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AULA 4 Jorge, com 21 anos de idade, em um bar com outros amigos, conheceu Analisa, linda jovem, por quem se encantou. Após um bate-papo informal e trocarem beijos, decidiram ir para um local mais reservado. Nesse local trocaram carícias, e Analisa, de forma voluntária, praticou sexo oral e vaginal com Jorge. Depois da noite juntos, ambos foram para suas residências, tendo antes trocado telefones e contatos nas redes sociais. No dia seguinte, Jorge, ao acessar a página de Analisa na rede social, descobre que, apesar da aparência adulta, esta possui apenas 13 (treze) anos de idade, tendo Jorge ficado em choque com essa constatação. O seu medo foi corroborado com a chegada da notícia, em sua residência, da denúncia movida por parte do Ministério Público Estadual, pois o pai de Analisa, ao descobrir o ocorrido, procurou a autoridade policial, narrando o fato. Por Analisa ser inimputável e contar, à época dos fatos, com 13 (treze) anos de idade, o Ministério Público Estadual denunciou Jorge pela prática de dois crimes de estupro de vulnerável, previsto no artigo 217- A, na forma do artigo 69, ambos do Código Penal. O Parquet requereu o início de cumprimento de pena no regime fechado, com base no artigo 2º, §1º, da lei 8.072/90, e o reconhecimento da agravante da embriaguez preordenada, prevista no artigo 61, II, alínea l, do CP. O processo teve início e prosseguimento na XX Vara Criminal da cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, local de residência do réu. Jorge, por ser réu primário, ter bons antecedentes e residência fixa, respondeu ao processo em liberdade. Na audiência de instrução e julgamento, a vítima afirmou que aquela foi a sua primeira noite, mas que tinha o hábito de fugir de casa com as amigas para frequentar bares de adultos. As testemunhas de acusação afirmaram que não viram os fatos e que não sabiam das fugas de Ana para sair com as amigas. As testemunhas de defesa, amigos de Jorge, disseram que o comportamento e a vestimenta da Analisa eram incompatíveis com uma menina de 13 (treze) anos e que qualquer pessoa acreditaria ser uma pessoa maior de 14 (quatorze) anos, e que Jorge não estava embriagado quando conheceu Analisa. O réu, em seu interrogatório, disse que se interessou por Analisa, por ser muito bonita e por estar bem vestida. Disse que não perguntou a sua idade, pois acreditou que no local somente pudessem frequentar pessoas maiores de 18 (dezoito) anos. Corroborou que praticaram o sexo oral e vaginal na mesma oportunidade, de forma espontânea e voluntária por ambos. A prova pericial atestou que a menor não era virgem, mas não pôde afirmar que aquele ato sexual foi o primeiro da vítima, pois a perícia foi realizada longos meses após o ato sexual. O Ministério Público pugnou pela condenação de Jorge nos termos da denúncia. A defesa de Jorge foi intimada no dia 24 de abril de 2014 (quinta- feira). Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto acima, redija a peça cabível, no último dia do prazo, excluindo a possibilidade de impetração de Habeas Corpus, sustentando, para tanto, as teses jurídicas pertinentes. PEÇA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA XX VARA CRIMINAL DE CURITIBA - ESTADO DO PARANÁ JORGE, já qualificado nos autos ação penal em epígrafe, vem, a presença de Vossa Excelência, através de seu advogado infra-assinado, apresentar com fulcro no artigo 403 § 3º do CPP MEMORIAIS Pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos: -I- DOS FATOS Jorge estava em um bar com outros amigos, onde conheceu Analisa, linda jovem, por quem se encantou. Após um bate-papo informal e trocarem beijos, decidiram ir para um local mais reservado. Nesse local trocaram carícias e, Analisa de forma voluntária, praticou sexo oral e vaginal com Jorge. No dia seguinte, Jorge, ao acessar a página de Analisa na rede social, descobre que, apesar da aparência adulta, esta possui apenas 13 (treze) anos de idade, tendo Jorge ficado em choque com essa constatação. O seu medo foi corroborado com a chegada da notícia, em sua residência, da denúncia movida pelo Ministério Público Estadual, pois o pai de Analisa, ao descobrir o ocorrido, procurou a autoridade policial, narrando o fato. O Ministério Público Estadual denunciou Jorge pela prática de dois crimes de estupro de vulnerável, previsto no artigo 217- A, na forma do artigo 69, ambos do Código Penal. O Parquet requereu o início de cumprimento de pena no regime fechado, com base no artigo 2º, §1º, da lei 8.072/90, e o reconhecimento da agravante da embriaguez preordenada, prevista no artigo 61, II, alínea l, do CP. -II- DO MÉRITO A) DA ATIPICIDADE DA CONDUTA – DO ERRO DE TIPO ESCUSÁVEL OU ESSENCIAL – ARTIGO 20 DO CP Como se denota dos autos, agiu o réu em erro de tipo escusável ou essencial. O tipo penal descrito na denúncia exige que o réu tenha ciência de que se trata de menor de 14 (quatorze) anos e, conforme a doutrina e jurisprudência, quando verificado no caso concreto, a absoluta impossibilidade de conhecimento da idade da vítima, incide o acusado em erro de tipo essencial. A incidência do erro de tipo essencial se deve ao fato de que, o réu naquele momento não poderia presumir a real idade da suposta vítima, pois estavam em um bar para adultos, com entrada proibida para menores de 18 anos de idade, ademais, a suposta vítima não aparentava ser menor de 14 (quatorze). Resta claro, que o agente sempre acreditou que estava praticando ato sexual de forma lícita e nunca negou que teve a intenção de praticar conjunção carnal com Analisa. Na leitura da realidade, o réu acreditou estar praticando ato sexual com pessoa maior de 14 (quatorze) anos, valendo ressaltar, que qualquer pessoa naquelas circunstâncias incidiria em erro de tipo essencial e como não há estupro de vulnerável na forma culposa, a solução é a absolvição do réu com base no artigo 386 III do CPP. B) DA NÃO OCORRÊNCIA DO CONCURSO MATERIAL – CRIME ÚNICO Se por ventura, for o réu condenado, não deverá ser aplicado ao o concurso material de crimes, haja vista ser o tipo penal imputado ao acusado crime único. A prática de sexo oral e vaginal no mesmo contexto configura crime único, pois a reforma penal oriunda da Lei 12.015/2009 uniu as figuras típicas do atentado violento ao pudor e estupro em uma única figura, sendo, portanto, um crime misto alternativo. C) DA AUSÊNCIA DE EMBRIAGUEZ PREORDENADA O Ministério Público requereu a condenação do réu com a agravante da embriaguez preordenada, entretanto, tal argumento não deve prosperar, pois não foram produzidas provas no sentido de que o réu se embriagou com o intuito de tomar coragem para praticar o crime, devendo ser afastada a referida agravante e reconhecida a atenuante do artigo 65 I do CP. D) DA DOSIMETRIA DA PENA E DO REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA No presente caso, estamos diante de réu primário, de bons antecedentes e por existir crime único e não concurso material, o réu faz jus a fixação da pena-base no mínimo legal, com a consequente fixação do regime semiaberto. A fixação do regime semiaberto se deve ao fato de que o STF declarou inconstitucional o artigo 2º §1º da Lei 8072/90, devendo o magistrado ao fixar o regime inicial para o cumprimento de pena analisar a situação em concreto e não o preceito em abstrato. Assim, diante da ocorrência de crime único, cuja pena deverá ser fixada em 8 (oito) anos de reclusão com a correta aplicação do regime semiaberto para início de cumprimento de pena, pois o artigo 33, §2º, alínea “a”, do CP, impõe o regime fechado para crimes com penas superiores a 8 (oito) anos, o que não é o caso. -III- DOS PEDIDOS Diante do exposto, requer-se: A) A absolvido do réupor atipicidade da conduta nos moldes do artigo 20 do CP c/c artigo 386, III, do CPP; Diante da condenação, de forma subsidiária requer: B) Afastamento do concurso material de crimes, sendo reconhecida a existência de crime único; C) Fixação da pena-base no mínimo legal, o afastamento da agravante da embriaguez preordenada e a incidência da atenuante da menoridade; D) Fixação do regime semiaberto para início do cumprimento de pena, com base no art. 33, § 2º, alínea “b”, do CP, diante da inconstitucionalidade do artigo 2º, § 1º, da lei 8.072/90. Nestes termos Pede deferimento. Local, 29 de abril de 2014. ADVOGADO OAB Nº OBSERVAÇÕES!!!!! Trata-se de peça final, apresentada no último momento antes da sentença penal e que serve para demonstrar e condensar todas as teses acusatórias e defensivas. É importante colocarmos na elaboração o maior número de teses possível, alternativas, se for o caso e, logicamente demonstrando sempre a melhor tese em primeiro plano. Vale observar, ainda, que, nos demais procedimentos (sumário, sumaríssimo, júri etc.), as alegações finais serão somente orais, todavia a prática jurídica vem permitindo a aplicação por analogia do procedimento ordinário, conforme art. 394 §5º do CPP
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