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➢ Definição e Etiologia Pode ser definida como uma sequência de eventos cardiorrespiratórios inespecíficos que se iniciam a partir de um trombo originário de veias sistêmicas ou de paredes das câmaras cardíacas direitas que ocorrem quando se impacta na árvore vascular pulmonar. Em 80% dos casos de TEP, os trombos são formados em veias profundas dos membros inferiores (TVP). Menos frequentemente, os trombos formam-se no coração direito ou em cateteres venosos centrais. Trombos venosos formam-se quase sempre no contexto de fatores predisponentes, na maioria dos casos sendo identificados os componentes da tríade de Virchow: hipercoagulabilidade, estase sanguínea e lesão endotelial. Trombose venosa profunda surge sobretudo em pacientes com: (1) hipercoagulabilidade sanguínea, por condições hereditárias (p. ex., fator V de Leiden, síndrome antifosfolipídeo) ou adquiridas (gravidez, câncer, anticoncepcionais hormonais, obesidade, doenças mieloproliferativas); (2) estase sanguínea, por insuficiência cardíaca, obstrução vascular local ou imobilização prolongada no leito, como após cirurgias ou em pacientes com doenças ortopédicas ou neurológicas; (3) lesões em veias, como na doença venosa crônica dos membros inferiores. Menos frequentemente, os trombos estão no coração direito (sobretudo na endocardite infecciosa, em arritmias cardíacas e na doença de Chagas) ou em cateteres venosos centrais. ➢ Fatores de risco Mais de 95% dos tromboêmbolos pulmonares se originam de trombos nas veias profundas da extremidade inferior: as veias poplíteas, femorais e ilíacas. Portanto, os fatores de risco para tromboembolia pulmonar são os mesmos para o desenvolvimento de trombose venosa nas veias profundas das pernas. Além dos aspectos anteriormente assinalados, são fatores de risco: Viagens prolongadas; Paralisia de membros inferiores; Insuficiência venosa crônica dos membros inferiores; Trauma; Insuficiência cardíaca congestiva; Inflamação; Sepse; AVC; TVP prévia; Tromboflebite superficial prévia; Tabagismo ➢ Classificação Embolia pulmonar (EP) refere-se à obstrução da artéria pulmonar ou de um de seus ramos por material (por exemplo, trombo, tumor, ar ou gordura) originado em outra parte do corpo. A embolia pulmonar pode ser classificada da seguinte forma: →Padrão temporal de apresentação -Aguda: Pacientes com EP aguda geralmente desenvolvem sintomas e sinais imediatamente após a obstrução dos vasos pulmonares. -Subaguda: Alguns pacientes com EP também podem se apresentar de forma subaguda dentro de alguns dias ou semanas após o evento inicial. -Crônico: Pacientes com EP crônica desenvolvem lentamente sintomas de hipertensão pulmonar ao longo de muitos anos (isto é, hipertensão pulmonar tromboembólica crônica; CTEPH). →Presença ou ausência de estabilidade hemodinâmica -Hemodinamicamente instável (EP maciça ou de alto risco): resulta em hipotensão. *A hipotensão é definida como uma pressão arterial sistólica <90 mmHg ou uma queda na pressão arterial sistólica de ≥40 mmHg da linha de base por um período> 15 minutos ou hipotensão que requer vasopressores ou suporte inotrópico e não é explicada por outras causas, como sepse, arritmia, disfunção ventricular esquerda decorrente de isquemia ou infarto agudo do miocárdio ou hipovolemia. - Hemodinamicamente estável (EP submassiva ou de risco intermediário): é definido como PE que não atende à definição de PE hemodinamicamente instável. A distinção entre EP hemodinamicamente estável e instável é importante porque os pacientes com EP hemodinamicamente instável têm maior probabilidade de morrer de choque obstrutivo (isto é, insuficiência ventricular direita grave) →Localização anatômica Sela, lobar, segmentar, subsegmentar. A EP pode ser bilateral ou unilateral, dependendo se obstruem as artérias à direita, à esquerda ou em ambos os pulmões. →Presença ou ausência de sintomas -Sintomáticos: refere-se à presença de sintomas que geralmente levam à confirmação radiológica de EP -Assintomáticos: se refere ao achado incidental de EP na imagem (por exemplo, tomografia computadorizada com contraste realizado por outro motivo) em um paciente sem sintomas. ➢ Fisiopatologia Trombos venosos são compostos por uma massa friável de fibrina, com muitas hemácias e poucos leucócitos e plaquetas aleatoriamente enredados na matriz. Os êmbolos pulmonares são tipicamente múltiplos, com os lobos inferiores envolvidos na maioria dos casos. Uma vez que o trombo se aloja no pulmão, uma série de respostas fisiopatológicas podem ocorrer: →Infarto Em cerca de 10 por cento dos pacientes, pequenos trombos se alojam distalmente nos vasos segmentares e subsegmentares, resultando em infarto pulmonar. Esses pacientes são mais propensos a ter dor torácica pleurítica e hemoptise, presumivelmente devido a uma resposta inflamatória intensa no pulmão e nas pleuras visceral e parietal adjacentes. →Troca gasosa anormal A troca gasosa prejudicada pela EP é devida à obstrução mecânica e funcional do leito vascular alterando a relação ventilação / perfusão e também à inflamação resultando em disfunção do surfactante e atelectasia resultando em shunt intrapulmonar funcional. Ambos os mecanismos causam hipoxemia. A inflamação também é considerada responsável por estimular o impulso respiratório, resultando em hipocapnia e alcalose respiratória. Hipercapnia e acidose são incomuns na EP, a menos que haja choque. →Comprometimento cardiovascular A hipotensão decorrente de EP é devida à diminuição do volume sistólico e do débito cardíaco. Em pacientes com EP, a resistência vascular pulmonar (RVP) está aumentada devido à obstrução física do leito vascular com trombo e vasoconstrição hipóxica no sistema arterial pulmonar. O aumento da RVP, por sua vez, impede a saída do ventrículo direito e causa dilatação do ventrículo direito e achatamento ou arqueamento do septo intraventricular. Tanto a diminuição do fluxo do ventrículo direito quanto a dilatação do ventrículo direito reduzem a pré-carga do ventrículo esquerdo, comprometendo assim o débito cardíaco. Por exemplo, quando a obstrução do leito vascular pulmonar se aproxima de 75 por cento, o ventrículo direito deve gerar uma pressão sistólica superior a 50 mmHg para preservar o fluxo adequado da artéria pulmonar. Quando o ventrículo direito não consegue fazer isso, ele falha e ocorre hipotensão. Assim, em pacientes sem doença cardiopulmonar subjacente, vários trombos grandes geralmente são responsáveis pela hipotensão por meio desse mecanismo. Em contraste, em pacientes com doença cardiopulmonar subjacente, a hipotensão pode ser induzida por êmbolos menores, provavelmente devido a uma resposta vasoconstritora substancial e / ou uma incapacidade do ventrículo direito de gerar pressão suficiente para combater a RVP elevada. ➢ Manifestações clínicas Dispneia: É provável que resulte de broncoconstrição reflexa, bem como de pressão da artéria pulmonar aumentada, perda de complacência pulmonar e estimulação de fibras C Dor torácica: provavelmente causada por áreas de hemorragia pulmonar Hemoptise: é observada com infarto pulmonar, mas também pode resultar da transmissão de pressões arteriais sistêmicas à microvasculatura por meio de anastomoses broncopulmonares, com ruptura subsequente de capilares. Raramente os pacientes apresentam choque, arritmia ou síncope. Muitos pacientes, incluindo alguns com EP grande, são assintomáticos ou apresentam sintomas leves ou inespecíficos. ➢ Complicações -Morte súbita por: (1) hipóxia aguda e/ou colapso circulatório, quando a embolia oblitera grandes ramos da artéria pulmonar (p. ex., embolia a cavaleiro na bifurcação do tronco da artéria pulmonarou grande número de êmbolos menores); (2) falência aguda do ventrículo direito (cor pulmonale agudo) -Infarto pulmonar, especialmente na embolia não fatal de ramos médios da artéria pulmonar ou nos casos em que há doença cardiopulmonar preexistente -Hipertensão pulmonar, nos casos de embolia recorrente. ➢ Diagnóstico →Ao exame físico: -Panturrilha inchada, dolorosa, quente e avermelhada que fornece evidência para trombose venosa profunda. A ausência de tal evidência não exclui o diagnóstico. -Atelectasia pode levar a estertores crepitantes inspiratórios; infarto pode causar um atrito pleural focal; e a liberação de mediadores pode provocar broncoconstriça ̃o e sibilos. - Em embolia grande, podem ser encontrados sinais de sobrecarga ventricular direita aguda, como uma impulsão ventricular direita e acentuação do componente pulmonar da segunda bulha cardíaca. →Eletrocardiografia As anormalidades mais comuns são taquicardia sinusal e alterações inespecíficas de ST e onda T. →Achados laboratoriais A dosagem dos produtos de degradação da fibrina com ligação cruzada – D-dímeros – pode ser usada para excluir o diagnóstico de EP aguda em pacientes ambulatoriais sintomáticos considerados como tendo uma probabilidade baixa de EP antes do exame, com base em critérios clínicos. Uma elevação de BNP ou troponinas no cenário de EP conhecida correlaciona-se com a presença de sobrecarga ventricular direita e com risco maior de desfechos adversos, inclusive insuficiência respiratória e morte. Hipoxemia é um achado comum, embora inespecífico. →Radiografia de tórax Achados comuns: atelectasia, opacidades parenquimatosas e derrames pleurais pequenos. → Cintilografia de ventilação/perfusão Uma cintilografia de perfusão normal exclui tromboembolismo pulmonar clinicamente significativo. →Tomografia computadorizada e angiografia pulmonar A força diagnóstica da TC está em seu alto valor preditivo negativo e em sua capacidade de identificar outras condições que causam dispneia e dor torácica (p. ex., pneumonia, dissecção da aorta). A angiografia está indicada quando o diagnóstico é incerto, mas há uma alta probabilidade clínica pré- exame de EP, ou quando o diagnóstico de EP deve ser estabelecido com certeza, como quando anticoagulação está contraindicada ou quando se contempla a colocação de um filtro na veia cava inferior. ➢ Diagnóstico diferencial Os principais diagnósticos diferenciais do TEP são: infarto agudo do miocárdio (IAM), pneumonia, insuficiência cardíaca, asma brônquica, doença pulmonar obstrutiva crônica, neoplasia torácica, fratura de costela, pneumotorax, dor de origem músculo-esquelética e bacteremia (liberação de mediadores causando hipoxemia e hipotensão) ➢ Tratamento -Deverá sempre ser fornecido oxigênio suplementar para os pacientes com TEP. Analgesia pode ser utilizada, quando houver necessidade. -Administração de heparina não fracionada (anticoagulante): deve ser endovenosa, com uma dose de ataque seguida da manutenção por infusão contínua. -Heparina de baixo peso molecular (HBPM): devem ser usadas não só na profilaxia, mas, também, como tratamento nos casos de TEV -Anticoagulante oral: varfarina, sua ação anticoagulante é secundária à inibição da síntese dos fatores da coagulação, dependentes de vitamina K (fatores II, VII,IX e X) →Tratamento cirúrgico: -Tromboembolectomia: apresenta como desvantagens sua maior invasividade e sua menor disponibilidade. Pode ser utilizada como última alternativa nos casos de TEP maciço com instabilidade hemodinâmica e sem resposta ou com contraindicação ao uso de trombolítico. -Colocação de filtros na veia cava inferior: tem como objetivo reduzir a ocorrência de novos fenômenos tromboembólicos - Tromboendarterectomia: tratamento preconizado para o TEP crônico, que evoluiu com hipertensão pulmonar e cor pulmonale. ➢ Referências B Taylor Thompson, MDChristopher Kabrhel, MD, MPH. Overview of acute pulmonary embolism in adults. Uptodate. 2020. Brasileiro Filho, Geraldo. B ogliolo: patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. HAMMER, G. D.; MCPHEE, S. J. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina clínica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. MAFFEI, Francisco Humberto de Abreu et al. Doenças vasculares periféricas. In: Doenças vasculares periféricas. 2008. p. 1041-1041. ALVARES, Flávia; PÁDUA, Adriana Ignácio; TERRA FILHO, João. Tromboembolismo pulmonar: diagnóstico e tratamento. 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