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GRA0007 HISTÓRIA DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA GR1578-212-9 - 202120.ead-13169.03

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HISTÓRIA DA ANTIGUIDADE
CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA
CAPÍTULO 1 - COMO ERA A SOCIEDADE
GREGA NA ANTIGUIDADE?
Bruna Campos Gonçalves
INICIAR
Introdução
Por onde começar o estudo da Antiguidade Clássica? A princípio, devemos
conhecer, antes de qualquer outra coisa, a documentação que foi legada daquele
período, desde os textos até a cultura material. No meio desse caminho, novas
perguntas acabam surgindo, como “E a análise de cada documentação?”, “Como
esses documentos foram encontrados?”, “O que o autor quis dizer com
determinado texto?”, “Para que era utilizado determinado objeto?” ou “E o que
podemos retirar de informação de cada detalhe?”. Esses e outros questionamentos
vão norteando nossos estudos a respeito do assunto. A partir das diferentes
documentações deixadas pelos gregos e romanos, conseguimos compreender o
legado que nos foi passado. Sendo assim, vamos iniciar a nossa jornada com os
gregos. Neste primeiro capítulo, veremos como era a sociedade grega na
antiguidade e estudaremos as poleis, a religião e a formação da identidade grega,
desde as suas diferenças marcantes até as semelhanças. Mas, afinal, qual é a
importância da mitologia na vida cotidiana dos gregos? Por que Homero é tão
importante nesse estudo? O que são as poleis? Essas interrogações permearão
nosso conhecimento para descobrirmos o universo do Homem grego. Vamos em
frente!
1.1 Antiguidade Clássica: Grécia e
Roma
Assim como toda segmentação histórica, a Antiguidade Clássica é uma
nomenclatura utilizada para determinado período da História. Temos o termo
“antiguidade” por estar relacionado a tempos remotos, e o termo “clássica” por
ser um modelo que deveria estar sendo seguido. Dessa forma, considerando o
juízo de valor de toda a periodização histórica, utilizamos a Antiguidade Clássica
como uma instrumentalização ao estudo. Ou seja, como uma ferramenta para
buscarmos o conhecimento.
Agora que já sabemos um pouco mais sobre essa nomenclatura, podemos dizer
que, quando falamos na Antiguidade Clássica, estamos nos referindo,
essencialmente, a cultura greco-romana nas suas mais variadas manifestações.
Afinal, nenhuma outra cultura marcou tanto o Ocidente quanto a grega e a
romana.
O conceito de democracia, a concepção do direito e a noção de república fazem
parte dessas manifestações. Inclusive, quando falamos do “calcanhar de Aquiles”
de alguém, estamos nos referindo a fraqueza do grande herói Aquiles. Ou, então,
quando os médicos fazem o juramento de Hipócrates, estão reverenciando a ética
esboçada por um grego, pioneiro no estudo da medicina. Poderíamos incluir neste
texto inúmeros exemplos do nosso cotidiano em que ainda percebemos a
presença da cultura greco-romana.
Mas você sabe como essas culturas chegaram até nós? Como elas se tornaram tão
importantes no nosso dia a dia? Vamos juntos descobrir um pouco mais sobre esse
universo a partir de agora. Acompanhe!
1.1.1 As documentações que nos permitem estudar a Grécia e a
Roma Antigas
Atualmente, quando um historiador inicia suas pesquisas, ele a faz por meio de
documentações do período a ser estudado. Com os estudiosos da Antiguidade
Clássica não é diferente, já que a análise da cultura greco-romana tem suas
especificidades. Não poderemos, por exemplo, usar como documentação relatos
orais, já que as testemunhas não estão mais vivas. No entanto, temos uma gama
de documentos disponíveis, possibilitando que sejam feitas análises sobre o
assunto.
Ao termos acesso a poemas, textos políticos e filosóficos que compõem a
documentação textual, podemos perceber as características do que foi escrito por
um personagem do período a ser estudado. Logo, temos acesso a como os
próprios gregos ou romanos compreendiam o seu mundo, a fim de entendermos a
intencionalidade do autor ao escrever determinada obra.
Outra documentação importante a que podemos recorrer é a cultura material, que
abrange diversos tipos de objetos, desde moedas até monumentos, como o
Parthenon, em Atenas. A variedade desses itens estudados pela arqueologia é
inúmera, sendo que cada um deles possui características próprias que devem ser
analisadas, de forma a constituírem núcleos de pesquisa, como é o caso da
numismática, que estuda as moedas; da epigrafia, que estuda as escritas gravadas
em materiais sólidos (como madeira, osso, metal e rocha); entre outras ciências
que partiram do estudo arqueológico.
O livro “Antiguidade Clássica: a história e a cultura a partir dos documentos”, escrito por Pedro Paulo
Funari, analisa a utilização de documentos específicos para o estudo da Antiguidade Clássica. Parte do
livro pode ser encontrado no link: <https://goo.gl/JkCRE8 (https://goo.gl/JkCRE8)>. Vale a pena ler!
Funari (1995) menciona sobre a necessidade de procedermos uma análise
documental, desde a materialidade do texto até uma possível autenticidade das
informações. Assim como devemos proceder com a documentação material a
partir de um estrito exame, que pode passar por laboratórios, utilizando-se, assim,
de outras áreas de conhecimento. Dessa forma, utilizamos a interdisciplinaridade
para alcançarmos um conhecimento. 
Trabalhar com a documentação, seja ela textual ou material, requer atenção.
Contudo, quando você produz algo — seja texto ou pintura, escultura ou qualquer
outra coisa —, podemos dizer que é possível dissociar dessa produção suas
crenças e vivências, sendo totalmente imparcial?
Assim como não conseguimos, os antigos também não o faziam.
Mas o que isso quer dizer?
Mesmo mencionando em seus textos que estão sendo imparciais, os autores
antigos estão escrevendo com base em seu próprio ponto de vista, com suas
crenças, valores e vivências imbuídos (JENKINS, 2004). De maneira que devemos
entender que nenhuma obra é imparcial, logo, devemos considerar a
subjetividade do autor para a compreensão de seus escritos. 
1.1.2 A importância do estudo clássico para compreendermos a
formação do ocidente
Você sabia que a língua portuguesa é uma derivação do latim, língua falada na
Roma? E que a Olimpíada é uma herança da antiguidade grega, assim como a
democracia?
VOCÊ QUER LER?
https://goo.gl/JkCRE8
Em nosso cotidiano, podemos encontrar muitos elementos que vieram da cultura
greco-romana, mas, muitas das vezes, não damos atenção ou importância para
esse fato. Alguns exemplos são a Filosofia (nascida na Grécia) e termos como
república (res publica – romana), império (imperium – romano), liberdade,
escravidão, comércio, guerra, cultura e barbárie. Todos esses são pontos
importantes para compreendermos a sociedade clássica e, ao mesmo tempo, são
elementos presentes em nossa sociedade atual.
Também poderíamos mencionar o conceito de “cidades-estados”, no entanto, vale
destacar que, embora a polis grega seja comumente traduzida como uma cidade-
estado, a questão pode ser bem mais complexa do que essa redução de termos. De
acordo com Whitley (2001), o termo “polis”, por si só, já possui ambiguidade. Ele
pode significar o centro urbano real de uma comunidade, sua cidade principal; ou
a comunidade política, ela mesma, o estado e os cidadãos.
Whitley (2001) ainda destaca que se deve tomar cuidado com o uso do termo
“cidade-estado”, uma vez que nem todos os centros de estados gregos eram
fundados com base nisso.
Os termos “cidade”, “estado” e “polis”, no mundo grego antigo, perpassam por diferentes momentos,
podendo ter acepções diversas. Dessa forma, nem sempre “polis” se refere a uma cidade-estado. Seu
significado pode ser mais amplo ou mais restrito, estando vinculado aos cidadãos que a compõem.
Para saber mais sobre o assunto, vale a pena ler o texto “A Cidade, o Estado e a Pólis”, escrito por
Whitley e traduzido para o português pela professora Maria Beatriz. Ele pode ser encontrado no link:
<http://labeca.mae.usp.br/media/pdf/traducoes/whitley_a_cidade.pdf
(http://labeca.mae.usp.br/media/pdf/traducoes/whitley_a_cidade.pdf)>.
Contudo, você sabia dizer como essa cultura chegou até nós?
Podemos mencionar que a extensão territorial alcançada pela Grécia e por Roma
atuaram fortemente para a propagaçãoda cultura grega e romana. Fora a extensão
territorial, os dois impérios tinham grande contato com os povos fronteiriços, seja
com entrepostos comerciais, com vizinhos ou por meio de conflitos armados.
VOCÊ QUER LER?
http://labeca.mae.usp.br/media/pdf/traducoes/whitley_a_cidade.pdf
Assim, eles estabeleceram um intenso intercâmbio cultural, proliferando seus
interesses, ideias e pensamentos, assim como também aprenderam com os povos
estrangeiros.
A interação com outros povos, de muitas maneiras, garantiu a perpetuação do
legado greco-romano, permitindo que novos elementos fossem agregados ao
debate, mantendo-o aberto. Ao refletirmos com mais cuidado, percebemos que
alguns conceitos oriundos da antiguidade, como o de democracia e república,
possuem, hoje, significados e características distintos dos daquela época. Isso
porque eles ganharam novos elementos ao longo do tempo.
Para termos uma melhor compreensão desses processos, na sequência vamos
estudar como se iniciou os conceitos que pautam toda a nossa sociedade
ocidental. 
1.1.3 Grécia e Roma na antiguidade
O mundo greco-romano dominou o mediterrâneo por muitos séculos,
influenciando todos os povos do ocidente.
Mas será que só existiam os gregos e os romanos na antiguidade?
É claro que existiam outros povos antigamente, os quais, inclusive, relacionavam-
se entre si. No entanto, a filosofia grega e outros tantos elementos culturais
influenciaram e se perpetuaram especialmente dentro do Império Romano, o qual
repercutiu toda a cultura no mundo ocidental.
VOCÊ SABIA?
Que a cultura greco-romana voltou a ser debatida no período conhecido como
Renascimento Cultural? Embora fosse bastante discutida pelos modernos, ela
perpetuou na história a imagem clássica do período. Que tal descobrirmos um
pouco mais sobre como os antigos eram vistos no Renascimento Cultural? Você
pode consultar o texto de Ana Maria Alfonso-Goldfarb, intitulado “História da
Ciência”, disponível no link: <http://www.ufjf.br/quimicaead/files/2013/05/Parte-
1.pdf (http://www.ufjf.br/quimicaead/files/2013/05/Parte-1.pdf)>.
http://www.ufjf.br/quimicaead/files/2013/05/Parte-1.pdf
Como a Grécia e a Roma foram povos que se formaram perto do mediterrâneo,
conquistaram grande poder econômico, político, militar e cultural, chegando a
dominar grande parte — se não todo — o território em volta do Mar Mediterrâneo.
Cada povo possui características próprias, como a língua falada e o sistema
político escolhido, mas, ao mesmo tempo, possuem similaridades, principalmente
no culto aos deuses, já que seus mitos eram os mesmos, alterando somente o
nome das divindades.
Considerando que tanto a Grécia quanto a Roma experimentaram épocas distintas
em suas histórias, isso permite a tradicional divisão da história da Grécia em seis
grandes períodos, de acordo com Funari (2011) e Eyler (2014), conhecidos como:
pré-histórico e proto-histórico (3000 a.C. a 2000 a.C.);
creto-micênico ou pré-homérico (2000 a.C. a 1100 a.C.);
homérico ou séculos obscuros (1100 a.C. a 800 a.C.);
arcaico (800 a.C. a 500 a.C.);
clássico (500 a.C. a 336 a.C.);
helenístico (336 a.C. a 146 a.C.).
Já a história de Roma é periodizada de acordo com o sistema político vigente no
período. Ainda de acordo com os autores, temos: 
período da Monarquia (800 a.C. a 500 a.C.);
período da República (500 a.C. a 100 a.C.);
Principado ou Alto Império (100 a.C. a 200 d.C.);
Dominado ou Baixo Império (200 d.C. a 500 d.C.), ou, ainda, Antiguidade
Tardia, que se estenderia até o século VII d. C.
Embora gregos e romanos não tivessem consciência dessas divisões, elas são
importantes para fins didáticos. Dessa forma, conseguimos marcar as
permanências e as mudanças ao longo da história desses povos. 
1.2 O Mundo de Homero: Ilíada e
Odisseia
A História como conhecemos trabalha com documentação, seja ela escrita ou
material. Portanto, é imprescindível iniciarmos com esse material.
Ao estudarmos o mundo grego, percebemos que temos poucas informações
escritas sobre sua origem, assim como muito do que sabemos se dá por meio de
vestígios arqueológicos. Só que isso não quer dizer que não sabemos nada a
respeito do assunto.
A primeira notícia que temos é que os povos indo-europeus migraram para a
região da Ilha de Creta, onde teria se iniciado o que conhecemos hoje como a
Grécia. Nem sempre pacificamente, jônios, aqueus, eólios e dórios dominaram a
região e deram início a civilização. De acordo com Funari (2011, p. 20):
Ela [a Grécia] não surgiu como como um milagre e sim como herdeira dos avanços e
conhecimentos aprendidos e adaptados de outras civilizações. Caracterizou-se por
uma unidade cultural básica ao mesmo tempo em que apresentava variações de
acordo com as origens dos elementos humanos que a compunha, as regiões, as
paisagens e as influências estrangeiras recebidas. 
Além disso, uns dos primeiros escritos sobre o universo dos gregos na antiguidade
são dois poemas atribuídos a Homero: Ilíada e Odisseia, obras importantes para se
estudar o período que vai do século XI a.C. ao IX a.C., conhecido como homérico
(EYLER, 2014).
1.2.1 Ilíada e Odisseia como fontes da Grécia homérica (1150 a.C. a
800 a.C.)
Conforme mencionado, Ilíada e Odisseia são dois poemas épicos atribuídos
originalmente a Homero, de quem nada temos de concreto sobre sua vida. Vidal-
Naquet (2002) aponta que não há somente um Homero, assim como outros
estudiosos acreditam que ele tenha sido a personificação coletiva de toda a
memória grega, de forma que os poemas foram escritos por um conjunto de
poetas, mas não necessariamente todos juntos, ao mesmo tempo. 
VOCÊ QUER LER?
Carlos Alberto Nunes, em uma edição da Nova Fronteira, traduziu todos os versos da Ilíada e Odisseia
para o público brasileiro. Assim, é possível apreciar com maiores detalhes a história de Aquiles e as
aventuras de Ulisses. Vale a pena conferir e se aprofundar no assunto.
Aliás, você já parou para pensar o que seriam as epopeias?
Pertencente ao gênero épico, as epopeias se caracterizam, principalmente, por
narrarem grandes acontecimentos de forma heroica, eternizando lendas em
versos, revestidos com conceitos morais e modelos de comportamentos, além de
conferirem um caráter divino ao herói narrado nas epopeias.
Como destacou Lesky (1995) em sua obra sobre a literatura grega, as narrativas
nem sempre estão próximas do autor. De fato, na poesia heroica, o distanciamento
de quem escreve com relação ao acontecimento é muito comum.
A datação conferida a Ilíada e Odisseia está entre o final do século IX a.C. e o
começo do século VIII a.C., porém, Homero narra acontecimentos que teriam
ocorrido entre os séculos XIII a.C. e XII a.C.
[...] o fato de colocar a narração num passado mais ou menos distante faz parte das
características da poesia heroica. Na maior parte dos casos, tais poemas têm um
fundo histórico que permaneceu consciente apesar de toda a liberdade da
elaboração. Apesar de ambas as epopeias se desenrolarem num passado longínquo,
é natural que nelas se reflita a situação social da época do poeta. (LESKY, 1995, p.
73).
Helenistas (estudiosos que buscam a história do mundo grego) chamam a nossa
atenção para o fato que, embora o recorte cronológico abordado nos poemas seja
anterior a sua escrita, as obras refletem a situação social da época em que o autor
viveu. Dessa forma, ao analisarmos os poemas homéricos, estamos observando,
principalmente, a sociedade do século VIII a.C. (MOSSÉ, 1997).
VOCÊ QUER VER?
O filme Troia, de Wolfgang Petersen, lançado em 2004, foi baseado no poema épico de Ilíada. Com mais
de três horas de duração, a obra conta com grandes nomes de Hollywood e encena a história de
Homero, em que gregos e troianos lutam por mais de dez anos, sendo um dos motivos o rapto de
Helena de Troia. Vale a pena tirar um tempinho para assisti-lo!
Ilíada é considerada a primeira obra literária do ocidente, contando com seus mais
de 15 mil versos — 15.693, para ser exato. Ela narra o 10º ano da Guerra de Tróia,
em que o autor dá destaque à disputa entre o herói (Aquiles)e o comandante dos
exércitos gregos (Agamenon), culminando na morte do herói troiano (Heitor). 
Homero, em Ilíada, apresenta-nos mais detalhadamente os mitos e as lendas do
período, permitindo analisarmos a relação dos gregos com seus deuses, ou seja, a
religiosidade deles.
Já em Odisseia, Homero narra uma continuação de Ilíada, quando Ulisses
(Odisseu) retorna para a sua terra natal (Ítaca) após a Guerra de Troia. São tantos
os percalços que o herói da trama atravessa que ele chega em sua terra 10 anos
Figura 1 - A cidade de Troia, atualmente conhecida como Turquia, é famosa por conta do poema
épico de Homero. Fonte: Standret, Shutterstock, 2018.
Deslize sobre a imagem para Zoom
após o fim da guerra. No entanto, quando alcança seu lar, ainda precisa lidar com
os pretendentes de sua esposa, que acreditavam que Ulisses estivesse morto.
Assim como em Ilíada, a intervenção divina também está presente na trama de
Ulisses, que, graças a Atenas, consegue restabelecer a paz em sua cidade. Nas duas
obras, podemos observar, também, muitos aspectos da sociedade grega, inclusive
o papel da mulher na sociedade. 
Werner Jaeger foi um filólogo alemão bastante conhecido por sua obra “Paidéia: a formação do homem
grego”, lançada na Alemanha em 1936, e no Brasil em 1966. O livro traz um longo estudo sobre a
educação no mundo grego e o desenvolvimento do homem grego. Até hoje, os estudos de Jaeger são
base para análises da Grécia Antiga e seus habitantes.
Agora que você já entendeu um pouco mais sobre os dois poemas, vamos analisar
a Grécia que Homero eternizou em seus versos de maneira mais profunda.
1.2.2 A Grécia do período homérico
De acordo com a arqueologia, o período conhecido como homérico é
extremamente hierárquico e burocrático. Por outro lado, Homero, em suas obras,
apresenta-o com uma organização social baseada em reinos com certa
independência.
Então, como será que funcionava, de fato, esse sistema?
Nesse período, a cultura gentílica acabara de se difundir entre os gregos, ou seja,
houve a formação de pequenas unidades agrícolas autossuficientes, denominadas
genos. Essas unidades estavam sob o comando do chefe comunitário, chamado de
pater, o qual exercia funções religiosas, administrativas, judiciárias e econômicas.
Isto é, ele controlava os bens econômicos, como terras, animais, sementes e
instrumentos de trabalho.
VOCÊ O CONHECE?
Nos genos, os bens de consumo eram comuns a todos, promovendo uma
sociedade igualitária, em que os membros trabalhavam no cultivo da terra e na
criação dos animais para o sustento da comunidade. No entanto, esse sistema não
perdurou por muito tempo, visto que o aumento populacional aumentou a
disputa pelas terras cultiváveis, gerando, assim, conflitos entre os gens.
Com isso, foi preciso uma nova ordem. Então, os genos de uma mesma região se
uniram, formando a fratria, que, por sua vez, ao se juntarem, formavam uma tribo.
E o conjunto de tribos constituía um demos.
Dessa estrutura, irá nascer, séculos mais tarde, a polis grega, também conhecida
por nós como cidade-estado.
Contudo, o crescente aumento populacional e a escassez de terras na Grécia
impulsionaram a busca por novos territórios, dando o ponta pé inicial para a
procura de novas terras ao longo do Mediterrâneo. 
A distribuição igualitária dos bens cai por terra e uma divisão social começa a
aparecer. Assim, surge uma aristocracia formada pelos descendentes do pater,
conhecidas como eupátridas (bem-nascidos); pelos agricultores de pequeno porte,
chamados de georgoi (agricultores); e por uma população mais pobre, ou thetas,
que viviam marginalizados e sem terras.
O poder político, então, passa para as mãos de um basileu, espécie de rei que tinha
seus poderes limitados pelos aristocratas.
Silva (2017) destaca que os valores da sociedade grega durante o período
homérico são influenciados pela relação com a guerra. As pessoas eram medidas
por sua bravura e habilidade nas batalhas, denominando de aghatos aqueles que
tivessem bom desempenho em campo; e kakos os que demonstrassem alguma
covardia.
Figura 2 - Organização da sociedade grega do período homérico. Fonte: Elaborada pelo autor,
baseado em MOSSÉ, 1997 e FUNARI, 2011.
Deslize sobre a imagem para Zoom
Das mulheres, esperava-se um comportamento casto e virtuoso, mas elas podiam
atuar na esfera pública, como em atos religiosos.
Vejamos, agora, como a identidade grega está presente nos poemas homéricos.
1.2.3 A identidade Grega presente nos poemas homéricos
O povo grego tinha uma estrutura política muito particular de cada localidade,
mas isso não os impedia de compartilhar uma cultura em comum ou de se
reconhecerem como gregos.
Entretanto, como será que um povo tão disperso e independente se reconhecia
como pertencentes de uma mesma cultura?
Muitos são os elementos que podem definir a identidade de um povo, como sua
língua, sua religião, sua cultura, seu sistema político e sua geografia, mas vale
ressaltar que nem todos são requisitos indispensáveis. Podemos citar como
exemplo os brasileiros. A terra em que nascemos, a língua que falamos, a cultura e
a história que compartilhamos nos tornam parte do mesmo grupo. Mas, ao mesmo
tempo, toda a nossa diversidade nos faz únicos. O Homem do Sul não é o mesmo
que vive no Norte.
De acordo com Vernant (1994), não podemos falar do Homem grego no singular,
pois devemos considerar a multiplicidade de situações marcadas no tempo e no
espaço. No entanto, há, pelo menos, um elemento que liga todos os gregos, e com
o qual eles se identificam: a língua. Afinal, era por meio da linguagem utilizada que
eles se reconheciam e identificavam quem não era do mesmo grupo.
Um exemplo é a palavra “bárbaro”, que, para Hartog (2004), deriva da expressão
onomatopaica “bar bar”, que é o balbuciar de outros povos. Assim, a identidade
entre os gregos e para os gregos se configura no contato entre eles próprios e com
os outros.
Apesar disso, mesmo a língua grega sendo bastante importante, havia toda uma
bagagem cultural que também fazia os gregos se identificarem como tais. Ser um
cidadão grego exigia mais do que simplesmente falar um idioma. Era necessário
conhecer os clássicos, a história do povo, seus mitos e participar da vida política.
Além disso, eles foram os primeiros a pensarem em uma formação, um estudo
direcionado, já que a educação representava o sentido de todo o esforço humano.
Assim, a formação do Homem nas várias esferas social, política, cultura e
educativa configurava sua Paideia, e essa educação atribui ao Homem uma
identidade cultural e histórica.
Entre outras características importantes para a formação de um cidadão, vemos,
também, a perpetuação dos grandes modelos heroicos em seus traços: a
prudência, a astucia e a coragem. O classicista Jaeger (1994), em sua obra
“Paideia: a formação do homem grego”, ressalta o papel do herói na educação dos
antigos helenos (gregos):
[…] a evocação do exemplo dos heróis famosos e do exemplo das sagas é para o
poeta parte constitutiva de toda a ética e educação aristocráticas. Temos de insistir
no valor deste fato para o conhecimento essencial dos poemas épicos e da sua
radicação na estrutura da sociedade arcaica. Mas até para os Gregos dos séculos
posteriores os paradigmas têm o seu significado como categoria fundamental da
vida e do pensamento. (JAEGER, 1994, p. 59).
Assim como os modelos ou paradigmas heroicos eram tão importantes, o
conhecimento das narrativas que os retratavam também se dá de forma
indispensável, tornando o papel do poeta — como Homero — crucial. 
Figura 3 - A imagem e as escritas de Homero circularam na antiguidade, difundindo a cultura grega de
Deslize sobre a imagem para Zoom
Dessa forma, as obras de Homero foram utilizadas ao longo de muitos séculos, em
grande medida para ensinar os gregos seus valores, sua história, sua língua, sua
religiosidade, sua cultura e sua identidade.
um período. Fonte: markara, Shutterstock, 2018.
1.3 A polis e o Politeísmo no mundo
Grego: algumas considerações sobre os
mitos gregos
Já sabemosque os gregos acreditavam em vários deuses, os quais faziam parte de
sua vida cotidiana, interferindo diretamente nela, a ponto, inclusive, dos deuses
terem filhos com os humanos. Com isso, a formação dos gregos estava nas duas
esferas: a racional e a espiritual, vivenciando intimamente a relação com o
religioso, pois os deuses se faziam presentes desde as pequenas tarefas do dia a
dia até as mais decisivas de sua vida.
Vernant (2006) nos alerta sobre os riscos que corremos ao projetarmos nossa ideia
de religião com a dos antigos gregos. Para ele, devemos abandonar tais juízos de
valor, buscando perceber as singularidades da religião dos gregos:
As religiões antigas não são nem menos ricas espiritualmente nem menos
complexas e organizadas intelectualmente do que as de hoje. Elas são outras. Os
fenômenos religiosos têm formas e orientações múltiplas. A tarefa do historiador é
identificar o que a religiosidade dos gregos pode ter de específico, em seus
contrastes e suas analogias com os outros grandes sistemas, politeístas e
monoteístas, que regulamentam as relações dos homens com o além. (VERNANT,
2006, p. 3).
Assim, podemos nos perguntar, então, qual era a religião dos gregos e qual é o
papel da mitologia nesse contexto. A mitologia grega é a base do pensamento
mítico e da religião da Grécia Antiga e, conforme estudaremos na sequência,
estava presente no cotidiano da sociedade.
1.3.1 O pensamento mítico na Grécia Antiga
Na maioria das vezes, quando pensamos na Grécia, logo lembramos de Zeus,
Atenas, Eros, Artêmis, Poseidon, Hades, entre outras divindades que permeiam a
mitologia. Contudo, você já pensou em como seria viver dentro de uma sociedade
onde todos os deuses e semideuses fizessem parte de seu cotidiano?
Os mitos fazem parte da História e da vida dos gregos, narrando a origem dos
povos e de suas cidades-estados. Vale ressaltar, no entanto, que os próprios
gregos não os classificavam como mitos, pois, para eles, isso fazia parte da religião
que seguiam.
Ilíada, Odisseia e Teogonia, esta última sendo de Hesíodo, nos trazem muitos
relatos da relação dos gregos com seus deuses, assim como a forma de
pensamento mítico que estava presente em todas as esferas da sociedade grega. O
pensamento tradicional era transmitido a todos através dos poetas, que,
inspirados pelas musas, contavam para seu público acontecimentos de um
passado mítico, na época dos heróis.
O historiador Vernant (2006), em sua obra “Mito e Religião na Grécia Antiga”, dá
destaque ao fato de serem os poetas os porta-vozes dos deuses. Isso significa que
eles eram os responsáveis pela apresentação do mundo dos deuses aos homens:
[...] é pela voz dos poetas que o mundo dos deuses, em sua distância e sua
estranheza, é apresentado aos humanos, em narrativas que põem em cena as
potências do além revestindo-as de uma forma familiar, acessível à inteligência.
Ouve-se o canto dos poetas, apoiado pela música de um instrumento' já não em
particular, num quadro íntimo, mas em público, durante os banquetes, as festas
oficiais, os grandes concursos e os jogos. (VERNANT, 2006, p. 15).
Os relatos dos poetas buscam compreender o universo e uma explicação para a
origem do mundo. Os gregos antigos atribuíam para cada fenômeno natural um
Deus diferente. Para eles, os deuses eram seres imortais, mas possuíam
características comportamentais semelhantes aos dos seres humanos, como
maldade, bondade, egoísmo, fraqueza, força e vingança. Dessa forma, cada
entidade divina representava uma força da natureza ou dos sentimentos
humanos. Poseidon, por exemplo, era o Deus dos Mares, enquanto que Afrodite
era considerada a Deusa da Beleza e do Amor. 
Ainda hoje, alguns dos valores transmitidos pela mitologia soam familiares, como
as noções de ciúme e de inveja ou de soberba e heroísmo. Ao ouvirmos as histórias
mitológicas, nos encontramos com os nossos próprios sentimentos representados
nas divindades. Podemos citar como exemplos o ciúme de Hera — esposa de Zeus
e primeira-dama do Olimpo — diante das traições do marido com deusas e
mortais; ou a história de Narciso, que acaba apaixonado por ele mesmo ao se
achar mais bonito que Apolo; ou, até mesmo, de Afrodite, que nasceu do sêmen de
Cronos e é sinônimo da beleza.
Do topo do Olimpo, a mais alta montanha da Grécia e morada dos divinos, os
deuses podiam observar e intervir na vida dos humanos. Assim, eles foram
reverenciados por toda a Grécia por meio de ritos, cerimonias e festas. Ademais,
muitas das cidades-estados foram batizadas em nome do Deus que as
apadrinhavam. 
1.3.2 Mitologia e religião grega
Os gregos cultuavam seus deuses. Por isso, quando tinham um pedido especial,
faziam uma oferenda ao Deus encarregado dessas tarefas. Contudo, a interação
com a divindade ia além das oferendas. As cidades também faziam seus cultos,
podendo ser a partir de festas ou jogos, como é o caso dos Jogos Olímpicos, que
aconteciam em Olímpia para reverenciar Zeus. As Olímpiadas, inclusive, eram tão
famosas no mundo grego que poderiam ser usadas para marcar a passagem de
tempo. Por exemplo, quando um autor menciona que um evento havia ocorrido
na primeira Olimpíada, ele estava se referindo ao período de 776 a 772 a.C.
VOCÊ SABIA?
Que os Jogos Olímpicos, frequentemente associados ao culto da beleza, também
tinham uma intensão mística e fúnebre para saudar os mortos de cada cidade?
Homero, em “Ilíada”, relata as competições fúnebres que precederam a inumação
de Pátroclo.
Diferentemente do catolicismo que conhecemos hoje, o qual mantém rituais e
práticas idênticas em todas as regiões, a religião grega não tinha uma
padronização, pelo contrário: as práticas religiosas cotidianas apresentavam
variações de acordo com o momento e a região em que eram realizadas. Mesmo
ligadas a esfera pública, de maneira geral, a religiosidade grega era múltipla e
ampla em suas práticas. Assim, os gregos tinham uma liberdade para cultuar seus
deuses a sua maneira.
No entanto, as múltiplas narrativas sobre os deuses possuem um fio que as
norteiam. Como exemplo, temos Atena, que, independentemente de seus
atributos locais, sempre seria vista como a filha de Zeus, e isso, nem o mais
habilidoso dos poetas poderia mudar caso quisesse que sua audiência o
acompanhasse.
Os gregos expressavam sua religiosidade nos mitos, nos ritos e nas representações
figuradas, ou seja, de forma verbal, gestual e imagética, respectivamente. 
Nas palavras de Vernant (2006, p. 24), “[...] a religião grega apresenta-se como uma
vasta construção simbólica, complexa e coerente, que abre para o pensamento
como para o sentimento seu espaço em todos os níveis e em todos os seus
aspectos, inclusive o culto”.
Dessa forma, os cultos gregos apresentavam símbolos característicos da divindade
que reverenciava. Esses símbolos foram pintados ou esculpidos por artistas, os
quais buscaram representar a mitologia grega em seus trabalhos. Cada um deles,
 Figura 4 - Os
deuses da antiguidade grega eram representados nas esculturas com os elementos que os
caracterizavam. Fonte: Dimitrios, Shutterstock, 2018.
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inclusive, está ligado ao que o Deus representa ou a sua história.
A seguir, podemos entender melhor sobre os símbolos com um exemplo. 
CASO
Sempre que vemos um tridente, por exemplo, sabemos que é Poseidon
quem está sendo representado. Assim, cada Deus poderia ter mais de um
símbolo. O próprio Poseidon poderia ser visto com um golfinho ou um
hipocampo, criatura mitológica que tipicamente é descrita como um
cavalo na parte anterior e como um peixe na parte posterior, com a cauda.
Zeus, o senhor do Olimpo, era visto comumente com um raio na mão, mas
também poderia ser acompanhado de uma águia ou um carvalho; Hera,
Deusa da Maternidade, era conhecida pelo pavão e pela romã; já Demeter,
Deusa da Agricultura, tinha como símbolo um ramo de trigo.
Ainda podemos citar Hades, Deus do Submundo, que tinha um elmo, um
crânio ou, até mesmo, um monstro de três cabeças ao lado; e Héstia, Deusa
do Lar, que era representada pelaschamas.
Afrodite também tinha suas características. Conhecida como a Deusa do
Amor e da Beleza, ela tinha como símbolo um espelho. Apolo, por sua vez,
considerado o Deus do Sol, era representado com a lira ou o arco; bem
como sua irmã, Artemis, Deusa da Caça, que tinha o arco como símbolo,
além do veado e da lua crescente.
Há, ainda, Ares, Deus da Guerra, que tinha o javali e a lança; Atena, Deusa
da Sabedoria, que era caracterizada pelo ramo de oliveira; Dionisio, Deus
do Vinho, comumente relacionado as uvas; Herfesto, Deus do Fogo e da
Metalurgia, visto com a bigorna e o martelo; e Hermes, mensageiro dos
deuses, retratado com um caduceu e as botas com asas.
Sem contar, inclusive, as representações dos titãs, das ninfas, das musas e
dos heróis, personagens que compunham a mitologia grega.
Assim, as narrativas fundadoras da religiosidade grega eram partes integrantes da
forma como os gregos enxergavam o mundo, e que, graças à sua riqueza e
originalidade, permanecem despertando o interesse do mundo contemporâneo. 
1.3.3 Os deuses no cotidiano dos gregos
Agora, lhe pergunto: como os deuses participavam da vida dos gregos?
Os gregos acreditavam que suas vidas eram diretamente influenciadas pelos
deuses, e que estes partilhavam os mesmos sentimentos que eles, como o ódio, a
ira, o ciúme, o amor e a generosidade. Com isso, eles buscavam aplacar a ira dos
deuses com sacrifícios, cultos, oferendas e preces, para que não sofressem
represálias.
Logo, se os gregos fossem partir em uma jornada pelo mar, era comum fazer um
culto a Poseidon, Deus dos Mares, para que ele não se revoltasse durante a
viagem. Contudo, se quisesse uma colheita farta, seria interessante procurar os
favores da Deusa Demeter.
Os deuses tinham uma história própria, cheia de intrigas familiares, amores e
ódios, estando ligada a história do mundo. Nas palavras de Hesíodo (1991, p. 116-
117), “Pois bem, no princípio nasceu Caos; depois / Gaia de amplo seio, a eterna
base de tudo”. Temos, então, os primeiros seres míticos, que deram origem a todos
os outros.
Gaia, a Terra, deu à luz a Urano, com quem teve doze filhos, conhecidos como os
titãs: seis homens e seis mulheres. No entanto, eles não poderiam sair do interior
de Gaia, o que deixou o mais novo de seus filhos, Cronos, revoltado: “[...] o mais
jovem, de pensamentos tortuosos e o mais terrível dos filhos” (HESÍODO, 1991, p.
116-138).
Cronos, então, rebelou-se, castrou seu pai e jogou suas genitais no mar, libertando
seus irmãos. Dessa forma, o esperma de Urano produziu a deusa Afrodite, e seu
sangue deu origem as ninfas. Assim, os gigantes e Cronos reinaram com Reia como
cônjuge, enquanto que os outros titãs ficavam na corte.
O reinado de Cronos durou até a seu filho mais jovem, Zeus, rebelar-se contra a
sua ditadura e tomar seu poder com a ajuda dos raios confeccionados pelos
ciclopes. Assim, junto de seus irmãos — Héstia, Deméter, Hera, Hades e Poseidon
—, Zeus governou do monte Olimpo.
Contudo, haviam outras divindades no panteão grego que não faziam parte dos
Olimpianos, como é caso das divindades rupestres, a exemplo de Pã, ninfas,
dríades, nereidas, entre outros. Temos, também, as musas, compostas pelas nove
filhas de Mnemósime (memória) e Zeus. Além disso, ainda existiam os heróis,
muitos dos quais eram filhos dos deuses com um mortal, entre eles, Hércules e
Perseu.
Rick Riordan, um literato norte-americano, escreveu uma série intitulada “Percy Jackson e os
Olimpianos”, a qual retrata a mitologia grega no século XXI. Nos livros, um aluno de Nova York descobre
que é filho de Poseidon e que os deuses gregos existem e pertencem ao mundo atual. Vale a pena ler e
se inteirar do assunto!
Dessa forma, os deuses participavam e influenciavam na vida dos gregos,
podendo, inclusive, apadrinhar uma cidade, a qual geralmente levava o nome do
Deus, como é o caso de Atenas.
VOCÊ QUER LER?
1.4 As poleis arcaicas: Atenas e Esparta
De camponesa e guerreira para uma Grécia dividida em cidades-estados, assim
inicia o século VIII a.C. Tendo fundado cidades por todo o mediterrâneo, formando
uma grande rede comercial.
De acordo com Funari (2011, p. 25, grifos do autor):
A cidade – polis, em grego – é um pequeno estado soberano que compreende uma
cidade e o campo ao redor e, eventualmente, alguns povoados urbanos
secundários. A cidade se define, de fato, pelo povo – demos – que a compõe: uma
coletividade de indivíduos submetidos aos mesmos costumes fundamentais e
unidos por um culto comum às mesmas divindades protetoras.
Com uma economia agrícola e pecuária, uma política oligárquica e uma rígida
hierarquia social, vemos a Grécia entrar no que ficou conhecido como “período
arcaico”. A partir de agora, vamos analisar algumas características desse momento
do mundo grego, assim como a formação das duas cidades-estados que sempre
lembramos quando falamos da Grécia: Atenas e Esparta. 
1.4.1 A Grécia Arcaica e as cidades-estados
A economia da Grécia Arcaica era fundamentalmente agrária e de criação, no
entanto, é nesse momento que a Grécia presencia um crescimento comercial. O
aumento excessivo de habitantes impulsionará a busca por novas terras, onde se
estabeleceram colônias gregas. Isso fez com que a cultura grega se expandisse
para boa parte do mediterrâneo.
Os gregos chegaram a lugares longínquos, e viram prosperar seu comércio
marítimo e seu artesanato nas produções de armas e cerâmicas. Além disso, para
facilitar as trocas comerciais, foi introduzida a moeda, importante conquista no
âmbito político, já que foram as cidades-estados que passaram a emiti-las. 
Contudo, o que efetivamente caracteriza uma cidade-estado?
As polis gregas são cidades economicamente autossuficientes e independentes.
Isto é, elas poderiam escolher como seriam regidas politicamente, assim como
suas próprias leis.
Dessa forma, cada cidade-estado tinha um governo próprio, tendo, como ponto
geográfico central, a acrópole, local mais elevado da cidade que formava o núcleo
urbano do povoado, onde se concentrava o comércio e a manufatura, além dos
edifícios públicos, o templo principal da polis e a agora (local onde ocorriam os
debates políticos). 
As cidades também possuíam uma hierarquia social marcante, com uma camada
de grandes proprietários de terra, considerados os nobres por Funari (2011). Estes
dirigiam as cidades-estados, os escravos, os servos, os trabalhadores agrícolas
livres, os artesãos e os pequenos proprietários de terra que vivam modestamente.
Eyler (2014, p. 71) aponta que, embora houvesse uma rígida hierarquia social, ela
teria sido uma revolução, outra característica dessa polis, já que, em suas palavras,
“[...] ao contrário do poder centralizado da realeza, ela significa a capacidade de
 Figura 5 - A moeda antiga grega de Elis servia para
facilitar as trocas comercias, além de meio de propaganda ideológica. Fonte: Hein Nouwens,
Shutterstock, 2018.
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organização dos homens gregos por eles mesmo”. Ademais, a autora ainda
argumenta que, com o sistema de polis, a função de regular e ordenar pertence ao
debate, logo, a palavra “[...] é instrumento político, chave de toda a autoridade,
meio de comando e de domínio sobre outrem”.
Entre as principais cidades-estados, temos Atenas, Esparta, Corinto, Mégara,
Argos, Mileto, Olímpia, Mileto, Tebas, Lesbos e Creta. As duas primeiras ficaram
marcadas pelas suas profundas diferenças, que culminaram na guerra do
Peloponeso anos mais tarde.
1.4.2 Atenas
Atenas, uma das cidades mais antigas do mundo atual, foi a mais influente polis do
mundo grego, tendo sido, em anos posteriores a sua fundação, o centro cultural e
intelectual do Ocidente. 
Em uma disputa entre Poseidon e Atena, em que, quem desse o melhor presente
para a cidade se tornaria o patrono, ganhou a Deusa da Sabedoria. Assim, Atena
ofereceu para a cidade uma oliveira, em oposição ao rio de água salgada criado
Figura 6 - O Parthenon foi construído em 447 a.C., sendo um templo dedicado a Deusa Atena,
protetora da polis. Fonte: emperorcosar,Shutterstock, 2018.
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pelo Deus dos Mares. A partir disso, a cidade foi batizada em nome de sua Deusa
patrona.   
Atenas estava situada na Ática, a sudoeste da península grega central, tendo um
solo pouco fértil para o plantio de trigo e cevada, mas excelente para oliveiras e
uvas. Isso propiciou o desenvolvimento da produção de azeite e vinho desde o
século VIII a.C., enriquecendo os comerciantes locais, que passaram a pressionar
os aristocratas (grandes proprietários de terra) a fazerem concessões políticas
(FUNARI, 2011).
A sociedade ateniense foi marcada pelas lutas de classe, entre as populares
descontentes e a oligarquia. As leis de Drácon pouco fizeram para mudar a
situação da cidade-estado, pois foi somente com Solón que medidas mais eficazes
foram tomadas, fazendo com que Atenas caminhasse em direção à futura
democracia.
Funari (2011, p. 33, grifos nossos) menciona que
Sólon conferiu mais poderes à assembleia popular dos cidadãos (Eclésia) e vinculou
os direitos políticos às fortunas e não mais aos privilégios de sangue ou as ligações
familiares. Se por um lado, somente os cidadãos mais ricos podiam se tornar
arcontes, por outro, todos os cidadãos passaram a ter direito de participar da
Eclésia. Sólon instituiu também um novo conselho, a Bulé e um tribunal popular
(mais tarde, no século V a.C., estas instituições, que no começo não eram tão
importantes, irão se sobrepor ao poder dos arcontes e do areópago [...].
Dessa forma, o caminho para o regime de maior participação popular da
antiguidade estava sendo traçado. A aristocracia perdia cada vez mais poder para
os comerciantes, que se tornavam cada vez mais influentes. Aliás, as mudanças
propostas por Clístenes, que reorganizou a divisão social, ampliou a participação
da bulé e permitiu que todo cidadão alistado em um demos pudesse votar na
assembleia.
Atenas, então, sai vitoriosa da guerra contra os Persas, tornando-se a cidade mais
importante e suntuosa. Segundo Funari (2011), nessa época, os cargos políticos
ligados à redação das leis e sua aplicação se tornaram legalmente acessíveis aos
cidadãos, alimentando o imaginário ateniense com palavras de justiça e liberdade.
Com isso, Atenas se tornou o centro artístico, econômico e intelectual da Grécia,
permanecendo com esse título até a atualidade.
1.4.3 Esparta
Muito diferente do que aconteceu em Atenas, Esparta era voltada para questões
militares.
Fundada pelos dórios na planície de Lacônia, no Peloponeso, a cidade estendeu
seu domínio por toda a Lacônia e a Messênia, tendo transformado os habitantes
das regiões conquistadas em servos, denominados hilotas. Vale ressaltar que os
hilotas não eram escravos, pois não eram propriedades dos espartanos, mas
também não possuíam nenhum respaldo legal.
Assim, enquanto os hilotas trabalhavam, os espartanos deveriam se dedicar aos
assuntos da cidade. Houveram, por exemplo, muitas revoltas e conflitos, no
entanto, os espartanos saíram vitoriosos na maioria das vezes — se não em todas.
De acordo com Funari (2011), o número de conquistados estava superando o
número de espartanos, o que os deixaram apreensivos. Eles resolveram, então, no
século VI a.C., fechar a cidade às influências estrangeiras, às artes, às novidades e
às transformações, abraçando costumes rígidos e uma severa disciplina, a fim de
manter intacta a ordem estabelecida.
Ainda conforme Funari (2011, p. 30), um documento conhecido como Retra
(deliberação) estabelece a seguinte divisão de poderes:
Depois que o povo estabeleceu o santuário de Zeus Silânio e Atena Silânia, depois
que o povo se distribuir em tribos e obes, depois que o povo tiver estabelecido um
conselho (gerúsia) e trinta, incluindo os reis (arquagetas ou fundadores), que se
reúnam de estação a estação para a festa de Ápelas entre Babica e Cnáquion; que os
anciãos apresentem ou rejeitem propostas; mas que o povo tenha a decisão final. Se
o povo se manifestar de forma incorreta, que os anciãos e os reis a rejeitem.
Isso indica que a decisão estava restrita ao grupo de anciãos e reis, parte da
aristocracia. Contudo, não se tem muito mais notícias sobre o sistema político de
Esparta, uma vez que era um povo da qual gostava de economizar palavras,
falando estritamente o necessário.
Esparta era uma tribo de guerreiros, em que todos os homens dedicavam suas
vidas a carreira militar. Desde muito cedo (sete anos de idade), já começa a
preparação do corpo e da mente do menino para que viesse a se tornar um
soldado disciplinado e um cidadão submisso. Dessa forma, podemos perceber que
toda a educação espartana estava voltada para a guerra, e, com isso, o
conhecimento das letras era restrito, com a função de tornar o soldado mais
eficiente.
Os homens ainda eram impedidos de exercer qualquer outra atividade que
conflitasse com o serviço militar, só sendo dispensados de suas obrigações aos
sessenta anos de idade. Funari (2011) destaca que as consequências desse sistema
foram a disciplina, a falta de criatividade, a dificuldade de desenvolver as artes e a
indústria, e, por fim, a estagnação. Contudo, o exército espartano era muito efetivo
e poderoso, fazendo de Esparta uma grande potência. 
Figura 7 - O elmo era utilizado pelos espartanos em batalhas e, além de protegerem, carregavam
elementos da cultura. Fonte: vandame, Shutterstock, 2018.
Síntese
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Chegamos ao fim do primeiro capítulo desta disciplina. Você concluiu os estudos
sobre a sociedade grega até o período arcaico. Com essa discussão, esperamos
que se sinta competente para refletir e discutir em sala de aula as características
da antiguidade.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
compreender a antiguidade clássica e identificar as possíveis
documentações para seu estudo;
analisar a importância dos poemas homéricos para a compreensão do
Homem grego;
entender o pensamento mítico e a religiosidade gregos;
conhecer as principais características das polis, com destaque para Atenas e
Esparta.
Referências bibliográficas
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