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Curso 
CAE
 II Adolescente doe 
 Criança da Estatuto - 
CursosOnlineSP.com.br 
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Conteúdo 
 
Parte Geral: Fundamentos para o Estatuto da Criança e do Adolescente ........... Pág. 8 
Direitos Fundamentais ......................................................................................... Pág. 12 
Prevenção ............................................................................................................ Pág. 32 
Parte Especial: Política de Atendimento .............................................................. Pág. 36 
Entidades de atendimento .................................................................................... Pág. 37 
Medidas de Proteção ........................................................................................... Pág. 41 
Prática de Ato Infracional ..................................................................................... Pág. 46 
Medidas Pertinentes aos pais ou responsável ..................................................... Pág. 53 
Conselho Tutelar .................................................................................................. Pág. 54 
Acesso a Justiça .................................................................................................. Pág. 56 
Crimes e Infrações Administrativas ...................................................................... Pág. 79 
Referências Bibliográficas .................................................................................... Pág. 98 
 
8 
PARTE GERAL 
 
1. FUNDAMENTOS PARA O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE 
 
 A Constituição Federal de 1988 destinou à criança e ao adolescente 
especial proteção. As regras protetivas em relação a elas estão contidas, 
basicamente, no Capítulo VII (Da Família, da Criança, do Adolescente, do 
Jovem e do Idoso), do Título VIII (Da Ordem Social). 
 Estipula a Constituição da República, que a proteção da criança e do 
adolescente é dever da família, da sociedade e também do Estado. Essa 
proteção se traduz em assegurar, efetivamente e com absoluta prioridade, o 
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à 
convivência familiar e comunitária, colocando as crianças e os adolescentes 
a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão. 
 Assim, é dever do Estado promover programas de assistência integral 
à saúde da criança e do adolescente, admitindo-se a participação de 
entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecidos 
os seguintes preceitos (art. 227, §1º da CRFB/88): 
 a) aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde 
na assistência materno-infantil; 
 b) criação de programas de prevenção e atendimento especializado 
para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem 
como de integração social do adolescente e do jovem portador de 
deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a 
facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de 
obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. 
 Conforme salienta o parágrafo terceiro do artigo 227 da Constituição 
Federal de 1988, o direito a proteção especial deve abranger os seguintes 
aspectos: 
 a) idade mínima de 14 (quatorze) anos para admissão ao trabalho, 
observado o disposto no art. 7º, XXXIII, também da Constituição Federal; 
 b) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; 
 c) garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola; 
 d) garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato 
infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional 
habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; 
 e) obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e 
respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da 
aplicação de qualquer medida privativa da liberdade; 
 f) estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, 
incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma 
de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; 
 
9 
 g) programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao 
adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins. 
 Também é determinação constitucional, que a lei preveja severa 
punição para o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do 
adolescente (art. 227, §4º da CRFB/88). Sobre este assunto, avançou a 
legislação penal brasileira, especialmente mediante a recente alteração no 
Código Penal, promovida pela Lei n.º 12.015/2009, que criou tipos penais 
específicos em relação aos menores de 14 (quatorze) anos, além de ter 
majorado as penas abstratamente previstas em relação aos crimes 
cometidos em detrimento do maior de 14 (quatorze) e menor de 18 (dezoito) 
anos. 
 A adoção, consoante determinação constitucional (art. 227, §5º), deve 
ser assistida pelo Poder Público, na forma da lei, a qual estabelece os casos 
e as condições de sua efetivação por parte de estrangeiros. Sobre esse 
assunto também houve recente alteração por meio da Lei n.º 12.010/2009, 
objeto de estudo no presente curso. 
 Consoante previsão constitucional, os filhos, havidos ou não da 
relação do casamento, ou por adoção, tem exatamente os mesmos direitos e 
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à 
filiação (art. 227, §6º). 
 A Emenda Constitucional n.º 65/2010 inclui o parágrafo oitavo ao 
artigo 227 da Constituição Federal de 1988, que dispõe: 
§ 8º A lei estabelecerá: 
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os 
direitos dos jovens; 
II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, 
visando à articulação das várias esferas do poder 
público para a execução de políticas públicas. 
 Atualmente, ambos os incisos constitucionais carecem de 
regulamentação. Os projetos do Estatuto da Juventude e do Plano Nacional 
de Juventude estão tramitando no Congresso Nacional. 
 Segundo estipulação constitucional, os menores de 18 (dezoito) anos 
são penalmente inimputáveis, sujeitando-se, pois, às normas da legislação 
especial (art. 228). 
 E há, ainda, o dever recíproco consagrado no artigo 229 da 
Constituição Federal, segundo o qual os pais tem o dever de assistir, criar e 
educar os filhos menores, enquanto os filhos maiores tem o dever de ajudar 
e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. 
 
 
1.1 Disposições preliminares 
 
 Consoante previsão do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 
8.069, de 13 de julho de 1990, considera-se: 
 a) criança, a pessoa até os 12 (doze) anos de idade incompletos; 
 b) adolescente, aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade. 
 
10 
 Via de regra, o Estatuto da Criança e do Adolescente aplica-se 
apenas às crianças e aos adolescentes, mas em hipóteses excepcionais, 
expressamente indicadas, às pessoas entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) 
anos de idade. 
 À criança e ao adolescente são assegurados o gozo de todos os 
direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, devendo-lhes ser 
assegurado, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e 
facilidades, para que eles possam se desenvolver física, mental, moral, 
espiritual e socialmente, em condições de liberdade e de dignidade. 
 Nesse contexto, é dever da família, da comunidade, da sociedade em 
geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação 
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao 
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência familiar e comunitária (art. 4º, caput, do ECA).E 
consoante esclarece o parágrafo único do artigo 4º do Estatuto da Criança e 
do Adolescente, essa garantia de prioridade compreende: 
 a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer 
circunstâncias; 
 b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância 
pública; 
 c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais 
públicas; 
 d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas 
relacionadas com a proteção à infância e à juventude. 
 Nenhuma criança ou adolescente deve ser objeto de qualquer 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, 
punido-se na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus 
direitos fundamentais (art. 5º do ECA). Como se terá oportunidade de 
analisar, o Estatuto da Criança e do Adolescente estipula diversas práticas, 
comissivas e omissivas, como crimes ou infrações administrativas, só com o 
que se pode dar efetividade a muitos dos mandamentos nele contidos. 
 São critérios que devem ser levados em conta para a interpretação do 
Estatuto da Criança e do Adolescente: 
 a) os fins sociais a que ele se dirige; 
 b) as exigências do bem comum; 
 c) os direitos e deveres individuais e coletivos da criança e do 
adolescente; 
 d) a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em 
desenvolvimento. 
 Como se vê, o Estatuto da Criança e do Adolescente buscou efetivar 
a determinação constitucional, de modo a conferir à criança e ao 
adolescente a mais ampla proteção possível. 
 Nesse contexto, veja-se pertinente e interessante informativo do 
Superior Tribunal de Justiça: 
 
 
 
11 
Informativo nº 0381 
Período: 15 a 19 de dezembro de 2008 
Terceira Turma 
RETIFICAÇÃO. REGISTRO. NASCIMENTO. 
Trata-se de matéria inédita entre os julgamentos deste 
Superior Tribunal, em que menor, representada por sua 
mãe, pretende a retificação de seu registro de 
nascimento para acrescentar o patronímico de sua 
genitora, omisso na certidão, além de averbar a 
alteração para o nome de solteira da sua mãe, que 
voltou a usá-lo após a separação judicial e é grafado 
muito diferente daquele de casada, tudo no intuito de 
facilitar a identificação da criança no meio social e 
familiar. O pai da menor não se opôs, mas o MP 
recorreu quanto à averbação do nome da mãe 
concedida pelas instâncias ordinárias, uma vez que o 
registro de nascimento deve refletir a realidade da 
ocasião do parto, o que impediria tal averbação nos 
termos das Leis ns. 6.015/1973 e 8.560/1992. A Min. 
Relatora observou que, no caso dos autos, conforme 
comprovado nas instâncias de 1º e 2º grau, há a 
situação constrangedora de mãe e filha terem que 
portar cópia da certidão de casamento com a 
respectiva averbação para comprovarem a veracidade 
dos nomes na certidão de nascimento, bem como não 
existe prejuízo para terceiros, o que afastaria o pleito 
do MP. Os interesses da criança estariam acima do 
rigorismo dos registros públicos por força do Estatuto 
da Criança e do Adolescente (ECA). Ademais, essa é a 
solução mais harmoniosa e humanizada. Com essas 
considerações, entre outras, a Turma não conheceu do 
recurso do MP. REsp 1.069.864-DF, Rel. Min. Nancy 
Andrighi, julgado em 18/12/2008. (sem grifos no 
original) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
2. DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
 Os direitos e garantias fundamentais apontam amplo leque protetivo à 
pessoa humana, visando-lhes conferir condições existenciais mínimas, sem 
as quais não é possível admitir o exercício de uma vida digna. 
 Em sendo a dignidade da pessoa humana um princípio fundamental, 
desrespeitar qualquer dos direitos elencados a partir do artigo 5º da 
Constituição de 1988 acarreta, inevitavelmente, em ato atentatório à 
dignidade da pessoa humana. 
 Embora exista título próprio à disciplinação dos direitos e garantias 
fundamentais na Constituição, é importante salientar que estes não se 
resumem àquele título, vez que encontram-se espalhados por todo texto 
constitucional, tal como o direito à saúde, especialmente abordado no 
Estatuto da Criança e do Adolescente. O que confere o status de 
fundamental a um direito não é sua posição metodológica no texto 
constitucional, mas suas características. 
 Hoje, o critério de respeito e proteção à pessoa humana é 
extremamente diferente do que já se verificou na história constitucional 
pátria. Desde a primeira Constituição, a Imperial de 1824, visualiza-se a 
guarida de direitos destinados a proteção das pessoas. 
 A proteção que se faz necessária na atualidade é exatamente a 
mesma que se fazia presente durante a vigência de mencionada 
Constituição, e antes dela também. As pessoas sempre foram carecedores 
da mais extensa proteção e assistência, de modo a desenvolverem-se 
plenamente. A diferença está, no que podemos utilizar de um binômio 
necessidade/possibilidade, não quanto a primeira, mas quanto a segunda. 
Se a necessidade nunca deixou de existir, a possibilidade era restringida 
pelo interesse de poucos em detrimento na imensa maioria que sucumbia 
nas mais básicas necessidades existenciais. 
 A possibilidade fora majorada com o decorrer dos tempos, com a 
evolução dos direitos e com os movimentos constitucionalistas, mas ainda 
está longe de ser realizada na medida da atenção necessária à satisfação 
da necessidade populacional. Os interesses das minorias ainda prevalecem 
perante os da imensa maioria, mas em moldes muito diferentes dos 
pretéritos. 
 Em se tratando de crianças e adolescentes, há que se lembrar que a 
eles deve ser dedicada ampla proteção, com absoluta prioridade. 
 
 
2.1 Direito à vida e à saúde 
 
 Os direitos à vida e à saúde são fundamentais à criança e ao 
adolescente, e se efetivam mediante a adoção de políticas sociais públicas 
que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em 
condições dignas de existência. 
 Conforme salienta o caput do artigo 8º do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, é assegurado à gestante, por meio do Sistema Único de Saúde 
(SUS), o atendimento pré e perinatal. 
 
13 
 A gestante deve ser encaminhada a diferentes níveis de atendimento, 
segundo critérios médicos específicos, obedecendo-se aos princípios de 
regionalização e hierarquização do Sistema (art. 8º, §1º do ECA). 
 É disposição legal, contida no parágrafo segundo do artigo 8º do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, que a parturiente deve ser atendida 
preferencialmente pelo mesmo médico que a tenha acompanhado na fase 
pré-natal. 
 É dever do poder público propiciar apoio alimentar à gestante e à 
nutriz que dele necessitem. 
 Ademais, também é dever do poder público proporcionar assistência 
psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive como 
forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal (art. 8º, 
§4º do ECA). Essa mesma assistência, o poder público também tem o dever 
de prestar em relação a gestantes ou mães que manifestem interesse em 
entregar seus filhos para adoção (art. 8º, §5º do ECA). 
 Inclusive, e como se terá a oportunidade de analisar, configura 
infração administrativa, punível com multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 
3.000,00 (três) mil reais), deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de 
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato 
encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha conhecimento 
de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para adoção. Na 
mesma pena dos profissionais anteriormente mencionados incorre o 
funcionário de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito 
à convivência familiar que deixar de efetuar comunicação da mesma 
natureza, consoante prevê o artigo 258-B do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 No caso de gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar 
seus filhos para adoção, elas devem,obrigatoriamente, serem 
encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude. 
 O poder público, assim como as instituições e os empregadores 
devem propiciar condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos 
filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade (art. 9º do ECA). 
O Estado cuidou de tutelar a criança, em razão da sua condição de pessoa 
em desenvolvimento, permitindo que o aleitamento materno, tão relevante 
no processo de formação da pessoa, não deixe de ser efetuado ainda que a 
mãe esteja em cumprimento de medida privativa da liberdade. 
 Conforme prevê o artigo 10 do Estatuto da Criança e do Adolescente, 
os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes 
públicos e particulares, são obrigados a: 
 a) manter registro das atividades desenvolvidas, através de 
prontuários individuais, pelo prazo de 18 (dezoito) anos; 
 b) identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão 
plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras 
formas normatizadas pela autoridade administrativa competente; 
 c) proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de 
anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar 
orientação aos pais; 
 
14 
 d) fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente 
as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato; 
 e) manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a 
permanência junto à mãe. 
 Às crianças e adolescentes assegura-se atendimento integral à 
saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), garantido o acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e 
recuperação da saúde (art. 11, caput, do ECA). 
 No caso de crianças e adolescentes portadores de deficiência, a eles 
deve ser destinado atendimento especializado, consoante previsão contida 
no parágrafo primeiro do artigo 11 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Ao poder público incumbe fornecer gratuitamente àqueles que 
necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao 
tratamento, habilitação ou reabilitação (art. 11, §2º do ECA). 
 Os estabelecimentos de atendimento à saúde tem o dever de 
proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos 
pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente 
(art. 12 do ECA), em consagração a regra de ampla proteção e absoluta 
prioridade que deve ser dedicada às crianças e adolescentes. 
 O ordenamento jurídico brasileiro assegura à criança e ao 
adolescente ampla proteção. Dessa forma, caso haja suspeita ou 
confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente, deve haver 
imediata comunicação ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem 
prejuízo de outras providências legais. Esse dever estende-se ao médico, ao 
professor e ao responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de 
ensino fundamental, pré-escola ou creche, sob pena de incorrer na infração 
administrativa descrita no artigo 245 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, que prevê a aplicação de uma pena de multa, variável entre 3 
(três) e 20 (vinte) salários de referência, valor que pode ser aplicado em 
dobro em caso de reincidência. 
 Por derradeiro, consoante previsão do caput do artigo 14 do Estatuto 
da Criança e do Adolescente, é incumbência do Sistema Único de Saúde 
(SUS), promover programas de assistência médica e odontológica para a 
prevenção de enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, 
além de campanhas para educação sanitária destinada aos pais, 
educadores e alunos. Nesse contexto, conforme determina o parágrafo único 
do artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é obrigatória a 
vacinação das crianças nos casos recomendados pela autoridades 
sanitárias. 
 
 
2.2 Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade 
 
 A liberdade, o respeito e a dignidade como pessoas humanas em 
desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais são 
fundamentais à criança e ao adolescente, direitos estes revestidos de índole 
constitucional e legal. 
 
 
15 
 Consoante previsão do artigo 16 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, o direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: 
 a) ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, 
ressalvadas as restrições legais; 
 b) opinião e expressão; 
 c) crença e culto religioso; 
 d) brincar, praticar esportes e divertir-se; 
 e) participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; 
 f) participar da vida política, na forma da lei; 
 g) buscar refúgio, auxílio e orientação. 
 O direito ao respeito, segundo definição legal (art. 17 do ECA), 
consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança 
e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da 
autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos 
pessoais. 
 E consoante previsão do artigo 18 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, é dever de todos velar pela dignidade da criança e do 
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, 
aterrorizante, vexatório ou constrangedor. 
 
 
2.3 Direito à convivência familiar e comunitária 
 
 Toda criança e adolescente tem direito a uma sadia convivência no 
núcleo familiar e também comunitário. Toda criança ou adolescente tem 
direito a ser criado e educado no seio da sua família e, apenas 
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e 
comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de 
substâncias entorpecentes. 
 A Lei n.º 12.010/2009 inclui três parágrafos ao artigo 19 do Estatuto 
da Criança e do Adolescente. 
 Segundo o parágrafo primeiro, toda criança ou adolescente que 
estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional deve 
ter sua situação reavaliada, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade 
judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe 
interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela 
possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta, em 
quaisquer das modalidades previstas no artigo 28 do Estatuto da Criança e 
do Adolescente. 
 Já o parágrafo segundo do artigo 19 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente dispõe que a permanência da criança e do adolescente em 
programa de acolhimento institucional não deve se prolongar por mais de 2 
(dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior 
interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária. 
 E o parágrafo terceiro do mencionado dispositivo salienta que a 
manutenção ou a reintegração de criança ou adolescente na sua própria 
família deve ser medida preferencial em relação a qualquer outra 
 
16 
providência, caso em que esta deverá ser incluída em programas de 
orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do artigo 23, dos incisos 
I e IV do caput do artigo 101 e dos incisos I a IV do caput do artigo 129 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Em reprodução ao mandamento constitucional, o artigo 20 do Estatuto 
da Criança e do Adolescente estipula que os filhos, havidos ou não da 
relação do casamento, ou por adoção, tem os mesmos direitos e 
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à 
filiação. 
 Se anteriormente falava-se em pátrio poder, hoje fala-se em poder 
familiar. O homem não detém mais a soberania familiar, a qual deve ser 
exercida por ambos os pais no melhor interesse dos filhos. Nesse contexto, 
a Lei n.º 12.010/2009 substituiu todos os dispositivos do Estatuto da Criança 
e do Adolescente que utilizavam a expressão “pátrio poder” por “poder 
familiar”. 
 Dessa forma, o poder familiar deve ser exercido, em igualdade de 
condições, pelo pai e pela mãe, na forma da legislação civil, assegurando-se 
a qualquer deleso direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade 
judiciária competente para solução da divergência. 
 É dever dos pais prover o sustendo, guarda e educação dos filhos 
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e 
fazer cumprir as determinações judiciais (art. 22 do ECA). 
 O artigo 23 do Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta 
importante disposição, especialmente para concursos públicos. Segundo ele, 
a mera falta ou carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente 
para a perda ou suspensão do poder familiar. Assim, não existindo outro 
motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o 
adolescente devem ser mantido em sua família de origem, a qual deverá 
obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio. 
 A determinação contida no artigo 23 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, além de extremamente moralizadora, é efetivamente inclusiva. 
O poder público, por meio da regra legal esculpida no artigo em análise, 
assume o seu dever constitucionalmente determinado, de conferir absoluta 
prioridade às crianças e adolescentes, dispensando-lhes ampla proteção. 
Dessa forma, caso uma criança ou adolescente esteja em um núcleo familiar 
com dificuldades financeiras, não tem o poder público legitimidade para 
meramente retirá-la daquele núcleo e incluí-la em outro com melhores 
condições. Nessas situações, o Estado tem o dever de prestar auxílio a esse 
núcleo familiar, mantendo a criança ou adolescente no seu núcleo familiar de 
origem. 
 A perda e a suspensão do poder familiar somente podem ser 
decretadas judicialmente, em procedimento no qual se assegure o exercício 
do contraditório e da ampla defesa. A perda e a suspensão do poder familiar 
pode ocorrer: 
 a) em todos os casos previstos na legislação civil; 
 b) na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e 
obrigações a que alude o artigo 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente, 
quais sejam, o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, 
 
17 
além de, observado o interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer 
cumprir as determinações judiciais. 
 No último caso, o descumprimento dos deveres inerentes ao poder 
familiar também acarreta a infração administrativa descrita no artigo 249 do 
Estatuto em estudo, que sujeita o infrator a uma pena de multa, variável 
entre 3 (três) e vinte salários de referência, podendo ser aplicada em dobro 
no caso de reincidência. 
 
 
2.3.1 Família natural 
 
 Família natural, segundo definição legal (art. 25, caput, do ECA) é a 
comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. 
 Por sua vez, entende-se por família extensa ou ampliada aquela que 
se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, 
formada também por parentes próximos com os quais a criança ou 
adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (art. 25, 
parágrafo único, do ECA). A família extensa é, pois, uma espécie de família 
natural. 
 Os filhos havidos fora do casamento podem ser reconhecidos pelos 
pais, de modo conjunto ou separado, no próprio termo de nascimento, por 
testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que 
seja a origem da filiação (art. 26 do ECA). 
 O reconhecimento do filho pode preceder o nascimento, assim como 
pode suceder ao falecimento, caso existam descendentes. 
 Prevê o artigo 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que o 
reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e 
imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem 
qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. 
 
 
2.3.2 Família substituta 
 
 Família substituta é aquela em que a criança ou adolescente é posto 
em virtude da impossibilidade, de qualquer natureza, de ser mantido em seu 
núcleo familiar original. A colocação em família substituta far-se-á mediante 
guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança 
ou adolescente, consoante estipula o Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 A família substituta deve ser dada à criança ou adolescente apenas 
em casos excepcionais. Como já se teve oportunidade de afirmar, é dever 
do Estado empenhar-se para a manutenção do núcleo familiar original, 
adotando políticas direcionadas a esse objetivo. No entanto, como se sabe, 
em diversas situações torna-se impossível manter a criança ou adolescente 
em sua família original, de modo que a sua alocação em família substituta 
torna-se necessária. 
 Sempre que possível, a criança ou o adolescente deve ser 
previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de 
desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida, 
devendo ter sua opinião devidamente considerada (art. 28, §1º do ECA). 
 
18 
 No caso de adolescente, isto é, maior de 12 (doze) anos, é necessário 
seu consentimento, que deve ser colhido em audiência, só com o que 
poderá integrar um núcleo familiar substituto. 
 Para a apreciação do pedido de colocação da criança ou adolescente 
em família substituta, deve se levar em conta o grau de parentesco e a 
relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as 
consequências decorrentes da medida (art. 28, §3º do ECA). 
 Segundo redação do parágrafo quarto do artigo 28 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, incluído pela Lei n.º 12.010/2009 , os grupos de 
irmãos devem ser colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família 
substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra 
situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, 
procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos laços 
fraternais. 
 A todo momento, constata-se que o objetivo do legislador foi manter a 
criança ou adolescente em seu núcleo familiar original, admitindo apenas 
excepcionalmente a mitigação dessa regra, e, ainda quando isso ocorra, 
determinou-se que em todos os casos tente-se ao máximo manter, ainda 
que de forma reduzida, os laços fraternais. 
 A colocação da criança ou adolescente deve ser precedida de sua 
preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados por equipe 
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, 
preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da 
política municipal de garantia do direito à convivência familiar (art. 28, §5º do 
ECA). 
 E também conforme alteração promovida pela Lei n.º 12.010/2009, 
que acresceu o parágrafo sexto ao artigo 28 do Código de Ética e Disciplina, 
em se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de 
comunidade remanescente de quilombo, é ainda obrigatório: 
 a) que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e 
cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas instituições, desde 
que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais reconhecidos 
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Constituição Federal; 
 b) que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua 
comunidade ou junto a membros da mesma etnia; 
 c) a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal 
responsável pela política indigenista, no caso de crianças e adolescentes 
indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofissional ou 
multidisciplinar que irá acompanhar o caso. 
 Não se deve deferir a colocação em família substituta de pessoa que 
revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou 
que não ofereça ambiente familiar adequado, conforme estipula o artigo 29 
do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 A colocação em família substituta não admite a transferência da 
criança ou adolescente a terceiros, nem a entidades governamentais ou não-
governamentais, sem expressa autorização judicial (art. 30 do ECA). 
 
19 
 A colocação emfamília substituta estrangeira, segundo o artigo 31 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, é medida excepcional, admissível 
apenas na modalidade adoção. 
 
2.3.2.1 Guarda 
 
 A guarda, via de regra, destina-se a regularizar a posse de fato de 
criança ou adolescente, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, 
nos procedimentos de tutela e adoção, mas não poderá ser deferida no de 
adoção por estrangeiros. 
 A guarda é procedimento de natureza precária, que pode ser 
revogado a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido 
sempre o Ministério Público (art. 35 do ECA). 
 De modo excepcional, pode a guarda ser deferida fora dos casos de 
tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou para suprir a falta 
eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de 
representação para a prática de determinados atos (art. 33, §2º do ECA). 
 Nesse sentido, veja-se pertinente informativo do Superior Tribunal de 
Justiça: 
Informativo nº 0407 
Período: 14 a 18 de setembro de 2009. 
Quarta Turma 
GUARDA. MENOR. AVÓS. INTERESSE. CRIANÇA. 
Cuida-se de guarda pleiteada pelos avós para 
regularização de situação de fato consolidada desde o 
nascimento do infante (16/1/1991), situação qualificada 
pela assistência material e afetiva prestada por eles, 
como se pais fossem. Assim, conforme delineado no 
acórdão recorrido, verifica-se uma convivência entre os 
autores e o menor perfeitamente apta a assegurar seu 
bem-estar físico e espiritual, não havendo, por outro 
lado, nenhum empecilho ao seu pleno desenvolvimento 
psicológico e social. Em tais casos, não se tratando de 
“guarda previdenciária”, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente deve ser aplicado, tendo em vista mais os 
princípios protetivos dos interesses da criança, 
notadamente porque o art. 33 está localizado em seção 
intitulada “Da Família Substituta” e, diante da expansão 
conceitual que hoje se opera sobre o termo “família”, 
não se pode afirmar que, no caso, há, 
verdadeiramente, uma substituição familiar. O que deve 
balizar o conceito de “família” é, sobretudo, o princípio 
da afetividade, que fundamenta o direito de família na 
estabilidade das relações socioafetivas e na comunhão 
de vida, com primazia sobre as considerações de 
caráter patrimonial ou biológico. Isso posto, a Turma 
não conheceu do recurso do Ministério Público. 
Precedentes citados: REsp 469.914-RS, DJ 5/5/2003, e 
 
20 
REsp 993.458-MA, DJe 23/20/2008. REsp 945.283-RN, 
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/9/2009. 
 Portanto, a guarda pode ser concedida: 
 a) nos procedimentos de tutela; 
 b) nos procedimentos de adoção, exceto por estrangeiros; 
 c) para atender a situações peculiares ou para suprir a falta eventual 
dos pais ou responsável (situações em que a guarda possui termos mais 
restritos). 
 Em qualquer caso, a guarda obriga a prestação de assistência 
material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo ao seu 
detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais (art. 33, caput, do 
ECA). 
 A guarda confere à criança ou adolescente a condição de 
dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários 
(art. 33, §3º do ECA). 
 Conforme dispõe o parágrafo quarto do artigo 33 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, incluído pela Lei n.º 12.010/2009, salvo expressa 
e fundamentada determinação em sentido oposto, da autoridade judiciária 
competente, ou quando a medida for aplicada em preparação para adoção, 
o deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o 
exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar 
alimentos, que devem ser objeto de regulamentação específica, a pedido do 
interessado ou do Ministério Público. 
 É dever do poder público estimular, por meio de assistência jurídica, 
incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma de guarda, de 
criança ou adolescente afastado do convívio familiar (art. 34, caput, do 
ECA). Nesse contexto, deve ser dada preferência ao acolhimento familiar em 
detrimento do institucional, observando-se, em qualquer caso, o caráter 
temporário e excepcional da medida. A pessoa ou casal que, nesses casos, 
receber a criança ou adolescente mediante guarda, deve estar cadastrada 
em programa de acolhimento familiar, observados os artigos 28 a 33 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente (disposições gerais acerca da família 
substituta). 
 
 
2.3.2.2 Tutela 
 
 A tutela é o procedimento passível de deferimento à pessoa de até 18 
(dezoito) anos incompletos (art. 36, caput, do ECA). Para que se fale em 
tutela, há que se falar em prévia decretação da perda ou suspensão do 
poder familiar. A tutela implica, necessariamente, o dever de guarda (art. 36, 
parágrafo único, do ECA). 
 A tutela se assemelha ao poder familiar, mas com restrições. Exerce-
se a tutela mediante inspeção judicial. 
 
 
 
 
21 
2.3.2.3 Adoção 
 
 A disciplina legal da adoção deixou de ser objeto do Código Civil após 
o início da vigência da lei n.º 12.010/2009, tanto que do capítulo destinado à 
adoção, restaram apenas dois dispositivos. O artigo 1.618 do Código Civil 
dispõe que a adoção de crianças e adolescentes será deferida na forma 
prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Já o artigo 1.619 
estipula que a adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá de 
assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, 
no que couber, as regras do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Conforme já se teve a oportunidade de mencionar, sempre que 
possível, a criança ou o adolescente deve ser previamente ouvido por 
equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau 
de compreensão sobre as implicações da adoção, devendo ter sua opinião 
devidamente considerada. E na hipótese de maior de 12 (doze) anos de 
idade, é necessário seu consentimento, que deve ser colhido em audiência. 
 Os grupos de irmãos devem ser colocados sob adoção da mesma 
família substituta, exceto se houver comprovado risco de abuso ou de outra 
situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, 
procurando-se, a todo momento, evitar o rompimento dos vínculos fraternais. 
 A colocação de uma a criança ou adolescente em família substituta 
deve ser precedida de preparação gradativa e acompanhamento posterior, 
realizados por equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da 
Juventude. 
 A adoção é uma medida excepcional, de caráter irrevogável, à qual se 
deve recorrer apenas quando esgotados todos os recursos para a 
manutenção da criança ou do adolescente na família natural ou extensa. Há 
que se lembrar, pois, que a família extensa é uma espécie da família natural, 
formada pelo convívio da criança ou adolescente com parentes próximos, 
com os quais são mantidos laços de afinidade e afetividade. 
 É expressamente vedada a adoção por procuração, conforme 
determina o parágrafo segundo do artigo 39 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 O direito de adotar é conferido ao maior de 18 (dezoito) anos de 
idade, independentemente do estado civil. Se a adoção for conjunta, é 
indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou que 
mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família. 
 Admite-se a adoção conjunta realizada por divorciados, por separados 
judicialmente ou por ex-companheiros, desde que eles estejam de acordo 
sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência 
tenha sido iniciado na constância do período de convivência, além de 
comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele 
não detentor da guarda, de modo a justificar a excepcionalidade da 
concessão. Neste caso, uma vez provado o benefício ao adotando, 
assegura-se a guarda compartilhada. Há que se lembrar, pois, que em se 
tratando decrianças e adolescentes vige o princípio do melhor interesse do 
menor, o qual fundamenta a excepcionalidade dessas medidas. 
 Os ascendentes e os irmãos da criança ou do adolescente não podem 
adotá-lo, haja vista o vínculo de parentesco já existente entre eles. 
 
22 
 Exige-se que o adotante seja, ao menos, 16 (dezesseis) anos mais 
velho que o adotando. E, ainda, que o adotando conte com, no máximo, 18 
(dezoito) anos de idade à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou 
tutela dos adotantes. 
 A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos 
direitos e deveres dos demais filhos, inclusive sucessórios, e tem o condão 
de desligá-lo de qualquer vínculo com pais e parentes biológicos, exceto 
quanto aos impedimentos matrimoniais (art. 41, caput, do ECA). 
 Nos termos do parágrafo segundo do artigo 41 do Estatuto da Criança 
e do Adolescente, é recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus 
descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até 
o 4º (quarto) grau, observada a ordem de vocação hereditária. 
 Para que possa ser deferida, a adoção deve apresentar reais 
vantagens para o adotando e deve ser fundada em motivos legítimos. 
 Em se tratando da adoção do tutelado ou curatelado, por seu tutor ou 
curador, há que se lembrar que ela só se viabiliza a partir do momento em 
que os últimos prestarem contas de sua administração e saldarem todo o 
necessário. 
 A adoção é ato que depende do consentimento dos pais ou do 
representante legal do adotando. Entretanto, dispensa-se esse 
consentimento se os pais da criança ou do adolescente forem 
desconhecidos ou tiverem sido destituídos do poder familiar. E, lembrando-
se, em se tratando de adotando maior de 12 (doze) anos de idade, exige-se 
seu consentimento, que deve ser colhido em audiência. 
 
 
2.3.2.3.1 Procedimento para adoção 
 
 Incumbe a autoridade judiciária manter, em cada comarca ou foro 
regional: 
 a) um registro de crianças e adolescentes em condições de serem 
adotados; e 
 b) um registro de pessoas interessadas na adoção. 
 O deferimento da inscrição dar-se-á mediante prévia consulta aos 
órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério Público. 
 Não será deferida a inscrição de família que revele incompatibilidade 
com a adoção ou que não ofereça um ambiente familiar adequado. 
 A inscrição dos postulantes à adoção deve ser precedida de um 
período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica 
da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos 
técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do 
direito à convivência familiar. 
 Sempre que possível, esse período de preparação deve incluir o 
contato com crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou 
institucional, em condições de serem adotados, a ser realizado sob 
orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância 
e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da 
política municipal de garantia do direito à convivência familiar. 
 
23 
 Deverá haver, nos termos do parágrafo quinto do artigo 50 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, a criação e implementação de 
cadastros estudais e nacional de crianças e adolescentes em condições de 
serem adotados, bem como de pessoas ou casais habilitados à adoção. 
 Os cadastros para pessoas ou casais residentes fora do país devem 
ser diferentes, e consultados somente na inexistência de postulantes 
nacionais habilitados. 
 É dever da autoridade judiciária providenciar, no prazo de 48 
(quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes em 
condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar na 
comarca de origem, e das pessoas ou casais que tiveram deferida sua 
habilitação à adoção, nos cadastros estadual e nacional, sob pena de 
responsabilidade. 
 A manutenção e alimentação dos cadastros estaduais e nacional 
compete à Autoridade Central Estadual e à Autoridade Central Federal 
Brasileira, respectivamente. Já a fiscalização desses cadastros e das 
convocações aos postulantes à adoção será realizada pelo Ministério 
Público. 
 Enquanto não encontrado pessoa ou casal interessado em sua 
adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível, deve ser mantido 
sob a guarda de família cadastrada em programa de acolhimento familiar. 
 Embora faça-se necessário a inserção prévia em cadastro, para 
apenas então deferir-se a adoção, o Estatuto da Criança e do Adolescente 
estipulou algumas exceções. Assim, poderá ser deferida adoção em favor de 
candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente quando: 
 a) se tratar de pedido de adoção unilateral; 
 b) for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente 
mantenha vínculos de afinidade e afetividade; 
 c) for oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de 
criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo 
de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e 
não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer dos crimes previstos 
nos artigos 237 (subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem 
sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação 
em lar substituto) ou 238 (prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a 
terceiro, mediante paga ou recompensa), ambos do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 A adoção deve, ainda, ser precedida de estágio de convivência com a 
criança ou o adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, 
observadas as peculiaridades do caso (art. 46, caput, do ECA). 
 Esse estágio de convivência pode ser dispensado se o adotando já 
estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente 
para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo 
familiar (art. 46, §1º do ECA). 
 Conforme previsão do parágrafo segundo do artigo 46 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, a simples guarda de fato não autoriza, por si só, a 
dispensa da realização do estágio de convivência. 
 
24 
 Na hipótese de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado 
fora do país, o estágio de convivência deve ser cumprido, obrigatoriamente, 
em território nacional e não pode ser inferior a 30 (trinta) dias. 
 O estágio de convivência deve ser acompanhado por equipe 
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, 
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da 
política de garantia do direito à convivência familiar, que tem o dever de 
apresentar relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da 
medida (art. 46, §4º do ECA). 
 Ultrapassadas todas as etapas, o vínculo da adoção constitui-se por 
sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do 
qual não se fornecerá certidão. Essa inscrição consignará o nome dos 
adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes. 
 O mandado judicial que determina a inscrição no registro civil, que 
será arquivado, tem o condão de cancelar o registro original do adotado, 
consoante prevê o parágrafo segundo do artigo 47 do Estatuto da Criança e 
do Adolescente. 
 No novo registro, nenhuma observação sobre a origem do adotado 
poderá constar nas certidões do registro (art. 47, §4º do ECA). 
 A sentença conferirá, ainda, o nome do adotante ao adotado e, a 
pedido de qualquer deles, poderá determinar a alteração do prenome, caso 
em que é obrigatória a oitiva do adotando. Também a pedido do adotante, o 
novo registro poderá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município 
de sua residência. 
 A eficácia da sentença de adoção é ex nunc, e sua natureza jurídica é 
constitutiva, mas há uma importante exceção, pois caso o adotante morra no 
curso do procedimento de adoção e antes de prolatada a sentença, a 
adoção poderá ainda assim ser deferida,caso em que sua sentença terá 
eficácia retroativa (ex tunc), a partir da data do óbito do adotante. A 
finalidade da exceção é conferir ao adotado acesso à herança do falecido, já 
que esta se transmite no exato momento da morte (princípio da saisine). 
 Findo o processo de adoção, este deve ser mantido em arquivo, 
podendo ser consultado a qualquer tempo, nos termos em que orienta o 
parágrafo oitavo do artigo 47 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Ao adotado é dado o direito de conhecer sua origem biológica, bem 
como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e 
seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos. 
Excepcionalmente, também se admite que o menor de 18 (dezoito) anos 
tenha acesso ao processo de adoção, a seu pedido, caso em que deve à ele 
ser assegurada assistência jurídica e psicológica. 
 Por derradeiro, há que se salientar que a morte dos adotantes não 
restabelece o poder familiar aos pais biológicos (ou naturais), conforme 
estipula o artigo 49 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
 Considera-se adoção internacional aquela na qual a pessoa ou o 
casal postulante é residente ou domiciliado fora do brasil, nos termos do 
artigo 51 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
25 
 Como se sabe, a adoção internacional é medida excepcional. 
Ademais, só terá lugar a adoção internacional de criança ou adolescente 
brasileiro ou domiciliado no Brasil quanto restar comprovado: 
 a) que a colocação em família substituta é a solução adequada ao 
caso concreto; 
 b) que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da 
criança ou adolescente em família substituta brasileira, após consulta aos 
cadastros estaduais e cadastro nacional; 
 c) que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi consultado, 
por meios adequados ao seu estágio de desenvolvimento, e que se encontra 
preparado para a medida, mediante parecer elaborado por equipe 
interprofissional, após oitiva da criança ou adolescente menor de 12 (doze) 
anos, quando possível, e mediante consentimento, colhido em audiência, no 
caso de maior de 12 (doze) anos. 
 Os brasileiros residentes no exterior possuem preferência aos 
estrangeiros nos casos de adoção internacional de criança ou adolescente 
brasileiro (art. 51 §2º do ECA). 
 A adoção internacional pressupõe a intervenção das Autoridades 
Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção internacional (art. 51, 
§3º do ECA). 
 Além das regras gerais quanto à colocação da criança ou do 
adolescente em família substituta, a adoção internacional deve ser realizada 
de acordo com as seguintes adaptações: 
 a) a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança ou 
adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação à adoção 
perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no país de 
acolhida, assim entendido aquele onde está situada sua residência habitual; 
 b) se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os 
solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um relatório que 
contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e 
adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e 
médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para 
assumir uma adoção internacional; 
 c) a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório à 
Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal 
Brasileira; 
 d) o relatório será instruído com toda a documentação necessária, 
incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe interprofissional 
habilitada e cópia autenticada da legislação pertinente, acompanhada da 
respectiva prova de vigência; 
 e) os documentos em língua estrangeira serão devidamente 
autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e 
convenções internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por 
tradutor público juramentado; 
 
26 
 f) a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e solicitar 
complementação sobre o estudo psicossocial do postulante estrangeiro à 
adoção, já realizado no país de acolhida; 
 g) verificada, após estudo realizado pela Autoridade Central Estadual, 
a compatibilidade da legislação estrangeira com a nacional, além do 
preenchimento por parte dos postulantes à medida dos requisitos objetivos e 
subjetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe o 
Estatuto da Criança e do Adolescente como da legislação do país de 
acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção internacional, que 
terá validade por, no máximo, 1 (um) ano; 
 h) de posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a 
formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do 
local em que se encontra a criança ou adolescente, conforme indicação 
efetuada pela Autoridade Central Estadual. 
 Caso a legislação do país de acolhida autorize, admite-se que os 
pedidos de habilitação para adoção internacional sejam intermediados por 
organismos credenciados (art. 52, §1º do ECA). 
 À Autoridade Central Federal Brasileira incumbe o credenciamento de 
organismos nacionais e estrangeiros encarregados de intermediar pedidos 
de habilitação à adoção internacional, com posterior comunicação às 
Autoridades Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de imprensa 
e em site próprio para esta finalidade, conforme previsão contida no 
parágrafo segundo do artigo 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 E nos termos do parágrafo terceiro do mesmo artigo 52, só será 
admissível o credenciamentos de organismos que: 
 a) sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de Haia e 
estejam devidamente credenciados pela Autoridade Central do país onde 
estiverem sediados e no país de acolhida do adotando para atuar em 
adoção internacional no Brasil; 
 b) satisfizerem as condições de integridade moral, competência 
profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelos países 
respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira; 
 c) forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e 
experiência para atuar na área de adoção internacional; 
 d) cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento jurídico 
brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade Central Federal 
Brasileira. 
 E, os organismos internacionais deverão ainda (art. 52, §4º do ECA): 
 a) perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro 
dos limites fixados pelas autoridades competentes do país onde estiverem 
sediados, do país de acolhida e pela Autoridade Central Federal Brasileira; 
 b) ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de 
reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou experiência 
para atuar na área de adoção internacional, cadastradas pelo Departamento 
 
27 
de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, 
mediante publicação de portaria do órgão federal competente; 
 c) estar submetidos à supervisão das autoridades competentes do 
país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive quanto à sua 
composição, funcionamento e situação financeira; 
 d) apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada ano, 
relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como relatório de 
acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no período, cuja 
cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia Federal, sob pena de 
suspensão de seu credenciamento; 
 e) enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade Central 
Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira, pelo 
período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório será mantido até a 
juntada de cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do 
país de acolhida para o adotado; 
 f) tomar as medidas necessárias para garantirque os adotantes 
encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira cópia da certidão de 
registro de nascimento estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo 
lhes sejam concedidos. 
 O credenciamento de organismo nacional ou estrangeiro encarregado 
de intermediar pedidos de adoção internacional tem validade de 2 (dois) 
anos, e poderá ser renovado mediante requerimento perante a Autoridade 
Central Federal Brasileira, observado o prazo de 60 (sessenta) dias 
anteriores ao término do respectivo prazo de validade, conforme orientam os 
parágrafos sexto e sétimo do artigo 52 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 É importante destacar que não será permitida a saída da criança ou 
do adolescente adotando antes de transitada em julgada a decisão que 
concedeu a adoção internacional (art. 52, §8º do ECA). 
 Transitada em julgado a decisão que concede a adoção, a autoridade 
judiciária deve determinar a expedição de alvará com autorização de 
viagem, bem como para obtenção de passaporte, devendo constar, 
obrigatoriamente, as características da criança ou adolescente adotado, 
como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, assim como 
foto recente e a aposição da impressão digital do seu polegar direito, 
instruindo o documento com cópia autenticada da decisão e certidão de 
trânsito em julgado (art. 52, §9º do ECA). A finalidade de todas essas 
exigências é a conferir o máximo de segurança ao procedimento, evitando 
qualquer manobra ilícita envolvendo crianças ou adolescentes, visando 
sempre o melhor interesse das mesmas. 
 A qualquer momento a Autoridade Central Federal Brasileira poderá 
solicitar informações sobre a situação das crianças e adolescentes 
adotados. 
 Prevê o parágrafo onze do artigo 52 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, que é causa de descredenciamento do organismo credenciado, 
a cobrança de valores que sejam considerados abusivos pela Autoridade 
Central Federal Brasileira e que não ostentem a devida comprovação. 
 
28 
 Ademais, a Autoridade Central Federal Brasileira possui autonomia 
para limitar ou suspender a concessão de novos credenciamentos sempre 
que julgar necessário, mediante ato administrativo fundamentado (art. 52, 
§15 do ECA). 
 Admite-se que uma mesma pessoa ou seu cônjuge sejam 
representados por mais de uma entidade credenciada, com objetivo de 
cooperação na adoção internacional. A habilitação de postulante estrangeiro 
ou domiciliado fora do brasil tem validade máxima de 1 (um) ano, passível 
de renovação. 
 Veda-se, no entanto, o contato direto entre representantes de 
organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, e dirigentes de programas 
de acolhimento institucional ou familiar, assim como com crianças e 
adolescentes em condições de serem adotados, sem a devida autorização 
judicial (art. 52, §14 do ECA). 
 Sob pena de responsabilidade e descredenciamento, é vedado o 
repasse de recursos provenientes de organismos estrangeiros encarregados 
de intermediar pedidos de adoção internacional a organismos nacionais ou a 
pessoas físicas (art. 52-A, ECA). 
 Eventuais repasses somente poderão ser efetuados via Fundo dos 
Direitos da Criança e do Adolescente e estarão sujeitos às deliberações do 
respectivo Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente (art. 52-A, 
parágrafo único, do ECA). 
 Há ainda que se mencionar, que nas adoções internacionais, quando 
o Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país 
de origem da criança ou do adolescente deverá ser conhecida pela 
Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de habilitação 
dos pais adotivos, que deve então comunicar o fato à Autoridade Central 
Federal e determinar as providências necessárias à expedição do Certificado 
de Naturalização Provisório (art. 52-C, ECA). Nesse caso, a Autoridade 
Central Estadual, após manifestação do Ministério Público, somente deve 
deixar de reconhecer os efeitos daquela decisão se ficar demonstrado: 
 a) que a adoção é manifestamente contrária à ordem pública; 
 b) que não atende ao interesse superior da criança ou adolescente. 
 E no caso de não reconhecimento da adoção, o Ministério Público 
deverá imediatamente requerer o que for de direito para resguardar os 
interesses da criança ou adolescente, dando comunicação das providência 
adotadas à Autoridade Central Estadual, que deve comunicar a Autoridade 
Central Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de origem (art. 52-
C, §2º do ECA). 
 Por derradeiro, prevê o artigo 52-D do Estatuto da Criança e do 
Adolescente que nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de 
acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de origem porque a sua 
legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo 
com decisão, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha 
aderido à Convenção de Haia Relativa a Proteção das Crianças e a 
Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, o processo de adoção 
deverá seguir as regras da adoção nacional. 
 
 
29 
2.4 Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer 
 
 A educação é o melhor meio para o desenvolvimento das pessoas. 
Assegurar às crianças e adolescentes uma educação de qualidade é o 
mesmo que assegurar-lhes potenciais condições para uma futura vida digna. 
Em sentido oposto, manter crianças e adolescentes longe do caminho da 
educação é fechar-lhes as portas das oportunidades, e, com isso, minorar-
lhes as possibilidades de pleno desenvolvimento. 
 Nesse sentido, prevê o artigo 53 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, que crianças e adolescentes tem direito à educação, visando 
ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da 
cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: 
 a) igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
 b) direito de ser respeitado por seus educadores; 
 c) direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às 
instâncias escolares superiores; 
 d) direito de organização e participação em entidades estudantis; 
 e) acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. 
 Neste último caso, note-se que não há uma determinação, mas sim a 
previsão de um benefício ao menor. Dessa forma, as finalidades do direito à 
educação não podem ser deixadas de lado. Nesse sentido, veja-se 
interessante manifestação do Superior Tribunal de Justiça: 
Informativo nº 0443 
Período: 16 a 20 de agosto de 2010. 
Segunda Turma 
MATRÍCULA. ESCOLA PÚBLICA. 
GEORREFERENCIAMENTO. 
A Turma negou provimento ao recurso especial para 
manter a decisão do tribunal a quo, a qual afastou o 
critério de georreferenciamento e garantiu o direito de 
rematrícula da recorrida no estabelecimento público de 
ensino em que havia concluído o ano letivo. Segundo a 
Min. Relatora, a regra disposta no art. 53, V, do ECA, 
que garante à criança e ao adolescente o acesso à 
escola pública e gratuita próxima de sua residência, 
não constitui imposição, mas benefício. O referido 
dispositivo deve ser interpretado de acordo com as 
peculiaridades de cada caso, ponderando-se qual a 
solução mais favorável ao aluno: a proximidade da 
instituição ou a continuidade em escola mais distante, 
onde o menor, porém, já esteja ambientado. 
Ressalvou-se que tal concepção não tem o intuito de 
fazer que o estudante escolha livremente o local em 
que queira estudar, o que poderia inviabilizar a 
prestação do serviço. Pretende-se, de acordo com as 
circunstâncias da demanda ora em exame, buscar o 
 
30 
entendimento que melhor se ajuste à real finalidade da 
lei, qual seja, facilitar o acesso à educação e, com isso, 
garantir o pleno desenvolvimento da criança. REsp 
1.194.905-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 
17/8/2010. (sem grifos no original) 
 Para melhor integração do sistema educacional, o parágrafo único do 
artigo53 do Estatuto da Criança e do Adolescente, por bem reconheceu aos 
pais ou responsáveis o direito de terem ciência do processo pedagógico, 
assim como de participar da definição das propostas educacionais. 
 Segundo o artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é 
dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: 
 a) ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a 
ele não tiveram acesso na idade própria; 
 b) progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino 
médio; 
 c) atendimento educacional especializado aos portadores de 
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; 
 d) atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 (zero) a 6 
(seis) anos de idade; 
 e) acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da 
criação artística, segundo a capacidade de cada um; 
 f) oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do 
adolescente trabalhador; 
 g) atendimento no ensino fundamental, através de programas 
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e 
assistência à saúde. 
 O acesso ao ensino obrigatório e gratuito configura um direito público 
subjetivo, uma vez que efetiva a ampla proteção que deve ser destinada à 
criança e ao adolescente. 
 Como direito público subjetivo, o não oferecimento do ensino público 
obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa 
responsabilidade da autoridade competente (art. 54, §2º do ECA). 
 Enquanto o poder público tem o dever de disponibilizar, os pais ou 
responsável tem o dever de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular 
de ensino. 
 Prevê o artigo 56 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que é 
dever dos dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicar 
ao Conselho Tutelar: 
 a) maus-tratos envolvendo seus alunos; 
 b) reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados 
os recursos escolares; 
 c) elevados níveis de repetência. 
 No primeiro caso, o dirigente de estabelecimento de ensino 
fundamental que deixar de comunicar ao Conselho Tutelar a suspeita ou 
 
31 
confirmação da prática de maus-tratos contra criança ou adolescente incorre 
na infração administrativa descrita no artigo 245 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, que prevê a aplicação de uma pena de multa, variável de 3 
(três) a 20 (vinte) salários de referência, que pode ser aplicada em dobro no 
caso de reincidência. 
 Por fim, cumpre mencionar que também é dever do poder público 
estimular pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário, 
seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção 
de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório (art. 
57 do ECA). 
 
 
2.5 Direito à profissionalização e à proteção no trabalho 
 
 O trabalho é extremamente importante para o desenvolvimento da 
pessoa humana. Contudo, em relação as crianças e adolescentes deve-se 
estar atento para que ele não implique no contrário. 
 Nesse contexto, é vedado aos menores de 18 (dezoito) anos o 
exercício de trabalho noturno, perigoso ou insalubre e de qualquer tipo de 
trabalho aos menores de 16 (dezesseis) anos, salvo na condição de 
aprendiz, a partir dos 14 (quatorze) anos. 
 O trabalho realizado sob a modalidade de aprendizagem consiste 
numa formação técnico-profissional, que deve ser ministrada segundo as 
diretrizes e bases da legislação educacional em vigor. 
 Assim, essa formação técnico-profissional deve obedecer aos 
seguintes princípios: 
 a) garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular; 
 b) atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente; 
 c) horário especial para o exercício das atividades. 
 Ao adolescente aprendiz são assegurados os direitos trabalhistas e 
previdenciários, conforme previsão do artigo 65 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho 
protegido (art. 66 do ECA). 
 Prevê o artigo 67 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que ao 
adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de 
escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, 
é vedado o trabalho: 
 a) noturno, realizado entre as 22 (vinte e duas) horas de um dia e as 5 
(cinco) horas do dia seguinte; 
 b) perigoso, insalubre ou penoso; 
 c) realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu 
desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; 
 d) realizado em horários e locais que não permitam a frequência à 
escola. 
 
32 
 No trabalho como aprendiz, o adolescente deve receber capacitação 
para o exercício de atividade laborativa remunerada, atividade esta que deve 
atender as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e 
social do educando. Portanto, quando o adolescente trabalha sob o 
regime de aprendizado, deve-se conferir privilégio ao seu desenvolvimento 
pessoal e social em detrimento do seu aspecto produtivo. 
 Conforme esclarece o parágrafo segundo do artigo 68 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, a remuneração que o adolescente recebe pelo 
trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu trabalho 
não desfigura o caráter educativo. 
 Por derradeiro, há que se frisar que o adolescente tem direito à 
profissionalização e à proteção no trabalho, observados os seguintes 
aspectos, entre outros (art. 69 do ECA): 
 a) respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento; 
 b) capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho. 
 
 
3. PREVENÇÃO 
 
 É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos 
direitos da criança e do adolescente (art. 70 do ECA). O dever de prevenção 
é, pois, instrumento de consagração do direito de ampla proteção, 
constitucionalmente assegurado às crianças e adolescentes. 
 Além da prevenção, observada como regra geral pelo poder público, 
pela família e pela comunidade, existem regras de prevenção especial, a 
seguir analisadas. 
 A criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, 
esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua 
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento (art. 71 do ECA). 
 Não observadas as normas de prevenção, sejam elas gerais ou 
especiais, a pessoa física ou jurídica deve ser responsabilizada pela sua 
conduta. 
 
 
3.1 Prevenção especial 
3.1.1 Informação, cultura, lazer, esportes, diversões e espetáculos 
 
 Dever especial de prevenção recai sobre a informação, a cultura, o 
lazer, os esportes, diversões e espetáculos direcionados às crianças e 
adolescentes. 
 É dever do poder público, através de órgãos competente, regular as 
diversões e espetáculos públicos, informando a natureza deles, as faixas 
etárias a que não se recomendem e os locais e horários em que sua 
apresentação se mostre inadequada (art. 74, caput, do ECA). 
 E é dever dos responsáveis por diversões e espetáculos públicos 
afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, 
informação destacada sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária 
 
 
33 
especificada no certificado de classificação (art. 74, parágrafo único, do 
ECA). 
 É dado a toda criança o direito de livre acesso às diversões e 
espetáculos públicos classificados como adequados à sua faixa etária (art. 
75, caput, do ECA). Já as crianças menores de 10 (dez) anos somente 
poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou exibição 
quando acompanhadas dos pais ou responsável. 
 Prevê o artigo 76 do Estatuto da Advocacia e da OAB, que as 
emissoras de rádio e televisão somente devem exibir, no horário 
recomendado para o público infanto juvenil, programas com finalidades 
educativas, artísticas, culturais e informativas. Nesse contexto, estipula o 
parágrafo único do mesmo artigo 76, que nenhum espetáculo deve serapresentado ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua 
transmissão, apresentação ou exibição. 
 Segundo regulamentação operada por meio da Portaria n.º 264, de 9 
de fevereiro de 2007, do Ministério da Justiça, o aviso de classificação 
indicativa dos programas deve ser operado por meio dos seguintes 
símbolos: 
 
 
 
34 
 Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de empresas que 
explorem a venda ou aluguel de fitas de programação em vídeo tem o dever 
de cuidar para que não haja venda ou locação em desacordo com a 
classificação atribuída pelo órgão competente (art. 77, caput, do ECA). 
 No caso de revistas e publicações contendo material impróprio ou 
inadequado a crianças e adolescentes, elas devem ser comercializadas em 
embalagem lacrada, acompanhada da advertência sobre seu conteúdo. 
Ademais, consoante determinação do parágrafo único do artigo 78 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever das editoras cuidar para que 
as capas que contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam 
protegidas com embalagem opaca. 
 É vedado que revistas e publicações destinadas ao público infanto-
juvenil contenham ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios 
de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, além de terem o dever de 
respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família. 
 Por fim, é dever dos responsáveis por estabelecimentos que explorem 
comercialmente bilhar, sinuca ou congênere, além de casas de jogos, assim 
entendidas as que realizem apostas, ainda que eventualmente, não permitir 
a entrada e a permanência de crianças e adolescentes no local, afixando 
aviso para orientação do público (art. 80 do ECA). 
 
 
3.1.2 Produtos e serviços 
 
 Para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil, é importante 
memorizar que é proibida a venda à criança ou ao adolescente de: 
 a) armas, munições e explosivos; 
 b) bebidas alcoólicas; 
 c) produtos cujos componentes possam causar dependência física ou 
psíquica ainda que por utilização indevida; 
 d) fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu 
reduzido potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em 
caso de utilização indevida; 
 e) revistas e publicações que contenham material impróprio ou 
inadequado a crianças e adolescentes; 
 f) bilhetes lotéricos e equivalentes. 
 A venda, a entrega e o fornecimento, ainda que gratuito, de qualquer 
forma, a criança ou adolescente de arma, munição ou explosivo é crime, 
consoante tipificação do artigo 242 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Também configura crime, previsto no artigo 243 do Estatuto em 
estudo, vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de 
qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos 
componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por 
utilização indevida. 
 E o artigo 244 do Estatuto da Criança e do Adolescente tipifica a 
conduta daquele que vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, 
de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de estampido ou de 
 
35 
artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes 
de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida. 
 No caso de venda de revistas e publicações que contenham material 
impróprio ou inadequado a criança e adolescentes, a conduta é passível de 
punição, mas não configura crime, e sim a infração administrativa descrita no 
artigo 257 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Ademais, é proibida a hospedagem de criança ou adolescente em 
hotel, motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou 
acompanhado pelos pais ou responsável (art. 82 do ECA). Configura 
infração administrativa, conforme prevê o artigo 250 do Estatuto da Criança 
e do Adolescente, hospedar criança ou adolescente desacompanhado dos 
pais ou responsável, ou sem autorização escrita desses ou da autoridade 
judiciária. 
 
 
3.1.3 Autorização para viajar 
 
 Nenhuma criança pode viajar para fora da comarca onde reside sem a 
companhia dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial. 
 Entretanto, não se exige autorização quando: 
 a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na 
mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana; 
 b) a criança estiver acompanhada: 
i) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, 
comprovado documentalmente o parentesco; 
ii) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou 
responsável. 
 A pedido dos pais, pode a autoridade judiciária conceder autorização 
com validade por até por 2 (dois) anos, consoante autoriza o artigo 83, 
parágrafo segundo, do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Em se tratando de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se 
a criança ou adolescente: 
 a) estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; 
 b) viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente 
pelo outro através de documento com firma reconhecida. 
 Por fim, conforme regra explicitada pelo artigo 85 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, sem prévia e expressa autorização judicial, 
nenhuma criança ou adolescente nascido em território nacional pode sair do 
País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
PARTE ESPECIAL 
 
1. POLÍTICA DE ATENDIMENTO 
 
 A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-
se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-
governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios 
(art. 86 do ECA). 
 São linhas de ação da política de atendimento, conforme dispõe o 
artigo 87 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
 a) políticas sociais básicas; 
 b) políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, 
para aqueles que deles necessitem; 
 c) serviços especiais de prevenção e atendimento médico e 
psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, 
crueldade e opressão; 
 d) serviço de identificação e localização de pais, responsável, 
crianças e adolescentes desaparecidos; 
 e) proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da 
criança e do adolescente. 
 f) políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período 
de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito 
à convivência familiar de crianças e adolescentes; (Incluído pela Lei nº 
12.010, de 2009) Vigência. 
 g) campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de 
crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e à adoção, 
especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com 
necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de 
irmãos. 
 Já as diretrizes da política de atendimento são as seguintes (art. 88 
do ECA): 
 a) municipalização do atendimento; 
 b) criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos 
da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações 
em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária por meio de 
organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; 
 c) criação e manutenção de programas específicos, observada a 
descentralização político-administrativa; 
 d) manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados 
aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente; 
 e) integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, 
Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em 
um mesmo local, para efeito de agilização do atendimento inicial a 
adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional; 
 
37 
 f) integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, 
Defensoria,Conselho Tutelar e encarregados da execução das políticas 
sociais básicas e de assistência social, para efeito de agilização do 
atendimento de crianças e de adolescentes inseridos em programas de 
acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rápida reintegração à 
família de origem ou, se tal solução se mostrar comprovadamente inviável, 
sua colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades 
previstas no art. 28 desta Lei; 
 g) mobilização da opinião pública para a indispensável participação 
dos diversos segmentos da sociedade. 
 A função de membro do conselho nacional e dos conselhos estaduais 
e municipais dos direitos da criança e do adolescente é considerada de 
interesse público relevante e não deve ser remunerada (art. 89 do ECA). 
 
 
1.1 Entidades de atendimento 
 
 As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das 
próprias unidades, assim como pelo planejamento e execução de programas 
de proteção e sócio-educativos destinados a crianças e adolescentes, em 
regime de: 
 a) orientação e apoio sócio-familiar; 
 b) apoio sócio-educativo em meio aberto; 
 c) colocação familiar; 
 d) acolhimento institucional; 
 e) liberdade assistida; 
 f) semi-liberdade; 
 g) internação. 
 Segundo determina o parágrafo primeiro do artigo 90 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, as entidades governamentais e não 
governamentais tem o dever de proceder à inscrição de seus programas, 
especificando os regimes de atendimento, na forma definida no mencionado 
artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o 
qual tem o dever de manter registro das inscrições e de suas alterações, do 
que deve ser feita comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade 
judiciária. 
 Os programas em execução devem ser reavaliados pelo Conselho 
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, no máximo, a cada 2 
(dois) anos, constituindo-se critérios para renovação da autorização de 
funcionamento: 
 a) o efetivo respeito às regras e princípios do Estatuto em estudo, 
bem como às resoluções relativas à modalidade de atendimento prestado 
expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em 
todos os níveis; 
 
38 
 b) a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, atestadas pelo 
Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela Justiça da Infância e da 
Juventude; 
 c) em se tratando de programas de acolhimento institucional ou 
familiar, serão considerados os índices de sucesso na reintegração familiar 
ou de adaptação à família substituta, conforme o caso. 
 E consoante previsão do artigo 91 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, as entidades não-governamentais somente poderão funcionar 
depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do 
Adolescente, o qual deve comunicar o registro ao Conselho Tutelar e à 
autoridade judiciária da respectiva localidade. 
 Conforme previsão legal deve ser negado o registro à entidade que: 
 a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas de 
habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; 
 b) não apresente plano de trabalho compatível com os princípios 
desta Lei; 
 c) esteja irregularmente constituída; 
 d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas. 
 e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e deliberações 
relativas à modalidade de atendimento prestado expedidas pelos Conselhos 
de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os níveis. 
 O registro possui validade máxima de 4 (quatro) anos, cabendo ao 
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, 
periodicamente, reavaliar o cabimento de sua renovação, observando 
sempre as hipóteses de negação de registro supra mencionadas. 
 São princípios que devem ser adotados pelas entidades que 
desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional: 
 a) preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração 
familiar; 
 b) integração em família substituta, quando esgotados os recursos de 
manutenção na família natural ou extensa; 
 c) atendimento personalizado e em pequenos grupos; 
 d) desenvolvimento de atividades em regime de co-educação; 
 e) não desmembramento de grupos de irmãos; 
 f) evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades 
de crianças e adolescentes abrigados; 
 g) participação na vida da comunidade local; 
 h) preparação gradativa para o desligamento; 
 i) participação de pessoas da comunidade no processo educativo. 
 Para todos os efeitos de direito, o dirigente de entidade que 
desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado ao guardião 
(art. 92, §1º do ECA). 
 
39 
 Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas de 
acolhimento familiar ou institucional tem o dever de remeter à autoridade 
judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado acerca 
da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua família, para que 
se possa decidir pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em 
família substituta. 
 É dever dos entes federados, por intermédio dos Poderes Executivo e 
Judiciário, promover conjuntamente a permanente qualificação dos 
profissionais que atuam direta ou indiretamente em programas de 
acolhimento institucional e destinados à colocação familiar de crianças e 
adolescentes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério Público e 
Conselho Tutelar (art. 92, §3º do ECA). 
 E consoante previsão do parágrafo quarto do artigo 92 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, salvo determinação em contrário da autoridade 
judiciária competente, as entidades que desenvolvem programas de 
acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do 
Conselho Tutelar e dos órgãos de assistência social, devem estimular o 
contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes, para 
preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar, 
assim como para a preparação gradativa para o desligamento. 
 As entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou 
institucional só podem receber recursos públicos uma vez comprovado o 
atendimento dos princípios, exigências e finalidades determinadas pelo 
Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 92, §5º do ECA). 
 Caso sejam descumpridas as disposições do Estatuto em estudo pelo 
dirigente de entidade que desenvolva programas de acolhimento familiar ou 
institucional, este deve ser destituído, sem prejuízo da apuração de sua 
responsabilidade administrativa, civil e criminal (art. 92, §6º do ECA). 
 Em caráter excepcional e de urgência, admite-se que entidades que 
mantenham programa de acolhimento institucional acolham crianças e 
adolescentes sem prévia determinação da autoridade competente, devendo, 
nesse caso, comunicar o fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da 
Infância e Juventude, sob pena de responsabilidade. 
 E uma vez recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o 
Ministério Público e se necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, 
deve tomar as medidas necessárias para promoção da imediata 
reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão 
isso não for possível ou recomendável, para seu encaminhamento a 
programa de acolhimento familiar, institucional ou a família substituta, 
observado o disposto no parágrafo segundo do artigo 101 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente (art. 93, parágrafo único do ECA). 
 Prevê o artigo 94 do Estatuto da Criança e do Adolescente que são 
obrigações das entidades que desenvolvem programas de internação, sem 
prejuízo de outras: 
 a) observar os direitos e garantias de que são titulares os 
adolescentes; 
 b) não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição 
na decisão de internação; 
 
40 
 c) oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidadese 
grupos reduzidos; 
 d) preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade 
ao adolescente; 
 e) diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos 
vínculos familiares; 
 f) comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que 
se mostre inviável ou impossível o reatamento dos vínculos familiares; 
 g) oferecer instalações físicas em condições adequadas de 
habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos necessários à 
higiene pessoal; 
 h) oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa 
etária dos adolescentes atendidos; 
 i) oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e 
farmacêuticos; 
 j) propiciar escolarização e profissionalização; 
 k) propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; 
 l) propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo 
com suas crenças; 
 m) proceder a estudo social e pessoal de cada caso; 
 n) reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis 
meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente; 
 o) informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua 
situação processual; 
 p) comunicar às autoridades competentes todos os casos de 
adolescentes portadores de moléstias infecto-contagiosas; 
 q) fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes; 
 r) manter programas destinados ao apoio e acompanhamento de 
egressos; 
 s) providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania 
àqueles que não os tiverem; 
 t) manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias 
do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou responsável, parentes, 
endereços, sexo, idade, acompanhamento da sua formação, relação de seus 
pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a 
individualização do atendimento. 
 No que pertinente, aplicam-se essas mesmas obrigações às 
entidades que mantêm programas de acolhimento institucional e familiar (art. 
94, §1º do ECA). 
 Por fim, em observância ao parágrafo segundo do artigo 94 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, para o cumprimento das obrigações 
supra mencionas, as entidades devem utilizar preferencialmente os recursos 
da comunidade. 
 
 
 
41 
1.1.1 Fiscalização das entidades 
 
 As entidades de atendimento, sejam governamentais ou não 
governamentais, são fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e 
também pelos Conselhos Tutelares. 
 Os planos de aplicação e as prestações de contas devem ser 
apresentados ao Estado ou ao Município, conforme a origem das dotações 
orçamentárias (art. 96 do ECA). 
 Uma vez descumpridas as obrigações do artigo 94 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, são medidas aplicáveis às entidades de 
atendimento, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus 
dirigentes ou prepostos: 
 I - às entidades governamentais: 
 a) advertência; 
 b) afastamento provisório de seus dirigentes; 
 c) afastamento definitivo de seus dirigentes; 
 d) fechamento de unidade ou interdição de programa. 
 II - às entidades não-governamentais: 
 a) advertência; 
 b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas; 
 c) interdição de unidades ou suspensão de programa; 
 d) cassação do registro. 
 No caso de reiteradas infrações cometidas por entidades de 
atendimento, de modo a colocar em risco os direitos que o Estatuto da 
Criança e do Adolescente assegura, tal fato deve ser comunicado ao 
Ministério Público ou representado perante autoridade judiciária competente 
para as providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou 
dissolução da entidade (art. 97, §1º do ECA). 
 Por derradeiro, conforme prevê o parágrafo segundo do artigo 97 do 
Estatuto em estudo, as pessoas jurídicas de direito público e as 
organizações não governamentais responderão pelos danos que seus 
agentes causarem às crianças e aos adolescentes, uma vez caracterizado o 
descumprimento dos princípios norteadores das atividades de proteção 
específica. 
 
 
 
2. MEDIDAS DE PROTEÇÃO 
 
 As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis 
sempre que os direitos reconhecidos no Estatuto da Criança e do 
Adolescente forem ameaçados ou violados: 
 a) por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; 
 b) por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; 
 c) em razão de sua conduta. 
 
42 
 No tópico seguinte analisar-se-ão as medidas específicas de proteção 
à criança e ao adolescente. 
 
 
2.1 Medidas específicas de proteção 
 
 As medidas específicas de proteção podem ser aplicadas de forma 
isolada ou cumulativa, assim como podem ser substituídas a qualquer tempo 
(art. 99 do ECA). O Superior Tribunal de Justiça já emitiu informativo 
pertinente ao presente estudo: 
Informativo nº 0273 
Período: 6 a 10 de fevereiro de 2006. 
Sexta Turma 
ECA. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO. ROUBO. 
O menor praticou ato infracional equiparado a roubo, 
sendo-lhe aplicada medida sócio-educativa de 
semiliberdade e, posteriormente, praticou o ato 
infracional equiparado a furto durante o cumprimento 
da medida imposta. O Juízo do Departamento de 
Execuções da Infância e da Juventude determinou, 
então, a substituição da medida imposta por internação 
de prazo indeterminado, segundo relatórios que a 
recomendavam. Diante disso, a Turma entendeu 
denegar a ordem por ausência de constrangimento 
ilegal, pois o Estatuto da Criança e do Adolescente 
prevê, em seu art. 99, que as medidas impostas podem 
ser substituídas a qualquer tempo, desde que 
necessárias e adequadas. HC 43.511-SP, Rel. Min. 
Hélio Quaglia Barbosa, julgado em 9/2/2006. (sem 
grifos no original) 
 Para a aplicação das medidas de proteção, deve-se levar em conta as 
necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao 
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários (art. 100, caput, do 
ECA). Conforme previsão do parágrafo único do artigo 100 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente são também princípios que regem a aplicação das 
medidas: 
 a) condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: 
crianças e adolescentes são os titulares dos direitos previstos o Estatuto em 
estudo e em outras leis, bem como na Constituição Federal; 
 b) proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e 
qualquer norma contida no Estatuto da Criança e do Adolescente deve ser 
voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e 
adolescentes são titulares; 
 c) responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena 
efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescentes pelo 
Estatuto em estudo e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta 
expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 
 
43 
(três) esferas de governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e 
da possibilidade da execução de programas por entidades não 
governamentais; 
 d) interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve 
atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do 
adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros 
interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no 
caso concreto; 
 e) privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do 
adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem 
e reserva da sua vida privada; 
 f) intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes 
deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida; 
 g) intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida 
exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável 
à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do adolescente; 
 h) proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser anecessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o 
adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada; 
 i) responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de modo 
que os pais assumam os seus deveres para com a criança e o adolescente; 
 j) prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da 
criança e do adolescente deve ser dada prevalência às medidas que os 
mantenham ou reintegrem na sua família natural ou extensa ou, se isto não 
for possível, que promovam a sua integração em família substituta; 
 k) obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, 
respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de compreensão, 
seus pais ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos 
motivos que determinaram a intervenção e da forma como esta se processa; 
 l) oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em 
separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de pessoa por si 
indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e 
a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de 
proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela autoridade 
judiciária competente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de 
compreensão sobre as implicações da medida, e, no caso de maior de 12 
(doze) anos, observando-se a necessidade de seu consentimento ser 
colhido em audiência. 
 Verificada qualquer ameaça ou violação de direitos reconhecidos pelo 
Estatuto da Criança e do Adolescente, seja por ação ou omissão da 
sociedade ou do Estado (art. 98, I do ECA), por falta, omissão ou abuso dos 
pais ou responsável (art. 98, II do ECA), ou em razão de sua própria conduta 
(art. 98, III do ECA), a autoridade competente pode determinar, dentre 
outras, as seguintes medidas: 
 a) encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de 
responsabilidade; 
 
44 
 b) orientação, apoio e acompanhamento temporários; 
 c) matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de 
ensino fundamental; 
 d) inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à 
criança e ao adolescente; 
 e) requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em 
regime hospitalar ou ambulatorial; 
 f) inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e 
tratamento a alcoólatras e toxicômanos; 
 g) acolhimento institucional; 
 h) inclusão em programa de acolhimento familiar; 
 i) colocação em família substituta. 
 Tanto o acolhimento institucional como o familiar são medidas 
provisórias e excepcionais, passíveis de utilização como forma de transição 
para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em 
família substituta, não implicando privação da liberdade (art. 101, §1º do 
ECA). 
 Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de 
vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que alude o art. 
130 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o afastamento da criança ou 
adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade 
judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de 
quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual 
se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da 
ampla defesa (art. 101, §2º do ECA). 
 Consoante determina o parágrafo terceiro do artigo 101 do Estatuto 
da Criança e do Adolescente, crianças e adolescentes só podem ser 
encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento 
institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, 
expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente deve constar, 
dentre outros: 
 a) sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu 
responsável, se conhecidos; 
 b) o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos 
de referência; 
 c) os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob 
sua guarda; 
 d) os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar. 
 Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a 
entidade responsável pelo programa de acolhimento institucional ou familiar 
deve elaborar um plano individual de atendimento, visando à reintegração 
familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em 
contrário de autoridade judiciária competente, caso em que também deverá 
contemplar sua colocação em família substituta, observadas as regras e 
 
45 
princípios estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 101, 
§4º do ECA). 
 O plano individual deve ser elaborado sob a responsabilidade da 
equipe técnica do respectivo programa de atendimento e deve levar em 
consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva dos pais ou 
do responsável (art. 101, §5º do ECA). Dentre outros, devem constar do 
plano individual: 
 a) os resultados da avaliação interdisciplinar; 
 b) os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; 
 c) a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou 
com o adolescente acolhido e seus pais ou responsável, com vista na 
reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e 
fundamentada determinação judicial, as providências a serem tomadas para 
sua colocação em família substituta, sob direta supervisão da autoridade 
judiciária. 
 O acolhimento familiar ou institucional deve ocorrer no local mais 
próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte do processo 
de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família de 
origem deve ser incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de 
promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou 
com o adolescente acolhido (art. 101, §7º do ECA). 
 Uma vez constatada a possibilidade de reintegração familiar, o 
responsável pelo programa de acolhimento familiar ou institucional deve 
fazer imediata comunicação à autoridade judiciária, que deve dar vista ao 
Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo 
(art. 101, §8º do ECA). 
 Caso contrário, em sendo constatada a impossibilidade de 
reintegração da criança ou do adolescente à família de origem, após seu 
encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio 
e promoção social, deverá ser enviado relatório fundamentado ao Ministério 
Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências 
tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade 
ou responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à 
convivência familiar, para a destituição do poder familiar, ou destituição da 
tutela ou guarda (art. 101, §9º do ECA). 
 Recebido o relatório, o Ministério Público tem o prazo de 30 (trinta) 
dias para o ingresso com a ação de destituição do poder familiar, salvo se 
entender necessária a realização de estudos complementares ou outras 
providências que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda (art. 
101, §10 do ECA). 
 É dever da autoridade judiciária manter, em cada comarca ou foro 
regional, um cadastro contendo informações atualizadas sobre as crianças e 
adolescentes em regime de acolhimento familiar e institucional sob sua 
responsabilidade, com informações pormenorizadas sobre a situação 
jurídica de cada um, bem como as providências tomadas para sua 
reintegração familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das 
modalidades previstas no art. 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente 
(art. 101, §11 do ECA). 
 
46 
 O Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da 
Assistência Social e os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do 
Adolescente e da Assistência Social tem acesso ao mencionado cadastro, 
sendo-lhes dever deliberar sobre aimplementação de políticas públicas que 
permitam reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do 
convívio familiar e abreviar o período de permanência em programa de 
acolhimento. 
 Conforme determina o artigo 102 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, as medidas de proteção supra mencionadas devem ser 
acompanhadas da regularização do registro civil. Assim, verificada a 
inexistência de registro anterior, o assento de nascimento da criança ou 
adolescente deverá ser feito à vista dos elementos disponíveis, mediante 
requisição da autoridade judiciária (art. 102, §1º do ECA). 
 Nesses casos, os registros e certidões são isentos de multas, custas 
e emolumentos, além de gozarem de absoluta prioridade, consoante 
determinação legal (art. 102, §2º do ECA). E caso ainda não tenha sido 
definida a paternidade, deverá ser deflagrado procedimento específico 
destinado à sua averiguação, conforme previsão da Lei n.º 8.560/92, 
dispensado o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo 
Ministério Público caso, após o não comparecimento ou a recusa do suposto 
pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada 
para adoção (art. 102, §§3º e 4º do ECA). 
 
 
 
3. PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL 
 
 Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou 
contravenção penal, quando praticada por menor de 18 (dezoito) anos. 
 Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, mas 
sujeitam-se as medidas previstas pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 Conforme dispõe o parágrafo único do artigo 104 do Estatuto em 
estudo, para os efeitos de sua aplicação, deve ser considerada a idade do 
adolescente à data do fato. 
 No caso de ato infracional praticado por criança, devem ser 
observadas as medidas previstas no artigo 101 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, que destina tratamento diferenciado em relação ao 
adolescente. 
 
 
3.1 Direitos individuais 
 
 Nenhum adolescente por ser privado de sua liberdade, salvo 
mediante: 
 a) flagrante de ato infracional; ou 
 b) por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária 
competente. 
 
47 
 O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua 
apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos (art. 106, 
parágrafo único, do ECA). 
 Ocorrida a apreensão de qualquer adolescente, deve haver imediata 
comunicação do fato à autoridade judiciária e à família do apreendido ou à 
pessoa por ele indicada, devendo-se também indicar o local em que ele se 
encontra recolhido. Nesse caso, deve ser examinada, desde logo e sob pena 
de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata do adolescente. 
 Dispõe o artigo 108 do Estatuto da Criança e do Adolescente que a 
internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de 
45 (quarenta) e cinco dias. Nesse caso, a decisão deve ser fundamentada e 
deve basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade, 
demonstrada a necessidade imperiosa da medida (art. 108, parágrafo único, 
do ECA). 
 Por derradeiro, é direito individual do adolescente, uma vez civilmente 
identificado, não ser submetido a identificação compulsória pelos órgãos 
policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, uma vez 
existente dúvida fundada (art. 109 do ECA). 
 
 
3.2 Garantias processuais 
 
 Nenhum adolescente pode ser privado de sua liberdade sem o devido 
processo legal, em consagração da regra constitucionalmente estabelecida 
no artigo 5º, LIV da Constituição Federal de 1988. 
 Entre outras garantias, são asseguradas ao adolescente: 
 a) pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, 
mediante citação ou meio equivalente; 
 b) igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com 
vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa; 
 c) defesa técnica por advogado; 
 d) assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma 
da lei; 
 e) direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente; 
 f) direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em 
qualquer fase do procedimento. 
 
 
3.3 Medidas sócio-educativas 
 
 Constatada a prática de ato infracional, a autoridade competente pode 
aplicar ao adolescente as seguintes medidas: 
 
 
 
 
48 
a) advertência (que pode ser 
aplicada sempre que houver 
prova da materialidade e 
indícios suficientes 
de autoria); 
 b) obrigação de reparar o dano; 
 c) prestação de serviços à 
 comunidade; 
 d) liberdade assistida; 
 e) inserção em regime de 
 semi-liberdade; 
 f) internação em estabelecimento 
 educacional; 
 g) qualquer uma das previstas no 
 art. 101, I a VI do ECA, ou seja: 
 
i) encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de 
responsabilidade; 
ii) orientação, apoio e acompanhamento temporários; 
iii) matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial 
de ensino fundamental; 
iv) inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à 
família, à criança e ao adolescente; 
v) requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, 
em regime hospitalar ou ambulatorial; 
vi) inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, 
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos. 
 Na aplicação da medida sócio-educativa ao adolescente, deve-se 
levar em conta a sua capacidade de cumpri-la, assim como as 
circunstâncias e a gravidade da infração (art. 112, §1º do ECA). 
 Conforme estipula o parágrafo segundo do artigo 112 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, em hipótese alguma e sob pretexto algum, deve 
ser admitida a prestação de trabalho forçado. 
 No caso de adolescentes portadores de doença ou deficiência mental, 
a eles deve ser destinado tratamento individual e especializado, em local 
adequado às suas condições. 
 Por fim, há que se mencionar que as medidas sócio-educativas tem 
caráter dúplice, qual seja, o pedagógico e o punitivo, conforme já teve a 
oportunidade de se manifestar o Superior Tribunal de Justiça: 
Informativo nº 0266 
Período: 24 de outubro a 4 de novembro de 2005. 
Sexta Turma 
ADOLESCENTE. DESCUMPRIMENTO. MEDIDA 
SÓCIO-EDUCATIVA. PRESCRIÇÃO. 
Para imposição destas medidas, 
exige-se a existência de provas 
suficientes de autoria e da mate- 
rialidade da infração, salvo a 
hipótese de remissão, nos 
termos do artigo 127 do ECA. 
 
 
49 
As medidas sócio-educativas previstas no Estatuto da 
Criança e do Adolescente não têm a mesma natureza e 
intensidade das penas estabelecidas no Código Penal, 
pois devem ser regidas pelos princípios da brevidade, 
excepcionalidade e observância da condição peculiar 
de pessoa em desenvolvimento. Entretanto, preservado 
o escopo principal das medidas sócio-educativas 
(pedagógico), não há como negar o seu caráter 
repressivo (punitivo); admiti-lo, inclusive, é útil não só 
aos autores de atos infracionais (adolescentes), mas 
também às vítimas de tais condutas ilícitas. Assim, as 
medidas sócio-educativas são, tanto quanto as 
sanções penais, mecanismos de defesa social, 
porquanto permitem ao Estado delimitar a liberdade 
individual do adolescente infrator. Torna-se arbitrária a 
concessão ao Estado do poder de aplicar ou executar 
tais medidas a qualquer tempo. Assim, perfeitamente 
possível a aplicação da prescrição penal aos atos 
infracionais. No caso, o adolescente, em 19/2/2004, 
descumpriu medida sócio-educativa (liberdade 
assistida) imposta, ato que ensejou o início da 
contagem do prazo da prescrição. A medida, cujo prazo 
é inferior a um ano, prescreve em dois anos (art. 109, 
parágrafo único, do CP). Por equiparação, é reduzido 
de metade o prazo da prescrição quando o agente era, 
ao tempo do fato, menor de vinte e um anos. Assim a 
medida sócio-educativa prescreveu em 18/2/2005. ATurma concedeu a ordem. HC 45.667-SP, Rel. Min. 
Nilson Naves, julgado em 27/10/2005. 
 
 
3.3.1 Advertência 
 
 Conforme se mencionou, a advertência pode ser aplicada sempre que 
houver prova da materialidade e indícios suficientes da autoria. 
 A medida de advertência consiste em admoestação verbal, que deve 
ser reduzida a termo e assinada. Para esclarecer, admoestar é o mesmo 
que dar conselho, reprimir ou advertir com um caráter crítico, com sentido de 
censurabilidade. 
 
 
3.3.2 Obrigação de reparar o dano 
 
 Quando se tratar de ato infracional com reflexos patrimoniais, a 
autoridade pode determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a 
coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o 
prejuízo da vítima (art. 116, caput, do ECA). 
 No entanto, caso haja manifesta impossibilidade de reparação, a 
medida poderá ser substituída por outra que seja reputada como adequada. 
 
50 
3.3.3 Prestação de serviços à comunidade 
 
 A prestação de serviços comunitários consiste na realização de 
tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a 6 (seis) 
meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros 
estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou 
governamentais (art. 117, caput, do ECA). 
 A atribuição das tarefas ao adolescente devem observar as aptidões 
do mesmo, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de 8 (oito) horas 
semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a 
não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. 
 
3.3.4 Liberdade assistida 
 
 A liberdade assistida deve ser adotada sempre que se afigurar a 
medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o 
adolescente (art. 118, caput, do ECA). 
 É dever da autoridade designar pessoa capacitada para acompanhar 
o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de 
atendimento, consoante disposição contida no parágrafo primeiro do artigo 
118 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 A liberdade assistida deve ser fixada pelo prazo mínimo de 6 (seis) 
meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída 
por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor (art. 
118, §2º do ECA). 
 É dever do orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade 
competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros: 
 a) promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes 
orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário 
de auxílio e assistência social; 
 b) supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do 
adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; 
 c) diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua 
inserção no mercado de trabalho; 
 d) apresentar relatório do caso. 
 
 
3.3.5 Regime de semi-liberdade 
 
 O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou 
como forma de transição para o meio-aberto, possibilitada a realização de 
atividades externas, independentemente de autorização judicial (art. 120, 
caput, do ECA). 
 A escolarização e a profissionalização são obrigatórias, devendo, 
sempre que possível, ser utilizados recursos existentes na comunidade (art. 
120, §1º do ECA). 
 Por fim, há que se mencionar que a medida em estudo não comporta 
prazo determinado, aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à 
 
51 
internação, conforme dispõe o parágrafo segundo do artigo 120 do Estatuto 
da Criança e do Adolescente. 
 
 
3.3.6 Internação 
 
 A internação é medida privativa da liberdade, dotada de caráter 
excepcional. Só há que se falar na imposição dessa medida caso não exista 
outra adequada. Assim, a internação sujeita-se aos seguintes princípios: 
 a) brevidade; 
 b) excepcionalidade; 
 c) respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. 
 A realização de atividades externas pode ser permitida a critério da 
equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em sentido 
oposto (art. 121, §1º do ECA). 
 É importante frisar que a medida de internação não comporta prazo 
determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão 
fundamentada, no máximo a cada 6 (seis) meses. No entanto, em nenhuma 
hipótese o período máximo de internação pode exceder a 3 (três) anos. Uma 
vez atingido esse limite temporal, o adolescente deve ser liberado, colocado 
em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida. 
 A liberação compulsória do menor que cumpre a medida de 
internação ocorre aos 21 (vinte e um) anos de idade, conforme estipula o 
parágrafo quinto do artigo 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Em qualquer hipótese, só há que se falar em desinternação mediante 
prévia autorização judicial, sempre ouvido o Ministério Público (art. 121, §6º 
do ECA). 
 Prevê o artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente que a 
medida de internação só pode ser aplicada quando: 
 a) tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou 
violência a pessoa; 
 b) por reiteração no cometimento de outras infrações graves; 
 c) por descumprimento reiterado e injustificável da medida 
anteriormente imposta. 
 Na última hipótese, o prazo de internação não pode ser superior a 3 
(três) meses, conforme determina o parágrafo primeiro do artigo 122 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Conforme regra esculpida no artigo 123 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, a internação deve ser cumprida em entidade exclusiva para 
adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida 
rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da 
infração. Durante o período de internação, inclusive provisória, é obrigatória 
a realização de atividades pedagógicas, consoante determinação 
complementar, contida no parágrafo único do artigo 123 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente. 
 Dentre outros, são direitos do adolescente privado de liberdade: 
 
52 
 a) entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério 
Público; 
 b) peticionar diretamente a qualquer autoridade; 
 c) avistar-se reservadamente com seu defensor; 
 d) ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada; 
 e) ser tratado com respeito e dignidade; 
 f) permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais 
próxima ao domicílio de seus pais ou responsável; 
 g) receber visitas, ao menos, semanalmente; 
 h) corresponder-se com seus familiares e amigos; 
 i) ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal; 
 j) habitar alojamento em condições adequadas de higiene e 
salubridade; 
 k) receber escolarização e profissionalização; 
 l) realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: 
 m) ter acesso aos meios de comunicação social; 
 n) receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que 
assim o deseje; 
 o) manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro 
para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados 
em poder da entidade; 
 p) receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais 
indispensáveis à vida em sociedade. 
 Em nenhuma hipótese admite-se a incomunicabilidade do 
adolescente (art. 124, §1º do ECA). Admite-se, contudo, a suspensão 
temporária das visitas, inclusive dos pais ou responsável, por ordem da 
autoridade judiciária, quando existam motivos sérios e fundados de sua 
prejudicialidade aos interesses do adolescente. 
 Por derradeiro, há que se frisar o dever do Estado consagrado no 
artigo 125 do Estatuto da Criança e do Adolescente, qual seja, zelar pela 
integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas 
adequadas de contenção e segurança. 
 
 
3.4 Remissão 
 
 Antes do início do procedimento judicial para apuração de ato 
infracional,ao representante do Ministério Público é dada a faculdade de 
conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às 
circunstâncias e consequências do fato, ao contexto social, bem como à 
personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato 
infracional (art. 126, caput, do ECA). 
 Contudo, caso já tenha se iniciado o procedimento, a concessão da 
remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou extinção do 
processo (art. 126, parágrafo único do ECA). 
 
 
53 
 Prevê o artigo 127 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que a 
remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação 
da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo 
incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, 
exceto a colocação em regime de semi-liberdade e a internação. 
 Uma vez aplicada determinada medida sócio-educativa por força da 
remissão, ela poderá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante 
pedido expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do 
Ministério Público (art. 128 do ECA). 
 
 
 
4. MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEL 
 
 O Estatuto da Criança e do Adolescente não cuidou apenas da 
previsão de medidas aos menores, mas também aos pais destes. A 
justificativa básica para tanto reside no fato da incapacidade que recai sobre 
os menores. Em não raros casos, a prática de atos infracionais decorre de 
situação existente no próprio âmbito familiar. Nesse sentido, o Estatuto em 
estudo apresenta instrumentos de correção de conduta dos menores, mas 
também dos pais ou responsável pelos mesmos, quando se demonstrar que 
deles advém a causa para a conduta irregular do menor. 
 Prevê o artigo 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente que são 
medidas aplicáveis aos pais ou responsável: 
 a) encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à 
família; 
 b) inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação 
e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; 
 c) encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; 
 d) encaminhamento a cursos ou programas de orientação; 
 e) obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua 
frequência e aproveitamento escolar; 
 f) obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento 
especializado; 
 g) advertência; 
 h) perda da guarda; 
 i) destituição da tutela; 
 j) suspensão ou destituição do poder familiar. 
 Ademais, sempre que verificada a hipótese de maus-tratos, opressão 
ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária 
pode determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da 
moradia comum (art. 130 do ECA). 
 
 
 
 
 
 
54 
5. CONSELHO TUTELAR 
 
 O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não 
jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos 
direitos da criança e do adolescente, definidos pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 Prevê o artigo 132 do Estatuto em estudo, que em cada Município 
deve haver, no mínimo, um Conselho Tutelar, composto de 5 (cinco) 
membros, que devem ser escolhidos pela comunidade local para mandato 
de 3 (três) anos, permitida uma recondução. 
 Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, são exigidos os 
seguintes requisitos: 
 a) reconhecida idoneidade moral; 
 b) idade superior a vinte e um anos; 
 c) residir no município. 
 É competência da lei municipal dispor sobre local, dia e horário de 
funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive quanto a eventual 
remuneração de seus membros (art. 134, caput, do ECA). Nesse contexto, 
deve constar da lei orçamentária municipal a previsão dos recursos 
necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar (art. 134, parágrafo 
único, do ECA). 
 Por fim, deve-se mencionar que o exercício efetivo da função de 
conselheiro constitui serviço público relevante, estabelece presunção de 
idoneidade moral e assegura prisão especial, em caso de crime comum, até 
o julgamento definitivo, conforme dispõe o artigo 135 do Estatuto da Criança 
e do Adolescente. 
 
 
5.1 Atribuições do conselho 
 
 Consoante previsão do artigo 136 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, são atribuições do Conselho Tutelar: 
 a) atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos 
arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII do ECA; 
 b) atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas 
previstas no art. 129, I a VII do ECA; 
 c) promover a execução de suas decisões, podendo para tanto: 
i) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, 
serviço social, previdência, trabalho e segurança; 
ii) representar junto à autoridade judiciária nos casos de 
descumprimento injustificado de suas deliberações. 
 d) encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua 
infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente; 
 e) encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência; 
55 
f) providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, 
dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato 
infracional; 
 g) expedir notificações; 
 h) requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou 
adolescente quando necessário; 
 i) assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta 
orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da 
criança e do adolescente; 
 j) representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos 
direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal; 
 k) representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou 
suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de 
manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. 
 Quando o Conselho Tutelar, no exercício de suas atribuições, 
entender necessário o afastamento do convívio familiar, deve comunicar 
incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os 
motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o 
apoio e a promoção social da família (art. 136, parágrafo único do ECA). 
 Uma vez tomadas as decisões pelo Conselho Tutelar, elas só 
poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem possua 
legítimo interesse (art. 137 do ECA). 
 
 
5.2 Competência 
 
 A competência do Conselho Tutelar rege-se da forma descrita no 
artigo 147 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Segundo aludido 
dispositivo, a competência é determinada: 
 a) pelo domicílio dos pais ou responsável; 
 b) pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos 
pais ou responsável. 
 Por derradeiro, veja-se a pertinente manifestação do Superior Tribunal 
de Justiça acerca da competência determinada pelo domicílio dos pais ou 
responsável: 
Informativo nº 0446 
Período: 6 a 10 de setembro de 2010. 
Segunda Seção 
COMPETÊNCIA. ADOÇÃO. GUARDA. INTERESSE. 
CRIANÇA. 
No caso de disputa judicial que envolve a guarda ou 
mesmo a adoção de crianças ou adolescentes, deve-se 
levar em consideração o interesse deles para a 
determinação da competência, mesmo que para tal se 
flexibilizem outras normas. Logo, o princípio do juízo 
 
56 
imediato, previsto no art. 147, I, do ECA, sobrepõe-se 
às regras gerais do CPC, desde que presente o 
interesse da criança e do adolescente. Assim, o art. 87 
do CPC, que estabelece o princípio da perpetuatio 
jurisdictionis, deve ser afastado para que a solução do 
litígio seja mais ágil, segura e eficaz em relação à 
criança, permitindo a modificação da competência no 
curso do processo, mas sempre considerando as 
peculiaridades do caso. A aplicação do art. 87 do CPC 
em oposição ao art. 147, I, do ECA somente é possível 
quando haja mudança de domicílio dacriança e seus 
responsáveis, após já iniciada a ação e, 
consequentemente, configurada a relação processual. 
Esse posicionamento tem o objetivo de evitar que uma 
das partes mude de residência e leve consigo o 
processo. CC 111.130-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, 
julgado em 8/9/2010. (sem grifos no original) 
 
 
5.3 Escolha dos conselheiros 
 
 É competência dos Municípios, por meio de lei, estabelecer o 
processo para a escolha dos membros do Conselho Tutelar. Já a realização 
desse processo deve ser feita sob a responsabilidade do Conselho Municipal 
dos Direitos da Criança e do Adolescente, e mediante a fiscalização do 
Ministério Público (art. 139 do ECA). 
 
 
5.4 Impedimentos 
 
 Segundo dispõe o artigo 140 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, são impedidos de servir no mesmo Conselho marido e mulher, 
ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, 
durante o cunhado, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. 
 Ademais, estende-se o impedimento (do conselheiro) supra 
mencionado, em relação à autoridade judiciária e ao representante do 
Ministério Público com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em 
exercício na comarca, foro regional ou distrital (art. 140, parágrafo único do 
ECA). 
 
 
 
6. ACESSO À JUSTIÇA 
 
 Toda criança ou adolescente tem acesso garantido à Defensoria 
Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus 
órgãos (art. 141 do ECA). 
 
 
57 
 No mesmo sentido, a assistência judiciária gratuita deve ser prestada 
aos que dele necessitarem, por meio de defensor público ou advogado 
nomeado. 
 No caso de ações judiciais da competência da Justiça da Infância e 
da Juventude, há isenção de custas e emolumentos, ressalvada a hipótese 
de litigância de má-fé, conforme estipula o parágrafo segundo do artigo 141 
do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 O artigo 142 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe: 
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão 
representados e os maiores de dezesseis e menores 
de vinte e um anos assistidos por seus pais, tutores ou 
curadores, na forma da legislação civil ou processual. 
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador 
especial à criança ou adolescente, sempre que os 
interesses destes colidirem com os de seus pais ou 
responsável, ou quando carecer de representação ou 
assistência legal ainda que eventual. 
 Mencionado dispositivo foi parcialmente revogado com o advento do 
Código Civil de 2002. Assim, os menores de (dezesseis) anos continuam a 
serem representados, ao passo que os maiores de 16 (dezesseis) e 
menores de 18 (dezoito) necessitam serem assistidos por seus pais ou 
tutores. Consabido, o Código Civil de 2002 estipulou que ao atingir 18 
(dezoito) anos, a pessoa se torna capaz para todos os atos da vida civil. 
 É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos 
que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua a autoria de 
ato infracional, consoante determinação contida no caput do artigo 143 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente. Nesse contexto, o parágrafo único do 
mencionado artigo 143 complementa a regra proibitiva ao dispor que 
qualquer notícia a respeito do fato não pode identificar a criança ou 
adolescente, vedando-se o uso de fotografia, referência a nome, apelido, 
filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. 
 Dessa forma, só há que se falar em expedição de cópia ou certidão 
de atos relativos a crianças e adolescentes quando deferido pela autoridade 
judiciária competente, desde que demonstrado o interesse e justificada a 
finalidade (art. 144 do ECA). 
 
 
6.1 Justiça da infância e da juventude 
 
 A previsão legal especifica em relação à justiça da infância e 
juventude visa conferir às crianças e adolescentes ampla atenção, método 
por meio do qual se viabiliza o direito de ampla proteção a elas conferido. 
 Dessa forma, aos Estados e ao Distrito Federa foi conferida a 
faculdade de criarem varas especializadas e exclusivas da infância e da 
juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade 
por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o 
atendimento, inclusive em plantões (art. 145 do ECA). 
 
 
58 
6.1.1 Juiz 
 
 Conforme esclarece o artigo 146, quando o Estatuto da Criança e do 
Adolescente se refere a autoridade, está se referindo ao Juiz da Infância e 
da Juventude, ou ao juiz que exerça essa função, na forma da lei de 
organização judiciária. 
 Determina-se a competência: 
 a) pelo domicílio dos pais ou responsável; 
 b) pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos 
pais ou responsável. 
 Nos casos de ato infracional, reputa-se competente a autoridade do 
lugar da ação ou omissão, observadas as regras de conexão, continência e 
prevenção (art. 147, §1º do ECA). 
 A execução das medidas pode ser delegada à autoridade competente 
da residência dos pais ou responsável, ou do local onde sediar-se a entidade 
que abrigar a criança ou adolescente (art. 147, §2º do ECA). 
 Quando se tratar de infração cometida através de transmissão 
simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca será 
competente, para aplicação da penalidade, a autoridade judiciária do local 
da sede estadual da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas 
as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado (art. 147, §3º do 
ECA). 
 Conforme fixa o artigo 148 do Estatuto da Criança e do Adolescente, 
a Justiça da Infância e da Juventude é competente para: 
 a) conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, 
para apuração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as 
medidas cabíveis; 
 b) conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do 
processo; 
 c) conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; 
 d) conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, 
difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto 
no artigo 209 do Estatuto em estudo; 
 e) conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de 
atendimento, aplicando as medidas cabíveis; 
 f) aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra 
norma de proteção à criança ou adolescente; 
 g) conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando 
as medidas cabíveis. 
 E quando se tratar de criança ou adolescente que tenha sofrido 
ameaça ou violação dos direitos reconhecidos pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente, por ação ou omissão da sociedade ou do Estado (art. 98, I do 
ECA), por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável (art. 98, II do 
ECA) ou em razão de sua própria conduta (art. 98, III do ECA), é também 
competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de: 
 
59 
 a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; 
 b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou 
modificação da tutela ou guarda; 
 c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento; 
 d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou 
materna, em relação ao exercício do poder familiar; 
 e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem 
os pais; 
 f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou 
representação, ou de outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que 
haja interesses de criança ou adolescente; 
 g) conhecer de ações de alimentos; 
 h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos 
registros de nascimento e óbito. 
 Prevê o artigo 149 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que 
compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, 
mediante alvará: 
 I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, 
desacompanhado dos pais ou responsável, em: 
 a) estádio, ginásio ecampo desportivo; 
 b) bailes ou promoções dançantes; 
 c) boate ou congêneres; 
 d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas; 
 e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão. 
 II - a participação de criança e adolescente em: 
 a) espetáculos públicos e seus ensaios; 
 b) certames de beleza. 
 Para as mesmas finalidades supra mencionadas, a autoridade 
judiciária deve levar em conta, dentre outros fatores: 
 a) os princípios estabelecidos no Estatuto da Criança e do 
Adolescente; 
 b) as peculiaridades locais; 
 c) a existência de instalações adequadas; 
 d) o tipo de frequência habitual ao local; 
 e) a adequação do ambiente a eventual participação ou frequência de 
crianças e adolescentes; 
 f) a natureza do espetáculo. 
 
 
 
 
 
 
60 
6.1.2 Serviços auxiliares 
 
 Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta 
orçamentária, prever recursos para manutenção de equipe interprofissional, 
destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude (art. 150 do 
ECA). 
 E compete à equipe interprofissional, dentre outras atribuições que lhe 
forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, 
mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver 
trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e 
outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada 
a livre manifestação do ponto de vista técnico (art. 151 do ECA). 
 
 
6.2 Procedimentos 
 
 Aos procedimentos regulados pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente aplicam-se, subsidiariamente, as normas gerais previstas na 
legislação processual pertinente, conforme salienta o caput do artigo 152 do 
Estatuto em estudo. 
 Esses procedimentos tem assegurada, sob pena de responsabilidade, 
prioridade absoluta na tramitação, assim como na execução dos atos e 
diligências judiciais a eles referentes. 
 Consoante prevê o artigo 153 do Estatuto em estudo, se a medida 
judicial a ser adotada não corresponder ao procedimento previsto no 
Estatuto da Criança e do Adolescente ou em outra lei, a autoridade judiciária 
poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as providências necessárias, 
ouvido o Ministério Público. No entanto, isto não se aplica para o fim de 
afastamento da criança ou do adolescente de sua família de origem, assim 
como em outros procedimentos necessariamente contenciosos. 
 
 
6.2.1 Perda e da suspensão do poder familiar 
 
 Tanto o Ministério Público como quem detenha legítimo interesse 
pode provocar o procedimento para a perda ou a suspensão do poder 
familiar. 
 A petição inicial de aludido pedido deve indicar: 
 a) a autoridade judiciária a que for dirigida; 
 b) o nome, o estado civil, a profissão e a residência do requerente e 
do requerido, dispensada a qualificação em se tratando de pedido formulado 
por representante do Ministério Público; 
 c) a exposição sumária do fato e o pedido; 
 d) as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo, o rol de 
testemunhas e documentos. 
 Caso haja motivo grave, pode a autoridade judiciária, ouvido o 
Ministério Público, decretar a suspensão do poder familiar, liminar ou 
 
61 
incidentalmente, até o julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou 
adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade. 
 Recebida a ação, o requerido deve ser citado para oferecer resposta 
escrita, no prazo de 10 (dez) dias, devendo indicar as provas que pretende 
ver produzidas e oferecer o rol de testemunhas e documentos. Consoante 
prevê o parágrafo único do artigo 158 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, devem ser esgotados todos os meios para citação pessoal. 
 Caso o requerido não tenha meios para constituir advogado, sem 
prejuízo do próprio sustento e de sua família, poderá requerer, em cartório, 
que lhe seja nomeado defensor dativo, ao qual incumbirá a apresentação de 
resposta, contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de 
nomeação (art. 159 do ECA). 
 Se necessário, a autoridade judiciária pode requisitar a qualquer 
repartição ou órgão público a apresentação de documento que interesse à 
causa, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público. 
 Caso não haja contestação do pedido, a autoridade judiciária deve 
conceder vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, 
salvo quando este for o requerente, devendo decidir em igual prazo. 
 De ofício, a requerimento das partes ou do Ministério Público, pode a 
autoridade judiciária determinar a realização de estudo social ou perícia por 
equipe interprofissional ou multidisciplinar, bem como a oitiva de 
testemunhas que comprovem a presença de uma das causas de suspensão 
ou destituição do poder familiar previstas nos artigos 1.637 e 1.638 do 
Código Civil 2002, ou no artigo 24 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Se os pais forem oriundos de comunidades indígenas, é ainda 
obrigatória a intervenção, junto à equipe profissional ou multidisciplinar supra 
referida, de representantes do órgão federal responsável pela política 
indigenista, observado o disposto no parágrafo sexto do artigo 28 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Na hipótese do pedido importar em modificação de guarda, torna-se 
obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança ou 
adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de 
compreensão sobre as implicações da medida (art. 161, §3º do ECA). 
 Sempre que for possível a identificação dos pais e desde que estes 
estejam em local conhecido, é obrigatório que se proceda a sua oitiva, a teor 
do que determina o parágrafo quarto do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 Apresentada a resposta, a autoridade judiciária deve conceder vista 
dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, salvo quando 
este for o requerente, designando, desde logo, audiência de instrução e 
julgamento (art. 162, caput, do ECA). 
 E a requerimento e qualquer das partes, do Ministério Público, ou de 
ofício, a autoridade judiciária poderá determinar a realização de estudo 
social ou, se possível, de perícia por equipe interprofissional (art. 162, §1º, 
do ECA). 
 Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público, deve-se 
seguir o seguinte procedimento: 
 1º) devem ser ouvidas as testemunhas; 
 
62 
 2º) deve ser colhido oralmente o parecer técnico, salvo quando 
apresentado por escrito; 
 3º) deve se manifestar o requerente, pelo tempo de 20 (vinte) 
minutos, prorrogável por mais 10 (dez); 
 4º) deve se manifestar o requerido, pelo tempo de 20 (vinte) minutos, 
prorrogável por mais 10 (dez); 
 5º) deve se manifestar o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) 
minutos, prorrogável por mais 10 (dez). 
 6º) deve ser proferida decisão na própria audiência, podendo a 
autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para sua leitura no 
prazo máximo de 5 (cinco) dias. 
 Conforme regra esculpida no artigo 163 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, o prazo máximo para conclusão do procedimento é de 120 
(cento e vinte) dias. 
 Por fim, caso a sentença decrete a perda ou a suspensão do poder 
familiar, tal decreto deve ser averbado à margem do registro de nascimento 
da criança ou do adolescente. 
 
 
6.2.2 Destituição da tutela 
 
 Para o procedimento de destituição da tutela, deve-se observar o 
procedimento para a remoção de tutor previsto na lei processual civil e, no 
que couber, o disposto quanto ao procedimento destinado à perda ou a 
suspensão do poder familiar, conforme dispõe o artigo 164 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente. 
 
 
6.2.3 Colocação em família substituta 
 
 Para a concessão do pedido de colocação em família substituta, há 
que serem preenchidos os seguintes requisitos: 
 a) qualificação completa do requerente e de seu eventual cônjuge,ou 
companheiro, com expressa anuência deste; 
 b) indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, 
ou companheiro, com a criança ou adolescente, especificando se tem ou 
não parente vivo; 
 c) qualificação completa da criança ou adolescente e de seus pais, se 
conhecidos; 
 d) indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexando, se 
possível, uma cópia da respectiva certidão; 
 e) declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos 
relativos à criança ou ao adolescente. 
 No caso de adoção, além destes devem ser observados os requisitos 
específicos (art. 165, parágrafo único do ECA). 
 
63 
 Quando os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou 
suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao 
pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado 
diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, 
dispensada a assistência de advogado, conforme estipula o caput do artigo 
166 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Caso haja concordância dos pais em relação ao pedido de colocação 
em família substituta, esses devem ser ouvidos pela autoridade judiciária e 
pelo representante do Ministério Público, devendo suas declarações serem 
tomadas por termo (art. 166, §1º do ECA). O consentimento dos titulares do 
poder familiar deve ser precedido de orientações e esclarecimentos 
prestados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da 
Juventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da 
medida (art. 166, §2º do ECA). 
 Nesse caso, o consentimento dos titulares do poder familiar deve ser 
colhido pela autoridade judiciária competente em audiência, presente o 
Ministério Público, garantida a livre manifestação de vontade e esgotados os 
esforços para manutenção da criança ou do adolescente na família natural 
ou extensa (art. 166, §3º do ECA). Caso não haja ratificação em audiência, 
nenhuma validade terá o consentimento que tenha sido prestado por escrito, 
conforme frisa o parágrafo quarto do artigo 166 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 Ademais, o consentimento é retratável até a data da publicação da 
sentença constitutiva da adoção. E mais, só tem valor jurídico o 
consentimento prestado após o nascimento da criança. 
 A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do 
Ministério Público, deve determinar a realização de estudo social ou, se 
possível, perícia por equipe interprofissional, para que então possa decidir 
sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no caso de adoção, 
sobre o estágio de convivência (art. 167, caput, do ECA). Deferida a 
concessão da guarda provisória ou do estágio de convivência, a criança ou o 
adolescente deve ser entregue ao interessado, mediante termo de 
responsabilidade (art. 167, parágrafo único do ECA). 
 Após a apresentação do relatório social ou do laudo pericial, deve a 
criança ou o adolescente ser ouvido, sempre que possível, dando-se vista 
dos autos, após, ao Ministério Público, que terá o prazo de 5 (cinco) dias 
para se manifestar, mesmo prazo que é dado à autoridade judiciária para 
decidir. 
 Prevê o artigo 169 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que nas 
hipóteses em que a destituição da tutela, a perda ou a suspensão do poder 
familiar constituir pressuposto lógico da medida principal de colocação em 
família substituta, deve ser observado o procedimento contraditório previsto 
nas Seções do Estatuto que tratam “Da Perda e da Suspensão do Poder 
Familiar” e “Da Destituição da Tutela”. Admite-se, ademais, que a perda ou a 
modificação da guarda seja secretada nos mesmos autos do procedimento, 
desde que mediante ato fundamentado e ouvido o Ministério Público. 
 Concedida a guarda ou a tutela, deve o responsável prestar 
compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, mediante termo 
nos autos. 
 
64 
 Concedida a adoção, o que ocorre mediante sentença, deverá haver 
sua inscrição no registro civil do adotado, inscrição que deve consignar o 
nome dos adotantes como pais, assim como o nome dos seus ascendentes. 
 Uma vez colocada a criança ou adolescente sob a guarda de pessoa 
inscrita em programa de acolhimento familiar, a entidade por ele responsável 
deve ser comunicada pela autoridade judiciária no prazo máximo de 5 
(cinco) dias (art. 170, parágrafo único do ECA). 
 
 
6.2.4 Apuração de ato infracional atribuído a adolescente 
 
 O adolescente apreendido por força de ordem judicial deve ser, desde 
logo, encaminhado à autoridade judiciária, conforme determina o artigo 171 
do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Já o adolescente apreendido em flagrante de ato infracional deve ser, 
desde logo, encaminhado à autoridade policial competente, a teor da 
estipulação. Havendo repartição policial especializada para atendimento de 
adolescente e em se tratando de ato infracional praticado em co-autoria com 
maior, prevalecerá a atribuição de repartição especializada, que, após as 
providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à 
repartição policial própria (art. 172, parágrafo único do ECA). 
 Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência 
ou grave ameaça a pessoa, a autoridade policial, sem prejuízo do disposto 
no artigo 106, parágrafo único e artigo 107 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, tem o dever de: 
 a) lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente; 
 b) apreender o produto e os instrumentos da infração; 
 c) requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da 
materialidade e autoria da infração. 
 Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto poderá ser 
substituída por boletim de ocorrência circunstanciado, consoante previsão do 
parágrafo único do artigo 173 do Estatuto em estudo. 
 Mediante o comparecimento de qualquer dos pais ou responsável, o 
adolescente deve ser prontamente liberado pela autoridade policial, sob 
termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao 
representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no 
primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e 
sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para 
garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública (art. 
174 do ECA). 
 No caso de não liberação, a autoridade policial deve encaminhar, 
imediatamente, o adolescente ao representante do Ministério Público, 
juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência (art. 
175, caput, do ECA). 
 Caso seja impossível a apresentação imediata, a autoridade policial 
deve encaminhar o adolescente à entidade de atendimento, que fará a 
apresentação ao representante do Ministério Público no prazo de 24 (vinte e 
quatro) horas (art. 175, §1º do ECA). 
 
 
65 
 Nas localidades onde não houver entidade de atendimento, a 
apresentação far-se-á pela autoridade policial. À falta de repartição policial 
especializada, o adolescente deve aguardar a apresentação em 
dependência separada da destinada a maiores, não podendo, em qualquer 
hipótese, exceder o prazo de 24 (vinte e quatro) horas (art. 175, §2º do 
ECA). 
 Se o adolescente for liberado, a autoridade policial deve encaminhar, 
imediatamente, cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência ao 
representante do Ministério Público. 
 Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de participação 
de adolescente na prática de ato infracional, a autoridade policial tem o 
dever de encaminhar ao representante do Ministério Público relatório das 
investigações e demais documentos (art. 177 do ECA). 
 Conforme prevê o artigo 178 do Estatuto em estudo, o adolescente a 
quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou 
transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições 
atentatórias à suadignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física 
ou mental, sob pena de responsabilidade. 
 Apresentado o adolescente, o representante do Ministério Público, no 
mesmo dia e à vista do auto de apreensão, boletim de ocorrência ou 
relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial e com 
informação sobre os antecedentes do adolescente, deverá proceder 
imediata e informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais ou 
responsável, vítima e testemunhas (art. 179, caput, do ECA). Contudo, em 
caso de não apresentação, o representante do Ministério Público deverá 
notificar os pais ou responsável para apresentação do adolescente, podendo 
requisitar o concurso das polícias civil e militar. 
 Adotadas as providências supra mencionadas, pode o representante 
do Ministério Público: 
 a) promover o arquivamento dos autos; 
 b) conceder a remissão; 
 c) representar à autoridade judiciária para aplicação de medida sócio-
educativa. 
 Caso seja promovido o arquivamento dos autos ou concedida a 
remissão pelo representante do Ministério Público, mediante termo 
fundamentado, que deve conter o resumo dos fatos, os autos serão 
conclusos à autoridade judiciária para homologação (art. 181, caput, do 
ECA). 
 Tão logo seja homologado o arquivamento ou a remissão, a 
autoridade judiciária deverá determinar, conforme o caso, o cumprimento da 
medida (art. 181, §1º do ECA). 
 Entretanto, se a autoridade judiciária discordar, deverá remeter os 
autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho fundamentado, o 
qual deverá: 
 a) oferecer representação (em substituição ao membro originário do 
Ministério Público); 
 b) designar outro membro do Ministério Público para apresentá-la; ou 
 
66 
 c) ratificar o arquivamento ou a remissão. 
 Apenas na última hipótese estará a autoridade judiciária obrigada à 
homologação (art. 181, §2º do ECA). 
 Conforme prevê o artigo 182 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público 
não promover o arquivamento ou conceder a remissão, deverá então 
oferecer representação à autoridade judiciária, propondo a instauração de 
procedimento para aplicação da medida sócio-educativa que se afigurar 
mais adequada. Nesse caso, a representação deve ser oferecida por 
petição, com o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e, 
quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, 
em sessão diária instalada pela autoridade judiciária. 
 É importante frisar que a representação independe de prova pré-
constituída da autoria e materialidade, consoante estipula o parágrafo 
segundo do artigo 182 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 E dispõe o artigo 183 do Estatuto em estudo, que o prazo máximo e 
improrrogável para a conclusão do procedimento, estando o adolescente 
internado provisoriamente, é de 45 (quarenta e cinco) dias. 
 Assim que oferecida a representação, a autoridade judiciária deve 
designar audiência de apresentação do adolescente, decidindo, desde logo, 
sobre a decretação ou manutenção da internação, observado o disposto no 
artigo 108 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Ato contínuo, o adolescente e seus pais ou responsável devem ser 
cientificados do teor da representação, e notificados a comparecer à 
audiência, acompanhados de advogado. 
 Caso os pais ou responsável não sejam localizados, a autoridade 
judiciária deverá nomear curador especial ao adolescente. 
 E caso não seja localizado o adolescente, deve a autoridade judiciária 
expedir mandado de busca e apreensão, determinando o sobrestamento do 
feito, até que ocorra a efetiva apresentação. 
 Estando o adolescente internado, deve ser requisitada a sua 
apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou responsável. 
 Decretada ou mantida a internação pela autoridade judiciária, ela não 
poderá ser cumprida em estabelecimento prisional, conforme estipula o 
caput do artigo 185 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Caso não 
exista na comarca entidade exclusiva para adolescentes, o adolescente 
deverá ser imediatamente transferido para a localidade mais próxima. 
Contudo, sendo impossível a pronta transferência, o adolescente deverá 
aguardar sua remoção em repartição policial, desde que em seção isolada 
dos adultos e com instalações apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo 
máximo de 5 (cinco) dias, sob pena de responsabilidade. 
 Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, a autoridade 
judiciária deverá proceder à oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de 
profissional qualificado (art. 186, caput, do ECA). 
 Caso a autoridade judiciária entenda adequada a remissão, deve 
então ouvir o representante do Ministério Público, para proferir decisão na 
sequência, conforme dispõe o parágrafo primeiro do artigo 186 do Estatuto 
da Criança e do Adolescente. 
 
67 
 Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou 
colocação em regime de semi-liberdade, a autoridade judiciária, verificando 
que o adolescente não possui advogado constituído, deve para ele nomear 
defensor, designando, desde logo, audiência em continuação, podendo 
determinar a realização de diligências e estudo do caso (art. 186, §2º do 
ECA). Nesse caso, o advogado constituído ou o defensor nomeado, no 
prazo de 3 (três) dias, contado da audiência de apresentação, deve oferecer 
defesa prévia e rol de testemunhas. 
 Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na 
representação e na defesa prévia, cumpridas as diligências e juntado o 
relatório da equipe interprofissional, deve ser concedida a palavra ao 
representante do Ministério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo 
tempo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a 
critério da autoridade judiciária, que em seguida deverá ser proferida decisão 
(art. 186, §4º do ECA). 
 Caso o adolescente, devidamente notificado, não compareça, 
injustificadamente à audiência de apresentação, a autoridade judiciária 
deverá designar nova data, determinando sua condução coercitiva (art. 187 
do ECA). 
 Há que se frisar, a teor da disposição contida no artigo 188 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, que a remissão, como forma de 
extinção ou suspensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase 
do procedimento, desde que antes da sentença. 
 A autoridade judiciária não deve aplicar qualquer medida, quando 
reconheça na sentença: 
 a) estar provada a inexistência do fato; 
 b) não haver prova da existência do fato; 
 c) não constituir o fato ato infracional; 
 d) não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato 
infracional. 
 Nesse caso, se o adolescente estiver internado, deverá 
imediatamente ser posto em liberdade. 
 Conforme prevê o artigo 190 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, a intimação da sentença que aplicar medida de internação ou 
regime de semi-liberdade deverá ser feita: 
 a) ao adolescente e ao seu defensor; 
 b) quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou 
responsável, sem prejuízo do defensor. 
 Caso seja outra a medida aplicada, a intimação deverá ser feita 
unicamente na pessoa do defensor (art. 190, §1º do ECA). 
 E caso a intimação recaia na pessoa do adolescente, deverá este 
manifestar se deseja ou não recorrer da sentença (art. 190, §2º do ECA). 
 
 
 
 
 
68 
6.2.5 Apuração de irregularidades em entidade de atendimento 
 
 O procedimento de apuração de irregularidades em entidade 
governamental e não-governamental tem início mediante portaria da 
autoridade judiciária ou representação do Ministério Público ou do Conselho 
Tutelar, onde conste, necessariamente, resumo dos fatos, conforme dispõe 
o caput do artigo 191 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Mediante a existência de motivo grave, poderá a autoridade judiciária, 
ouvidoo Ministério Público, decretar liminarmente o afastamento provisório 
do dirigente da entidade, mediante decisão fundamentada. 
 Nesse caso, o dirigente da entidade deve ser citado para, no prazo de 
10 (dez) dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar documentos e 
indicar as provas que devam ser produzidas (art. 192 do ECA). 
 A autoridade judiciária poderá designar audiência de instrução e 
julgamento quando reputar necessário, devendo intimar as partes para 
comparecimento, tenha ou não sido apresentada resposta. 
 Dispõe o parágrafo primeiro do artigo 193 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, que salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério 
Público terão 5 (cinco) dias para oferecer alegações finais, devendo a 
autoridade judiciária decidir em igual prazo. 
 Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente de 
entidade governamental, a autoridade judiciária deve oficiar à autoridade 
administrativa imediatamente superior ao afastado, marcando prazo para a 
substituição (art. 193, §2º do ECA). 
 Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária pode 
fixar prazo para a remoção das irregularidades verificadas. Satisfeitas as 
exigências, o processo deverá ser extinto, sem julgamento de mérito (art. 
193, §3º do ECA). 
 Por derradeiro, consoante previsão do parágrafo quarto do artigo 193 
do Estatuto da Criança e do Adolescente, a multa e a advertência deverão 
ser impostas ao dirigente da entidade ou programa de atendimento. 
 
 
6.2.6 Apuração de infração administrativa às normas de proteção à 
criança e ao adolescente 
 
 O procedimento para imposição de penalidade administrativa por 
infração às normas de proteção à criança e ao adolescente pode ter início 
por representação do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de 
infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado 
por duas testemunhas, se possível (art. 194, caput, do ECA). 
 No procedimento iniciado com o auto de infração, poderão ser usadas 
fórmulas impressas, especificando-se a natureza e as circunstâncias da 
infração (art. 194, §1º do ECA). 
 Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura 
do auto, certificando-se, em caso contrário, os motivos do retardamento (art. 
194, §2º do ECA). 
 O prazo para o requerido apresentar defesa é de 10 (dez) dias, 
contado da data da intimação, que deverá ser feita: 
 
 
69 
 a) pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado na 
presença do requerido; 
 b) por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado, que 
entregará cópia do auto ou da representação ao requerido, ou a seu 
representante legal, lavrando certidão; 
 c) por via postal, com aviso de recebimento, se não for encontrado o 
requerido ou seu representante legal; 
 d) por edital, com prazo de 30 (trinta) dias, se incerto ou não sabido o 
paradeiro do requerido ou de seu representante legal. 
 Caso a defesa não seja apresentada no prazo legal, a autoridade 
judiciária deverá conceder vista dos autos do Ministério Público, por 5 (cinco) 
dias, devendo decidir em igual prazo. 
 Em contrapartida, se apresentada a defesa, a autoridade judiciária 
deverá conceder vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, ou, 
sendo necessário, deverá designar audiência de instrução e julgamento (art. 
197 do ECA). 
 Colhida a prova oral, manifestar-se-ão sucessivamente o Ministério 
Público e o procurador do requerido, pelo tempo de 20 (vinte) minutos para 
cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério da autoridade judiciária, 
que em seguida deverá proferir sentença (art. 197, parágrafo único do ECA). 
 
 
6.2.7 Habilitação de pretendentes à adoção 
 
 Os postulante à adoção, domiciliados no Brasil, devem apresentar 
petição inicial na qual conste: 
 a) qualificação completa; 
 b) dados familiares; 
 c) cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou 
declaração relativa ao período de união estável; 
 d) cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de Pessoas 
Físicas; 
 e) comprovante de renda e domicílio; 
 f) atestados de sanidade física e mental; 
 g) certidão de antecedentes criminais; 
 h) certidão negativa de distribuição cível. 
 A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, deve 
conceder vista dos autos ao Ministério Público, que no prazo de 5 (cinco) 
dias poderá: 
 a) apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe 
interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a que se refere o 
art. 197-C do Estatuto da Criança e do Adolescente; 
 b) requerer a designação de audiência para oitiva dos postulantes em 
juízo e testemunhas; 
 
70 
 c) requerer a juntada de documentos complementares e a realização 
de outras diligências que entender necessárias. 
 Conforme prevê o artigo 197-C do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, deve intervir no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional 
a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que deverá elaborar estudo 
psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o 
preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou 
maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios contidos no 
Estatuto em estudo. 
 É obrigatória a participação dos postulantes em programa oferecido 
pela Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos 
técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do 
direito à convivência familiar, que inclua preparação psicológica, orientação 
e estímulo à adoção inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, 
com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de 
irmãos (art. 197-C, §1º do ECA). 
 Sempre que possível é recomendável, essa etapa obrigatória de 
preparação deverá incluir o contato com crianças e adolescentes em regime 
de acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a 
ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da 
Justiça da Infância e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis 
pelo programa de acolhimento familiar ou institucional e pela execução da 
política municipal de garantia do direito à convivência familiar (art. 197-C, 
§2º do ECA). 
 Consoante prevê o artigo 197-D do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, certificada nos autos a conclusão da participação no programa 
supra referido, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) 
horas, deverá decidir acerca das diligências requeridas pelo Ministério 
Público e deverá determinar a juntada do estudo psicossocial, designando, 
conforme o caso, audiência de instrução e julgamento. Caso não haja o 
requerimento de diligência, ou caso estas sejam indeferidas, a autoridade 
judiciária deverá determinar a juntada de estudo psicossocial, abrindo a 
seguir vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, devendo 
decidir em igual prazo. 
 Deferida a habilitação, o postulante deve ser inscrito nos cadastros 
mencionados pelo artigo 50 do Estatuto da Criança e do Adolescente 
(cadastro de crianças e adolescentes em condição de serem adotados e 
cadastro de pessoas interessadas na adoção), sendo a sua convocação 
para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de habilitação e 
conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis (art. 197-
E, caput, do ECA). Nos termos em que dispõe o parágrafo primeiro do artigo 
197-E do Estatuto da Criança e do Adolescente, a ordem cronológica das 
habilitações somente poderá deixar de ser observada pela autoridade 
judiciária quando comprovado ser essa a melhor solução no interesse do 
adotando e quando: 
 a) se tratar de pedido de adoção unilateral; 
 b) for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente 
mantenha vínculos de afinidade e afetividade;71 
 c) oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de 
criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo 
de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e 
não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações 
previstas nos artigos 237 ou 238 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Por derradeiro, conforme estipula o parágrafo segundo do artigo 197-
E do Estatuto da Criança e do Adolescente, a recusa sistemática na adoção 
das crianças ou adolescentes indicados importará na reavaliação da 
habilitação concedida. 
6.3 Recursos 
 
 Por expressa disposição legal, contida no artigo 198 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, fixou-se que nos procedimentos afetos à Justiça 
da Infância e da Juventude adota-se o sistema recursal do Código de 
Processo Civil (Lei n.º 5.869/73), com as seguintes adaptações: 
 a) os recursos serão interpostos independentemente de preparo; 
 b) em todos os recursos, salvo o de agravo de instrumento e de 
embargos de declaração, o prazo para interpor e para responder será 
sempre de 10 (dez) dias; 
 c) os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor; 
 d) antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, no 
caso de apelação, ou do instrumento, no caso de agravo, a autoridade 
judiciária proferirá despacho fundamentado, mantendo ou reformando a 
decisão, no prazo de 5 (cinco) dias; 
 e) mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão remeterá os 
autos ou o instrumento à superior instância dentro de 24 (vinte e quatro) 
horas, independentemente de novo pedido do recorrente; se a reformar, a 
remessa dos autos dependerá de pedido expresso da parte interessada ou 
do Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, contados da intimação. 
 Proferida decisão com base no artigo 149 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, o recurso cabível para atacá-la é a apelação. Para recordar, 
veja-se o teor do artigo 149 do Estatuto em estudo: 
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, 
através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: 
I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, 
desacompanhado dos pais ou responsável, em: 
a) estádio, ginásio e campo desportivo; 
b) bailes ou promoções dançantes; 
c) boate ou congêneres; 
d) casa que explore comercialmente diversões 
eletrônicas; 
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e 
televisão. 
II - a participação de criança e adolescente em: 
 
 
72 
a) espetáculos públicos e seus ensaios; 
b) certames de beleza. 
 A sentença que defere a adoção produz efeito desde logo, embora 
sujeita a apelação, que será recebida exclusivamente no efeito devolutivo, 
salvo se se tratar de adoção internacional ou se houver perigo de dano 
irreparável ou de difícil reparação ao adotando (art. 199-A do ECA). 
 A sentença que destituir ambos ou qualquer dos genitores do poder 
familiar sujeita-se a apelação, que deverá ser recebida apenas no efeito 
devolutivo (art. 199-B do ECA). 
 Os recursos nos procedimentos de adoção e de destituição de poder 
familiar, em face da relevância das questões, devem ser processados com 
prioridade absoluta, devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado 
que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e serão 
colocados em mesa para julgamento sem revisão e com parecer urgente do 
Ministério Público, em obediência ao artigo 199-C do Estatuto em estudo. 
 É dever do relator colocar o processo em mesa para julgamento no 
prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da sua conclusão (art. 199-D 
do ECA). O Ministério Público deve ser intimado da data do julgamento e 
pode na sessão, se entender necessário, apresentar oralmente seu parecer. 
 Ademais, pode o Ministério Público requerer a instauração de 
procedimento para apuração de responsabilidades se constatar o 
descumprimento das providências ou prazos supra mencionados. 
 
 
6.4 Ministério Público 
 
 O Ministério Público tem atuação fundamental na defesa dos 
interesses das crianças e adolescentes. As funções do Ministério Público 
previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente devem ser exercidas nos 
termos da sua respectiva lei orgânica. 
 Segundo prevê o artigo 201 do Estatuto em estudo, compete ao 
Ministério Público: 
 a) conceder a remissão como forma de exclusão do processo; 
 b) promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações 
atribuídas a adolescentes; 
 c) promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos 
de suspensão e destituição do poder familiar, nomeação e remoção de 
tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em todos os demais 
procedimentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude; 
 d) promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a 
especialização e a inscrição de hipoteca legal e a prestação de contas dos 
tutores, curadores e quaisquer administradores de bens de crianças e 
adolescentes nas hipóteses do artigo 98 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente; 
 e) promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos 
interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à 
 
73 
adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da 
Constituição Federal; 
 f) instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los: 
i) expedir notificações para colher depoimentos ou 
esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado, 
requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia civil ou militar; 
ii) requisitar informações, exames, perícias e documentos de 
autoridades municipais, estaduais e federais, da administração direta 
ou indireta, bem como promover inspeções e diligências 
investigatórias; 
iii) requisitar informações e documentos a particulares e 
instituições privadas; 
 g) instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e 
determinar a instauração de inquérito policial, para apuração de ilícitos ou 
infrações às normas de proteção à infância e à juventude; 
 h) zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais 
assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e 
extrajudiciais cabíveis; 
 i) impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, em 
qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos interesses sociais e 
individuais indisponíveis afetos à criança e ao adolescente; 
 j) representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por 
infrações cometidas contra as normas de proteção à infância e à juventude, 
sem prejuízo da promoção da responsabilidade civil e penal do infrator, 
quando cabível; 
 k) inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e 
os programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas 
administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades 
porventura verificadas; 
 l) requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços 
médicos, hospitalares, educacionais e de assistência social, públicos ou 
privados, para o desempenho de suas atribuições. 
 Consoante dispõe o parágrafo primeiro do artigo 201 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, a legitimação do Ministério Público para as ações 
supra mencionadas não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, 
segundo disposições constitucionais e do próprio Estatuto. 
 O Ministério Público possui legitimidade para, por exemplo, pleitear 
alimentos para criança ou adolescente em comarca onde não haja 
defensoria pública. Nesse sentido, veja-se pertinente manifestação do 
Superior Tribunal de Justiça: 
Informativo nº 0444 
Período: 23 a 27 de agosto de 2010. 
Terceira Turma 
ALIMENTOS. LEGITIMIDADE. MP. 
O menor que necessita dos alimentos em questão 
reside com sua genitora em comarca não provida de 
 
74 
defensoria pública. Contudo, é certo que o MP temlegitimidade para propor ações de alimentos em favor 
de criança ou adolescente, independentemente da 
situação em que se encontra ou mesmo se há 
representação por tutores ou genitores (art. 201, III, da 
Lei n. 8.069/1990 – ECA). Já o art. 141 desse mesmo 
diploma legal é expresso ao garantir o acesso da 
criança ou adolescente à defensoria, ao MP e ao 
Judiciário, o que leva à conclusão de que o MP, se não 
ajuizasse a ação, descumpriria uma de suas funções 
institucionais (a curadoria da infância e juventude). 
Anote-se que a Lei de Alimentos aceita a postulação 
verbal pela própria parte, por termo ou advogado 
constituído nos autos (art. 3º, § 1º, da Lei n. 
5.478/1968), o que demonstra a preocupação do 
legislador em garantir aos necessitados a via judiciária. 
A legitimação do MP, na hipótese, também decorre do 
direito fundamental de acesso ao Judiciário (art. 5º, 
LXXIV, da CF/1988) ou mesmo do disposto no art. 201 
do ECA, pois, ao admitir legitimação de terceiros para 
as ações cíveis em defesa dos direitos dos infantes, 
reafirma a legitimidade do MP para a proposição 
dessas mesmas medidas judiciais, quanto mais se 
vistas as incumbências dadas ao parquet pelo art. 127 
da CF/1988. A alegação sobre a indisponibilidade do 
direito aos alimentos não toma relevo, visto não se 
tratar de interesses meramente patrimoniais, mas, sim, 
de direito fundamental de extrema importância. 
Precedentes citados: REsp 510.969-PR, DJ 6/3/2006, e 
RHC 3.716-PR, DJ 15/8/1994. REsp 1.113.590-MG, 
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/8/2010. (sem 
grifos no original) 
 Ademais, as atribuições supra mencionadas não excluem outras, 
desde que compatíveis com a finalidade do Ministério Público. 
 Ao representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, 
é conferido o direito de livre acesso a todo local onde se encontre criança ou 
adolescente (art. 201, §3º do ECA). 
 E o representante do Ministério Público tem o dever de guardar sigilo 
quanto as informações e documentos que requisitar, em obediência as 
hipóteses legais, sob pena de responsabilidade. 
 Para o exercício da atribuição do inciso VIII do artigo 201 do Estatuto 
em estudo, qual seja, zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias 
legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas 
judiciais e extrajudiciais cabíveis, pode o representante do Ministério Público: 
 a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instaurando o 
competente procedimento, sob sua presidência; 
 b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade reclamada, 
em dia, local e horário previamente notificados ou acertados; 
 
75 
 c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços públicos e 
de relevância pública afetos à criança e ao adolescente, fixando prazo 
razoável para sua perfeita adequação. 
 Nos processos e procedimentos em que não for parte, deve atuar 
obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de 
que cuida o Estatuto em análise, hipótese em que terá vista dos autos 
depois das partes, podendo juntar documentos e requerer diligências, 
usando de todos os recursos cabíveis (art. 202 do ECA). 
 Em qualquer caso, a intimação do Ministério Público deve sempre ser 
feita pessoalmente, sob pena de nulidade (art. 203 do ECA). 
 Também acarreta a nulidade do feito, a ausência de intervenção do 
Ministério Público, a qual pode ser declarada de ofício pelo juiz ou a 
requerimento de qualquer interessado. 
 Quanto ao prazo, segue-se a regra do artigo 188 do Código de 
Processo Civil, segundo o qual computar-se-á em quádruplo o prazo para 
contestar e em dobro para recorrer. Sobre o assunto, veja-se o 
entendimento do Superior Tribunal de Justiça: 
Informativo nº 0162 
Período: 17 a 21 de fevereiro de 2003. 
Quarta Turma 
ECA. MINISTÉRIO PÚBLICO. ART. 188, CPC. 
O Ministério Público tem o prazo em dobro para 
recorrer, seja nos casos em que funciona como parte, 
seja naqueles em que oficia como custos legis. Assim, 
aplica-se o art. 188 do CPC às ações e aos 
procedimentos regidos no Estatuto da Criança e do 
Adolescente. Precedentes citados do STF: RE 94.064-
SP, DJ 17/12/1982; do STJ: REsp 15.319-SP, DJ 
23/11/1992, e REsp 2.065-RJ, DJ 28/5/1990. REsp 
281.359-MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, julgado 
em 20/2/2003. 
 Por fim, conforme salienta o artigo 205 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, todas as manifestações processuais do representante do 
Ministério Público devem ser acompanhadas da devida fundamentação. 
 
 
6.5 Advogado 
 
 A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, assim como 
qualquer pessoa que possua interesse legítimo na solução da lide, podem 
intervir nos procedimentos de que cuida o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, por meio de advogado, o qual deverá ser intimado para todos 
os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o segredo de 
justiça. 
 Nesse sentido, deve ser prestada assistência judiciária integral e 
gratuita àqueles que dela necessitarem (art. 206, parágrafo único, do ECA). 
 
 
76 
 Consoante previsão do artigo 207 do Estatuto em estudo, nenhum 
adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda que 
ausente ou foragido, poderá ser processado sem defensor. 
 Quando o adolescente não possuir defensor, um deverá ser-lhe 
nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro de 
sua preferência. 
 A ausência do defensor não determina o adiamento de nenhum ato 
do processo, devendo o juiz nomear substituto, ainda que provisoriamente, 
ou apenas para efeito do ato (art. 207, §2º do ECA). 
 Por fim, conforme disciplina o parágrafo terceiro do artigo 207 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, dispensa-se a outorga de mandato, 
quando se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido 
indicado por ocasião de ato formal com a presença da autoridade judiciária. 
 
 
6.6 Proteção judicial dos interesses individuais, difusos e coletivos 
 
 Regem-se pelas disposições do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos 
assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou 
oferta irregular: 
 a) do ensino obrigatório; 
 b) de atendimento educacional especializado aos portadores de 
deficiência; 
 c) de atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 (zero) a 6 
(seis) anos de idade; 
 d) de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; 
 e) de programas suplementares de oferta de material didático-escolar, 
transporte e assistência à saúde do educando do ensino fundamental; 
 f) de serviço de assistência social visando à proteção à família, à 
maternidade, à infância e à adolescência, bem como ao amparo às crianças 
e adolescentes que dele necessitem; 
 g) de acesso às ações e serviços de saúde; 
 h) de escolarização e profissionalização dos adolescentes privados de 
liberdade. 
 i) de ações, serviços e programas de orientação, apoio e promoção 
social de famílias e destinados ao pleno exercício do direito à convivência 
familiar por crianças e adolescentes. 
 As hipóteses supra mencionadas não excluem da proteção judicial 
outros interesses individuais, difusos ou coletivos, próprios da infância e da 
adolescência, protegidos pela Constituição Federal e pelo próprio Estatuto 
da Criança e do Adolescente (art. 208, §1º do ECA). 
 Conforme redação do parágrafo segundo do artigo 208 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, dada pela Lei n.º 11.259/2005, a investigação do 
desaparecimento de crianças ou adolescentes deve ser realizada 
imediatamente após notificação aos órgãos competentes, que deverão 
 
 
77 
comunicar o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e companhias de 
transporte interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes todos os dados 
necessários à identificaçãodo desaparecido. 
 As ações para proteção dos interesses individuais, difusos e coletivos 
mencionadas neste tópico, devem ser propostas no foro do local onde 
ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência 
absoluta para processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça 
Federal e a competência originária dos tribunais superiores. 
 Em se tratando de ações cíveis fundadas em interesses coletivos ou 
difusos, consideram-se legitimados concorrentemente: 
 a) o Ministério Público; 
 b) a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os 
territórios; 
 c) as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano 
e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos 
protegidos pelo Estatuto em estudo, dispensada a autorização da 
assembléia, se houver prévia autorização estatutária. 
 Admite-se o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da 
União e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que trata o 
Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 No caso de desistência ou abandono da ação por associação 
legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado poderá assumir a 
titularidade ativa (art. 210, §2º do ECA). 
 Os órgãos públicos legitimados podem tomar dos interessados 
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, o qual 
terá eficácia de título executivo extrajudicial (art. 211 do ECA). 
 Prevê o artigo 212 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que para 
a defesa dos direitos e interesses por ele protegidos, são admissíveis todas 
as espécies de ações pertinentes. Para estas, aplicam-se as normas do 
Código de Processo Civil. 
 Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de 
pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público, que lesem 
direito líquido e certo previsto no Estatuto em estudo, cabe ação 
mandamental, que se regerá pelas normas da lei do mandado de segurança 
(Lei n.º 12.016/2009). 
 É importante a disposição contida no artigo 213 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, segundo o qual, na ação que tenha por objeto o 
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz poderá conceder a 
tutela específica da obrigação ou poderá determinar providências que 
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. Nesse 
sentido, quando relevante o fundamento da demanda e havendo justificado 
receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela 
liminarmente ou após justificação prévia, citando o réu. E seja na concessão 
de tutela liminar ou em sentença, pode o juiz impor multa diária ao réu, 
independentemente de pedido do autor, desde que suficiente ou compatível 
com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito. A 
multa, nesse caso, só será exigível do réu após o trânsito em julgado da 
 
78 
sentença favorável ao autor, embora seja devida desde o dia em que se 
houver configurado o descumprimento. 
 Consoante previsão do artigo 214 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo 
Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município. 
Mas enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro deverá permanecer 
depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção 
monetária. 
 As multas não recolhidas até 30 (trinta) dias após o trânsito em 
julgado da decisão deverão ser exigidas por meio de execução promovida 
pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa aos 
demais legitimados (art. 214, §1º do ECA). 
 Ao juiz é lícito conceder efeito suspensivo aos recursos, com a 
finalidade de evitar dano irreparável à parte (art. 215 do ECA). 
 Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao poder 
público, o juiz deve determinar a remessa de peças à autoridade 
competente, para apuração da responsabilidade civil e administrativa do 
agente a que se atribua a ação ou omissão (art. 216 do ECA). 
 Prevê o artigo 217 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que 
decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença 
condenatória sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá 
fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. 
 Deve o juiz condenar a associação autora a pagar ao réu os 
honorários advocatícios arbitrados na conformidade do parágrafo quarto do 
artigo 20 do Código de Processo Civil, sempre que reconhecer que a 
pretensão é manifestamente infundada (art. 218 do ECA). 
 No caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores 
responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados ao 
décuplo das custas, sem prejuízo de responsabilidade por perdas e danos, 
conforme fixa o parágrafo único do artigo 218 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 Nas ações relativas a esse tópico, não se admite o adiantamento de 
custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, 
conforme estipula o artigo 219 do Estatuto em estudo. 
 Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a 
iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe informações sobre fatos que 
constituam objeto de ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção 
(art. 220 do ECA). 
 Se, no exercício de suas funções, os juízos e tribunais tiverem 
conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura de ação civil, 
devem remeter peças informativas ao Ministério Público para as 
providências cabíveis (art. 221 do ECA). 
 Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às 
autoridades competentes as certidões e informações que julgar necessárias, 
que devem ser fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias, conforme determina 
o artigo 222 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Conforme prevê o artigo 223 do Estatuto em estudo, o Ministério 
Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, 
de qualquer pessoa, organismo público ou particular, certidões, informações, 
 
79 
exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual, no entanto, não poderá 
ser inferior a 10 (dez) dias úteis. 
 Instaurado inquérito ou outro procedimento, se o órgão do Ministério 
Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de 
fundamento para a propositura da ação cível, deve promover o arquivamento 
dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o 
fundamentadamente (art. 223, §1º do ECA). 
 Uma vez arquivados, os autos do inquérito civil ou das peças de 
informação devem ser remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no 
prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público (art. 223, 
§2º do ECA). E até que seja homologada ou rejeitada a promoção de 
arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, 
poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou 
documentos, que devem ser juntados aos autos do inquérito ou anexados às 
peças de informação (art. 223, §3º do ECA). 
 Obrigatoriamente, a promoção de arquivamento deve ser submetida a 
exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme 
dispuser o seu regimento. Caso o Conselho Superior deixe de homologar a 
promoção de arquivamento, deverá designar, desde logo, outro órgão do 
Ministério Público para o ajuizamento da ação (art. 223, §5º do ECA). 
 
 
 
 
7. CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS 
7.1 Crimes 
 
 Basicamente, a diferença entre crime e infração administrativa é a 
gravidade em relação a lesão praticada e ao bem jurídico ofendido. No caso 
de crime, há maior gravidade na conduta perpetrada, e também o bem 
jurídico ofendido recebe do Estado maior proteção, ao passo que na infração 
administrativa, há uma conduta dotada de menor lesividade em relação a um 
bem que é juridicamente tutelado, mas em menor intensidade. 
 Aos crimes definidos no Estatutoda Criança e do Adolescente 
aplicam-se as normas constantes da Parte Geral do Código Penal e, quanto 
ao processo, as normas do Código de Processo Penal. 
 Todos os crimes definidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente 
são de ação penal pública incondicionada, conforme estipula o seu artigo 
227. 
 
 
7.1.1 Crimes em espécie 
 
 É importante conhecer, ainda que sumariamente, quais condutas 
foram tipificadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Os artigos 228 
a 244-B do Estatuto em estudo tipificam diversas condutas, as quais serão 
sucintamente mencionadas na sequência. 
 
80 
 Antes, no entanto, é necessário citar o artigo 10 do Estatuto em 
estudo, referido pelos tipos penais dos artigos 228 e 229, também do 
Estatuto: 
Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de 
atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, 
são obrigados a: 
I - manter registro das atividades desenvolvidas, 
através de prontuários individuais, pelo prazo de 
dezoito anos; 
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de 
sua impressão plantar e digital e da impressão digital 
da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas 
pela autoridade administrativa competente; 
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e 
terapêutica de anormalidades no metabolismo do 
recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais; 
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem 
necessariamente as intercorrências do parto e do 
desenvolvimento do neonato; 
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao 
neonato a permanência junto à mãe. 
 Por oportuno, veja-se o primeiro tipo penal descrito pelo Estatuto da 
Criança e do Adolescente: 
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente 
de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de 
manter registro das atividades desenvolvidas, na forma 
e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de 
fornecer à parturiente ou a seu responsável, por 
ocasião da alta médica, declaração de nascimento, 
onde constem as intercorrências do parto e do 
desenvolvimento do neonato: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único. Se o crime é culposo: 
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. 
 A proteção conferida pelo citado artigo 228 do Estatuto da Criança e 
do Adolescente abrange, pois: 
 a) a gestante; 
 b) a parturiente; 
 c) o recém-nascido. 
 A manutenção de prontuário médico pelo prazo legal visa tutelar 
futuras situações relacionadas à mãe, no caso de uma nova gestação, e 
ao(s) filho(s), em decorrência do que com ele(s) tenha ocorrido durante o 
período pré e pós natal. Como se constata, o crime em análise pode ser 
 
 
praticado sob a conduta culposa, conforme estipula o parágrafo único do 
citado artigo 228. 
 Já o artigo 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente tipifica: 
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de 
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de 
identificar corretamente o neonato e a parturiente, por 
ocasião do parto, bem como deixar de proceder aos 
exames referidos no art. 10 desta Lei: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único. Se o crime é culposo: 
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. 
 O objetivo fundamental desse tipo penal é evitar a ocorrência de 
trocas de recém-nascidos nos hospitais. Ademais, esse dispositivo tutela 
tanto a mulher como a criança, protegendo-lhes a vida e a saúde. Como se 
vê, é dever dos profissionais mencionados pelo tipo penal proceder aos 
exames legalmente determinados, não podendo se eximir do dever mediante 
alegação de culpa, que também é punível segundo previsão do parágrafo 
único do dispositivo em estudo. 
 Segundo o artigo 230 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é 
típica a seguinte conduta: 
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua 
liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em 
flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita 
da autoridade judiciária competente: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que 
procede à apreensão sem observância das 
formalidades legais. 
 A liberdade é direito fundamental da pessoa humana. Não há como se 
admitir sua privação sem que haja ordem escrita de autoridade judiciária 
competente ou sem estar o adolescente em flagrante de ato infracional. Há 
que se lembrar, pois, que a pessoa até 12 anos incompletos (criança), não 
pode ser apreendida mediante flagrante de ato infracional, isto porque ela se 
sujeita apenas a medidas de proteção, conforme dispõe o artigo 101 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Enquanto as duas primeiras condutas típicas analisadas eram 
identificadoras de crimes próprios (artigos 228 e 229 do Estatuto da Criança 
e do Adolescente), esta identifica um crime comum, ao passo que qualquer 
um pode ser responsável pela privação da liberdade de crianças e 
adolescentes. 
 Em continuidade, veja-se a conduta tipificada pelo artigo 231 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela 
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata 
 
 
82 
comunicação à autoridade judiciária competente e à 
família do apreendido ou à pessoa por ele indicada: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
 O tipo penal supra citado criminaliza o desrespeito ao mandamento 
constitucional contido no artigo 5º, inciso LXII, que dispõe: “a prisão de 
qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados 
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele 
indicada.” A garantia constitucional tutela a todos, mas especialmente os 
absoluta ou relativamente incapazes, motivo ensejador, pois, da prática 
criminosa acima tipificada. Como se vê, trata-se também de um crime 
próprio, uma vez que apenas a autoridade policial pode cometê-lo, mediante 
conduta omissiva (deixar de fazer imediata comunicação). Note-se, porém, 
que esse dispositivo não tem previsão de conduta culposa. 
 Já o artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê: 
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua 
autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a 
constrangimento: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
 Toda criança ou adolescente tem direito ao respeito e a dignidade. 
Submeter uma criança ou adolescente a vexame ou constrangimento é, 
pois, desrespeitar mencionados direitos. Essa conduta típica só pode ser 
praticada por quem detenha a guarda ou a vigilância da criança ou 
adolescente, tratando-se, portanto, de um crime próprio. Inobstante, pode 
tanto ser praticada tanto por funcionário público como por particular. 
 O artigo 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente foi revogado 
pela Lei n.º 9.455/97, lei que definiu os crimes de tortura e abrangeu a 
conduta anteriormente descrita pelo Estatuto em estudo. 
 Na sequência, veja-se o artigo 234 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa 
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou 
adolescente, tão logo tenha conhecimento da 
ilegalidade da apreensão: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
 Há que se lembrar que as crianças e adolescentes tem absoluta 
prioridade, uma vez que são pessoas em desenvolvimento e carecem de 
todo o apoio do Estado e da sociedade. Assim, o tipo penal em análise 
criminaliza a conduta daquele que, competente para liberar a criança ou 
adolescente, não o faz inobstante tenha conhecimento da ilegalidade da 
apreensão. Como se vê, trata-se de mais um crime próprio, sem que se 
possa falar em conduta culposa. 
 Veja-se o artigo 235 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado 
nesta Lei em benefício de adolescente privado de 
liberdade: 
 
 
83 
Pena - detenção deseis meses a dois anos. 
 
 Dispõe o artigo 236 do Estatuto em estudo: 
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade 
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou 
representante do Ministério Público no exercício de 
função prevista nesta Lei: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 
 Qualquer pessoa pode praticar o delito em análise, ao passo que o 
Estado é sempre seu sujeito passivo. Também pode figurar como sujeito 
passivo a criança ou adolescente em relação a qual praticar-se-ia 
determinada medida prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Note-se que não há previsão de conduta culposa. 
 Na sequência, veja-se a previsão do artigo 237 do Estatuto em 
estudo: 
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de 
quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem 
judicial, com o fim de colocação em lar substituto: 
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. 
 É importante notar que há finalidade específica no dispositivo em 
análise, qual seja, a colocação em lar substituto. Como se vê, portanto, a 
intenção (dolo) é específica. Ademais, não há que se falar na configuração 
do tipo em estudo se houver a subtração de criança ou adolescente de quem 
não detenha a respectiva guarda, decorrente de lei ou de ordem judicial, pois 
esta é uma elementar objetiva do tipo penal. 
 Prevê o artigo 238 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou 
pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: 
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa. 
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem 
oferece ou efetiva a paga ou recompensa. 
 O tipo penal supra citado trata da “compra” e “venda” de crianças e 
adolescentes. Naturalmente, só o dolo é elemento subjetivo do tipo. O 
dispositivo em análise objetiva, pois, a tutela da dignidade da pessoa 
humana, que não pode ser tratada como mercadoria. 
 Veja-se a previsão do artigo 239 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato 
destinado ao envio de criança ou adolescente para o 
exterior com inobservância das formalidades legais ou 
com o fito de obter lucro: 
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. 
 
84 
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave 
ameaça ou fraude: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da 
pena correspondente à violência. 
 A proteção destinada às crianças e adolescentes em todo o Estatuto 
da Criança e do Adolescente completa-se com o dispositivo penal em 
análise, que prevê como típica a conduta de todo aquele que promover ou 
auxiliar o envio de criança ou adolescente ao exterior: 
 a) sem observância da forma legal; 
 b) com a finalidade de lucro. 
 E o parágrafo único do aludido dispositivo prevê uma forma 
qualificada da conduta, sempre que houver o emprego de violência, grave 
ameaça ou fraude. 
 Já o artigo 240 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê: 
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar 
ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito 
ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
§1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, 
recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a 
participação de criança ou adolescente nas cenas 
referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com 
esses contracena. 
§2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente 
comete o crime: 
I – no exercício de cargo ou função pública ou a 
pretexto de exercê-la; 
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de 
coabitação ou de hospitalidade; 
III – prevalecendo-se de relações de parentesco 
consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por 
adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da 
vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha 
autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. 
 O artigo 240 do Estatuto em estudo protege a dignidade, o respeito, a 
decência e a moral da criança ou adolescente. A exploração sexual do 
menor é uma das maneiras mais degradantes da vida humana. Atento a 
essa realidade, o legislador tipificou as condutas (principais) de produzir, 
reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar cena de sexo explícito ou 
pornografia, envolvendo menores, assim como as condutas (acessórias) de 
quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a 
participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput do 
dispositivo, e também daquele com contracena com o menor. 
 
 
85 
 No mesmo sentido, prevê o artigo 241 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou 
outro registro que contenha cena de sexo explícito ou 
pornográfica envolvendo criança ou adolescente: 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
 Como se vê, a pena para quem pratica esse delito é a mesma da 
conduta descrita no caput do artigo anterior. E assim como no crime anterior, 
o elemento subjetivo deste é exclusivamente o dolo, não havendo que se 
falar em conduta culposa. 
 Veja-se, na sequência, o artigo 241-A do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, 
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, 
inclusive por meio de sistema de informática ou 
telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que 
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica 
envolvendo criança ou adolescente: 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
§1º Nas mesmas penas incorre quem: 
I – assegura os meios ou serviços para o 
armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de 
que trata o caput deste artigo; 
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de 
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que 
trata o caput deste artigo. 
§2º As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o 
deste artigo são puníveis quando o responsável legal 
pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa 
de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata 
o caput deste artigo. 
 O tipo penal em análise tem por objetivo reduzir toda forma de 
exploração sexual de crianças e adolescentes, para isso prevendo punição 
para todo aquele que oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, 
publicar ou divulgar por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outro registro de 
menor envolvido em cenas de sexo explícito ou pornografia. Também 
criminosa, segundo o parágrafo primeiro do citado dispositivo, é a conduta 
daquele que assegura os meios ou serviços para o armazenamento do 
material ilícito, inclusive por computadores. Assim, também o que mantém 
site utilizado por outrem para divulgação das cenas envolvendo menores 
incorre nas penas deste tipo penal. Contudo, para que se fale na 
punibilidade destes, há que se notificá-los oficialmente, para que retirem do 
ar o material ilícito, e, apenas se deixarem de retirar mencionado conteúdo é 
que serão passíveis de punição. 
 
86 
 Em continuidade, prevê o artigo 241-B do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
Art. 241-B.Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer 
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que 
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica 
envolvendo criança ou adolescente: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
§1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se 
de pequena quantidade o material a que se refere o 
caput deste artigo. 
§2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem 
a finalidade de comunicar às autoridades competentes 
a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 
241-A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for 
feita por: 
I – agente público no exercício de suas funções; 
II – membro de entidade, legalmente constituída, que 
inclua,entre suas finalidades institucionais, o 
recebimento, o processamento e o encaminhamento de 
notícia dos crimes referidos neste parágrafo; 
III – representante legal e funcionários responsáveis de 
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de 
rede de computadores, até o recebimento do material 
relativo à notícia feita à autoridade policial, ao Ministério 
Público ou ao Poder Judiciário. 
§3º As pessoas referidas no §2º deste artigo deverão 
manter sob sigilo o material ilícito referido. 
 Enquanto o artigo 241-A pune as formas de distribuição do material 
que contenha cena de sexo explícito ou pornografia envolvendo criança ou 
adolescente, o artigo 241-B pune as maneiras de aquisição desse conteúdo. 
Há que se atentar, que quando o armazenamento tiver por finalidade a 
comunicação às autoridades competentes, não há que se falar em crime. 
 Já o artigo 241-C do Estatuto em estudo prevê: 
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou 
adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica 
por meio de adulteração, montagem ou modificação de 
fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de 
representação visual: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem 
vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica 
ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou 
armazena o material produzido na forma do caput deste 
artigo. 
 
87 
 Também punível é a conduta de todo aquele que simular a 
participação de menor em cena de sexo explícito ou pornográfica, seja 
adulterando, realizando montagem ou modificando fotografia, vídeo ou 
qualquer outra forma de representação visual. Note-se que as mesmas 
penas sujeitam aqueles que distribuem, por meio das condutas descritas no 
parágrafo único, o material ilícito elaborado com base nas condutas 
descritas no caput do dispositivo. 
 Em continuidade, prevê o artigo 241-D do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, 
por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim 
de com ela praticar ato libidinoso: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: 
I – facilita ou induz o acesso à criança de material 
contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o 
fim de com ela praticar ato libidinoso; 
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo 
com o fim de induzir criança a se exibir de forma 
pornográfica ou sexualmente explícita. 
 A conduta descrita no supra citado tipo penal tem por finalidade evitar 
a prática de atos libidinosos com crianças, protegendo-lhes o pudor e a 
dignidade sexual. Ademais, objetiva o tipo penal evitar o estupro, 
censurando a conduta daqueles que tenham por objetivo, utilizando qualquer 
meio de comunicação, aliciar, assediar, instigar ou constranger criança. 
Porém, note-se que o tipo em análise utiliza apenas a expressão criança, ou 
seja, pessoa com até 12 anos incompletos de idade, tendo deixado de fora 
os adolescentes. 
 Já o artigo 241-E do Estatuto da Criança e do Adolescente apenas 
esclarece: 
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, 
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfico” 
compreende qualquer situação que envolva criança ou 
adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou 
simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma 
criança ou adolescente para fins primordialmente 
sexuais. 
 O dispositivo supra citado apenas define o que seja “cena de sexo 
explícito ou pornográfica”, complementando o conteúdo dos artigos 
anteriores. 
 Em sentido diverso dos tipos anteriores, prevê o artigo 242 do 
Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou 
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente 
arma, munição ou explosivo: 
 
88 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. 
 Qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo do tipo penal supra 
citado. Note-se que se abrange toda forma de distribuição de arma, munição 
ou explosivo a criança ou adolescente, tendo por objetivo tutelar a dignidade, 
a integridade e o sadio desenvolvimento do menor. Não há que se falar em 
conduta culposa, como se extrai da análise do dispositivo. 
 Prevê o artigo 243 do Estatuto em estudo: 
Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, 
ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou 
adolescente, sem justa causa, produtos cujos 
componentes possam causar dependência física ou 
psíquica, ainda que por utilização indevida: 
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, 
se o fato não constitui crime mais grave. 
 O tipo penal em análise tem por objetivo afastar o efeito maléfico de 
substâncias entorpecentes nas crianças e adolescentes, que são pessoas 
vulneráveis. Protege-se, assim, a saúde física e mental da criança e do 
adolescente. Note-se que o fornecimento de substância cujo componente 
possa causar dependência física ou psíquica, mediante justa causa, pode 
ser admitido e não configurará crime, como no caso de remédios receitados 
ou ministrados por profissionais qualificados. Qualquer pessoa pode figurar 
como sujeito ativo do crime em análise. 
 Prevê o artigo 244 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou 
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescentes 
fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, 
pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de 
provocar qualquer dano físico em caso de utilização 
indevida: 
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa. 
 Por meio deste dispositivo pretende-se efetivar a proteção da 
integridade física da criança. Qualquer pessoa pode figurar como sujeito 
ativo deste delito. O crime em questão é de perigo, que se consuma 
mediante a simples venda, fornecimento ou entrega independentemente da 
ocorrência de qualquer dano físico. 
 Já o artigo 244-A do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê: 
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais 
definidos no caput do art. 2º desta Lei, à prostituição ou 
à exploração sexual: 
Pena - reclusão de quatro a dez anos, e multa. 
§1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o 
gerente ou o responsável pelo local em que se verifique 
a submissão de criança ou adolescente às práticas 
referidas no caput deste artigo. 
 
89 
§2º Constitui efeito obrigatório da condenação a 
cassação da licença de localização e de funcionamento 
do estabelecimento. 
 O crime descrito no caput do dispositivo supra descrito pode ser 
praticado por qualquer pessoa. Note-se que nas mesmas penas de quem 
submete, incorre aquele que é proprietário, gerente ou responsável pelo 
local em que ocorra a submissão da criança ou adolescente à prostituição ou 
à exploração sexual. Em relação a esse delito, como estipula o citado 
parágrafo segundo, é efeito obrigatório da condenação a cassação da 
licença de localização e funcionamento do estabelecimento. 
 Prevê o artigo 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor 
de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal 
ou induzindo-o a praticá-la: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
§ 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo 
quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de 
quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-
papo da internet. 
§ 2º As penas previstas no caput deste artigo são 
aumentadas de um terço no caso de a infração 
cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1º da 
Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990. 
 O último dispositivo dos crimes em espécie, do Estatuto da Criança e 
do Adolescente, foi incluído pela Lei n.º 12.015/2009. O tipo penal em 
comento tutela a dignidade e o desenvolvimento dacriança e do 
adolescente. Qualquer pessoa pode praticar o delito em análise, que pode 
ser cometido por meios eletrônicos, como através de salas de bate-papo na 
internet, por exemplo. Consoante estipula o parágrafo segundo do artigo em 
estudo, as penas previstas no caput devem ser aumentadas de 1/3 (um 
terço) caso a infração cometida ou induzida esteja incluída no artigo 1º da 
Lei dos Crimes Hediondos. Por fim, veja-se quais são esses crimes: 
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes 
crimes, todos tipificados no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 
de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou 
tentados: 
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade 
típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por 
um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, 
II, III, IV e V); 
II - latrocínio (art. 157, § 3º, in fine); 
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º); 
IV - extorsão mediante sequestro e na forma 
qualificada (art. 159, caput, e §§ 1º, 2º e 3º); 
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º); 
 
 
90 
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 
3º e 4º); 
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º). 
VII-A – (VETADO) 
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração 
de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais 
(art. 273, caput e §1º, § 1º-A e §1º-B, com a redação 
dada pela Lei nº 9.677, de 2 de julho de 1998). 
Parágrafo único. Considera-se também hediondo o 
crime de genocídio previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei 
nº 2.889, de 1º de outubro de 1956, tentado ou 
consumado. 
 
 
7.1.2 Infrações administrativas 
 
 Não tão graves a ponto de configurar um crime, as infrações 
administrativas traduzem condutas ilícitas, passíveis de punição, mas em 
menor intensidade. 
 Há que se mencionar que as infrações administrativas sujeitam-se a 
prescrição, e para tanto devem ser utilizadas as regras do Código Penal, 
conforme informativo do Superior Tribunal de Justiça abaixo citado: 
Informativo nº 0280 
Período: 3 a 7 de abril de 2006. 
Primeira Turma 
INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. ECA. PRESCRIÇÃO. 
APLICAÇÃO. CP. 
As normas referentes às prescrições previstas no 
Código Penal são aplicáveis às infrações 
administrativas previstas no Estatuto da Criança e do 
Adolescente - ECA. A Turma deu provimento ao 
recurso e decretou a prescrição. REsp 820.297-RN, 
Rel. Min. José Delgado, julgado em 6/4/2006. 
 É importante conhecer as condutas tratadas pelo Estatuto da Criança 
e do Adolescente como infrações administrativas. 
 Prevê o artigo 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por 
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino 
fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à 
autoridade competente os casos de que tenha 
conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de 
maus-tratos contra criança ou adolescente: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, 
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. 
 
 
91 
 Como se vê, trata-se de uma infração própria, em que pode figurar 
como sujeito ativo o médico, professor ou responsável por estabelecimento 
de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche. Note-se 
que a conduta da infração é omissiva, isto é, deixar de comunicar. 
 Já o artigo 246 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê: 
Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de 
entidade de atendimento o exercício dos direitos 
constantes nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 
desta Lei: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, 
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. 
 O sujeito ativo da infração em análise é o responsável ou funcionário 
de entidade de atendimento, seja ela governamental ou não-governamental. 
Frise-se que a infração em análise só se consuma quando há impedimento 
de exercício de alguns direitos do artigo 124 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, e não de todos. Para recordar, os direitos referidos pela 
infração em análise são: 
 a) peticionar diretamente a qualquer autoridade (art. 124, II, do ECA); 
 b) avistar-se reservadamente com seu defensor (art. 124, III, do ECA); 
 c) receber visitas, ao menos, semanalmente (art. 124, VII, do ECA); 
 d) corresponder-se com seus familiares e amigos (art. 124, VIII, do 
ECA); 
 e) receber escolarização e profissionalização (art. 124, XI, do ECA). 
 Já o artigo 247 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê: 
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem 
autorização devida, por qualquer meio de comunicação, 
nome, ato ou documento de procedimento policial, 
administrativo ou judicial relativo à criança ou 
adolescente a que se atribua ato infracional: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, 
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. 
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou 
parcialmente, fotografia de criança ou adolescente 
envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que 
lhe diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam 
atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta 
ou indiretamente. 
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou 
emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista 
neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a 
apreensão da publicação ou a suspensão da 
programação da emissora até por dois dias, bem como 
da publicação do periódico até por dois números. 
 
92 
 Como já se teve a oportunidade de expor, a criança e o adolescente a 
que se atribua a prática de ato infracional têm direito ao sigilo. Assim, caso 
haja a violação do sigilo, mediante a divulgação do nome, ato ou documento 
do procedimento policial, administrativo ou judicial relativo ao menor, haverá 
caracterização da infração em análise. Quanto à expressão tachada, a 
mesma foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, por 
meio da ação declaratória de inconstitucionalidade n.º 869-2. 
 Prevê o artigo 248 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de 
seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de 
regularizar a guarda, adolescente trazido de outra 
comarca para a prestação de serviço doméstico, 
mesmo que autorizado pelos pais ou responsável: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, 
aplicando-se o dobro em caso de reincidência, 
independentemente das despesas de retorno do 
adolescente, se for o caso. 
 Incorre na infração supra citada todo aquele que trouxer adolescente 
de outra comarca, para a finalidade de prestação de serviço doméstico, e 
não o apresentar aprazadamente (5 dias) à autoridade judiciária, para 
regularização da guarda, ainda que haja autorização dos pais. Assim, findo o 
5º (quinto) dia da chegada do adolescente, consumada estará a infração em 
estudo. 
 Veja-se a previsão do artigo 249 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os 
deveres inerentes ao poder familiar ou decorrente de 
tutela ou guarda, bem assim determinação da 
autoridade judiciária ou Conselho Tutelar: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, 
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. 
 A responsabilidade do exercício do poder familiar não possui apenas 
índole moral, e uma vez descumprido dever a ele inerente, o agente sujeita-
se à sanção supra citada. Note-se que também incorre nesta infração aquele 
que descumprir dever inerente a tutela ou a guarda, assim como aquele que 
descumprir determinação da autoridade judiciária ou do Conselho Tutelar. E 
mais, veja-se que há previsão para conduta culposa. 
 Prevê o artigo 250 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente 
desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem 
autorização escrita dessesou da autoridade judiciária, 
em hotel, pensão, motel ou congênere: 
Pena – multa. 
§1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de 
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o 
 
 
93 
fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) 
dias. 
§2º Se comprovada a reincidência em período inferior a 
30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente 
fechado e terá sua licença cassada. 
 O dispositivo em análise tem o objetivo de evitar situações que 
possam constranger a dignidade, o respeito e as integridades física e moral 
das crianças e adolescentes. Como pessoas vulneráveis, os menores não 
devem ser hospedados sem a companhia dos pais ou responsável, 
evitando-se assim, eventuais danos que lhes podem advir. 
 Veja-se o artigo 65 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por 
qualquer meio, com inobservância do disposto nos arts. 
83, 84 e 85 desta Lei: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, 
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. 
 No mesmo sentido do dispositivo anterior, o artigo supra citado visa à 
prevenção. Com isso, pretende-se evitar a lesão à dignidade, ao respeito e 
às integridades física e moral das crianças e adolescentes. Para recordar, 
veja-se a redação dos artigos 83, 84 e 85 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da 
comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou 
responsável, sem expressa autorização judicial. 
§1º A autorização não será exigida quando: 
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da 
criança, se na mesma unidade da Federação, ou 
incluída na mesma região metropolitana; 
b) a criança estiver acompanhada: 
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro 
grau, comprovado documentalmente o parentesco; 
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo 
pai, mãe ou responsável. 
§2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou 
responsável, conceder autorização válida por dois 
anos. 
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a 
autorização é dispensável, se a criança ou adolescente: 
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou 
responsável; 
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado 
expressamente pelo outro através de documento com 
firma reconhecida. 
 
94 
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, 
nenhuma criança ou adolescente nascido em território 
nacional poderá sair do País em companhia de 
estrangeiro residente ou domiciliado no exterior. 
 Veja-se, na sequência, o artigo 252 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou 
espetáculo público de afixar, em lugar visível e de fácil 
acesso, à entrada do local de exibição, informação 
destacada sobre a natureza da diversão ou espetáculo 
e a faixa etária especificada no certificado de 
classificação: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, 
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. 
 Como já oportunamente estudado, a afixação em lugar visível e de 
fácil acesso, da natureza da diversão ou espetáculo e da faixa etária 
especificada é dever do responsável pela apresentação, sob pena de 
incorrer na infração supra citada. 
 No mesmo sentido, veja-se a redação do artigo 253 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente: 
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer 
representações ou espetáculos, sem indicar os limites 
de idade a que não se recomendem: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, 
duplicada em caso de reincidência, aplicável, 
separadamente, à casa de espetáculo e aos órgãos de 
divulgação ou publicidade. 
 Como se vê, trata-se de outro desdobramento do dever de indicação 
dos limites de idade recomendados à apresentação de peças teatrais, filmes 
ou quaisquer representações ou espetáculos. 
 Também no mesmo sentido, veja-se o artigo 254 do Estatuto da 
Criança e do Adolescente: 
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, 
espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem 
aviso de sua classificação: 
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; 
duplicada em caso de reincidência a autoridade 
judiciária poderá determinar a suspensão da 
programação da emissora por até dois dias. 
 Como se vê, pratica a infração administrativa não só aquele que 
transmite espetáculo sem o aviso da classificação indicativa, como também 
aquele que o transmite em horário diverso do permitido. Ainda que 
autorizada a exibição de determinados programas, mediante a indicação de 
 
 
95 
sua classificação, alguns têm limitação de horário, não podendo ser exibidos 
a qualquer tempo. 
 Veja-se o artigo 255 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou 
congênere classificado pelo órgão competente como 
inadequado às crianças ou adolescentes admitidos ao 
espetáculo: 
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na 
reincidência, a autoridade poderá determinar a 
suspensão do espetáculo ou o fechamento do 
estabelecimento por até quinze dias. 
 A previsão da infração supra citada visa prevenir quaisquer práticas 
destinadas a alterar o sadio desenvolvimento da criança e do adolescente. 
Assim, o responsável pela realização de um espetáculo onde sejam 
admitidas crianças e adolescentes deve estar atento para que, durante a sua 
realização, nenhum filme, trailer, peça, amostra ou congênere que seja 
classificado como inadequado aos menores seja a eles exibido. 
 Veja-se, na sequência, o artigo 256 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita 
de programação em vídeo, em desacordo com a 
classificação atribuída pelo órgão competente: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em 
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá 
determinar o fechamento do estabelecimento por até 
quinze dias. 
 Enquanto a infração anteriormente citada tem âmbito de proteção 
coletiva, este dispositivo destina-se à proteção individualizada da criança e 
do adolescente, proibindo-se a venda ou a locação de fita de programação 
em vídeo em desacordo com a classificação que tenha sido atribuída pelo 
órgão competente. 
 Prevê o artigo 257 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 
79 desta Lei: 
Pena - multa de três a vinte salários de referência, 
duplicando-se a pena em caso de reincidência, sem 
prejuízo de apreensão da revista ou publicação. 
 O que se proíbe por meio da citada infração é a venda das revistas e 
publicações que contenham material impróprio ou inadequado para crianças 
ou adolescentes, tal como publicações pornográficas ou com anúncios de 
bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições. Para recordar, veja-se a 
redação dos artigos 78 e 79 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
Art. 78. As revistas e publicações contendo material 
impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes 
 
96 
deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, 
com a advertência de seu conteúdo. 
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as 
capas que contenham mensagens pornográficas ou 
obscenas sejam protegidas com embalagem opaca. 
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público 
infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, 
fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas 
alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão 
respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da 
família. 
 Já o artigo 258 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê: 
Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou 
o empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o 
acesso de criança ou adolescente aos locais de 
diversão, ou sobre sua participação no espetáculo: 
Pena - multa de três a vintesalários de referência; em 
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá 
determinar o fechamento do estabelecimento por até 
quinze dias. 
 Apontadas as restrições pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, e 
recordando-se que a proteção das crianças é um dever da família, do Estado 
e de toda a sociedade, os responsáveis por estabelecimentos ou 
empresários tem o dever de impedir a violação das normas do Estatuto em 
estudo. Se deixarem de fazê-lo, permitindo que uma criança permaneça em 
determinado estabelecimento quando não poderia, responderão pela 
infração em análise. O artigo 55 do Estatuto da Criança e do Adolescente 
proíbe, por exemplo, a entrada de menor de 18 (dezoito) anos em casa de 
jogo, determinação que deve ser por todos observada. 
 Incluído pela Lei n.º 12.010/2009, prevê o artigo 258-A do Estatuto da 
Criança e do Adolescente: 
Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de 
providenciar a instalação e operacionalização dos 
cadastros previstos no art. 50 e no §11 do art. 101 
desta Lei: 
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 
(três mil reais). 
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a 
autoridade que deixa de efetuar o cadastramento de 
crianças e de adolescentes em condições de serem 
adotadas, de pessoas ou casais habilitados à adoção e 
de crianças e adolescentes em regime de acolhimento 
institucional ou familiar. 
 Os cadastros previstos no artigo 50 do Estatuto em estudo são: 
 
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 a) um de crianças e adolescentes em condições de serem adotados; 
 b) um de pessoas interessadas na adoção. 
 Já o parágrafo onze do artigo 101 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente trata do cadastro que deve conter informações atualizadas 
sobre crianças e adolescentes que estejam em regime de acolhimento 
familiar e institucional. 
 Por fim, também incluído pela Lei n.º 12.010/2009, prevê o artigo 258-
B do Estatuto em estudo: 
Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de 
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de 
efetuar imediato encaminhamento à autoridade 
judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe 
ou gestante interessada em entregar seu filho para 
adoção: 
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 
(três mil reais). 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário 
de programa oficial ou comunitário destinado à garantia 
do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a 
comunicação referida no caput deste artigo. 
 Portanto, os profissionais supra referidos tem o dever de efetuar o 
imediato encaminhamento à autoridade judiciária, dos casos de mães ou 
gestantes interessadas em entregar seu filho para adoção. 
 O dispositivo visa efetivar a ampla proteção que o Estatuto da Criança 
e do Adolescente assegura aos menores, de modo que com o apoio 
profissional, a mãe ou gestante possa receber todo o apoio do Estado para 
cuidar de seu filho, ao invés de apenas entregá-lo para adoção, ou, se ainda 
assim desejar fazê-lo, que a criança ou adolescente não seja colocado em 
situação de risco, evitando-se sua entrega por meios à margem da lei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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