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Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 Sistema Endócrino Objetivo 1: Analisar o eixo Hipotalâmico-Hipofisário, considerando os hormônios envolvidos e o mecanismo de Feedback. Introdução O sistema endócrino é definido como uma rede integrada de múltiplos órgãos, de diferentes origens embriológicas, que liberam hormônios que exercem seus efeitos em células-alvo próximas ou distantes. Ele tem como função coordenar e integrar a atividade das células em todo o organismo por meio da regulação das funções celular e orgânica e pela manutenção da homeostasia (manutenção de um meio interno constante) durante toda a vida. Os múltiplos sistemas hormonais desempenham papel-chave na regulação de quase todas as funções corporais, incluindo o metabolismo, crescimento e desenvolvimento, equilíbrio hidroeletrolítico, reprodução e comportamento. Funções fisiológicas do Sistema Endócrino • Equilíbrio Hidrossalino • Equilíbrio de cálcio e fosfato • Regulação do metabolismo energético • Coordenação das respostas ao estresse • Reprodução • Crescimento e desenvolvimento • Envelhecimento O que são Glândulas? As glândulas são classificadas em dois grandes grupos de acordo com o método de distribuição de seus produtos de secreção: Exócrinas – Secretam seus produtos para fora do corpo por meio de ductos. Os ductos podem transportar o material secretado em sua forma inalterada, ou podem modificar a secreção concentrando-a, adicionando ou reabsorvendo substâncias constituintes. Ex: sebácea, sudorípara, mamária. Endócrinas – Não apresentam ductos; secretam seus produtos para os vasos sanguíneos ou linfáticos e influenciam a função das células-alvo em outro local do corpo. Ex: hipófise. Alguns órgãos têm funções tanto endócrinas como exócrinas, as glândulas mistas, como é o caso do pâncreas, ovários e testículos (produzem testosterona e espermatozoides). Elas não atuam de maneira isolada e estão estreitamente integrados com os sistemas nervosos central e periférico (interação neuroendócrina), além do sistema imune. Além das glândulas endócrinas clássicas, devemos considerar a presença de células secretoras dispersas em um determinado local, sem formar um tecido especializado. A Figura abaixo mostra os locais anatômicos das principais glândulas endócrinas e os tecidos endócrinos do corpo, exceto pela placenta, que é fonte adicional de hormônios sexuais. O que são Hormônios? São moléculas sinalizadoras liberadas por células especializadas, que exercem uma ação biológica sobre uma célula – alvo. Eles podem ser liberados das glândulas endócrinas, do cérebro e de outros órgãos, como o coração, o fígado e o tecido adiposo. Os hormônios atuam como uma molécula de sinalização extracelular de secreção regulada no fluido extracelular. Alguns hormônios, como a norepinefrina e a epinefrina, são secretados em segundos, após a glândula ser estimulada, e podem desenvolver ação completa dentro de alguns segundos a minutos; as ações de outros hormônios, como a tiroxina ou o hormônio do crescimento, podem exigir meses para ter seu efeito completo. Desse modo, cada um dos diferentes hormônios tem suas próprias características para início e duração da ação — cada um é moldado para realizar sua função de controle específica. Dependendo do local onde o efeito biológico de determinado hormônio é produzido em relação ao local de sua liberação, a forma de sinalização dele pode ser classificada de três maneiras: 1. Endócrina: O hormônio é liberado na circulação e, em seguida, transportado pelo sangue para exercer um efeito biológico sobre células–alvo distantes. 2. Parácrina: O hormônio liberado de uma célula exerce seu efeito biológico sobre células vizinhas, frequentemente localizadas no mesmo órgão ou tecido. Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 3. Autócrina: O hormônio é secreta por células no líquido extracelular e produz um efeito biológico sobre a mesma célula que o libera. A identificação de um tecido como alvo de um hormônio particular exige a presença de receptores para o hormônio nas células do tecido – alvo. Esses receptores, por sua vez, estão ligados a mecanismos efetores que levam aos efeitos fisiológicos associados ao hormônio. Natureza química e síntese Hormonal Com base em sua estrutura química, os hormônios podem ser classificados em proteínas (ou peptídeos), esteroides e derivados de aminoácido (aminas): 1. HORMÔNIOS POLIPEPTÍDICOS Representa a maioria dos hormônios do corpo. Secretados pela hipófise anterior (adenohipófise) e posterior (neurohipófise), pâncreas, paratireoide, etc. Varia entre 3 e 200 aminoácidos, podendo ser peptídeos (menos de 100 aa) ou proteínas. São hidrossolúveis, entram facilmente na circulação. Sintetizados no RE rugoso das células endócrinas na forma de pré-pró-hormônio (inativo), sendo posteriormente clivados em pró-hormônios, que são transferidos para o complexo de Golgi. Nele, há a clivagem dos pró-hormônios em hormônios biologicamente ativos e seu empacotamento em vesículas secretoras, onde ficam até o momento em que haja necessidade de secreção. Entre os exemplos de hormônios peptídicos, destacam-se a insulina, o glucagon e o ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). Alguns dos hormônios incluídos nessa categoria estão associados a carboidratos, sendo denominados glicoproteínas. Em sua maioria, circulam em uma forma livre no sangue, portanto, apresentam meias– vidas biológicas curtas. 2. HORMÔNIOS ESTEROIDES Secretados pelo córtex adrenal, ovários, testículos e placenta. Tem uma estrutura química semelhante à do colesterol e, na maioria dos casos, eles são sintetizados a partir do próprio colesterol. São lipossolúveis, não ficando armazenados na célula, pois assim que sintetizados se difundem pela membrana. Entretanto, há grandes depósitos de ésteres de colesterol em vacúolos do citoplasma, que podem ser rapidamente mobilizados para síntese de esteroides. 3. HORMÔNIOS AMINADOS (derivados do aa tirosina) São derivados de um aminoácido chamado tirosina. São formados pela ação de enzimas nos compartimentos citoplasmáticos das células glandulares e secretados pela tireoide e medula adrenal. Incluem as catecolaminas, como epinefrina, dopamina e norepinefrina e os hormônios tireoidianos, os quais derivam da combinação de dois resíduos de tirosina que foram iodados. As catecolaminas são formadas na medula adrenal, ficam em vesículas pré-formadas e armazenadas até o momento da secreção por exocitose. Elas são hidrossolúveis, logo induzem suas ações por meio de receptores de membrana e apresentam meias-vidas biológicas curtas. Já os hormônios tireoidianos são sintetizados e incorporados a moléculas de tireoglobulina, que ficam armazenadas em grandes folículos na tireoide. Para secreção hormonal, as aminas são clivadas da tireoglobulina e o hormônio livre é liberado na corrente sanguínea. Eles apresentam caráter lipossolúvel devido a presença do iodo e atuam por meio de receptores intracelulares (possuem uma meia-vida longa). Controle Hormonal por Feedback A produção hormonal baseia-se no equilíbrio entre estímulo e inibição da síntese e secreção do hormônio. Este equilíbrio tem como base funcional o mecanismo de feedback (ou retroalimentação. Na maioria dos casos, esse controle é exercido por feedback negativo que tem por objetivo assegurar o nível apropriado de atividade hormonal no tecido-alvo. Quando um estímulo gera a liberação do hormônio, os produtos decorrentes da ação do hormônio suprimem sua liberação adicional mandando um “sinal negativo”, de modo a impedir sua hipersecreção ou a hiperatividade no tecido-alvo. Como exemplo, temos o eixo da glândula tireoide: o hipotálamo produz um hormônio, o TRH (hormônio estimulador do TSH) que estimula a hipófise a liberar TSH (hormônio estimulador da tireoide). Este, por sua vez, estimula a tireoide a produzir seus hormônios T3 e T4. Deles, o T3 é o mais ativo e inibe a produção de TRH e de TSH, determinando a retroalimentação negativa. Em alguns casos, ocorre feedback positivo quando a ação biológica do hormônio causa sua secreção adicional. Um exemplo é o hormônioluteinizante (LH), que atua sobre ovários estimulando a secreção de estrogênio. O aumento de estrogênio causa ainda mais secreção de LH até atingir uma concentração apropriada, que leva ao desencadeamento de um feedback negativo, diminuindo sua secreção. Eixo Hipotalâmico-Hipofisário O hipotálamo e a glândula hipófise funcionam de modo coordenado para orquestrar muitos dos sistemas endócrinos. A unidade hipotálamo-hipófise regula as funções das glândulas tireoide, suprarrenais e reprodutivas e, também, controla o crescimento, a produção e ejeção de leite e a osmorregulação. O hipotálamo está ligado à hipófise por uma fina haste chamada infundíbulo. Funcionalmente, o hipotálamo controla a hipófise, tanto por mecanismos neurais, como hormonais. Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 HIPÓFISE A glândula pituitária, também chamada de hipófise, consiste no lobo posterior e no lobo anterior. A hipófise posterior é, também chamada de neurohipófise e a hipófise anterior é chamada de adenohipófise. Elas secretam hormônios de controle de funções metabólicas. Adenohipófise: GH - hormônio do crescimento ou somatostatina - promove o crescimento de todo o organismo, afetando a formação de proteínas, a multiplicação e a diferenciação celular. ACTH - hormônio adrenocorticotrófico - controla a secreção de hormônios do córtex adrenal que afetam o metabolismo da glicose, das proteínas e das gorduras. TSH - hormônio estimulante da tireoide ou tireotropina - controla a secreção de T3 e T4 pela tireoide. Prolactina - desenvolvimento da glândula mamária e produção de leite. FSH e LH - hormônio foliculoestimulante e hormônio luteinizante - controlam o crescimento dos ovários e dos testículos, bem como suas atividades hormonais e reprodutivas. Neurohipófise: ADH - hormônio antidiurético ou vasopressina - controle da quantidade de água nos líquidos do organismo (volemia), como a excreção de água na urina. Ocitocina - auxilia na ejeção de leite (sucção) e auxilia durante o parto. Obs - Em geral, os cânceres que afetam a hipófise têm apenas um caminho para se expandir, ou seja, crescem para cima, de encontro aos nervos ópticos. Por essa razão, esses tumores estão frequentemente associados a problemas visuais. HIPOTÁLAMO Componente do diencéfalo, encontra-se abaixo do tálamo. Suas principais funções são: • Controle do sistema nervoso autônomo; • Regulação da temperatura corporal; • Regulação do comportamento emocional; • Regulação do equilíbrio hidrossalino e da pressão arterial; • Regulação da ingestão de alimentos (apresenta o centro da fome e o centro da saciedade); • Regulação do sistema endócrino (relação com a hipófise); • Geração e regulação dos ciclos circadianos; • Regulação do sono e vigília; • Integração do comportamento sexual; Portanto, ele é um centro coletor de informações relativas ao bem-estar interno do organismo, e grande parte dessa informação é utilizada para controlar as secreções dos vários hormônios hipofisários. HORMÔNIOS LIBERADORES E INIBIDORES HIPOTALÂMICOS: TRH - hormônio liberador de tireotropina - liberação de TSH; CRH - hormônio liberador de corticotropina - liberação de ACTH. GHRH - hormônio liberador do GH - liberação do hormônio do crescimento; GnRH - hormônio liberador de gonadotropina - liberação de FSH e LH; GHIH - hormônio inibidor do hormônio do crescimento; PIH - hormônio inibidor da prolactina - inibe secreção de prolactina; SISTEMA PORTAL HIPOTALÂMICO-HIPOFISÁRIO Quase toda a secreção hipofisária é controlada por sinais hormonais e nervosos, vindos do hipotálamo. A secreção efetuada pela neurohipófise é controlada por sinais neurais que têm origem no hipotálamo e terminam na região hipofisária posterior. Por outro lado, a secreção da adenohipófise é controlada tanto por sinais neurais quanto por endócrinos, com os chamados hormônios estimuladores e inibitores, secretados pelo hipotálamo e levados para a adenohipófise por minúsculos vasos sanguíneos conhecidos como vasos portais hipotalâmico-hipofisários. Na adenohipófise, esses hormônios liberadores e inibidores agem nas células glandulares, de modo a controlar sua secreção. A hipófise anterior é uma glândula muito vascularizada e quase todo o sangue que entra nela passa primeiro pela porção inferior do hipotálamo. Portanto, a maior parte do seu suprimento sanguíneo é de sangue venoso do hipotálamo. O sangue então flui pelos pequenos vasos sanguíneos portais hipotalâmico-hipofisários para os sinusoides da região anterior da hipófise. Aí, os hormônios hipotalâmicos agem sobre as células do lobo anterior, onde estimulam ou inibem a liberação dos hormônios da adenohipófise. Os hormônios da adenohipófise, então, entram na circulação sistêmica, que os distribui para seus tecidos-alvo. Assim, existem duas implicações importantes do suprimento sanguíneo porta para a adenohipófise: (1) Os hormônios do hipotálamo podem ser distribuídos para a adenohipófise, diretamente, e em alta concentração; (2) Os hormônios do hipotálamo não aparecem na circulação sistêmica em altas concentrações. As células da Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 adenohipófise, portanto, são as únicas células do corpo que recebem altas concentrações dos hormônios do hipotálamo. Essa relação pode ser ilustrada analisando o sistema hormonal da tireoide, citado anteriormente. O TRH é sintetizado nos neurônios hipotalâmicos e secretado na eminência mediana do hipotálamo, onde entra nos capilares e vasos porta hipofisários. É distribuído por esse sangue porta para o lobo anterior da hipófise, onde estimula a secreção de TSH. O TSH entra na circulação sistêmica e é distribuído para seu tecido-alvo, a glândula tireoide, onde estimula a secreção de hormônios da tireoide. Referências: COSTANZO, Linda S.. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. GUYTON, A.C. e HALL J.E. Tratado de Fisiologia Médica. Elsevier. 13. ed., 2017.
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