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A MÚSICA COMO FERRAMENTA INCLUSIVA DO ALUNO COM TEA: Intervenção terapêutica aplicada à Educação Musical Cássia Pinto ÁVILA¹ ¹ Graduanda em Educação Musical pela Universidade Vale do Rio Verde (Unincor) E-mail: p.a.cassia@gmail.com Orientadora: Prof.ª Ma. Daniela Vilela de Morais. Professora do curso de música à distância FCTE/ Unincor / Unidade de Três Corações Resumo: O presente artigo alicerça suas bases entendendo o Transtorno do Espectro Autista (TEA) como uma condição em que há um comprometimento em três áreas específicas: imaginação, socialização e comunicação, constituindo a chamada Tríade de Wing, (LOURO, 2014, p. 344; SAMPAIO e FREITAS, 2011, p. 164). A pesquisa vê a importância em diferir a visão do TEA antes e após a descoberta do diagnóstico, considera as divergências diagnósticas das DSMs e aborda conceitos sobre inclusão, buscando caminhos para que a mesma aconteça no âmbito escolar e social, tendo a música e seu ensino como ferramenta inclusiva principal . O foco principal do artigo recai sobre a compatibilidade entre alguns dos métodos de intervenção terapêutica específicos do TEA e a prática pedagógica da música. Foram considerados modelos de intervenção com fundamentação construtivista, desenvolvimentista e comportamentalista. Por fim, propõem-se atividades e jogos pertinentes à Educação Musical, sob a ótica dos métodos DIR-Floor Time, ABA, e TEACCH , pretendendo o desenvolvimento de competências que favoreçam o processo cognitivo e maior domínio e controle sensorial. Palavras Chave: Autismo. Inclusão. Integração. Educação Musical. Métodos de Intervenção. Abstract: The Autism Spectrum Desorder (ASD) is a condition which impairs three specific areas: (i) imagination, (ii) socialization and (iii) communication, constituting the so-called Wing's triad of impairments. This work addresses the ASD's view before and after the diagnosis discovery. It also considers the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM) diagnosis disagreements and addresses concepts about social and pedagogical inclusion using musical teaching as an inclusive tool. The main focus is on the compatibility between some of the specific methods of ASD's therapeutic intervention and the pedagogical practice of music. Intervention models with constructivist and behaviorist foundation were considered. Finally, from the perspective of DIR-Floor Time, ABA and TEACCH methods, this work proposes relevant activities and games related to music education in order to enhance the cognitive process and the domain and sensory control. Keywords: Autism. Inclusion. Integration. Music Education. Intervention Methods. Introdução A palavra autismo foi mencionada pela primeira vez em 1911, por Eugene Bleuler, que criou a palavra para definir o comportamento que considerava um sintoma da esquizofrenia. Ele a definiu como sendo uma perturbação ou suspensão da relação com a realidade, em consequência de uma perturbação primária (HOCCHMAN, 2009, p. 204). Wing (1988, p. 23) destaca que, muito antes do surgimento do termo autista, a sintomatologia já se fazia presente entre crianças e adultos, e faz menção a lendas que tentavam justificar a presença de crianças com tal comportamento atípico. Acreditavam que bruxas roubavam bebês e em seu lugar deixavam uma criança encantada, que segundo as lendas, era muito bonita, porém fora dos padrões humanos de comportamento. O primeiro e mais conhecido caso relatado de comportamento autístico (muito anterior ao surgimento do termo) aconteceu em 1801, pelo médico francês Jean-Marc- Gaspard Itard, que fez o relato de um menino de 12 anos chamado Víctor, que vivia nos bosques como um selvagem. O episódio é conhecido como O menino selvagem de Aveyron. Inicialmente, acreditava-se que seu comportamento fosse resultado da privação de contato humano, mas posteriormente foi possível constatar que as suas descrições comportamentais eram totalmente pertinentes ao quadro de autismo (FRITH, 2009 passim; WING, 1988, p. 23). O primeiro estudo, de fato, sobre o autismo aconteceu em 1943, realizado por Leo Kanner, um dos fundadores da Psiquiatria Infantil, que observou rigorosa e sistematicamente 11 crianças encaminhadas à sua clínica com um padrão de conduta incomum, a que chamou Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo. Seu artigo faz descrições detalhadas do comportamento das crianças, mas seleciona traços característicos para seu diagnóstico: 1) Falta de contato afetivo, 2) Ênfase em rotinas específicas, 3) Silêncio total ou substancial anomalia da fala, 4) Fascinação por determinados objetos, 5) Extrema destreza para manipular esses objetos, 6) Atividades espaciais de alta mecânica ou memória, que contrastavam com as dificuldades de aprendizagem em outras áreas (KANNER, 1943, passim). Em 1944, o psiquiatra Hans Asperger desenvolve um estudo baseado em um grupo de crianças com quadro semelhante ao descrito por Kanner, mas com importante diferencial: não apresentavam deficiência de linguagem ou do desenvolvimento cognitivo. A publicação tornou-se conhecida apenas em 1981, após a transcrição de Lorna Wing para o inglês (SAMPAIO e FREITAS, 2011, p. 164). Em 1976, a Drª Lorna Wing resume a área de comprometimento do TEA em três áreas específicas: imaginação, socialização e comunicação, instituindo dessa maneira, a chama Tríade de Wing (LOURO, 2014, p. 344; SAMPAIO e FREITAS, loc.cit.). Faz-se importante esclarecer que, a partir da DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, APA, 2013), todos os distúrbios do autismo (Transtorno Autista, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno Generalizado do Desenvolvimento Não-Específico e Síndrome e Asperger) fundiram-se em um diagnóstico único: TEA (Transtorno do Espectro Autista). A DSM-V (APA, 2013) aponta, hoje, que o número de autistas corresponde a 1% da população das Américas; entretanto, as pesquisas ainda não são claras se o crescente número de casos se deve à expansão dos critérios diagnósticos do DSM-IV (APA, 2002) para incluir os casos subliminares, à maior conscientização sobre o tema, a diferenças na metodologia de estudo ou a um verdadeiro aumento do número de casos do Transtorno do Espectro do Autismo. TEA, Música e Inclusão Quando falamos em TEA, não nos referimos a uma doença, mas sim a uma condição. Caracteriza-se por uma limitação de origem neurológica, chamada desordem sensorial, responsável por uma série de respostas incomuns a estímulos simples: engasgar-se ao experimentar alimentos novos, apresentar pouca ou nenhuma reação a estímulos álgicos, sensibilidade à luz, cores e sons, pobre coordenação motora, flacidez do tônus muscular, incômodo extremo a algumas texturas de roupas, dentre outros. (SAMPAIO e FREITAS, 2011, p. 172). Não obstante as limitações impostas pelo TEA, e reconhecendo as Artes como o “exercício de inclusão, de relações e viver social” (LOURO, 2010, p. 5), é preciso que se busque incluir socialmente esses alunos, propiciando seu acesso a atividades sociais, como o escotismo, acesso a clubes e espaços culturais, e atividades artísticas, como a música e o teatro, dentre outros. A presente pesquisa pretende, portanto, buscar caminhos inclusivos para os alunos acometidos pelo TEA, analisando a aplicabilidade dos principais métodos de intervenção terapêutica à educação musical. A ação tem como justificativa o crescente número de alunos com TEA matriculados em escolas regulares, sem que, no entanto, existam diretrizes capazes de nortear o processo educacional-inclusivo desses alunos. Tal crescimento foi motivado pela sansão da Lei Berenice Piana(BRASÍLIA, 2012), que reconhece a pessoa com TEA como pessoa portadora de deficiência, o que fere as determinações da Declaração de Salamanca, que defende: As crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares, que a elas se devem adequar através de uma pedagogia centrada na criança, capaz de ir ao encontro destas necessidades (UNESCO, 1994). Werneck (2003, p. 16-17) pondera que, denotativamente, inclusão e integração possuem o mesmo significado: ser inserido, incorporar-se, fazer parte. Entretanto, quando as mesmas palavras representam ações, inclusão e integração passam a ter significado extremamente distinto. Segundo o autor, Inclusão parte da premissa de que somos todos diferentes. Valoriza as individualidades das pessoas com deficiência não procurando disfarçar suas limitações, uma vez que são reais. Exige rupturas no sistema educacional. Integração requer que o aluno se adapte à escola. Busca a normalização da pessoa com deficiência. Pede concessões ao sistema educacional. (WERNECK, loc. cit.). Mantoan (2009, p. 10) defende que a inclusão é um fator inerente a qualquer espaço que receba crianças. Trata-se de uma ação que busca ser direcionada a todos os alunos da comunidade escolar, e não exclusivamente àquelas com necessidades especiais. Para que o processo inclusivo aconteça, é necessário que se estabeleça estratégias que o favoreça. Berghman (2014, lecture) aponta como principais estratégias propiciadoras da inclusão: Motivação e engajamento (Prazer em estar naquele espaço e com aquelas pessoas), acreditar que a pessoa é capaz, adaptação de atividades sempre que necessário, suporte visual e antecipação às reações, cuidados com recursos áudio visuais, mediação, conscientização de toda a equipe envolvida e capacitação dos envolvidos. A carência de ações que favoreçam o processo de inclusão, neste caso especificamente do aluno com TEA, propulsiona essa pesquisa, que reconhece o valor da música como eixo inclusivo. Cada um dos aspectos ou elementos da música corresponde a um aspecto humano específico. O ritmo musical induz ao movimento corporal, a melodia estimula a afetividade, a estrutura musical (na harmonia ou forma musical) contribui ativamente para a afirmação ou para a restauração da ordem mental no homem. (WILLEMS apud GAINZA 1982, p. 36). TEA e Processos de Aprendizagem Louro (2010, p. 23-24) admite que, na maioria das vezes em que falamos em música e deficiência, quase sempre estamos nos referindo à musicoterapia, e reconhece seu potencial; no entanto, difere as metas terapêuticas dos objetivos pedagógicos. Embora esta pesquisa tome por base princípios de intervenção terapêutica, os mesmos são utilizados como elemento norteador, a fim de melhor entender os comportamentos e as reações pertinentes ao espectro do autismo. Desta forma, oferece- se à educação musical subsídios, não apenas para que se faça acessível, mas para que assuma postura inclusiva diante do aluno com TEA, seja no aprendizado musical, seja no desenvolvimento de competências úteis à vida cotidiana, como a superação de limites ou condições impostas pelo transtorno, dos quais podemos citar hipersensibilidade auditiva, introspecção, inabilidade social, dentre outros. Com relação ao processo de aprendizagem musical, Louro (2013, p. 3) afirma que ele ocorre em hemisférios ou centros cerebrais específicos, sendo certos elementos processados pelo hemisfério direito e outros pelo esquerdo. O hemisfério direito apresenta superioridade na compreensão das melodias; harmonia e ritmo talvez sejam sempre decodificadas pelos dois hemisférios ao mesmo tempo (QUEIROZ, 2003; JOURDAIN, 1998, apud LOURO, loc cit) Quando falamos sobre autismo e aprendizagem, especialmente dentro do contexto musical, precisamos prioritariamente considerar a necessidade de promover a Integração Sensorial. Segundo Ayres (1979, apud SILVA, et al, p. 33), integração sensorial vem a ser o processo neurológico através do qual o S.N.C. (Sistema Nervoso Central) recebe, registra e organiza a informação que vai usar para criar uma resposta adaptada do corpo ao meio ambiente. Greenspan e Greenspan (1989, apud loc cit) aponta que, na criança com TEA, o déficit no processamento da informação e modulação sensorial tem fortes consequências e, com frequência, levam a um déficit na adaptação social, dificuldades em relacionamentos interpessoais, e dificuldades em interpretar as reações emocionais. Métodos de Intervenção Diante a variada gama de métodos interventivos disponíveis atualmente, a presente pesquisa dedicou-se a três métodos específicos, por apresentarem diferente prisma e conduta diante do processo de aprendizagem da criança com TEA, disponibilizando assim, uma visão mais ampla e imparcial sobre a aplicabilidade dos métodos disponíveis. MODELO DIR COM ABORDAGEM FLOOR TIME Segundo Silva (et al, p. 32-35), trata-se de um modelo baseado no Desenvolvimento funcional, nas diferenças Individuais e na Relação. Este modelo pretende a formação de alicerces para o desenvolvimento de competências sociais, emocionais e intelectuais da criança. Nesse método, quem direciona as ações são os interesses emocionais da criança, que é estimulada ao maior domínio de seu desenvolvimento e controle sensorial. Um dos pontos prioritários deste método é a intenção de tornar comportamentos estereotipados em comportamentos esperados e com um objetivo. Aplicabilidade Podemos usar como exemplo uma atividade específica do método DIR, no tocante a intervenção e direcionamento de comportamentos estereotipados, comuns ao TEA (BERGHMAN, 2014, lecture). A proposta foi adaptada à aula de Música segundo experiência própria, lecionando para crianças autistas há um ano e meio: se a criança apresenta a estereotipia de bater as mãos sobre um objeto, ou bater palmas, caberá ao professor de música, pela ótica DIR-Floor Time, introduzir o trabalho com uma música que inclua o bater na mesa, ou bater palmas. A ação pede o envolvimento de toda a equipe que trabalhará com a criança, inclusive a família, pois todas as vezes que a criança apresentar a estereotipia, a música deve ser cantada, oferecendo uma razão para aquele movimento. Com o estímulo repetido, a ação (bater em objetos ou palmas) passará a ser a resposta ao estímulo da canção, e o esperado é que a estereotipia não mais aconteça. Vale lembrar que a estereotipia, bem como as descargas sensoriais, são uma necessidade do cérebro para acomodar-se, para buscar conforto. Baseado nesse princípio, são reações que não devem ser contidas, e sim direcionadas (BERGHMAN, loc cit). Outra atividade musical sob a abordagem DIR-Floor Time relaciona a prática do canto, brincadeira de roda (foco na socialização e prática em grupo) e superação da hipersensibilidade tátil. A atividade consiste, primeiramente, em apresentar ao grupo uma música com marcação rítmica expressiva. O grupo deverá formar-se em roda e, inicialmente, bater palmas seguindo o pulso da música. Uma vez compreendido e delimitado o pulso, as palmas são substituídas por uma bola que é passada de um aluno para outro, sempre respeitando a pulsação (a atividade, por si, permite a socialização entre o grupo). Quando o jogo é dominado pelas crianças, a bola é substituída por uma geleia viscosa, que é comumente incômoda à criança com TEA. Vale lembrar que a atividade pretende intervir, estabilizando sensorialmente um caso de hipersensibilidade tátil, ou seja, extremo incômodo a determinados toquese texturas. O contato com uma massa viscosa, normalmente seria extremamente incômoda, no entanto, a abordagem DIR-Floor Time considera que se o cérebro dominar os passos anteriores, a criança estará confortável e focada nos passos que precisa seguir (segurar a bola, passar para o colega, respeitar o pulso musical). Com tantas informações a serem categorizadas e executadas, a ação desencadeadora da desordem (segurar a geleia viscosa, ou balão com água, ou qualquer material incômodo) passa a não ser percebida pelo cérebro, que busca estabilizar-se nas sensações prazerosas. (LOURO, 2014, ). MODELO ABA (Applied Behavior Analysis) As bases das teorias comportamentais não são recentes. Seus princípios descendem da evolução contra o mentalismo, com o descobrimento dos princípios do condicionamento (MONIZ, 2005, apud GONÇALVES, 2011). MONIZ defende ainda, que os princípios operantes de Skinner têm sido uma ferramenta a ser aplicada não só no campo clínico, mas também no planejamento educativo e social (loc. Cit.). A Análise Aplicada do Comportamento preocupa-se com a interação entre o ambiente, comportamento humano e aprendizagem. Tem como principal característica o uso de prêmios, como consequência a ações ou comportamentos desejáveis. Gonçalves (2011, p. 52) reconhece o ABA como o único método com fundamentação científica comprovada, com mais de 40 anos de investigação e 47% de recuperação para um funcionamento normal. A maior crítica ao modelo ABA é a alegação de robotizar as crianças, o que é contestado em Gonçalves (2011, p. 54), que defende que a pretensão do método é reabilitar precocemente para que as crianças evoluam ao nível comportamental da autonomia, auto ajuda e socialização. Aplicabilidade Através de experimentação, análise sistemática do comportamento da criança e suas reações diante aos estímulos, é fundamental descobrir uma atividade ou estímulo específico que seja extremamente prazeroso para a criança. Essa ação deve ser condicionada ao momento inicial das propostas pedagógico musicais. Dessa maneira, toda vez que a criança tiver sua atenção tomada por outro estímulo ao redor e perder o interesse pela atividade, usar o estímulo prazeroso trará a atenção do aluno com TEA de volta, bem como indicará para o mesmo o início de uma nova atividade. Essa estratégia pretende auxiliar o educador a manter a atenção do aluno pelo tempo necessário, além de ser um importante instrumento que pode ser utilizado para reestabelecer o controle sensorial, sempre que necessário. Sugerimos uma prática de conjunto sob a ótica ABA, cuja eficiência pode ser comprovada através de experiência prática própria, utilizando bandas de percussão como ponto culminante da inclusão musical de alunos com TEA. A prática é indicada a partir do momento em que o aluno já dispõe de certa estabilidade sensorial. O instrumento inicial utilizado foram os pratos, o que se sugere por algumas razões, a saber: exige certa força muscular (propício para trabalhar a falta de tônus muscular, característico ao TEA), não necessita de acessórios que possam fazer a criança sentir- se presa, ou desconfortável (ex: talabartes ou carriers), eventualmente cabe ao instrumento pausas consideráveis dentro dos arranjos (que podem ser necessárias para o reajuste sensorial, bem como trabalha a questão da ansiedade, aguardar o momento certo). Utiliza-se um instrumento piloto a fim de dirigir a ação; inicialmente, produzindo o condicionamento operante, introduz-se a prática do conjunto e, gradativamente, o ato de tocar vai sendo desvinculado do instrumento piloto, e sendo direcionado às indicações de entrada da regência. MÉTODO TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication handicapped Children): Foi desenvolvido pelo Dr.. Eric Schopler, na década de 70, defendendo que essas crianças respondem melhor a realidades estruturadas de acordo com suas limitações e potencialidades. O TEACCH é um método de intervenção que une características desenvolvimentistas e comportamentalistas conceitualmente mais complexas que o Behavorismo (VATAVUK, 2005, apud SANTOS, et al, p. 37). O método apresenta sua maior fundamentação no pressuposto de que crianças com TEA respondem melhor a um sistema organizado, onde padrões definidos de organização irão oferecer melhor compreensão do que lhes é proposto (GICOVATE, s/d GONÇALVES (2011, p. 86), faz referência ao método alegando que o mesmo ocorre em situações de ensino estruturado com apoio de estruturas visuais de materiais próprios e atividades adequadas às necessidades individuais. Aplicabilidade Respeitar a característica do método TEACCH, de trabalhar em espaços específicos a cada etapa da atividade, é fundamental para que não se quebre possíveis padrões adotados pelo aluno. Podemos citar como prioritário, dentro das aulas de música, o espaço para atividades em grupo, espaço para atividades individuais, espaço para prática instrumental, dentre outros (APPDA-Lisboa, apud GONÇALVES, 2011, p. 86). Sugerimos que as propostas musicais, dentro do método TEACCH, ofereçam concretude considerável para a melhor compreensão dos alunos, pelo que se faz auspicioso o uso de materiais concretos, que Morais (2012, p. 39) define como: Objeto, na perspectiva do professor, que os alunos podem ver, manipular, reproduzir sons, com os quais eles podem se movimentar e se expressar musicalmente e que subordina-se a objetos pedagógico - musicais e ao jogo educativo ou pedagógico- musical. Uma proposta com as características supracitadas relaciona estímulo à linguagem verbal, prática musical, controle da ansiedade, e estímulo da praxia fina, que WALLON (apud MELLO, 1989, p. 38 ) define como sendo o trabalho de forma ordenada dos pequenos músculos. Englobam principalmente a atividade manual e digital, ocular, labial e lingual. . Propomos a música Bolinha de sabão (PALAVRA CANTADA, 2010, vol.2, p. 23). A ação consiste em apresentar a canção à criança concomitantemente a bolhas de sabão (de maneira a interligar o processo áudio visual). Inicialmente, a intenção é estourar bolhas, uma por vez, seguindo a acentuação rítmica, enquanto o professor faz soar os sinujs (pequenos sinos), dando sonoplastia ao estouro das bolas. Em um segundo momento, a criança passa a soar os sinujs enquanto o professor usa uma alfaia, marcando cada tempo da música. Mais crianças são introduzidas na atividade gradativamente, sempre buscando a alternância de papeis entre elas. A inclusão de novos timbres é bem vinda. Conclusão Ao fim desta pesquisa, confirmamos a ideia inicial, de que as práticas de intervenção terapêutica fazem-se grandes colaboradores da prática pedagógica, oferecendo maior embasamento ao professor sobre possíveis formas de abordagem do aluno com TEA. O conhecimento das possibilidades de intervenção, permitem ao professor planejar melhor suas ações buscando resultados específicos, antecipando-se a possíveis reações indesejáveis e intervindo sobre elas sempre que possível. Resaltamos que nenhum dos métodos de intervenção abordados, ou qualquer outro que se tenha conhecimento, pretende a cura do autismo. Não observamos nenhuma preponderância de um método sobre o outro, observamos, apenas, diferentes formas de abordagem, que se fazem auspiciosas ao considerarmos que o universo do TEA é extremamente vasto, e que a quantidade de alunos comprometidos pelo TEA que trabalharmos, será o número de universos que temos a desvendar. Diante dos resultados observados, podemos concluir que a prática da Educação Musical direcionada aos alunos com TEA constitui em importanteferramenta de inclusão do aluno na escola regular, onde grande parte das atividades direcionadas sob a ótica dos métodos de intervenção pode, também, ser aplicada aos alunos sem comprometimento cognitivo ou de interação social. Desta maneira, oferecem-se condições igualitárias de aprendizagem, socializando o aluno com TEA e ensinando valores éticos e de respeito às diversidades, à comunidade escolar tornando, dessa forma, os conceitos de inclusão abordados nessa pesquisa uma realidade possível. Referências APA, DSM-IV, Tradução ALMEIDA, José Nunes, 4ª edição, Lisboa, Climepsi, 2002. APA, DSM-5, 50º edição, London, New School Library, 2013. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, Necessidades Educativas Especiais – NEE In: Conferência Mundial sobre NEE: Acesso em: Qualidade – UNESCO. Salamanca/Espanha: UNESCO 1994. 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