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Desenvolvimento da oclusão

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1 Xilofone – LVII - 2020 
 Desenvolvimento da oclusão 
 
Na análise do desenvolvimento e crescimento do indivíduo durante sua vida, podemos estudar 
o desenvolvimento de sua oclusão, que dependendo de diversos fatores poderão chegar a 
diferentes tipos de oclusão, seja uma má oclusão enorme ou uma oclusão correta. Hoje, somos 
seres difiodontos, ou seja, possuímos duas dentições: a decídua e permanente (dentição mista 
não existe, apenas dentadura mista). Hoje, devido a uma série de problemas, é incomum 
indivíduos com dentições completamente normais, que apresentarão má-oclusão - menos de 2% 
apresentarão ótima oclusão, 70% com má-oclusão e apenas com 20% em má-oclusão aceitável. 
 
Dentição decídua 
A dentição decídua se inicia aos 6 meses de idade da criança. Contudo, já se observa dentes 
em formação já no nascimento, como os incisivos e molares decíduos e cúspides de molares 
permanentes, apesar de não irromper dente algum até os 6 meses - há raros casos de dentes 
neonatais. Aos 6 meses de idade (± 2 meses) começam a nascer os incisivos inferiores, seguidos 
dos superiores, laterais e pontas de caninos, com formação intraóssea da coroa desses dentes 
permanentes. Apesar desses padrões, pode ocorrer de crianças de 1 mês ter dentes ou uma de 
1 ano não ter nenhum. Aos 9 meses (±2meses) já temos os 4 incisivos superiores e inferiores 
em uma erupção razoável, ainda com ponta de molares e caninos permanentes em formação 
intraóssea e molares decíduos. Com 1 ano (± 3 meses) irrompem o 2° molar decíduo, enquanto 
o primeiro molar decíduo irrompe a frente dos caninos decíduos. 
Com 1 ano e meio (18±3 meses) os molares já estão erupcionando e entrando em oclusão, com 
os caninos iniciando sua erupção, enquanto os segundos molares estão entrando em sua 
erupção aos 2 anos de idade, quando os caninos já irromperam e a ponta de cúspides dos pré-
molares estão se formando nos germes. 
A dentadura decídua finaliza sua erupção aos 3 anos, indo completa e em oclusão até os 6 anos, 
período em que os permanentes finalizam sua formação - a ponta de cúspide de pré-molares se 
formam aos 1 ano e meio aos dois anos e ponta de cúspide de segundos molares aos 2 anos e 
meio a 3 anos. Aos 4 anos vemos a dentição decídua completa, com molares preparando-se 
para irromper aos 6 anos, como os primeiros permanentes em boca. Aos 5 anos já observamos 
os dentes intraósseos em plena formação, com molares iniciando sua rizogenese. Aos 6 anos 
os permanentes começam a aparecer na arcada. 
 
A sequência de erupção em dentes decíduos é a seguinte: primeiro os incisivos inferiores, central 
superior, lateral superior, lateral inferior, molares, os caninos e os segundos molares decíduos 
nas idades estabelecidas, estando completa aos 3 anos, permanecendo desta maneira até os 6 
anos. Nesse período, não somos tão exigentes quanto a uma oclusão normal porque a criança 
está em desenvolvimento constante, desenvolvendo-se intensamente nessa fase. Sendo comum 
e considerado normal a mordida de topo anterior, com suave protrusão, suave mordida aberta 
anterior e sobremordida. É comum também encontrar diastemas entre incisivos. O uso da 
chupeta nos primeiros anos de vida pode ser benéfico para acalmar a criança, mas causar uma 
leve mordida aberta anterior, que deve ser corrigida naturalmente se o uso da chupeta for 
cessado aos 4 anos. O perfil da criança é geralmente mais convexo, sendo observado o queixo 
mais retraído. Dentes supranumerários em dentadura decídua podem significar a mesma 
alteração na permanente, sendo necessário o acompanhamento radiográfico. 
O arco dentário decíduo pode ser classificado em tipo I e tipo II. O tipo I é quando observamos 
diastemas anteriores (mais comum), e no tipo II temos contatos ou suaves apinhamentos. Quanto 
a presença de espaçamento na dentição anteroinferior, Arco do tipo I ocorre em 77% dos casos, 
enquanto na falta de espaçamento anteroinferior o tipo II ocorre em 23%. O tipo I contribuirá para 
50% dos casos onde não haverá apinhamento em dentadura permanente, 40% onde haverá 
apinhamento moderado e 10% de apinhamento severo. Temos essas estatísticas de predição 
para dentes permanentes, contudo não se pode utilizar único e exclusivamente para predizer o 
correto alinhamento dos incisivos inferiores. Na ausência de espaçamento, apenas em 23% dos 
 
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casos, pode-se dizer que 22% dos casos contribui para correto alinhamento de incisivos, com 
78% para apinhamento, seja moderado ou severo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Contudo, este também não pode ser utilizado única e exclusivamente para a predição do 
alinhamento dos dentes anteriores permanentes. Portanto, podemos dizer que independente se 
a arcada decídua for tipo I ou II, não significa que apresentará uma oclusão aceitável ou incorreta 
ao exibir todos os permanentes nessa região. Outra característica em uma arcada decídua é a 
ausência de uma curva de spee, paralelismo entre os longos eixos, com uma inclinação de 90° 
para com o plano oclusão, a inclinação interincisivo (entre incisivos superiores e inferiores) é bem 
próximo a 180°, enquanto nos permanentes os incisivos são mais vestibularizados para ganhar 
espaço na cavidade bucal. 
 
Aspectos clínicos 
 
Para tratamentos em dentadura decídua consideramos a presença de mordidas cruzadas 
anterior e posterior para a confecção de aparelhos ortodônticos. Tal tratamento deve ser iniciado 
assim que for detectado. Ao detectar essa mordida cruzada, confeccionamos um aparelho fixo, 
visto que em pacientes menores o aparelho removível pode ser engolido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
A dentadura cruzada deve ser corrigida logo que diagnosticada, logo aos 4 anos, para que não 
interfira na dentição permanente. Mordidas cruzadas anteriores devem ser resolvidas, visto que 
a posição da mandíbula a frente da maxila pode atrapalhar no crescimento e desenvolvimento, 
vindo a gerar complicações na dentadura permanente. 
 
 
 
 
Aos 5 anos, vemos o primeiro molar pronto para 
irromper, completando seu irrompimento aos 6. 
 
 
 
 
Dentição permanente 
 
Entre o advento da dentição decídua e a permanente, observamos o desenvolvimento de uma 
dentadura mista. Para poder tratar os eventos que necessitam de intervenção ortodôntica, é necessário 
reconhecer e diagnosticar de maneira precisa o problema em questão, o que é pouco comum entre os 
CD. O plano terminal dos segundos molares decíduos é considerado guias para os primeiros molares 
permanentes. Na imagem abaixo, vemos um plano terminal reto em A, plano terminal com degrau 
mesial em B e plano terminal com degrau distal em C. 
 
 
 
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O A seria o normal, enquanto B seria normal dependendo do 
tamanho e o C é anormal e pode levar a uma oclusão de 
classe II. Como podemos ver na imagem, aos 6 anos 
podemos registrar a erupção do primeiro molar permanente, 
dando início à dentadura mista e formação ode uma dentição 
permanente. Em crianças com oclusão normal, os primeiros 
molares permanentes geralmente ocluem topo-a-topo, 
cúspide sobre cúspide - pode também ser cúspide sobre 
sulco, que pode ser considerado normal com degrau mesial 
caso não seja muito grande (pode ser que uma oclusão 
classe III se forme caso seja muito extenso). Plano terminal 
reto é muito mais comum que os outros, sendo comum em 
58% dos casos, enquanto o degrau mesial tem prevalência 
em 24% dos casos e o degrau distal tem prevalência de 18%. 
 
Um degrau distal só poderá evoluir em uma oclusão classe II, enquanto o plano reto pode vir a se 
tornar uma classe I, II ou III e o degrau mesial pode se tornar classe I ou III. 
 
 
 
 
Na rotina de um ortodontista, diferente de um 
dentista clinico geral, sempre pedimos para 
que o paciente mantenha a boca fechada 
para que estudamos sua oclusão, com 
relação molar e plano oclusal dos dentes, 
fator que pode mudar pela vida dopaciente 
em razão de seu crescimento. 
A dentadura mista dura dos 6 aos 11 a 12 
anos de idade. Aos 8 anos vemos a presença 
de incisivos permanentes em plena erupção e 
os outros permanentes em pleno processo de 
calcificação, inclusive o segundo molar - 
apenas o terceiro não se formou ainda. A 
calcificação dos primeiros molares começa no 
nascimento, dos segundos molares começa aos 3 anos e o terceiro molar aos 9 anos de idade. 
 
Os incisivos permanentes conseguem espaço para suas erupções conforme a explicação a seguir: 
Se medirmos os incisivos decíduos e permanentes dá uma diferença de 7,6mm para superiores e 
6,0mm para inferiores, de forma que falta bastante espaço. Dessa forma, como é que se dá essa 
transição de dentes decíduos para permanentes? 
Primeira das diferenças é que permanentes 
irrompem muito mais para vestibular que os 
inferiores que se permanecem verticalizados, além 
disso quando se irrompem os caninos, numa 
oclusão normal fecham os diastemas anteriores. 
Além disso, o crescimento ósseo na região anterior 
favorece a erupção dos incisivos. 
Os molares permanentes dependem da aposição e 
reabsorção óssea para ganhar espaço e irromper - 
se o crescimento da mandíbula cessa e os terceiros 
molares não irromperam, estes permanecem 
retidos. Na obtenção de espaço para pré-molares e 
caninos permanentes, temos que considerar que os 
 
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decíduos que os precedem (caninos e molares decíduos) são maiores. Os molares permanentes 
em dentadura mista estão inicialmente topo a topo na maioria das crianças, e o espaço disponível 
aos permanentes inferiores é maior que no superior, havendo uma mesialização fisiológica do 
molar, atingindo o sulco ao invés de topo a topo, obtendo a chave de molar. 
 
 
 
 
 
 
Aspectos clínicos em dentadura mista 
 
Nos tratamentos aplicados em pacientes com dentadura mista, buscamos intervir sobre mordida 
cruzada anterior e posterior. Baseando-se me ortodontia preventiva e interceptora, podemos ver que 
a prevalência de mordida cruzada na literatura é de 8 a 16% e em Bauru é de 18,2%. Temos sempre 
que nos atentar a sequência de erupção - como na imagem ao lado, um central irrompeu e outro não, 
sendo acusado como alteração, podendo estar relacionado com supranumerários que alteram a 
erupção. Em alguns casos de mordida cruzada anterior podemos confeccionar uma placa com mola 
digital. Para mordida cruzada posterior, aparelhos como mola coffin ou placa com parafuso podem 
auxiliar na terapia. 
Em mordida aberta anterior por chupar dedo ou chupeta por muito tempo pode atresiar a maxila e 
causar mordida cruzada posterior além de uma mordida aberta anterior grande. Iniciamos com o uso 
de uma mola coffin para descruzar a mordida posterior. Para interromper esse hábito de chupar o dedo 
(mas também para evitar a interposição da língua na mordida aberta) usamos uma grade palatina, 
conhecida como aparelho recordatório somado a um grampo de addams. Caso essa mordida aberta 
não fosse corrigida tão cedo, teria de recorrer a uma ortodontia corretiva mais tarde, o que exigiria 
muito dinheiro. 
 
 
 
 
 
Muitos se indagam se as más-oclusões se tornaram mais comuns de 30 anos para cá. De certa forma, 
nos dias de hoje busca-se mais o atendimento ortodôntico por se tornar mais visível e por haver mais 
condições para pagar o tratamento. Além disso, com o aumento da miscigenação racial a mistura 
genética tende a unir características dentárias que auxiliam no apinhamento e desregulação de 
 
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oclusão. Quando vemos a evolução de outras espécies de primatas para os homo sapiens, 
percebemos o tamanho da arcada se retraindo e com isso a falta de espaço para os dentes. Portanto 
apinhamentos dentários são comuns para arcadas menores que o tamanho dos dentes que irão 
erupcionar no local, de maneira que aparelhos removíveis ou fixos podem realizar a terapia necessária. 
 
Aos 9 anos, fase onde se inicia a formação intraóssea 
dos terceiros molares, denominamos o início de uma 
fase de "patinho feio", com dentes protruidos e marcados 
por diastemas. Temos como saber se essas alterações 
de oclusão nessa fase são normais ou má-oclusões de 
fato - nessa fase, o desenvolvimento craniano dá um 
perfil convexo a face das crianças visto o ANB de 4,5 
nessa idade, enquanto aos 12 anos torna-se 2, 
mostrando que há um desenvolvimento da mandíbula 
mais adiante, sendo normal uma classe II na oclusão de 
crianças de 8 a 9 anos. Para analisar essa fase, 
devemos observar a relação molar, se tende a 
normalidade, ou se move para formar classe II ou III. 
A oclusão de classe II pode ser dentária ou esquelética. A dentária ocorre quando falta espaço para 
um molar ou pré-molar entrar em oclusão pela perda do decíduo que mantem espaço para este, sendo 
o espaço perdido retomado por aparelhos ortopédicos. As classes II esqueléticas ocorrem por 
discrepâncias ósseas de crescimento maxilomandibular, podendo ser corrigido com placa de hawley 
com parafuso expansor, redirecionando o crescimento da maxila para que a mandíbula o acompanhe. 
 
Aos 11 anos já temos praticamente todos os permanentes 
já irrompidos, com irrompimento dos segundos molares 
aos 12 anos. Ao terminar de irromper os segundos molares 
e pré-molares, podemos considerar o estado de dentadura 
ou dentição permanente. Antes de discutirmos sobre a 
oclusão normal em dentição permanente, podemos citar a 
sequência de erupção. No arco superior, iniciamos com o 
primeiro molar permanente, seguido de incisivo central, 
lateral, primeiro e segundo pré-molar e canino. No arco 
inferior, a sequência é ligeiramente diferente, iniciando com primeiro molar, seguindo para incisivo 
central, lateral canino, primeiro e segundo pré-molar. Como o canino superior é o último dente a 
irromper, ele irrompe em infra-vestibuloversão se não houver espaço para irromper. Como dito na 
introdução, 3% da população pode ser incluída como oclusão normal, 70% é incluída em má oclusão 
e 27% é classificada como aceitável, mas pode recorrer ao tratamento ortodôntico se quiser. 
Uma oclusão aceitável é caracterizada por uma mastigação satisfatória, dicção razoável, autoclise 
(autolimpeza), saúde periodontal e estética aceitável. 
Uma má oclusão está envolvida em diversos fatores em sua etiologia, indo desde fatores genéticos a 
fatores ambientais, congênitos, endócrino, ambientais e até de hábitos. 
 
 
 
 
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