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Saúde Coletiva cadernos N E S C • U F R J Catalogação na fonte – Biblioteca do CCS / UFRJ C a d e r n o s S a ú d e C o l e t i v a / U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e J a n e i r o , N ú c l e o d e E s t u d o s d e S a ú d e C o l e t i v a , v . X I V , n . 3 ( J u l . s e t 2 0 0 6 ) . R i o d e J a n e i r o : U F R J / N E S C , 1 9 8 7 - . T r i m e s t r a l I S S N 1 4 1 4 - 4 6 2 X 1 . S a ú d e P ú b l i c a - P e r i ó d i c o s . I I . N ú c l e o d e E s t u d o s d e S a ú d e C o l e t i v a / U F R J . CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 507 - 518, 2006 – 507 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA-ES Epidemiological Profile of congenital malformations In Vitória, Espírito Santo, Brazil Ethel Leonor Nóia Maciel1, Evelise Pereira Gonçalves2, Viviane Ananias Alvarenga2, Carlos Tadeu Polone3 , Maria Cristina Ramos4 RESUMO Este trabalho tem como objetivo traçar o perfil epidemiológico das malformações congênitas ocorridas em nascidos vivos e natimortos, no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2004, no município de Vitória. Utilizaram-se dados secundários obtidos a partir da Declaração de Nascido Vivo e na Declaração de Óbito, as quais constituem a base do SINASC (Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos) e do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade), respectivamente. Detectou-se a ocorrência de 0,40% de malformações congênitas entre 17432 nascidos vivos e de 5,5% entre 109 natimortos. Entre os casos ocorridos em nascidos vivos, 72% deveram-se a defeitos isolados e o restante a defeitos associados. Este estudo contribui para incentivar novos estudos sobre este tema, para o conhecimento da ocorrência destes distúrbios na população e para a implementação de medidas que visem a prevenção e cuidados ao recém- nascido malformado e sua família. PALAVRAS-CHAVE Malformações, nascidos vivos, perfil epidemiológico ABSTRACT This sutdy has the objective of drawing an epidemiologic profile of the congenital malformations occurring among live birth and stillborn, between of January 2001 and December 2004, in the city of Vitória, the capital of the State of Espírito Santo, Brazil. Secondary data extracted from the Live Birth Declaration and from Death Certificates, which constitute the basis of the live birth information System (Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos - SINASC) and the mortality information system (Sistema de Informação de Mortalidade - SIM), respectively. Congenital malformations were detected in 0,40% of the 17432 live births and in 5,5% of 109 stillborn. Among live births, 72% of congenital malformations were isolated defects and 18% were due to associated defects. This study contributes to the incentive of new studies on this theme, to the knowledge of the occurrence of these disturbances in the population and to the development and accomplishment of procedures aiming at preventing and improving medical care of malformed infants and their family. 1 Doutora em Saúde Coletiva. Departamento de Enfermagem – Universidade Federal do Espírito Santo e-mail: emaciel@ndi.ufes.br 2 Acadêmica de Enfermagem – Universidade Federal do Espírito Santo. 3 Referência técnica do SINASC - Prefeitura Municipal de Vitória. 4 Mestre em Psicologia Social. Departamento de Enfermagem – Universidade Federal do Espírito Santo. 508 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 507 - 518 , 2006 E T H E L L E O N O R N Ó I A M A C I E L , E V E L I S E P E R E I R A G O N Ç A L V E S , V I V I A N E A N A N I A S A L V A R E N G A , C A R L O S T A D E U P O L O N E , M A R I A C R I S T I N A R A M O S KEY WORD Congenital malformations, live birth, epidemiological profile 1. INTRODUÇÃO As malformações congênitas são defeitos morfológicos que estão presentes ao nascimento, embora possam se manifestar somente mais tardiamente ao longo da vida. Calcula-se que cerca de 3% dos recém-nascidos no mundo apresentem algum tipo de malformação expressiva (Cotran et al., 2000). Este índice pode variar conforme o tipo de estudo realizado ou a diferentes metodologias utilizadas para a coleta de dados. O Brasil é um dos países integrantes do Estudo Colaborativo Latino-Americano de Malformações Congênitas (ECLAMC), porém este programa não engloba todos os estados brasileiros. O Estado do Espírito Santo, onde este estudo foi realizado, ainda não participa do ECLAMC (Moreira et al., 2000). As malformações podem resultar na ausência completa ou parcial de uma estrutura ou devido a alterações na sua configuração normal (Sadler, 2001). Podem aparecer sob várias feições, mas basicamente como formas isoladas (quando o recém-nascido apresenta somente uma malformação, envolvendo sistemas corporais isolados), ou associadas (quando coexistem múltiplas malformações envolvendo muitos órgãos) (Segre et al., 1995). As malformações congênitas também podem ser classificadas como maiores (major) e menores (minor). As malformações maiores são as que resultam em graves defeitos anatômicos, funcionais ou estéticos, podendo, muitas vezes, levar à morte. As malformações menores geralmente não têm importância cirúrgica, médica ou estética, sobrepondo-se aos fenótipos normais, podendo ser únicas ou múltiplas e associar-se a malformações maiores (Marcondes et al., 2002). Embora conheça-se cada vez mais sobre as origens moleculares das malformações, a determinação de sua etiologia não é tarefa simples, sendo que em cerca de 50 a 60% dos casos ela é desconhecida. No restante dos casos, as causas comuns de malformações podem ser agrupadas em três categorias principais: genéticas, ambientais e multifatoriais (Cotran et al., 2000). No Brasil, as malformações congênitas vêm se tornando importante causa de morte neonatal devido ao crescente controle e melhoria da atenção às doenças infecto-contagiosas e à criança prematura. Além disso, a incapacidade física e mental provocada por estas patologias assim como o grande sofrimento para o paciente e para a família e os custos para a atenção destas crianças justificam a necessidade de mais investigações sobre o tema. Este estudo teve o objetivo de traçar o perfil epidemiológico das malformações congênitas ocorridas no município de Vitória, no período entre 2001 e 2004. CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 507 - 518, 2006 – 509 P E R F I L E P I D E M I O L Ó G I C O D A S M A L F O R M A Ç Õ E S C O N G Ê N I T A S N O M U N I C Í P I O D E V I T Ó R I A - E S 2. METODOLOGIA Este estudo descreve as malformações congênitas ocorridas nos anos de 2001 a 2004, utilizando dados secundários do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) da Secretaria de Saúde de Vitória. Os dados contidos na Declaração de Nascido Vivo (DN) foram coletados na Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde de Vitória e incluíram informações sobre o local e estabelecimento do nascimento, dados sobre a mãe (as iniciais do nome, idade, estado civil, escolaridade, ocupação habitual, número de filhos tidos em gestações anteriores, residência), dados sobre a gestação atual e parto (duração da gestação, tipo de gravidez, tipo de parto, número de consultas de pré-natal), dados sobre o recém-nascido (data do nascimento, sexo, índice de Apgar, raça/ cor, peso ao nascer, se detectada alguma malformação congênita e/ou anorma- lidade cromossômica e qual), responsável pelo preenchimento/função e a data do preenchimento da DN. No sentido de minimizar o viés de sobrevida seletiva, foram também obtidas informações contidas na Declaração de Óbito (DO), as quais incluíram: dados sobre a mãe (as iniciais do nome, idade, escolaridade, ocupação), informações sobre a gestação e parto (duração da gestação, tipo de gravidez, tipo de parto), informações sobre o recém-nascido (morte emrelação ao parto, peso ao nascer, causa da morte). Os dados foram inicialmente inseridos numa planilha Excel e posteriormente transferidos para o programa estatístico STATA 7.0. Para as variáveis quantitativas foram avaliadas a média e a amplitude, e nas variáveis qualitativas, as freqüências absolutas e relativas. Utilizou-se o teste do qui-quadrado para comparar dife- renças nas distribuições das variáveis entre crianças com malformações e aquelas sem malformação. O projeto de pesquisa elaborado para a realização deste estudo foi autorizado pela Secretaria de Saúde de Vitória e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Biomédico da Universidade Federal do Espírito Santo em 21 de dezembro de 2004. 3. RESULTADOS NASCIDOS VIVOS Durante o procedimento de coleta de dados, foram analisadas 17.432 Declarações de Nascidos Vivos. Estas fichas forneceram dados sobre os recém- nascidos vivos de mães residentes no município de Vitória, cujos partos ocorreram em Vitória, no período de 2001 a 2004. 510 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 507 - 518 , 2006 E T H E L L E O N O R N Ó I A M A C I E L , E V E L I S E P E R E I R A G O N Ç A L V E S , V I V I A N E A N A N I A S A L V A R E N G A , C A R L O S T A D E U P O L O N E , M A R I A C R I S T I N A R A M O S Sessenta e oito recém-nascidos apresentaram algum tipo de malformação congênita indicando uma prevalência de 0,40% dentre 17.432 nascimentos. É importante ressaltar que do total de DN analisadas, 168 apresentaram o campo destinado a ocorrência ou não de malformação sem qualquer preenchimento. As distribuições das variáveis maternas qualitativas de acordo com a presença ou não de malformação estão apresentadas na Tabela 1. Pode-se verificar que cerca de 40% das mães de crianças com malformação vivem sem a presença de um parceiro (solteira, separada judicialmente e viúva), sendo este percentual significativamente mais alto em relação as mães de crianças nascidas vivas que não apresentavam malformação congênita. Tabela 1 Distribuição das variáveis maternas segundo presença ou não de malformações congênitas em Vitória, ES, 2001 a 2004. *Teste X2. Fonte: Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos/Secretaria Municipal de Saúde. Cerca de 65% das mães de crianças com malformação apresentaram bom nível de escolaridade, isto é, estavam cursando ou já tinham concluído o Ensino Médio ou Ensino Superior. Este percentual, entretanto, foi significativamente mais baixo quando comparado às mães de filhos sem malformação congênitas. Observou-se que cerca de 54% dos casos de malformações ocorreram na primeira gestação e, dentre os 30 casos cujas mães já tinham tido pelo menos um filho, houve uma taxa de natimortalidade anterior de 10%. A grande maioria dos casos de malformação (Tabela 2) ocorreu em gestações a termo (de 37 a 41 semanas) sem diferenças entre os grupos estudados. Houve um caso de gravidez dupla, na qual as gêmeas eram siamesas. Além disso, ocorreu um caso de gravidez tripla, sendo que neste caso somente um dos trigêmeos apresentou malformação congênita. CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 507 - 518, 2006 – 511 P E R F I L E P I D E M I O L Ó G I C O D A S M A L F O R M A Ç Õ E S C O N G Ê N I T A S N O M U N I C Í P I O D E V I T Ó R I A - E S De acordo com o tipo de parto, praticamente 2 em cada 3 recém-nascidos com malformação (72%) nasceram de parto cesáreo, percentual significativamente mais alto quando comparado com o grupo de nascidos vivos sem malformação (Tabela 2). Em relação ao número de consultas de pré-natal, quase 93% das mães de crianças com malformação realizaram 4 ou mais consultas durante a gestação, percentual semelhante ao observado entre mães de crianças sem malformação congênita. As variáveis relacionadas ao recém-nascido (sexo, raça/cor e índice de Apgar) estão apresentadas na Tabela 3. Nota-se que a freqüência de casos foi relativa- mente maior no sexo masculino do que no sexo feminino em ambos os grupos. Também não se observou diferenças significativas em relação à raça/cor. A maioria dos neonatos com malformação obtiveram um índice de Apgar considerado satisfatório (de 8 a 10) no 1º e no 5º minuto, indicando boa vitalidade e boa adaptação à vida extra-uterina, porém este percentual foi significativamente mais baixo quando comparado com o grupo de nascidos vivos sem malformação. Todos os 6 casos de malformação em que o índice de Apgar no 1º minuto foi de 0 a 2 pontos (valores que revelam asfixia grave do recém-nascido), mantiveram-se nesta mesma faixa na avaliação no 5º minuto. Tabela 2 Distribuição das variáveis relacionadas à gestação/parto segundo presença ou não de malformações congênitas em Vitória, ES, 2001 a 2004. Fonte: Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos/Secretaria Municipal de Saúde. 512 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 507 - 518 , 2006 E T H E L L E O N O R N Ó I A M A C I E L , E V E L I S E P E R E I R A G O N Ç A L V E S , V I V I A N E A N A N I A S A L V A R E N G A , C A R L O S T A D E U P O L O N E , M A R I A C R I S T I N A R A M O S Excluindo-se o peso das gêmeas siamesas, a média de peso dos recém-nascidos que apresentaram malformação foi de 3.006g (amplitude: 690g - 5.160 g). As malformações congênitas isoladas ocorreram com freqüência de 72%. As ano- malias do sistema músculo-esquelético apresentam-se como as mais freqüentes (aproximadamente 40%). Se acrescentadas aos casos de anomalias associadas que contenham este tipo de defeito, obtém-se uma freqüência relativa de cerca de 47%. A polidactilia e o pé torto congênito foram os tipos mais encontrados, com 14,7% e 10,3%, respectivamente (Tabela 4). Ocupando o segundo lugar no número de casos em um sistema orgânico, estão as malformações do sistema nervoso, com freqüência de cerca de 12%. A fenda labial isolada ou associada à fenda palatina esteve presente em 4 casos, constituindo 5,9% do total de malformações. A síndrome de Down foi o único tipo de anomalia cromossômica revelada, contribuindo com 7,4% das ocorrências. O termo “múltiplas malformações” empregado na Tabela 4, refere-se à forma como ele foi descrito no campo da DN destinado ao tipo de malformação congênita encontrada, obtendo uma freqüência de 5,9%. Houve sete casos em que foi relatada a ocorrência da malformação, porém o campo na DN relativo à sua descrição não foi preenchido. As gêmeas unidas pelo abdome Tabela 3 Distribuição das variáveis relacionadas ao recém-nascido segundo presença ou não de malformações congênitas em Vitória, ES, 2001 a 2004. Fonte: Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos/Secretaria Municipal de Saúde. CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 507 - 518, 2006 – 513 P E R F I L E P I D E M I O L Ó G I C O D A S M A L F O R M A Ç Õ E S C O N G Ê N I T A S N O M U N I C Í P I O D E V I T Ó R I A - E S (onfalopago siamesas) foram consideradas como dois casos de malformação, visto que cada uma possui uma DN. Foram também coletados dados referentes ao responsável pelo preenchimento das DN. As ocupações encontradas foram: auxiliar administrativo (39,7%), técnico de enfermagem (23,53%), auxiliar de enfermagem (16,2%), “enfermagem” (7,4%), escriturária (5,9%), assistente social (4,4%), secretária (1,5%) e pediatra (1,5%). Tabela 4 Distribuição das malformações congênitas em Vitória, ES, 2001 a 2004. Fonte: Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos/Secretaria Municipal de Saúde. 514 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 507 - 518 , 2006 E T H E L L E O N O R N Ó I A M A C I E L , E V E L I S E P E R E I R A G O N Ç A L V E S , V I V I A N E A N A N I A S A L V A R E N G A , C A R L O S T A D E U P O L O N E , M A R I A C R I S T I N A R A M O S NATIMORTOS Foram considerados natimortos oscasos em que a morte ocorreu antes ou durante o parto. Essa informação está contida no campo morte em relação ao parto, presente na Declaração de Óbito. A informação referente a presença de malformação foi retirada do campo causa de morte. Ocorreram 109 casos de natimortos de mães residentes em Vitória, cujos partos ocorreram neste mesmo município, durante o período de 2001 a 2004. A freqüência absoluta e relativa de malformações congênitas encontradas nesta população foi de 6 e 5,5%, respectivamente. As anomalias observadas foram: anencefalia, trissomia do 13, trissomia do 18 e síndrome de Potter. Houve dois casos em que a malformação não foi especificada. DISCUSSÃO Os estudos de prevalência e incidência sobre malformações congênitas são muito difíceis de serem avaliados, pois, geralmente as várias séries publicadas não permitem comparações diretas. Kennedy (1967), relata 238 investigações sobre malformações, cobrindo desde 1.000 até 2,5 milhões de recém-nascidos. Além disso, as metodologias são extremamente diversas, levando a estimativas variando de 0,15% até 8% de malformados. Os resultados também se modificam segundo a época e os métodos de averiguação da malformação, como por exemplo, se ela é feita somente ao nascimento, dias após o nascimento, com seguimento ou não, inclusão ou não de natimortos nas estatísticas, exame físico realizado por um ou vários médicos, ou por enfermeiro (Marcondes et al., 2002). A freqüência relativa de recém-nascidos que apresentaram algum tipo de malformação foi de 0,40%, sendo menor do que em outros estudos. Dados do ECLAMC, referentes a uma pesquisa realizada com 740.139 recém-nascidos vivos em 64 hospitais de diferentes países da América do Sul, inclusive o Brasil, demonstram uma prevalência de 2,3% de malformações entre 1967 e 1979. Já em 1980-81, o ECLAMC, em uma população de 109.242 neonatos vivos, estimou 2,7% de freqüência. Segundo Moreira et al. (2000), em estudo realizado em 1994-95, a incidência de defeitos congênitos atingiu 5%. Costa e Monteiro (2004), em 2000-2001, obtiveram uma incidência de 1,4%. A presença de várias DN com campos em branco, inclusive o que corresponde à ocorrência ou não de malformação (168 fichas), bem como a ausência de sua descrição (10,3%, Tabela 4) ou a maneira incorreta com que muitas delas são descritas, nos leva a concluir que há um despreparo por parte dos profissionais que preenchem esta ficha, o que pode levar à subnotificação de inúmeros casos. Isso pode ter influenciado a baixa freqüência de malformações congênitas encontrada em nosso trabalho. CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 507 - 518, 2006 – 515 P E R F I L E P I D E M I O L Ó G I C O D A S M A L F O R M A Ç Õ E S C O N G Ê N I T A S N O M U N I C Í P I O D E V I T Ó R I A - E S O percentual de primiparidade (aproximadamente 54%) entre mães de malformados é semelhante aos 50% descritos no estudo de Costa e Monteiro (2004), sugerindo que as malformações sejam mais comuns no primeiro filho do que no segundo ou no terceiro. A predominância de recém-nascidos malformados a termo não foi significantemente diferente do observado para aqueles sem malformação, indicando que a presença da malformação não levou a diminuição da idade gestacional, ou seja, a deformidade não se mostrou como um fator de interrupção precoce da gravidez. Embora a presença do defeito congênito não tenha levado à prematuridade, o número de partos cesáreos foi significativamente maior no grupo de crianças com malformação congênita. Ainda assim, o número de partos cesáreos entre crianças sem malformação foi bastante alto (>50%) reforçando a idéia de que, infelizmente, vivemos num país campeão mundial em cesarianas, alcançando índices de até 90% em alguns hospitais (Figueiredo, 2003). A assistência pré-natal tem como um dos objetivos identificar fatores de risco para a ocorrência de anomalias congênitas, bem como evitar que fatores extrínsecos cheguem a causar danos para o embrião ou feto. Esta pesquisa, entretanto, mostrou que, o número de consultas de pré-natal entre os casos de malformação foi similar e dentro de valores considerados satisfatórios ao observado para as outras crianças. A predominância do sexo masculino entre malformados foi similar ao encontrado no estudo de Moreira et al. (2000), em que os valores obtidos foram de 56% para o sexo masculino e 44% para o feminino. Esta predominância, porém, também foi observada entre crianças sem malformação congênita. Na análise das variáveis maternas e relacionadas à criança, à gestação e ao parto, foram encontradas diferenças significativas. As mães de nascidos vivos com malformação apresentaram-se um perfil diferente de escolaridade, concentrado nos extremos de menor e maior escolaridade, quando comparadas às mães de crianças sem malformação. As mães de crianças com malformação eram, tam- bém, mais freqüentemente solteiras e tinham realizado um numero maior de partos cesários. Os recém nascidos malformados apresentaram-se mais graves ao parto, conforme indicado pelo Apgar. Segundo Marcondes et al. (2002), a freqüência de malformações congênitas em natimortos tem sido descrita como cinco vezes maior do que entre nascidos vivos. Dados do ECLAMC mostram, em 1980-1981, valores de 2,7% entre os nascidos vivos e 4,5% entre nascidos mortos. Nosso estudo revela uma freqüência de 5,5% entre natimortos, ou seja, uma freqüência cerca de 12 vezes maior do que entre nascidos vivos, não condizendo com a descrição anterior. 516 – CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 507 - 518 , 2006 E T H E L L E O N O R N Ó I A M A C I E L , E V E L I S E P E R E I R A G O N Ç A L V E S , V I V I A N E A N A N I A S A L V A R E N G A , C A R L O S T A D E U P O L O N E , M A R I A C R I S T I N A R A M O S Da mesma forma que o observado para a DN, foi constatado que a DO não está sendo devidamente preenchida, tendo sido detectada a presença de campos em branco e o não aproveitamento do campo referente à causa de morte. Este último é composto por quatro espaços para descrição das causas básica e adjacentes. Entretanto, foi observado por várias vezes que apenas a causa básica era descrita. Em outras situações, a mesma causa era repetida nos campos adjacentes. Desta forma, estes documentos tornam-se muito difíceis de serem utilizados em estudos epidemiológicos. Acreditamos que o erro não acontece necessariamente de forma intencional, mas pode refletir a ausência de treinamento para os profissionais das unidades notificadoras. É de atribuição da Vigilância Epidemiológica promover não apenas a fiscalização nas instituições, como também realizar sua função educadora. Além disso, é o nível federal que cria o modelo utilizado pelo nível municipal, não conhecendo totalmente a realidade local e as dificuldades enfrentadas por seus executores. O modelo atual preza muito pelos recursos da tecnologia, deixando em plano secundário o investimento em recursos materiais e humanos, bem como o estabelecimento de uma política mais racional de disseminação da informação. Novos estudos são fundamentais para aprofundar o conhecimento sobre malformações congênitas no município de Vitória. As informações coletadas para esta investigação são provenientes do preenchimento realizado por pessoas que trabalham em distintas instituições e que pertencem a categorias profissionais dife- rentes, exceto a DO que somente pode ser preenchida pelo profissional médico. Portanto, os resultados dessa pesquisa refletem também como está sendo feito o preenchimento destas fichas nos hospitais e maternidades de Vitória e alerta para a necessidade de ser desenvolvido um estudo sobre como este profissional colhe o dado da malformação, tendo em vista que a grande maioria não tem formação para realizar diagnóstico de malformação, aumentando ainda mais a possibilidade de erros. Conclui-se que tão relevantes como o reconhecimento das malformações congênitas como um problemade saúde pública, são as questões concernentes a importância atribuída às fontes de informações pelos profissionais da área de saúde. R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S COTRAN, R. S.; KUMAR, V.; COLLINS, T. Robbins: patologia estrutural e funcional. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. COSTA, L. F. C.; MONTEIRO, C. A. Epidemiologia de malformações congênitas em recém-nascidos nativivos do Hospital Universitário Materno Infantil. Revista Nova Atenas de Educação Tecnológica, CEFET-MA, v. 7, n. 2, p. 1 - 10, 2004. CA D E R N O S S A Ú D E C O L E T I V A , R I O D E J A N E I R O , 14 (3 ) : 507 - 518, 2006 – 517 P E R F I L E P I D E M I O L Ó G I C O D A S M A L F O R M A Ç Õ E S C O N G Ê N I T A S N O M U N I C Í P I O D E V I T Ó R I A - E S FIGUEIREDO, N. M. A. Práticas de enfermagem: ensinando a cuidar da mulher, do homem e do recém-nascido. São Paulo: Difusão Paulista de Enfermagem, 2003. KENNEDY, W. P. Epidemiologic aspects of the problem of congenital malformations. Birth Defects Original Articles Series. v. 3, n. 2, p. 1 - 18, 1967. MARCONDES, E.; VAZ, F. A. C.; RAMOS, J. L. A.; OKAY, Y. Pediatria básica: pediatria geral e neonatal. 9. ed. São Paulo: Sarvier, 2002. MOREIRA, L. M. A; DIAS, A. M. L.; SANTOS, H. B.; FELICIO, T. D. Estudo sobre malformações congênitas em recém-nascidos de maternidade pública de Salvador-BA. Revista Baiana de Enfermagem. v. 13, n. 1/2, p. 69 - 74, 2000. SADLER, T. W. L. Embriologia médica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. SEGRE, C. A. M.; ARMELINI, P. A.; MARINO, W. T. RN. 4. ed. São Paulo: Sarvier, 1995. INSTRUÇÕES PARA OS COLABORADORES Os Cadernos Saúde Coletiva publicam trabalhos inéditos considerados relevantes para a área de Saúde Coletiva. SERÃO ACEITOS TRABALHOS PARA AS SEGUINTES SEÇÕES: Artigos (resultantes de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual, ou ensaios teóricos e/ou de revisão bibliográfica crítica sobre um tema específico; máximo de 25 páginas); Debate (a partir de apresentações orais em eventos científicos, transcritos e sintetizados; máximo de 20 páginas); Notas (relatando resultados preliminares ou parciais de pesquisas em andamento; máximo de 5 páginas); Opiniões (opiniões sobre temas ligados à área da Saúde Coletiva, de responsabilidade dos autores, não necessariamente refletindo a opinião dos editores; máximo 5 páginas); Cartas (curtas, com críticas a artigos publicados em números anteriores; máximo de 2 páginas); Resenhas (resenhas críticas de livros ligados à Saúde Coletiva; máximo de 5 páginas); Teses (resumo de trabalho final de Mestrado, Doutorado ou Livre-Docência, defendidos nos últimos dois anos; com nome do orientador, instituição, ano de conclusão, palavras-chave, título em inglês, abstract e key words; máximo 2 páginas). APRESENTAÇÃO DOS MANUSCRITOS: Serão aceitos trabalhos em português, espanhol, inglês ou francês. Os originais devem ser submetidos em três vias em papel, juntamente com o respectivo disquete (formato .doc ou .rtf), com as páginas numeradas. Em uma folha de rosto deve constar: Título em português e em inglês, nome(s) do(s) autor(es) e respectiva qualificação (vinculação institucional e título mais recente), endereço completo do primeiro autor (com CEP, telefone e e-mail) e data do encaminhamento. O artigo deve conter título do trabalho em português, título em inglês, resumo e abstract, com palavras-chave e key words. As informações constantes na folha de rosto não devem aparecer no artigo. Sugere-se que o artigo seja dividido em sub-itens. Os artigos serão submetidos a no mínimo dois pareceristas, membros do Conselho Científico dos Cadernos ou eventual- mente ad hoc. O Conselho Editorial dos Cadernos Saúde Coletiva enviará carta resposta informando da aceitação ou não do trabalho. A aprovação dos textos implica a cessão imediata e sem ônus dos direitos autorais de publicação nesta revista, a qual terá exclusividade de publicá-los em primeira mão. O autor continuará a deter os direitos autorais para publicações posteriores. Caso a pesquisa que der origem ao artigo encaminhado aos Cadernos tenha sido realizada em seres humanos, será exigido que esta tenha obtido parecer favorável de um Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, devendo o artigo conter a referência a este consentimento, estando citado qual CEP o concedeu, e cabendo a responsabilidade pela veracidade desta informação exclusivamente ao autor do artigo. • Formatação: Os trabalhos devem estar formatados em folha A4, espaço duplo, fonte Arial 12, com margens: esq. 3,0 cm, dir. 2,0 cm, sup. e inf. 2,5 cm. Apenas a primeira página interna deverá conter o título do trabalho; o título deve vir em negrito e os subtítulos em versalete (PEQUENAS CAPITAIS) e numerados; palavras estrangeiras e o que se quiser destacar devem vir em itálico; notas explicativas, caso existam, deverão vir no pé de página; as citações literais com menos de 3 linhas deverão vir entre aspas dentro do corpo do texto; as citações literais mais longas deverão vir em outro parágrafo, com recuo de margem de 3 cm à esquerda e espaço simples. Todas as citações deverão vir seguidas das respectivas referências. • Ilustrações: o número de quadros e/ou figuras (gráficos, mapas etc.) deverá ser mínimo (máximo de 5 por artigo, salvo exceções, que deverão ser justificadas por escrito em anexo à folha de rosto). As figuras poderão ser apresentadas em nanquim ou produzi- das em impressão de alta qualidade, e devem ser enviadas em folhas separadas e em formato .tif. As legendas deverão vir em separado, obedecendo à numeração das ilustra- ções. Os gráficos devem ser acompanhados dos parâmetros quantitativos utilizados em sua elaboração, na forma de tabela. As equações deverão vir centralizadas e numeradas seqüencialmente, com os números entre parênteses, alinhados à direita. • Resumo: todos os artigos submetidos em português ou espanhol deverão ter resu- mo na língua principal (Resumo ou Resumen, de 100 a 200 palavras) e sua tradução em inglês (Abstract); os artigos em francês deverão ter resumo na língua principal (Résumé) e em português e inglês. Deverão também trazer um mínimo de 3 e um máximo de 5 palavras-chave, traduzidas em cada língua (key words, palabras clave, mots clés), dando-se preferência aos Descritores para as Ciências da Saúde, DeCS (a serem obtidos na página http://decs.bvs.br/). • Referências: deverão seguir a Norma NBR 6023 AGO 2000 da ABNT. No corpo do texto, citar apenas o sobrenome do autor e o ano de publicação, seguido da página no caso de citações (Sobrenome, ano: página). No caso de mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro deverá aparecer, seguido da expressão latina ‘et al.’. Todas as referências citadas no texto deverão constar nas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ao final do artigo, em ordem alfabética, alinhadas somente à esquerda, pulando-se uma linha de uma referência para outra, constando-se o nome de todos os autores. No caso de mais de uma obra do mesmo autor, este deve ser substituído nas referências seguintes à primeira por um traço e ponto. Não devem ser abreviados títulos de periódicos, livros, locais, editoras e instituições. Seguem exemplos de, respectivamente, artigo de revista científica impressa e veicula- do via internet, livro, tese, capítulo de livro e trabalho publicado em anais de congresso (em casos omissos ou dúvidas, referir-se ao documento original da Norma adotada): ESCOSTEGUY, C. C.; MEDRONHO, R. A.; PORTELA, M. C. Avaliação da letalidade hospitalar do infarto agudo de miocárdio do Estado do Rio de Janeiro através do uso do Sistema de Informa- ções Hospitalares/SUS. Cadernos Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 39-59, jan./jul. 1999. PINHEIRO, R.; TRAVASSOS, C. Estudo da desigualdade na utilização de serviços de saúde por idosos em três regiões da cidade do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.15, n.3, set. 1999. Disponível em: <http://www.scielosp.org/cgi-bin/wxis.exe/iah/>. Acesso em: 2 jan.2005. ROSEN, G. Uma história da Saúde Pública. Rio de Janeiro: Abrasco. 1994. 400p. TURA, L. F. R. Os jovens e a prevenção da AIDS no Rio de Janeiro. 1997. 183p. Tese (Doutorado em Medicina) - Faculdade de Medicina. UFRJ, Rio de Janeiro. BASTOS, F. I. P.; CASTIEL, L. D. Epidemiologia e saúde mental no campo científico con- temporâneo: labirintos que se entrecruzam? In: AMARANTE, P. (Org.) Psiquiatria social e reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994. p. 97-112. GARRAFA, V.; OSELKA, G.; DINIZ, D. Saúde Pública, bioética e equidade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA, 5., 1997, Águas de Lindóia. Anais. Rio de Janeiro: Abrasco, 1997. p. 59-67. cadernos Saúde Coletiva N E S C • U F R J A S S I N A T U R A Anual individual: R$ 40,00 Anual institucional: R$ 90,00 Número avulso: R$ 20,00 Preencha este formulário de forma legível e envie-o anexando cheque nominal ou comprovante de depósito em favor da Fundação Universitária José Bonifácio (Banco do Brasil, ag.0287-9, c/c 7333-4, especificando na guia de depósito: depósito identificado - Apostila 9201-0), no valor correspondente, para a SECRETARIA DOS CADERNOS SAÚDE COLETIVA. Este formulário também pode ser preenchido via internet na página: http://www.nesc.ufrj.br, ou enviado por e-mail para cadernos@nesc.ufrj.br Individual Institucional Número avulso: v.___, n.____ Nome: _________________________________________________ Instituição: ______________________________________________ Profissão: _______________________________________________ Endereço: ______________________________________________ Bairro: __________________ CEP: _________________________ Cidade: _________________ UF: __________________________ Tel.: (0xx__)______________ Fax: __________________________ E-mail: _________________________________________________ Local e data: ____________________________________________ Assinatura: ______________________________________________ �
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