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“A Aceleração Contemporânea: Tempo-Mundo e Espaço Mundo” (Milton Santos) O conceito de aceleração assemelha-se a momentos culminantes da História abrigando forças concentradas, estourando e possibilitando o surgimento do novo. A aceleração contemporânea está relacionado à época de signos e ícones que vivemos. A imagem é tudo em nossa sociedade. Vendem e compram imagens a todo instante ao invés da autêntica realidade, que segundo Platão seria libertar-se da sua própria cegueira. Acelera-se o tempo no mundo, ou seja, esta aceleração impõe seu ritmo forte, opressor e dominante através de vários momentos históricos como a expansão demográfica, a exploração urbana e a explosão do consumo, o crescimento exagerado do número de objetos (produtos) e do arsenal de palavras. A relação tempo-mundo não é abstrata conforme um relógio mundial, fruto do progresso tecnológico. Os espaços se globalizam, mas quem se globaliza mesmo são as pessoas e os lugares. Atualizar-se é encontrar seu lócus (lugar) em atividades de produção e trocas de alto nível mundial. O espaço mundo é visto por dois conceitos: a tecnoesfera e a psicoesfera. A tecnoesfera é o resultado da crescente artificialização do meio ambiente, a esfera natural é substituída pela esfera técnica, ou seja, o domínio do homem sobre a natureza como escrevia em meandros da modernidade Francis Bacon, por isso tal afirmação é tão veraz atualmente,“saber é poder”, saber é dominar, manipular, destruir e tecnificar. A psicoesfera é o resultado das crenças, desejos, vontades e hábitos que inspiram comportamentos filosóficos e práticos, ou seja, as ideologias dominantes que controlam e manipulam as mentes, padronizando assim nossos comportamentos já dizia Adorno com o conceito de “Indústria Cultural”. Hoje nós chamamos tanto a tecnoesfera como a psicoesfera de meio técnico-científico, é lógico com uma tendência acentuada na psicoesfera do que na tecnoesfera. O secularismo conduziu a sociedade à necessidade cotidiana de medida de padronização, ordem e racionalização. A matematização do espaço cria uma facilidade para a matematização da realidade humana na sua vida social, conforme interesses econômicos hegemônicos. Segundo Milton Santos afirma que: (SANTOS, 1996, p.33) “Através do espaço, a mundialização, em sua forma perversa, empobrece e aleija”. Com a racionalidade instrumentalizada como dizia Marcuse, a tirania é mascarada por um pseudoconceito “o mercado”, o Estado assim é enfraquecido, minimizando as suas obrigações e funções, esta é a proposta do neoliberalismo. A fluidez e a competitividade são ícones e instrumentos da filosofia neoliberalista como Milton Santos afirma: (SANTOS, 1996, p.34) “A exigência de fluidez manda baixar fronteiras”. A fluidez é a condição, mas a ação hegemônica se baseia na competitividade. Segundo Milton Santos afirma: (SANTOS, 1996, p.35) “A competitividade é um outro nome para a guerra, uma guerra planetária, conduzida na prática pelas multinacionais (...) e com apoio, às vezes ostensivo, de intelectuais de dentro e de fora da Universidade”. A globalização é a aniquilação do próprio sujeito moderno. (SANTOS, 1996, p.36) “O que globaliza falsifica, corrompe, desequilibra, destrói. A dimensão mundial é o mercado”. O espaço tem uma característica dimensional nova, chamamos de tempo do cotidiano ou o cotidiano assim afirma Milton Santos (SANTOS, 1996, p.38): “O cotidiano é essa quinta dimensão do espaço e por isso deve ser objeto de interesse dos geógrafos, a quem cabe forjar os instrumentos correspondentes de análise”. O espaço não é materialidade, isto é uma necessidade concreta, (SANTOS, 1996, p.39)“mas como teatro obrigatório da ação, isto é, domínio da liberdade”.
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