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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL PENAL III (2020.1) PROFESSOR: GUSTAVO CAVALCANTI RODRIGUES NOTA TÉCNICA UFRR/ICJ/DPP3 N° 02/2020 Nathalia Vasconcelos Almeida 1 Coordenador: Prof. Gustavo Cavalcanti Rodrigues ASSUNTO: A exceção da verdade quando será passível de aplicação? I – OBJETIVO Caracterizar, a partir do arcabouço técnico, legal e jurisprudencial, as hipóteses passíveis de aplicação da exceção da verdade prevista no art. 523 do Código de Processo Penal. II - SUSTENTAÇÃO JURÍDICA E AVALIAÇÃO DOUTRINÁRIA Por ocasião do oferecimento da defesa inicial, o querelado pode apresentar exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado, conforme disposto no art. 523 do Código de Processo Penal. Art. 523. Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às primeiras, ou para completar o máximo legal. Norberto Avena define exceção da verdade da seguinte forma: “A exceção da verdade consiste na oportunidade assegurada ao réu para demonstrar a veracidade das afirmações consideradas ofensivas pelo querelante.” (p.1456) Já a exceção de notoriedade consiste na oportunidade de demostrar que a afirmação realizada pelo querelado é de conhecimento público e notório, daí o termo “notoriedade”, portanto, não causa nenhum efeito social negativo Desse modo, a exceção da verdade e de notoriedade não se aplicam a todos os crimes contra honra. Logo de plano, a partir dos conceitos e definições, é possível perceber que a exceção da verdade e da notoriedade não podem ser aplicadas ao crime de injúria. Isto porque o bem jurídico ofendido nesse tipo penal é a honra subjetiva, pouco importando se o fato é verdadeiro ou de conhecimento público. a) Aplicabilidade da Exceção da Verdade A exceção pode ser aplicada no processo por crime de calúnia. Isso deve-se a própria natureza do tipo penal, uma vez que consiste em imputar fato tipo como crime a alguém. Vejamos: Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime. Logo, é perfeitamente razoável que o querelado tenha a oportunidade de provar que está falando a verdade, e assim, descaracterizando a conduta, que passar a ser atípica. No entanto, mesmo no crime de calúnia, há hipóteses que se admite a exceção da verdade, as quais estão descritas no art. 138, §3º do Código Penal: § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; Vale ressaltar que a exceção de verdade também não é admitida no crime de denunciação caluniosa, uma vez que se trata de crime contra a administração pública e a lei dispõe que somente é cabível a exceção de verdade nos crimes contra a honra. Norberto Avena afirma que: “Note-se que a denunciação caluniosa difere do crime de calúnia, pois, enquanto esta última se perfaz com a atribuição a alguém de fato definido como crime, a denunciação caluniosa consiste em dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, de investigação administrativa, de inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente. (...) Na verdade, pode-se resumir o contexto das diferenças entre estes dois delitos afirmando que a denunciação caluniosa compõe-se de uma calúnia + comunicação à autoridade, isto é, o agente, além de imputar, falsamente, ao ofendido a prática de um crime, leva esta imputação ao conhecimento da autoridade provocando a instauração de inquérito ou processo.” Em regra, a exceção da verdade não é aplicável nos processos de crime de difamação, pelo mesmo raciocínio aplicado ao crime de injúria, uma vez que consiste na imputação de fato ofensivo a honra, seja verdadeiro ou falso. Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação; Ocorre que quando o crime de difamação for cometido contra funcionário público, é admitida a exceção da verdade, tendo em vista a supremacia do interesse da administração pública. Art. 139. Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. É importante destacar que não basta que o crime seja cometido contra funcionário público, mas deve dizer respeito ao exercício de suas funções. Nesse sentido, Norberto Avena afirma: “Não sendo o caso de ofensa a servidor em razão do exercício das suas funções, a exceptio veritatis será inadmissível no crime de difamação. Isto porque tal crime configura-se com a atribuição de fato ofensivo à honra. Como a ninguém é permitido invocar a posição de censor da vida alheia, o delito configura-se independentemente de ser verdadeira ou falsa a afirmação realizada.” Também é o entendimento do Tribunal Regional Federal da 5ª Região: PENAL. DIFAMAÇÃO. EXCEÇÃO DA VERDADE. FUNCIONARIO PÚBLICO. INADMISSIBILIDADE. A EXCEPTIO VERITATIS, SO E ADMISSIVEL QUANDO O OFENDIDO SEJA FUNCIONARIO PÚBLICO E A OFENSA SEJA RELATIVA AO EXERCICIO DE SUAS FUNÇÕES. EXCEÇÃO IMPROCEDENTE. DECISÃO UNANIME. (TRF-5 - EXVERD: 5 RN 89.05.10242-5, Relator: Desembargador Federal Francisco Falcão, Data de Julgamento: 04/04/1990, Pleno, Data de Publicação: DOE DATA-28/04/1990) Parte da doutrina entende que a exceção de verdade não é oponível em hipótese alguma no crime de difamação, assim, afirma Guilherme de Souza Nucci: “a exceção da verdade diz respeito ao crime de calúnia (imputar a alguém, falsamente, fato definido como crime), enquanto a exceção da notoriedade do fato refere-se ao delito de difamação de funcionário público, no exercício das suas funções (imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação)” No entanto, esse não é o entendimento da doutrina majoritária, tendo em vista que o próprio Código Penal autoriza a exceção da verdade nos casos de difamação contra funcionário público no exercício de suas funções. Já a exceção de notoriedade de fato é aplicada somente nos processos de crime de difamação, independente da condição do ofendido. IV - CONCLUSÃO A partir da análise, conclui-se que a exceção da verdade é oponível apenas nos processos de calúnia, ressalvas as hipóteses do art. 138, §3º do Código Penal, ou seja, quando cometida contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro, sendo crime de ação privada em que o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível e de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Também se entende que é admitida a exceção da verdade na difamação contra funcionário público no exercício de suas funções, conforme parágrafo único do art. 139. Sobre este crime, vale ressaltar que é oponível exceção da verdade e exceção de notoriedade do fato imputado. E por fim, não se aplica, de forma alguma, exceção da verdade em processo de injúria, por se tratar de ofensa a honra subjetiva, pouco importando se verdadeiro ou não o fato. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm. Acesso em 27 outubro 2020. BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em 27 outubro 2020. AVENA, Norberto. Processo Penal. 11 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 25ª ed. São Paulo: SaraivaEducação, 2018. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. NUCCI, Guilherme de Souza. JUSBRASIL. Jurisprudências. Disponível em: https://trf-5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5427011/excecao-da-verdade-exverd-5-rn-890510242-5?ref=serp. Acesso em 27 outubro 2020.
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