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3/9/2021 1 Narrativas Midiáticas Aula 01 - O CONCEITO DE NARRATIVA Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA Das epopeias às narrativas midiáticas. Epopeia é um poema épico. Um poema heroico narrativo extenso, uma coleção de feitos, de fatos históricos, de um ou de vários indivíduos, reais, lendários ou mitológicos. A epopeia eterniza lendas seculares e tradições ancestrais, preservadas ao longo dos tempos pela tradição oral ou escrita. 1 2 3/9/2021 2 Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA Das epopeias às narrativas midiáticas. As principais epopeias da cultura ocidental são “A Ilíada” e a “Odisseia”, atribuídas ao poeta grego Homero, “Eneida”, do poeta latino Virgílio e “Os Lusíadas”, do português Luís de Camões. Os Lusíadas, poema épico que celebra os feitos marítimos e guerreiros de Portugal. Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA A Odisseia narra a história de Ulisses, que depois de passar 10 anos na Guerra de Troia, leva mais 17 anos para voltar para casa, passando por muitas aventuras no caminho. A Ilíada versa sobre a famosa guerra de Tróia, iniciada pelo sequestro de Helena (a mais bela mortal do mundo) por Páris, príncipe de Tróia. Helena era a esposa de Menelau, o rei de Esparta, uma das principais cidades-Estado da Grécia. Eneida narra a história de Roma, desde a origem, o poder e a expansão do Império Romano. A obra recebe esse nome uma vez que está relacionada com as façanhas e feitos realizados pelo herói troiano: Enéas. O poema conta histórias sobre as perigosas viagens marítimas e a descoberta de novas terras, povos e culturas, exaltando o heroísmo do homem, que, navegador, aventureiro, cavalheiro e amante, é também destemido e bravo, e enfrenta mares desconhecidos em busca dos seus objetivos. 3 4 3/9/2021 3 Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA Das epopeias às narrativas midiáticas. As mídias como espaços discursivos pelos quais circulam narrativas. Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA Das epopeias às narrativas midiáticas. 5 6 3/9/2021 4 Narrativas Midiáticas https://www.youtube.com/ watch?v=ue3xt1lkklA Narrativas Midiáticas 7 8 https://www.youtube.com/watch?v=ue3xt1lkklA https://www.youtube.com/watch?v=ue3xt1lkklA 3/9/2021 5 9 10 3/9/2021 6 11 12 3/9/2021 7 13 14 3/9/2021 8 15 16 3/9/2021 9 17 18 3/9/2021 10 19 20 3/9/2021 11 21 22 3/9/2021 12 23 24 3/9/2021 13 25 26 3/9/2021 14 27 28 3/9/2021 15 29 30 3/9/2021 16 Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA O verbete NARRATIVA, no Dicionário de Análise do discurso de Charadeaux, sugere que Esta característica vai determinar um diferenciar para o que se entende por narrativa. "para que haja narrativa, inicialmente é preciso a representação de uma sucessão temporal de ações; em seguida, que uma transformação mais ou menos importante de certas propriedades iniciais dos actantes seja bem sucedida ou fracassada, enfim é preciso que uma elaboração da intriga estruture e dê sentido a essa sucessão de ações e de eventos no tempo". 31 32 3/9/2021 17 Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA A capacidade de narrar é um aspecto característico dos seres humanos. Estamos frequentemente narrando acontecimentos ou contando eventos de que participamos, assistimos ou sobre os quais ouvimos falar. Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA Uma narrativa representa uma sequência de acontecimentos interligados, que são transmitidos em uma história. As histórias sempre reúnem aqueles que as narram e aqueles que as ouvem, leem ou assistem. Quem narra, por sua vez, “escolhe o momento em que uma informação é dada e por meio de que canal isso é feito”. 33 34 3/9/2021 18 Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA As obras narrativas existentes hoje são as mais variadas, e quase tão diversos são os meios em que estas são encontradas. Vivemos às voltas com mitos, lendas, adivinhas, contos, crônicas, romances, histórias em quadrinhos, novelas e seriados de televisão, jogos eletrônicos, filmes de ação ao vivo e de animação, entre tantos tipos de obras narrativas. Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA Das pinturas nas paredes das cavernas à televisão interativa, muitas são as formas possíveis de se narrar acontecimentos: por palavras (oralmente ou por escrito), por imagens (estáticas ou dinâmicas), por gestos, por sons... 35 36 3/9/2021 19 Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA Toda narrativa se estrutura sobre cinco elementos essenciais, sem os quais não pode existir: Sem os acontecimentos (enredo) não se é possível contar uma história. Quem vive os acontecimentos são as personagens, em tempos e espaços determinados. Por fim, é necessária a presença de um narrador — elemento fundamental à narrativa — uma vez que é ele que transmite a estória, fazendo a mediação entre esta e o ouvinte, leitor ou espectador. Narrativas Midiáticas A Poética de Aristóteles Os estudos clássicos da narrativa partem da obra A Poética de Aristóteles. Neste livro, ele descreve, sobretudo, o teatro grego e em especial o gênero dramático da tragédia e a sua constituição. Pode-se observar desde então, a questão da intriga como característica inerente à tragédia, ao determinar uma oposição binária entre nó e desfecho. A Poética é uma teoria da arte de compor intrigas. 37 38 3/9/2021 20 Narrativas Midiáticas A Poética de Aristóteles A Poética (em grego antigo: Περὶ ποιητικῆς; em latim: poiétikés), provavelmente registrada entre os anos 335 a.C. e 323 a.C. Narrativas Midiáticas A Poética de Aristóteles O filósofo, em sua obra, desenvolve o conceito de unidade da ação, isto é uma estrutura composta de começo, meio e fim. Este modelo clássico de estrutura será apresentado por Aristóteles ao analisar a tragédia, identificando como modelo estrutural, a seguinte composição para caracterizar uma narrativa. 1- o prólogo- exposição não problemático 2- o nó - introdução da tensão 3- o desfecho que pode resolver ou não a tensão 39 40 3/9/2021 21 Narrativas Midiáticas Narrativas Midiáticas 41 42 3/9/2021 22 Narrativas Midiáticas Narrativas Midiáticas Os formalistas russos No século XX, alguns estudiosos importantes para os estudos da Narrativa serão os formalistas russos, com destaque para Vladimir Propp que vai se interessar em analisar os contos mágicos ou contos de folclore, na tentativa de reconhecer uma forma comum a todos. Ele vai observar a estrutura de 600 contos populares russos publicados em uma coleção por Alexandr Afanassiév (1855-61). E a partir desta análise, identifica sete personagens e 31 funções ou sintagmas narrativos. 43 44 3/9/2021 23 Narrativas Midiáticas A Poética de Aristóteles 1. Afastamento: uma personagem se desloca de um local familiar, seguro. 2. Interdição: existe algo que a personagem não deve fazer, um aviso, uma intimação. Não cumprir pode levar a uma pena ou castigo, mas geralmente leva ao problema apresentado na história. 3. Transgressão: a personagem desobedece. 4. Interrogação: aparece uma antagonista, um agressor surge procurando encontrar meios para atacar a personagem, geralmente perguntando à própria vítima. 5. Informação: a personagem informa o agressor sobre quem ela é, entregando assim também os meios pelos quais a antagonista procurará atacá-la. 6. Engano: o agressor tenta enganar a vítima. 7. Cumplicidade: de forma inocente, a personagem se deixa engrupir pelo agressor. 8. Dano/vilania: surge o problema, o cerne da narrativa. 9. Mediação: entra em cena o herói para corrigir o dano. 10. Início da ação contrário: o herói aceita ir contra o agressor. Narrativas Midiáticas A Poética de Aristóteles 11. Partida: o herói sai de seu lar para cumprir sua missão. 12. Função do doador: surge uma personagem actante, na forma de doador, o qual ajudaráo herói de alguma maneira. Para isso, o herói precisa passar por uma prova. 13. Reação do herói: o herói supera a prova e é ajudado pelo doador. 14. Recepção do objeto mágico: não precisa ser um objeto mágico, mas também um conselho. É o prêmio da prova superada. 15. Deslocamento: o herói se dirige para o local do conflito. 16. Luta: o herói se atraca ao agressor. 17. Marca: durante a luta, o agressor deixa uma marca no herói. 18. Vitória: o bem vence o mal. 19. Reparação: o dano é corrigido. 20. Volta: o herói retorna para casa. 45 46 3/9/2021 24 Narrativas Midiáticas A Poética de Aristóteles 21. Perseguição: o herói é perseguido pelo agressor ou seu ajudante. 22. Socorro: o herói se salva ou é salvo por outrem. 23. Chegada incógnita: o herói retorna sem se identificar. 24. Pretensões falsas: alguém se faz passar pelo herói. 25. Tarefa difícil: o herói precisa cumprir uma prova que mostre que ele realmente é quem diz ser. 26. Tarefa cumprida: o herói supera a prova. 27. Reconhecimento: o herói é identificado ? às vezes, graças à marca deixada pelo agressor. 28. Desmascaramento: o pretenso herói é desmascarado. 29. Transfiguração: o herói é encoberto por uma aura que o muda fisicamente. 30. Punição: o agressor, seus ajudantes e/ou o pretenso herói são punidos 31. Casamento: o herói se casa, geralmente com a personagem envolvida no dano. Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA Na segunda metade do século XX, novos estudos darão continuidade às investigações e formulações teóricas sobre as narrativas. Roland Barthes, Gérard Genette e A.J. Greimas numa perspectiva estruturalista. 47 48 3/9/2021 25 Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA BARTHES, Roland. A aventura semiológica, cit. p. 103-104. ...a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades; a narrativa começa com a própria história da humanidade; não há, nunca houve em lugar nenhum povo algum sem narrativa; todas as classes, todos os grupos humanos têm as suas narrativas, muitas vezes essas narrativas são apreciadas em comum por homens de culturas diferentes, até mesmo opostas: a narrativa zomba da boa e da má literatura: internacional, trans-histórica, transcultural, a narrativa está sempre presente, como a vida. Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA A psicologia Junguiana vai inspirar principalmente estudiosos como o pesquisador americano, de mitologia e religião comparada, Joseph Campbell, que estudou esses símbolos universais contidos nos mitos de diversas culturas, Joseph Campbell. Em 1949, ele lança o livro O Herói de mil Faces, que propõe um modelo narrativo intitulado, a jornada do herói. 49 50 3/9/2021 26 O CONCEITO DE NARRATIVA A psicologia Junguiana vai inspirar principalmente estudiosos como o pesquisador americano, de mitologia e religião comparada, Joseph Campbell, que estudou esses símbolos universais contidos nos mitos de diversas culturas. Em 1949, ele lança o livro O Herói de mil Faces, que propõe um modelo narrativo intitulado, a jornada do herói. O CONCEITO DE NARRATIVA Arquétipo vem do grego arché, que significa marca ou impressão. De modo geral, podemos definir que um arquétipo dentro do contexto narrativo é um modelo de personalidade que pode ser seguido para criar personagens. 51 52 3/9/2021 27 O CONCEITO DE NARRATIVA “Arquétipos são conjuntos de ‘imagens primordiais’ originadas de uma repetição progressiva de uma mesma experiência durante muitas gerações, armazenadas no inconsciente coletivo.” Carl Jung O CONCEITO DE NARRATIVA Arquétipos ajudam a contar uma história agregando características e personalidades aos personagens. 53 54 3/9/2021 28 O CONCEITO DE NARRATIVA Joseph Campbell apresenta os arquétipos mais usados na maioria das mitologias ao redor do mundo: O CONCEITO DE NARRATIVA Herói – Na jornada do herói, é ele quem guia a história, sai do mundo comum, atravessa o limiar e se sacrifica de alguma forma pelo bem comum. O herói é geralmente o protagonista em filmes (geralmente, não sempre) justamente por ser o personagem que mais gera identificação com o público. 55 56 3/9/2021 29 O CONCEITO DE NARRATIVA Mentor – É aquele que guia o herói, que ensina algo de valioso para que o herói possa prosseguir em sua jornada. O mentor geralmente é mais velho e mais sábio, pode ser um herói de uma jornada anterior e por isso tem muito a ensinar. 57 58 3/9/2021 30 59 60 3/9/2021 31 O CONCEITO DE NARRATIVA Guardião do limiar – O guardião do limiar é um dos desafios que o herói deve enfrentar para alcançar seu objetivo. Ele nem sempre aparece como personagem nas histórias, podendo ser um lugar, como uma ponte perigosa ou um ninho de serpentes, por exemplo. Em muitos casos, o guardião do limiar, quando atravessado se torna aliado do herói, mas ele também pode ser um aliado do vilão, um “capanga” que serve para 61 62 3/9/2021 32 https://youtu.be/qzl_MV_jUpQ O CONCEITO DE NARRATIVA Arauto – O arauto é o arquétipo que empurra o herói a avançar na história, é ele quem traz uma notícia ou um acontecimento que impulsiona o herói para se lançar na aventura. Da mesma forma que o guardião do limiar, o arauto não precisa ser necessariamente um personagem, podendo ser um acontecimento, por exemplo. 63 64 https://youtu.be/qzl_MV_jUpQ 3/9/2021 33 O CONCEITO DE NARRATIVA Arauto – Na mitologia grega, Hermes era o Arauto dos deuses. Era ele quem levava os recados de Zeus. Na dramaturgia, sua função é mover a história para frente anunciando a necessidade de mudança. Normalmente, ele aparece no Ato I, impulsionando o herói a aceitar o Chamado à Aventura. O CONCEITO DE NARRATIVA Arauto – O Arauto pode revelar-se de diversas maneiras: como um personagem, uma carta, um livro ou mesmo um filme cuja mensagem nos atinge num ponto em que precisamos mudar. O arquétipo pode ser negativo quando induz o Herói a uma aventura perigosa, que coloque em risco a vida dele. Quando isso acontece, é possível que seja aliado de algum vilão ou antagonista. 65 66 3/9/2021 34 O CONCEITO DE NARRATIVA Camaleão – O camaleão é um dos arquétipos mais difíceis e mais interessantes de se usar em uma narrativa. Ele, aos olhos do herói, está sempre mudando de forma e deixa a dúvida se é aliado dele ou do vilão da história. Muitas vezes o camaleão é apresentado como personagem do sexo oposto do herói, podendo ser seu par romântico. 67 68 3/9/2021 35 O CONCEITO DE NARRATIVA Sombra – É o arquétipo do vilão ou inimigo do herói. Seu objetivo normalmente bate de frente com o objetivo do herói, ou seja, ele pretende destruí-lo. Sua grande função é instigar o herói e fazê-lo se mover ao longo da história. Muitas vezes a sombra aparece como um reflexo negativo da personalidade do herói. 69 70 3/9/2021 36 O CONCEITO DE NARRATIVA Pícaro – Também conhecido como alívio cômico, o arquétipo do pícaro serve exatamente para dar aquele alívio quando a história está tensa demais, porém outra característica importante do arquétipo de pícaro é que ele faz as suas piadas com tom de crítica, ou seja, fala de modo descontraído aquilo que ninguém mais tem coragem de falar. 71 72 3/9/2021 37 73 74 3/9/2021 38 Narrativas Midiáticas Narrativas Midiáticas O CONCEITO DE NARRATIVA 75 76 3/9/2021 39 Doze passos da jornada do herói Como complemento da arte de contar histórias, Campbell (1995) elenca doze passos da jornada do herói que se repetem em todas as narrativas, não importa em que plataformas elas sejam relatadas, ou seja, existe um mesmo paradigma literário que está presente em todas as histórias. 77 78 3/9/2021 40 Doze passos da jornada do herói Mundo comum O herói é apresentado no seu dia a dia. 1 Chamado à aventura A rotina do herói é quebrada por algo inesperado Doze passos dajornada do herói 2 79 80 3/9/2021 41 Recusa ao chamado O herói prefere não responder ao chamado. Doze passos da jornada do herói 3 Encontro com o mentor Pode ser tanto com alguém que o aconselhe ou com alguém que o force a tomar uma decisão. Doze passos da jornada do herói 4 81 82 3/9/2021 42 Travessia do limiar O herói decide ingressar em um novo mundo, mesmo que seja por algo que o obrigue e que ele não tenha feito essa opção. Doze passos da jornada do herói 5 Testes, aliados e inimigos A maior parte da história se passa aqui, o herói passa por provações, conta com aliados e tem que enfrentar inimigos. Doze passos da jornada do herói 6 83 84 3/9/2021 43 Aproximação do objetivo O herói se aproxima do objetivo, mas o nível de tensão aumenta. Doze passos da jornada do herói 7 Provação máxima O herói chega ao auge da crise. Doze passos da jornada do herói 8 85 86 3/9/2021 44 Conquista da recompensa Passada a provação máxima, o herói conquista a recompensa Doze passos da jornada do herói 9 Caminho de volta O herói retorna à vida anterior, após conseguir o objetivo. É a parte mais curta da história e muitas vezes nem é usada. Doze passos da jornada do herói 10 87 88 3/9/2021 45 Depuração O herói pode ter de resolver uma trama secundária não resolvida anteriormente. Doze passos da jornada do herói 11 Retorno transformado É a finalização da história. O herói volta ao seu mundo, mas transformado. Doze passos da jornada do herói 12 89 90 3/9/2021 46 Para criar esse modelo, Campbell (1995) se baseou nas descobertas da psicanálise, ou seja, os passos da jornada do herói se assemelham à trajetória de nossas vidas e por isso geram empatia imediata. Doze passos da jornada do herói 91 92 3/9/2021 47 93