Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ACRE CAMPUS RIO BRANCO Curso: Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio Período: 3º Disciplina: Língua Portuguesa III Ano: 2021 Discente: Gustavo Dimitri – Filipe Teles – Janyne Lima – Gustavo da Silva Docente: Edilene da Silva Ferreira Leia o excerto de Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, de Mário de Andrade. I – Macunaíma No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava: — Ai! que preguiça!.. e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos, e freqüentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo. Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras-feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar. Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto eram sempre as peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando que "espinho que pinica, de pequeno já traz ponta", e numa pagelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente. (...) (Andrade, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, Rio de Janeiro, 2008. P.13.) Responda às questões a seguir: 01. Nesse primeiro capítulo, já é possível detectar alguns atributos negativos e outros positivos em relação ao “herói sem caráter”, quais? NEGATIVAS: - Adormecia sonhando palavras-feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar. - Não falava e era preguiçoso - Mijava na mãe POSITIVAS: o herói era inteligente 02. Com o intuito de combater o estilo até então dominante em nossa literatura, o Parnasiano, e o “purismo” na elaboração da linguagem artística, Mário de Andrade se propõe escrever utilizando termos e expressões populares abrasileiradas, próprios da linguagem coloquial e ou da oralidade. Aponte palavras do texto, próprias do “português brasileiro”. RESPOSTA: “mato-virgem” “filho do medo da noite” “murmurejo” “pariu” “meninice” “sarapantar” “maloca” “trepado” “manos” “peraltagens” 03. Em sua opinião, as considerações apresentadas na questão anterior acerca da linguagem empregada por Mário de Andrade, restringem-se somente a essas questões? Justifique. RESPOSTA: Não, vai muito além, ao utilizar a expressões brasileiras em seus textos, Mário de Andrade ia contra o tradicional dos autores de sua época. A referência ao folclore brasileiro e à linguagem oral é manifestação típica da primeira fase modernista, quando os escritores estavam preocupados em descobrir a identidade do país e do brasileiro. No plano formal, essa busca se dá pela linguagem falada no Brasil, ignorando, ou melhor, desafiando o português lusitano. No plano temático, a utilização do folclore servia como matéria- prima dessa busca. “Macunaíma” é, portanto, uma tentativa de construção do retrato do povo brasileiro. 04. Quais aspectos culturais e que povos foram valorizados por Mário de Andrade neste primeiro capítulo? REPOSTA: Há inúmeras referências ao folclore brasileiro e a linguagem oral 05. Mário de Andrade define, no título da obra, o herói da narrativa como sem caráter. Tradicionalmente a questão do caráter sempre acompanhou os heróis em suas trajetórias sendo, inclusive, um dos seus principais atributos. Devido a isso, Macunaíma é considerado anti-herói. Pesquise e defina um anti-herói. RESPOSTA: Na dramaturgia, trata-se de um tipo de protagonista, mas com uma moral e comportamento que geralmente associamos aos antagonistas — ou vilões. Exatamente por ser um protagonista falho, ele perturba o espectador com suas fraquezas. Por outro lado, sua simpatia o aproxima do público. Dessa forma, entendemos seus deslizes como fragilidades inerentes à natureza humana. O anti-herói pode desempenhar diferentes papéis. Ele transita, por exemplo, entre o solitário e o estranho. Também costuma demonstrar distância em relação às pessoas do seu passado, autoestima frágil e vida amorosa conturbada, com muitas falhas. E esse pacote de imperfeições faz do anti-herói realista, aproximando-o do público, que se identifica com suas contradições. FONTE: https://www.aicinema.com.br/anti-heroi/ 07. Em sua análise, Macunaíma merece essa denominação de anti-herói? Justifique sua resposta utilizando passagens da obra. RESPOSTA: Sim ele pode ser considerado um anti-herói, ele não é um ser perfeito, o narrador expõe todos seus defeitos e atitudes negativas, porém ele nos mostra que ele também é uma pessoa normal, que gosta de se divertir e viver a vida, mesmo passando por várias adversidades ao decorrer da sua história, fazendo o leitor se identificar com o personagem. Leia mais uma passagem da obra Macunaíma: V– Piaimã Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho. Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas. Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém, a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou: — Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz. Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifava toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos https://www.aicinema.com.br/o-que-e-dramaturgia/ https://www.aicinema.com.br/anti-heroi/ e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. Macunaíma teve dó e consolou: — Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas! (Andrade, Mário de. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, Rio de Janeiro, 2008. P.49) 01. A linguagem usada por Mário de Andrade, neste capítulo, corresponde à variante urbana de prestígio do português? Justifique sua resposta com passagens do texto. RESPOSTA: O autor usa a linguagem popular, representando no modo de falar de diversas regiões do Brasil, dando destaque as gírias populares. 02. Em que medida a obra Macunaíma se inscreve no projeto de defesa da língua brasileira, proposto por Mário de Andrade? RESPOSTA: Trata-se de uma forma especifica do português falado no país e de combater o preconceito linguístico. 03. Ao longo da história, o personagem Macunaíma demonstra ser bastante preconceituoso. Explique por que sua fala a Jiguê – “branco você não ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz” – é preconceituosa. RESPOSTA: Na fala de Macunaíma mostra o preconceito racial existente na sociedade brasileira, que hierarquiza as pessoas de pele branca. 04. Que relação pode ser estabelecida entre o processo de embranquecimento pelo qual passa Macunaíma e o processo da colonização brasileira? RESPOSTA: O processo de embranquecimento pelo qual passa Macunaíma é o banho na agua encantada, que remete os valores europeus que foram impostos aos índios e negros. Leia um trecho da carta que Macunaíma escreveu para as Icamiabas: IX – CARTA PRAS ICAMIABAS "Às mui queridas súbditas nossas, Senhoras Amazonas. Trinta de Maio de Mil Novecentos e Vinte e Seis, São Paulo. Senhoras: Não pouco vos surpreenderá, por certo, o endereço e a literatura desta missiva. Cumpre- nos, entretanto, iniciar estas linhas de saúdade e muito amor, com desagradável nova. É bem verdade que na boa cidade de São Paulo - a maior do universo, no dizer de seus prolixos habitantes - não sois conhecidas por "icamiabas", voz espúria, sinão que pelo apelativo de Amazonas; e de vós, se afirma cavalgardes ginetes belígeros e virdes da Hélade clássica; e assim sois chamadas. Muito nos pesou a nós, Imperator vosso, tais dislates da erudição porém heis de convir conosco que, assim, ficais mais heróicas e mais conspícuas, tocadas por essa plátina respeitável da tradição e da pureza antiga. (...) (Andrade, Mário de. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, Rio de Janeiro, 2008. P.97.) 01. Um dos aspectos que mais chama a atenção do leitor, ao se deparar com o capítulo “Carta pras Icamiabas”, é a mudança brusca da linguagem. Em todo o resto da narrativa existe uma tentativa de aproximação com a linguagem oral, mas a carta é escrita em uma linguagem que se quer fazer parecer rebuscada. a) Qual é o principal objetivo da carta? RESPOSTA: O principal objetivo é que o protagonista, Macunaíma escreve uma carta para pedir um favor às índias Icamiabas. b) Na carta, além da mudança de registro linguístico há também uma mudança no foco narrativo. Indique essa mudança. RESPOSTA: O foco narrativo da carta é em primeira pessoa, mas no restante da obra o foco narrativo em terceira pessoa. c) Comente o efeito que essa linguagem utilizada por esse narrador causa na narrativa. RESPOSTA: Utiliza uma linguagem rebuscada para reforçar sua posição de poder enquanto Imperador em relação às Índias. Após a leitura do primeiro capítulo da obra, elabore um resumo, apresentando os principais acontecimentos relatados. RESPOSTA: Primeiro ele escreve uma carta para as índias, e dizendo características delas, depois ele diz que muitas delas não são conhecidas por suas vozes que não são verdadeiras.
Compartilhar