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Informacao em Saude - O papel do médico

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Ruy Laurenti
Maria Helena P. de Mello Jorge
Informação em Saúde:
o papel do médico
Informação em Saúde:
o papel do médico
São Paulo, 2017
Ruy Laurenti
Maria Helena P. de Mello Jorge
Informação em saúde: o papel do médico
Publicação do Centro de Bioética do Conselho Regional de Medicina
do Estado de São Paulo (Cremesp)
Elaborado por força de Convênio entre o Cremesp e o Centro de Apoio à
Faculdade de Saúde Pública da USP (nº 004/2014) São Paulo, 2014
Rua Luís Coelho, 26 – Consolação
São Paulo – SP – CEP 01309-900 – Tel.: (11) 4349-9900
Presidente do Cremesp
Lavínio Nilton Camarim
Vice-presidente do Cremesp
Renato Françoso Filho
Diretor do Departamento de Comunicação
Antonio Pereira Filho
Coordenador do Centro de Bioética
Reinaldo Ayer de Oliveira
Produção editorial
Fátima Barbosa
Revisão
Fernanda Corrêa, Andressa Picosque | Tikinet
Projeto gráfico/Diagramação/Capa (com ilustração de Monsitj/iStockphoto)
Moacir Barbosa
Apoio bibliográfico
Dinaura Paulino Franco e Maurício Seiko Yonamine
Apoio administrativo
Laura Abreu
Estagiárias:
Daiane Santos da Cruz e Katiuscia Silva Paiva
FICHA CATALOGRÁFICA
Informação em saúde: o papel do médico. / Coordenação de Ruy 
Laurenti e Maria Helena P. de Mello Jorge. São Paulo: Conselho 
Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 2017. 
 212p
 ISBN 978-85-89656-27-6
1. Sistemas de Informações em saúde. 2. Médico. 3. Informações em 
saúde I. Laurenti, Ruy (coord.) II. Mello Jorge, Maria Helena P. de 
(coord.) III. Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo 
IV. Título
 NLM W 26.5
Este livro... uma explicação necessária
Desde fins da década de 1960, ligada à Faculdade de Saúde Pública da 
Universidade de São Paulo, aprendi com o Professor Ruy Laurenti a importân-
cia da informação em Saúde. Trabalhamos juntos, sempre perseguindo melho-
res dados e lutando pelo aprimoramento dos sistemas de informação em Saúde 
no Brasil.
Considerando que o médico é a figura central desse intrincado problema, 
fizemos palestras de sensibilização em associações, Conselhos, hospitais e facul-
dades de medicina no país, escrevemos artigos e fizemos pesquisas a esse res-
peito. Em fins de 2012, em um desses encontros, estando presentes o Dr. João 
Ladislau Rosa e o Professor Reinaldo Ayer de Oliveira, surgiu a ideia deste tra-
balho. Em 2014, veio a certeza de que, via convênio com o Cremesp, o sonho se 
tornaria realidade.
Informação em Saúde: o papel do médico traz à luz a nossa experiência 
sobre o tema, enfatizando a via de duas mãos que o compõe. O médico é visto, 
de um lado, como produtor da informação, nos atestados de óbito, nos pron-
tuários, ao notificar uma doença, e, de outro, como usuário dessa informação, 
retirando dos sistemas os dados que eles podem fornecer para auxiliá-lo em su-
as atividades profissionais diárias. Oxalá o nosso desejo se realize e o médico 
encontre aqui elementos que ponham por terra a ideia de que o Brasil não pos-
sui estatísticas de Saúde e que, para sua orientação, necessita utilizar dados de 
outros países. Os capítulos estão apresentados segundo o assunto de que tratam, 
e os dados referem-se aos mais recentes disponíveis em 30 de setembro de 2016.
Infelizmente, o Professor Laurenti não pôde participar da parte final do 
trabalho; o legado deixado por ele, entretanto, permitiu que eu o terminasse so-
zinha, mas sempre sob sua inspiração e seu modelo.
O convênio está terminando, e a obra, pronta. Ruy, eu a dedico a você.
 Maria Helena P. de Mello Jorge
 Outubro de 2017
A palavra do Cremesp
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) 
orgulha-se de ter colaborado com a eminente professora Maria Helena P. de 
Mello Jorge e com o saudoso professor Ruy Laurenti para a viabilização desta 
obra inédita no Brasil.
Informação em Saúde: o papel do médico preenche a lacuna que existia 
nessa área fundamental para o exercício da Medicina, sistematizando sob os 
mais diversos aspectos, em um só livro, o conhecimento existente, até o mo-
mento, a esse respeito. 
Conforme este livro esclarece, informação é um conjunto significativo 
de fatos ou dados ou o ato de informar ou comunicar fatos a partir de da-
dos brutos, daí a necessidade de diferenciar “informação” e “dado”. Na área da 
Saúde, “podem-se citar números de óbitos e de internações, casos de deter-
minada doença, número de hospitais, entre outros. Quando esses dados são 
qualificados segundo diferentes variáveis (sexo, idade, diagnósticos, ano ca-
lendário etc.) tem-se ‘informação’. Na prática diária, entretanto, não raro, vê-
se que os termos ‘informação’ e ‘dado’ são usados indiferentemente”.
No Brasil, a informação em Saúde tomou um novo impulso com a cria-
ção do Sistema Único de Saúde (SUS) e a consequente descentralização do 
setor. Ao estimular as ações de promoção da saúde – por meio da preven-
ção, tratamento e reabilitação de doenças –, a municipalização provocou uma 
maior necessidade de produção de informação e dados. Desde então, evoluí-
mos muito. Porém, podemos e devemos progredir ainda mais.
Como enfatiza, entretanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS), a 
informação não é um fim em si mesmo. Ela é um meio de auxiliar os profis-
sionais, sobretudo nós, médicos, a tomar as melhores decisões, seja no setor 
público ou privado, no estabelecimento de políticas em Saúde, planejamento, 
gerenciamento, monitorização e avaliação de programas e serviços, incluindo 
a assistência ao paciente e, dessa maneira, melhorarmos, sob diferentes ângu-
los, os serviços do setor.
A informação em Saúde, portanto, é mais uma ferramenta que, aliada aos 
inúmeros atributos necessários ao exercício da Medicina, temos para cuidar de 
nossos pacientes e prestar o atendimento adequado à saúde da população. 
 Lavínio Nilton Camarim
 Presidente do Cremesp
Sumário
Capítulo 1
Informações em Saúde
O que são e porque é necessário dispor delas. 
O uso das informações em Epidemiologia e para a tomada de decisões ..... 13
Os sistemas de informação em Saúde existentes no Brasil.............................................. 15
Construindo os indicadores de Saúde. A Rede Interagencial
de Informações Para a Saúde (Ripsa) .............................................................................................................. 17
O médico nesse contexto ................................................................................................................................................... 22
Referências ............................................................................................................................................................................................... 24
Capítulo 2
Informações sobre mortalidade
O início. Um pouco de história ................................................................................................................................ 27
Os fundamentos das estatísticas médicas internacionais .................................................. 29
As definições e propostas da Organização Mundial de Saúde para
orientar o médico no preenchimento do atestado de óbito ........................................... 31
Exemplos de atestados de óbito bem preenchidos com relação à causa ..... 36
A Declaração de Óbito no Brasil ............................................................................................................................ 38
A legislação brasileira referente à obrigatoriedade do médico
em fornecer a Declaração de Óbito .................................................................................................................... 42
O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).............................................................. 46
Referências ............................................................................................................................................................................................... 63Capítulo 3
Informações sobre nascimentos vivos
Porque essas informações são necessárias ............................................................................................... 67
A padronização do conceito de nascido vivo em nível internacional ............ 69
O Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) .............................................. 70
Referências ............................................................................................................................................................................................... 87
Capítulo 4
Informações sobre perdas ou mortes fetais
Definições importantes ......................................................................................................................................................... 89
O que, onde e como declarar. O papel do médico ....................................................................... 91
As estatísticas sobre perdas fetais. Óbitos fetais como parte do
SIM/MS. O que o Sistema pode oferecer ................................................................................................... 92
O problema da causa ................................................................................................................................................................ 93
Referências ............................................................................................................................................................................................... 99
Capítulo 5
Informações sobre morbidade
Aspectos gerais .................................................................................................................................................................................. 101
Morbidade hospitalar .............................................................................................................................................................. 102
O Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde
(SIH/SUS) ................................................................................................................................................................................................. 107
A morbidade relativa às doenças de notificação compulsória ................................... 117
O Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA/SUS) ............................................................ 122
O Sistema de Informações de Atenção Básica (Siab) .............................................................. 123
A Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA) .............................................................................. 123
Registros especiais de doenças. Estimativas de incidência
de neoplasias malignas .......................................................................................................................................................... 130
Referências ............................................................................................................................................................................................... 132
Capítulo 6
Dados/informações a partir de inquéritos populacionais. Estudo dos fatores 
de risco para doenças crônicas não transmissíveis e outros
A importância da informação. As doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT) ........................................................................................................................................... 137
As Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD) .................................. 140
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) .............................................................................................................. 141
A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Projeto PeNSE) ......................................... 143
O Projeto Vigitel ............................................................................................................................................................................. 144
Referências ............................................................................................................................................................................................... 153
Capítulo 7
Informações sobre recursos em Saúde
Conhecendo dados sobre serviços, recursos humanos e equipamentos .... 155
Referências ............................................................................................................................................................................................... 160
Capítulo 8
A Classificação Internacional de Doenças (CID)
Nota explicativa ................................................................................................................................................................................ 161
Conhecimentos necessários ao médico. Análise da informação em
Saúde: 1893-1993, cem anos da Classificação Internacional de
Doenças (Transcrição de artigo publicado na Revista de Saúde Pública) .... 163
Breve atualização. A décima revisão ................................................................................................................. 184
Listas especiais para tabulação de mortalidade e morbidade.
A CID-BR .................................................................................................................................................................................................. 185
A décima primeira revisão .............................................................................................................................................. 186
Referências ............................................................................................................................................................................................... 188
Capítulo 9
O médico e o registro de deficiências e incapacidades. A Classificação
Internacional de Funcionalidade (CIF)
Aspectos gerais. Os números da deficiência no Brasil ........................................................... 189
A Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF) ........................................................................................................................................... 194
Referências ............................................................................................................................................................................................... 198
Capítulo 10
Outras questões de informação em Saúde que envolvem o médico
O problema do sigilo ................................................................................................................................................................ 201
O uso da informação por pesquisadores .................................................................................................... 206
Referências ............................................................................................................................................................................................... 208
 
15
CAPÍTULO
1
Informações em Saúde
O que são e porque é necessário dispor delas.
O uso das informações em Epidemiologia e para a tomada de decisões
A Constituição Brasileira de 1988 e a Lei nº 8.080/1990 lançaram as 
bases para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o qual passou a reunir 
todos os serviços públicos (nas esferas federal, estadual e municipal) e pri-
vados (conveniados/contratados) de saúde, preparando o acesso universal e 
equânime ao Sistema, bem como enfatizando ações de promoção de saúde: 
prevenção, tratamento e reabilitação de doenças (SILVA; LAPREGA, 2005).
A descentralização da Saúde, por sua vez, gerou nos municípios uma 
maior necessidade de informação, fato que, segundo Scatena e Tanaka (2001, 
p. 19), “tem estimulado a própria descentralização da informação em saúde”.
“Informação” pode ser entendida aqui como um conjunto significativode fatos ou dados ou, ainda, como o ato de informar ou comunicar fatos a 
partir de dados brutos, daí a necessidade de diferenciar “informação” e “da-
do”. Este último diz respeito a qualquer tipo de variável apresentada sob a 
forma de número absoluto ou bruto. Na área da Saúde, como exemplos, po-
dem-se citar: número de óbitos, número de internações, casos de uma doen-
ça, número de hospitais, entre outros. Quando esses dados são qualificados 
segundo diferentes variáveis (sexo, idade, diagnósticos, ano calendário etc.) 
tem-se “informação”. Na prática diária, entretanto, não raro, vê-se que os ter-
mos “informação” e “dado” são usados indiferentemente.
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Em qualquer área do conhecimento humano é possível verificar a impor-
tância da informação, que pode ser mensurada em razão da necessidade de 
seu uso.
Na história do Brasil, registra-se que José Bonifácio de Andrada e Silva, 
em meados do século XIX, no texto “Notas sobre a ‘aritmética política’ ou es-
tatística”, já fazia menção à importante relação entre a informação e o proces-
so decisório, discorrendo sobre a “arte de raciocinar por meio do cálculo so-
bre as matérias concernentes ao governo” (DIEGUES, 1979 apud MORAES, 
1994, p. 46).
Em Medicina, as informações são transmitidas principalmente sob a for-
ma de textos, oriundos de livros ou revistas, e são obtidas, quase sempre, a 
partir de bibliotecas. 
Bibliotecas priorizam a organização, gestão e, sobretudo, a dis-
seminação de informações, incorporando tanto elementos técni-
cos quanto lógicos, visando ao cumprimento de sua função socio-
cultural e à sua consolidação como espaço de compartilhamento e 
aprendizagem. Isso significa que, ao longo dos anos, das décadas 
e dos séculos, a biblioteca acompanha e absorve as inovações tec-
nológicas em prol das coletividades. Ferramentas de registro e, por 
conseguinte, a conservação e a difusão do conhecimento evoluem 
continuamente. Tábuas cerâmicas, os tokens (peças de argila cozi-
da), os tabletes de argila, os rolos de manuscritos, o papiro, o per-
gaminho, o códice, entre outros suportes, invariavelmente, após a 
invenção da imprensa por Johannes Gutenberg, são, definitivamen-
te, relegados ao desuso e substituídos por livros em série. Tempos 
depois, é o momento de microfichas, compact discs (CD), digital 
versatile discs (DVD) e assim por diante, até alcançar o suporte digi-
tal, quando as bibliotecas físicas passam a se hospedar “nas nuvens”. 
(PINTO FERREIRA, 2012, p. 11)
Em Saúde Pública é, também, muito importante a informação recebida 
e difundida a partir de textos, livros, revistas e relatórios obtidos nas bibliote-
cas; porém, nesse caso, quando se fala em informação em Saúde, a referência 
é, quase que exclusivamente, àquelas obtidas a partir de dados de mortalidade, 
morbidade, recursos humanos para a Saúde, equipamentos etc., em uma de-
terminada população (país, estado, município), em um determinado momen-
to. Essas informações são oriundas dos respectivos sistemas: de mortalidade, 
de morbidade, de recursos humanos para a Saúde, além de vários outros.
17
Um sistema pode, assim, ser conceituado como qualquer conjunto de 
componentes que trabalham harmonicamente com a finalidade de atingir um 
objetivo comum. O objetivo, no caso de sistemas de informação em Saúde, é 
o de melhorar o gerenciamento dos serviços de Saúde por meio do apoio da 
informação (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000; BRASIL, 2009).
É importante registrar que, na elaboração das informações em Saúde de 
uma população, houve, também, apreciável evolução. Assim, a primeira in-
formação documentada sobre saúde da população refere-se à mortalidade da 
população de Londres, registrada em 1662 por John Graunt (NORDENFELT, 
1983). Graunt trabalhou os dados manualmente, um a um, atribuindo a cada 
registro as diversas variáveis aplicáveis, como sexo, idade, causa de morte, re-
sidência etc. A elaboração das estatísticas de mortalidade melhorou continu-
amente, podendo ser, estas, nos tempos atuais, obtidas totalmente por meio 
das mais sofisticadas técnicas da informática.
É preciso ficar bem claro que a informação, entretanto, não é um fim em 
si mesma, mas um meio de auxiliar a tomar as melhores decisões no esta-
belecimento de políticas públicas em Saúde, planejamento, gerenciamento, 
monitorização e avaliação de programas e serviços, incluindo a assistência 
ao paciente e, desta maneira, melhorando, sob múltiplos aspectos, os servi-
ços de Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000; BRASIL, 2009). 
Não se deve esquecer, por outro lado, que há, além dessa abordagem admi-
nistrativa em Saúde e de maneira não menos importante, o uso das infor-
mações para conhecimento e avaliação de vários aspectos epidemiológicos 
referentes à população de uma determinada área.
Os sistemas de informação
em Saúde existentes no Brasil
Sistema de Informação em Saúde pode ser conceituado como
um conjunto de componentes que atuam de forma integrada por 
meio de mecanismos de coleta, processamento, análise e trans-
missão da informação necessária e oportuna para implementar 
processos de decisão no Sistema de Saúde. Seu propósito é sele-
cionar dados pertinentes e transformá-los em informações para 
aqueles que planejam, financiam, propõem e avaliam os serviços 
de saúde. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1981 apud 
FRANÇA, 2001, p. 20).
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Em 1998, a Organização Mundial de Saúde (OMS) ressaltou a importância 
dos sistemas de informação em Saúde associando-os às políticas da Saúde, pois
quando se concebem e utilizam, de maneira adequada, os sistemas 
de informação em saúde, têm eles o potencial de produzir valiosa 
informação clínica e administrativa orientada à gestão para o fun-
cionamento de serviços, programas e para a atenção do paciente. 
(OPAS, 1998 apud SANTOS, 2001, p. 15)
Marin (2010) define Sistema de Informação em Saúde (SIS) como um 
conjunto de componentes inter-relacionados que coletam, processam, arma-
zenam e distribuem a informação para apoiar o processo de tomada de deci-
são e auxiliar no controle das organizações de Saúde. Assim, como premissa 
básica, o SIS deve contribuir para a melhoria da qualidade, da eficiência e da 
eficácia do atendimento em Saúde, possibilitando a realização de pesquisas, o 
fornecimento da evidência e auxiliando o processo de ensino.
Do ponto de vista da Saúde, as “informações” – obtidas a partir de dados 
relativos a “quantos”, “quais”, “como”, “onde”, “quando” e “por que” –, puras ou 
combinadas, vão se constituir em indicadores capazes de orientar e nortear 
políticas públicas baseadas em evidências.
Fica clara, dessa maneira, a necessidade da obtenção de dados adequa-
dos, desde sua origem e registro até suas fases de armazenamento, crítica, 
análise e divulgação. É preciso saber, na realidade, o que se quer medir, pa-
ra então saber como medir. Dessa forma, para cada evento – cujo conceito 
necessita ser uniforme – devem ser selecionadas as variáveis mais adequadas 
(MELLO JORGE; LAURENTI; GOTLIEB, 2010), bem como a metodologia 
deve ser capaz de fazer alcançar os objetivos propostos.
Dessa forma, ficam claros também os requisitos necessários aos sistemas 
de informação, a fim de que estes venham a cumprir suas reais funções. Por 
isso, os dados que vão constituir cada sistema devem ser completos, fidedig-
nos e fáceis de obter.
É necessário também que os dados expressem, da melhor maneira possí-
vel, o que se quer representar e, ainda, que sejam oportunos. Esses requisitos 
são fundamentais para que o fluxo da tríade “problema ¦ informação ¦ ação” 
seja efetivo, isto é, que as ações postas em prática, frente ao problema, pos-
sam reverter em melhoria da saúde da população, uma vez que melhor infor-
mação leva sempre à maior qualidade na tomada de decisões.
Do ponto de vista epidemiológico, saber quantos morrem de determina-
da patologia, qual a frequência dessa mortalidadesegundo algumas variáveis, 
19
qual o tempo de permanência hospitalar para cada enfermidade, entre outros 
aspectos, vai ajudar a conhecer o perfil da saúde da população estudada.
No Brasil, são os seguintes os sistemas de informação em Saúde mais tra-
balhados atualmente:
• Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/MS)
• Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc)
• Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde
 (SIH/SUS)
• Sistema de Informações sobre Agravos de Notificação (Sinan)
• Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS)
• Sistema de Informações de Atenção Básica (Siab)
Esses sistemas, criados majoritariamente nas décadas de 1970 e 1980, 
“refletiam a ótica centralizadora da atuação do Estado”, conforme Almeida e 
Alencar (2000, p. 242), que chamam atenção para o fato de que a tecnologia 
de processamento de dados existente à época estava baseada nos computa-
dores de grande porte, inexistentes fora dos grandes centros. Na década se-
guinte, verificou-se a expansão dos sistemas, o que veio a facilitar a obtenção 
de dados em nível municipal, constatando-se, também, o fato de ter ocorrido 
ampla disseminação da informação, com consequente elevação da quantida-
de de usuários (ALMEIDA; ALENCAR, 2000).
Alguns dados sobre esses sistemas são apresentados a seguir, como sua 
importância, características e uma avaliação dos pontos de vista quantitativo e 
qualitativo. Na publicação da OMS Design and Implementation of Health Infor-
mation Systems (WHO, 2000) são apontados vários erros ou falhas nos siste-
mas de informação em Saúde, tais como irrelevância das informações obtidas, 
má qualidade dos dados, duplicação pelo uso de sistemas paralelos, demora 
na apresentação e inexistência de feedback, além do pouco uso da informação. 
Mello Jorge, Laurenti e Gotlieb (2010) discutem essas falhas ou erros e apre-
sentam vários exemplos para os sistemas de informação em Saúde no Brasil.
Construindo os indicadores de Saúde.
A Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa)
No Brasil, a produção e a utilização de informações sobre Saúde proces-
sam-se em um contexto complexo de relações institucionais, compreendendo 
variáveis, mecanismos de gestão e financiamento. Além das estruturas gover-
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namentais nos três níveis de gestão do SUS, estão envolvidos outros setores 
de governo que produzem informações relativas à Saúde: instituições de en-
sino e pesquisa, associações técnico-científicas, agências não governamentais, 
organizações internacionais e instâncias de controle social. 
Apesar de, nas últimas décadas, o Ministério da Saúde ter concebido e 
implantado sistemas de informação sobre nascimentos, óbitos, internações 
hospitalares, doenças de notificação compulsória, entre outros, persistia ain-
da, nos anos 1990, o desafio quanto ao melhor aproveitamento dessas infor-
mações para o gerenciamento da gestão do SUS. Em razão de esse mesmo 
problema ocorrer em vários outros países das Américas, a Organização Pa-
namericana da Saúde (OPAS) instituiu, em 1995, a Iniciativa Regional de Da-
dos Básicos em Saúde, que se baseia, fundamentalmente, em um conjunto de 
indicadores selecionados que visam fornecer um panorama geral da situação 
de saúde na região. Alinhados com essa iniciativa, o Ministério da Saúde e 
a OPAS acordaram em cooperar no aperfeiçoamento de informações para a 
Saúde no Brasil, com uma estratégia de cooperação centrada na criação da 
Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA, 2002).
Assim, a Ripsa foi formalizada, em 1996, a partir da premissa segundo 
a qual
a disponibilidade de informação apoiada em dados válidos e confiá-
veis é condição essencial para a análise objetiva da situação sanitá-
ria, assim como para a tomada de decisões baseadas em evidências 
e para a programação das ações de saúde. (RIPSA, 2008, p. 13)
O projeto, baseado em parcerias, objetiva a sistematização de informa-
ções úteis ao conhecimento e à compreensão da realidade sanitária brasileira 
e suas tendências.
O produto principal da Ripsa é a publicação anual de uma coleção de 
indicadores e dados básicos (IDB) que englobam não apenas os números ab-
solutos, mas também os dados já trabalhados, como taxas, proporções e índi-
ces, compreendendo:
1. Indicadores demográficos
• População total
• Razão de sexos
• Taxa de crescimento da população
• Grau de urbanização
• Proporção de menores de cinco anos de idade na população
21
• Proporção de idosos na população
• Índice de envelhecimento
• Razão de dependência
• Taxa de fecundidade total
• Taxa específica de fecundidade
• Taxa bruta de natalidade
• Mortalidade proporcional por idade
• Mortalidade proporcional por idade em menores de um ano
• Taxa bruta de mortalidade
• Esperança de vida ao nascer
• Esperança de vida aos sessenta anos de idade
2. Indicadores socioeconômicos
• Taxa de analfabetismo
• Níveis de escolaridade
• Produto Interno Bruto (PIB) per capita
• Razão de renda
• Proporção de pobres
• Taxa de desemprego
• Taxa de trabalho infantil
3. Indicadores de mortalidade
• Taxa de mortalidade infantil
• Taxa de mortalidade neonatal precoce
• Taxa de mortalidade neonatal tardia
• Taxa de mortalidade pós-neonatal
• Taxa de mortalidade perinatal
• Taxa de mortalidade em menores de cinco anos
• Razão de mortalidade materna
• Mortalidade proporcional por grupos de causas
• Mortalidade proporcional por causas mal definidas
• Mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em menores de 
 cinco anos 
• Mortalidade proporcional por infecção respiratória aguda em menores 
 de cinco anos
• Taxa de mortalidade específica por doenças do aparelho circulatório
• Taxa de mortalidade específica por causas externas
• Taxa de mortalidade específica por neoplasias malignas
• Taxa de mortalidade específica por acidentes do trabalho
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• Taxa de mortalidade específica por diabetes melito
• Taxa de mortalidade específica por aids
• Taxa de mortalidade específica por afecções originadas no período
 perinatal
• Taxa de mortalidade específica por doenças transmissíveis
4. Indicadores de morbidade e fatores de risco
• Incidência de sarampo
• Incidência de difteria
• Incidência de coqueluche
• Incidência de tétano neonatal
• Incidência de tétano (exceto o neonatal)
• Incidência de febre amarela
• Incidência de raiva humana
• Incidência de hepatite B
• Incidência de hepatite C 
• Incidência de cólera
• Incidência de febre hemorrágica da dengue
• Incidência de sífilis congênita
• Incidência de rubéola
• Incidência de síndrome da rubéola congênita
• Incidência de doença meningocócica 
• Taxa de incidência de aids
• Taxa de incidência de tuberculose
• Taxa de incidência de dengue 
• Taxa de incidência de leishmaniose tegumentar americana
• Taxa de incidência de leishmaniose visceral
• Taxa de detecção de hanseníase
• Índice parasitário anual (IPA) de malária
• Taxa de incidência de neoplasias 
• Taxa de incidência de doenças relacionadas ao trabalho
• Taxa de incidência de acidentes do trabalho típicos 
• Taxa de incidência de acidentes do trabalho de trajeto
• Taxa de prevalência de hanseníase
• Taxa de prevalência de diabetes melito
• Índice CPO-D
• Proporção de crianças de cinco a seis anos com índice CPOD = 0
• Proporção de internações hospitalares (SUS) por grupos de causas
• Proporção de internações hospitalares (SUS) por causas externas
23
• Proporção de internações hospitalares (SUS) por afecções originadas 
 no período perinatal
• Taxa de prevalência de pacientes em diálise (SUS)
• Proporção de nascidos vivos por idade materna
• Proporção de nascidos vivos de baixo peso ao nascer
• Taxa de prevalência de déficit ponderal para a idade em crianças
 menores de cinco anos
• Taxa de prevalência de aleitamento materno
• Taxa de prevalência de aleitamento materno exclusivo
• Taxa de prevalência de fumantes regulares de cigarros
• Taxa de prevalênciade excesso de peso
• Taxa de prevalência de consumo excessivo de álcool
• Taxa de prevalência de atividade física insuficiente
• Taxa de prevalência de hipertensão arterial
5. Indicadores de recursos
• Número de profissionais de Saúde por habitante
• Número de leitos hospitalares por habitante
• Número de leitos hospitalares (SUS) por habitante
• Gasto público com Saúde como proporção do PIB 
• Gasto público com Saúde per capita
• Gasto federal com Saúde como proporção do PIB
• Gasto federal com Saúde como proporção do gasto federal total
• Despesa familiar com Saúde como proporção da renda familiar
• Gasto médio (SUS) por atendimento ambulatorial 
• Valor médio pago por internação hospitalar no SUS (AIH) 
• Gasto público com saneamento como proporção do PIB 
• Gasto federal com saneamento como proporção do PIB
• Gasto federal com saneamento como proporção do gasto federal total
• Número de concluintes de cursos de graduação em Saúde
• Distribuição dos postos de trabalho de nível superior em
 estabelecimentos de Saúde
• Número de enfermeiros por leito hospitalar
6. Indicadores de cobertura
• Número de consultas médicas (SUS) por habitante
• Número de procedimentos diagnósticos por consulta médica (SUS)
• Número de internações hospitalares (SUS) por habitante
• Proporção de internações hospitalares (SUS) por especialidade
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• Cobertura de consultas de pré-natal
• Proporção de partos hospitalares 
• Proporção de partos cesáreos
• Razão entre nascidos vivos informados e estimados
• Razão entre óbitos informados e estimados
• Cobertura vacinal 
• Proporção da população feminina em uso de métodos anticonceptivos
• Cobertura de planos de saúde
• Cobertura de planos privados de saúde
• Cobertura de redes de abastecimento de água
• Cobertura de esgotamento sanitário
• Cobertura de coleta de lixo
Esses indicadores são apresentados em uma matriz que engloba, para ca-
da um, conceito, interpretação, usos, fontes, maneira de cálculo, categorias 
sugeridas para análise e limitações. Aparecem na publicação especial Indica-
dores Básicos para a Saúde no Brasil: conceitos e aplicações, cuja primeira edi-
ção é de 2002 e a segunda, de 2008 – a terceira encontra-se em preparação. 
Em meio eletrônico estão disponíveis em <www.ripsa.org.br>. Risi Júnior 
(2009) salienta que para cada indicador há uma ficha de qualificação, aces-
sível na própria base de dados, que se destina a auxiliar os usuários na com-
preensão do significado dos dados divulgados no IDB, mostrando seu uso 
potencial. Os indicadores são calculados e revisados por Comitês de Especia-
listas, fornecendo, dessa forma, os dados mais corretos, precisos e oportunos 
sobre a Saúde no país.
A qualidade da informação é preocupação constante dos membros da 
Ripsa, que buscam, incessantemente, o aprimoramento de seus dados e uma 
melhor e mais oportuna informação, capaz de gerar ações governamentais 
mais adequadas, com vistas à elevação dos níveis de saúde da população.
O médico nesse contexto
Marin (2010) destaca o fato de que todo e qualquer atendimento em saú-
de pressupõe o envolvimento e a participação de múltiplos profissionais. Para 
o médico, em particular, essas informações são de extrema importância, po-
dendo ser vistas tanto como um insumo ao seu bom e adequado atendimento 
(porque baseado em evidências), como uma forma de gerar as informações 
25
necessárias, visto que é ele quem produz, como fonte primária, grande parte 
dos dados necessários à construção dos indicadores de saúde.
É o médico o responsável, direta ou indiretamente, pela atestação ou de-
claração das diferentes variáveis incluídas nas fontes de dados – como as de 
mortalidade, por exemplo –, responsabilidade essa estabelecida legalmente 
no país (BRASIL, 1973; CFM, 2010) e que se estende, inclusive, à declaração 
da causa da morte.
É o médico quem faz o diagnóstico das doenças de notificação compul-
sória, além de também corresponder a esse profissional a responsabilidade 
pela elaboração do prontuário do paciente internado, uma importante fonte 
do Sistema de Informações Hospitalares e do Sistema de Informações sobre 
Nascidos Vivos.
Por outro lado, o médico, enquanto usuário da informação, necessita 
conhecer os aspectos epidemiológicos das doenças ligadas às suas especiali-
dades, como incidência, prevalência e letalidade de cada patologia, sua dis-
tribuição segundo variáveis biológicas e sociais e os fatores de risco/proteção 
para a mortalidade de cada uma, em cada área, em cada momento. (LAU-
RENTI; GOTLIEB; MELLO JORGE, 2005; MELLO JORGE; KOIZUMI, 
2012; MELLO JORGE, 2014). A Epidemiologia, mais do que qualquer outra 
ciência, contribui para a compreensão das causas de morte – inclusive as evi-
táveis – e auxilia na investigação do processo saúde-doença em seu contexto 
social.
San Martin, em 1960, já chamava atenção para o fato de que a manu-
tenção da saúde e o controle das doenças em uma população exigem que se 
conheçam quantas e quais são as enfermidades existentes, bem como sua 
distribuição geográfica. A primeira responsabilidade de um serviço de saú-
de corresponde à coleta e à análise das estatísticas vitais e de todos os dados 
estatísticos que têm relação com a Saúde Pública. Ressalta o autor que, para 
tanto, o médico tem um papel fundamental, visto que é ele o responsável pe-
los registros de nascimentos e de mortes, pela declaração dos casos de doen-
ças infecciosas notificáveis, bem como dos registros hospitalares, que se cons-
tituem no ponto de partida para a elaboração das referidas estatísticas (SAN 
MARTIN, 1960).
Alinhado a esse pensamento, Swaroop (1966) vai mais longe em suas ob-
servações, mostrando, inclusive, como corrigir e melhorar essas estatísticas e, 
assim como San Martin, exaltando também o papel do médico nesse contexto.
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SWAROOP, S. Estadística sanitária. México: Fondo de Cultura Económica, 1966.
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tems. Geneva: WHO, 2000. 
 
29
CAPÍTULO
2
Informações sobre mortalidade
O início. Um pouco de história
A origem da estatística médica remonta à Londres do final do século 
XVI. Esse fato está muito bem documentado em textos médicos, de Epide-
miologia e de Saúde Pública, que dão conta de quanto a peste assolou a po-
pulação daquela cidade em torno de 1592. Por esse motivo, naquele ano foi 
emitido um decreto que determinava que 
em todas as cerimônias de enterro, nas paróquias, deveria ser indi-
cada uma pessoa para inspecionar o morto antes de ser o mesmo 
enterrado, além de se certificar sobre qual a possível doença que ha-
via levado à morte. A partir dessa disposição legal, para cada caso, 
cabia ao pároco fazer uma lista das mortes, com as características 
individuais de cada falecido, acrescidas da causa da morte. (NOR-
DENFELT, 1983, p. 4, tradução nossa)
Em 1662, surgiu o trabalho clássico de John Graunt, Natural and Political 
Observations Made upon the Bills of Mortality, no qual há uma descrição de-
talhada dessas listas, chamadas “bills of mortality”, que vinham sendo rotinei-
ramente elaboradas desde 1592. Graunt descreveu todas as características dos 
mortos, como sexo, idade, residência urbana ou rural e outras variáveis, asso-
ciando-as à causa da morte elencada na lista (NORDENFELT, 1983). Deram-
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se dessa forma os primeiros registros de informações sobre características da 
mortalidade – no caso, referentes à cidade de Londres. 
Graunt, embora não fosse médico nem estatístico, fez uma brilhante dis-
cussão a respeito das características da mortalidade, incluindo comentários 
lógicos a respeito da validade de alguns diagnósticos, e também estabeleceu – 
o que é muito interessante – pela primeira vez a distinção entre morte devida 
a uma doença e morte com uma doença. Foi Graunt quem determinou que 
cada morte deveria ser registrada como devida a uma só causa, o que passou 
a ser uma regra em todas as cidades ou países que começavam, então, a ela-
borar suas estatísticas de mortalidade.
Várias características da natalidade e da mortalidade foram descritas por 
Graunt, quase todas pela primeira vez, como, entre outros, o fato de nasce-
rem mais homens e, em todas as idades, morrerem mais homens, restando, 
assim, maior número de mulheres com idades mais avançadas. Uma preocu-
pação expressa nos seus escritos era a questão de as causas de morte serem 
apresentadas segundo uma lista, isto é, uma classificação ou, como ele mes-
mo dizia, “uma nomenclatura”. Graunt acreditava que se deveria utilizar uma 
mesma “lista” de causas nacionalmente, o que deveria ser feito em todas as 
cidades que apresentassem estatísticas de mortalidade segundo causas. Entre-
tanto, foi somente em 1837 que a Inglaterra adotou o “Registration Act”, que 
tornou obrigatório o registro das causas de morte em escala nacional.
Na ocasião, não eram somente os médicos os responsáveis pela declara-
ção da causa da morte, mas qualquer pessoa que tivesse conhecido o falecido, 
fato que fazia com que a terminologia utilizada não fosse uniforme. Em 1874, 
foi dado um importante passo ao se criar o “Birth and Death Registration 
Act”, no qual passou a haver, entre outros pontos, a obrigatoriedade de que 
um médico deveria assinar o atestado de óbito, indicando a causa da morte 
(NORDENFELT, 1983).
O criador dessa versão moderna das estatísticas vitais inglesas foi William 
Farr, médico-estatístico, na época, na chefia do Registrar General’s Office. 
Também se devem a Farr os esforços no sentido de elaborar uma classificação 
morfológica para apresentar as causas de morte. É dele a proposta das bases 
para uma classificação de causas de morte com finalidades estatísticas, visto 
que tinha uma noção clara da importância de se ter uma nomenclatura e uma 
classificação para sistematizar as causas de morte. 
Em seus escritos, Farr discutia bastante a questão da causa, alegando 
que ela poderia tanto estar relacionada ao processo ou à condição originados 
“dentro do corpo do falecido” quanto ser também consequência de um even-
to externo ao corpo. 
31
“Para evitar confusão, devo deixar claro como o termo “causa de 
morte” deve ser aqui entendido; um homem cai de uma altura e 
quebra o pescoço; uma mulher toma arsênico, o qual corrói a pa-
rede de seu estômago e, em ambos os casos, o resultado é a morte. 
O arsênico e a queda, ou a fratura de pescoço e a corrosão de estô-
mago, podem ser vistos como as causas da morte. Ambos poderiam 
ser registrados e ambos poderiam, separadamente, ser considera-
dos” (FARR, 1885, p. 215, tradução nossa).
A discussão de Farr sobre as possíveis diferentes cadeias causais é muito 
importante e de grande interesse para a Medicina. Ele sempre destacava o co-
nhecimento relativo à sequência causal, tanto mais longa quanto possível, vi-
sando encontrar a causa principal da morte, sobre a qual era essencial atuar 
para prevenir novos casos. Farr antecipou, de fato, aspectos da concepção mo-
derna de causa básica da morte, bem como indicou que essa causa poderia, 
também, estar fora do corpo do paciente, como uma causa ambiental (causa 
externa), e não apenas como uma causa médica (causa natural), como referido.
Os fundamentos das estatísticas médicas internacionais
Esse título aparece dessa maneira em várias publicações (FARR, 1885; 
GREENWOOD, 1948; NORDENFELT, 1983) referindo-se a diferentes pro-
cessos, mas, a rigor, ele deveria ser relacionado aos “fundamentos das estatís-
ticas internacionais de mortalidade”. De fato, as estatísticas de mortalidade, 
isto é, aquelas baseadas nos dados de mortalidade, se constituíram, como já 
mencionado, nas primeiras estatísticas médicas e, ainda hoje, são considera-
das “as mais importantes estatísticas médicas” (JOHANSSON, 2008).
Sentia-se a necessidade, amplamente discutida por Farr, de se criarem es-
tatísticas de mortalidade internacionalmente comparáveis. Essa ideia ganhou 
força no primeiro Congresso Internacional de Estatística, realizado em Bru-
xelas, em 1853. Na ocasião, expressou-se o desejo de que todos os países se-
guissem o exemploda Inglaterra e de alguns poucos outros, bem como a ideia 
de que a elaboração das estatísticas de mortalidade deveria basear-se na in-
formação médica. Esse pensamento intensificou-se no segundo Congresso, 
em 1855, quando também foi recomendado o uso de uma nomenclatura para 
classificar as causas de morte declaradas pelos médicos nos atestados de óbito. 
Esses comentários avançaram bastante, particularmente a partir das des-
cobertas e propostas de Farr, e foram fortalecidos pela importante figura do 
francês Jacques Bertillon (1851-1922), que muito batalhou para que os paí-
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ses tivessem estatísticas de mortalidade comparáveis e passassem a usar uma 
classificação das causas de morte. 
No Congresso Internacional de Estatística, em Chicago, em 1893, Ber-
tillon apresentou sua proposta de classificação de causas de morte. Essa pro-
posta foi aprovada e passou a ser, quase que imediatamente, adotada por 
vários países. Estados Unidos, México e Canadá foram os primeiros a utili-
zá-la, e propuseram, também, que fossem feitas revisões decenais dessa clas-
sificação, o que ocorreu nos anos de 1900, 1909, 1920, 1929 e 1938. Nesse 
período, ficou bem clara a noção de que para cada morte deveria constar 
apenas uma causa. Devido ao fato de os médicos declararem mais de uma 
causa para cada falecido, no atestado de óbito, foram criadas guias ou regras 
para selecionar a principal causa de morte, conhecida, a partir de 1948, co-
mo causa básica da morte.
Naquele ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS), logo após ser 
criada, aprovou a Sexta Revisão Decenal da Classificação Internacional de 
Doenças (CID-6) (WHO, 1948), dando início, assim, a uma nova era no cam-
po das estatísticas vitais e de Saúde, na qual se destacava o papel do médico 
no sistema de produção de estatísticas de mortalidade e de saúde em geral.
Se em 1847, na Inglaterra, tornou-se obrigatório, pela primeira vez, o pre-
enchimento do atestado de óbito pelo médico com a assinatura deste – o que 
depois se estendeu a outras nações –, com a revisão da OMS de 1948 ampliou-
se o papel do médico em todos os países. Criou-se assim um modelo de de-
claração de causa de morte para uso internacional e definiu-se qual causa da 
morte deveria aparecer nas estatísticas, fazendo-se necessário orientar o médi-
co no preenchimento da Declaração de Óbito. As propostas e recomendações 
da OMS pretendiam que todos os médicos do mundo passassem a declarar a 
causa da morte da mesma maneira e em um mesmo tipo de documento, pos-
sibilitando, assim, a comparabilidade entre os dados nas diferentes localidades.
Naquela ocasião, foram estabelecidos e aprovados pela OMS:
1) A Classificação Estatística Internacional de Doenças, Lesões e Causas 
de Morte, que passou a ser a sexta revisão, conhecida como CID-6, e 
que passava a prever revisões decenais
2) O atestado médico da causa da morte para uso internacional, deter-
minando a maneira correta de fazer a atestação da causa
3) A definição da causa da morte, que foi denominada “causa básica da 
morte”
4) Regras para a seleção de causa básica da morte, quando mais de uma 
causa fossem mencionadas pelo médico no atestado de óbito e
33
5) As tabulações para apresentar as causas básicas da morte e as causas 
múltiplas
As definições e propostas da Organização Mundial de Saúde
para orientar o médico no preenchimento do atestado de óbito
Incluídas no corpo da sexta revisão da Classificação Internacional de 
Doenças (CID-6) (WHO, 1948), aprovada pela OMS em 1948, as definições 
de causas e eventos, assim como o modelo da Declaração de Óbito para uso 
internacional, surgiram para orientar os médicos no trabalho de registro 
das informações. Também tinham a função de nortear os serviços de Saúde 
quanto aos procedimentos relativos à seleção da causa de morte, as regras e as 
propostas para tabulações de mortalidade.
Aprovadas na CID-6 e, em seguida, referendadas nas sucessivas revisões 
– até a mais recente, CID-10 (OMS, 1995) –, às vezes com pequenas modifi-
cações, as definições aparecem assim:
Causas de morte: são aquelas registradas pelo médico no atestado de 
óbito e definidas como “todas as doenças, afecções mórbidas ou lesões que 
ou produziram a morte ou contribuíram para ela e as circunstâncias do aci-
dente ou violência que produziram quaisquer de tais lesões” (OMS, 1995, 
p. 30). O propósito da definição foi assegurar que toda informação relevan-
te fosse registrada e que o atestante não escolhesse algumas afecções para 
menção e rejeitasse outras. É importante notar que a definição não incluía 
sintomas ou modos de morrer, tais como insuficiência cardíaca ou insufi-
ciência respiratória.
Causa básica da morte: na Sexta Conferência Internacional para a Re-
visão Decenal, houve um acordo no sentido de definir que a causa de morte, 
para a tabulação primária, fosse designada como “causa básica de morte”. Do 
ponto de vista de prevenção da morte, era necessário interromper a cadeia de 
eventos ou instituir a cura em algum ponto, visto que o objetivo mais eficaz 
em Saúde Pública foi, sempre, o de prevenir a ação da causa precipitante. Para 
esse fim, a causa básica tem sido definida como:
(a) a doença ou lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos pato-
lógicos que conduziram diretamente à morte, ou (b) as circunstân-
cias do acidente ou violência que produziram a lesão fatal. (OMS, 
1995, p. 31)
Para a consecução dos objetivos do registro das causas de morte, o médi-
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co precisa conhecer bem essa definição, assim como a maneira de declará-la 
no atestado de óbito.
O modelo internacional de atestado médico da causa de morte
Até a adoção da CID-6, cada país usava, como já mencionado, um mo-
delo de Declaração de Óbito – alguns países, mais de um modelo. Na CID-6, 
o modelo proposto apresentava apenas três linhas – “a”, “b” e “c” – na primei-
ra parte, para o médico declarar as causas de morte, incluindo a causa básica. 
Em 1990, a quadragésima terceira Assembleia Mundial de Saúde adotou re-
comendação de que, onde fosse necessário, os países deveriam considerar a 
possibilidade de uma linha adicional (“d”) na “Parte I” do atestado. É respon-
sabilidade do médico que assina o atestado de óbito indicar corretamente, a 
partir da causa básica, quais as causas (diagnósticos) que conduziram direta-
mente à morte, ou seja, a partir da causa básica, declarar quaisquer afecções 
antecedentes à causa direta.
O modelo do atestado de óbito para o registro das causas apresentado 
a seguir destina-se a facilitar a declaração da causa básica. Na “Parte I” do 
modelo, a causa básica deve ser declarada em último lugar, na linha mais bai-
xa (geralmente, mas não obrigatoriamente, a linha “d”). Entre esta e a cau-
sa direta da morte (linha “a”), as causas declaradas são chamadas “causas an-
tecedentes à terminal” ou “consequentes à básica”. A “Parte II” destina-se a 
afecções (causas, diagnósticos) contribuintes para a morte, porém não rela-
cionadas à cadeia de causas declaradas na Parte I.
As partes I e II correspondem ao “atestado das causas de morte”, de dese-
nho absolutamente igual em todos os países do mundo (Figura 2.1).
Figura 2.1
Modelo internacional de atestado médico para a declaração
das causas de morte
 
Se houver um único elo na cadeia de acontecimentos, é suficiente uma 
CAUSAS DA MORTE
PARTE I
Doença ou estado mórbido que causou
diretamente a morte
CAUSAS ANTECEDENTES
Estados mórbidos, se existirem, que
produziram a causa acima registrada,
mencionando-se em último lugar
a causa básica.
PARTE II
Outras condições significativas que contri-
buíram para a morte, e que não entraram,
porém, na cadeia acima
40 ANOTE SOMENTE UM DIAGNÓSTICO POR LINHA Tempo estimado entre o início da 
doença e a morte:
CID
a
b
c
d
Devido ou como consequência de:
Devido ou como consequência de:
Devido ou como consequência de:
35
menção na linha “a”.Se houver mais de um elo, a causa direta é registrada 
em “a”, e a causa antecedente originária é registrada por último, enquanto 
qualquer causa interveniente é listada nas linhas “b” ou “c”. Um exemplo de 
atestado de óbito com quatro elos na cadeia dos acontecimentos que condu-
zem diretamente à morte é o expresso na Figura 2.2.
Figura 2.2
A “Parte II” destina-se a qualquer outra afecção significativa que te-
nha contribuído para o evento fatal, mas não relacionada com a doença ou 
afecção que causou diretamente a morte, lembrando que podem ser des-
critas nesse item, por exemplo, síndrome de Down, desnutrição, diabetes, 
entre outros.
Após as palavras “devido a” ou “como consequência de”, que no atestado 
aparecem abaixo das linhas “a”, “b” e “c”, devem ser incluídas não apenas a 
causa direta ou processo patológico, mas também as causas indiretas, como, 
por exemplo, quando uma causa antecedente se predispôs à causa direta por 
lesão dos tecidos ou deficiência de função, mesmo após um longo intervalo.
A partir do momento em que se adotou o modelo internacional para a 
declaração das causas nos atestados de óbito, houve grande preocupação dos 
países em treinar os médicos quanto ao seu preenchimento. Surgiram, assim, 
várias publicações de órgãos de Epidemiologia e estatísticas a esse respeito. 
Algumas delas, embora escritas há bastante tempo, podem ainda ser conside-
radas úteis e atuais (LOGAN, 1964; MORIYAMA, 1956).
O problema do tempo
Anotar o intervalo aproximado (minutos, horas, dias, semanas, meses ou 
anos) entre o início de cada afecção e a data da morte ajuda o médico que 
atesta o óbito a estabelecer a cadeia dos acontecimentos que conduziram à 
morte, sendo útil também para, posteriormente, orientar o codificador na se-
leção dos códigos apropriados.
CAUSAS DA MORTE
PARTE I
Doença ou estado mórbido que causou
diretamente a morte
CAUSAS ANTECEDENTES
Estados mórbidos, se existirem, que
produziram a causa acima registrada,
mencionando-se em último lugar
a causa básica.
PARTE II
Outras condições significativas que contri-
buíram para a morte, e que não entraram,
porém, na cadeia acima
40 ANOTE SOMENTE UM DIAGNÓSTICO POR LINHA Tempo estimado entre o início da 
doença e a morte:
CID
a
b
c
d
Devido ou como consequência de:
Devido ou como consequência de:
Devido ou como consequência de:
Embolia pulmonar
Fratura patológica
Carcinoma secundário do fêmur
Carcinoma de mama
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As causas de morte. Causa básica e causas múltiplas
A causa básica dá origem a uma sucessão de afecções que são chamadas 
causas consequenciais; entre estas, a última é denominada causa imediata ou 
direta da morte. Outras causas que não entram na cadeia iniciada pela básica 
– e que, no atestado, devem ser declaradas na “Parte II” – são denominadas 
causas contributórias.
As afecções consequenciais e as contributórias vão se constituir no con-
junto de causas associadas (LAURENTI, 1973). Entretanto, para efeitos de ta-
bulação de mortalidade, há muito se adota o critério de atribuir a cada óbito 
uma só causa (LAURENTI, 1973), razão pela qual as estatísticas de morta-
lidade são apresentadas, sempre, segundo causas básicas. O avanço tecnoló-
gico, entretanto, permite que se conheça, também, a mortalidade segundo 
causas múltiplas – básica e associadas –, que podem ser registradas nas decla-
rações de óbito e cujo estudo oferece uma vasta gama de informações.
Dorn, desde a década de 1960 (DORN; MORIYAMA, 1964), enfatizava a 
importância desse estudo, mostrando a contribuição que a análise da associa-
ção de causas poderia trazer ao conhecimento sobre cada patologia.
Uma primeira possibilidade é a de que ela permite evidenciar, para cada 
causa básica, quais as consequências mais frequentes, pensando em termos 
de prevenção da morte, não somente a nível primário. Outro tipo de estudo é 
o referente a duas causas específicas, não se considerando as consequenciais, 
mas, sim, a básica e a contributória. Laurenti, em 1973, já mencionava, por 
exemplo, a importância, para estudos epidemiológicos das doenças crônicas, 
da associação entre o diabetes e as doenças arteriais, hipertensão, cardiopa-
tias, nefropatias, entre outras; com relação às causas infecciosas em crianças, 
chamava atenção para o binômio infecção-desnutrição, sendo a primeira a 
básica, e a segunda, contributória (LAURENTI, 1973).
Além disso, é importante salientar que, como as populações estão enve-
lhecendo – e, consequentemente, acumulando morbidades –, o número de 
diagnósticos médicos por atestado de óbito vem aumentando, o que faz ele-
var-se, também, a possibilidade do estudo das causas múltiplas.
Assim, é possível conhecer, para cada causa:
• O número de vezes que aparece citada e, dentre essas, quantas vezes é 
selecionada como básica
• Quando uma causa é considerada básica, a quais causas ela pode estar 
associada
• Quando uma causa aparece como associada, a quais causas básicas está 
ligada, evidenciando a importância do estudo de associação de causas
A apuração de todos os diagnósticos informados nos atestados de 
37
óbito permite o reconhecimento da frequência de doenças não seleciona-
das como básica, inclusive as que raramente são apuradas, um dado de con-
siderável utilidade para o estudo da história natural das entidades mórbidas 
(LAURENTI, 1973). Ishitani e França comentam que o estudo das causas 
múltiplas, além da básica, vai se constituir em um avanço nos estudos de 
mortalidade, principalmente no momento em que a expectativa de vida e a 
importância das doenças crônico-degenerativas aumentam na população 
mundial (ISHITAMI; FRANÇA, 2001).
A escolha (seleção) da causa básica da morte quando o médico
não declara corretamente a sequência das causas
Muitas vezes, o médico não sabe onde ou como declarar a causa básica 
da morte no atestado de óbito, mencionando-a em qualquer posição. Não ra-
ro, também, o médico declara apenas uma causa terminal sem nenhum outro 
antecedente. São os casos em que são registradas “parada cardíaca”, “falência 
de múltiplos órgãos”, “insuficiência respiratória”, entre outras.
O que fazer nesses casos? Não cabe a esta apresentação descrever os pro-
cedimentos adotados pelos serviços de Saúde para selecionar a causa básica, 
mas tão somente informar de sua existência aos médicos. Esses procedimen-
tos são chamados “regras internacionais para seleção da causa básica” ou “re-
gras para a seleção da causa antecedente originária”.
As “regras de seleção” baseiam-se na chamada “sequência”, que se refe-
re ao fato de duas ou mais causas serem declaradas em linhas sucessivas da 
“Parte I”, sendo cada diagnóstico uma causa aceitável como devida àquela de-
clarada na linha anterior. Quando esse procedimento é feito corretamente, ou 
seja, quando a parte médica do atestado de óbito foi bem preenchida, respei-
tando uma sequência lógica entre as causas descritas na “Parte I”, culminando 
na causa básica declarada na última linha, chama-se “princípio geral”. Quan-
do este não se aplica, recorre-se às chamadas regras de seleção 1, 2 e 3 e sele-
ciona-se, assim, a causa básica. Uma vez selecionada a causa básica, ela pode 
ser alterada por meio de seis regras conhecidas como “regras de modificação” 
(regras A, B, C, D, E e F).
A operação para selecionar a causa básica não é simples. Ela é feita por 
técnicos especializados e bem treinados, os chamados “codificadores da 
causa de morte”, que existem em todas as secretarias de Saúde municipais 
e estaduais do Brasil. Ficam, assim, evidentes a importância e a necessidade 
de o médico preencher corretamente a parte médica da Declaração de Óbi-
to, incluindo a causa básica na última linha da “Parte I”, bem como a sequ-
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ência entre ela e a primeira linha (“a”). Quando isso ocorre, a causa básica é 
facilmente escolhida.
Exemplos de atestados de óbito bem preenchidos com relação à causa
Apresenta-seneste item alguns exemplos de histórias clínicas, demons-
trando claramente como deveriam ser preenchidos os atestados de óbito. Pa-
ra maiores esclarecimentos sobre o assunto, ver Brasil (2009a) e Laurenti e 
Mello Jorge (2008; 2015).
Caso I – feminino, dois anos
Há três dias com diarreia e vômitos. Por vários motivos não foi trazida ao 
PS; veio hoje e estava extremamente desidratada, ofegante e reagindo pouco aos 
estímulos. Ao serem iniciados os procedimentos, vomitou um pouco e teve para-
da respiratória. Tentadas manobras de ressuscitação, não respondeu e foi consi-
derada morta.
Figura 2.3
Atestado
 
Caso II – masculino, 85 anos
Fez tratamento de diabetes desde os 55 anos de idade e sempre passava 
bem. Há quinze anos, começou a apresentar hipertensão arterial e, uma ou 
duas vezes, teve arritmia; era atendido frequentemente em PS ou com médico 
particular e respondia muito bem ao tratamento. Há três meses, fez consulta de 
rotina e teve como diagnósticos: diabetes mellitus, hipertensão arterial, cardio-
patia hipertensiva (+++) e catarata bilateral. Há cinco dias, teve intensa dor 
pré-cordial, sudorese, tontura e grande mal-estar geral. Foi socorrido em casa e 
o médico informou à família que o paciente havia tido “infarto do miocárdio” e 
poderia fazer tratamento em casa. Passou bem, em repouso absoluto, e há qua-
CAUSAS DA MORTE
PARTE I
Doença ou estado mórbido que causou
diretamente a morte
CAUSAS ANTECEDENTES
Estados mórbidos, se existirem, que
produziram a causa acima registrada,
mencionando-se em último lugar
a causa básica.
PARTE II
Outras condições significativas que contri-
buíram para a morte, e que não entraram,
porém, na cadeia acima
40 ANOTE SOMENTE UM DIAGNÓSTICO POR LINHA Tempo estimado entre o início da 
doença e a morte:
CID
a
b
c
d
Devido ou como consequência de:
Devido ou como consequência de:
Devido ou como consequência de:
Parada respiratória minutos
Extremamente desidratada 3 dias
Gastroenterocolite 3 dias
39
tro horas começou a apresentar “muita falta de ar e tosse com chiado no peito, e 
os dedos e os lábios ficaram roxos”. O médico chegou após três horas e diagnos-
ticou “edema agudo de pulmão”. Morreu após uma hora.
Figura 2.4
Atestado
 
Caso III – Feminino, trinta anos
Foi atacada na rua com arma de fogo pelo ex-marido. Levou dois tiros na 
cabeça e morreu na hora. O corpo foi encaminhado ao IML, onde foi feita ne-
cropsia e o legista preencheu a DO1.
Figura 2.5
Atestado
CAUSAS DA MORTE
PARTE I
Doença ou estado mórbido que causou
diretamente a morte
CAUSAS ANTECEDENTES
Estados mórbidos, se existirem, que
produziram a causa acima registrada,
mencionando-se em último lugar
a causa básica.
PARTE II
Outras condições significativas que contri-
buíram para a morte, e que não entraram,
porém, na cadeia acima
40 ANOTE SOMENTE UM DIAGNÓSTICO POR LINHA Tempo estimado entre o início da 
doença e a morte:
CID
a
b
c
d
Devido ou como consequência de:
Devido ou como consequência de:
Devido ou como consequência de:
Edema agudo de pulmão 4 horas
Cardiopatia Hipertensiva anos
Hipertensão Arterial anos
Diabetes mellitus 30 anos
(1) Assassinato.
CAUSAS DA MORTE
PARTE I
Doença ou estado mórbido que causou
diretamente a morte
CAUSAS ANTECEDENTES
Estados mórbidos, se existirem, que
produziram a causa acima registrada,
mencionando-se em último lugar
a causa básica.
PARTE II
Outras condições significativas que contri-
buíram para a morte, e que não entraram,
porém, na cadeia acima
40 ANOTE SOMENTE UM DIAGNÓSTICO POR LINHA Tempo estimado entre o início da 
doença e a morte:
CID
a
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Devido ou como consequência de:
Devido ou como consequência de:
Devido ou como consequência de:
Lesão crâneo-encefálica 
2 tiros de revólver na cabeça (homicídio)
–
–
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A Declaração de Óbito no Brasil
Os primórdios
No Brasil, como em outros países ocidentais, antes de existirem os re-
gistros oficiais, os óbitos eram anotados pelos párocos em livros ou atas pa-
roquiais. As informações desses registros, inclusive as relacionadas à saúde, 
podem ser recuperadas (MELLO JORGE, 1990). Flamínio Fávero, em seu 
clássico livro Medicina legal, é quem melhor descreve a situação sobre os ates-
tados de óbito no Brasil do século XIX e das primeiras décadas do XX: 
Até há certo tempo, os atestados de óbito em nosso meio não obe-
deciam ao melhor tipo aconselhado pelos entendidos. Os médi-
cos, servindo-se do próprio formulário de receitas, atestavam a 
morte do cliente, sem atender a qualquer nomenclatura e sem cui-
dar das finalidades relevantes de ordem sanitária que o documen-
to iria desempenhar. 
[…] Estes atestados, numa única via, iam para os Cartórios de Re-
gistro Civil, a fim de serem organizados os mapas pelos quais o ser-
viço sanitário, periodicamente, fazia as suas estatísticas. Acontecia, 
entretanto, que, não só os dados eram insuficientes para a elabo-
ração das estatísticas, mas, além disso, continham inúmeros erros, 
justamente, na sua parte capital, representada pela informação so-
bre a causa do óbito. E até certo ponto se explica o mal. Os atesta-
dos de óbito escritos pelo médico, cuja letra tem fama de péssima, e 
com razão, eram lidos e interpretados por leigos em medicina que, 
nem sempre, compreendiam o verdadeiro significado das palavras. 
Essas “traduções traidoras” iam servir, posteriormente, para os fun-
cionários das repartições sanitárias.
Em 1919, Oscar Freire, impressionado com o fato, fêz, pela nossa 
Sociedade de Medicina e Cirurgia, uma campanha para serem os 
óbitos atestados em folhas duplas, onde se contivessem todas as in-
dagações necessárias aos vários misteres que tais documentos devem 
preencher (“Anais Paul. de Med. e Cirg.”, 1919, nº 12). A sua sugestão 
foi posteriormente atendida com a modificação de se chamar “decla-
ração de óbito”, a primeira parte (que iria ser, depois de registrada 
pelo cartório, remetida, por este, ao Serviço Sanitário), e “atestado 
de óbito”, a segunda parte, que deveria ficar arquivada no registro ci-
vil, e esta, evidentemente, com informações mais sintéticas.
41
Atestado o óbito nessa dupla folha, pelo médico, o registro da do-
ença e da causa mortis eram feitos pelo cartório competente, que 
elaborava o necessário mapa, posteriormente, examinado e verifi-
cado pela repartição sanitária, à luz do próprio atestado do médico, 
presente com o mapa.
Percebe-se, desde logo, a vantagem do sistema. As informações são 
completas, tanto quanto possível, e os diagnósticos bem interpreta-
dos porque a verificação dos mapas é feita por médicos que estabe-
lecem o necessário contraste com o original do atestado. Ademais, 
há possibilidade, comumente, de se apurar, ao lado da verdadeira 
causa da morte, a doença na qual essa se instalou. Para isso, os mé-
dicos devem ter presente a nomenclatura internacional das causas 
de óbitos (Classificação de Bertillon) que facilita, muito, a atestação 
do óbito, ou a “Standard Classified Nomenclature of Disease” (New 
York – The Commonwealt Fund – 1935). (FÁVERO, 1962, p. 60-63)
1975/1976
Em 1975, o Ministério da Saúde do Brasil, capitaneado por Paulo de Al-
meida Machado, criou um grupo de trabalho que tinha como fim específi-
co a implantação de um Sistema de Informação em Saúde no país (ver item 
“Concepção e implantação. Breve histórico” deste trabalho); frente à existên-
cia de 43 modelos diferentes do formulário em que eram declaradas as mor-
tes entre nós, estabeleceu que a primeira providência a ser tomada deveria 
ser a de adotar um documento padrão para essa finalidade. Designado co-
mo “Declaração de Óbito” (DO), o documento mantinha, na parte relativa às 
causas de morte, as regras estabelecidas pela Organização Mundial da Saú-
de e uniformizava a maneira de registrar os demais tipos de informação, o 
número de vias e seu fluxo, permitindo, assim, a comparabilidadenacional e 
possibilitando maior racionalização das atividades baseadas nessas informa-
ções (LAURENTI; MELLO JORGE; GOTLIEB, 2006b).
Esse modelo, como produto de avaliações sucessivas, vem sofrendo al-
gumas modificações em sua formatação, visando a uma melhor performance 
das variáveis constantes de seu conteúdo.
O modelo de Declaração de Óbito em vigor no Brasil (2011).
As variáveis constantes do formulário
O modelo de DO em vigor no Brasil, a partir de 2011 (Figura 2.6) é com-
posto por três vias autocopiativas e numeradas sequencialmente. As 59 variá-
veis que abrange estão divididas em nove blocos, como descrito a seguir:
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Bloco I (campos 1 a 14) – identificação:
 1. Tipo de óbito (fetal ou não)
 2. Data do óbito/hora
 3. Cartão SUS
 4. Naturalidade
 5. Nome do falecido
 6. Nome do pai
 7. Nome da mãe
 8. Data de nascimento
 9. Idade
10. Sexo
11. Raça/cor
12. Situação conjugal
13. Escolaridade (última série concluída)
14. Ocupação habitual
Bloco II (campos 15 a 19) – residência:
15. Logradouro
16. CEP
17. Bairro/distrito
18. Município de residência
19. UF
Bloco III (campos 20 a 26) – ocorrência:
20. Local de ocorrência do óbito
21. Estabelecimento
22. Endereço de ocorrência
23. CEP
24. Bairro/distrito
25. Município de ocorrência
26. UF
Bloco IV (campos 27 a 36) – fetal ou menor que um ano – informações 
sobre a mãe:
27. Idade
28. Escolaridade (última série concluída)
29. Ocupação habitual
30. Número de filhos tidos
31. Número de semanas de gestação
43
32. Tipo de gravidez
33. Tipo de parto
34. Morte em relação ao parto
35. Peso ao nascer
36. Número da Declaração de Nascido Vivo
Bloco V (campos 37 a 40) – condições e causas do óbito:
37. Óbitos de mulher em idade fértil (a morte ocorreu durante a
 gravidez, parto ou puerpério)
38. Assistência médica
39. Diagnóstico confirmado por necropsia
40. Causas da morte
PARTE I – destinada à anotação das causas que levaram à morte:
Letra a: causa terminal estados mórbidos que produziram a causa regis-
trada na letra a (causas antecedentes ou consequenciais – listar b e c) e a 
causa básica – letra d.
PARTE II – destinada à anotação de outras condições significativas que 
contribuíram para a morte, porém não fizeram parte da cadeia referida 
na “Parte I”.
• Tempo aproximado entre o início da doença e a morte.
• Os espaços destinados aos códigos da CID são destinados à codificação
 e não devem, portanto, ser preenchidos pelo médico.
Bloco VI (campos 41 a 47) – médico:
41. Nome
42. CRM
43. Condição do médico atestante
44. Município e UF do SVO ou IML
45. Meio de contato
46. Data do atestado
47. Assinatura
Bloco VII (campos 48 a 52) – causas externas:
48. Tipo
49. Acidente de trabalho
50. Fonte de informação
51. Descrição sumária do evento e tipo de local de ocorrência
52. Endereço
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Bloco VIII (campos 53 a 57) – cartório:
53. Cartório
54. Registro
55. Data
56. Município
57. UF
Bloco IX (campos 58 e 59) – localidade sem médico:
58. Declarante
59. Testemunhas
A legislação brasileira referente à obrigatoriedade
do médico em fornecer a Declaração de Óbito
O médico representa, na legislação brasileira, a figura central no even-
to óbito. Código civil, Código penal e Processo penal, Consolidação das Leis 
do Trabalho e Lei dos Registros Públicos fazem menção a esse papel, e leis 
complementares e esparsas, além do Código de Ética Médica e Resoluções do 
Conselho Federal de Medicina, regulamentam a matéria, determinando re-
gras e estabelecendo competências.
Nesse sentido, a Lei dos Registros Públicos define, em seu artigo 77, que:
Nenhum sepultamento será feito sem certidão do oficial de regis-
tro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de 
óbito, em vista do atestado de médico. (BRASIL, 1973)
Ou seja, o preenchimento desse documento compete única e exclusiva-
mente a esse profissional, constituindo-se, em exceção, somente os casos em 
que não haja médico na localidade.
Quanto a estabelecer que médico deve ser o responsável, em que situa-
ções está ele obrigado por lei a fazê-lo e quando pode eximir-se dessa tarefa, 
é matéria discutida em publicações específicas (BRASIL, 2009a; LAURENTI; 
MELLO JORGE, 2015). Em linhas gerais, é possível determinar como divisor 
de águas o fato de a causa da morte ter sido natural ou decorrente de evento 
externo (acidental ou intencional).
O Código de processo penal (CPP) brasileiro, ao mencionar a questão das 
provas, em Direito, determina em seu artigo 159 que peritos oficiais “são os 
responsáveis pelo exame de corpo de delito”, o que remete à obrigatoriedade 
45
de necropsia – nos institutos de Medicina Legal – para as pessoas vítimas de 
morte por causas violentas (BRASIL, 2014a). 
Em resumo, pode-se dizer que:
Óbitos por causas não naturais: devem ter DO fornecida por peri-
to legista do IML
Óbitos por causas naturais: devem ter DO fornecida pelo médico 
que tratava do falecido, admitidas algumas exceções impostas 
por legislação especial
Óbitos por causas não naturais
No primeiro caso citado acima, cumpre esclarecer que perito legista cor-
responde a médico-legista do Instituto Médico Legal (IML); na falta desse, o 
parágrafo primeiro do artigo 159 do CPP determina que o exame de corpo de 
delito seja feito por “duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso 
superior, preferencialmente da área específica dentre as que tiverem habilita-
ções técnicas relacionadas com a natureza do exame” (BRASIL, 2014a).
Na falta do perito legista, a autoridade judicial ou policial da localidade 
sem IML designará, como perito ad hoc, qualquer médico da localidade pa-
ra proceder ao exame. Entretanto, exatamente por falta de habilitação técni-
ca e de infraestrutura para a realização da necropsia, bastará, nesse caso, um 
exame externo do cadáver para a elaboração do laudo, no qual deve ser feita 
menção ao fato de que se trata de um perito ad hoc e, por via de consequên-
cia, de uma necropsia, conforme Fávero, “sumária” (FÁVERO, 1962). Para 
maiores esclarecimentos nesse sentido, ver Laurenti e Mello Jorge (2015).
Óbitos por causas naturais
A situação, em casos de mortes decorrentes de causas naturais, é mais 
complexa e comporta maior número de exceções. Como regra geral, estabele-
cida, inclusive, pelo Conselho Federal de Medicina, a emissão de Declaração 
de Óbito consequente a causas naturais (inclusive complicações) é da compe-
tência do médico que tratava do falecido.
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Figura 2.6
Modelo da Declaração de Óbito no Brasil, 2011
47
O Código de Ética Médica (CFM, 2010, art. 115) estabelece que é vedado 
ao médico
Deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando assis-
tência, exceto quando houver indício de morte violenta.
Portanto, se a morte se verifica na vigência de assistência médica, tem-se 
o disposto na Resolução 1.779/2005 (CFM, 2005, art. 2, 1, II):
a) a DO deverá ser fornecida sempre que possível pelo médico que 
vinha prestando assistência ao paciente;
b) a DO de paciente internado sob regime hospitalar deverá ser for-
necida pelo médico assistente e, na sua falta, por médico substi-
tuto, pertencente à instituição;
c) a DO de paciente em tratamento sob regime ambulatorial deverá 
ser fornecida pelo médico designado pela instituição que presta-
va assistência ou pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO);
d) a DO de paciente em tratamento sob regime domiciliar (Progra-
ma de Saúde da Família, internação domiciliar e outros) deverá 
ser fornecida pelo médico pertencente ao Programa no qual o 
paciente estava cadastrado ou pelo SVO, caso o médico não con-
siga correlacionar o óbito com o quadro clínico concernente ao 
acompanhamento do paciente.
Em caso de morte sem assistência médica, a legislação impõe que:
1) Nas localidades com Serviço de Verificação de Óbito, a DO deve 
ser fornecida por médico dessa

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