidade de escravos, ou de animais. Qu~~~s>----~~-g-~J20 ___ r~gl_i~~L~.-~xcele_g~ia _g_uma~_ de~~ tQ~U!I-:- se repr_es~_qtativQ _.Ail _ ~i_4~~e ---~- criar urn regime_ politic~. em _ _que conflu~ --~ natureza e a melllQr forma. 0 melhor regime sera aguele em que o grupo ... -··---·-·------ '' ~ -- -~~~--- govemantes exibir a excelSncia humanalo-~llLParticula,r ~-~-- virtudes 6ticas e diar:_?_~!_i~as _'tfiii.~.Y-"~JJQ§::li?!iS~:_o~"a£Ji!~!l~¥~~9.: 10~fu}d~d~ (~-~d;;t"~-onta)· ~~e_rl~ alcanyag_?- _ _!llediante_ a_ y~da. activa propq_r~i_QJ]._~Qa pe~as virtudes diano6ticas (Etico-a Ni~6maco, f178b7 e ss) "- . . . ..... . .. Uma interpretayao moralista diria que 0 fim do governo e tornar OS homens virtuosos, subordinando a politica a 6tica. Mas pelo contr8.rio, para Arist6teles, e a ciSncia politica, -~~enci~Ji:uta_cio_hmnem.,-em soci~~--que s:!D..@?ba a 6ti~-~.£iSn_c_~~-".~~ ... 5_'?!!~.1lt~.)gQ_i_yjQgg_l__ _ _do .. huw~m formadopelo int"le<;l£L(nous). A Politica de Arist6teles resume os preceitos final~Sta e ··eud~-~onista da sua 6tica: "Todos ___ J!.~pjram __ ~ _yiver be_m e a felicid_~2e"~I, 13,1331 b39). :roda a ac<;ilo~IRallil.Jes.!~oiimtadapaJ<l g p_em e para a felicida~9l!i'. .. se.s!,JiJJ&.J<.Ql!lo. _c_rjlJct.jyjgade <!Jl.'!lma dii:igi.da _pela virt~de-perfe!ia=(EN, I, 13, 1102a5). 4_'2_~~~~--mais hurn<maconsiste na busca:cr§~hem.e dafelicidade (EN, II, 5, 1105b20). As excelencias,_ qu virtudes, humanas apenas sao realiz<iveis na esfera da soc'iedade-polit-ica(III,9,1280b5). A cidade I!iio e_Jlp.e!)aS uma comunidade de rugat:;~·nern.- um·-"iecinto amuralhad~ -cuj{;fi-;;;· sej~ evitar a injustiya e facilr~~~-~~s tro_c~s. comerC-iaiS. 0 ~m da--_coriiUi1idade._poli~ica e assegurar aos cidadaos a vida boa (;;u zen). A.vTda.boa6 .. ci)nfor!ll~ ~ vi~tude: "Nao so ; se ·assocram·--o·s'"-hOillens para viver, senao para viver bern (caso contrftrio / haveria cidades de escravos e de animais. E isto e impossivel porque estes r nao participam da felicidade" (III,9,!280a30). Por "yj,da b,pa" nao se deve entender abundancia de bens materiais que caracteriza o que correntemente se chama a sociedade de consumo, ou mais vulgarmente a "boa vida". Os 26 elementos apresentados sublinham que "a cidade e uma comunidade d!L hornens livres'_'_para viver bern_ (III, 6, 1279a21). Apesar de tudo, estas respostas parecern demasiado te6ricas para resolver os problemas da vida politica. Outras conclus6es seriam possiveis, se outros fossem os termos m6dios. Poderia, por exemplo, conceber-se urn ideal de existencia semelhante ao das comunidades 6rficas ou das escolas filos6ficas, que estavam a iniciar processes sernelhantes ao que o cristianis- mo designaria por santificayiio da vida. Mas tais propostas seriam conside- radas perigosamente apoliticas por Arist6teles. Uma segunda possibilidade seria conceber a unidade politica segundo o modelo da monarquia mundial sob a hegemonia da Macedonia. Que sucederia se aparecesse urn individuo ou urn grupo de individuos superiores pelas virtudes? Arist6teles indica que se urn homem se destacasse acima de todos os outros, nao deveria ser tratado segundo as regras correntes; seria "como urn deus entre os homens", passagem que alguns interpretam como referida a Alexandre Magno, embora nada no texto o sugira (III, 13, 1284a3- -11 ). Sabemos que Arist6teles aprovava o plano de guerra de fens iva de Alexandre, herdado de Filipe, contra as satrapias persas da Asia Menor, a fim de preservar as cidades helenicas da area; mas discordou da transfor- mayiio deste ptojecto ern _ofen_siva _par~ a conquista. ~ cna_yfiO:--d~--~~~ monarquia muriili:iT:,.Ta!!inpi\no exiglna uma· v!oltiiiC!ii que d~saprovava. N'Oi:i!rocon:fexio;·r=eferindo a identidade da felicidade com a actividade\/iifi.iosa, explora a hip6tese de o poder supremo ser o mais excelente dos bens porquanto permite realizar acy5es nobres; a hip6tese e rejeitada: a exceH~ncia inicial seria perdida com a violencia da conquista do poder (1325a· 34 e ss). A vida activa da cidade-estado de homens livres e,J?Ois, 0 modelo definilivo de existencia huma~a ern. socieaaae~A.~;;tr;pologii"e'aellca -e~Cl~;:eceram 0 ~ig~ifi~;;(f; da -fellCidacte'ila dimensao pessoal; a melhor c_or_r1ut1idade e a_gue pc_qp_o!ciona a melhor vida aoindiy[dpp. A ideia te6ri~~ e convertida em criteria (h~;;.;_;y;,;;;.;,-ju:ig~r ~~idade e as categorias sao transferidas: o homem responsavel (spoudaios) tern o seu paralelo na idade responsavel (spoudaia polis) (1332a33); o homem feliz na cidade feliz (polis eudaimon) (1323b31 e 1333a32-b5). A felicidade da cidade e alcan9ada quando todos os estratos da existencia humana estiverem desenvolvidos. Arist6teles tern urn evidente orgulho helenico, e considera a Helade como o centro do mundo (literalmente o umbigo, omphalos) e assim a pretende manter sem unificayao politica do mundo. De acordo com sua teoria da distribuiyaO dos caracteres etnicos, combinam-se na identidade helenica 0 animo (thymos) tipico dos povos da Europa e a habilidade (tekhne) dos 27 ]1 ,I "' I I· li I I I I i I i i ' :1 't (; li r ' povos da Asia (1327b20). Cada cidade-estado helenica deve ter um fim em si mesma e unificar-se sob a acyao do individuo responsive!. Pensar o individuo, a cidade e o divino sob o modelo da auto-suficiencia, e no quadro do cosmos, eis o modelo que melhor transmite a grandeza liit''OS limites do proprio Aristoteles. 4. Natureza, forma e legislat;3.o Apos analisar a natureza da cidade nos Iivros I e II, a observa9ao das evoluyOes constitucionais, Arist6teles introduz a categoria de forma. Mas no livro III, o regime (politeia) como forma da cidade perante a materia que sao os cidadaos, levanta duas novas dificuldades. Par um !ado existem individuos que pertencem mas nao participam na vida da cidade; sao membros da cidade, mas n3.o sao cidadllos segundo a forma. Por outro lado, as caracteristicas de homem de bern e bom cidadiio s6 coincidem em circunsHincias excepcionais. Para evitar a ruptura da filosofia das coisas humanas ~ de que a consequenciapr<itica seria entregar o governo aos expedientes sofisticos ou aos tiranos e remeter o individuo para a existSncia amorfa e apolitica - Ar"j_~_t6_t~l~~---~o.Hcita ao _l.egi?lgQ,qr_ q]J~----~~--_aproxime ~~- t~atureza. E prefi§9 ... .it ·toQQ __ Q~Cust(} _suste11tar _a_ cid_a4e __ como __ a ___ ~qp1unidad_~-- e~-que~O_-·h~~em, __ ~~--P.(}~-~-- re~~~~~~: -0 P~Obl~-~,~ -~e·-~ide nas categorias que descrevem e·ste -p~ocesso. - . A raiz das dificuldades e conhecida e resulta da aplica9ao de categorias ontol6gicas, criadas para analisar a natureza, aos problemas da existSncia humana pcssoal, social e hist6rica. Forma e materia foram categorias concebidas para definir entidades como organismos, artefactos, e acyiio intencional (cf. Fisica II, 3; Metafisica I, 9 c XII, 3). A forma e imposta a materia num animal; a figura e imposta pelo artesiio ao material; a intenyao e a forma irnposta aos meios para alcanyar urn fim. 0 prOprio Arist6teles reconhece as dificuldades de transformac;ilo das categorias em t6picos fora do ambito original. Se as categorias forem aplicadas a uma polis, a politeia sera a forma e os cidadilos a materia? Todos, entao) deverao ser cidadilos? Ou s6 os que participam na goven1ac;ao e eleic;ilo? Numa tirania ou oligarquia seria impossivel, porque os homens livres perdem o direito de eleger; ao contnirio do que sucede em democracia. Talvez sO em democracia --------------~----· o cidadao seja participante no processo de decisao. Mas reter o regime como a form·a "da ClCElcfC--~<- Os cidadiios como rriat6ria provoca novas problemas: uma cidade muda de identidade cada vez que muda de regime? E o homem 28 ' ( [' I !. ~ de bem pode ser mau cidadiio, e o born cidadiio cumpridor das leis, wn individuo moralmente detestavel? A tensiio entre as exigencias da etica e da politica toma-se incomportavel e a unidade etico-politico destmida. Aristoteles nao modificou o paradigma de analise. Porque? Que motivos tinha para assim proceder? 2 Aristoteles estava consciente que o regime constitucional (politeia) nao poderia ser construido como essencia ou forma da sociedade porque niio possui estatuto ontol6gico prOprio; e uma rede de instituic;6es politicas no tempo historico. ~cresce_.5!';:~': fo~~P()!itic"._"~<:_'i~e-~~~.~p_e'.'~~ ':!11l":}~se de urn ciclo mais am,P.To; constituido por realeza, aristocracia_, oligarquia -..._~"'"''=-~··-'~--.-.-~,--_., .. ,"-~·---·-•'"-"'"'-.-.~----·•·-"-- ---·~·~· ""'"- ., """"•" · · .-·-~•e•""e ·' tirama e democracia, A primeira exposi9iio deste cicio' remonta a Herodoto; Platiio conferiu-lhe urn alcance geral para todas as cidades helenicas. Ademais, a unidade da civilizac;ao helenica prolongava-se no passado ate aos Aqueus, como nanado na epopeia de Tr6ia, e ate Creta; atrav6s dos mitos atenienses de Teseu. Finalmente, o futuro imediato estava marcado pela expansao macedonia e pela conquista da Asia par Alexandre. Em virtude da unificac;iio macedOnia, desaparecera a independSncia das pole is helenicas, comprometida pelas longas guerras civis que se sucederam a 6pica resistSn- cia contra as invas5es persas. Uma vez que estes dados eram 6bvios, e preciso justificar por que razilo a Politica nao sistematiza a sequencia regime- ciclo politico - nac;ilo helenica- hist6ria grega- comparac;iio entre civilizay5es e porque elege a polis como unidade politica exclusiva. Arist6teles extrai urn mode!o das investigac;5es hist6ricas, mas insiste em articular a essencia da polis. Isso 6 sustent8.vel, desde que se admitam pressupostos: a natureza do homem actualiza-se atraves do cultivo da vida contemplativa (bios theoretikos); a manifesta9ao da humanidade so e passive! numa cidade-estado. Nenhum destes pressupostos e hoje admissivel num quadro de referencias muito mais diferenciado pelo cristianismo e pela modemidade, e tambem pelo anti-cristianismo e pela pos-modemidade. 0 erudito poderia ficaria satisfeito com este estado da questao; o filosofo e 0 legislador nao. Se a constitui9aO e aperfeiyoavel, entiio hit todo o interesse em conhecer a estrutura empirica da cidade. Nao se trata da famigerada interven9ao do "realismo" de Aristoteles a suprir um pretenso "idealismo"; e precisamente a decisilu te6rica de Arist6te1es de cercear a·· investigayao a cidade-estado, que 0 obriga a efectuar a analise da fomia constitucional. 2 Sobre esta problematica, cf Eric Voegelin, Plato and Aristotle, Baton Rouge, LSU Press, 1957. 29. 5. A pluralidade de regimes constitucionais A partir do IS!P--6 d~OJITJ comeya o exame dos tipos de ordem constitucional mediante uma nova definiyiio de politeia: "Urn regime pode ser -·deiiiiiQO-·com-o- --a--~~g~~i;-ayao -da· d'dade··· no--que se refere ·a divers as magistraturas e, sobretudo, as magistraturas supremas; em qualquer cidade, 0 elemento supremo (kyrion) e 0 govemo, e 0 govemo e 0 proprio regime" (1278b8-11). A parte determinante numa democracia sera o povo, numa oligarquia o grupo ciirigente'~-~~im sucessivamente. Urn segundo crit6rio de diferenciayao entre regimes C o in!~resse co mum (sympheron ). Ao invCs das constituiy5es justas, as in]ustas ape-~~SOihain aos interesses particulares dos governantes: "os regimes que se prop5ern atingir o interesse comum sao rectos, na perspectiva da justiya absoluta; os que apenas atendem aos interesses dos governantes sao defeituosos e, todos eles, desviados dos regimes rectos" (1279al6-20). Da combinayiiO destes dais principios resulta a celebre classificayii<:_~ seis tipos de politeiai em duas series de regimes, rectos 5 .. ~~'i!!'!2l'· Cons- ciente aas Timlia,aes desta classifica<;iio ]urrdic():polit!ca de origem platonica, que nao se coaduna a realidade politica, Arist6teles corrige-a com uma preocupayiio social e econ6mica. Como, em regra, os ricos sao poucg_~ ~ __ os pobres mujtos, _democracia e oligarq~ia sao os _regimes 1?1~-~~ .freq:u~_nte,s. Mas exist~- um iei-CCi-~0- gruPo de in-dividuos que iriterVem nos conflitos politicos - osvirtuosos - sejam mais ricos ou mais pobres. Cada urn destes tres grupos pretende governar a cidade fundado num criteria parciaCilej\lstiya; os p01Jres falam em nome da liberdade, as ricos devidoa posiyiio economica, os virtu~~os peiO.-deSempenho da excelencia: o conflito politico entre estas pretenSOE:s ·e- inev-ihivel. Afinal, trata-se da questao da J.!!.stiya. Segundo Aristoteles, a justi_\'a coil_siste naigtl'llcl;;de de tratame11to par.a:__c>~s__igu_<lis e no tra~"tllentq cl.,§i.gual para-osque tern meritos desiguais. Quando urn destes principios parciais de justiya e aplicado isoladamente, cria conflitos: as possuidores de riquezas tendem a generalizar a sua desigualdade relativa; os que sao iguais em liberdade de nascimento, generalizam esta sua caracteristica (1280a7-25). 0 conflito entre ricos e pobres niio pode ser resolvido em favor exclusive de uma das partes, nem minorado por uma soluyiio contratual. A visiio ambiciosa de Aristoteles exige que a cidade seja mais do que uma associayiio fundada para a seguranya e defesa e para a troca de bens. A cidade e uma comunidade de aldeias e de familias, baseada na amizade entre seres humanos e a arnizade apenas se alcanya atrav6s da realizayiio do supremo bern. A sobrevivencia digna exige a participa<;ao dos individuos virtuosos; 30 ' ~ ·r·.··· nao e urn luxo. E nesta elevayiio do problema politologico do conflito del classes ·- que reconbece como grave - ao nivel da consideras:ao ontological sohre os fins da existSncia humana, podemos apreciar a consistSncia do\ metoda de Arist6teles. j Uma vez que niio existe uma soluyiio final dos conflitos sociais as solu<;6es possiveis assentam no estabelecimento de uma ordem j.!J§ta ~yg beneficie a cidade ~~~"-d_::_~icj_~d_li;() (1283a35). "A justica (; pr6Jl.iliLd1!__cidade jii que a justi<;a e_.a_orcle.m <:Ia .comunidade ds: t;idadaos e consiste n~ disceTI11.§~11t():a.o,_q(le_6justq'' (I, 2, 1253a35 e ss.). ~-d~;; ..!:~~!~[ as relayoes ~~-"-"-L"'!S__ e_n_tre os membros dacidade, de modo a conferir-lhes fundamen~\':. A justiya poiitica~(p~/itiko,; dikaion)"pr6pria do .homem a~ti-. culado em sociedade, tern dois aspectos: a obediSncia :ls leis, its quais se deve ajustar a conduta dos cidadaos, e o criteria de igualdade (isonomia) nao para todos, senao para OS iguais, ja que a desigualdade parcce jus- ta, e e, com efeito, niio para todos, senao para OS desiguais (UL 9, 1280a2-14). . Tal como a natureza impulsiona os seres humanos a agruparcn: -:-:c. _Q!P c~da~:_,~· ta_~!?~~---~sJ~!~ . .f~J?.~1~n:~~!~~s (ncr;noifPQiSUefi.i-Uin'ilOl:i [! Cll}_ na nature~. Arist6teles distingue entre leis escritas {oi kata grafn~ta ·,w,n~i) gromulgadas pelo legislador, e leis nao escritas au consuetudiniirias (kata to ethe). Pronuncia-se pela sup~ade-desi;;(III,l6,1287b5-8) sendo que i1 sua forya deri"~O h'jJ>i~o--: costii"iile "(, gilnha _yig()LCOm 0 cl"Correr do te_I!l..P_G~ (diakhronon p/ethos) (ll,8, J269a2Q). f'._~uprelll"cia da lej e fonte de forya para a c~u_nidad_!'_"__cj_e estabilidade para a constituiya~. Par EiS() mesmo, e !11".lll_<lr sergovemado par leis do que par homens, sempre sujeitos as paixoes (III,l5,1286al5). . . ~As. dificuldades em encaixar estas novas peyas do puzzle politologico sao resolvidas pela celebre apresenta<;iio das formas de regime politico como fases de urn ciclo historico (1286b8-22). A realeza surgiu como forma pnm!ll'::a _ _9:0_1S_O,emo quando urn homem preeminente em Virtude-Jmpos as sua~_qualidades de fundador da cidade com proveito comum. Quando este g~vemo v1rtuoso fez crescer a prosperidade, surgiu urn grupo de bar6es que nao acettavam submeter-se e criaram uma repUblica aristocnltica. Quando esta classe de aristocracia degenerou e enriqueceu a expensas da populayao, surgiram ohgargmas sem o sentido da honra. A concentrayao da riqueza nas maos d~ urn s6 ~ndividuo gerou a tirania. A tirania, enfim, cedeu o lugar aos reg1mes dommados pela plebe urbana, massas de homens livres apenas no nome, mas sem a virtude de saber governar em democracia. Alias, devido ao crescimento populacional, a democracia tomou-se a (mica constituiyao aceit{tVel na area hel6nica. 31 , Os tipos b<lsicos de regime, o conflito de classes sociais e o ciclo de evoluyao dos regimes, s.io tres variantes de an3.lise politica que podemos designar de constitucional, sociol6gica e hist6rica. Nenhuma e suficiente. A dassificaqiio politico-juridica de boas e mas constitui96es falha devido ao crit6rio abstracto da observ§.ncia das leis j:i que "':~ leis devem. sc::_r)~.e.~!-~ segundo a constituis;ac) e_giioa constituiqiio seEun~~asJ.,i.s" (1289al3-15 ess)e"3s"1eis-devel~ ser estabelecidas de acordo com 0 regi_me" (1282b9- ----------------~---"-' - . "- - ·---- - -- . . 1 0). Uma vez que a constituiqiio depende dos diversos grupos soc tats, toma- se necessftrio analisar o respectivo equilibria de fcm;:as. J;sJab~J~~i~a e~~i_g~~c~~--~-~.9~-~!~~:~.? .. -~P.-tr_~. -~s __ p~ete~~O~s de v:lrios _gr~£~~, -~-~~a-~t;~~-·6 inconclUdente porque nao llies determina a forya .. A classtficayao h1stonca - sHUa-o·re·g{~e-·"i1-o .. ClcTO. d3. evoluyiio provavel; mas e evidente que o process_g_ de deteriora9ao e conup,-iio da. virll1cl<: _ _<:\g:;__fullQ<!-c\Q!:eS_JLQQ"---=-"Ae.Y-"--=---s"x ··- ~~;rt;:a;:tado-pel;-i~i~~venqiio]u~ta e. oportuna .doo J.~gj"lm!.Q_,es. ___ " ... A-- e-s-tes· tt~es prillcipios acresccntam-se outros tais como condiy6es geograficas, acidentes hist6ricos, o caracter e o nlimero da populayiio. A tin ae-se assim urn a pluralidade- de formas constitucionais que faz juz ao b , ' g6nio aristot6lico de inventariay3o dos materiais empiricos. Seria empobrecedor unificar os diversos tipos de analise, ou eleger urn como determinante. Uma vez mais assistimos ao trabalho da entelequia. Arist6teles nao articula a finalidade para onde se encaminha a analise para niio antecipar indevidamente as particularidades investigadas; mas 0 telos patente e 0 espectaculo da ordem e da desordem politicas que se manifesta na pluralidade de consti- tuic;oes nos Livros IV, V e VI. 6. Os varios regimes preferiveis A coexistencia de principios gerais e materiais empiricos, exige cri- terios de classificac;iio. Como, par seu tumo, estes criterios dependem de principios de apreciac;iio do que c melhor para a cidade, o pt()_blemado regimemelhor nao se pode reduzir a uma formula politica-de"""finitiva. Da iriii:mlCy"fi~ e~tre elementos paradig-maticos e pragmaticos, Arist6teles extrai urn pn)g~:a~a- ~:Uuito c-ra~o, no inicio do Livro IV. Compete a ciSncia politica examinar, sucessivamente, "a melhor forma de regime em absoluto"; a "forma melhor tendo em conta as circunstfincias"; "a forma de regime que se estabelece segundo urn pressuposto"; e "a forma de regime que melhor convem ao conjunto de todas as cidades" (1288b22-38). A fim de cumprir este ambicioso programa nos livros IV, V e VI que conespondem a fase tardia da Politica, Arist6teles introduz uma nova 32 J I ~ I ' • metodologia de analise. Campara a cidade a urn animal com v<irios 6rgaos, em numero definido mas formatos diversos. Analogamente, cada cidade possui con juntos v.~~i_aveis d~-~-~~~!!!1-i~~~~~~fy"~Y§.~~~ 9.~-~-tssarias: a[.ricu~!!?!.~s, trabal~~99~e.s manums,, mercadores, -~es[os, militares, juizes e membros d.a ~~-~~mb.~i!;l_,_ ~agistrados e ricos proprietari~-~- CoJE_O sao possiveis diversas combinat6rias (iestas func;oes, 0 numero de regimes-oil. aiiallsar-6 multo -~~~~~- _Ao esquema abstracto, seguem-se consid~~~9ii~~--~o~~retas. D·~as destas funy6es podem surgir no mesmo indlviduo; e possivel ser simultane- amente artesao e deliberador, guerreiro e magistrado: rico e pobre ao mesmo tempo e que e impossiveL~<;;_Q.ffi.2_ riqueza e pobreza siio asR!!_rtes emi_ne!Jies (malista) d"- cidade, oligarquia edemocraCia~torna;;;-:-;;;-os ;;;gi;;;-~~~~ais e~JE:~n!es _ e -em-fllll9a0_--40S--qu~is todos _Os OutrOs·· Cleve_~- sef- anaiiS3dos (1290b2f:T291!l13). o clebate sobre estes dais regimes ocup~ a melhor parte do Livro IV e todo 'oTivro~VI, . emborilfaml5em--se·-anafise-ii reaieza, a i!i,StO'EiiCia~ e ·o_.-re<?ime constituciOii3l--·TOdO o Livro V estllda as revoluyOes cam·_c;_~()ofe~llvo cfe preservar a estabi1idade da cidade (I:l0lb27). As revoluc;oes resultam do agravamento de incidentes minimos. Entre "' suas- causas contam-se i-essentimentos, insol€ncia, medo, desprezo, imriga, acc;iio de demagogos; mas todas estas causas, algo psicol6gicas, n-,;ultam . da desigualdade !;ie condic;oes sociais e da parcialidade no exercicio cla j~~~£_a. por parte....dJls~"i"E!l.ant""[_- -- · n- - - -·--~-~-~----~h-·- , "~ melhor forma de regime em absolute" 6 apresentada atraves de uma redefiniqiio do regime aristocrli!Ico;-- ja -debatido no Li~-;--;;~!Ii.o essencial cta aristocracia e a "idetitidfiCie ·absoiUia-·-entre~·ii-OID·er~-·bo-;;;~ born cida~iio" (129~7). Todos-;;;;-;:~imes pOJii!cos se-iOrnamdeficientes relativamente a aristocracia como a melhor constitui<;iio (orthotatos). Existe uma pseudo-aristocracia em que ieSCOihiSegU~d~--~ riqueza ou o nasci- mento substitui o crit6rio da m~rit_ocr~~ia. Os reg_i_~es _ aristocniticos ou permanecem pouco acessiveis ~aprOXlffiaffi~se dOS.- Cha~ados regiffies consfirucronals~ -· - - ----· · "" c • 9 ~egi;;;~ "m"~horconvem ao conjunto de todas as cida<!fs'' deve r~flectir uma vida moderada, uma vez que, de acordo com os principios da Etica, ~eliz dec_D_rr!' confo1111e a viftude, e a virtude e urn jus to meio (mesotes). Ora eEJ__t_()_d"s ~s cidades ha urn estrato social coni urriaquantidade m6dia de posses. ~~ ~crescentarmos que a riqueza excessiva gera a irlsolencia . eapobreza gera a crirriinalidade e malicia;e que a amizade apenas cresce entre os que siio iguais em qualidades; estiio reunidos todos os elementos para o legislador confiar na classe media como o bastiiio mais seguro da 0~a.~e, _Es\e "outro rrieH1or~reg!me-dlmi~ir!a o confllto enireric_o~:~:pQb;s.(IV, 11 e 12). E mesmo que tenha de actuar nurn regii:ne que niio sej~ 33 imediatamente favon'ivel - oligcirquico ou democrcitico - o legi~!ador P_:?- curanl favorecer a classe media. . ··-Para Ar!st6teles-ng,Qc--i~i£?~E:Y.ft_apenas de uma LY~Q.m~nP,::u;~q te~~~~- era un1 d-;d~ ~9~Pro·~-~do- historicamente e ~9f!l ___ f.~I?_~_!"~~ssao directa na Sl!.~ ~a. N~ dec~da iniciada em 350 a. C. Hermias de Atameia elevara-se da c~ndiyaO humilde ate a situayiiO de tirano, sob a protecyiiO persa. Entrando em contacto com os plat6nicos Erasto e Corisco da v!Zlnha c1dade ae Scepsis, acabou por seguir-lhes os conselhos, transform~d.o ~ regime tiriinico em moderado, concedendo liberdades a classe media. Quando Arist6teles saiu de Atenas em 347 a.C. dirigiu-se para Assos, cidade entre: tanto concedida aos conse!heiros plat6nicos. Ai cason com Pitias, sobrinha e filha adoptiva de Hermias. 0 exito deste Ievou a que varias cidades se !he tenham submetido e a esfera de influencia helE:nica na regiao alargado, a ponto de os Persas se sentirem ameayados. Hermias foi atraido a uma armadilha em Susa e torturado para confessar segredos de relay6es diplom:iticas com a Macedonia. Didimo deixou registadas as ultimas palavras do govemante antes de ser crucificado. "Digam aos meus amigos e companheiros (pros tous philous kai hetairous) que nada fiz que desmerecesse a filosofd'; urn ~reve mas grandioso tributo. A autenticidade do epis6dio e a sua 1mportancta decisiva para Arist6teles e comprovada pelo hino a Virtude que depO!S, corajosamente, escreveu em Atenas, em tempos de impopulandade da alianya macedOnia, e em que reveste de formas po6ticas estes factos hist6ricos bern conhecidos. As condiy5es de Atarneia, contudo, eram excepcionais. Como a classe media e pequena, sao mais correntes as oligarquias e as democracias. Em parte nenhuma ~xistem "cern h~mens bons e bem-nascidos" que possam executar a polittca de moderayao que con vern a c!asse media (1302b39-1302a3). E a mais importante recomen- dayao pragmatica de Arist6teles adquire o som mais de urn lamento do que de urn programa. . Os Iivros VII e V!II reafinnam que o melhor regime e o que permtte a mais plena actualizayiio da natureza humana. Ap6s breve exposi9iio da teoria dos bens, da felicidade, das partes da alma, da auto-suficiencia e de outros pontos de antropologia, Arist6teles introduz o estudo inovador das khoregiai, os condicionalismos a que o legis!ador deve atender. Se as condiy6es de populayiio, territ6rio, localizay8.o e canicter natural forem 1 :E a Hermias c seus companheiros que Plat1i.o dirigiu a Carta VI onde recomenda a cria~ao de uma fraternidade entre os govcrnantes da cidade de Atarneia. Sabre o tema ver Werner Jaeger, Aristotle( ... ), 1967, pp. lll-120. 34 insatisfat6rias a partida - territ6rio e populayao excessivas ou escassas, economia desregulada, caracter servil do povo - nem o melhor Iegislador pode agir bern. Deve procurar, pois, a quantidade de populayaO necessaria a auto-suficiencia; territ6rio com autarcia agricola e facilmente defens<ivel; proximo do mar mas nao tanto que o influxo de estrangeiros atraves de porto descaracterize a cidade; quanto ao canicter, o dos helenos parece o mais adequado, mas nao dispensa a educa9iio civica. A polis e redefinida como urn conjunto (systasis) do qual nem todos os componentes sao considerados partes, embora todos sejam indispensaveis. A cidade carece de quem a alimente, defenda, administre, goveme, negoceie. Mas como a cidade e uma associa9iio de individnos semelhantes 'em busca da vida melhor, e como a actualizayao da natureza humana e dificil, nem todos podem partilhar na associa9ao de iguais. Na cidade melhor, os cidadaos membros da associayao governante devem ter o lazer necess:irio para desempenhar os cargos de modo excelente. Por isso, guerreiros, oficiais e sacerdotes devem possuir a maior por9iio da propriedade. Os ricos tern grandes propriedades mas estas sao urn instrumento (organon) (1264b8-25) e, mesmo que incluam seres vivos, nao formam parte da cidade. Ser:i isto "fascismo"? Ou o!igarquia dos virtuosos? Ou platonismo as avessas? Para avaliar Arist6teles, 6 preciso ter presente que ~u problema te6rico e 0 de identificar 0 melhor regime politico para a mamfestayaO das ~xGeTSi1Cias-·liiiil1atli~-~--onae-·exis·te-~um··grupo ---h-u'inano-~Sllfideiiie- ·par~---~ ~St~betecer'?"'Nao---exi~tem "cern hom ens capazes", nem ArislOteles esta a sugerir uma teoria da conquista do poder e do golpe revolucionario. Resta que s6 a democracia urbana pode ter estabilidade em epoca de prolife- rayao das massas. Mas esta necessidade hist6rica na:o s.ubstitui urn crit6rio de apreciayi'io, alias, para bern da prOpria democracia e da classe media. No cap.7. 4o Livro VI .coi11:~9.am ~.s reflex5es. sob_Se ~~U.CeS:~~ que ocupam todo o curto Livro VIIL 0 contexto serVepara reit=r oprincipio da complementaridade entre natureza·e-cii1fiii'iL Ue Tacfo, sea-exTSill~ci;;·d"a cidade depende de circunstiincias mahirlais externas, tambem depende do esforyO educativo. A finalidade educativa e a formayaO de homens livres com excelencias eticas e-dianoeticas atraves-dos saberes'1Ifieralii:Daqulemerge a questao da -separa<;ao enireneg6clo (askholia) e6cio(;kh;l~)- Os neg6cios existem em funy8.o do lazer, a guerra em funy8.o da paz e as coisas necessarias em funyao das coisas nobres. A educayao nao deve servir s6 o necessaria e o Util, nem sO a guerra, como em Esparta. Aiem disso, a 35 r ! t'dll,_';l(::-i•) n:lr; l· 11111 _in!20 que vis<1 rch;Glr c divertir apt)s o trabalho; dcvc 1,n·r•:n:tr n lHliilCln p:1ra as :tctividadc~ criadnras da vida activa. Mcsmo os , I . . . ·- , J~-,l:n:.· d:1~ ,·ri;tn~::Js dn·cm :..:cr <lnt·ccipa~Oes clas futuras actividadcs criattvas. ·:\;1r\~; :1~ n .. ·cn!lll~nd:Jt;i'Jcs sDhrc o cnsino da ml1sica, o manuscrito intenompe- ~c :lllt~.c; de tr;Jl<lr ;j lcitma c a cscrita, a gin;lstica, co desenho. 0 programa l·duclli\'O que :1c1naria sobre as prC-condiy6cs Ctnicas e psicol6gicas da pr))l1ll:H;:Hl. )t:lr:t rcllizar :1 ordcm politica, fica incompleto. \ cii.·Hcia politica \ !'n!/ri.-·o L~ um vcrdadciro puzzle intelcctual que s6 a tradiy:1o politica hcll~Jlicn gl\)h:ll ajwb a resolver. Mas ao Iongo dos meandros da obra, /\ri~;ll'lll·lc:; nunc:1 pcrde de vista a coincidCncia entre ~ pontode parti~-~"e_ l' pnnlll de chcg~1(b: a politica 6 a actualizayao d3.- rlatui-eza- humana. Pelo cuninlw. "ricc1 (1 Cllnpo cxtcn~lssimo da acyao humana, delimitado pela teoria :nltrnpnlllgica no inicio da t!tica (Llvro I) c pela descriyao do melhor regime no fiml ~.k rohri~·o. n prnccclimento desta filosofia das coisas humanas ~;dun .:!~_'l'i r,, ./ntlm>rina. /'tico o t>"ichm.aco, X,l0,ll8lbl5) e desctitivo \:lil'l.:\li\·~_,_ !1:1r.J Ci\l;lp!\.'Clldcr a unid<1clc_po)it(ci'_l, ¢_prcciso comln:ecnde~-.0 h1>1n:·n1 q11~· d-._-\;1 L11. p:1rtc:: c :;c tiverm(~-~ nn<;fi_o de actualizay3.o da nature~~ lnllll,'\1](\ pndcl\Hl.\ IL'I' cri!Cr(~;~~--r;u.;-T{Ilgar o---vaYOI:- da ·c·rdadC-estado. '\:;:;im sc corn preen de que o tcxto da Politica que chcgou a posteridade ccHt'--ititu:1 :1 s,'gundo p<ntc de uma ciCncia politica (epistem.e politike) cuja J!f'lli!(_'tru p~1rk l: :1 i:"tic·a. /:.., Ctica cstuda o que 6 o bem supremo, a partir dn ~·onbccinlcnln da natureza humana e procurando saber em que consiste :1 l(·!icJ,L!ck (cu~/aimonia). A finalidade da ciCncia politica e estudar o b~m huill:;-~~·o -11:1---~ .. icb politica s~ii(f(_)-·a··· ~i:1J[li;nonia da polis mais completa q~_ :1 (k\ indiddllo · ( 1 094b7- \ ). Em paralelo coin as finalidades Ultimas da vida hnm<lna prazcr, pnclcr c razao -- Arist6teles distingue entre ciencias tc\\nc:J:.;, (l\l :.;nhrc <1 raz~o; ciCncias proclutivas que visam as tCcnicas de bem- cst~Jr: c ciC:ncias pr[lticas entre ns quais sc contam a Politica cujo objecto (') interesse CO!lllllll c govcrno cia cidade; a Economia, que e ciencia da ,]din'ni:~:r:l~·:;\1 d:1 c:L~<l c dafiltni!i<l; c <l l~tica, que 0 a ciCncia da conduta do il>r!i'-·idnl' l;ll'llladu. Nc:.:.tc mnmcnln t\mc\antc ... Ch fik)-SCAia pnltica, a ciCncia dQ !_!'il J':lJh\i((\ dn hnll1C11l C\lllW :-,n raciunal (zoon nn/f/1 ekhm1) Arist(ltcles nfio i!'il<lL\ :t', r(ll'lll<lS d(· ;](_'~~~() dn que cnhic.;a. prctcnc\c ou ahusa do poclcr. A ciCncia !)1·~-~~~L:~l <~lJ;dL'.;I :1 :t\'C:-10 <Jp~.; !1in<hdorcs de cid;ulc c ;1 ;Jn;mp1i;1 de multid;ln: a t_'\LCi\~1\Ciil d:1 r:J:;_;-H\ ,. ;1 p:.;Jt'n\ngi;l tk tir<lnns qnc gcrcm as mass<~~ atravl~s (k dcscj\l, lcmor c cupidcz. E b;u;tantc c!aro que Maquiavc\ vcio Jcs\ocar a tOnica da obscrvayao politica, venclo mcnos que a cie.ncia politicn cl<issica como dcmonstrou Leo Strauss. Ao Iongo do sCc. XX, muna epoca de plena constitui<;i'io das cif.ncias ht~m~na~, reconhecemos mclhor como a universalidade do emprecndimento anstotcllco, 1an<;ou as bases do que hoje chamamos Direito Constituciona1 Economia, Tcoria da Hist6ria, Antropologia, Psicoiogia Social, Sociologia' Relay6cs Inten1acionais, Ciencias Militares. 0 que a filosofia das coisa~ humanas abrange, e impressionante: a 6tica como ciencia do canlcter do homem de bem; a politica como ciencia da natureza, forma e .ciclo d~s unidade politico-sociais; a supremacia da justi<;a; os criterios aristocni- ticos da cidade; a recomendayao da classe media; a fundamenta 9 ao da Justr<;a II a anuza~e .. Por tudo is to, a filosofia politica ocupa 0 topo da hrerarqma das cwncras pnitrcas; o seu objecto engloba todas as ordens so_ciais e ~ctivid~des humanas e os seus crit6rios servem para Jer,_ avaliar e mfluenctar a vtda em comunidade. R. A presente edi9iio GEPOLIS . . A r_rc~entc cdiyt1o bilingue da Pnlitica era indispcns:ivcl para res lttu1r ~r~stoteles ao pensamcnto politico pnrtuguCs, A traduyao dcvc-sc a Antonto Campclo Amaral, c Carlos de Carvalho Gomes*, mediante traba1ho abncgado que se iniciou em 1995, no ambito do GEPOLIS da Universidade Cat61ica Portugucsa. 0 texto fixado segue a edi<;ao Bekker da AcadcmJa Borusstca, tendo sido consultadas outras cdiy6es do texto grego e respectivas tradu<;oes em linguas modernas: W.L. Newman, The Politics of Aristotle; J. Aubonnet, Politique, Paris,.J968-1980, (Bnd~); H. Rackham (Loeb), 0. Immisch, Politica, Leipzig, 1909 e 1929) (Teubner); J. Marias, Po/itica, Madrid, 1957. . A R. M. Rosado Fernandes, da Universidade Classica he1enista dis- tinto.' ~xpressar~10s_ o nosso agrado pela revisao liteniria do t'exto grego e o prefacw que drgnrfica esta edi<;ao. A Manuel Silvestre, agradecemos os mdrces de conceitos e de names e outras diligencias editoriais. A Joiio Constiincio, da Universidacle Nova, agradecemos as facilidades concedidas para a oblen,ao do texto grcgo. A Alti·cdo Ramalho. Adjunto do Professor Bibliotccftrin cb BtJJP fl. agradcccmo;:.; n pcrnwncntc apoio ,na disponihilizayiln ]](']') 37 -----------------------~·--·-- .'" de meios logisticos e bibliogr:ificos. Enfim, uma palavra especial para o disc.ernimento do editor, Assirio Bacelar, e o director da colecy3.o em que a preseute a bra e editada, Joffo Bettencourt da Camara; ~m ~~a hora, as ediy5es Vega colaboraram em restituir, de facto, ao patnmomo cultural portugues uma obra que, de direito, ja o integrava .• MENDO CASTRO HENRIQUES 38 BIBLIOGRAFIA POR ORDEM TEMATICA E CRONOLOGICA As edi.;Oes da Politica W. L. NEWMAN, The Politics of Aristotle, Oxford, 1887-1902 F. SUSEMIHL and R.D. HICKS, The Politics of Aristotle, Londres, 1894 0. IMMISCH, Politico, Leipzig, 1909 e 1929 H. RACKHAM, Politics, Londres, ed. Loeb, 1932 E. BARKER, The Politics of Aristotle Oxford, 1946 1. AUBONNET, Aristote, Politique, Paris, ed. Belles-Lettres, 1960-89 1. MARiAS, Politico, Madrid, EP, 1957 R. ROBINSON, Aristotle's Politics. Books III and IV, Oxford, 1962 B. Cronologia H. VON ARNIM, Zur Entstehungsgeschichte der aristotelischen Politik, Sitzungsberichte der oesterreichischen Akadernie der Wissenschaft in Wien, Phil.-hist. KL 200.1, Viena, !924 J.L. STOCKS, 'The composition of Aristotle's Politics', Classical Quarterly 31, 1937, 177-87 E. BARKER, 'The life of Aristotle and the composition and structure of the Politics', CR 45, 1931, 162-72 W THEILER, 'Bau und Zeit der aristotelischen Politik', MH 9, 1952, 65-78 R. STARK, 'Der Gesamtaufbau der aristotelischen Politik', in La politique d'Aristote, Entretiens Hardt XI Geneva, 1964 E.BRAUN, Das dritte Buch der aristotelischen Politik, Interpretation, Sitzungbe- 39 richte der oesterreichischen Akademie der Wissenschaften, Philos.-hist. KJ. 247-4 Vienna, 1965 Werner JAEGER, Aristotle: Fundamentals of the history of his development, Oxford, O.U.P., 2." ed, 1967 J. MESK, 'Die Buchfolge der aristotelischen Politik', in STEINMETZ ed., Schri- ften zu den Politika des Aristoteles Hildesheim, 1973 C.J. ROWE, 'Aims and methods in Aristotle's Politics', Classical Quarterly 27, 1977, 159-72 P. PELLEGRIN, 'La Politique d'Aristote, unite et fractures', Revue philosophique de Ia France et de l'Etranger 110, 1987, 124-59 C.H. KAHN, 'The normative character of A_ristotle's Politics', in G.PATZIG, ed. Aristoteles, 'Pohtik' Goettingen,l990 C. Filosofia politica E. BARKER, The Political Thought of Plato and Aristotle, Londres, 1906 M. DEFOURNY, Aristote, etudes sur Ia Politique, Paris, 1932 · AA.VV. La politique d'Aristote, Entretiens Hardt XI Geneva, 1964 M.I. FINLEY, Democracy Ancient and Modern, Londres, 1973 P. STEINMETZ ed., Schriften zu den Politika des Aristoteles, Hildesheim, 1973 G. BIEN, Die Grundlegung der politischen Philosophie bei Aristoteles, Munich, 1973 R.G. MULGAN, Aristotle :S Political Theory, Oxford, 1977 J.B. MORRALL, Aristotle, Londres, 1977 E. SCHUTRUMPF, Die Analyse der Polis durch Aristoteles, Amsterdam, 1980 R. BODEUS, Le philosophe et Ia cite, Paris, 1981 TH. IRWIN, Aristotld First Principles, Oxford, 1988 , ch. 2-3 G.PATZIG, ed. Aristoteles; 'Politik' Goetting en, 1990 R. BODEUS, Philosophic et politique chez Aristote, Namur, 1991 D. KEYT and ED. MILLER ed., A Companion to Aristotle:S Politics, Oxford, 1991 F. WOLFF, Aristote et la politique, Paris, PUF, 1991 D. Etica e Politica W.L. NEWMAN The Politics of Aristotle, Oxford, 1887-1902, vol.2, apendice.A K. VON FRITZ e E. KAPP, Aristotle S Constitution of Athens and Related Texts, Nova Iorque, 1950 E. TREPANIER, 'La Politique comme philosophie morale chez Aristote', Dialo- gue 2, 1963-64, 25 I-79 R BETBEDER, 'Ethique et politique selon Aristote', Revue des sciences philosophiques et theologiques 20, 1970, 543-88 H. FLASHAR, 'Ethik und Politik in der Philosophic des Aristoteles', Gymnasium 78, 1971, 278-93 40 D.J. ALLAN, 'Individual and state in the Ethics and Politics', in F.P. HAGER Ethik und Politik des Aristoteles, Darmstadt, ~972 S. CASHDOLLAR, 'Aristotle's politics of morals', IHP 11,1973, 145 -60 A.W.H.ADKINS, 'The connection between Aristotle's Ethics and Politics', Political Theory 12, 1984, 29-49 T.H. IRWIN, 'Moral science and political theory in Aristotle', in P. CARTLEDGE e F. D. HARVEY, eds. , Crux, Exeter, 1985 J. ROBERTS, 'Political animals in the Nicomachean Ethics', Phronesis 34, 1989, 185-205 C. J. ROWE, 'The good for man in Aristotle's Ethics and Politics', in A. ALBERTI Studi sull'etica di Aristote, Napoles, 1990 E. Antropologia Politica E. WElL, 'L'anthropologie d'Aristote', in Essais et conferences, I, Paris, 1970 R.G.MULGAN, 'Aristotle's doctrine that man is a political animal'. Hermes, I 02,1974,438-45 T.J. SAUNDERS, 'A note on Aristotle's Politics I,l', Classical Qu. ·~r,.,rl.y 26, 1976, 316-!7 D. KEYT, 'Three fundamental principles in Aristotle's Politics', Phru.'?('SI>> 32, 1987, 54-79 e in D. KEYT and ED. MILLER ed., A Companhm to Aristotle's Politics, Oxford, 1991 J. M. COOPER, 'Political animals and civic friendship', in in G.PAfZ!G, ed. Aristoteles, 'Politik', Goettingen, 1990 W KULLMANN, 'Man as a political animal', in
Compartilhar