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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO DA SAÚDE E PRODUÇÃO ANIMAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA ALICIA SILVA FURTADO BEATRIZ RODRIGUES NAHUM ELOIZA LAIANE SILVA DA SILVA EVELLY ARAUJO GONÇALVES INARA FREITAS DE SOUZA LUIZ HENRIQUE MATOS MARTINS SARAH QUÉZIA BRITO DE SOUZA FERREIRA WILLIAM FRANKLIM DA SILVA ALVES QUALIDADE DE CARNE E ABATE DE FRANGOS BELÉM 2019 ALICIA SILVA FURTADO BEATRIZ RODRIGUES NAHUM ELOIZA LAIANE SILVA DA SILVA EVELLY ARAUJO GONÇALVES INARA FREITAS DE SOUZA LUIZ HENRIQUE MATOS MARTINS SARAH QUÉZIA BRITO DE SOUZA FERREIRA WILLIAM FRANKLIM DA SILVA ALVES QUALIDADE DE CARNE E ABATE DE FRANGOS Revisão de literatura apresentada ao curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural da Amazônia como componente de avaliação para NAP 1 da disciplina Zootecnia de Não Ruminantes, sob orientação da Prof. Dra. Janaina de Cassia Braga Arruda. BELÉM 2019 SUMÁRIO 1. Sistemas de criação de frangos de corte...............................................................04 1.1. Extensivo....................................................................................................04 1.2. Semi-intensivo............................................................................................05 1.3. Intensivo.....................................................................................................06 2. Sistemas de acondicionamento térmico................................................................07 2.1. Acondicionamento térmico convencional...................................................07 2.2. Acondicionamento térmico semi-climatizado..............................................07 2.3. Acondicionamento térmico climatizado......................................................08 2.4. Pressão positiva.........................................................................................08 2.5. Pressão negativa........................................................................................08 3. Parâmetros pré-abate...........................................................................................09 4. Valor nutricional da carne de frango......................................................................12 5. Fluxograma do abate de aves................................................................................12 5.1. Pendura e insensibilização.........................................................................12 5.2. Sangria.......................................................................................................13 5.3. Escaldagem................................................................................................14 5.4. Depenagem................................................................................................15 5.5. Evisceração................................................................................................15 5.6. Pré-resfriamento e resfriamento.................................................................16 5.7. Gotejamento...............................................................................................17 5.8. Processamento..........................................................................................17 5.9. Subprodutos...............................................................................................18 5.10. Embalagem................................................................................................18 5.11. Congelamento e armazenamento..............................................................19 5.12. Abate emergencial......................................................................................19 6. Rendimento e carcaça de carne............................................................................20 7. Fatores que influenciam na qualidade de carne de frango.....................................23 8. Manejo inadequado e qualidade de carne.............................................................28 9. Principais doenças aviárias que interferem na qualidade de carne........................30 Referências................................................................................................................35 4 Sistemas de criação de frangos de corte Extensivo Há constantes investimentos em inovações tecnológicas na avicultura, o que permite o desenvolvimento de novos sistemas de criação de frangos de corte. Alguns pontos são utilizados para definir qual o melhor sistema deve ser implementado para produção de frangos, como a busca por eficácia na produção, que considera a disponibilidade econômica e técnica, tendo em destaque aspectos de produção, sanidade e bem-estar dos animais (ABREU e ABREU, 2011). Existem muitos desafios quando se trata de tecnologias, haja vista que muitas vêm de países com condições de clima, economia e cultura totalmente diferentes do Brasil. Em diversas situações torna-se necessário realizar adaptações que nem sempre são bem sucedidas e isso leva à perda de investimento e tempo (ABREU e ABREU, 2011). Para enfrentar tais obstáculos, devem ser levados em consideração quatro pontos como referência, a saber: entender sobre a fisiologia das aves, analisar o bioclima da região, aplicar os princípios fundamentais da ambiência e detalhar a especificidade dos sistemas. Esses pontos propiciam uma análise da situação e indicam o que precisa ser acertado nos sistemas para um funcionamento íntegro (ABREU & ABREU, 2011). Assim como os mamíferos, as aves são animais capazes de regular a sua temperatura. Em aves adultas, a temperatura corporal varia entre 41 e 42°C (ABREU e Abreu, 2008). Aproximadamente 80% da energia consumida é empregada na conservação da homeotermia e somente 20% é aplicada para produção (ABREU & ABREU, 2011). A homeostase, contudo, é eficaz apenas quando a temperatura do ambiente está entre limites favoráveis. Sendo assim, é indispensável que os aviários disponham de temperaturas ambientais entre 18ºC a 28ºC, que são os valores próximos a zona de conforto térmico para aves adultas, pois seu sistema de termorregulação tem maior disposição para manter o calor do que para eliminar devido à ausência de glândulas sudoríparas. O controle da temperatura nos aviários através de técnicas e equipamentos de acondicionamento térmico reduz os prejuízos causados pelo excesso de calor (ABREU e ABREU, 2011). Conhecer o clima da região possibilita a organização, a criação de um projeto arquitetônico e dá direção aos avicultores a respeito de qual o melhor manuseio 5 ambiental a ser feito, visando um maior rendimento e a diminuição de gastos na criação de aves por intermédio da adaptação dos sistemas de condicionamento térmico às exigências desses animais (ABREU & ABREU, 2011). Como o Brasil possui muitas regiões de clima quente, é essencial buscar meios para minimizar os efeitos das altas temperaturas no animais. Primeiramente, deve-se procurar formas de proporcionar um condicionamento térmico natural nos aviários, considerando características como localização, o tipo de telhado, quebra ventos e sombreiros, por exemplo. Se esses pontos não forem suficientes, acrescenta-se o uso de condicionadores térmicos artificiais (ABREU & ABREU, 2011). Semi-intensivo A criação de frango colonial e orgânico tem adquirido grande relevância, principalmente pela pressão exercida pela sociedade que busca por uma alimentação mais natural e pelas lei de bem estar animal, além de apresentarem uma carne com reduzida quantidade de gordura (PAULINO et al., 2019). De acordo com uma pesquisa realizada por Crabone et al. (2011), entre as razões pelas quais as pessoas são influenciadas a comprar carne de frango colonial, quase 65% dos consumidores respondeu que era pela diferençaentre o sabor da carne de frango industrial e o caipira. No sistema de produção semi-intensivo o frango colonial passa a ter acesso a piquetes com forragem durante o dia somente após 25 dias de nascimento, até completarem esse período, devem ficar confinadas em galpões, de acordo com Ofício Circular DOI/DIPOA nº 007/99, O.C. DIPOA Nº 60/99 (BRASIL, 1999). Os piquetes devem ter no mínimo três metros quadrados de pasto por ave, desse forma elas terão espaço para manifestarem seus comportamentos naturais como ciscar e tomar banho de terra, que auxiliam na redução do estresse. Esse modelo de criação baseia-se em ativar o sistema imune das aves, de forma a evitar a utilização de medicamentos e produtos artificiais em sua alimentação. A nutrição desses animais é oriunda apenas de componentes de origem vegetal, sendo impedida a utilização de alimentos de origem animal e produtos químicos (PAULINO et. al., 2019). Já a criação de frangos orgânicos está alicerçada na utilização de nutrição a base de produtos de origem vegetal e orgânica, e é proibido a aplicação de defensores agrícolas e o uso de transgênicos na plantação destes alimentos. Os galpões para 6 criação orgânica são simples e práticos, e devem ser formados de piso e telhado, as laterais dispõem de colunas, mureta, cortinas, tela e área dos piquetes. O telhado deve proteger as aves da radiação solar e da chuva, e podem ser feitos de telhas de barro, amianto ou alumínio, onde a escolha vai depender do material está relacionada a situação econômica do avicultor e da localização do galpão (PAULINO et al., 2019). Haja vista o bem-estar animal, o sistema de semiconfinamento é o que demonstra melhor atender as carências das aves e apresenta um índice de estresse reduzido. O sistema semi-intensivo comparado ao intensivo apresenta melhor acondicionamento térmico natural, com temperatura média de 24,7°C no ambiente externo, ao mesmo tempo que o sistema de confinamento a demonstrou uma temperatura média de 26,8°C, diante disso, o sistema semi-intensivo obteve melhor resultado e proporciona maior bem estar às aves (PAULINO et al., 2019). A Associação Brasileira de Avicultura Alternativa possui o propósito de aprimorar e padronizar o sistema de criação. A concessão de selos como “ecocert”, “certificado orgânico-IBD” entre outros, ratificam a confiabilidade do produto resultando em maior agregação de valor (PAULINO et al., 2019). Intensivo A criação de frangos de corte no sistema intensivo permite a acomodação de um maior número de animais por área, tornando-se mais atrativa para os produtores, devido a maior probabilidade de retorno financeiro. Também é uma produção mais tecnológica e o avicultor possui melhor controle quando se trata de ambiência, é um sistema que possibilita o trabalho com maior densidade animal e com espécies mais exigentes que apresentam melhor desempenho, trazendo mais visibilidade econômica e tornou-se o sistema de produção mais utilizado no Brasil (PAULINO et al., 2019). Algumas estratégias utilizadas para proporcionar bem estar aos animais e manter a qualidade da produção de frangos é o uso de acondicionamento térmico artificiais. Tendo em vista o sistema intensivo, existem quatro tipos de acondicionamento térmico que ganham uma classificação de acordo com o nível de modernização do aviário, sendo eles: o sistema convencional, o semi-climatizado, o climatizado de pressão positiva e o climatizado de pressão negativa, onde este último é integrado por aviários importantes como o dark house e blue house (PAULINO et al., 2019). 7 Sistemas de acondicionamento térmico As condições ambientais como o clima, umidade do ar e o acúmulo de gases alcançaram amplo destaque na produção, considerando-se o desenvolvimento genético das aves, que pretendeu enriquecer a eficiência zootécnica dos frangos. Entretanto, o sistema de regulação térmica das aves é pouco desenvolvido (OLIVEIRA, et al., 2016). Dessa forma, as altas temperaturas e umidade percebidas no interior dos aviários brasileiros, faz com que as aves manifestem desconforto térmico através do seu comportamento, que reflete diretamente na produção, e consequentemente, apresenta perdas. Diante disso, a escolha do tipo de sistema de produção influência de forma direta no sucesso ou fracasso da criação (NASCIMENTO et al., 2011). Acondicionamento térmico convencional No sistema convencional, as instalações na maioria das vezes não possuem equipamentos de resfriamento, estando sujeitas somente a ventilação natural através do manuseio de cortinas. O telhado nesse tipo de instalação é uma das principais táticas para diminuir os efeitos da radiação solar no interior do aviário. A escolha do material a ser utilizado como telhado, deve considerar a capacidade de reflexão dos raios solares e baixa absorção térmica. Telhas feitas de barro são a melhor opção para atenuar os impactos da radiação solar, seguida de telhas produzidas de cimento amianto e pintadas de branco (SILVA, 2013). Outras possíveis técnicas para minimizar a temperatura no ambiente, é o uso de materiais isolantes e pulverização de água sobre o telhado. Além da arborização envolta dos aviários que no verão controlam a insolação, auxilia com a redução da velocidade do vento e mantém a temperatura e a umidade do ar mais agradáveis ao redor da instalação (SILVA, 2013). Acondicionamento térmico semi-climatizado No sistema de acondicionamento semi-climatizado, as instalações dispõem de forro, cortinas e ventiladores. Todavia, não há domínio sobre a passagem do ar no interior do galpão avícola pois não há um planejamento preexistente para implantação, que pode ser longitudinal ou transversal em sistemas abertos (PAULINO et al., 2019). Na ventilação longitudinal, os ventiladores são fixados em duas linhas por toda extensão do aviário, a cada 12m e em orientações que podem ser intercaladas, das 8 quais o ar entra por uma extremidade e sai pela outra. O funcionamento dos ventiladores deve ser ordenado, metade entra em atividade a 25°C e o restante a 28°C, e o fechamento da cortina a 28°C, dessa forma, caracteriza-se um sistema de túnel de vento (ABREU e ABREU, 2000). Na ventilação transversal, os ventiladores são instalados atravessados em uma das laterais em uma posição intermediária a altura do pé direito do aviário, na direção das correntes de ar, com o fluxo de ar levemente curvado para baixo. Geralmente são usados ventiladores com cerca de 330m³/min a cada 6m pela extensão do galpão, onde metade dos ventiladores são acionados a 25°C e os outros a 28 °C (ABREU e ABREU, 2000). Acondicionamento térmico climatizado Para um ambiente ser tido como apropriado para a criação de frangos de corte na fase adulta, é preciso que a temperatura esteja entre 15 a 26°C e possua umidade relativa do ar entre 50% e 70%. Há duas formas fundamentais para propiciar de maneira artificial o fluxo do ar dentro dos aviários e regular a temperatura e a umidade, que pode ser feita por pressão negativa e pressão positiva (SILVA, 2013). Pressão positiva Assim como os aviários de condicionamento semi-climatizados, os aviários climatizados por pressão positiva possuem forro, cortina e ventiladores, a diferença é que neste modelo há um planejamento prévio para implantação (longitudinal ou transversal), dessa forma, o ar que há no interior do galpão é obrigado a sair da instalação (PAULINO et al., 2019). As cortinas permanecem abertas, quando os ventiladores estão posicionados na transversal do galpão avícola. E podem ficar abertas ou fechadas, quando são posicionados na longitudinal. O processo de arrefecimento pode ser efetuado por meio de nebulizadores, que promovem a pulverização de gotículas diminutas de água dentro do aviário (PAULINO et al., 2019). Pressão negativa Os aviários que possuem condicionamento térmico porpressão negativa são os mais modernos, e podem ser blue house ou dark house. O sistema dark house se diferencia do blue house por possuir controle da luminosidade no galpão, utilizando 9 duas camadas de cortinas pretas bem vedadas para impedir a entrada de luz natural. Esse sistema de pressão negativa dispõe de melhor domínio sobre as condições térmicas se comparado com outros sistemas de acondicionamento térmico artificiais (PAULINO et al., 2019). Neste sistema, o ar é puxado do interior para fora da instalação por exaustores, dessa forma, cria-se um vácuo parcial no interior do galpão, e as cortinas devem ser mantidas sempre fechadas e necessitam ter um bom isolamento, para que ocorra apenas entrada de ar pelas placas evaporativas, que são instaladas na entrada de ar dos aviários, isso assegura uma melhor eficiência dos exaustores e excelente conforto térmico dentro da instalação (PAULINO et al., 2019). As placas evaporativas costumam ser feitas com blocos cerâmicos ou painéis de celulose. Há água circulando na placa e quando o ar quente passa pela placa, o calor é transferido para a água, volatilizando-a, favorecendo dessa forma uma temperatura mais agradável dentro do galpão (PAULINO et al., 2019). Para esse modelo de galpão avícola, é recomendada a utilização de geradores de energia, para situações onde falte energia, pois se os exaustores pararem de funcionar, é possível que ocorra uma instabilidade na temperatura interna, e por conseguinte, haverá estresse térmico excessivo e a morte das aves (PAULINO et al., 2019). Parâmetros pré-abate Na avicultura industrial são realizados alguns protocolos essenciais para que cada vez mais a produção das aves seja aperfeiçoada, gerando menos perdas econômicas e visando também a preservação do bem-estar animal (MENDES, 2001). Desde o início da avicultura, foram feitas várias pesquisas para definir o período de tempo essencial para o início do jejum pré-abate, técnica esta que é utilizada para evitar a contaminação dos abatedouros e aperfeiçoar a eficiência da produção, de modo que, não haja “desperdícios” de mantimentos fornecidos sem necessidade para as aves (MENDES, 2001). Vários estudos foram feitos para estipular a hora certa de dar início ao jejum pré-abate e alguns de seus primeiros resultados chegaram à conclusão de que a alimentação das aves deveria ser restringida em pelo menos 8 a 12 horas antes do abate, assim diminuiria os ricos de contaminação do abatedouro e também da carne por já haver dado tempo de esvaziar as vísceras que normalmente portam dejetos. As 10 aves costumam alimentar-se cerca de 6 vezes ao dia e ingerem água apenas após terem se alimentado ou em casos de extremo calor e, ao começar o jejum, também é dado início ao processo de desidratação da carcaça, onde, ao mesmo período em que a alimentação das aves é finalizada, o fornecimento de agua também é finalizado. Contudo, o protocolo de abate entre as empresas costuma variar e com isso o tempo de jejum pré-abate habitualmente atinge o tempo máximo aconselhado a esse período, ou seja, 12 horas (MENDES, 2001). Entretanto, seguidamente às empresas assumirem o protocolo citado anteriormente, foram realizadas pesquisas a respeito do impacto do jejum pré-abate e a desidratação na qualidade da carne, técnica esta que gerou preocupação em pesquisadores em relação a vertente do bem-estar destes animais. Com isso, algumas indústrias passaram a rever seus protocolos e melhorá-los, tais como o sistema de abate “Just in time” que fez com que sanasse o tempo que as aves esperavam no abatedouro (JUNIOR, 2005). O jejum diminui a passagem do alimento pelo intestino drasticamente e esse efeito tende a aumentar proporcionalmente ao período de jejum, assim como o calor e a diminuição da luminosidade, por isso, alguns autores indicam que o abate seja feito após 4 à 6 horas após o início do jejum (SANTOS, 2015). Após vários testes, chegou-se à conclusão de que o tempo ideal para estes animais serem submetidos ao jejum levando em consideração não só a diminuição da probabilidade da contaminação do abatedouro, mas também o rendimento da carcaça é de 10 à 12 horas sem restrição à água até o momento da apanha (MENDES, 2001). Com novas pesquisas feitas foi observado que a privação de água não afetou o intestino em geral em relação ao tamanho, já a alimentação restrita associada a colocação das aves em engradados, assim que iniciou-se o jejum, aumentou a presença de dejetos no intestino das aves, mesmo após 8 horas de jejum, o que indica que a movimentação do bolo alimentar minimiza na união da moela com intestino delgado devido à baixa atividade ou por estresse causado pelo ambiente (SANTOS, 2015). Em outro experimento constatou-se que o volume fecal diminuía nas aves que estavam em gaiolas com luminosidade e com isso concluiu-se que o efluxo intestinal acelera quando o ambiente é iluminado (SANTOS, 2015). Sendo assim, o jejum faz com que estas aves tenham potencialmente menos possibilidade de contaminar o abatedouro durante o processo (MENDES, 2001). 11 A contenção de água é um fator crucial para a conservação da qualidade da carne, visto que esta característica será decisiva para a aceitabilidade do público para com o produto. A retenção da água vai depender da fase em que o músculo estará. Normalmente retém mais água na fase de pré-rigidez do que na fase rigor mortis, porém, recupera-se na fase post mortem. Nesta fase, a perda de água é regulada pela celeridade que o pH diminui, que vai de 7 para 5 em aproximadamente 30 a 60 minutos (MENDES, 2001). A fase rigor mortis é um fator determinante quando se trata da qualidade da carne, esta fase se inicia imediatamente após o abate da ave e tem a duração de 10 a 30 minutos ou de 5 até 7 horas, este termo é bastante variável por depender da situação em que o músculo se encontrará no momento do abate em relação aos níveis de glicogênio, ATP e pH. Nesta etapa é importante saber fazer um bom tratamento, pois ao efetuar a desossa ou corte de forma inadequada causa o enrijecimento da carne (OLIVEIRA, 2005). Após alguns testes feitos com relação ao efeito causado pelo tempo em que as aves são submetidas ao jejum pré-abate, foi observado que quando o jejum ultrapassou as 6 horas a maciez do musculo do peito (corte principal) ficou comprometida significativamente (MENDES, 2001). O estresse que os frangos sofrem são gerados principalmente durante o jejum pré-abate, onde acontece uma diminuição na reserva de glicogênio no músculo que faz com que a qualidade da carne diminua e também durante o transporte, onde em razão do estresse, as aves acabam eliminando mais fezes, e em caso de haver aves infectadas na granja, há uma maior pré-disponibilidade de ocorrer a contaminação das outras aves por Escherichia coli, localizada principalmente no peito e Salmonella typhimurium (GOTTARDI, 2012). Atualmente, a demanda produtiva da avicultura necessitou de adequações para elevar a qualidade da carne por conta do aumento significativo de consumidores deste produto, que apresenta benefícios nutritivos e econômicos para os mesmos e para diminuir as perdas financeiras durante a produção (SANTOS, 2015). Com isso, fez-se imprescindível o aperfeiçoamento no manejo das aves no pré e pós abate, levando em consideração a lotação, temperatura, bem-estar animal e outros fatores que interferem diretamente nas condições fisiológicas do animal, e com isso influenciando na qualidade da carne e carcaça (SILVA, 2007). 12 Durante o transporte das aves até o abatedouro, as condições climáticas macro (fora da caixa) e micro (dentro da caixa) favorecem a exposição das aves ao estresse fisiológico. Sendo assim, até mesmo o local onde o caminhão transportador irá ficar estacionado necessita de uma escolha atenciosa para que não corrobore com o estresse dos animais(SILVA, 2007). Valor nutricional da carne de frango A composição química da carne de frango pode variar, em geral é constituída de 60% a 80% de água e 15% a 25% de proteína. A constituição de lipídeos varia e depende da dieta, da idade, do sexo e do ambiente de criação do animal (VINCENSI et al., 2017). A carne de frango é classificada como um alimento saudável, pobre em gorduras com alto teor de proteínas de boa qualidade, rica em aminoácidos indispensáveis. Nela encontra-se uma finte importante de vitaminas do grupo B, principalmente B12 concentrada no fígado que ajuda na formação de glóbulos vermelhos e a B2, fora isso, alguns estudos recentes também associam o consumo dessa carne à melhoria de todo o sistema cerebral. De acordo com as pesquisas, a substância niacina, em grande quantidade na composição nutricional da ave, é tida como essencial para a saúde do cérebro, podendo ter efeitos protetores contra doenças que geram a falta de memória, como o Mal de Alzheimer e, até mesmo, os mais diversos distúrbios cognitivos. Ainda é rica em ferro hemínico, a forma mais bem assimilada pelo organismo, além de, trazer gorduras que em sua maioria trata-se de gorduras mono e poli não saturadas (VENTURINI et al., 2007). Fluxograma do abate de aves Pendura e insensibilização A pendura consiste a suspensão das aves pelos pés nos ganchos da nória, é um processo automatizado que permite que o abate ocorra em um curto período. Os frigoríficos brasileiros, em sua maioria, possuem a etapa de pendura integrada ao método de insensibilização por eletronarcose. Entretanto, para que as aves sejam insensibilizadas através da água eletrificada, a suspensão de ponta-cabeça nos ganchos da nória, faz-se necessário (LUDTKE et al., 2010). Contudo, o treinamento dos operadores é fundamental para a realização da pendura, de forma que execução deste procedimento seja feita com cuidado e 13 rapidez, a fim de garantir a segurança, reduzir a dor, possíveis lesões e contusões nas aves. Portanto, uma ótima efetuação desta etapa depende, principalmente, do treinamento dos funcionários, da acomodação do equipamento em relação ao ambiente e a luminosidade, que deve ser tranquilo e de pouca luz, para que haja o menor estresse possível destas aves (SCHILLING, 2014; EMBRAPA, 2007). O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento especifica de acordo com a portaria 2010 de 1998, que a insensibilização deve ser preferivelmente por eletronarcose com o uso de líquido, onde o equipamento deve possuir registros de voltagem e a intensidade da corrente deverá ser proporcional ao tamanho, peso e à espécie das aves. Entretanto, sob hipótese alguma, a insensibilização deverá promover a morte das aves, sendo assim, recomenda-se no mínimo doze segundos e no máximo até sessenta segundos após esta ação, para que a sangria seja efetuada (SCHILLING, 2014; MAPA, 1998) A insensibilização por eletronacorse dura em média quinze milésimos de segundo, o que propicia a ausência de dor nas aves, assim quando são imersas no líquido. Porém, essa insensibilização é temporária, ou seja, a finalidade dessa ação é apenas para induzir à perda de consciência e assegurar que o animal fique assim até a morte, que deverá suceder após a sangria. Vale ressaltar, que ao decorrer da imersão, o período da inconsciência depende diretamente da extensão da frequência e corrente aplicada na cuba (LUDTKE et al., 2010). O sistema por eletronarcose produz um estado de inconsciência por um curto período, haja vista que a ave poderá recuperar a lucidez após esse processo caso não ocorra a sangria imediatamente. Já o sistema de insensibilização por eletrocussão induz à inconsciência da ave seguida de morte por fibrilação ventricular, portanto é um método irreversível se aplicado corretamente, proporcionando maior segurança de insensibilidade da ave antes da sangria. A diferença entre os procedimentos está na frequência da corrente elétrica utilizada, sendo assim, a eletrocussão promove a parada cardíaca, causando a morte das aves (LUDTKE et al., 2010). Sangria A sangria deve ser feita logo após a insensibilização das aves, a fim de se prevenir riscos da recuperação e garantir a qualidade da carcaça após morte, pois o período do estado de inconsciência, após a eletronarcose, é demasiadamente curto. Todavia, esse procedimento deverá ser executado mesmo que se aplique a 14 insensibilização seguida de parada cardíaca, visto que é impossível garantir que todas as aves sejam de fato mortas durante a eletrocussão (SCHILLING, 2014). O tempo estimado para causar a inconsciência e morte por perda de sangue dependerá da espécie, da área de corte e dos vasos cortados. Mesmo assim, a instrução normativa n° 3 da legislação brasileira, no que diz respeito a esse procedimento, estima-se que deverá perdurar três minutos no mínimo, para que dessa forma, a ave seja conduzida para o tanque de escaldagem (SCHILLING, 2014). O corte deverá ser no pescoço e sua realização poderá ser manual ou mecânica. Com isso, a parte ventral do pescoço deverá ser seccionada visando o rompimento da traqueia, esôfago, carótidas e veias jugulares. Uma vez que, esses vasos sanguíneos são cortados, a perda excessiva de sangue irá privar o coração de bombear o volume sanguíneo necessário para oxigenar os tecidos e o cérebro, provocando choque hipovolêmico, com isso a consciência será gradualmente perdida até que a morte do animal ocorra (SCHILLING, 2014). Se porventura, a ave não for inconsciente para a escaldagem, haverá altas chances de contaminação dos órgãos, além de ficar com uma coloração vermelha indesejável. Além do mais, de acordo com a questão de bem-estar animal, é inconcebível, sob o ponto de vista do bem-estar animal, que isso aconteça. Também, serão impróprias para o mercado, devido a fácil contaminação da carcaça (SCHILLING, 2014). Escaldagem O Ministério Da Agricultura Pecuária E Abastecimento estabelece, consoante a portaria 210 de 10 de novembro de 1998, a escaldagem deverá ser executada logo após a sangria, obrigatoriamente e sob condições pré-estabelecidas de tempo e temperatura, conforme às particularidades do lote em processamento, onde é vetada a entrada de aves vivas. A escaldagem poderá ser efetuada por meio de pulverização de água quente e vapor ou por imersão em tanque com água aquecida através de vapor, sendo este último, o mais utilizado. Além de promover a remoção de impurezas e sangue da carcaça, essa etapa também facilita a remoção das penas no processo de depenagem (MAPA, 1998; EMBRAPA, 2007). Não obstante, o tempo de permanência ou na temperatura da água de escaldagem é muito importante, porque quando são regulados de forma errada, geram queimaduras, retiram a cutícula natural da pele e geram o endurecimento da 15 carne, reduzindo a vida útil da carcaça. Caso haja inalação desse líquido de escaldadura por parte da ave, poderá aduzir uma contaminação cruzada dos sistemas sanguíneo e respiratório, gerando perdas na produção (RIBEIRO, 1992; CASTILLO, 1997). Logo, as aves devem estar mortas na escaldadeira, para se evitar a ingestão de água por elas. O período de escalda é de aproximadamente dois minutos e a temperatura deve ser mantida entre 54 e 56 °C, dado que altas temperaturas causam a despigmentação da pele, deixando-a com aspecto indesejável (MENDES, 2011). Depenagem O processo de depenagem das aves é feito mecanicamente por “dedos” vibratórios de borracha flexível em máquinas depenadeiras. A regulagem dos dedos vai de acordo com o tamanho das aves, de modo a facilitar a depenagem e reduzir problemas como traumas e hematomas nos músculos, hemorragias e fraturas nas pontas das asas, assim, evitando perdas de corte e, por conseguinte, rendimento e lucratividade. É aconselhável a proximidade dos depenadores do tanque de escaldadura, hajavista, que o possível resfriamento da carcaça dificultará o saque das penas (RIBEIRO, 1992; CASTILLO, 1997). As máquinas depenadeiras podem ser estáticas ou em série, com fluxo contínuo de água fria através de chuveiros, e escoamento constante enquanto durar o abate. As penas que foram removidas são depositadas na canaleta no piso e em seguida, são transportadas para fora do abatedouro e adiante para a graxaria. Posteriormente ao processo de depenagem, as aves são transferidas para outra nória, para os pés serem escaldados, para isso são presas pela cabeça. Essa escaldagem também é feita por imersão dos pés, em um tanque de água quente, sendo de temperatura superior, para haja o amolecimento das membranas dos pés (EMBRAPA, 2007). Evisceração Previamente a evisceração, a lavagem das carcaças, faz-se necessária, estas deverão ser lavadas em chuveiros de aspersão dotados de água sob pressão, em jatos posicionados em vários sentidos para que todas as partes da carcaça sejam lavadas. Nos sistemas de evisceração não automatizados, os chuveiros são localizados no início da calha de evisceração ou na entrada do ambiente de evisceração. Dessa forma, é essencial que, a evisceração seja cumprida com as aves 16 suspensas em ganchos em trilhagem em aérea mecanizada, a qual deverá ser instalada sobre uma calha, onde todos deverão ser de material inoxidável, ou seja, não corrosível, e de superfície lisa e de fácil higienização, de maneira que as vísceras não comestíveis sejam captadas e conduzidas para os coletores, ou diretamente transportadas para a graxaria, seção de subprodutos não comestíveis. Ao final desse processo as carcaças recebem uma ducha de água clorada (MAPA, 1998). O cuidado na etapa de evisceração é de extrema importância, porque o rompimento do trato digestivo contamina a carcaça com fezes, e o extravasamento de bile da vesícula confere um gosto desagradável a carne (RIBEIRO, 1992; CASTILLO, 1997). Por isso, o tempo de jejum pré-abate é necessário, para diminuir o conteúdo gastrointestinal dos animais, reduzindo uma possível contaminação da carcaça (EMBRAPA, 2007). Pré-resfriamento e resfriamento O pré-resfriamento é o processo de rebaixamento da temperatura das carcaças de aves, seguidamente após as etapas de evisceração e lavagem, realizadas por passagem por túnel de resfriamento ou sistema de imersão em água gelada, obedecidos os respectivos critérios técnicos específicos. Ainda poderá ser efetuado por meio de: imersão em água por resfriadores contínuos, rosca sem fim, resfriamento em câmaras frigoríficas ou pulverização com água gelada (MAPA, 1998). O sistema de pré-resfriamento é uma das etapas que envolve o processamento tecnológico de abate de aves, cujo objetivo é a rápida redução da temperatura das carcaças. Já o resfriamento influi diretamente na qualidade do produto, já que os métodos utilizados para minimizar o calor diminuem a proliferação bacteriana e a multiplicação de potenciais patógenos que possam comprometer as carcaças (VIANA, 2016). Normalmente o resfriamento da carcaça é efetuado em duas etapas, sendo pré-resfriamento seguido do resfriamento definitivo. A redução da temperatura das carcaças tem por objetivo decrescer a proliferação bacteriana e elevando o conteúdo de água no músculo da ave fazendo com que haja o aumento deste, alterando o peso final da carcaça (CASTILLO, 1997). Ainda de acordo com a portaria 210 de 10 de novembro de 1998 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), a renovação de água gelada dos resfriadores contínuos tipo rosca sem fim, deverá ser constante e em sentido contrário 17 à movimentação das carcaças, durante os trabalhos. A temperatura da água, na entrada e saída do primeiro e último estágio, não deve ultrapassar 16 °C e 4 °C, respectivamente, no sistema de pré-resfriamento por imersão, atentando-se para o tempo máximo de trinta minutos permanência das carcaças no primeiro. Para as carcaças destinadas ao congelamento imediato, tolera-se a temperatura de 10 °C, já para as carcaças no final do processo de pré-resfriamento, indica-se temperatura igual ou inferior a 7 °C (VIANA, 2016). Gotejamento O gotejamento é designado ao escoamento da água da carcaça consequente da do pré-resfriamento, na finalização desta etapa, a absorção da água nas carcaças de aves submetidas ao pré-resfriamento por imersão, não poderá exceder os seus pesos a 8%. Este método de gotejo deverá ser realizado, sucessivamente ao pré- resfriamento, e as carcaças são suspensas pelo pescoço ou asas (MAPA, 1998). A mesma nória a qual as aves são conduzidas através da sala de processamento, poderá ser utilizada como nória de gotejamento, tendo o objetivo de remover o excesso de água da carcaça. Esta nória é necessária para a retirada de possíveis excessos de água dos produtos resfriados, pois não é permitido o acúmulo de água nas embalagens (EMBRAPA, 2007). Processamento Ao saírem das áreas de resfriamento e gotejamento, as carcaças são encaminhadas para a área de processamento, onde serão destinadas à duas situações e nórias para diferenciá-las, posto que após o processo de resfriamento, ocorre a classificação das aves, que são como produtos inteiro ou corte. Dessa forma, é obrigatório que duas equipes de funcionários trabalhem ao mesmo tempo (EMBRAPA, 2007). A nória de frango inteiro, vai para a sala de embalagem, onde é acrescido à carcaça as vísceras comestíveis (coração, fígado e moela) e os pés. Em seguida, com o uso de um funil as carcaças são acomodadas na embalagem primária e lacradas em cima de uma mesa de aço inoxidável e posteriormente, devem ser acondicionadas na embalagem secundária, que podem ser caixas de papelão padronizadas por peso total. Esta padronização tem como objetivo de facilitar a comercialização e distribuição comercial do produto (EMBRAPA, 2007). 18 Na nória de transporte, as carcaças destinadas a corte podem ser trabalhadas sob mesas de aço inoxidável. Após a realização dos cortes das asas, coxa, sobrecoxa, peito e carcaça, o produto é comparado com o portifólio da empresa. Em seguida, os produtos são colocados nas embalagens primárias, tais como bandejas e/ou sacos plásticos, conforme as exigências de mercado, e enviados para a área de embalagem secundária (EMBRAPA, 2007). Subprodutos O abate gera uma grande quantidade de subprodutos e resíduos. A indústria possui grande interesse no aproveitamento, reciclagem e reutilização desses subprodutos, uma vez que se trata de produtos nutritivo e funcionais. Além de que, uma gestão adequada dessas matérias pode minimizar o impacto ambiental causados por esses tipos de indústrias (EMBRAPA, 2007). Como os principais subprodutos do processo de abate, temos: pele, gordura e carne mecanicamente separados, que podem ser utilizados na produção de embutidos como, mortadela e salsicha. E outros, como a cartilagem, ossos moídos, cabeça e pés, podem ser usados na produção de ração para animais de estimação (EMBRAPA, 2007). Embalagem As embalagens não são utilizadas apenas para garantir que o produto chegue até o consumido em boas condições. Além disso, elas são importantes para uma boa apresentação do produto no mercado. Este sistema, detém por finalidade, conter, proteger e conservar os diversos produtos e transportá-los ao mercado, atendendo às necessidades dos consumidores a um preço justo. A função primordial das embalagens é proteger contra a ação de fatores ambientais: ar, luz, umidade, microrganismos etc. Porém, esta proteção depende do manejo adequado na produção, estocagem e transporte do produto (EMBRAPA, 2007). As embalagens podem ser classificadas em primárias e secundárias, dependendo da sua função. A embalagem primária é aquela que acondiciona o produto que será a apresentado na prateleira do supermercado, como por exemplo, as bandejas.Em contrapartida a embalagem secundária é utilizada para o armazenamento e transporte dos produtos. Podemos citar como embalagem secundárias: as caixas de papelão e sacos plásticos. É importante saber que, os 19 produtos congelados devem ser colocados em embalagens leitosas de baixa permeabilidade ao vapor de água e ao oxigênio, enquanto os resfriados devem ser em recipiente transparente (EMBRAPA, 2007). Vale lembrar que as embalagens também portam a função de transmitir informações obrigatórias sobre os produtos, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) do ministério da saúde, além de identificar sua procedência e ressaltar os atributos complementares do produto e informações sobre a procedência do produto, data de produção e validade (EMBRAPA, 2007). Congelamento e armazenamento A principal vantagem do congelamento do produto é a otimização do tempo na prateleira. O tipo de equipamento a ser utilizado nesse processo depende do custo, qualidade do produto e da flexibilidade operacional. Para a eficácia do congelamento, alguns fatores devem ser considerados: tipo de produto, volume de abate e da capacidade de investimento da empresa. No congelamento do frango inteiro, cortes e vísceras comestíveis, normalmente são utilizados os túneis estáticos e contínuos. Os produtos resfriados, devem receber um choque térmico, antes de serem colocados na câmara de estocagem, para se evitar a cristalização. Em alguns casos, a própria câmara de armazenamento pode ser utilizada para a realização do congelamento. É importante ressaltar, que ambas operações, congelamento e o armazenamento congelado, não podem ser considerados como método bactericidas, já que não são capazes de eliminar microrganismos (EMBRAPA, 2007). Abate emergencial O bem-estar animal, a sanidade e a segurança do alimento são de vital importância. Com isso, é essencial que as aves cheguem ao abatedouro livres de quaisquer problemas, como: doenças, contusões, fraturas e estresse intenso. As aves que apresentarem tais problemas, ou seja, relacionados a condição física ou de saúde, devem ser identificadas, separadas e consequentemente sacrificadas. (LUDTKE et al., 2010) O método de abate emergencial, visa evitar o prolongamento do sofrimento dessas aves posterior. Há pelo menos três métodos principais de abate emergencial de aves: Insensibilização elétrica portátil (individual) e insensibilização por pistola de dardo cativo que causam imediata perda da sensibilidade e consciência e é 20 necessário efetuar a sangria; O deslocamento cervical, causa a morte da ave por rompimento da medula espinhal e distensão dos vasos sanguíneos mais importantes. Esse método de abate deve ser feito apenas por profissionais treinados para essa função (LUDTKE et al., 2010). A avaliação da condição física das aves é essencial para verificar se as aves estão em perfeitas condições para serem abatidas. Esta análise precisa ser realizada durante a criação, momento da apanha ou na inspeção pré-abate e pendura. Durante esses períodos deve haver pelo menos um profissional capacitado para cada equipe, este que será o responsável por sacrificar humanitariamente as aves que apresentarem desvio do padrão de sanidade exigidos e que não tenham condições físicas de serem transportadas e abatidas (LUDTKE et al., 2010). Rendimento de carcaça e de carne A avicultura no Brasil cresce intensamente, e com isso, o crescimento do mercado consumidor impulsiona a busca por desenvolvimento de linhagens que tenha maiores rendimentos para suprir as exigências do mercado, sendo assim, os geneticistas atuais, preocupam-se em buscar de maneira constante a melhora do material genético das linhagens das aves (STRINGHINI, 2003). O rendimento do frango de corte depende de diversos fatores, sendo um deles a linhagem das aves. Na literatura cientifica os cruzamentos entre linhagens de frangos de corte e avaliações de cruzamentos são explorados de maneira significante, tendo-se como o principal objetivo o rendimento de carcaça e cortes, mas também o ganho em desempenho para atender as demandas do mercado (SILVA, 1989; BIHAN- DUVAL et al., 1998). A avaliação da qualidade da carcaça, geralmente é baseada em critérios visuais e estéticos, para verificação de presença de hematomas e/ ou hemorragias, fraturas de ossos, rompimento da pele e ausência de estruturas de parte da ave (MENDES e KOMIYAMA, 2011). Os principais fatores que estão interligados com a qualidade da carne são; idade de abate, sexo, taxa de lotação, tempo de jejum, apanha das aves, transporte, temperatura ambiente, pendura, atordoamento, escalda e resfriamento afetam a composição e a qualidade da carne, visto que a qualidade da carne de frango não resulta somente do material genético do animal, depende do conjunto de ações sanitárias e de manejo (MENDES e KOMIYAMA, 2011). 21 Na avaliação da qualidade da carne são considerados critérios objetivos como pH, capacidade de retenção de água, maciez e cor. Para avaliar as características organolépticas, são feitos testes subjetivos, como o uso de painéis de degustadores. Os parâmetros físico-químicos também servem de critérios avaliativos, tais como: aparência, textura, suculência, pH, sabor entre outros (MENDES e KOMIYAMA, 2011). A capacidade de retenção de água dos músculos depende de diversos fatores, como por exemplo o estresse térmico sofrido pela ave durante o período de criação e dos fatores pré- abate, o estresse causado nas aves favorece para o surgimento rápido do rigor que é determinado pelos fatores citados, esse fator é de extrema importância e no Brasil é monitorado pelas empresas e pelo MAPA (MENDES e KOMIYAMA, 2011). O frango tem colocação branca e fornece nutrientes essenciais em uma dieta equilibrada: proteínas, lipídios, vitaminas e minerais, esta composição varia conforme raça, idade e condições sanitárias do animal (VENTURINI; SARCINELLI; SILVA, 2007). As Carnes PSE não tem seu valor nutricional alterado e com isso não apresenta perigo a saúde do consumidor, mas problemas sensoriais como aparência e principalmente cor, quando destinadas a processamento compromete sua utilização e resulta em prejuízos econômicos e rentabilidade industrial e comercial (KISSEL, et al., 2009; SHIMOKOMAKI et al., 2006). A cor da carne é avaliada no sistema de CIELAB medida com colorímetro e suas escalas de cor (luminosidade ou percentagem de reflectância, representada por L*, variando de 0-100, de branco para preto; a* variação entre vermelho e verde; e b* que mede a variação entre o amarelo e o azul) (OLIVO; SHIMOKOMAKI, 2006). Alguns pesquisadores têm proposto a utilização de valores de Luminosidade (L*) (sistema CIELAB ou Hunter) para classificação de carnes de aves em PSE e normal. McKee, Hargis e Sams (1998) e Owens et al. (2000) classificaram como PSE as carnes de perus que apresentaram valor de L* > 53, enquanto Barbut (1997) sugeriu valores de L* ≥ 49 para carnes de frango PSE. Soares et al. (2002) classificaram os filés com valores de L* ≥53 como PSE, filés com valor de L*≤44 como a-DFD e filés com valores de 44<L*. 22 A carcaça é avaliada com um instrumento que caracteriza e classifica o produto, mas tem vários fatores que interferem na qualidade do produto. Dessa forma, foram desenvolvidos métodos de avaliação e estes são divididos em características qualitativas da carcaça: conformação, maturidade, cor, textura, marmoreio, maciez e características quantitativas: comprimento, área de olho de lombo (AOL) e espessura de gordura subcutânea (EGS). Portanto as carcaças devem ser avaliadas com base no peso, acabamento, comprimento, espessura da gordura, área de olho de lombo, entre outras (SANTOS et al., 2018). A avaliação das carcaças é feita por meio de parâmetros relacionados a medidas objetivas e subjetivas em relação àmesma e deve estar ligado aos aspectos gerais e atributos inerentes à porção comestível (PÉREZ e CARVALHO, 2007). A distribuição da gordura na carcaça é medida através de uma escala que varia de 1 a 4, onde 1 representa gordura escassa, de 1 a 3 mm; 2- gordura mediana, acima de 3 até 6 mm; 3- gordura uniforme, acima de 6 até 10 mm e 4- gordura excessiva, acima de 10 mm, sendo a avaliação comparada em toda a carcaça (MULLER, 1987). Quando há acabamento insuficiente, as carcaças ficam desprotegidas, gerando problemas que depreciam a qualidade da carne, como o escurecimento, perda de água e encurtamento das fibras, que acarreta prejuízos para a maciez da carne. Devido a este fato, os frigoríficos adotam como padrão valores de espessura de 3 a 6 mm (MIRANDA et al., 2001). A maciez da carne é geralmente medida com o uso de instrumentos em que uma lâmina é conduzida através de um pedaço de carne (cisalhamento), de dimensões padronizadas, crua ou cozida por procedimentos também padronizados. A força máxima necessária para cisalhar a amostra é avaliada e tomada como medida de maciez de carne (RAMOS e GOMIDE, 2007). A maciez da carne também pode ser avaliada através de uma análise sensorial, onde consiste em avaliadores treinados que analisam as características de maciez, suculência e sabor da carne, classificadas em escala de 1 a 9, em que a nota 1 correspondeu a uma carne dura, extremamente seca e com sabor indesejável, e a nota 9, a uma carne macia, suculenta e saborosa (SANTOS et al., 2018). Segundo Murakami et al. (1995), em suas pesquisas, identificaram que as linhagens Ross e Cobb foram superiores à Hubbard em termos de desempenho e para algumas características de carcaça como rendimento de peito e filé de peito, já para o parâmetro de rendimento de coxa e perna desossada, a linhagem Cobb 23 mostrou-se com maior índice de rendimento. Contudo, quanto ao rendimento de carcaça por inteira não houve detecção de diferenças significativas entre essas linhagens. Rabello & Cotta (1997) compararam três linhagens, Hubbard, Isa e Cobb para avaliar quanto ao rendimento de coxas e sobrecoxas, observando-se rendimento maior nesse parâmetro, as linhagem Isa e Cobb. Os mesmos autores notaram aumento de teor de gordura abdominal com a idade, sendo maior aos 42 dias. Também foi observado que os machos apresentaram maiores rendimentos de coxas e sobrecoxas e as fêmeas em peito e gordura abdominal. Segundo SOUSA et al. (1994), estatísticas de estudo não mostraram que há influência das linhagens sobre o peso e o rendimento dos diferentes cortes em relação ao peso vivo. Segundo Rabello et al. (1996a) as linhagens Hubbard, Isa e Cobb foram avaliadas para comparar qual linhagem tem maior rendimento em gordura abdominal e visceral comestíveis, porém não foi encontrada efeito significativo das linhagens. Contudo, no quesito rendimento de carcaça “pronta para assar”, Cobb e Isa foram melhores que Hubbard, em virtude de maiores perdas ao abate desta última linhagem. Linhagens Ross, Hubbard, Cobb e Arbor Acres foram feitos para observar quanto ao rendimento de asa, pernas e cabeça+ pescoço + pés, mas não se notou diferenças entre elas. Porém, o rendimento em filé de peito foi influenciado pela linhagem, obtendo-se como pior resultado a linhagem Arbor Acres (SOUZA et al., 1994). Fatores que influenciam na qualidade de carne de frango O manejo pré-abate das aves de consumo está intimamente relacionado à qualidade da carne adquirida pelo consumidor final. A ausência de comprometimento com o bem-estar e a falta de cuidados com as aves na fase de apanha, espera no frigorífico, pendura, insensibilização e sangria podem comprometer a produção de carne de qualidade, bem como acarretar perdas importantes para o valor comercial da carcaça (LUDTKE et al., 2010). A crescente demanda quanto ao mercado de carne de frango se dá pela garantia de fornecimento de produtos com padrões de qualidade satisfatórios, em prol da ledice e segurança do consumidor. Quanto aos padrões de qualidade e satisfação das exigências sensoriais, os músculos peitorais apresentam variações não 24 desejadas nos parâmetros de cor e maciez com certa frequência. A importância de tais características é observada em diferentes momentos. A coloração do peito do frango está ligada à taxa de aceitação no momento da compra, a maciez, a qual compõe um dos principais pontos sensoriais, determina a aceitabilidade global (BRESSAN e BERAQUET, 2002). Para Ludtke et al. (2010), o conceito de qualidade é muitas vezes ligado a aspectos intrínsecos da carne, como aparência, palatabilidade, rendimento, composição nutricional e segurança alimentar etc. Também são citados aspectos que incluem o bem estar, o que se classificou como qualidade de ética, referindo-se a como as aves foram criadas, do primeiro momento de vida até o abate. Há, ainda outras questões a serem consideradas como a sustentabilidade dos sistemas de produção, além de questões sociais econômicas e ambientais. Fonte: LUDTKE et al. (2010) As técnicas relacionadas ao manejo de criação, por exemplo, lotação dos animais no galpão criatório, dietas, sexo e idade, podem interferir nas características de qualidade da carne (OSMAN et al., 1990). O desenvolvimento do músculo, conteúdo de colágeno e maturidade sexual das aves são fatores que estão relacionados a tais alterações. Uma vez que essas alterações não são alteradas no post mortem (FLETCHER, 1991) e que em situações comerciais de criações dos animais, as técnicas são padronizadas, os fatores lotação, dieta, sexo e idade não causam alterações dignas de nota a respeito da qualidade da carne. Em músculos com desenvolvimento bioquímico anormal, as díspares velocidades nas reações de glicólise podem indicar alterações nas propriedades de qualidade da carne (BRESSAN e BERAQUET, 2002). A linhagem dos animais é imprescindível para o retorno financeiro da atividade avícola de corte, considerando que a velocidade de crescimento interfere diretamente 25 na idade de abate dos mesmos, os rendimentos de carcaça e de partes nobres, como peito e pernas (MENDES et al., 1993; COTTA, 1994; MOREIRA et al., 2003). Em linhagens de desenvolvimento lento, por exemplo, caipira, a percentagem de carne quando em comparação à carcaça é maior que em linhagens comerciais. Entretanto, o produto comercial tem menor proporção de pele (GARCÍA-VAO, 1994). Um dos maiores problemas da indústria se trata da carne PSE (Pale, soft and exsudative) – ou do tipo DFD, que quer dizer dark, firm e dry (FELÍCIO, 1991) - reflexo do estresse ante mortem, que se caracteriza pela palidez da carne, maciez e superfície exsudativa, acidez muscular, o que compromete a qualidade funcional dos produtos finais, em consequência da desnaturação das proteínas, comprometendo o rendimento da indústria e o desempenho de mercado dos produtos (OLIVO; SANTOS; FRANCO, 2006). A ocorrência de carne PSE está ligada aos fatores pré-abate como a genética, nutrição e manejo. O gene halotano possui destaque como responsável pela produção de carcaças com elevada percentagem de carne magra, todavia, este possui maior predisposição ao estresse, acarretando produção de carne PSE. As linhagens genéticas que foram melhoradas para ganho de peso e produção de carne magra exibiram alta ocorrência de síndrome do PSE, resultado do metabolismo energético ineficiente. No entanto, as empresas de melhoramento animal têm objetivo de eliminar o gene halotano dos animais (ODA et al, 2004; CULAU et al, 2002; MAGANHINI et al 2006) O manejo na última fase do processo de produção é importante, de modo que as aves sejam transferidas para o abatedouro em boas condições, garantindo que condições do processamento sejam seguidos e que sejam conservados os padrões de bem-estar animal. Para otimizar a qualidade do produto noabatedouro, é indispensável que certas ações sejam tomadas como a apanha, stress térmico, transporte, intervalo de jejum e dieta hídrica e temperatura ambiental (FZEA-USP, 2008). É recomendada a captura dos animais no período noturno (ROÇA, 2000). A captura é onde ocorre o pico de estresse dos frangos. Essa operação deve ser cautelosamente planejada e sob supervisão próxima durante todos os estágios. O manejo dos frangos ou maquinarias deve ser restrito a pessoas treinadas, a fim de evitar brigas com as aves, atenuando a ocorrência de arranhões, hematomas, contusões, dentre outras lesões (FZEA-USP, 2008). 26 Os efeitos conjuntos, das altas temperaturas e ventilação ineficiente são os fatores que mais afetam e contribuem para a ocorrência de estresse em frangos de corte. Geralmente, as granjas de frangos contêm equipamentos para atenuar os efeitos geradores de estresse, porém depois do carregamento nas carrocerias não há nenhum controle. Uma atividade de essencial importância com o objetivo de reduzir os efeitos do estresse calórico aos frangos é a pulverização de água sobre as aves no momento de saída do veículo de transporte da granja para o abatedouro (ROSA et al., 2002). Para o transporte, são levados em conta o percurso até o abatedouro o tipo de veículo e o número de engradados de empilhamentos para definir o tipo de veículo. Em estradas de terra ou numa via asfaltada com excesso de lombadas, o sacolejo pode causar lesões na musculatura dos animais situados nos engradados mais altos, por conta disso, o veículo comporta uma altura menor de empilhamento. Em casos especiais, é feito uso de anteparos contra o vento frio e de nebulizadores, pois são fatores de altas taxas de mortalidade durante o transporte. A estação do ano também interfere na quantidade de aves presente em cada engradado, uma vez que o adensamento causa estresse, traumas e pode prejudicar a sangria (VEGRO e ROCHA, 2007). As técnicas de manuseio que antecedem o abate de frango de corte são caracterizadas pela restrição de alimento entre 6 e 12 horas, restrição hídrica a partir do momento de apanha e tempos de descanso não inferior a 2h no abatedouro. O jejum objetiva amenizar a ocorrência de contaminação de carcaças durante o processamento e como forma de repor as reservas de glicogênio nas aves que exibem comportamentos de estresse, uma vez que estas possuem tendência a apresentar carnes de menor qualidade, a variar conforme o grau de estresse em que elas foram submetidas (MOREIRA, 2005). Segundo Roça (2000), o jejum pode acarretar perda de peso de 0,2 a 0,5% para cada hora excedente. Ao avaliar o efeito de temperaturas elevadas sobre a qualidade da carne, Northcutt (1994a) descreveu que a incidência de peitos pálidos aconteceu em animais sob estresse causado por calor de 40ºC no período de 1h antes do abate, ou naqueles adaptados a altas temperaturas. Em estudo ao comportamento de características de qualidade em perus e frangos, notou-se que as carcaças em que o pH foi menor que 5,8, associado a temperaturas de carcaças maior que 35ºC, transformou-se em 27 músculos flácidos, não coesivos e descoloridos que, após o cozimento, apresentaram alta variabilidade para a característica de maciez (SOSNICK e GREASER, 1996). Diversos protocolos de resfriamento são usados para atenuar a temperatura de carcaças de aves em seguida ao abate, a fim de garantir os atributos físico-químicos, microbiológicos e sensoriais da carne. Dentre tais protocolos, encontram-se o resfriamento por spray e a ar (RISTIC, 1992; STEPHAN e FEHLHABER, 1994), por CO2 (TOMLINS, 1995) e N2 (ENGLER e COBB, 1990). As patentes em registro há quase uma década foram para equipamentos voltados a otimização do resfriamento de carcaças de frango em câmara de resfriamento a ar (HAZENBROEK, 1994; JANSEN e DOORNBOS, 1995) e para o método onde é proposto a aplicação de N2 por 5 a 30 segundos sobre as carcaças com a formação de uma camada fina de gelo, seguido de resfriamento a ar por 10 a 15 minutos (ENGLER e COBB, 1990). Durante o processamento, em virtude do pH muscular e das temperaturas de resfriamento, peitos de frangos podem exibir o encurtamento muscular pelo rigor mortis ou pelo frio (DUNN et al., 1995). A capacidade de retenção de água é um termo utilizado para detalhar a capacidade muscular e dos produtos oriundos da carne em manter a água adjunta sob condições específicas (TROUT, 1998; FENNEMA, 1990). Cerca de 95% da água contida no músculo é considerada como água livre presente no espaço sarcoplasmático; estas moléculas ficam ligadas de forma ineficiente entre si e podem migrar entre as estruturas do músculo e permanecem pela membrana celular. O restante dos 5% da água é considerada como água ligada de forma química às proteínas e que se encontram de tal modo em quase todas as condições. A fim de classificação da capacidade de retenção de líquido, é de interesse a água livre, devido a maioria das modificações observadas na CRA serem por conta das modificações experimentadas pela água fracamente ligada (HONIKEL et al., 1983; TROUT, 1988; ERDESZ et al., 1991). Geralmente, a cor da pele e músculos pode diferir de lote para lote como resultado da composição da dieta em face dos tipos e teores de xantofilas utilizados e do fator genético (BRESSAN, 1998). Os episódios de peitos pálidos foram descritos pouquíssimas vezes, onde numa delas Northcutt et al. (1994b) descreveram a ocorrência tanto em aves submetidas a estresse térmico quanto em aves que receberam tratamentos de adaptação ao estresse calórico. 28 Manejo inadequado e qualidade de carne É crescente não só no Brasil, mas a nível global, as exigências quanto a qualidade dos alimentos de origem animal exportados, devido a maior conscientização dos consumidores. Para a constituição brasileira, estes animais devem ser submetidos a um bom cuidado nutricional, ótimo local de alojamento, transportados da forma menos estressante possível e abatidos de modo que não sintam dor ou ansiedade alguma (BUENO et al., 2007). As exigências do consumidor circulam em torno do que se refere ao bem estar do animal no momento do abate, na qualidade da carne em si, como maciez e coloração e no que diz respeito ao riscos à saúde do homem, ou seja na questão sanitária por haver conhecimento de doenças aviárias como a Influenza aviária e a doença de Newcastle (BUENO et al., 2007). É comprovado por muito estudos, fisiologicamente, que o manejo e abate inadequado podem interferir na qualidade da carne se o animal for submetido a situações estressantes durante esses processos (BROSSI et al., 2009). Dentre as situações tidas como principais fatores estressantes no momento de pré-abate e abate dito por Sams & Mills (1993), conforme citado por Brossi et al. (2009) estão as fases de jejum e a dieta líquida, essas últimas etapas do pré-abate são descritas também por Santos et al. (2015) como períodos de risco, em que se pode ocasionar prejuízos de grande escala por ser mais susceptível haver estresse térmico aos animais. Estas etapas finais sofrem interferência do tempo de saída da granja e chegada no abatedouro, sem falar que em determinados casos podem acarretar morte de animais se não existir controle dos fatores supracitados (FILHO et al., 2009). Depois de adultas, as aves já estão prontas para a fase de abate, mas precisam passar por processos que vão prepará-las para este momento, como a fase de pré- abate. Essa fase tem início antes de as aves serem dirigidas até o local de abate, incluem a captura, jejum, dieta líquida e transporte. O pré-abate tem início no jejum, que é o momento de retirada das refeições sólidas da ave, após essa retirada é imprescindível que as aves tenham livre acesso a água, no entanto durante o transporte para o abatedouro isso não acontece, fazendo com que as aves percam liquido e energiaalém do limite para amenizar a temperatura corporal no momento em que estão nas caixas (RUI et al., 2011). Segue-se então para a apanha da ave e pode ser feita de várias formas, devendo ser feita com a maior cautela possível para que o barulho não venha 29 estressar o animal, levando em consideração que as aves já estão em jejum e consequentemente mais sensíveis ao estresse. A captura deve ser preferencialmente noturna sob luz azul, pois propicia um ambiente mais calmo e evita que haja por parte das aves estímulos sensoriais. Vale ressaltar que quanto mais tempo se leva para realizar a apanha das aves, maior será o estresse e a desidratação a que elas estarão expostas. A apanha pode ser realizada de vários modos, sendo alguns dos mais benéficos, apanhar o animal por somente uma perna, segurar por uma única asa e/ou segurar pelo pescoço. Essas formas submetem o animal a muito estresse e dores por lesões e fraturas, o que afetará diretamente no bem estar do animal (LUDTKE., 2010). Outro fator que pode causar prejuízos é o momento de colocar as aves na caixa, o que em muitas vezes acontece é de as tampas não estarem bem fechadas e ocorrem fraturas e esmagamentos de um dos membros da ave pela compressão das caixas adjacentes, decorrente do mau fechamento das tampas, ou também podem acontecer acidentes com as caixas estando em péssimo estado (LUDTKE et al., 2010). As aves são consideradas homeotérmicas, ou seja, conseguem manter sua temperatura corporal regulada de acordo com as condições a qual está exposta por meio da produção de calor, devido possuírem um centro termorregulador na região do hipotálamo (BROSSI et al., 2009). Essa homeostase térmica se mantém ativa por fatores como a radiação, convecção e evaporação, sendo esta última pela via respiratória devido estes animais não disporem de glândulas sudoríparas, a qual é a principal rota de dissipação de calor em temperaturas elevadas conforme Hillman et al. (1985) citado por Brossi et al. (2009). No momento em que a ave está exposta a condições de temperatura não favoráveis a ela, observa-se comportamentos como o afastamento das asas para permitir o resfriamento corporal, e internamente sua circulação é redirecionada a periferia a fim de lhe possibilitar melhor troca de calor (BROSSI et al., 2009). Outra forma de troca de calor é o modo não evaporativo, o qual consiste na excreção de liquido via trato urinário segundo Borges et al. (2003) citado por Brossi et al. (2009), mostrando que o animal durante o transporte, estando de jejum, somente com dieta liquida e submetido a altas temperaturas de calor, pode facilmente vir a óbito ou chegar em condições precárias se esses eixos não forem cuidados em conjunto. Sem falar que o animal está fora de se enquadrar nas 5 liberdades do bem estar definidas por Broom (1986) que são livre de fome e sede, livre de calor e 30 desconforto e liberdade para expressar seu comportamento natural, já que uma das formas amenizar o calor é realizando a abertura das asas e o espaço de transporte restrito é quase inviável para realizar essa ação. Ainda sobre a capacidade termorreguladora das aves, a maneira ideal de dissipação de calor é a realização da hiperventilação, que consiste no aumento da frequência respiratória por minuto, porém esse processo exige esforço dobrado da musculatura, o que consequentemente gera maior aporte energético, favorecendo a formação de mais calor e posterior morte por exaustão das aves, de acordo com Butcher & Miles (1996) citado por Brossi et al. (2009). Após a chegada no abatedouro, o animal é colocado em um tempo de espera que é essencial para dispor ao animal um período curto de descanso, no intuito da ave retornar a sua temperatura corporal satisfatória mantendo-a em certo conforto pós transporte (RODRIGUES et al., 2016). Passado o tempo de espera, as aves são levadas à fase de pendura, a qual é uma das etapas mais dolorosas para o animal, havendo potencial hemorrágico na região pendurada, a pendura deve ser feita de maneira correta para evitar maiores sofrimentos ao animal e não deve ser posto aves com fraturas nessa região, pois isso aumentaria o bater de asas e consequente dor e estresse das aves (LUDTKE et al., 2010). Por seguinte a pendura, seguirá para a etapa de insensibilização, na qual as aves são imersas em cubas contendo correntes elétricas que irão ocasionar perda imediata da consciência. Acontece de aves serem colocadas nos ganchos de pendura por somente uma única perna ou então as pernas em contato inadequado com esses ganchos, acarretando uma insensibilização e causando níveis de dor e sofrimento grandes ao animal. A insensibilização deve ser bem realizada para ser seguida rapidamente da etapa de sangria, na qual será feito um corte profundo na região do pescoço da ave para que haja morte por sangramento antes de ocorrer a recuperação da ave pela insensibilização evitando sofrimento ao animal. O processo de sangria deve levar no mínimo 3 minutos (LUDTKE et al., 2010). Principais doenças aviárias que interferem na qualidade da carne Na indústria de frangos de corte as mudanças de mercado são bastante comuns, o que requer uma melhoria contínua no esquema e nas ferramentas dos programas de melhoramento genético. Até recentemente, o foco para seleção era apenas na taxa de crescimento (DE GENOVA GAYA, 2006), todavia, de acordo com 31 Park et al. (2002), características relacionadas à qualidade da carne vêm apresentando crescente importância, tanto para a indústria processadora como para os consumidores. Presume-se, inclusive, que a intensa seleção a favor da taxa de crescimento das aves levou a problemas relacionados à qualidade da carne destes animais (DRANSFIELD e SOSNICKI, 1999). O cenário do mercado da carne de frango modernizou-se no Brasil devido às exportações e associada ao fato de ser um produto saudável e de preço acessível para a população, desta forma, exigiram melhorias no sistema de controle microbiológico, principalmente quanto à contaminação por Salmonella spp. pertencente à família Enterobacteriaceae. Essa bactéria é considerada como um dos patógenos mais frequentes envolvidos em contaminações de alimentos à base de frango Panisello et al. (2000). Ademais, a Salmonella spp. é uma bactéria de fundamental importância para a saúde pública, devido representar um dos principais parâmetros de reconhecimento mundial, para a determinação dos padrões microbiológicos dos alimentos Von Ruckert et al. (2009). As aves comerciais, de corte, constituem um dos principais reservatórios de salmonellas e são uma das mais frequentes responsáveis pela sua introdução na alimentação humana, por via da contaminação da carne e dos ovos, principalmente por S. enteritidis (GAST, 1997). O que leva a propagação de Salmonella? A utilização de jejum pré-abate é uma prática rotineira na indústria avícola e tem por proposito amenizar a contaminação no abatedouro e melhorar a eficiência da produção ao evitar que um alimento que não será transformado em carne seja fornecido à ave poucas horas antes da mesma ser abatida (POST, 1985), no entanto, a desidratação da carcaça começa imediatamente após o início do jejum. Períodos prolongados de jejum podem afetar o pH das diversas partes do intestino, aumentando a presença de Salmonella e outros microrganismos patogênicos (MENDES, 2001). O jejum provoca uma alteração no pH do intestino das aves e isso eventualmente favorece a instalação e ou multiplicação de determinados microrganismos patogênicos em alguns segmentos do aparelho digestivo Hinton et al. (1998), ao submeterem frangos de corte a períodos de jejum de alimento de 0, 6, 12, 18 e 24 horas, não notaram efeito significativo sobre o peso dos cecos, sendo que o pH do conteúdo cecal variou de 6,1 a 6,8. Notaram que, com o aumento na duração do período de jejum, havia umaumento na quantidade de bactérias aeróbicas totais, 32 enterobacteraceas e uma redução na quantidade de bactérias que crescem em meio ácido. Embora não tenha havido diferença na quantidade de enterobacteraceas presentes no ceco das aves submetidas a jejum de 12 horas ou menos, houve uma população menor de bactérias que se desenvolvem em meio de ácido láctico, nas aves submetidas a jejum de 18 horas ou mais. Concluíram que esse fato pode desempenhar um papel importante na colonização dos cecos por patógenos responsáveis por toxiinfecções (MENDES, 2001). Desta forma, ratificando os resultados de Ramirez et al. (1997) onde concluíram que o jejum de fato aumenta a presença de Salmonella no papo e no ceco das aves, além de que elas são um ponto crítico de controle para reduzir a contaminação das carcaças no abatedouro. Além do jejum em si, o transporte das aves também é uma causa constante de estresse. Isso resulta no aumento significativo na eliminação do material fecal provocando uma elevação na liberação de Salmonella nas fezes (DELAZARI, 2001). Em frangos portadores de Salmonella typhimurium, demonstrou-se que o estresse no transporte elevava a proporção de portadores de 33 para 54% em 4 horas. Após 12 horas, esta proporção reduzia-se para 22%, enquanto a bactéria era mais frequentemente isolada do fígado, indicando um aumento do número de aves com infecção sistêmica. Demonstrou-se também que 46% de um lote livre de Salmonella tornou-se contaminado durante o transporte e que 99% das rachaduras das gaiolas utilizadas para o transporte continham Salmonella (MEAD, 1989). Microrganismos patogênicos, como Salmonella e Campylobacter têm sido isolados frequentemente do papo de aves de corte após desafios naturais ou experimentais. Com o jejum de alimentos, mesmo sendo por períodos curtos de até 8 horas, pode ter consequentemente a presença de papos positivos para Salmonella (MENDES, 2001). Em relação ao papo contendo alimento, proliferam as bactérias produtoras de ácido lático, permitindo com que o pH do papo seja baixo, ao redor de 5,3. Isso irá inibir a proliferação das Salmonellas e outras enterobactérias que proliferam em pH de 6,0 a 7,5. Com o jejum, eliminam-se os carboidratos fermentativos que são requeridos pelas bactérias produtoras de ácido lático, para seu crescimento e produção de ácido (MENDES, 2001). Com isso, o pH pode se elevar em apenas seis horas para 6,5. À medida que o jejum continua, até 24 horas, tanto o pH como o nível de bactérias continuam se elevando. Tem sido reportada também Hargis et al. (1995) uma ocorrência maior de Salmonella no papo que nos cecos das aves, com o aumento na duração do jejum. É possível que isso possa estar 33 relacionado também com a ingestão de cama pelas aves durante o jejum (MENDES, 2001). Sintomatologia e transmissão da Salmonella A grande maioria dos sorotipos de salmonelas são patogênicas para o homem, de forma que os sintomas clínicos podem ser divididos em três grupos, no entanto, somente uma é de principal importância nesta revisão (COONOR, 2005). De acordo com Tortora (2005) Na febre entérica, o agente etiológico é a Salmonella paratyphi A, B e C, os sintomas clínicos são mais brandos que em relação à febre tifoide, sendo possível evoluir para septicemia e frequentemente desenvolver um quadro de gastroenterite, febre e vômitos. O período de incubação é usualmente de 6 a 48 horas e a duração média da doença é de três semanas. Essa doença pode ser causada pelo consumo de água e alimentos, especialmente leite e vegetais crus, mariscos e ovos. As infecções entéricas em decorrência de outras salmonelas, ou também chamadas de salmoneloses, desenvolvem um quadro de infecção gastrointestinal, tendo como sintomas dores abdominais, diarreia, febre baixa e vômito, sendo raro os casos clínicos fatais. Os sintomas surgem de 12 a 36 horas, podendo durar os sintomas até 72 horas. Trata-se da manifestação mais comum de infecção por Salmonella e o episódio normalmente sofre resolução entre dois a três dias, não sendo necessário o tratamento com antibióticos. Os alimentos mais incriminados são carne bovina, aves, suíno e ovos crus (TORTORA, 2005). Mecanismo de patogenicidade e terapêutica da Salmonella Salmonella é uma bactéria que provoca doenças em animais e humanos, por meio do consumo e da ingestão de alimentos contaminados. As espécies desse gênero atravessam a camada epitelial intestinal, alcançam a lâmina própria (camada na qual as células epiteliais estão ancoradas), onde proliferam. São fagocitadas pelos monócitos e macrófagos, resultando em resposta inflamatória, decorrente da hiperatividade do sistema reticulo endotelial. Ao contrário do que ocorre na febre tifoide, nas enterocolites, a penetração de Salmonella spp. fica limitada à lâmina própria. Nestes casos, raramente se observa septicemia ou infecção sistêmica, ficando a infecção restrita à mucosa intestinal. A resposta inflamatória está relacionada também com a liberação de prostaglandinas, que são estimuladoras de adenilciclase, o que resulta em um aumento de secreção de água e eletrólitos, provocando diarreia aquosa (FRANCO, 2004; HAIMOVICH, 2006; MIMS, 2005). 34 O predominante sorotipo causador de infecções alimentares alterou nas últimas décadas de S. agona, S. hadar e S. typhimurium para S. enteritidis, sendo a S. enteritidis a predominante causa de salmoneloses em diversos países (SILVA, 2002; SURESH, 2006). Alterações nos sorotipos refletem mudanças na criação do animal e a disseminação de novos sorotipos devido ao grande fluxo do comércio mundial. A principal grande preocupação na atualidade é o aparecimento de sorotipos do gênero Salmonella multirresistentes a antibióticos (TRABULSI, 2004). Um elevado de salmonellas precisa ser ingerido para provocar a gastroenterite; normalmente a dose infectante varia de acordo com sorotipo isolado, oscilando entre 2,0x102 a 1,0x106 (HUANG, 1999), ademais, ocorre variação quanto ao alimento envolvido e a espécie de Salmonella em estudo, pois espécies adaptadas ao homem necessitam de doses infectantes menores que as não adaptadas para provocar a mesma sintomatologia característica da doença. No entanto, algumas vezes a doença pode ser fatal em crianças, idosos ou imunocomprometidos, devido à menor resistência às infecções (FUNASA, 2002). O tratamento com antibacterianos deve ser iniciado logo após ser diagnosticada a febre tifoide ou a febre entérica e o tratamento deve ser mantido pelo menos uma semana após a temperatura ter voltado ao normal, para que possa atingir a Salmonella em sua localização intracelular (MIMS, 2005). Antes do advento dos antibióticos, a taxa de mortalidade era de 10 a 15%; com a prática da terapia a base de antibióticos, essa taxa foi reduzida para menos de 1% (JAUWETS, 2006). Com exceção da S. typhi e S. paratyphi, as outras salmonelas geralmente apresentam quadro clínico auto limitante com reversão espontânea em 48 horas, e a administração de antibióticos no tratamento das gastroenterites não é recomendado, pois prolonga o período de excreção do agente, caracterizando o portador assintomático, além de promover o aparecimento de salmonelas multirresistentes (SURESH, 2006). 35 REFERÊNCIAS ABREU, P.G.; ABREU, V.M.N. Ventilação na avicultura de corte. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2000. ABREU, V. M. N.; ABREU, P. G. Os desafios da ambiência sobre os sistemas de aves no Brasil. Embrapa Suínos e Aves - Artigo em periódico indexado. 2011. AGEITEC - AGÊNCIA EMBRAPA DE INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA. Tecnologia pós-produção. Disponível em: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/frango_de_corte/arvore/CONT000gl55e wyg02wx5ok0xkgyq5u2bnh5r.html. Acesso em: 22/09/2019. BARBUT, S. Pale, soft, and exudative poultry meat: Reviewing ways to manage at the processing plant. Poultry Science, 88, p. 1506-1512.
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