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CIRCUITOS ELÉTRICOS Alfred Gimpel Moreira Pinto Resposta de frequência Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as características da resposta de frequência. Representar a resposta de frequência por meio de diagramas. Analisar aplicações da resposta de frequência. Introdução A análise da resposta de frequência de circuitos elétricos quando subme- tidos a uma fonte de excitação senoidal, na qual a amplitude permanece constante e a frequência sofre variações, possibilita determinar a resposta completa do circuito elétrico com componentes passivos e a resposta de amplitude e fase em função da frequência. Ao utilizar uma ampla faixa de frequência na entrada e na escolha do ponto de saída do sinal, é possível projetar circuitos elétricos que possuem características específicas, como os filtros passivos. Esses filtros são amplamente utilizados em aplicações em sistemas de comunicações e de controle, pois são capazes de eliminar sinais indesejados. Neste capítulo, você vai estudar as características da resposta de frequência dos circuitos elétricos lineares e verificar como são determi- nadas as funções de transferência. Como o objetivo é que você conheça as respostas de circuitos elétricos em uma ampla faixa de frequência, você também vai verificar como representar de forma gráfica a resposta em amplitude e fase do circuito. Por fim, você vai analisar as principais configurações dos circuitos elétricos com elementos passivos, conhecidos como filtros passivos. Dessa forma, você vai ser capaz de projetar filtros de frequência para diversas aplicações. Características da resposta de frequência Para analisar a resposta de frequência de um circuito elétrico, você precisa conhecer algumas ferramentas que são utilizadas. Vamos começar pela função de transferência H(ω), que é uma representação gráfi ca da resposta de um circuito elétrico comparando duas grandezas a partir da variação da frequência 0 ≤ ω < ∞, conforme mostra a Figura 1. Figura 1. Comparação entre os sinais de entrada e saída de um circuito elétrico para a análise da resposta de frequência. Na Figura 2, a função de transferência relaciona os sinais de entrada e saída de acordo com a frequência (ω). Essa relação é dada por (ALEXANDER; SADIKU, 2013): A função de transferência H(ω) apresenta módulo H(ω) e fase ϕ, sendo repre- sentada por H(ω) = H(ω) ∠ ϕ. Resposta de frequência2 Figura 2. Função de transferência. X (ω) Y (ω)H (ω) Para estabelecer essa relação, você pode adotar a comparação entre as tensões e correntes elétricas de entrada e saída apresentada no Quadro 1 e obter a resposta que deseja analisar. Ganho de tensão Relação entre as tensões de saída e entrada. Ganho de corrente Relação entre as correntes de saída e entrada. Impedância de transferência Relação entre a tensão de saída e a corrente de entrada. Admitância de transferência Relação entre a corrente de saída e a tensão de entrada. Quadro 1. Comparação entre tensões e correntes elétricas de entrada e saída Para as funções de transferência do Quadro 1, adotamos o subscrito i para o sinal de entrada (in) e o subscrito o para o sinal de saída (out). Na Figura 3, você pode verificar a representação da resposta de frequência do ganho de tensão de um circuito. 3Resposta de frequência Figura 3. Resposta de frequência: (a) módulo da resposta de frequência; (b) fase da resposta de frequência. Observe que o aumento da frequência faz com que o módulo do ganho de tensão se aproxime de zero (Figura 3a), H → 0, e a fase se aproxime de − 90° (Figura 3b). Assim, a resposta de frequência apresenta uma razão entre gran- dezas fasoriais do sinal senoidal de entrada e saída que são dependentes da frequência de alimentação. Resposta de frequência4 Em nossa análise de resposta de frequência, vamos utilizar os elementos passivos dos circuitos elétricos, ou seja, os elementos que consomem a po- tência fornecida pela fonte. Esses elementos podem sofrer variações de seus valores de acordo com a frequência aplicada. Vamos, então, verificar como se comportam os resistores, capacitores e indutores em função da variação da frequência na análise fasorial. O resistor é um elemento passivo que não sofre influência da frequência da fonte de alimentação, sendo sua resistência (R) uma relação de proporcio- nalidade entre a tensão (V) e a intensidade da corrente (I) do circuito, dada pela lei de Ohm: V = RI Já os elementos reativos, os capacitores e indutores, têm sua reatância dependente da frequência aplicada, conforme mostra o Quadro 2. Capacitor Indutor Quadro 2. Reatâncias capacitiva (XC) e indutiva (XL) de capacitores e indutores, respecti- vamente Veja que a reatância capacitiva (XC) é inversamente proporcional à fre- quência, e a reatância indutiva (XL) é diretamente proporcional. A Figura 4 5Resposta de frequência relaciona a resistência, a reatância indutiva e a reatância capacitiva em função da frequência. Figura 4. Resistência, reatância indutiva e reatância capacitiva em função da frequência. Observe que a resistência do resistor não sofre variação em função da fre- quência do sinal de alimentação, enquanto as reatâncias capacitiva e indutiva são afetadas pela frequência da senoide. Em regime permanente senoidal, quando a frequência do sinal de entrada é nula, o capacitor se comporta como um circuito aberto (impedância infinita), e o indutor, como um curto-circuito (impedância nula). Com o aumento da frequência do sinal senoidal, os com- portamentos desses elementos se invertem, ou seja, em altas frequências, o capacitor é um curto-circuito (impedância nula) e o indutor, um circuito aberto (impedância infinita). Essas características desses elementos serão aplicadas no projeto de circuitos elétricos que tenham comportamento desejado em uma faixa de frequência. Diagramas de representação Ao projetar circuitos elétricos e analisar a sua resposta de frequência, você terá que realizar a representação gráfi ca do seu comportamento ao longo de uma ampla faixa de frequência. Normalmente, essa faixa de frequência é tão extensa que difi culta a visualização gráfi ca dos resultados. Dessa forma, para Resposta de frequência6 ajudar na representação, você deve utilizar as propriedades dos logaritmos e as escalas em decibéis (dB). Vamos começar pelos logaritmos, que são operadores matemáticos que representam os expoentes: Com a e b sendo números reais positivos, a leitura da expressão diz que o logaritmo de a na base b é igual a c, ou seja, se b for elevado a c, você terá como resultado c. Vamos ver algumas propriedades dos logaritmos: 1. log P1P2 = log P1 + log P2 2. log P1/P2 = log P1 − log P2 3. log Pn = n log P 4. log 1 = 0 Essas propriedades dos logaritmos são válidas para qualquer base, mas ao omitirmos o seu valor, por convenção, essa base é 10. Como as funções de transferência podem apresentar valores muitos baixos ou extremamente elevados, a medida em decibéis (dB) é utilizada nessas representações. Vamos considerar um sistema que tenha uma potência de entrada Pi e uma potência de saída Po e o ganho de potência (GdB) representado pela relação entre essas duas grandezas. Para você entender essa representação, deve considerar algumas relações entre os valores de entrada e saída para o ganho de potência de um circuito elétrico. 1. 2. 3. 4. 5. Veja que, quando o sistema não gerar nenhum ganho, temos a resposta na escala em decibéis de 0 dB, mas ao dobrarmos o sinal na saída, temos 7Resposta de frequência um ganho de 3 dB, e, ao atenuarmos pela metade, temos o ganho de − 3 dB. Essas representações apresentam números em escala muito menores do que se fossemos representá-los em uma escala linear. Caso você esteja realizando a representação do ganho em função das tensões ou das correntes, a escala em decibéis é multiplicada por 20, em vez de 10. Ganho de tensão Ganho decorrente Ao analisar uma função de transferência, você deve utilizar uma ampla faixa de frequência para obter a resposta completa. Portanto, o uso da escala logarítmica é fundamental para uma melhor representação dos resultados. Além disso, como estamos analisando circuitos elétricos na presença de elementos reativos, que geram defasagem entre os sinais de entrada e saída, temos que completar a nossa avaliação não somente com o ganho, mas também com a defasagem gerada ao variar a frequência. Essa representação, conhecida como diagrama de Bode, é muito importante e deve ser gerada em conjunto para cada função de transferência em escala semilogarítmica. A função de transferência é um fasor em que o módulo e a amplitude são dependentes da frequência senoidal. A representação no digrama de Bode é feita por meio de dois gráficos em escala semilogarítmica, sendo a magnitude representada em dB e a fase, em graus. Vamos construir o diagrama de Bode da seguinte função de transferência: Essa função de transferência apresenta a amplitude e a fase implícitas na expressão. Então, vamos reescrevê-la de tal forma que essas duas partes fiquem explicitadas. Resposta de frequência8 Agora que a função de transferência está representada com o módulo e a fase, vamos representar a amplitude (HdB) em decibéis e a fase em graus. Para traçar o diagrama de Bode, você deve realizar a influência de cada termo das expressões separadamente. Vamos começar pelo comportamento da amplitude: observe que ela é composta por quatro termos, que devem ser traçados individualmente por linhas pontilhadas, conforme mostra a Figura 5. Figura 5. Amplitude da função de transferência. Fonte: Alexander e Sadiku (2013, p. 556). 20 0 0,1 0,2 H(dB) 20 log1010 1 2 10 20 100 200 ω 20 log10 20 log10 20 log10 jω 1 + jω/2 1 + jω/10 11 Aumenta com a frequência É constante e independente da frequência Para ω = 2 rad/s (frequência de corte) esse termo é nulo e diminui com o aumento da frequência Para ω = 10 rad/s (frequência de corte) esse termo é nulo e diminui com o aumento da frequência Digrama de amplitude Na Figura 5, você pode acompanhar o traçado de cada um dos termos da amplitude e, ao final, traçar o comportamento da amplitude em função da frequência. Os termos apresentam frequências de corte isoladamente; você deve iniciar o traçado a partir delas. 9Resposta de frequência Agora que você já traçou a amplitude da função de transferência, deve analisar o comportamento da fase, que é composta de três termos, conforme mostra a Figura 6. Figura 6. Fase da função de transferência. Fonte: Alexander e Sadiku (2013, p. 556). 90º 0º -90º 0,1 0,2 1 2 10 20 100 200 90º ω -tg ω 2 ω 10 -tg-1 -1 Ø É sempre negativo e atinge o valor de -45º na frequência de corte ω = 2 rad/s É sempre negativo e atinge o valor de -45º na frequência de corte ω = 10 rad/sc c Diagrama de fase É constante e independente da frequência Na Figura 6 estão representados os termos de fase isoladamente por linhas pontilhadas. Observe que o decaimento de cada termo é de − 45° por década; considere a fase nula para todas as frequências menores que ωc/10. De forma semelhante, para traçar o comportamento, considere que a fase de − 90° é atingida quando ω = 10 ωc. Os resultados dos diagramas de Bode apresentam um traçado composto por linhas retas. Na Figura 7, porém, você observa as curvas do diagrama de Bode com traçado mais suavizado. Esse resultado é obtido quando não realizamos as aproximações para o traçado dos gráficos e calculamos a amplitude e a fase para cada frequência. A escala semilogarítmica possibilita que façamos o traçado em uma ampla faixa de frequência. Resposta de frequência10 Figura 7. Diagrama de Bode para uma ampla faixa de frequência. Diagrama de Bode 30 20 10 0 -10 -20 90 45 0 -45 -90 10-1 100 101 102 103 H (d B) ø( de g) Frequência (rad/s) Utilizamos no traçado do diagrama de Bode a frequência de corte da função de transferência. Essa frequência também é conhecida como frequência de meia potência e determina o valor da frequência em que o sinal de saída é reduzido à metade do sinal de entrada. Na escala de decibéis, esse valor de atenuação é medido em − 3 dB. Quando o ganho é de tensão ou corrente, o valor correspondente é de 1/√2, que equivale a uma atenuação do sinal de entrada de 70,71%. Aplicações da resposta de frequência Ao utilizar os elementos reativos, capacitores e indutores, pode-se realizar o projeto de circuitos elétricos ao combinar esses elementos com resistores. Essa combinação permite que você aproveite a resposta de frequência desses elementos para projetar fi ltros de frequências dentro de uma faixa preesta- belecida. Esses fi ltros são conhecidos como fi ltros passivos, pois utilizam somente elementos passivos entre os sinais de entrada e saída. De acordo com o resultado esperado, você pode ter as seguintes confi gurações: 11Resposta de frequência Filtro passa-baixas — é um filtro passivo projetado para atenuar todas as frequências superiores à frequência de corte. Filtro passa-altas — é um filtro passivo projetado para atenuar todas as frequências inferiores à frequência de corte. Filtro passa-faixa — nesse filtro, há duas frequências de corte, ωc1 < ω < ωc2; todo sinal fora dessa faixa será atenuado. Filtro rejeita-faixa — nesse filtro, há duas frequências de corte ωc1 < ω < ωc2; todo sinal dentro dessa faixa será atenuado. Você deve conhecer o comportamento da função de transferência para cada um desses circuitos, conforme apresenta o Quadro 3. Filtro passivo H(0) H(∞) H(ωc) Passa-baixas 1 0 1/√2 Passa-altas 0 1 1/√2 Passa-faixa 0 0 1 Rejeita-faixa 1 1 0 Quadro 3. Valor da função de transferência para as frequências do sinal de entrada A seguir, vamos analisar um filtro passa-baixas projetado por meio de um circuito RC, em que o sinal é retirado sobre o capacitor, conforme mostra a Figura 8. Figura 8. Circuito RC como filtro passa-baixas. Fonte: Alexander e Sadiku (2013, p. 569). Na Figura 8, o circuito RC é um filtro passivo passa-baixas, pois o capacitor tem como característica se comportar como um circuito aberto para baixas Resposta de frequência12 frequências e como um curto-circuito para altas frequências. A função de transferência desse circuito é dada por: Determina-se a frequência ωc ao fazer com que o módulo da função de transferência de corte seja igual a 1/√2: A partir da equação acima, deve-se isolar o termo ωc: Caso você construa o filtro por meio de um circuito RL, para que se permita a passagem de todas as frequências inferiores à frequência de corte, o sinal de saída deve ser retirado sobre o resistor. No caso do filtro passa-altas projetado por meio de um circuito RC, você deve inverter o ponto em que o sinal é retirado, conforme mostra a Figura 9. Agora, você deve escolher esse ponto sobre o resistor. Figura 9. Circuito RC como filtro passa-altas. Fonte: Alexander e Sadiku (2013, p. 570). A função de transferência é obtida de forma similar ao filtro passa-baixas, sendo que a frequência de corte apresenta o mesmo valor. No entanto, o que os diferencia é o local de retirada do sinal de saída, que, nesse caso, é sobre o resistor. 13Resposta de frequência Portanto, no projeto de um circuito passa-altas por meio de um circuito RL, o sinal de saída deve ser retirado sobre o indutor. Vamos agora estudar os filtros passivos passa-faixa e rejeita-faixa, que são construídos por meio de um circuito ressonante série RLC. A classificação do filtro depende do ponto em que o sinal de saída é retirado. Para o primeiro, o sinal é retirado sobre o resistor; para o segundo, sobre os elementos LC. Na Figura 10, temos o circuito ressonante série RLC, que se comporta como um filtro passa-faixa ou rejeita-faixa, de acordo com a escolha do local de retirada do sinal de saída. Figura 10. Circuitos ressonantes série RLC: (a) filtro passa-faixa; (b) filtro rejeita-faixa.Fonte: Alexander e Sadiku (2013, p. 570–571). (a) (b) Na Figura 10a, quando o circuito é submetido a baixas frequências, o capacitor se comportará como um circuito aberto, e não haverá sinal sobre o resistor; para as altas frequências, o indutor será um circuito aberto, e, de forma semelhante, não haverá sinal sobre o resistor. Para que haja sinal sobre o resistor, os componentes LC devem entrar em ressonância, ou seja, a reatância indutiva deve ser igual à reatância capacitiva. Nessa frequência, esses dois elementos não consomem potência do sinal de entrada, e toda a potência é percebida sobre o resistor. A faixa de passagem é determinada por meio da função de transferência para a meia-potência. Para alterar o filtro para rejeita-faixa, você deve escolher a retirada do sinal de saída sobre os elementos LC, sendo que, na frequência de ressonância, não há sinal sobre esses elementos. Portanto, o sinal somente será obtido quando cada um dos elementos se comportar como um circuito aberto, o que somente ocorre acima ou abaixo da frequência de ressonância. O Quadro 4 resume as principais formulações para os filtros passa-faixa e rejeita-faixa. Resposta de frequência14 Fonte das imagens: Alexander e Sadiku (2013, p. 571). Filtro passa-faixa Filtro rejeita-faixa Função de transferência Amplitude Fase Frequência de ressonância Frequência de corte inferior Frequência de corte superior Resposta de frequência ideal e real Quadro 4. Principais formulações para os filtros passa-faixa e rejeita-faixa 15Resposta de frequência Considere um circuito série RLC com R = 100 Ω, L = 0,5 H e C = 0,4 μF, em que o sinal de saída é retirado sobre o resistor. Determine a característica do filtro, a função de transferência, as frequências de corte e o diagrama de Bode. Solução: Como o sinal está sendo retirado sobre o resistor, o circuito é um filtro passa-faixa, e a função de transferência é dada por: A frequência central na ressonância é dada por: As frequências de corte são dadas por: e A banda de passagem é: Os diagramas de Bode resultam conforme mostrado abaixo: Resposta de frequência16 ALEXANDER, C. K.; SADIKU, M. N. O. Fundamentos de circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. NAHVI, M.; EDMINISTER, J. A. Circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: Bookmann, 2014. (Coleção Schaum). Leituras recomendadas SADIKU, M. N. O; MUSA, S. M.; ALEXANDER, C. K. Análise de circuitos elétricos com apli- cações [recurso eletrônico]. Porto Alegre: AMGH, 2014. THOMAS, R. E.; ROSA, A. J.; TOUSSAINT, G. J. Análise e projeto de circuitos elétricos lineares. 6. ed. Porto Alegre : Bookman, 2011. 17Resposta de frequência Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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