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Contestação à Ação de Usucapião

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AO JUÍZO DE DIREITO DA 26ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE GUARATIBA/RJ
Processo atuado sob nº______________
MARIA CAPITOLINA SANTIAGO e seu esposo, Carioca, aposentada, inscrita no CPF sob o nº xxxxx, RG nº xxxxx, residente e domiciliada na Rua Afonso Cavalcanti, nº 10, Bairro São Cristóvão, Rio de Janeiro/RJ, e-mail: capitu@gmail.com, vem respeitosamente, por sua procuradora, advogada regularmente inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil, com escritório profissional em Rio de Janeiro/RJ, na Rua: Barra da tijuca nº 1, Bairro: Barra da tijuca, com endereço eletrônico adv@gmail,com, onde recebe as intimações, nos termos do mandato anexo, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 335 e seguintes do Código de Processo Civil, apresenta sua
CONTESTAÇÃO
ao pedido inicial contra eles ajuizado por QUINZINHO MACHADO DE ASSIS, também qualificados nestes autos, nos seguintes termos:
Das Alegações do autor
Argumentam o autor, em síntese, que desde 10 de fevereiro de 2006, mantêm a posse mansa, pacífica e ininterrupta de um imóvel de propriedade dos réus localizado na Estrada do moro do cavalo, nº 5, Bairro Guaratiba, Rio de Janeiro/RJ, no qual, alegam, construírem uma casa, e tornando a terra produtiva, mediante o trabalho dos que ali residem.
Alegam, ainda, que tem pagado mensalmente o IPTU da referida propriedade.
Acontece que Maria Capitolina Santiago detém a matrícula do imóvel em questão, que alega ter 23 (vinte três) hectares ao invés de 2 (dois) hectares, como dito anteriormente pelo autor, motivo esse que não gera direito sobre a área excedente. A ré informa que não deixou de exercer a posse do imóvel, onde o casal Quinzinho Machado de Assis e sua esposa Carolina, não ocupam o terreno com Anumus Domini, os autores da ação residem no local a título de parceria agrícola e comodato junto com o autor.
A ação foi distribuída na 26ª vara civil da comarca de Guaratiba/RJ, cuja o processo de nºxxxxx-xxx, a ré afirma em audiência de conciliação que não recebeu citação em seu endereço de residência e sim fora enviada erroneamente na residência de sua mãe Dona Fortunata. E por conta da pandemia a mesma não ficou sabendo da citação, mas, estando ainda a ré sobre o prazo de contestação e dentro dos requisitos previsto nos arts. 335 a 342 do NCPC, Lei 13.105/15.
Ante a falta de resolução até o presente momento, torna-se necessária o ajuizamento desta demanda para garantir seus direitos como proprietária do imóvel.
PRELIMINAR
Da Nulidade e inexistência de citação
Não obstante, a contestante é casada com Bento Santiago no regime de comunhão universal de bens, e juntos detêm a titularidade do bem, porém este não foi citado para responder à ação, em que pese constar seu nome na matrícula. Tratando-se de bem imóvel, o litisconsórcio passivo se faz obrigatório (vide § 1º do inciso I do art. 73 do CPC).
Conforme previsão legal no art. 242 do CPC lei 13.105/15, a citação da ré ocorreu de forma erronia, pois a citação foi enviada para sua mãe Dona Fortunata e por conta da pandemia, não ficou sabendo antes da citação.
MERITO
Da inexistência do Animus Domini
Em que posem os argumentos abalizados pelos autores, o pleito de usucapião demonstra-se descabido, portanto, como será aqui exaurido, não há o que falar, por parte dos requerentes, em legitimo exercício de posse do imóvel objeto da presente demanda, mais sim em mera detenção dele.
Conforme previsto art. 1.239 do CC, trata da ação de usucapião especial rural, exigindo para a aquisição da propriedade no lapso temporal de 5 (cinco) anos de posse ininterrupta e sem oposição, desde que o possuidor não seja o proprietário de outro imóvel seja ele rural ou urbano, determinado com o limite de área de 50 (cinquenta) hectares, com demonstração efetiva de atividade produtiva e tornando ela sua moradia, paralelamente o art. 191 da CF trata desta espécie.
O que não ocorreu na hipótese, pois os autores não possuíam o imóvel em comento como se donos fossem, ou seja, não gozaram de aninus domini, mas residem ali sob a qualidades de parceiros e em comodato junto com a ré.
A situação acima restará evidenciada de maneira incontroversa ao fim da instrução da presente demanda, quando se provará, por meio de prova testemunhal, a existência de contrato verbal a título de parceria entre os autores e a ré na sobre a agrícola do imóvel.
Isso porque, conforme doutrina prevalente, aquele que possui sem a intenção de ter a coisa como se fosse o dono, ou seja, desprovido de animus domini, não podemos exercer sobre a res pretensão de usucapião.
Nesse sentido:
“(...) A intensão de possuir o imóvel como um proprietário (animus domini) é (...) requisito indispensável à configuração da posse ad usucapionem. Por ele objetiva a lei (...) descartar a hipótese de usucapião pelo detentor (preposto do possuidor) ou por quem tem o uso ou fruição do imóvel em razão de negócio jurídico celebrado com o proprietário (locatário, usufrutuário, comodatário etc.) (...) o possuidor desprovido de animus domini, que não age como dono da coisa, está disposto a entregá-la ao proprietário tão logo instado a fazê-lo. A situação de fato em que se encontra não se incompatibiliza com o exercício, pelo titular do domínio, do direito de propriedade, (...)” (COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil, vol.3: direito das coisas, direito autoral -4. Ed. São Paulo: Saraiva 201, versão digital, pp.194/195).
A instrução acima também é aplicável aquele que possui a coisa em virtude da parceria agrícola, como é o caso dos autores, pois tal pacto, objetivamente, obsta o reconhecimento da usucapião, portanto não subsiste, em hipótese, animis domini do possuidor que se vale do imóvel por tal título.
Nessa perspectiva, também é entendimento jurisprudencial predominante no egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:
“AÇÃO DE USUCAPIÃO DE BEM IMOVEL – AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO ANIMUS DOMINI (...) O exercício de posso em razão de contrato de parceria agrícola impede o reconhecimento de usucapião, pois inexistente animus domini por parte do possuidor que utiliza do imóvel a este título (...)” (TJMG – proc. Nº 1.0009.06.007287-4/001, Rel. Des. Corrêa Camargo, DJ de 17/06/2013)
“AÇÃO DE USUCAPIÃO (...) AUSÊNCIA DE ANIMUS DOMINI – REQUESITO INDISPENSÁVEL AO RECONHECIMENTO DA PRETENSÃO – EXISTÊNCIA DE CONTRATO DE PARCERIA AGRÍCOLA – ART. 1.208 DO CÓDIGO DE CIVIL. (...) A aquisição do imóvel através da usucapião exige ânimo de dono, que é incompatível com o contrato de parceria agrícola” (TJMG, proc. Nº 1.0428.09.015267-2/001, Rel. Des. Valdez Leite Machado, DJ de 12/04/2013).
A ré que detêm a posse do imóvel junto com seu esposo, tem o direito a restituição da posse por Turbação (reintegração de posse) e o possuidor direto o autor, segundo legislação no art. 582 do CC, é obrigado a conservar, como se fosse seu o imóvel que fora emprestado a título de parceria através de comodato não podendo ele usar de outra maneira a não ser para os devidos fins.
DEFESA DE MERITO
Do pagamento de impostos do imóvel pelos autores
Maria Capitolina Santiago, não nega o que os fatos e fundamentos apresentados pelo autor Quinzinho Machado de Assis, apresentados na inicial, mas apresenta o novo fato de natureza impeditiva, modificativa ou instintiva do direto do autor.
Ademais, cumpre informar que não subsiste logica na alegação de que os autores seriam legítimos possuidores do imóvel usucapiendo por terem pagos os impostos decorrentes do exercício de propriedade do referido imóvel.
Isso porque, como se apurará, a quantia para o pagamento de tais impostos era repassada aos autores diretamente pelos réus, os quais assim o faziam para facilitar o próprio adimplemento dos referidos tributos, pois eram os autores que, sendo moradores do local, recebiam via, Correios, as guias para pagamento do IPTU.
A condição acima consta de cláusula do contrato verbal de parceria agrícola, o qual será, como dito, comprovado por prova. Ainda os recibos anexos à esta contestação comprovam que, de fato, a ré repassava aos autores a quantia referida dospagamentos anuais do IPTU. Nesse sentido, os autores apenas ficavam com os recibos de pagamento dos referidos impostos junto à instituição bancária, pois gozavam de plena confiança da ré.
Dos pedidos
Ante exposto, requer:
O reconhecimento de acolhimento de preliminar
Improcedência da petição inicial
Seja determinado aos autores o pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, conforme preceitua o art. 85, do NCPC.
Protesta por todos os meios de direito admitidos para comprovar os fatos alegados, especialmente prova testemunhal e depoimentos das partes.
Dá – se a causa o valor de R$ xxxxxx
Nestes termos, pede e espera
deferimento.
Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2021
_____________________________
Advogado___, OAB/RJ _____.

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