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Dr. J. Bil6ngs PLANEJAMENTO NATURAL DA FAMÍLIA o método da ovulação ~ PAULUS Coleção PLANEJAMENTO FAMILIAR • Como planojar sua família naturalmente com sucesso (folheto) • Plane/amonto natural da família - O método da ovulação, Dr. J. Billings • O método Billings, Ora. E. Billings e A. Westmore • O método da ovulação (o método Billings) fo lheto • Ensinando o método da ovulação Billings, Ora. Evelyn L. Billings • Sexualidade na contramão, Gerson A. Silva e Maria Celina T. Martins • A descoberta de diferontes tipos de muco cervical e o Método de Ovulação Billings, Erik Obeblad ANTES DE INICIAR O USO DE QUALQUER MÉTODO NATURAL PROCURE UM INSTRUTOR CREDENCIADO PARA TIRAR TODAS AS SUAS DÚVIDAS SOBRE OS MESMOS, POIS SUA EFICÁCIA DEPENDE DA CORRETA APLICAÇÃO DE TODAS AS REGRAS. DR. JOHN BILLINGS PLANEJAMENTO NATURAL DA FAMÍLIA O método da ovulação ~ / PAULUS Título original Natural family planning - The ovulation method © J . J. Billings, 1976 Traduzido da edição australiana publicada por Rigby Limited, 1976 Tradução Bento Itamar Borges Capa L. Cassoli & M. Dagher Impressão e acabamento PAULUS 13ª edição , 2004 © PAULUS - 1980 Rua Francisco Cruz, 229 041 17·091 São Paulo (Brasil) Fax (11) 5579-3627 Tel. (11) 5084·3066 www.paulus.com.br editorial@paulus.com.br ISBN 85·349·1267-X FÁCIL E GARANTIDO Toda mulher saudável e fértil percebe que, por alguns dias, entre seus períodos menstruais, há um corrimento branco ou claro na vagina. Esse sintoma, tão familiar, levou muitas mulheres a formularem explicações muitas vezes errôneas a respeito. Outras, talvez, tenham deixado de pres- tar atenção a isso. ~Algumas podem ter encarado o fato como sintnma de doença, de infecção. Cer- tas culturas têm uma explicação tradicional e po- pular para isso: por exemplo, os chineses acredi- tam que seja indicação de fraqueza geral e recei- tam tônicos à base de ervas. Algumas mulheres pensam até que o sintoma seja o resultado de pensamentos eróticos. E poucas atinam com seu significado real. Há indícios, porém, de que isto, em eras passadas, fosse do conhecimento comum que se conservou no folclore de algumas raças primitivas. Devemos à c1encia moderna a compreensão que temos do assunto. Hoje sabemos com certeza que tal corrimento indica os dias de fertilidade, nos quais a relação sexual pode gerar uma criança. 5 O seu padrão menstrual Inevitavelmente, a mulher nota esse fluxo no decorrer de suas atividades normais. É absoluta- mente desnecessário que faça qualquer exame in- terno. Se tiver dificuldades em se lembrar do pa- drão de um ou dois ciclos menstruais, deve apren- der logo a interpretar, com bastante precisão, sua fisiologia r eprodutiva normal. E, de fato, pode compreender bem a atividade cíclica sadia que ocorre no organismo de qualquer mulher normal, tranqüilizando-se quanto às observações que não eram entendidas anteriormente e que poderão ter sido fonte de inquietação. Se a cada noite a mu- lher registrar o que ocorre durante o dia, ou seja, a hemorragia do período, o fluxo ou mesmo nada de especial, estará elaborando uma tabela, como a da figura 1 . Pode-se notar que a cor vermelha foi usada para indicar o período menstrual, a ver- de para os dias em que nada foi anotado e a bran- ca para os dias em que se observou o fluxo. Se o ciclo foi fértil e normal, quer dizer, um ciclo em que poderia ter ocorrido gravidez, notar- -se-á que o fluxo branco fora registrado cerca de duas semanas antes do período menstrual que as- sinalou o fim do ciclo. É conveniente referir-se agora a este corri- mento pelo nome mais correto de muco. Com um pouco mais de observação, a mulher notará que o muco está presente ainda que em quantidade insuficiente para caracterizar uma "perda" . As- sim, durante alguns dias, a presença do muco se torna evidente por causa de uma sensaçã.o 6 úmida e escorregadia que ele produz, ao contrá- rio da sensação normal de secura, fora da vagina. Até aqui, estivemos descrevendo esse sinto- ma mucoso de uma maneira muito simples, mas a mulher talvez já tenha percebido outros aspectos aos quais ela deve agora dirigir sua atenção. O começo do sintoma se reconhece pela mu- dança de uma sensação de secura fora da vagina para uma sensação de "não se estar mais seca". Nesse dia ou no seguinte, a mulher também deve- rá verificar se o muco tende a ser denso, opaco e pegajoso. Nos dias seguintes, ele tenderá a se tornar mais ralo, mas o que é mais comum é que se torne escorregadio. Aí então, a umidade e a sensaç~.o de lubrificação que resultam do muco tornam-se bem definidas. Nesse estágio, o muco se assemelha à clara crua de ovo. Imagine-se que- brando um ovo e separando as duas metades da casca; os fios da clara que ligam as duas metades dão uma idéia perfeita desse muco escorregadio. Esse muco que parece clara de ovo é uma indi- cação de um alto grau de fertilidade. Em seguida, o muco tende a se tornar nova- mente denso e pegajoso como no começo. A suces- são de mudanças está representada na figura 2, onde é usada a cor amarela para indicar o muco pegajoso, isto é, aquele que não forma fios e que não produz a sensação de lubrificação e umidade. O próximo passo para a mulher aumentar o seu conhecimento é observar, depois de marcar com um xis ( x) o último dia em que o muco es- teve muito úmido e escorregadio, que seu período menstrual irá começar aproximadamente duas se- manas depois. Isso está representado na figura 3. 7 A mulher toma assim consc1encia dos deta- lhes básicos essenciais e o que será descrito a se- guir permitirá que ela seja realmente capaz de planejar, sozinha, o controle. Entretanto, se con- tinuar fazendo essas observações por mais alguns ciclos, os detalhes acima descritos lhe ficarão cada vez mais claros e ela verá como é fácil perceber as características mutáveis do muco, que antes não se notavam. Poderá assim, perceber que o seu padrão individual de fertilidade é visível no gráfi- co. Anotando os dias férteis, verá que, se quiser evitar gravidez, ela e o marido não deverão man- ter qualquer contato sexual íntimo durante os dias de muco, aguardando alguns dias depois do ponto máximo de fertilidade para retomarem o relacionamento sexual. Muitas mulheres sabem que a duração de seus ciclos menstruais pode variar a qualquer momen- to, às vezes de maneira considerável. Nas figuras 4 e 5 estão representados dois ciclos de diferen- te duração e pode-se ver que a localização do sin- toma mucoso é a mesma em relação ao período menstrual que encerra o ciclo. Isso indica que a mulher sempre poderá prever com antecedência de um ou mais dias se seu período menstrual está para chegar. Ela perceberá também que, à medi- da em que for capaz de reconhecer o padrão de fertilidade (muco) durante o ciclo, qualquer que seja a sua duração, a irregularidade não consti- tuirá o menor problema. Não precisará se preo- cupar em manter um registro, em calendário, das datas em que seus períodos começaram, nem ha- verá necessidade de contar os dias do ciclo. 8 O método da ovulação O que foi dito até agora é um breve resumo de um simples método natural de planejamento familiar, que se tornou conhecido como método da ovulação. Trata-se de um método seguro que, por ser natural, não requer a ingestão de drogas ou pílulas de qualquer espécie, nem são necessá- rios instrumentos ou procedimentos cirúrgicos. Merece toda confiança porque se baseia em sãos princípios científicos que serão elucidados no ca- pítulo seguinte. Pode ser aplicado a todas as fases da vida reprodutiva de uma mulher, quer duran- te ciclos regulares ou ir regulares, como foi escla- recido acima, quer durante a amamentação ou mesmo perto da menopausa, como será explicado no capítulo Aprendendo o método, à página 23. Outros métodos naturais Sabendo-se que a ovulação ocorre cerca de duas semanas antes do fim do ciclo, podem ser feitos cálculos com baseno tempo da ovulação em ciclos de duração variada. Os prognósticos ba- seados nas variações do ciclo normal de uma mu- lher constituem a base do chamado método do ritmo, um método natural que, de modo geral, não tem sido mais usado. Também é necessário levar em conta a possibilidade de sobrevivência dos espermatozóides, por alguns dias, à espera da ovulação. Sabe-se atualmente que os espermato- zóides não sobrevivem além de algumas horas, a menos que haja um muco favorável. 9 Outro método natural atualmente fora de uso é o método da temperatura. Ele se fundamenta na constatação de que a temperatura do corpo sobe nos dias que se seguem à ovulação. Serve apenas para definir os dias não férteis depois da ovulação, tornando-se inútil nas ocasiões em que se suspende a ovulação, como por exemplo nos ciclos anovulares, durante a amamentação e nos ciclos longos. Restringe muito a liberdade para re- lações sexuais. 10 A BIOLOGIA DA FERTILIDADE As células sexuais A célula sexual do homem se chama esperma- tozóide e a da mulher é denominada célula-ovo ou óvulo. A concepção se dá quando um esperma- tozóide sadio e um óvulo se fundem. Cada uma dessas células constitui, na verdade, meia-célula, pois contém apenas a metade do número normal de cromossomos, que são os elementos da célula que carregam o material genético, os genes. Em todas as outras células do corpo, os cromossomos aparecem em pares mais ou menos idênticos, ex- ceto nos cromossomos sexuais do homem. O sexo feminino depende de um par de cromossomos X, enquanto o masculino tem um cromossomo X e um Y. Isso significa que a metade dos espermato- zóides contém cromossomos X e produzirão me- ninas, enquanto a outra metade contém cromos- somos Y e produzirão meninos. O ciclo feminino de fertilidade O homem tem um nível razoavelmente cons- tante de fertilidade, ao passo que a da mulher se alterna, em ciclos. Contrariando a crença popular, os ciclos têm duração irregular, sendo que o úni- 11 co período relativamente constante é o intervalo entre os dias férteis e o período menstrual seguin·· te, que dura mais ou menos duas semanas. Este ciclo de fertilidade é o padrão feminino, que cedo se coloca em desenvolvimento e depende de um mecanismo complicado e delicado que abrange parte do cérebro (o hipotálamo), a glândula pi- tuitária e os ovários. Durante o período menstrual que marca o início de um ciclo menstrual, os ovários estão em um estado de atividade reduzida. Então, o hipotá- lamo envia um estímulo químico à glândula pitui- tária, causando a liberação de um hormônio quí- mico, conduzido aos ovários pela corrente sangüí- nea, sendo estes estimulados por ele. Daí resulta o desenvolvimento de um certo número de ninhos de células, contendo cada um deles um óvulo. Em cada ciclo, geralmente, apenas um desses ninhos de células alcança plena maturidade e durante es- se processo de desenvolvimento são liberados hor- mônios químicos do ovário, o que, por sua vez, in- fluencia o hipotálamo e a pituitária. Esse meca- nismo de feed-back, finalmente, acarreta a libera- ção de um óvulo no ventre, sendo, então, apanha- do por uma das trompas (trompas de Falópio) e conduzido ao útero. Ovulação O fenômeno de o ovano soltar um óvulo se denomina ovulação. De vez em quando ocorre mais de uma ovulação no mesmo ciclo, mas sem- pre no mesmo dia. Há apenas um dia de ovulação 12 em qualquer ciclo. Quando há ovulação múltipla, geralmente os dois ovários estão implicados; por exemplo, pode haver dois óvulos produzidos, um de cada ovário. Enquanto o ovário está se preparando para soltar um óvulo, ocorrem vários outros fatos re- lacionados com esse fenômeno, também sob o controle dos hormônios. A membrana que forra o útero se apronta para uma possível gravidez e as glândulas (criptas) da cerviz (o colo) do útero segregam um tipo especial de muco, muito im- portante para a realização da gravidez. O muco cervical Nos últimos anos, tem-se dado muita atenção à importância do muco cervical na reprodução humana. Sabe-se que ele tem várias funções: 1. Pelas suas propriedades lubrificantes, auxilia no desempenho do ato sexual. 2. O primeiro muco segregado e também o mu- co pós-ovulatório criam uma barreira para a penetração dos espermatozóides. 3. Perto do momento da ovulação, mudanças nas características físicas do muco facilitam a migração dos espermatozóides do útero pa- ra as trompas de Falópio. 4 . O muco forma um invólucro protetor para os espermatozóides, a fim de que não sejam da- nificados pelo ambiente da vagina e escapem à destruição (fagocitose). 5. O muco nutre os espermatozóides, comple- mentando suas exigências de energia. 13 6. O muco funciona como um filtro pelo qual os espermatozóides mortos ou doentios são im- pedidos de atingir o útero. O muco provavelmente participa da chamada "capacitação" dos espermatozóides, isto é, do pro- cesso pelo qual eles se tornam capazes de penetrar o óvulo e fecundá-lo. Há várias experiências de laboratório que de- monstram as mudanças no muco cervical, ocorri- das como reflexo do padrão hormonal de ovulação em um ciclo fértil. Essas experiências incluem o "teste da samambaia", a mensuração do conteúdo celular, a acidez (pH), a viscosidade e a medição das glicoproteínas presentes. Fecundação O óvulo tem um período de vida curta, pro- vavelmente não mais longo que cerca de 12 horas e com certeza menos de 24 horas, a menos que seja fecundado. A fecundação se dá logo depois que o óvulo entra na trompa de Falópio. Aí a nova vida humana passa a existir. Nesse momento, as duas meias-células se fundem numa célula com- pleta e se estabelece a constituição genética do indivíduo. Já está determinado o sexo do novo ser e as suas características físicas. Cada vida é ini- gualável, embora, às vezes, possam resultar gê- meos "idênticos" pela duplicação dos cromosso- mos, que se segue à divisão celular. A nova vida, produzida pela fusão do esper- matozóide com o óvulo, é chamada embrião du- rante os primeiros estágios de seu desenvolvimen- 14 ..__ _________ -- - to. São necessários vários dias para que ele passe pela trompa e atinja seu lugar de alimentação no útero durante a gravidez. Por vários dias após a ovulação, entretanto, a membrana que forra o úte- ro continua a se preparar para uma possível gra- videz. Quando essa gravidez não ocorre, a mem- brana se degenera e é lançada para fora do útero com um pouco de sangue : nisto consiste o perío- do menstrual. Gravidez Durante sua passagem pela trompa em dire- ção ao útero, o embrião já sofre modificações. Há uma separação gradual das células que for- mam o órgão responsável pela ligação da criança à parede do útero, de modo a fornecer o alimen- to que vem do organismo da gestante. Esse órgão se chama placenta. Durante a gravidez, a placenta produz os hormônios químicos que estimulam o hipotálamo da mãe, a glândula pituitária e os ová- rios, de tal modo que a gravidez é mantida. A ovu- lação e, por conseguinte, a menstruação são ini- bidas e vários outros efeitos físicos ocorrem, in- cluindo-se o aumento e o desenvolvimento do te- cido glandular dos seios. A criança permanece ligada à placenta por um cordão que passa pela região do umbigo. Desen- volve-se uma bolsa de líquido, no qual o bebê fica livre para se mover e protegido contra lesões. Durante os trabalhos de parto, a membrana que forra essa bolsa se rompe, provocando o vaza- mento do líquido, também conhecido por "rom- pimento da bolsa". 15 Lactação Principalmente nos primeiros meses, o leite materno é de grande valor para o bebê, porque ele é especialmente planejado pela natureza co- mo alimento ideal da criança, contendo, inclusive, inúmeras substâncias protetoras contra doenças infecciosas. A amamentação é valiosa tanto para a mãe quanto para o bebê, não apenas psicologi- camente, mas também porque o estímulo físico da sucção dos seiós faz com que o hipotálamo e apituitária segreguem um hormônio que restitui ao útero seu tamanho normal, além de secar o corrimento ( lóquios) que dura algumas semanas após o parto. A amamentação estimula a liberação de dois hormônios da glândula pituitária: prolactina e oxitocina. A prolactina é responsável pela produ- ção de leite, enchendo os seios. A oxitocina faz expelir o leite pela contração de finas fibras mus- culares em volta dos duetos e do tecido glandular. Isso é denominado "descer o leite". A oxitocina ajuda a devolver ao útero seu tamanho normal. E, de fato, enquanto amamenta o bebê, a mulher pode sentir certas contrações no útero. A amamentação atrasa o retorno da ovulação e, desse modo, a natureza assegura espaçamento entre as crianças, de modo que a mãe possa reser- var suas atenções para o novo bebê. Esse é outro aspecto do planejamento familiar natural. Um maior encorajamento para que as mães amamen- tem seus bebês é um sadio progresso dos tempos atuais, após uma fase em que isso se tinha torna- 16 do relativamente pouco popular. Amamentar o be- bê, dando-lhe o seio sempre que eie estiver com fome ou indisposto, assegura o máximo de bene- fício tanto para a mãe como para a criança. É con- veniente que a mãe tenha um repouso adequado e boa alimentação durante os meses de lactação, para que a provisão de leite seja mantida. O intervalo de tempo entre o parto e o re- torno da fertilidade é variável mas costuma ser igual para a mesma mulher depois de sucessivos partos. Às vezes, a mulher não terá ovulação por seis meses ou até mesmo por um ano ou mais, en- quanto estiver amamentando. Alguma mulher po- derá experimentar a volta da ovulação enquanto ainda amamenta. Poderá ovular antes que haja hemorragia menstrual; em outros casos, a ocor- rência de sangue pode ser aviso da proximidade da ovulação. Em algumas mulheres, a diminuição da quantidade de leite serve de alerta; em outras, o retorno da fertilidade pode ter sido estimulado pela introdução de comida sólida na dieta da crian- ça. Em todas essas circunstâncias, o aviso da apro- ximação da ovulação é dado pela aparição do mu- co cervical e pelas mudanças reconhecíveis em suas características físicas, de modo que, com o reinício da ovulação, a gravidez pode ser evitada da maneira habitual. As glândulas sexuais masculinas As principais glândulas sexuais do homem são os testículos. Elas não estão dentro da cavidade da pelve, mas localizam-se externamente, dentro 17 do escroto, provavelmente para que os esperma- tozóides se possam desenvolver a uma tempera- tura mais baixa que a do interior do corpo. Cada testículo se liga por um canal (vaso) à uretra, a passagem que vai da bexiga para o exterior. Vá- rias glândulas se alinham ao longo ou em redor da uretra e a maior delas se denomina próstata. Ao longo de cada testículo está um órgão chamado epidídimo, o principal local de armaze- nagem para espermatozóides. O que é ejaculado (fluido seminal) é um agregado de espermatozói- des e de secreção das glândulas situadas ao longo da uretra, inclusive da próstata e das vesículas seminais, que estão ao longo da próstata. A produção de espermatozóides processa-se continuamente. Periodicamente, eles são lança- dos para fora do corpo, em geral durante o sono. Essas emissões (poluções noturnas) asseguram a manutenção de um suprimen to de espermatozói- des novos e sadios. Espermatozóides recém-ejaculados são inca- pazes de fecundar um óvulo. É necessário que eles estejam presentes dentro do aparelho genital fe- minino, ao menos por algumas horas, para que possam penetrar no óvulo e fecundá-lo. Dado que a próstata e as vesículas seminais também armazenam espermatozóides, o homem não se torna estéril senão várias semanas após a ligação dos vasos em ambos os lados. 18 Concepção por contato A conservação de espermato~óides nas glân- dulas em volta da uretra tem importância adicio- nal. Com a excitação sexual, é comum que saia certa secreção pelo pênis. O exame microscópico dessa pequena quantidade de fluido pode revelar a presença de espermatozóides. Por isso, contatos íntimos entre os órgãos sexuais podem causar a concepção se a mulher estiver em estado fértil, porque ela terá então, dentro e em volta da vagi- na, o muco que auxilia a migração dos esperma- tozóides para dentro do útero e das trompas. Is- so significa que pode haver transmissão de esper- matozóides do homem para a mulher, mesmo sem a penetração do pênis na vagina e mesmo sem ejaculação. A isso se chama concepção por con- tato. Infertilidade Fertilidade é a capacidade de gerar filhos. A maioria das pessoas tem tendência a superesti- mar sua fertilidade. Aproximadamente dez por cento dos casamentos são inférteis e há muitas famílias que não são numerosas, embora nunca tenha havido séria intenção de impedir concep- ções . A fertilidade, tanto do homem quanto da mulher, atinge seu ponto alto entre, mais ou me- nos, os vinte e os vinte e cinco anos de idade, declinando em seguida. De início gradualmente, mas depois dos trinta e cinco anos declina muito mais rapidamente. Esse declínio gradual de ferti- 19 lidade na mulher recebe o nome de climatério ou "mudança de vida". A limitação da fertilidade da mulher para apenas uma parte da sua vida é ca- racteristicamente humana, pois em muitas outras espécies animais, as fêmeas conservam certo nível de fertilidade mesmo em idade avançada. Freqüentemente se atribui a infertilidade de um casamento apenas a um dos cônjuges. Nem todas as causas da infertilidade são compreendi- das; mas, às vezes, simples medidas para melho- rar a saúde geral e reduzir a ansiedade e a fadiga são suficientes para elevar a fertilidade a um ní- vel que permita a concepção. O planejamento familiar natural pelo méto- do da ovulação serve especialmente para auxiliar muitas pessoas casadas a conseguir a concepção, mesmo quando pensam que o casamento seja es- téril. Em inúmeros casos, a mulher pode notar que tem uma secreção de muco cervical relativa- mente pobre na maioria de seus ciclos. Para tal mulher, poderá, haver apenas um dia ou parte de um dia em vários meses, em que ela será capaz de conceber. Portanto é essencial, para ela, apren- der a interpretar a informação dada pelo muco e a reconhecer seu ponto mais alto de fertilidade. Vários ciclos menstruais podem ocorrer antes que haja um no qual o muco escorregadio, fibroso e com aparência de clara de ovo, seja observado. Nessas ocasiões, deve-se manter relação sexual, caso a mulher deseje conceber. 20 Métodos artificiais para evitar a concepção Mesmo sendo breve, essa descrição que fize- mos da fisiologia sexual nos possibilita entender o funcionamento dos seguintes métodos artificiais ., de evitar a concepção: • Preservativos e diafragmas são destinados a formar uma barreira, para impedir que os es- permatozóides ejaculados na vagina entrem no útero e nas trompas. • Coito interrompido consiste na prática de re- tirar o pênis imediatamente antes da ejacula- ção. É um método ineficiente e frustrante de evitar a gravidez, com maus efeitos para a saú- de física e mental do marido e da mulher. • Pílula anticoncepcional: age no hipotálamo e na glândula pituitária e, às vezes, também di- retamente sobre os ovários, produzindo os se- guintes efeitos: 1 . Impedimento da ovulação. 2. Alterações na membrana do forro do útero (endométrio) de modo que, mesmo se a mulher ovular e conceber, a gravidez não continuará. Isso é uma ação abDrtífera e não contraceptiva, isto é, essa alteração provoca aborto. 3 . Mudanças no muco cervical, para torná-lo desfavorável aos espermatozóides. • A mini-pílula visa a alterar o muco cervical, evitando a concepção por criar um ambiente hostil ao esperma. Essa pílula com certeza im- 21 plica ação abortiva, como as pílulas anticon- cepcionais comuns. • O dispositivo intra-uterino (como a presilha, Dalkon-Shield, Copper-7 etc.) estabelece uma inflamação damembrana que forra o útero, de modo que a gravidez é rejeitada. Tais disposi- tivos são, portanto, abortíferos e não contra- ceptivos. • Operações de esterilização. No homem, essa operação implica a ligação dos vasos de am- bos os lados. Isso impede os espermatozóides de saírem para fora do testículo; eles morrem e são absorvidos pela corrente sangüínea, on- de podem criar distúrbios físicos pelas chama- das reações "auto-imunes". Na mulher, a ope- ração equivalente é a ligação das trompas de Falópio. Após a operação, várias desordens ginecológicas ocorrem, num número signifi- cativo de mulheres, especialmente hemorragia excessiva. Várias outras técnicas estão sendo estudadas atualmente, como por exemplo a criação de uma pílula anticoncepcional masculina. É pouco prová- vel que essa pílula se torne largamente usada, por várias razões . Têm sido feitas tentativas de imunizar mu- lheres contra os espermatozóides, de modo que seus corpos reajam destruindo qualquer esper- matozóide que entre pela vagina. Tal técnica, con- tudo, envolve um risco evidente : os espermato- zóides podem ser danificados e ainda continua- rem capazes de fecundar o óvulo, o que acarreta- ria anormalidades na criança gerada. 22 APRENDENDO O MÉTODO Ao aprender o uso do método da ovulação, é aconse]hável que a mulher procure se guiar por um professor treinado ou, pelo menos, por outra mulher que o tenha compreendido e o empregue com êxito. Mesmo quando não tiver essa ajuda, a mulher com certeza poderá entender o método so- zinha. Mas é bom também aprender o método num pequeno grupo de mulheres; assim, o conhe- cimento pode ser difundido mais amplamente, fi- cando responsável pelo grupo uma mulher que tenha se tornado eficiente na aplicação do mé- todo. A compreensão da primeira parte deste livro já deve ter esclarecido que a · duração efetiva do ciclo menstrual e sua regularidade ou irregulari- dade não têm importância alguma. Ao elucidar a aplicação prática do método, com mais exemplos, não se fará, pois, nenhuma referência à duração do ciclo. A fertilidade depende de: 1 . Ovulação 2. A vida do espermatozóide. A ovulação ocorre apenas num único dia em cada ciclo e é seguida pela menstruação, cerca de 23 duas semanas mais tarde, se não houver fecun- dação. O óvulo vive menos de um dia. Os esper- matozóides vivem poucas horas; entretanto, se encontrarem a presença de um muco propício, sua vida pode ser prolongada por dois ou três dias e, raramente, até quatro ou cinco dias. A fertilidade combinada A fertilidade éombinada do esposo e da espo- sa refere-se aos dias em que o contato sexual ínti- mo ou a relação pode causar a concepção. Esse período começa quando surge o muco capaz de conservar os espermatozóides vivos até o momen- to da ovulação e dura até depois da morte do óvu- lo. Caso se deseje evitar a gravidez, deverá haver abstinência de contatos íntimos nos dias de fer- tilidade combinada (figura 6). Entre os dias de abstinência de contatos se- xuais íntimos devem ser incluídos os dias em que há ocorrência de hemorragia. Há duas razões para isso. Antes de tudo, em um ciclo curto com ovu- lação precoce, a ovulação pode ocorrer antes do final do período, sendo o muco de alerta obscure- cido pela hemorragia. A segunda razão, e isso acontece principalmente nos ciclos longos, é que a aproximação da ovulação pode ser assinalada por hemorragia, à semelhança do período mens- trual. Se a mulher pensar que a hemorragia é uma indicação de infertilidade, talvez mantenha rela- ções bem na época em que está com maior pro- babilidade de conceber. 24 ------ - - - - - - -- - 1 1 D D Código de cores para as figuras de 1 a 12 A cor vermelha é usada para o dia em que qualquer he- morragia tenha sido observada. A cor verde é usada para o dia em que não foi observa- do nenhum muco e houve uma sensação de secura. A cor branca é usada para os dias em que a presença do muco foi constatada, quer pela sensação provocada por sua presença, quer pela observação visual. A cor branca marcada com um xis (X) indica o último dia em que se observou o muco escorregadio e fibroso, como clara de ovo crua. Na circunstância especial de se observar a presença de múco todo dia, a cor amarela é usada para apontar aquele tipo de muco que não sofre nenhuma alteração no dia-a-dia, nem na quantidade nem nas característi- cas físicas. Esse muco é habitualmente flocoso ou pe- gajoso, e opaco. Assim, emprega-se a cor amarela para o caso excepcional de muco contínuo, como está des- crito no capítulo Aprendendo o método, e exemplifica- do na figura 1 O/e. Quando há qualquer mudança no muco, a cor branca é usada no lugar da amarela. 9 1 1 0 1 1 1 1 12 1 13 1 1 4 F ig u ra 1 - C ic lo m e n sr ru a l de 2 8 d ia s. 9 1 1 0 1 1 1 1 12 T1 3 1 14 F ig u ra 2 - C ic lo d e 2 8 d ia s e m q u e é r e g is rr a d o o a sp e cr o d o m u co , co m o d e sc ri to n o t e xr o. F ig u ra 3 9 1 1 0 1 11 C ic lo d e 2 8 d ia s e m q ue o d ia d e fe rt ili d a d e m á xi m a é m a rc a d o c o m u m x is ( X I. O p e rí o d o m e n st ru a / in ic ia -s e a p ro xi m a d a m e n te d u a s se m a n a s m a is t ar de . 5 1 6 1 7 1 8 1 9 F ig u ra 4 - C ic lo d e 2 5 d ia s co m o p e rí o d o n o rm a l p a ra r e la çõ e s se xu ai s en tr ~ o á p ic e d o s in ro m a (X ) e o p e rí o do m e n st ru a l se g u in te . F ig u ra 5 - C ic lo d e 3 2 d ia s. H á d ia s o ca si o n a is d e m u co . a p ó s o p a d rã o o vu la tÓ ri o n o rm a l. F ig u ra 6 - F e rt ili d a d e c om b in a d a. N o te -s e q u e e st ã o in cl u íd o s tr és d ia s d e p o is d o ú lt im o d ia d e m u co ú m id o e e sc o ff e g a d io , d a n d o t e m p o p a ra q u e a o vu la çã o o co rr a e o ó vu lo s e d e si n te g re . F i9 11 1a 7 - C ic lo a n o vu la r. S o m e n te u m a e sc as sa s e cr e çã o d e m u co p e g a jo so f o i o b se rv ad a. cr ia n ça c o m t ré s se m an a s d e id a d e, al im e n ta d a, s o m e n te c o m l e ite m a te rn o F ig u ra 8 - A m a m e n ta çã o. H e m o rr a gi a e m u c o a vi sá ra m d o .re to rn o da o vu la çã o. O i n te rv a lo e n - tr e a o vu la çã o e a m e n st ru a çã o fo i c u rt o, a p ri m ei ra m en sr ru a çã o f o i d if íc il e p ro lo n - ga da . t e n s ã o F ig u ra 9 - O e fe it o d a te ns ão . T en sã o fls ic a o u e m o ci o n a l p o< :J e a d ia r a' o v, ;l a çi o , - ;; :; ;; ;n o q u a ,: ,- d o e st á p re st e s a o co rr e r. A s n o rm a s fo ra m c ui d a d o sa m en te o b se rv a d a s. r F ig u ra 1 O /a -e - S u ce ss ã o d e c ic lo s e m u m a m u lh e r q u e s e a p ro xi m a da m e n o p a u sa ( ve ja p p. 3 1 . 3 2 ) -- g rá vi d a _ -- m n .11 1 F ig u ra 1 1 - U sa n d o o m é to d o d a o vu la çã o p a ra e n g ra vi d a r. A s e ta ! ti in d ic a o d ia e m q u e h o u ve r e la çã o s e xu a l. g rá vi d a - ·_ .. I D l ~ I Il i F ig u ra 1 2 - C o nc e p çã o e m u m C ic lo m é d io . A s et a (~ ) in d ic a o d ia e m q u e h o u ve r e la çã o s ex ua l. O padrão básico de infertilidade Em qualquer situação fisiológica, por exem- plo, ciclos normais, ciclos inférteis,amamentação, abandono do uso de pílula, menopausa etc., po- de-se definir um padrão básico de infertilidade, como se segue : • Quando há dias secos, esses dias são o padrã-o básico de infertilidade, e o início da aparição do muco indica a necessidade de abstinência. • Quando há muco contínuo, o padrão básico de infertilidade se refere àquele muco que conti- nua dia após dia sem qualquer modificação. As modificações que exigem abstinência são : um leve aumento na quantidade de muco, umi- dade mais perceptível, o desaparecimento da viscosidade, mudança de cor, maior ou menor opacidade, desenvolvimento de fibrosidade do muco etc. Em todas essas situações, é o tipo de muco que importa e não a sua quantidade. Mais impor- tante que a observação visual do muco é a sensa- ção resultante de sua presença ou ausência. As- sim, há duas sensações priqcipais : de secura e de lubricidade. O sentir constitui a observação mais importante; mesmo as mulheres cegas podem aprender a utilizar o método com êxito. Não é necessário que a mulher explore o interior de sua vagina com o dedo; ela provavelmente apenas fi- caria confusa ao agir assim. O muco será eviden- te durante o curso normal de suas atividades; tra- ta-se, pois, de ensiná-la a interpretar as observa- ções que faz naturalmente. 29 Ela notará que, em certos ciclos, o muco ces- sa de todo, imediatamente após o último dia em que estiver escorregadio e fibroso, de modo que a mulher se sente seca. Em outros ciclos, a secura pode ser observada antes que o muco cesse e ele se torne opaco e viscoso. Algumas mulheres no- tarão também que sentem mais a viscosidade e a lubricidade do muco logo após esvaziarem a bexi- ga. Não é necessário, entretanto, entrarmos em detalhes sobre como o muco será detectado; se o muco for descrito adequadamente, a mulher com- preenderá. Os efeitos da relação sexual Com a excitação sexual, há secreção de certas glândulas (glândulas de Bartholin) ao redor da entrada da vagina. Essa secreção é de caráter aquoso e não dura muito tempo. É facilmente dis- tinta do muco, cuja presença não depende de ex-· citação sexual. O contato físico implicado na relação sexual faz desenvolver um aumento de fluido dentro da vagina e, conseqüentemente, aumenta a umidade do lado de fora dela, mesmo que se utilize preser- vativo ou que a ejaculação ocorra fora da vagina. Após o ato sexual normal, talvez ocorra certa per- da de fluido seminal, no dia seguinte. Até que a mulher adquira experiência, deverá evitar a possi- bilidade de confundir o efeito do ato sexual com o muco normal, deixando de ter relações nos dias que se sucedem ou abstendo-se por todo o primei- ro ciclo de aprendizagem. O marido deverá estar 30 bem informado sobre os detalhes do método e en- tender a razão disso, assim como deverá compre- ender o nível de cooperação que se requer dele pa- ra que a aplicação do método seja bem sucedida. Ciclos inférteis Mesmo mulheres jovens têm, de vez em quan- do, ciclos em que não ovulam. Esses ciclos "ano- vulares" tornam-se mais freqüentes ao se aproxi- mar a meia-idade. Neste caso não haverá nenhum muco e a mulher terá uma sensação de secura do começo ao fim. Outras vezes, um muco viscoso e opaco se fará notar em alguns dias esparsos du- rante o ciclo ( figura 7 ) . Em certos ciclos férteis , a duração do muco pode ser curta. Mesmo num dia de hemorragia entre os períodos ou num dia escorregadio, o mu- co pegajoso indica que a ovulação deve estar pres- tes a chegar, havendo necessidade de abstinência para evitar gravidez, aguardando-se ainda mais três dias sem relação sexual. Amamentação A tabela se inicia assim que os lóquios dimi- nuem (figura 8). No decorrer das semanas, geral- mente pouco ou nenhum muco estará presente. Assim que o leite diminui, especialmente como resultado da introdução de comida sólida na die- ta do bebê, há indícios do retorno da fertilidade, com dias intermitentes de muco. A abstinência de 31 relações sexuais por algumas semanas é aconse- lhável se os dias de muco forem freqüentes e se o muco variar de características. Às vezes, o retorno da fertilidade é retarda- do por muitos meses durante a amamentação, mas as normas simples permanecem as mesmas. Tensão física e emocional A fabricação .de hormônios necessários para a ovulação leva pelo menos sete dias, às vezes mais. O sintoma mucoso indica que os hormônios começaram a surgir e que há, então, possibilidade de ovulação nos vários dias que se seguem. Se alguma tensão grave acontecer, por exemplo, um sério choque emocional, a ovulação pode ser blo- queada, diminuindo os hormônios e o muco. A mulher perceberá que talvez não tenha ovulado e deverá ter cuidado com a reaparição do muco mais tarde, encaminhando-se para a ovulação (fi- gura 9). Às vezes, a tensão pode eliminar completa- mente a ovulação daquele ciclo. A menopausa Por alguns anos antes que cessem totalmente os períodos menstruais, a mulher nota que vai di- minuindo a quantidade de muco durante seus ci- clos e que, em alguns ciclos, o muco nem aparece. A diminuição na quantidade do muco, especial- mente do muco com aspecto de clara de ovo, in- 32 dica redução de sua fertilidade, mesmo antes que ela pare de ovular. Por fim, a ovulação cessa defi- nitivamente e, algum tempo depois, a hemorragia cíclica também desaparece. O primeiro ciclo representa do (figura 1 O/ a), é um em que não houve ovulação, mas apenas, durante poucos dias, apareceu muco viscoso e opaco. No ciclo seguinte (figura 10/ b ), uma mens- truação breve foi seguida, quase uma semana mais tarde, por cinco dias de hemorragia e, depois, por três dias de muco. Após outros cinco dias, o muco voltou, desta vez com um aspecto mais escorre- gadio; entretanto, o tempo de intervalo entre es- se muco e a menstruação deixa claro que aquilo não representa ovulação. As normas foram cuida- dosamente observadas, com relação à contagem de três dias após a hemorragia ou o muco. No ciclo elucidado na figura 10/c, houve uma longa menstruação : cinco dias de hemorragia se- guidos por quatro dias de fluxo de sangue e muco misturados e, então, se deu a ovulação. No quartn ciclo (figura 1 O/ d), o sangue e o muco indicam ovulação, com um curto intervalo entre a ovulação e a menstruação. A figura 1 O/ e mostra o caso em que o muco é observado todos os dias , durante o ciclo. Quan- do o muco permanece o mesmo, dia após dia, co- mo está marcado em amarelo, este é o padrão in- fértil básico, e esses dias são inférteis. Tão logo haja qualquer mudança, deverá o casal se abster de todo contato sexual íntimo, caso queira evitar a gravidez, acrescentando-se os três dias habituais 33 de abstinência. Numa análise retrospectiva, esse ciclo particular pode ser visto como tendo sido um ciclo infértil; o ponto prático importante é que havia normas pertinentes a serem seguidas . Concepção difícil A observação atenta do muco em uma sene sucessiva de ciclos pode resolver esse problema. O muco que indica a probabilidade de um alto nível de fertilidade é o muco escorregadio e lubri- ficante, que ao ser retirado forma fios de 15 a 20 centímetros de comprimento. O ato sexual deve ser concentrado no dia ou nos dias em que tal muco estiver presente. Os atos sexuais, durante o ciclo da figura 11, são indicados pela seta ( + ) . O muco lubrificante apareceu apenas em um dia, mas constatou-se que a maior probabilidade de concepção se seguiria a atos sexuais nesse e no dia seguinte. Onde um nível médio de fertilidade estiver presente, haverá mais dias com muco capaz de proteger e alimentar os espermatozóides. Isso sig- nifica que haverá mais dias em que o contato se- xual íntimo poderá dar ocasião à concepção. A interpretação do registro da figura 12 é que o ato sexual no dia sublinhado foi responsá- vel pela concepção. 34 Vantagens do método da ovulação Um aspecto vantajoso do método da ovulação está no fato de ele não tirara fertilidade nem do homem nem da mulher, mas proporcionar-lhes in- formações que poderão utilizar para conseguir uma gravidez ou evitá-la. Marido e mulher estarão sempre totalmente livres para decidirem por si mesmos, podendo, caso queiram, planejar uma gravidez decorrente de um ato especial e inesque- cível de amor. Há outra vantagem importante que decorre do conhecimento do dia exato da concepção: a data do parto pode ser calculada com precisão. Por exemplo, o ciclo em que a mulher concebeu pode ter sido de quarenta dias, portanto, com ovu- lação no vigésimo sexto dia. O cálculo da data em que o parto é esperado, se efetuado a partir do dia em que a menstruação anterior começou, se- ria incorreta. O cálculo a partir da menstruação faz supor que a ovulação ocorra mais ou menos no décimo-quarto dia do ciclo, como se todo ciclo fosse de vinte e oito dias. É o intervalo entre a ovulação e a menstruação seguinte (se a mulher não engravidou) que dura cerca de duas sema- nas; o intervalo entre a ovulação e o período menstrual precedente varia muito. O saber, den- tro de um dia ou mais, a data da ovulação, no ci- clo em que a concepção ocorreu, pode evitar an- siedades inúteis, imaginando que o bebê esteja "atrasado", e pode também evitar esforços mal dirigidos para apressar o parto, o que causaria realmente um parto e um bebê prematuros. 35 Se mulher e marido estudarem o texto deste livro, e não apenas as ilustrações, e se a mulher mantiver um registro diário de pelo menos um ciclo, de acordo com as instruções, haverá com certeza uma boa compreensão do método, que é simples e cuja aplicação, nas várias situações, se reduz a uma questão de bom senso. A ajuda de uma mulher experiente seria ótima, aliás, aconse- lha-se a buscar orientação de quem já usou o mé- todo com sucesso e não de alguém que tenha ma- logrado em sua aplicação. 36 O FUTURO DO PLANEJAMENTO FAMILIAR O planejamento familiar constitui um assun- to de interesse quase universal, de modo que a . seu respeito a maioria das pessoas tem atitudes mais ou menos definidas. Essas atitudes são fre- qüentemente influenciadas em sua formação por crenças e padrões de comportamento culturais, filosóficos, psicológicos e religiosos, às vezes re- fletindo carências emocionais, preconceitos ou até mesmo pensamentos deturpados. Caso alguém se empenhe em formular um ponto de vista corre- to sobre a moralidade de um padrão de conduta sexual em particular, sobre a filosofia da sexuali- dade humana ou sobre a psicologia de todos os aspectos físicos do comportamento sexual e de paternidade, é necessário, antes de tudo, ter cer- teza de que entende os fatos biológicos. O teólogo moralista aplica seu raciocínio ao que considera ter sido estabelecido corretamente como situação biológica; se a informação científica for impreci- sa, suas conclusões se tornam não erradas, mas irrelevantes. E isso é verdade, por mais válidas que tenham sido o raciocínio e o argumento. 37 O ato sexual Convém encarar o ato sexual em si, a união física entre o macho e a fêmea, tanto na espécie humana quanto nos animais inferiores. Em ani- mais como o cachorro e o gato, para escolher exemplos corriqueiros, a união sexual apenas acontece durante a época do cio, período em que a fêmea é fértil; em outras palavras, o ato sexual está totalmente dfrigido para a reprodução da es- pécie e por isso a freqüência do ato sexual é limi- tada. Na espécie humana, um elemento novo e to- talmente diferente foi introduzido: o ato sexual representa uma expressão de amor; serve para in- tensificar o amor que o homem e a mulher sen- tem um pelo outro e que desejam ardentemente expressar dessa maneira. Isso não implica que a mulher esteja continuamente em estado fértil, pois não está. Na verdade, as mulheres são infér- teis a maior parte do tempo. É exclusivamente no ser humano que o ato sexual ocorre como uma expressão de amor, mesmo nas ocasiões em que for impossível à mulher conceber, como, por exemplo, durante a gravidez, depois da menopau- sa e nos dias inférteis do ciclo menstrual habitual. Deve ser observado que em todas essas ocasiões o ato permanece exatamente o mesmo, quer dizer, sempre adequado à geração de nova vida, com a mesma transmissão de células do marido para a mulher. Ao lado dessas diferenças físicas na ativida- de sexual, os seres humanos têm também uma in- teligência superior e o poder da razão, o que pro- move um comportamento racional, junto com a ca- 38 pacidade de amar. A regulação da sua família torna-se um ato responsável e 'o poder de "pegar" ou evitar gravidez se determina numa ordem bio- lógica, pela prática do relacionamento sexual du- rante os dias férteis ou pela sua abstinência nessa época. A filosofia e a psicologia do sexo Muitas pessoas sustentam que a sexualidade humana envolve bem mais do que o ato sexual em si; que há, contido no ato de dar-se um ao outro, uma expressão de unidade - o relaciona- mento de um homem com uma mulher - que é a base da vida familiar estável. De acordo com esse ponto de vista, a função biológica do indivíduo tem importância fundamental na determinação do seu status, dignidade, direitos e responsabilidade na sociedade. Isso é lembrado regularmente à mu- lher mediante a preparação do útero para a gravi- dez, em cada ciclo menstrual; para o homem, a necessidade de proteção e alimentação da crian- ça durante os meses de gravidez e depois do nas- cimento definem as funções de proteção e sus- tentação. Mas há outro enfoque que separa sexualida- de e procriação. Segundo essa óptica, não apenas a busca de satisfação física torna-se um fim em si mesmo, mas todos os padrões de comporta- mento "sexual" tornam-se igualmente admissíveis. Não há mais nenhuma necessidade de se elevar o ato heterossexual normal acima do que apropria- damente se denomina perversões do comporta- mento sexual, tais como o homossexualismo e a 39 masturbação. Além disso, o sexo extramatrimo- nial se torna aceito como normal e a instituição do casamento, desnecessária µara a maioria. Sur- ge até a opinião de que um "casamento" homos- sexual tem tanto direito à validade e respeito quanto um verdadeiro casamento. É lamentável que a legítima busca da verda- deira liberdade de consciência e a libertação da mulher de uma posição inferior na sociedade te- nham possibilitado um impulso a grupos de indi- víduos que têm adotado essa segunda visão de se- xualidade, uma visão que acabará por destruir a função sem par da mulher e, assim, também a ver- dadeira base de seu direito a um justo respeito e dignidade, convenientes a seu verdadeiro valor. A sexualidade torna-se então erotismo; a gravidez, um desastre; a criança, uma inimiga da humani- dade, e o casamento e o compromisso, um êxito destruído. O amor torna-se luxúria e o relaciona- mento sexual, centrado em si mesmo, será como uma masturbação. A abstinência periódica faz parte de qualquer casamento, sendo imposta pela separação inevitá- vel, estados de doença, parto e, às vezes, por livre vontade. Aqueles que rejeitarem isso não conser- ,varão nem o respeito por si mesmos, nem a esta- bilidade de seu casamento. A força diretiva bási- ca, amor ou egoísmo, determina a plena qualida- de do relacionamento e, por fim, a felicidade do casal. O tempo de abstinência não traz necessa- riamente frustração, mas é uma ocasião para en- riquecimento da personalidade, uma participação profunda nos demais valores do cônjuge e nas ri- quezas do casamento, uma prova de que o amor 40 se manifesta de diferentes maneiras e que a pró- pria relação física rejuvenesce pelo descanso. Constitui fenômeno extraordinário que, nes- ta era científica moderna, quando a arte da comu- nicação se tem desenvolvido a ponto de podermos, daqui, ouvir bater o coração de um homem locali- zado na Lua, haja a nível pessoal uma sensação de crescente solidão e isolamento. Uma das gran- des virtudes do planejamento familiar natural éfomentar a comunicação entre marido e mulher até o ponto da mais íntima partilha de seus dese- jos físicos e emocionais, porque o planejamento os convida a agir com responsabilidade na criação da família através da colaboração dos dois. Não a autogratificação, mas o bem-estar dos dois que se amam e da família, torna-se o motivo de com- binarem seus propósitos e decisões. Maridos e mulheres não precisam ser peritos em psicologia para se entenderem profundamen- te. Com paciência, tolerância, compreensão e amor, aprendemos a reconhecer e aceitar as limi- tações um do outro, encontrando na pessoa ama- da não um ideal imaginário, mas uma pessoa com virtudes reais e um potencial de bondade muito além do que tem sido realizado. Métodos naturais e artificiais para evitar gravidez Vamos ver agora as diferenças entre meios naturais e artificiais para evitar a gravidez. Não é difícil compreender a definição correta de tais termos. Um método natural aproveita a situação bio- lógica da quase constante infertilidade das mu- 41 lheres; o ato sexual permanece completamente normal, mas seu uso fica restrito aos dias garan- tidamente inférteis, se houver intenção de evitar a gravidez. Os métodos artificiais dependem de dois di- ferentes princípios : 1 . O próprio ato sexual se torna anormal, por exemplo, pelo uso de preservativo, diafrag- ma etc., ou pela prática do coitus interruptus, que consiste em 'o marido retirar-se do corpo da esposa, de maneira que a ejaculação ocorra fora da vagina. 2 . Um transtorno físico é provocado no ma·· rido ou na mulher que o ato sexual não seja se- guido de concepção. Um exemplo seria o uso de medicamentos anticoncepcionais, em pílula ou in- jeção, e ainda operações de esterilização. Basta o bom senso para perceber que, caso a eficiência de um método em particular se apóia na criação de um desequilíbrio biológico de algum tipo, tais téc- nicas sempre causarão danos. Se há pessoas que não foram capazes de prever tal acontecimento, os fatos da experiência estão aí para reflexão. Os efeitos maléficos da medicação anticoncepcional são bem conhecidos e abundantes demais para que os apresentemos aqui em detalhes. Os mais comuns são: náusea, vômitos, problemas de pele, dor de cabeça, obesidade, hemorragias irregulares, perda de desejo sexual, fluxos vaginais e coagu- lação do sangue nas veias e artérias. Mesmo assim, é muito cedo ainda para dizer que todos os efeitos 42 maléficos sejam conhecidos. Ninguém se iluda: é perda de tempo procurar a "pílula perfeita". Anticoncepcional ou abortivo Certas pessoas que se dedicam a programas de contracepção tornaram-se laxas demais na es- colha das palavras, referindo-se a técnicas que são planejadas para de fato provocar aborto como se fossem anticoncepcionais, quando não o são. Nes- sa linha, também o DIU, às vezes é chamado de "dispositivo anticoncepcional intra-uterino", quando não é anticoncepcional, pois impede a continuação da gravidez, depois que a concepção já aconteceu. Há ainda várias drogas que agem causando aborto e que, ao lado de técnicas cirúr- gicas da mesma natureza, têm seu mecanismo de ação disfarçado por eufemismos tais como : "a pílula do dia seguinte", "anticoncepcional pós- -concepção" etc. Aqui está implicado um princí- pio básico: o direito que tem uma vida humana inocente de ser preservada. Houve época em que as pessoas que traba- lhavam em programas anticoncepcionais eram unânimes em rejeitar o aborto como método de controle de natalidade. Mas algumas já abando- naram essa posição, atualmente. Muitas pessoas, por outro lado, continuam a excluir o aborto do controle de natalidade, admitindo que todos os métodos anticoncepcionais têm suas falhas; nes- se caso se aceita a gravidez e são providenciados cuidados médicos para a mulher e seu bebê. Essa atitude para com a gravidez é correta não apenas 43 por princ1p10, mas também na prática. Além do mais, esse procedimento leva em conta o fato óbvio de que, quando o aborto é escolhido como meio de controle de natalidade, todas as formas de anticoncepcionais são negligenciadas e caem em desuso. Avaliação dos métodos de planejamento familiar Qualquer método que se promova precisa ser aceito pelas pessoas às quais está sendo ofereci- do. A maioria prefere instintivamente o método natural. Para muitos, isso é reforçado por atitu- des de consciência, determinadas por firmes prin- cípios morais. Além do mais, muitos rejeitarão processos como a esterilização por causa de seu caráter definitivo, pois geralmente não permitem mudar de idéia no futuro. Apenas um método na- tural pode esperar uma aceitação universal. A boa vontade das pessoas casadas, que ini- cialmente aceitam um determinado método, para perseverar em sua aplicação na medida em que suas responsabilidades o exigem, também consti- tui um fator vital para o êxito. A deplorável lem- brança das complicações decorrentes da medica- ção anticoncepcional, dispositivos intra-uterinos, esterilização cirúrgica e aborto se tornaram um crescente impedimento de sua aceitação e, mais ainda, do seu uso contínuo. Outra razão pela qual o método natural exer- ce tanta atração é que assim marido e mulher de- monstram um ao outro sua capacidade de con- trolar exigências ego_ístas ou desejos de gratifica- 44 ção sexual e dessa forma podem controlar sua ca- pacidade de permanecerem fiéis um ao outro. As duas questões realmente importantes a serem feitas pelos cônjuges ao procurar um mé- todo são estas : 1 . Seremos capazes de entendê-lo ? 2. Se seguirmos as instruções, o método mostrar-se-á seguro? A respeito do método da ovulação, a respos- ta para ambas as perguntas é sim. As informa- ções fornecidas neste livro mostraram a simpli- cidade do método. Sua validade foi demonstrada por investigação científica e por sua aplicação en- tre todas as classes de pessoas, de diferentes ra- ças e em várias circunstâncias fisiológicas da vida reprodutiva de uma mulher. OUTRAS INFORMAÇõES Ulteriores informações sobre o método da ovulação po- dem ser encontradas nos seguintes lívros: Gibbons * Amar de corpo e alma - Dr. Billings * Integridade na transmissão da vida - G. Gibbons-D. Santamaria * Generosidade e criatividade no amor (Conferências do Primeiro Congresso Internacional para a Família das Américas, Guatemala) * O pobre e sua família - CNBB-Norte li * O método Billings - Dr~ Evelyn Billings * Controle da natalidade pelo método da ovulação - Mercedes Arzu Wilson 45 Correspondência para o Autor: The Natural Family Planning Council of Victoria 86 Wellington Parade East Melbourne, Victoria 3002 Austrália 46 Dr. John J. Billings é Doutor em Medicina pela Universidade de Melbourne, Austrália. É membro do Royal Australian College of Physicians, e pertenceu ao seu Conselho por vinte anos. Foi também membro do Executive Committee of the College, pre- sidente do Victorian State Committee, e por quinze anos representou o College no Na- tional Health and Medical Research Coun- cil of Australia. De 1970 a 1974 foi presi- dente do Medicéf/ Research Advisory Com- mittee do National Health and Medical Research Council. Em 1966, foi eleito m embro do Royal College of Physicians of London. A tua/mente é decano da Clinica/ School at St. Vincent's Hospital na Univer- sidade de Melbourne, Austrália. O Método da Ovulação foi publicado pela primeira vez há vinte anos. De lá para cá, graças aos estudos clínicos e à pesquisa científica, o método tem sido progressiva- mente aperfeiçoado. O Autor procurou aproveitar também as inúmeras sugestões e colaborações que lhe foram enviadas, do mundo inteiro. Planejamento familiar ISBN 85-349-1267-X 9 788534 912679
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