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IES – INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR MARGARETH CAPRILES SANTOS ARAUJO A INFLUÊNCIA DO LÚDICO NAS HABILIDADES SOCIAIS DE CRIANÇAS AUTISTAS TRÊS LAGOAS MS 2021 MARGARETH CAPRILES SANTOS ARAUJO A INFLUÊNCIA DO LÚDICO NAS HABILIDADES SOCIAIS DE CRIANÇAS AUTISTAS Monografia apresentada à Instituição de ensino superior como requisito parcial para obtenção título de Especialista do Programa de Pós-graduação Latu Senso em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) ao Autismo. Orientadora: Ms. Karen Karolina Pereira Kuhn TRÊS LAGOAS MS 2021 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada à fonte. Catalogação na publicação Serviço de Documentação Universitária ARAUJO, Margareth Capriles Santos. A influência do lúdico nas habilidades sociais de crianças autistas. Análise do Comportamento / Margareth Capriles Santos Araújo. Três Lagoas MS, 2021. 36 p.; 30 cm Monografia – Instituição de ensino superior, curso de Análise do Comportamento Aplicada (ABA) ao Autismo. Orientador: Ms. Karen Karolina Pereira Kuhn 1. Autismo. Intervenção. Interação social. Atividades lúdicas. . FOLHA DE APROVAÇÃO MARGARETH CAPRILES SANTOS ARAUJO A INFLUÊNCIA DO LÚDICO NAS HABILIDADES SOCIAIS DE CRIANÇAS AUTISTAS Monografia apresentada à Instituição de ensino superior como requisito parcial para obtenção título de Especialista do Programa de Pós-graduação Latu Senso em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) ao Autismo. Aprovada em: ___/___/2021 Examinadores: ___________________________________________ Prof. Coordenador ___________________________________________ Prof. Orientador ___________________________________________ Prof. Orientador Dedico este trabalho a Deus. Meu grande companheiro. Mestre por excelência. Agradeço a Deus, pela vida, agradeço a minha família pelo apoio, incentivo, amor e compreensão. Agradeço aos professores que encontrei durante minha fase escolar, desde o ensino fundamental até o último ano da graduação. Vocês são os melhores. EPÍGRAFE O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor. RUBEM ALVES. RESUMO ARAÚJO, Margareth Capriles Santos. A INFLUÊNCIA DO LÚDICO NAS HABILIDADES SOCIAIS DE CRIANÇAS AUTISTAS. 2021, 40 f. Monografia – curso de Análise do Comportamento Aplicada (ABA) ao Autismo – IES – Instituição de ensino superior – 2021. Com o presente trabalho, o objetivo principal foi compreender a utilização de atividades lúdicas no contexto de intervenção no comportamento que possam incrementar habilidades sociais em crianças com autismo; e principalmente buscar comprovar a sua importância na formação da socialização; sendo esta fundamental para o desenvolvimento do ser humano. O tipo de pesquisa realizado neste trabalho foi a pesquisa bibliográfica. Conclui-se que, a criança com autismo pode ser estimulada para a obtenção de habilidades sociais por meio de intervenção com atividades lúdicas favorecendo a formação de vínculos afetivos e obtendo uma melhora significativa nas interações sociais. Enriquecendo assim o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança com transtorno de espectro autista. Palavras Chave: Autismo. Intervenção. Interação social. Atividades lúdicas. ABSTRACT ARAÚJO, Margareth Capriles Santos. THE INFLUENCE OF THE PLAYER ON THE SOCIAL SKILLS OF AUTISTIC CHILDREN. 2021. 40 f. Monograph - Course on Analysis of Behavior Applied (ABA) to Autism - IES - Higher Education Institution - 2021. With this work, the main objective was to understand the use of playful activities in the context of intervention in behavior that can enhance social skills in children with autism; and mainly seeking to prove its importance in the formation of socialization; this being fundamental for the development of the human being. The type of research carried out in this work was bibliographical research. It is concluded that the child with autism can be stimulated to obtain social skills through intervention with playful activities, favoring the formation of affective bonds and obtaining a significant improvement in social interactions. Thus enriching the cognitive and emotional development of children with autism spectrum disorder. Key words: Autism. Intervention. Social interaction. Playful activities. SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10 1 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADO (ABA) EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE ESPECTRO AUTISTA......................................................... 12 2 O BRINCAR E O NEURODESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE ESPECTRO AUTISTA......................................................... 20 3 A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO LÚDICA NAS HABILIDADES SOCIAIS DA CRIANÇA COM TEA...................................................................................... 28 CONCLUSÃO....................................................................................................... 35 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 39 10 INTRODUÇÃO Sabendo da responsabilidade na formação da personalidade e na transmissão de conhecimentos para a construção de estímulos sociais, é que foi proposto pesquisar o papel da ludicidade nesta etapa educacional para argumentar e buscar comprovar sua importância na formação do ser humano, em especial na infância. A criança desde o nascimento responde a estímulos sociais e estabelece uma interação social, isso porque todas as suas necessidades são atendidas por um adulto. Por isso quanto mais ricas forem as vivências da criança com o meio social em que vive, melhor será o desenvolvimento físico e emocional nesses primeiros períodos de vida. A interação social é fundamental para o desenvolvimento infantil, isso porque muitas habilidades cognitivas e adaptativas se completam durante a infância durante o convívio e o compartilhamento de experiências com outras crianças. No entanto, existem crianças que apresentam certas dificuldades na interação com o mundo exterior, apresentando padrões de comportamentos estereotipados e atividades restritas; como é o caso das crianças com autismo no qual apresentam habilidades sociais inadequadas ou inapropriadas. Como o autismo é um distúrbio de desenvolvimento complexo com graus variados de severidade, as dificuldades nas habilidades sociais são diversas. Dessa forma a tendência dos responsáveis pela criança é procurar atendimento especializado para auxilia-la a desenvolver habilidades básicas e essenciais. A premissa principal é a noção de que a interação social é um componente necessário. Uma das principais características de crianças com autismo é a dificuldade em interagir com outras pessoas, pelo fato da dificuldade para usar formas de comunicação e de perceber sentimentos e gestos. Porém a interação do autista é possível através de estímulos dedicação e paciência. Além da procura de ajuda de um profissional é importante que tanto a escola como a família estimulem a interação social do indivíduo para entender possíveis intercorrências negativas. Além disso, atitudes de intervenções dirigidas para realocar comportamentos difíceis 11 e direcionar para comportamentos socialmente adequados amplia as possibilidades de interação social e o engajamento desta criança. É nesse contexto que a exploração dos recursoslúdicos podem auxiliar a criança na aceitação de novas experiências, como também pode ser usada para avaliar o grau de desenvolvimento da criança, contribuindo para a formação de estratégias para desenvolvimento de novas habilidades. A análise do comportamento aplicada; em inglês Happlied Behavior Analysis, (ABA), é uma abordagem da Psicologia que tem como objetivo de estudo o comportamento humano e diante da singularidade de cada pessoa, as intervenções possibilitam maximizar o potencial de cada criança identificando de maneira conveniente como ensinar e o que ensinar. Para o desenvolvimento do estudo, este trabalho está estruturado em três etapas, além desta introdução. Primeiramente fez se uma abordagem sobre o conceito de autismo, a importância do diagnóstico precoce de tratamento na infância para inibir maiores consequências e a análise do comportamento aplicado em crianças com Transtorno de Espectro Autista. No segundo capitulo realizou-se a contextualização do problema, identificando a junção entre o brincar e o neurodesenvolvimento de crianças com TEA, como a brincadeira emerge de forma diversa e a aplicação do uso funcional dos brinquedos com a utilização de reforçadores. Por fim, o terceiro capitulo, buscou se analisar num âmbito geral a importância do lúdico nas habilidades sociais da criança com TEA para depois serem aplicadas as intervenções mais complexas e eficazes, aumentando assim o repertório comportamental da criança, desenvolvendo o comportamento verbal e criativo possibilitando-a de apresentar o soluções originais. Considerando o objetivo proposto, este estudo foi estruturado com pesquisas de caráter documental. O método de pesquisa foi a revisão bibliográfica. Os objetivos específicos foram alcançados através de buscas em livros, registros decorrentes de pesquisas anteriores, como tese, dissertações e artigos. Para a pesquisa, foram consultados a base de dados da biblioteca digital da Universidade e o Google Acadêmico. As palavras-chave utilizadas na busca foram: Autismo. Intervenção. Interação social. Atividades lúdicas. Nessa direção, autores como, 12 Martin Joseph Pear Garry, Helen Bee, Denise Boyd, Angela Di Paolo SELLA, entre outros, foram fundamentais para a compreensão do estudo ora exposto. 1 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADO (ABA) EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE ESPECTRO AUTISTA Antes de tratarmos diretamente do comportamento aplicado a crianças com TEA, é necessário a compreensão do que é o autismo. Do ponto de vista analítico-comportamental, o autismo é uma síndrome de déficits e excessos que pode ter uma base neurológica; é um distúrbio do desenvolvimento complexo com graus variados de severidade. Segundo Ana Caroline Sella, (2018), no decorrer da história: O conceito de autismo modificou-se consideravelmente, ao longo dos mais de 70 anos, desde a publicação do trabalho de Leo Kanner. O autismo, que foi considerado equivocadamente como produto de relações afetivas e práticas parentais, hoje é compreendido como um complexo transtorno do desenvolvimento com forte base genética. A definição mais recente, apresentada na quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5; APA, 2014) conceitua o autismo como um espectro, denominando-o como Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essa nova definição representa uma nova concepção do TEA, que deixa de ser compreendido como categorias (Transtorno Autista, Síndrome de Asperger, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação) e passa a ser entendido como um continuum de manifestações de ampla variabilidade, tanto no grau de acometimento, quanto na forma particular em que os prejuízos apresentam-se em diversas áreas do desenvolvimento do indivíduo. (SELLA, 2018; p. 38). O TEA, passa a ser visto como uma condição que afeta indivíduos de todas as raças e culturas e que apresenta vasta gama de funcionamento, que pode se manifestar sobre diversas formas ao longo dos anos com variação notável na expressão dos sintomas e uma condição permanente. Esta síndrome tende a se caracterizar pelo aparecimento de comportamentos no desenvolvimento da atividade, adaptação e imaginação. Atualmente em sua 5ª versão o DSM, Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), conhecida como DSM-V; traz uma nova definição do TEA, ampliando a identificação de sintomas com uma destaque na observação do desenvolvimento da comunicação 13 e interação social da criança, apresentando dois critérios diagnósticos importantes, nas áreas sócio comunicativa e comportamental (NASCIMENTO, 2014). A palavra autismo significa ausente ou perdido o que facilita o entendimento do que envolve esse transtorno. Conforme Francisco Baptista Assumpção, (2018, p. 25); “Autismo é um transtorno complexo do desenvolvimento que envolve atrasos e comprometimentos nas áreas de interação social e linguagem incluindo uma ampla gama de sintomas emocionais, cognitivos, motores e sensoriais”. É uma desordem no desenvolvimento neurológico presente desde o nascimento ou começo da infância. Nos estudos de Angela Di Paolo Mota, (2015); em sua tese de doutorado, menciona que apesar dos significativos avanços nas pesquisas ainda não se tem um marcador biológico que possibilite a identificação do diagnóstico; mas sim, que deve ser feito a partir de investigações realizadas por equipes multifuncionais com base em características do comportamento da criança o que muitas vezes torna esse processo lento: As principais características do espectro se referem a dificuldades da interação social déficit de comunicação, padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses em atividades. Como se trata de um quadro bastante heterogêneo, nem sempre todas essas características acontecem de forma concomitantes, a crianças que apresentam sinais de risco desde os primeiros dias ou meses de vida, e outras somente após 1 ou 2 anos, algumas falam, outras não, algumas apresentam retardo mental ou epilepsia outras não. Os sintomas mais comuns não se expressa são do mesmo modo em todas as crianças, apesar de apresentar em certa regularidade que permite a construção de Diagnósticos (MOTA, 2015, p. 25). Para identificação e diagnóstico do TEA, importante somar os critérios do DSM-V, a um conjunto de observações clínicas da criança e entrevistas com os pais ou educadores. O uso de escalas e de instrumentos de triagem e uma avaliação padronizada, também é muito importante, o que envolve o trabalho de uma equipe multifuncional. Diversos estudos tem confirmado a identificação de sinais precoces do TEA, ainda nos dois primeiros anos de vida, antes do diagnóstico ser fechado. Segundo o pesquisador, Dr. André Augusto Borges Varela (2018); existem dois tipos de metodologia utilizadas em pesquisas que procuram apontar sinais que possibilitem indicar o início do TEA; qual seja a retrospectiva e a prospectiva: 14 Os estudos retrospectivos normalmente buscam por sinais precoces de TEA por meio de análises de vídeos de crianças que foram diagnosticadas com TEA ou seja, os vídeos foram gravados antes de os bebês receberem o diagnóstico, ou por meio de entrevista com os pais, que informam quais as irregularidades no desenvolvimento observadas antes da criança ser diagnosticada. Os estudos prospectivos, por outro lado, buscam por sinais de TEA em bebês que se encontram em situação de risco de desenvolver TEA por terem um irmão mais velho com esse diagnóstico fechado. Assim, nesse tipo de estudo, os bebês em risco normalmente são acompanhados a partir do primeiro ano de vida até a idade em que um possível diagnóstico poderia ser feito de forma confiável. (VARELA, 2018; p. 42). Conformeo autor, existem fortes indícios de que sinais precoces do transtorno surgem ao longo do desenvolvimento da criança ainda no primeiro ano de vida, por isso aponta “a relevância em observar o fim do primeiro ano de vida que é um período importante para o monitoramento de sinais” (VARELA, 2018; p. 44). Visto que é o momento de interação entre os pais e a criança, com trocas efetivas e compartilhamento de experiências, uma vez que a atenção compartilhada encontra- se em emergência. Segundo Ministério da Saúde (2014), entre os sinais precoces mais associados com um diagnóstico seguinte de autismo, está a dificuldade no contato ocular e a interação social, na coordenação de gestos com expressão facial e postura na comunicação; brincadeira simbólica reduzida ou ausente, e comportamentos repetitivos ou ritualizados relacionados ao corpo e movimentos complexos e outras com objetos bem como girar ou enfileirar; também alterações sensoriais com a hipersensibilidade a sons, luzes e movimento. A síndrome autística é uma entidade clínica, com características definidas, principalmente em nível cognitivo, o que possibilita a avaliação da dinâmica familiar dos pais de seus portadores, uma vez que a sua educação e processo de socialização, cabe à família independente de processos de habilitação e tratamento. Sendo o autismo uma doença crônica, ele exige da família uma série de transformações para absorver em sua dinâmica um elemento com essa deficiência em seu processo de desenvolvimento. (SELLA, RIBEIRO; 2018, p. 33). Os primeiros anos de vida da criança são fundamentais para estabelecer os alicerces das suas aquisições futuras para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo. Por isso, a oportunidade valiosa de monitorar cuidadosamente o desenvolvimento da criança e de encaminhar para avaliações e intervenções precoces; promovendo a saúde integral da criança (SELLA, RIBEIRO; 2018). 15 Michele Zaira Maciel Menezes, (2020); discursa sobre a importância do diagnóstico precoce de tratamento na infância para inibir maiores consequências, isso porque independente do grau do espectro, o não tratamento traz consequências na idade adulta. Percebe-se também que, ainda que haja uma intervenção precoce; algumas crianças desenvolvem poucas habilidades de comunicação, tendo um número significativo de autistas que permanecem sem a fala na fase adulta. No livro sobre análise comportamental aplicada ou Applied Behavior Analysis (DUARTE, SILVA, VELLOSO; 2018); a ABA é descrita como uma ciência cujas intervenções procedem dos princípios do comportamento e tem por objetivo ensinar habilidades que façam diferença na vida dos indivíduos que compõem uma sociedade tornando-os independentes e capazes de participar de grupos sociais. Conforme Burrhus Frederic Skinner, (1953), citado por Garry, (2018): Com frequência o indivíduo passa a controlar parte de seu próprio comportamento quando uma resposta tem consequências que provocam conflitos, quando leva tanto a reforço positivo quanto negativo. (...) O organismo pode tornar a resposta punida menos provável alterando as variáveis das quais é função. Qualquer comportamento que consiga fazer isso será automaticamente reforçado. Denominamos autocontrole esses comportamentos. As consequências positivas e negativas geram duas respostas relacionadas uma à outra de modo especial: uma resposta, a controladora, afeta variáveis de maneira a mudar a probabilidade da outra, a controlada. A resposta controladora pode manipular qualquer das variáveis das quais a resposta controlada é função; portanto, há muitas formas diferentes de autocontrole. (SKINNER, 1953; p. 224). O trecho citado, expressa uma revisão sistemática de uma análise de comportamento para que se obtenha uma intervenção efetiva. (DUARTE, SILVA, VELLOSO; 2018), existem diversas abordagens divulgadas para o trabalho terapêutico com crianças autistas, porém as intervenções baseadas na Análise do Comportamento Aplicada, são as que possuem comprovações científicas a respeito de sua eficácia. No mesmo raciocínio, Camila Graciella Santos Gomes (2016, p. 20), disserta que “O objetivo da Intervenção Comportamental Intensiva é aproximar, ao máximo, o desenvolvimento da criança com autismo ao de uma criança típica, por meio do ensino intensivo e sistemático dos comportamentos” isso porque a criança com autismo ainda não é capaz de realizar habilidades básicas no meio social. 16 Os princípios da Análise do Comportamento Aplicada utilizados no setor da educação, são representados por uma variedade de procedimentos tanto de análise, como de ensino que, quando aplicado de modo consistente e com alto grau de precisão, servem para mapear áreas com déficit de comportamentos e orientar o plano de ensino de indivíduos com repertórios insuficientes. Conforme (KENYON, 2018; p 144); “entre os procedimentos de ensino comprovadamente efetivos, destaca-se o uso de tentativas discretas, análise de tarefas e procedimentos de Ensino em ambientes naturais”. Observa-se que, para uma Análise do Comportamento é necessário conhecer as relações estabelecidas entre o indivíduo e o ambiente para que a criança conheça as funções que as suas respostas têm no ambiente e vice-versa, isso porque “as mudanças comportamentais só ocorrerão com as mudanças contingenciais das quais o comportamento problema é função”, (SILVA, 2016; p. 31). Dessa maneira, uma intervenção em ABA não se restringe a um conjunto de mediações que são aplicadas de forma uniforme a diferentes indivíduos, e sim um vasto conjunto de tecnologias que deve ser utilizada para compor uma intervenção individualizada para o estabelecimento de novas metas e objetivos. Como salienta a autora; ainda não há cura para o autismo, mas uma intervenção comportamental intensiva, pode ter um resultado muito significativo. Portanto, ABA investiga as variáveis que afetam o comportamento humano, sendo capaz de mudá-los através da modificação de seus antecedentes, (o que ocorreu antes e pode ter sido um possível gatilho para a ocorrência do comportamento) e suas consequências, que são os eventos que se sucederam após a ocorrência do comportamento, e que podem ter sido agradáveis ou desagradáveis determinando a probabilidade de que ocorram novamente. (PIMENTEL, SIGLIA; 2013, p. 642). A intervenção envolve o ensino que pode ser estruturado, a depender das necessidades da criança e com o objetivo de desenvolver as habilidades apontadas na avaliação comportamental. Uma intervenção eficaz consiste em ensinar a criança com autismo, de maneira sistemática e organizada. Conforme (GOMES, SILVEIRA; 2016, p 48), “um dos aspectos fundamentais para o sucesso no âmbito do autismo é o ensino sistemático e simultâneo de habilidades em várias áreas do desenvolvimento”. Sempre Considerando o que é importante para a criança ou para o indivíduo mais próximo a 17 ele o que aumenta a chamada validade social da intervenção. Diante da singularidade de cada pessoa, as intervenções disponíveis pela análise comportamental aplicada possibilitam maximizar o potencial de cada criança identificando de maneira conveniente como ensinar e o que ensinar. Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (2014, p. 807), “importa revisar sistematicamente o funcionamento de todos os sistemas relevantes para que não seja perdida nenhuma área importante que não esteja funcionando adequadamente”, para ter uma intervenção efetiva. Importante observar, que “tanto sintomas quanto traços são acessíveis à intervenção”, e muitas intervenções voltadas para os sintomas podem afetar os padrões de mais longo prazo do funcionamento da personalidadeque são capturados pelos traços de personalidade. (SELLA, RIBEIRO 2018), diferentes estudos mostraram que a maioria significativa das crianças que passaram por intervenções em ABA, de modo intensivo conseguem atingir uma melhora considerável tornando este procedimento, a intervenção mais bem-sucedida para crianças com desenvolvimento atípico especialmente transtorno do espectro autista. A análise do comportamento aplicada é definida como uma ciência aplicada e é um dos três pilares da análise do comportamento, sendo os outros dois a filosofia denominada Behavorismo Radical, baseada na obra de Skinner; e a área de desenvolvimento de pesquisas básicas, a análise experimental do comportamento. Esses três pilares são interdependentes e todos tem a sua relevância para a Análise do Comportamento. Os principais objetivos dessa intervenção são ampliar o repertório comportamental do indivíduo, paralelamente, diminuir a frequência ou intensidade de comportamentos indesejáveis ou pouco adaptativos (DUARTE, SILVA, VELOSO; p. 8, 2018). Com essa intervenção, espera-se que a criança tenha menos dificuldades na comunicação social. É importante ressaltar que a intervenção, pode ser feita levando em consideração as variáveis controladoras do comportamento. Conforme Garry, (2018), existem três níveis de causalidade que sempre estarão atuando em conformidade na ocorrência ou não de um comportamento. São eles: nível filogenético, nível ontogenético e nível cultural. Para Martone, (2017); o foco principal de um programa de intervenção para crianças com autismo deve basear-se no desenvolvimento efetivo das habilidades de linguagem. Deve-se levar em consideração que aprender a falar e 18 aprender a ler é muito importante; isso porque a competência em linguagem e comunicação fornecem ferramentas fundamentais para o desenvolvimento das relações sociais e a regulação do comportamento e das emoções desde a infância. (BEE, BOYD; 2011), para isso, propõe-se uma avaliação criteriosa do repertório verbal da criança para determinar quais habilidades específicas estão presentes ou ausentes. As informações da avaliação irá determinar o nível operante dos comportamentos da criança para então apontar precocemente o propósito do programa de ensino. Como aponta Paula Braga Kenyon, (2018, p. 142) que “para uma boa estratégia de intervenção é necessário considerar o contexto em que ocorre os antecedentes, as variáveis motivacionais e as consequências que se apresentam logo após a ocorrência do comportamento em questão”. A autora ressalta que uma boa estratégia requer a avaliação do contexto no qual o comportamento acontece bem como dos eventos que antecedem e das variáveis motivacionais e consequências. Também aponta a importância do registro durante e depois da intervenção para posterior análise do processo individual e para a tomada de decisões, para que o repertório comportamental seja ampliado ou diminuído tanto em frequência quanto em intensidade de comportamentos indesejáveis ou aqueles pouco adaptativos. (DUARTE, SILVA, VELOSO, 2018). A utilização dos princípios da análise do comportamento aplicada apresenta benefícios em diversas áreas, para tanto, é preciso seguir algumas características e conceitos para avaliar e planejar adequadamente. No mesmo raciocínio, Carolina Kracker, (2018), afirma que a intervenção requer avaliação cuidadosa, isso porque os eventos ambientais também influenciam o comportamento que se quer alterar, utilizando o interesse da própria criança. Ensino em ambientes naturais são procedimentos que têm sido utilizados focando desenvolver uma linguagem mais avançada ou elaborada. Comumente, procedimentos em ambientes naturais se referem ao desenvolvimento de comunicação ou linguagem, embora o ensino em ambientes naturais possa ter foco em outras áreas de ensino e não necessariamente apenas no desenvolvimento da linguagem. Além de trabalhar com a comunicação, o ensino em ambientes naturais já foi utilizado de modo efetivo para ensinar comportamentos sociais e habilidades acadêmicas. (KENYON, 2018; p. 140). 19 No caso do desenvolvimento da comunicação e da linguagem, o autor prossegue afirmando que os procedimentos e ensino em ambientes naturais utilizam o interesse do outro e segue determinadas estratégias, como; a espera que o outro inicie uma interação envolvendo algum dos itens do ambiente, o incentivo ou a dica para que o outro elabore o conteúdo da conversa; e o acesso ao item de interesse. Entre os procedimentos, pode-se desenvolver a análise verbal aplicada, o treino incidental e o modelo de linguagem natural, (DUARTE, SILVA, VELOSO; 2018). Observa-se a importância da avaliação com uma visão geral a respeito do desenvolvimento da criança com TEA, para ter uma medida que Indique quais áreas estão atrasadas, e quais áreas estão de acordo com o que é esperado para a idade cronológica da criança para depois elaborar o planejamento da intervenção comportamental. Isso porque; segundo Gomes, (2016; p. 19), “o objetivo da intervenção deve ser o de aproximar ao máximo o desenvolvimento da criança com autismo ao de crianças típicas, sem autismo ou quaisquer outros tipos de transtornos”. Segundo Pimentel, Síglia; (2013), uma intervenção que melhora a comunicação de uma criança com autismo, monstra sua generalidade quando a criança também consegue se comunicar com todos do seu meio social tanto em casa como na comunidade; isso durante e após o término da intervenção. Os autores destacam que a ocorrência de generalidade deve ser programada e não esperada. Isso porque a generalidade dos progressos comportamentais não são espontâneos, principalmente em crianças com autismo que possuem dificuldades em levar habilidades aprendidas para outros contextos. A característica final da ABA descrita por Baer, Wolf, Risley (1968), é a generalidade. Intervenções comportamentais devem, não somente produzir mudanças socialmente importantes no comportamento, mas estas mudanças devem persistir através do tempo, dos ambientes e pessoas diferentes daquelas inicialmente envolvidas na intervenção. Uma intervenção que melhora a comunicação de uma criança com autismo na clínica, por exemplo, demonstra generalidade se a criança também consegue se comunicar com os pais, professores ou outras pessoas, em casa, na escola ou na comunidade, durante e após o término da intervenção. Entretanto, os autores enfatizam que a generalidade dos progressos comportamentais, não ocorrem automaticamente, sobretudo, em crianças com autismo que possuem dificuldades de transferir habilidades aprendidas para outros contextos. Portanto, a ocorrência de generalidade “deve ser programada e não esperada. (PIMENTEL, SIGLIA; 2013, p. 646). 20 Observa-se que a partir do momento em que se encontra as variáveis de controle de determinado comportamento, é possível planejar a mudança deste comportamento. Para que uma criança possa se socializar é necessário entendermos que a comunicação não se baseia apenas no falar mas em se comunicar, interagir, olhando no olho, brincando junto, fazendo trocas. (WINDHOLZ, 2016). A intervenção em grupo para o desenvolvimento de habilidades sociais apresentam princípios e procedimentos de modificação de comportamentos e exemplos de intervenções; conforme Brasileiro e Pereira, (2018; p.342), tais como “o uso de estratégias respondentes, o ensino de regras sociais por meio da utilização de scripts de histórias sociais, de indução e modelagem de auto regras, generalização, treino de habilidades sociais em grupo”. Utilizar todos os fatores que envolvema linguagem, desenvolvendo habilidades mais primárias para depois com essas habilidades incorporadas pelas crianças, fazer amigos. (DUARTE, SILVA, VELOSO; 2018). 2 O BRINCAR E O NEURODESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS COM TEA No livro sobre “A Criança em Desenvolvimento”, Hellen Bee, (2011); disserta sobre a definição de neurodesenvolvimento da criança como o conjunto de competências por meio das quais a criança interage com o meio que a rodeia, numa perspectiva dinâmica de acordo com a sua idade, o seu grau de maturação, os seus fatores biológicos intrínsecos e os estímulos provenientes do ambiente. A autora ainda ressalta que a psicologia do desenvolvimento usa o método científico para abranger suas metas: descrever, explicar, prever e Influenciar o desenvolvimento humano da concepção até a morte. Aponta que: Nos últimos anos, os psicólogos mudaram a forma de pensar sobre desenvolvimento atípico. Em vez de buscar uma teoria grandiosa única que possa explicar tudo, eles se focalizam em fatores que parecem predispor crianças a problemas e em variáveis que parecem protegê-las. O conhecimento dos desenvolvimentalistas sobre as dinâmicas do desenvolvimento desviante em geral, e da psicopatologia em particular, aumentou enormemente através de uma abordagem chamada 21 psicopatologia do desenvolvimento. Essa abordagem influenciou fortemente a forma de pensar de pesquisadores e médicos sobre os problemas psicológicos das crianças e dos adolescentes. A psicopatologia do desenvolvimento integra perspectivas de uma variedade de disciplinas a fim de entender melhor o desenvolvimento atípico. (BEE, BOYD, 2011; p. 424). Conforme a autora, o déficit do comportamento social é um dos déficits centrais no TEA, surgem nos diferentes níveis do brincar. Isso porque a criança pode apresentar comportamentos característicos de rigidez com repetições de movimentos e escolhas e um “brincar empobrecido”, não favorecendo uma maior experiência na exploração das brincadeiras visto que se limitam a repetições ritualísticas. Tudo o que teríamos de fazer é medir por quanto tempo crianças de várias idades prestam atenção alguma coisa para satisfazer tal objetivo; ou seja, (BEE, BOYD, 2011; p. 45) "se alterações do cérebro provocam o aumento nos intervalos de atenção das crianças, então crianças cujo desenvolvimento cerebral está à frente do de seus colegas também deveriam ter intervalos de atenção mais longos". Importante observar que este entendimento fornece a informação de que; digamos que uma criança tenha o diagnóstico de uma condição que afete o cérebro como epilepsia. Como o desenvolvimento cerebral e o intervalo de atenção estão pertinentes, pode-se usar testes de intervalo de atenção para fazer julgamentos sobre o quanto sua condição médica pode já ter instigado o seu cérebro. (BEE, BOYD, 2011) ao mesmo tempo, por saber-se que a experiência também afeta a memória, pode-se intervir com treinamentos que a ajude a superar as dificuldades de intervalo de atenção que provavelmente aparecerão no futuro. É Neste contexto que a análise do comportamento se interessa pelo estudo das variáveis que afetam os comportamentos e a aplicação dos princípios desta ciência para a resolução de problemas socialmente relevantes. De maneira didática, Para Gomes e Silveira, (2016); existem três formas que pode ser aplicada a análise do comportamento ao tratamento do autismo. A primeira é quando se aplica a uma demanda específica, o profissional pode aplicar uma intervenção delimitada com um objetivo específico, Como diminuir as birras ou ensinar matemática. A segunda é aplicada subsidiando uma intervenção padrão tem-se como modelo um sistema de comunicação alternativa baseada na troca de figuras favorecendo a comunicação entre as crianças com autismo que não falam ou que falam com limitações. “Essa 22 metodologia utiliza "modelagem, ensino discriminativo, encadeamento e reforço diferencial que são as estratégias de ensino oriundas da análise do comportamento". (GOMES, SILVEIRA; 2016, p. 15). A terceira forma é a maneira didática aplicada na intervenção comportamental intensiva. Este tipo de intervenção ocorre com horas marcadas podendo ser todos os dias, e necessita de um educador que estimule várias áreas do desenvolvimento ao mesmo tempo; como contato visual, imitação, comunicação, com ignição autocuidados, sociais, acadêmicas, entre outras e que acontece por dois a três anos consecutivos. No atendimento a crianças que apresentam necessidades de estímulos precoce; Ceres Alves de Araújo, (2011), traz muitas contribuições a respeito da intervenção no comportamento com o lúdico e com foco na interação desde os primeiros anos de vida. O autor aponta dois critérios importante para o diagnóstico do Transtorno do Espectro do Autismo; dificuldade de comunicação e ordem social e padrões de comportamentos repetitivos e restritos como movimentos motores. O deficit do comportamento social é um dos deficit centrais no TEA, e surgem nos diferentes níveis do brincar. Alterações significativas no brincar já podem ser observadas no primeiro ano de vida e tendem a perdurar ao longo da vida. A primeira fase do desenvolvimento normal do brincar, que envolve comportamento manipulatório e explorativo com objetos, está caracterizada, na criança com autismo, por um grande número de aspectos não usuais. Essa criança tende a restringir a atividade exploratória e a limitar a manipulação a poucos objetos, o que prejudica o desenvolvimento posterior do brincar. (ARAUJO, 2011; p. 178). Ou seja, essa criança começa a restringir a atividade exploratória e alimentar a manipulação de poucos objetos prejudicando o desenvolvimento posterior do brincar. Observa-se que a irregularidade na habilidade do brincar irá refletir na forma inadequada de explorar o brinquedo levando a criança a ter um pobre repertório de brincadeiras, pouca interação social e baixo potencial imaginativo e imitativo. Essas características dificultam e refletem na qualidade do brincar. No livro de Martin Garry Joseph Pear, (2018); considerando as características de baixo potencial imaginativo, dificuldade na comunicação, baixa atividade exploratória no que se refere ao brincar das crianças com TEA; é necessário que haja uma intervenção envolvendo estratégias comportamentais comprovadamente efetivas. Uma dessas estratégias é o que o autor chama de 23 esvanecimento, ou seja; uma mudança gradual ao longo de repetições continuas, de um estímulo que fiscaliza a resposta, de maneira que a resposta possivelmente ocorre diante de um estímulo parcialmente modificado ou completamente novo. O autor ainda enfatiza que “em qualquer situação em que um estímulo exerça um controle poderoso sobre uma resposta, o esvanecimento pode ser um procedimento eficaz para transferir o controle de tal resposta para outro estímulo”, (PEAR, 2018, p. 134). Do contrário que se imaginava, é possível ocorrer a transferência de uma discriminação sem erros e, segundo o autor, gerando três vantagens em relação aos procedimentos que envolvem tentativa e erro: Em primeiro lugar, os erros consomem um tempo valioso. Segundo: se um erro ocorre uma vez tende a ocorrer muitas vezes, ainda que esteja sendo colocado em extinção. E em terceiro, o não reforçamento que o que acontece quando os erros estão sendo colocados em extinção muitas vezes produz efeitos colaterais emocionais, tais como ataques de birra, comportamento agressivo e tentativas de fugir da situação. (GARRY, 2018; p. 135). Um componente importante de intervenções cujo intenção seja o ensino de novas habilidades ou a redução de comportamentos-problema, é reconhecer quais estímulos funcionam como reforçadores para os comportamentosalvo emitidos pela criança. Este procedimento é usado em muitas situações de aprendizagem em indivíduos com déficits de desenvolvimento e autismo, e também em crianças pequenas. Enfim, o esvanecimento também pode ser utilizado para ensinar a traçar, copiar e desenhar círculos, quadrados, triângulos, numerais e letras do alfabeto. Alguns estímulos são reforçadores positivos para virtualmente todas as pessoas. Comida é um reforçador positivo para quase qualquer pessoa que não se alimenta há várias horas em ponto balas são reforçador para maioria das Crianças. Por outro lado indivíduos diferentes muitas vezes são estimulados por coisas diferentes. Considere o caso de Diana uma menina de 6 anos com déficit de desenvolvimento que participou de um projeto coordenado por um dos autores. Ela era capaz de imitar o som de uma série de palavras e estávamos tentando ensinar dar nome a figuras. Após experimentar muitos outros reforçadores em potencial, descobrimos finalmente que a permissão para brincar com uma bolsa de brinquedo por 15 segundos era muito reforçadora. Como resultado a menina atualmente fala usando frases e sentenças completas. O brincar veio a ser um reforçador eficaz depois que outros falharam, (GARRY, 2018, p. 61). 24 Observa-se que a brincadeira emerge de forma diversa especialmente entre crianças com desenvolvimento atípico ou entre aquelas portadoras de distúrbios globais do desenvolvimento, ou até mesmo em crianças com aparente prejuízo na comunicação e interação social com repertório comportamental destrutivo, como falta de reciprocidade social e dificuldade de estabelecer amizades. Segundo Ariane Coelho Souza, (2018; p. 209), “Numa situação simples de brincadeira, muitas habilidades podem ser ensinadas e fortalecidas”. A aplicação do uso funcional de brinquedos é uma estratégia importante para o suprimento de necessidades de estimulação através do brincar, e uma oportunidade de ajudar as crianças usarem funcional e ludicamente novos conhecimentos e conceitos. É fundamental que a intervenção ocorra em um contexto que favoreça a ocorrência da habilidade-alvo com materiais, ambientes e pessoas diferentes. Tornar o ambiente de intervenção mais parecido com o ambiente natural deve fazer parte do planejamento do terapeuta, bem como programar sessões de ensino nos ambientes os quais a pessoa frequenta regularmente. Ambientes de brincadeira, por exemplo, facilitam a transição e a similaridade com o ambiente natural. Nesse sentido, outra variável que favorece a generalização pela similaridade com o ambiente natural é a inserção da intermitência de reforçamento. (SOUZA, 2018; p. 2015). Conforme a autora, utilizar reforçadores propriamente naturais favorecem e beneficiam diretamente a criança; onde a mesma entra em contato com os objetos de seu ambiente físico, aprendendo a explorá-los, depois passa usar funcionalmente objetos e brinquedos. Por sua vez, o uso funcional de objetos e brinquedos antecede a habilidade de usar estes para atividades que envolvam dramatização e jogos imaginários mais complexos. Segundo Pimentel, Sigla; (2013, p. 642), “como o transtorno do espectro do autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento que persiste por toda a vida e não possui cura nem causas claramente conhecidas”, as intervenções e métodos educacionais baseados no comportamento e intervenções, comprovam diminuir os sintomas do aspecto do autismo e promover uma variedade de habilidades sociais, de comunicação e comportamentos adaptativos. Conforme Margarida Hofmann Windholz, (2016, p. 385), “o brincar, tem funções diferentes: além de divertir, permite o desenvolvimento físico, o desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento social e emocional”. A autora enfatiza que um programa de uso funcional com brinquedos, faz com que a criança 25 manifeste um maior número de comportamentos frente a determinados objetos, usando o matéria recreativo de forma adequada. Além das sessões programadas, o educador deve oferecer brinquedos que o aluno já saiba manipular de maneira funcional, sempre que a criança não esteja participando de alguma outra atividade desta forma, o educador estará incentivando o desenvolvimento do brincar independente. É recomendável, nestes casos, o interagir com a criança intermitentemente, para que o comportamento de brincar se mantenha, ou seja para que o aluno não perca o interesse, (WINDHOLZ, 2016; p. 391). Para a pesquisadora Daniela de Souza Ribeiro, (2018, p. 104); “o importante é descobrir a preferência do indivíduo e identificar os reforçadores para o tratamento”. Observa-se assim que o interesse da criança em brincar com o brinquedo preferido, vira oportunidade de ensino. Brincar com outras crianças é um comportamento que pode ser modelado gradualmente numa criança tímida uma vez que tal comportamento esteja fortemente instalado, no entanto o modificador de comportamento provavelmente não terá mais que se preocupar em continuar a reforçá-lo. As outras crianças se encarregaram disso durante a brincadeira, pois na verdade, a relação social consiste exatamente nisso. No Manual de Treinamento em ABA, (2004); o brincar é uma atividade dominante no desenvolvimento normal de uma criança; entretanto o tipo de brincadeira muda com o desenvolvimento da criança e muda também de acordo com as circunstâncias. O ambiente de aprendizagem é muito importante e influenciador, devendo ser bem aproveitado estabelecendo-se um pareamento, um atrativo e tornando o ambiente divertido. Comece com “pareamento”. Antes de tentar ensinar qualquer coisa para a criança, gaste um bom tempo apenas ficando com ela e pareando-se com reforçadores. Se ela adora assistir vídeos, seja a pessoa que faz os vídeos acontecerem; se ama brincadeiras “brutas”, seja um lutador; de forma que as propriedades reforçadoras sejam transferidas para você. Estabeleça um “atrativo” para a criança, de maneira que, quando ela entra na sala, haja alguma coisa divertida que a atraia para a mesa. Dependendo do seu interesse, pode ser um quebra-cabeça, um livro de colorir, um livro de figurinhas adesivas, massinha de modelar, um jogo etc. Gaste algum tempo divertindo-se com a criança nessa atividade inicial. Torne o ambiente de aprendizagem divertido. É trabalho para você, mas não deve ser percebido como tal para a criança. Não tenha medo de parecer ridículo, fazer barulho, cantar, dançar, sujar-se e rolar pelo chão. Não tem problema manter a massinha na mesa enquanto você começa a trabalhar no programa. Você pode lhe mostrar algumas figuras e pedir-lhe 26 para tateá-las enquanto brinca. Talvez você possa incorporar a massinha no trabalho para conseguir uma transição suave. Por exemplo, se uma parte do programa é ensinar FCC sobre animais, você pode fazer um cachorro de massinha e falar sobre os atributos de um cachorro (“Estou fazendo um cachorro; onde fica a perna do cachorro? O que faço agora?” ou “Eu fiz um cachorro, você pode tocar a sua cauda? Como o cachorro fala?”). A criança terá menos vontade de escapar da situação de ensino se ela for divertida e reforçadora, (LEAR, 2004; p. 106). Ainda no Manual, a autora afirma que a brincadeira modela uma série de habilidades que são importantes, tais como a coordenação entre os olhos e as mãos, brincadeira de causa e efeito e de discriminação visual; ensinando a criança como ter tempo livre e produtivo. Ou seja, ajudando a evitar comportamentos negativos frequentemente causados pelo ócio e desejo por atenção, e “aumentando gradativamente o período de tempo para trabalhar os reforçadores, modelando o comportamento”, (LEAR, 2004; p. 66). Apesar de testes com resultados positivos nas habilidades com o brincar, muitas das tarefas verificadas exigem um profissional experiente e conhecedorda área, com experiência prática de atendimento. (CAMARGO, SIGLIA, p. 645). E para ser considerada aplicada, uma intervenção deve “focar comportamentos ou situações que são imediatamente importantes para o indivíduo e para a sociedade ao invés de importantes para teoria. A descrição dos procedimentos da ABA deve ser conceitualmente sistemática e precisa”. (DUARTE, SILVA, VELLOSO; 2018), isso porque a relação entre a brincadeira e o desenvolvimento deve ser comparada com a relação entre a instrução e o desenvolvimento, ou seja, comportamentos não reforçados e aqueles que param de ser reforçados, deixam de ocorrer. O processo de reforçamento ocorre quando um estímulo produzido por uma resposta aumenta a probabilidade dessa resposta ocorrer novamente. O reforçador também estabelece o controle dos estímulos presentes no momento da resposta, sobre o comportamento. Esses dois efeitos tem importância fundamental para o aprendizado pois estipulam as condições em que os comportamentos ocorreram com maior probabilidade e como serão esses comportamentos. Por exemplo, uma criança sensível a reforçadores sociais aprendi a dizer cachorro apenas diante de um cachorro porque é elogiada tão logo o nomeie por que jamais recebe reforçador quando diz cachorro na presença de outros animais. (DUARTE, SILVA, VELLOSO, 2018; p. 37). Neste caso de intervenção da ABA, a aprendizagem depende de reforçadores; para que ocorra a aprendizagem é necessário que os educadores programem bons reforçadores para o comportamento que planejam ensinar. 27 Geralmente, reforçadores são itens ou atividades de que o aluno gosta e pelos quais está disposto a zelar. Porém, nem tudo é reforçador para todas as pessoas ou para uma pessoa, todas as vezes. (WINDHOLZ, 2016; p. 59) Por isso é fundamental que “o educador teste a preferência da criança, e antes de construir algo como reforço, perguntar aos pais, professores ou outras pessoas que conheçam bem suas preferências”, apontando diretamente e listando coisas que a criança gosta de fazer ou de consumir são formas de identificar reforçadores em potencial. Segundo Ana Luiza Costa Roncati, (et al, 2018); “o reforçador é definido pelos seus efeitos e não por sua natureza ou características”. Como por exemplo um brinquedo preferido guardado para ser utilizado apenas no momento da intervenção provavelmente será um reforçador efetivo, mas pode perder momentaneamente sua efetividade se for apresentado continuamente. A importância de um planejamento e uso de estratégias motivacionais e de procedimentos específicos é fundamental; Isso porque nas interações com outras crianças, o fato de não entender ou de não colaborar também implicará numa limitação de uma importante fonte de aprendizagem social. Assim, se uma criança pedir para outra brincar de casinha e esta não responder, ela irá procurar uma criança mais responsiva, isolando você não responde nas próximas ocasiões. (WINDHOLZ, 2016, p. 209). Observa-se que a brincadeira tem uma função adaptativa, se bem planejada; a criança terá uma infância protegida e estendida, oportunizando a desenvolver habilidades complexas e flexibilidade comportamental que contribuem na vida adulta. No livro Modificação de Comportamento, 10° edição, (2018); encontra-se exemplos de fatores que influenciam a eficácia do reforçamento positivo, quando selecionado o comportamento a ser intensificado, após experimentar muitos outros reforçadores em potencial; o brincar foi selecionado como efetivo na melhoria no comportamento da criança. Muitas vezes parece ser necessário instalar a imitação e algumas respostas de nomeação de objetos para que as contingências de reforçamento naturais assumam o controle e desenvolvam o comportamento de fala funcional. Brincar com outras crianças é um comportamento que pode ser modelado gradualmente numa criança tímida uma vez que tal comportamento esteja fortemente instalado, no entanto o modificador de comportamento provavelmente não terá mais que se preocupar em 28 continuar a reforçá-lo. As outras crianças se encarregaram disso durante a brincadeira, pois na verdade, a relação social consiste exatamente nisso. (GARRY, 2018, p. 255). Isso porque, segundo o autor os reforçadores manipuláveis incluem as oportunidades de brincar envolvendo a criança com um brinquedo favorito ou colorir, pintar, andar de bicicleta, navegar na internet ou brincar com um gravador; e conforme o desenvolvimento do indivíduo, ir reduzindo gradualmente a frequência do reforçamento. Segundo Souza, (2018, p. 203); nas interações e rotinas diárias da criança, quando é incluso habilidades de diversos domínios do desenvolvimento como as habilidades sociais, de comunicação, de brincar e cognitivas; essas habilidades são “definidas por uma mudança comportamental que resulta na expansão do atual repertório do sujeito em função de sua exposição a novos ambientes, novas respostas e novos controles de estímulos”. Organizar o ambiente para motivar a criança dispondo de brinquedos que estejam visíveis para o seu interesse é fundamental. Considerando a complexidade da intervenção proposta pela ABA às mais diversas condições de desenvolvimento, é fundamental que as habilidades sejam desenvolvidas tanto em contexto estruturado, quando em ambiente natural. Dessa forma, é importante organizar a intervenção de maneira que estratégias de Ensino Naturalísticas sejam combinadas ao Ensino por Tentativas Discretas para maximizar a aquisição, a manutenção e a generalização do repertório-alvo. (SOUZA, 2018, p. 203). Segundo a autora, isso favorece a emissão de respostas espontâneas permitindo acrescentar novas habilidades de ensino contribuindo para que elas se relacionem naquele contexto, ampliando uma variedades de comportamentos sociais apropriados em seu repertório. 3 A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO LÚDICA NAS HABILIDADES SOCIAIS DA CRIANÇA COM TEA Uma das dificuldades para o desenvolvimento de programas voltados para o trabalho com habilidades sociais para indivíduos com TEA, é justamente a falta de uma definição universal do que seriam habilidades sociais. (DUARTE, SILVA, 29 VELOSO; 2018, p. 331) define que habilidades sociais “são as competências que usamos para interagir com outros na nossa sociedade. São baseadas em normas desta sociedade, definindo o que é normal, aceitável e esperado em situações específicas”. Ou seja, são comportamentos que dentro de uma determinada situação, predizem resultados sociais importantes. O comportamento social pode ser definido como o comportamento de duas ou mais pessoas com respeito uma a outra ou em conjunto com respeito a um ambiente comum ou seja comportamento social é comportamento cujas contém gentes controladoras advém ou dependendo do comportamento de outra pessoa. Um indivíduo socialmente habilidoso Nesse contexto, deveria ser alguém capaz de reagir aos estímulos relevantes do ambiente social e maximizar a produção de reforço minimizando o contato com a punição mediadas por outros. (DUARTE, SILVA, VELOSO; 2018, p. 335). É justamente nessa complexidade de ambiente social, que pode representar um dos principais obstáculos para a construção do repertório que é necessário para que uma pessoa possa interagir de forma mais eficaz. (GARRY, 2018), um dos aspectos essenciais na intervenção em habilidades sociais com indivíduos com autismo é que dentro desse contexto, as crianças com TEA, tem dificuldades nas habilidades da estruturação de seu comportamento, o que reflete na forma inadequada de explorar ambientes sociais, ou seja; as crianças apresentam “percepções limitadas e distorcidas de si e do mundo, fazendo com que apresentem diminuição na capacidade de planejare executar atividades motoras e cognitivas, e apresentam má organização do comportamento”, (BERNERT, 2013, p. 169). Por isso, essas crianças podem apresentar as seguintes características no brincar: movimentos excessivos, diminuição na exploração, diminuição no brincar motor grosseiro e manipulativo, aumento de brincadeiras solitárias e repertório restrito de atividades lúdicas. Todas essas dificuldades devem ser observadas quando aplicada a análise do comportamento para depois serem aplicadas as intervenções mais complexas e eficazes. Embora existam diferenças significativas entre os indivíduos com TEA, a maioria das intervenções realmente eficazes tem como objetivo ensinar novos repertórios e novas relações no ambiente social. Isso porque, “os três domínios considerados sinais e sintomas específicos para TEA, são comportamentos repetitivos, social e de comunicação”, (MOTTA, 2015, p. 14). 30 Conforme Maria Carolina Correa Martone, (2017), em sua tese de doutorado, oferece uma avaliação sistematizada para crianças autistas ou com atrasos similares e com base em ABA; Considera que o brincar é uma importante forma de comunicação e desenvolvimento da socialização. A intervenção lúdica é uma peça fundamental para que a criança vivencie experiências que favoreçam o seu desenvolvimento físico e intelectual. A autora, entende que o lúdico também ajuda a evitar comportamentos negativos da criança, frequentemente causados pelo ócio e desejo por atenção; e sustenta que: O desenvolvimento de habilidades lúdicas apropriadas é importante para ensiná-la a permanecer concentrada numa tarefa e também fornece uma base para o comportamento social, que normalmente envolve habilidades de brincadeiras em conjunto. Instrumentalizar a criança com um conjunto de habilidades de brincadeiras pode fazer com que ela seja mais apreciada por outras crianças e atrai atenção positiva. (MARTONE, 2017, p. 51). A autora enfatiza que é necessário escolher atividades reforçadores e itens típicos para a idade da criança, ainda que as habilidades da criança possam não ser adequadas, a maioria se interessam pelo lúdico quando é utilizado alguns itens favoritos dela, (MARTONE, 2017).Os desafios resultantes do autismo na sociedade é um dos temas que tem alcançado destaque entre os especialistas em Saúde Mental; isso porque na ausência de intervenção adequada aos sintomas do TEA, a criança pode ser influenciada negativamente inibindo conquistas educacionais e desenvolvimento sadio. Neste senário, a proposta lúdica complementa o grande número de manifestações do espectro e busca atender cada criança em suas particularidades através do jogo coletivo ou individual. Enfatizando que (BRASIL, 2015, p. 88) “a ludicidade e o cuidado com as crianças são condições básicas nos processos de ensino e aprendizagem; de modo que elas possam “ouvir, falar, ler e escrever sobre temas diversos e agir na sociedade”. Por isso, pode-se afirmar que por meio das atividades lúdicas, a criança consegue assimilar o aprendizado e transformar em realidade o pleno desenvolvimento. O universo lúdico engloba o brincar trazendo para as crianças formas interativas e interessantes de intervenção por intermédio de brincadeiras diversas, apresentando resultados a curto prazo, pois contribui para as demandas sociais, física e cognitivas que fazem parte da infância, (VARELA, 2018). É através do lúdico 31 que a criança autista consegue se expressar, analisar, criticar e transformar a realidade em que vive; através de jogos e brincadeiras. Usar de técnicas lúdicas fazem com que a criança aprenda com prazer, entretenimento e alegria, sendo relevante apontar que a educação com o lúdico está tá longe da Concepção ingênua de passatempo ou diversão superficial. Porém para que ocorra essa interação, é preciso uma certa habilidade ao utilizar as intervenções. Mantenha a brincadeira interessante e pareie itens reforçadores com você ao entregá-los de forma divertida e envolvendo. Por exemplo, Apresente o reforço para criança como se fosse um avião que vai em sua direção, ou como um carrinho movimentando-se sobre a mesa, ou ainda como se você fosse um mágico que tira o item reforçador da orelha da criança. Intercale tarefas conhecidas com outras mais desafiadoras e ocasionalmente ofereça reforços Livres, não contingentes evite dicas em excesso quando a avaliação é conduzida e sempre finalize um período de avaliação ou acessão com uma resposta correta e de forma positiva. (MARTONE, 2017, p. 64). Observar se a criança se envolve nessas atividades lúdicas por um período sustentado de tempo sem participação do adulto também é enfatizado pela autora. Essa observação é importante para avaliar o esquema mental e a realidade que à cerca. Isso porque por meio de atividades lúdicas a criança consegue assimilar o aprendizado e transformar em realidade. (MARTONE, 2017). Pode-se dizer que o brincar é o aprender; pois o brincar e o jogar gera um espaço para poder pensar, fazendo com que a criança autista melhore seu raciocínio, desenvolvendo o pensamento e estabelecendo um contato com o meio e desenvolvendo habilidades motoras e criativas. Dessa forma, para (GOMES, SILVEIRA; 2016), a análise do brincar em suas propostas lúdicas, se torna um instrumento fundamental para um diagnóstico da criança com TEA; pois é a principal maneira que a criança tem para comunicar-se; o que contribui de maneira singular para o seu acompanhamento no desenvolvimento. Consiste em um conjunto de comportamentos necessários à comunicação, linguagem e interação social. Ensinar essas habilidades a crianças com autismo pode ser fundamental para melhorar o desenvolvimento como um todo, pois de nada adiante saber montar um quebra cabeça complexo e não brincar com outras crianças ou decorar falas de um desenho animado, mas não manter diálogo com outras pessoas. É importante ressaltar que elas podem apresentar dificuldades em aprender pelos métodos de ensino convencionais e 32 necessitar de adequação na maneira como essas habilidades serão ensinadas. (GOMES, SILVEIRA; 2016, p. 131). O autor enfatiza que uma abordagem lúdica e centrada na brincadeira durante as sessões de atendimento as crianças, de forma a estimular oportunidade de comunicação e de ampliação da linguagem é fundamental para os portadores de autismo. (WINDHOLZ, 2016), sabe-se que crianças autistas possuem a dificuldade em participar de atividades compartilhadas e imaginativa, e com esse ambiente programado; a criança é capaz de ampliar seu repertório, como repetir palavras, brincar socialmente e dançar. Porém é interessante observar que: Um ambiente de ensino pode dificultar o mesmo impedir que as respostas da criança ocorram em ambientes educacionais e sociais cuja proporção entre adultos e crianças é maior. Por outro lado, os ambientes menos restritivos podem não envolver o uso de estratégias de aprendizagem sem erro entrega sistemática de reforçadores embora, até certas instruções coletivas possam ser muito úteis no programa educacional. É importante lembrar que boa parte do formato de Ensino em um ambiente menos restritivo envolve instruções coletivas e a criança deve ser capaz de aprender e progredir num ambiente coletivo. (WINDHOLZ, 2016; p. 53). Para a autora, é fundamental que a intervenção aconteça dentro de um contexto que favoreça a ocorrência da habilidade alvo com materiais, ambientes e pessoas diferentes. Ambientes de brincadeira por exemplo, proporcionam a transmissão e a similaridade com o ambiente natural. Para Kenyon, (2017), o ensino em ambientes naturais acontece de modo em que as interações são iniciadas pela criança e não pelo educador o fato de o ensino em ambientes naturais ser menos estruturado, pode dar a impressãode que é mais fácil de ser utilizado. O ensino em ambientes naturais envolve planejamento e não é mais fácil. Neste sentido o autor recomenda que ao planejar o programa de ensino baseado na ABA, deve ser considerar a utilização de vários procedimentos de ensino. Para Luciana Soares da Silva, (2016, p. 16) “o recurso lúdico como a Literatura Infantil pode contribuir para aumentar o repertório comportamental da criança desenvolvendo o comportamento verbal e criativo possibilitando a criança apresentar o soluções originais”; permitindo a habilidade de criar e recriar estratégias de aprendizagem dando sentido aos conhecimentos de leitura. 33 É fundamental criar situações que favoreçam o trabalho de estimulação das crianças com TEA. O livro pode ser apresentado a criança por meio de músicas e palmas dos pais quando interagem com o filho. (SILVA, 2016), O importante neste caso é desenvolver a motivação para que a criança leia com prazer, por curiosidade ou por identificar-se com determinado tipo de literatura. Para o pesquisador Monera Sampaio Cipriano, (2016); uma das formas de trabalhar os comportamentos rígidos das crianças com TEA, é incentivando-as a participar em atividades lúdicas e sensoriais. Como se sabe, a criança com TEA, apresenta baixo potencial imaginativo e a intervenção com propostas lúdicas como brincadeiras como o faz de conta, e outras que trabalham a imitação como a representação de papéis sociais, faz muita diferença, isso porque: Nas crianças com TEA podemos observar comprometimentos significativos no ato de imitar movimentos faciais e de gestos, bem como apresentam dificuldades para imitar tardiamente ações sobre objetos. Em estudos que investigavam os motivos em relação à quando e por que as crianças com TEA apresentavam prejuízos importantes na imitação, concluíram que elas manifestavam dificuldades não de imitar as ações em si, mas por um prejuízo na reciprocidade emocional, que dizem respeito à identificação subjetiva com o outro. (CIPRIANO. 2016; p. 85). Observa-se que, trabalhar o potencial, imitativo reproduzindo expressões faciais, é um ótimo indicio de que as dificuldades da criança com TEA está sendo trabalhado dentro do contexto lúdico e que pode se expandir para outras interações sociais. O autor ainda sustenta que as brincadeiras livres, sem um final pré- estabelecido e com um caráter mais maleável, tornam-se uma boa proposta de intervenção lúdica. O jogo funcional é outra alternativa lúdica para crianças com TEA, e fundamental para o desenvolvimento da capacidade simbólica. Quando a criança utiliza um jogo de faz-de-conta, vivencia o uso funcional de objetos e acaba utilizando o para representar o seu mundo social. (BEE, BOYD, 2011), existem atividades lúdicas para autistas cujo o poder que elas exercem sobre elas é muito importante para a socialização e estímulos, considerando que a intervenção seja trabalhada com riqueza de detalhes. Na maioria das vezes os jogos de competição são utilizados para desenvolver habilidades cognitivas e sociais, por exemplo, em casos de crianças com queixa de baixa resistência a frustração. Já os jogos 34 simbólicos propiciam à criança a oportunidade de vivenciar e estabelecer relações, assim como compreender e expressar seus sentimentos por meio do próprio jogo. A utilização de jogos para auxiliar a interação entre crianças e seus pais e irmãos, pode tornar lúdico e representar uma alternativa no enfrentamento de uma dificuldade de comunicação entre familiares e, ao mesmo tempo, funcionar como valioso instrumento de expressão para a criança (SILVA, 2016, p. 36). Dessa forma, a importância dos jogos simbólicos ou dos recursos lúdicos que envolve o fantasiar no processo terapêutico da criança autista como o desenho, estórias infantis, a dramatização; favorecem a integração e a generalização dos comportamentos da criança para outros contextos. Sella, ribeiro; (2018). Traz muitas contribuições a respeito do lúdico em crianças autistas. O autor aponta que as dificuldades no planejamento motor da criança com TEA, pode interferir no ato de brincar; quais sejam as dificuldades para brincar organizadamente e a baixa variabilidade nas escolhas dos brinquedos, como também a baixa funcionalidade e brincadeiras repetidas. Nesse sentido, aponta a importância de intervenções de brincadeiras livres, para as quais não existe um final pré estabelecido, tendo um caráter mais maleável em termos de organização e finalidade. O uso da fantasia no processo de intervenção também serve para desmistificar o papel dos eventos privados na terapia comportamental, ao contrário do que pensam alguns críticos da Análise do Comportamento. (SILVA, 2016), essa vertente teórica não desconsidera os comportamentos encobertos mas fazem deles instrumentos úteis em todo o processo. O brincar é entendido como expressão de fantasia inconsciente da criança. Em casos de ausência de produção imaginária típico do autista, o jogo da criança pode parecer colado à mecânica dos objetos, pode não ter referência ao faz de conta, posição típica do autista. Em casos de intensa atividade imaginativa, o brincar da criança pode trazer histórias, personagens, metáforas que configuram formas de simbolização, de laboração de dificuldades, conflitos e preocupações (MOTTA, 2015, p. 45). Nesse sentido, os instrumentos que envolvem o fantasiar como as histórias infantis, o desenho, o relato de sonhos; demonstram ser úteis porque ajudam na coleta de dados numa análise funcional e na intervenção terapêutica, (SILVA, 2016). O papel da família também é muito importante na busca de autonomia da criança autista. 35 Atividades direcionadas e estimuladas através de atividades lúdicas, faz com que a criança interaja com o meio social, desenvolvendo nelas a criatividade, habilidade e imaginação. (ALMEIDA, 2014, p. 68-69), “Quanto maior for o repertório lúdico da criança, maior será a capacidade dela em representar seus papéis em suas brincadeiras e jogos, ampliando suas possibilidades e competências”. Com o brincar ela constrói os conhecimentos através dos papéis que representa, amplia sua linguagem, sua habilidade motriz, aprende a importância da negociação, conquista, existência e respeito as regras e de resolução de conflitos; além de organizar e fortalecer suas emoções, sentimentos e afetividades. O tipo de brincadeira muda com o desenvolvimento da criança e muda também de acordo com as circunstâncias. Assim, no início, a criança entra em contato com os objetos de seu ambiente físico, aprendendo a explorá- los. Depois passa a usar funcionalmente os objetos e brinquedos. Por sua vez, o uso funcional de objetos e brinquedos precede a habilidade de usar estes para atividades que envolvem dramatização e jogo imaginativo mais complexos. Uma criança pode brincar sozinha ou com outras, de forma paralela ou cooperativa; pode brincar sentada, usando principalmente as mãos, ou em pé, desenvolvendo habilidades motoras amplas; pode dialogar; pode usar criatividade; pode solucionar problemas. Sua brincadeira pode ser espontânea, iniciada por ela própria ou dirigida pelo adulto; ambas são importantes. A primeira permite o desenvolvimento da criatividade e independência; a segunda permite ao adulto fornecer as oportunidades, equipamentos, experiências e encorajamentos apropriados às habilidades e interesses da criança. Brincar tem, então, funções diferentes: além de divertir, permite o desenvolvimento físico, o desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento social e emocional. (WINDHOLZ, 2016; p. 389), A presença do adulto na interação com a criança autista também é fundamental como modelo adequado de exploração lúdica, no qual estas criançaspodem interagir por meio da imitação, utilizando seu potencial imaginativo, refletindo diretamente no desenvolvimento da linguagem é na ampliação do seu vocabulário. 36 CONCLUSÃO No modo geral, o autismo reúne desordens do desenvolvimento neurológico, alteração que afeta a capacidade de comunicação, socialização e interação social da criança. Padrões repetitivos e restritos de comportamento que estão presentes em todas crianças diagnosticadas com autismo; porem cada uma é afetada em diferentes níveis de intensidade, resultando em situações bem particulares. Por esta razão, a presença observadora de um especialista em intervenção comportamental é essencial. O conjunto de estudos com os procedimentos apresentados neste trabalho mostram a eficácia da intervenção do comportamento através do lúdico como uma maneira surpreendente de aprendizagem e integração contribuindo diretamente para o desenvolvimento da criança. Isso porque o brincar é em sua essência, pedagógica e terapêutica pois envolve a criança física e afetivamente oportunizando o sentimento de bem-estar e dando-lhe condições para elaborar e resolver situações que muitas vezes ainda não consegue fazer de modo analítico Como faz o adulto. Quando as crianças com TEA são estimuladas através de atividades lúdicas elas conseguem desenvolver mais apropriadamente tais habilidades. Conclui-se que para facilitar o contato com a criança autista, as estratégias lúdicas envolvendo jogos pedagógicos e brinquedos podem ser viáveis. Principalmente como a intervenção em ABA que engloba atividades direcionadas promovendo o bem-estar físico e emocional da criança. Os brinquedos e brincadeiras quando utilizados de modo intencional e coerente, produzem efeitos terapêuticos favorecendo aspectos sensoriais e motores, despertando o interesse da criança e aguçando sua curiosidade, contribuindo assim para uma melhor aproximação entre a criança e o meio social. Além de favorecer o contato e a criação do vínculo afetivo, a ludicidade é um aliado na medida em que 37 ajuda o terapeuta na coleta de dados e na escolha de métodos eficazes no tratamento de crianças com TEA. A ABA, vem cumprindo o seu papel de melhorar a qualidade de vida das pessoas, principalmente na abordagem comportamental, e se acompanhado dos responsáveis da criança com TEA nas sessões, abre-se um horizonte para o tratamento do autismo, usando a intervenção do brincar. 38 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M.T.P. Uma Aprendizagem para a Vida: Brincar, amar e viver. v. 1. São Paulo: Storbem Gráfica e Editora, 2014, p.21-72. ARAÚJO, Ceres Alves de. 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